Perto de deixar o posto, presidente tenta interferir na disputa eleitoral
Ao chegar ao Palácio do Planalto, depois do impeachment da petista Dilma Rousseff, Michel Temer (MDB) via se descortinar a perspectiva de um futuro favorável.
Se tudo ocorresse segundo o previsto, ao final de dois anos seu governo teria posto ordem na casa, a economia apresentaria crescimento convincente e a sensação de alívio, na sequência de um período de recessão aguda, poderia levá-lo a nutrir ambições eleitorais.
Não foi esse, entretanto, o roteiro que lhe reservou a realidade. Em que pesem medidas e reformas relevantes, capazes de sustar a crise herdada de Dilma, o presidente, como se sabe, tropeçou numa série de obstáculos.
Foi por duas vezes denunciado por corrupção e viu seu capital político esvair-se nas tentativas de conter uma decisão desfavorável da Câmara dos Deputados.
No plano econômico, a recuperação da renda e do emprego se mostra mais fraca e morosa do que se previa, sonegando-lhe o benefício que uma impressão generalizada de melhoria poderia propiciar.
Com índices de desaprovação elevadíssimos nas pesquisas, Temer vai chegando ao fim de seu breve mandato em posição bastante distinta daquela desenhada por suas melhores expectativas. Tentou, ainda, uma última cartada com a intervenção federal na segurança pública do Rio, mas a providência se revelou pouco efetiva.
Agora, quando as campanhas eleitorais estão em curso, o presidente procura interferir no processo de maneira curiosa.
Num vídeo, demonstrando irritação e usando de ironia, atacou o postulante do PSDB, Geraldo Alckmin, que fez críticas ao governo federal em sua propaganda. Temer o acusou de dizer falsidades, de ser injusto com siglas aliadas e procurou vincular o partido do ex-governador de São Paulo a sua gestão.
Chama a atenção que a tentativa do mandatário de aproximar o tucano de sua administração se mostra, na realidade, uma maneira de prejudicar o candidato —já que prevalece, na disputa, o entendimento de que quanto mais distante do emedebista melhor.