quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Merval Pereira - A emergência da vacina

- O Globo

A vacina da AstraZeneca está na fase três e, dependendo do resultado, pode ser feito o pedido de uso emergencial para que a Anvisa aprove por um comitê independente, como a Coronavac está fazendo. A vacinação, assim, poderia começar a ser feita pelo menos no Rio, onde está a Fiocruz, parceira da Universidade de Oxford, e em São Paulo com a vacina fabricada pela Sinovac chinesa. Isso se a politização da vacina não impedir a análise isenta da vacina chinesa, que será um trunfo do governador João Doria.

A vacinação da COVID-19 entre os grupos prioritários deverá ser feita de 15 em 15 dias, para cobrir o maior número de população de risco num períodos de dois meses. O ano inteiro poderá ser usado para cobrir o máximo possível da população, mas os grupos de risco têm que ser imunizados imediatamente, especialmente os servidores da saúde, que lidam diretamente com a pandemia, os voluntários que tomaram placebo nos testes, por uma questão humanitária, os velhos que estão internados em asilos e a população de mais de 75 anos.

As clínicas privadas poderão adquirir as vacinas diretamente dos produtores, e disputarão com os governos as doses. O acordo da Fiocruz com a AstraZeneca foi de que o custo fosse humanitário, U$ 3,16 a dose, e o governo entrou com R$ 1,9 bilhão aprovado ontem pelo Congresso. Não haverá vacina suficiente para todo mundo, no entanto, e não apenas no Brasil.

William Waack - Espectador privilegiado

- O Estado de S. Paulo

O presidente Jair Bolsonaro está sendo carregado pelo jogo político

A julgar pelas nuvens da política do meio da semana, o STF está à beira de uma de suas decisões mais relevantes para a própria política. É gritante a ironia contida no fato de que “nuvens da política” pairem sobre decisões de uma corte que deveria se ocupar sobretudo dos grandes temas constitucionais, mas na permanente crise brasileira o Supremo tornou-se (voluntária ou involuntariamente) um relevantíssimo ator político com cálculos idem.

O cálculo político que as nuvens do meio da semana indicavam dentro do Supremo é o de lavar as mãos no caso da sucessão na presidência das casas legislativas. Em outras palavras, deixar para os próprios parlamentares decidirem se os atuais presidentes da Camara dos Deputados e do Senado podem pleitear permanecer onde estão a partir do ano que vem. “Politicamente, é a solução mais elegante”, diz um envolvido diretamente na decisão.

Luiz Carlos Azedo - A volta do Febeapá

- Correio Braziliense

A sorte do general Pazuello , ministro da Saúde, é que ainda não apareceu um novo Sérgio Porto, o cronista Stanislaw Ponte Preta, para reeditar o famoso Festival de Besteira que Assola o País

Consta que o general Zenildo Gonzaga Zoroastro de Lucena, ministro do Exército nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, que faleceu aos 89 anos, em março de 2017, teria sido o grande responsável pela formação da atual elite militar do país, pela ênfase que deu ao aperfeiçoamento e à formação de oficiais superiores, inclusive, estimulando a graduação e pós-graduação em áreas civis, como economia e finanças, administração, ciências políticas, comunicação social, direito etc.

O general assumiu o mais alto posto do Exército Brasileiro logo após o afastamento do ex-presidente Fernando Collor de Melo, em outubro de 1992, durante a transição entre a posse de Itamar Franco e as eleições de 1994. Ao assumir o cargo de ministro do Exército, em meio à crise que culminou com o impeachment de Collor, teria atuado para evitar uma intervenção dos militares. Em junho de 1993, por exemplo, rebateu as declarações do deputado federal e capitão da reserva Jair Bolsonaro favoráveis ao fechamento do Congresso e à volta do regime de exceção, garantindo o apoio do Exército ao governo.

Por causa da perda de privilégios e do corte de verbas destinados às Forças Armadas durante o ajuste fiscal do Plano Real, os militares não gostam de lembrar dos anos do governo FHC, nos quais houve um grande sucateamento de seus equipamentos. No fundo, foram mais felizes durante o governo Lula, que apostou na criação de uma indústria nacional de Defesa, com a produção de veículos de transporte de tropas e carros blindados, lança-foguetes, novos caças e avião cargueiro, e dos novos submarinos, um deles nuclear, além articular missões internacionais a serviço da ONU, entre as quais a do Haiti, onde estiveram alguns dos atuais integrantes do governo Bolsonaro.

Ricardo Noblat - Bolsonaro tenta desacreditar a eficácia das vacinas contra o vírus

- Blog do Noblat | Veja

Se insistir em proceder como o anjo da morte, impeachment nele!

O presidente Jair Bolsonaro gosta de viver perigosamente – e ontem à noite, depois de mais um expediente de trabalho no Palácio do Planalto, deu nova prova ao deparar-se à entrada do Palácio da Alvorada com um grupo de devotos que suplicava por um aceno dele, um mero sorriso ou – quem sabe? – a suprema graça de desembarcar do carro para uma rápida conversa.

A suprema graça foi obtida. E Bolsonaro, que antigamente costumava demorar por ali quando havia jornalistas para serem alvos de seus insultos e também dos seus adoradores, ouviu os costumeiros gritos de “Mito”, de “Aleluia, irmãos” e de “Deus seja louvado” antes de puxar o assunto que realmente lhe interessava – a aplicação de vacinas contra a Covid-19.

Deu alguma boa notícia a respeito? Não. Pelo menos deu alguma informação de utilidade pública? Tampouco. Aproveitou a ocasião para comportar-se como uma espécie de anjo da morte na sua pior versão, o que prefere infundir terror nos que em breve deverão ser chamados a prestar conta dos seus pecados. Foi logo advertindo para surpresa dos seus ouvintes:

“Vamos supor que em uma das cláusulas da vacina que eu vou comprar, vamos dizer que, lá no meio, está escrito o seguinte: ‘Nos desobrigamos de qualquer ressarcimento, de qualquer responsabilidade com possíveis efeitos colaterais imediatos ou futuros’. E daí, vocês vão tomar a vacina?”

Alguns responderam que não, a maioria ficou calada. Bolsonaro não se deu por satisfeito e completou antes de dar meia volta volver e embarcar no carro:

“Eu vou mostrar todo o contrato para vocês. Quem tomar vai saber o que está tomando e as consequências. Se tiver um problema, um efeito colateral qualquer, já sabe que não vão cobrar de mim porque eu vou ser bem claro”.

Ascânio Seleme - Cidades sitiadas

- O Globo

Comunidades e bairros inteiros são dominados por traficantes, milicianos ou bandos organizados

Na semana em que assistimos ao renovado espetáculo da democracia, quando se demonstrou mais uma vez a força e a integridade das instituições nacionais com a eleição de prefeitos de 5.567 municípios brasileiros, duas cidades, no interior de Santa Catarina e do Pará, foram barbaramente atacadas por grupos de criminosos que causaram pânico na madrugada.

O que se viu nos dois casos foi outro tipo de espetáculo, este cotidiano. O do desespero, da intimidação da população e das forças policiais locais, da violência desmedida em assaltos a banco. De quantos ataques desses você consegue se lembrar? Cinco, dez, vinte? Nesta semana foram dois, ambos com tiros, reféns e terror no meio da noite.

Se pequenas cidades não conseguem dormir em paz, o que se passa em metrópoles como Rio, São Paulo, Belo Horizonte ou Fortaleza é ainda mais alarmante. Não se trata somente de Criciúma ou Cametá, o Brasil todo está sob ataque há décadas. As cenas vistas em Santa Catarina e no Pará são parte da paisagem em todos os cantos do país. As notícias de violência no interior já nem surpreendem, tão banais se tornaram.

Eugênio Bucci* - O ‘cancelamento’ estatal e o Estado ‘lacrador’

- O Estado de S. Paulo

O problema do presidente e asseclas nem é ideológico, é da ordem da cognição

Tem sido comum ouvirmos queixas sobre a prática do “cancelamento”. São procedentes. Na etiqueta sem etiqueta das redes sociais, o “cancelamento” consiste numa avalanche de turbas virtuais que, em questão de horas, derruba a lista de seguidores de uma pessoa e acaba com seu prestígio digital. Basta uma opinião fora da ortodoxia das turbas para o sujeito se expor ao “cancelamento”. Há exemplos diários. O “cancelado” é banido. Os que eram seus admiradores se convertem em seus “detratores” (guardemos essa palavra, pois ela vai nos pegar de tocaia alguns parágrafos adiante).

Trata-se de uma pena afetiva: “Ei, nós não gostamos mais de você, ponha-se daqui para fora!”. Podem sobrevir repercussões políticas e econômicas. Políticas porque o “cancelamento” destrói os laços virtuais pegajosos que davam popularidade à infeliz criatura “cancelada”, que se vê de repente degredada, como se tivesse sido expulsa do partido. As pessoas entram em depressão. E econômicas porque os influencers (e eu que achava que nunca escreveria tal barbarismo), que ganham dinheiro com o número de likes, engajamentos, retuítes e coraçõezinhos piscantes, perdem faturamento. As pessoas entram em inadimplência.

Bruno Boghossian – Bolsonaro e a fila do desemprego

- Folha de S. Paulo

Sem auxílio emergencial, governo deposita uma confiança exagerada na recuperação do emprego

Jair Bolsonaro ainda não conseguiu dimensionar o choque que a economia do país deve sofrer na virada do ano. O governo já sabe que o fim do pagamento do auxílio emergencial será um problema, mas não tem ideia do que fazer com os milhões de brasileiros que ficarão com pouco ou nenhum dinheiro.

O presidente repete a ideia de que o socorro aos mais pobres não deve ser prorrogado. Na terça (1º), ele disse que “alguns querem perpetuar tais benefícios” e emendou: “Ninguém vive dessa forma. É o caminho certo para o insucesso”. Já se sabe que um novo programa social não cabe no Orçamento, mas faltou apontar a direção de uma outra estrada.

Bolsonaro falou sobre o auxílio durante um evento na fronteira com o Paraguai. O recado veio segundos depois que ele fez um aceno aos “humildes funcionários” da obra de uma ponte. O receituário para a economia saiu na forma de um clichê: “Nada dignifica mais o homem do que o trabalho. É o que nós precisamos”.

Fernando Schüler* - O Supremo e a tentação da política

- Folha de S. Paulo

Carta não deve ser ajustada ao sabor de eventuais maiorias

A Constituição é clara ao fixar os mandatos das Mesas do Congresso em dois anos e estabelecer que é “vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente”. É sempre possível à criatividade humana desafiar o sentido das palavras. E um risco quando se trata do direito e da Constituição, onde levar a sério as palavras significa levar direitos a sério.

É o tema neste episódio da sucessão de Maia e Alcolumbre no Congresso. Para além de juízos de maioria ou minoria, a Constituição consagrou o valor da alternância de poder. O reconhecimento de que não faz bem ao país a tentação do uso da máquina do próprio Parlamento para a preservação do poder.

Neste episódio, porém, há algo mais em jogo: a própria ideia de que o que está escrito na Constituição não é uma banalidade passível de interpretação a gosto de uma eventual maioria na Câmara ou no Senado.

A tese simples e essencial de que não é a “autonomia dos Poderes” que disciplina o uso da Constituição, mas a Constituição que disciplina o funcionamento dos Poderes. Tese que põe por terra o argumento sem nexo, que se escuta por aí, segundo o qual fixar as próprias regras de sucessão é um problema interna corporis do Congresso.

Maria Hermínia Tavares* - Bolsonaro não acabou

- Folha de S. Paulo

Seria um equívoco ler seu destino nas cartas distribuídas nas eleições municipais

As eleições municipais confirmaram o que se viu em 2018: o Brasil dobrou à direita –muito embora os partidos que se beneficiaram dessa virada sejam muitos e diferentes em tamanho e relações com o governo.

De seu lado, mesmo derrotadas, as esquerdas se revelaram competidoras aguerridas em capitais e cidades maiores. Ganhando ou perdendo, mobilizaram os jovens e estão levando pautas progressistas às Câmaras Municipais.

Com razão, comentaristas tem destacado que vitoriosos foram os partidos de oposição a Bolsonaro situados no centro-direita e na direita. PSDB, MDB e DEM governarão o maior número de brasileiros, mesmo tendo perdido Prefeituras. Também é verdade que os candidatos abertamente apoiados pelo presidente foram derrotados; a maioria, já no primeiro turno.

Celso Ming - A lição das urnas e a omissão do governo

- O Estado de S. Paulo

Para o presidente Bolsonaro, o principal recado das eleições foi o de que não bastam políticas puramente populistas para garantir legitimação para o exercício de seu mandato

Durante os últimos quatro meses, as grandes decisões de política econômica foram sendo adiadas porque conteriam maldades destinadas a ajustar a economia e essas maldades poderiam prejudicar os interesses do governo nas eleições.

Mas as eleições mostraram que algumas das apostas políticas do governo deram errado. Quase nenhum candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro conseguiu eleger-se. E isso mostrou que o auxílio emergencial, que já distribuiu cerca de R$ 275 bilhões à população carente, não funcionou como recurso eleitoral. Parecem ter pesado mais no outro prato da balança (contra o governo) o desemprego, que chegou a 14,1 milhões de pessoas, segundo dados da última Pnad Contínua, e as incertezas quanto ao futuro. 

O desempenho negativo da economia que está derrubando a avaliação do governo pelo eleitor não foi compensado pela distribuição do “coronavoucher” que, afinal, garantiu a sobrevivência de 68 milhões de pessoas.

Zeina Latif* - Ao vencedor, as 'batatas'

- O Estado de S. Paulo

Os dados sugerem que boas gestões foram valorizadas pelos eleitores

 “Não acho que quem ganhar ou quem perder (…) vai ganhar ou perder.” Esse trecho da curiosa frase da ex-presidente Dilma pode ser, ironicamente, uma boa descrição do resultado das eleições. Mas há luz no fim do túnel.

Essa não foi apenas mais uma eleição. O momento é particularmente difícil. Primeiro, as cidades enfrentam grave quadro fiscal, principalmente as capitais que sofrem com os gastos crescentes com aposentadorias e pensões. E as prefeituras precisarão retomar, em 2021, os aportes nos seus regimes próprios de previdência e o pagamento do serviço da dívida, suspenso este ano. 

Segundo, a perspectiva de vacinação em massa é uma miragem, devendo a pandemia ainda afetar o setor de serviços e, portanto, a arrecadação do ISS, enquanto os gastos com saúde se mantêm elevados. Além disso, será necessário o reforço na educação, depois do ano perdido.

Em muitos casos, o prefeito será administrador de restrições fiscais, enquanto enfrentará dificuldades políticas para aprovar reformas nos Legislativos tão fragmentados.

Vinicius Torres Freire - Bolsonaro, confinado na incompetência

- Folha de S. Paulo

Congresso para por disputa política, governo inexiste na Economia, na Saúde e na Educação

A geringonça do “parlamentarismo branco” deu a impressão de que havia algum governo do país em 2019, embora não houvesse governo propriamente dito. A Câmara dos Deputados, sob comando de Rodrigo Maia (DEM), aprovou parte das tais “reformas”, derrubou alguns papeluchos autoritários de Jair Bolsonaro e fez “notas de repúdio”.

A geringonça pifou. Não há mais nem impressão de governo do país, pois o Executivo não faz muito além de destruir ou ser levado pela burocracia estatal.

Não há governo na Economia. Há um clandestino na Educação que levou uma nas fuças na primeira decisão inepta que tomou (decretar a volta das aulas nas universidades federais).

A ordenança de Bolsonaro que toma conta do almoxarifado da Saúde, o general pisado pelo capitão, foi nesta terça-feira ao Congresso dar mais mostras de como trata o repique da epidemia com leviandade. “Ah, ele diz que vai comprar vacina”. Se não dissesse, o que deveria ser feito? Colocar o governo em um camburão, imediatamente?

Carlos Alberto Sardenberg - Com Covid, sem recuperação econômica

Governos com um mínimo de bom senso deveriam fazer contratos antecipados com farmacêuticas

Há uma coincidência na montagem de cenários econômicos: o ponto de partida é sempre a vacina.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse isso; a OCDE foi na mesma toada; e os mercados reagem na mesma direção. Quanto mais cedo tivermos a vacina, mais rápida será a recuperação econômica.

É o óbvio, não? Todo mundo vacinado, toda a atividade econômica pode ser retomada sem medo.

Assim, qual deveria ser o esforço dos governos com um mínimo de bom senso? Ir atrás das vacinas, fazer contratos antecipados com as farmacêuticas, montar os sistemas de vacinação, o que inclui compra de material (seringas, agulhas) e preparar os técnicos.

Saiu a primeira vacina aqui do nosso lado, a da Pfizer, já aprovada na Inglaterra e em via de aprovação nos Estados Unidos e na União Europeia. No Reino Unido, a vacinação começa nestes dias. Nos outros, entre o final de dezembro e início de janeiro.

E o governo brasileiro?

Bernardo Mello Franco - A gambiarra da reeleição

- O Globo

O Supremo Tribunal Federal começa a julgar amanhã se os presidentes da Câmara e do Senado podem se reeleger. Em outros tempos, os ministros nem precisariam gastar seu latim com o assunto. A Constituição é clara: não podem.

A Carta proíbe expressamente a reeleição dos integrantes das Mesas do Congresso. De acordo com o artigo 57, é “vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente”. O Supremo já admitiu uma exceção quando há mudança de legislatura. Não será o caso em fevereiro de 2021.

O objetivo dos constituintes foi impedir que os presidentes da Câmara e do Senado se eternizassem no poder. Isso evitou que o Congresso virasse uma versão candanga da Assembleia Legislativa do Rio, cujos chefões são quase vitalícios. O mais notório deles, Jorge Picciani, foi eleito seis vezes para o cargo. Só largou o osso ao ser preso pela Polícia Federal.

Fabio Graner - Auxílio emergencial, Bolsa Família e retomada

- Valor Econômico

Governo tem desafio de ampliar recursos para o Bolsa Família

Apesar de continuarem as pressões pela renovação do auxílio emergencial em janeiro, esse cenário parece ter ficado mais distante nos últimos dias. Ainda que não se deva descartar a hipótese de uma prorrogação de última hora, diante da piora recente no número de casos e mortes, o governo tem dado sinais de que a posição da equipe econômica deve prevalecer, como mostram as mais novas declarações do presidente Jair Bolsonaro.

A área técnica está convicta de que a economia vai continuar seu processo de retomada, agora com uma contribuição maior do setor de serviços, mesmo com os recentes anúncios de medidas de ampliação de restrição em alguns Estados, como São Paulo. E, por isso, o entendimento é de que não haveria necessidade de renovação do auxílio.

Nesse ambiente, ganha importância o trabalho em curso de mudanças no Bolsa Família, o atual programa social que já tem previsto um reforço de caixa no projeto orçamentário de 2021.

Como mostrou o Valor em outubro, a nova versão do programa criado no primeiro governo Lula deve incluir bônus de R$ 1 mil para mérito esportivo e em ciência e tecnologia (olimpíada de matemática e física). Também há previsão de recursos para mérito escolar de forma mais geral, mas o volume original de R$ 413 milhões previstos para esse fim foi reduzido para R$ 80 milhões. Assim, o restante, pouco mais de R$ 300 milhões, deve ir para um programa de creches atrelado ao bolsa, que entrou recentemente na discussão e ainda está sendo formatado.

Maria Cristina Fernandes - Não é um "casuismozinho"

- Valor Econômico

Sem 308 votos para mudar a Carta, boiada da reeleição das Mesas quer passar no STF

É preciso notório saber jurídico para chegar ao Supremo Tribunal Federal, mas basta um domínio rudimentar da língua portuguesa para entender o parágrafo quarto do artigo 57 da Constituição: “Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente”.

Apesar disso, a conjunção dos astros na capital federal indica que a tese que permitirá a reeleição do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) e do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência das Mesas tem a maioria dos 11. E por que renomados magistrados submeteriam sua reputação a tamanho constrangimento?

Já o fizeram antes, explicam os defensores da tese. Sim, fartamente, sem que nenhum deles se sinta impedido de olhar o espelho de manhã cedo. O casamento homoafetivo é o exemplo mais usado de reinterpretação sem mudança constitucional. Trata-se, porém, de dispositivo envelhecido por uma sociedade mais inclusiva que passou a reivindicar a cláusula pétrea dos direitos e garantias individuais.

A julgar pela dedicação dos arautos da tese, se não há uma “parada do fico” no calendário, em defesa da reeleição das Mesas, é porque não há pleno conhecimento das ameaças que pairam sobre a democracia. Os argumentos vão dos predicados do principal adversário de Maia, o deputado ficha suja Arthur Lira (PP-AL), que conquistou seus dois últimos mandatos pendurado em liminar do STJ, até o ataque de hackers no TSE.

Investigações preliminares da Polícia Federal que indicariam o envolvimento de deputados federais do círculo mais próximo de Bolsonaro, teriam bastado para convencer os recalcitrantes. Quando o ministro Luís Roberto Barroso entrou na linha de tiro pelo apagão do TSE no primeiro turno, Maia foi o primeiro a se solidarizar. O ministro Gilmar Mendes, relator da reeleição, o segundo.

Em jantar com oposição, Maia promete não concorrer à reeleição na Câmara

O atual presidente da Câmara disse que, mesmo se for autorizado pelo Supremo Tribunal Federal, não concorrerá a um novo mandato; ele está no terceiro consecutivo

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu deputados de oposição na noite de terça-feira (1º) para discutir sua sucessão. A eleição ocorrerá em 1º de fevereiro e Maia prometeu que, mesmo se for autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), não concorrer a um novo mandato – ele está no terceiro consecutivo.

Maia tenta manter unido seu grupo, que tem seis pré-candidatos: os presidentes do MDB, Baleia Rossi (SP); do Republicanos, Marcos Pereira (SP); do PSL, Luciano Bivar; além dos deputados Marcelo Ramos (PL-AM), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Nenhum deles participou do encontro com os partidos de oposição.

Segundo relatos de três parlamentares, a reunião tratou, em termos gerais, sobre os partidos de esquerda esperarem um espaço de destaque na Mesa Diretora e também o no comando de comissões importantes, caso apoiem o candidato de Maia. Mas não chegaram a discutir no encontro quais seriam esses cargos. A oposição, unida, tem 130 deputados.

Entrevista | FHC vê Bolsonaro mais fraco em 2022: "Difícil que ele empolgue novamente"

Em entrevista, ex-presidente também afirma que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não conhece o Congresso: "É um peixe fora d’água"

Por Simone Iglesias, Martha Beck e Samy Adghirni, Bloomberg | Valor Econômico

A efervescência social que catapultou Jair Bolsonaro à presidência em 2018, após o governo de 13 anos do PT, dificilmente se sustentará até as próximas eleições em 2022, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“Bolsonaro já sabemos como ele é. Difícil que ele seja uma pessoa que empolgue novamente, como já empolgou. Empolgou muito mais contra o medo que o pessoal tinha do PT, exagerado”, afirmou à "Bloomberg News". “Agora, chega lá, mas tem que fazer alguma coisa. O que de concreto está sendo feito?”

Isso não significa que o presidente de extrema direita não será um forte candidato à reeleição. A popularidade de Bolsonaro atingiu recorde no auge da pandemia, devido ao auxílio emergencial, que ele está sendo forçado a suspender devido às restrições fiscais.

Sua marca populista, no entanto, sofreu um duplo golpe nas últimas semanas: primeiro, seu aliado Donald Trump não conseguiu se reeleger nos Estados Unidos. Depois saiu enfraquecido das eleições municipais, já que candidatos que receberam seu apoio não se elegeram.

O governo também enfrenta dificuldades para avançar com as reformas. “O ministro Paulo Guedes não conhece o Congresso. Ele é um peixe fora d’água no Congresso. Então é difícil que o Congresso vá atrás das reformas necessárias”, afirma Fernando Henrique.

O ex-presidente observa com preocupação a deterioração das finanças do país, incluindo os primeiros sinais de problemas na rolagem de títulos da dívida. Não é o tamanho da dívida pública - agora perto de 100% do PIB - que o preocupa, mas a redução da credibilidade do governo nos mercados financeiros.

O próximo presidente precisará reconstruir essa credibilidade e “reinventar um caminho” para o país, diz Fernando Henrique, ao citar quatro potenciais candidatos: o governador de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ambos do PSDB, o apresentador Luciano Huck e Ciro Gomes (PDT).

Apesar de uma “fumaça de populismo” nublando o cenário político do Brasil, Bolsonaro não tem carisma nem retórica certa para se tornar um ditador populista, segundo o ex-presidente. “A crise da democracia representativa não chegou ao ponto de dizer que então é melhor um bom ditador.”

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

O agronegócio: alavanca para o futuro – Opinião | O Estado de S. Paulo

O agronegócio é peça-chave para que o Brasil possa ser celeiro do mundo e guardião da maior biodiversidade do planeta

Em algumas décadas o Brasil passou de importador a um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, em vias de se tornar o maior. Em chocante contraste com a indústria, essa história de sucesso foi calcada no empreendedorismo, boas políticas de crédito e fomento, parcerias público-privadas e pesquisa e inovação de ponta. Não à toa o agro foi o único setor com desempenho positivo na pandemia – literalmente a “salvação da lavoura” nacional.

A agropecuária se encontra em um momento crucial da história, dadas as oportunidades e desafios gerados pelo crescimento demográfico, inovações biotecnológicas, demandas de sustentabilidade e atritos comerciais entre potências como EUA, China e Europa. Em contrapartida, as políticas externa e ambiental autodestrutivas do governo, combinadas à difamação promovida por demagogos e competidores internacionais, têm provocado distúrbios que ameaçam o desenvolvimento do setor.

Música | Coral Edgard Moraes - Sou de Pernambuco - Live dia do frevo de bloco 2020

 

Poesia | Carlos Pena Filho - A palavra

Navegador de bruma e de incerteza,
Humilde me convoco e visto audácia
E te procuro em mares de silêncio
Onde, precisa e límpida, resides.

Frágil, sempre me perco, pois retenho
Em minhas mãos desconcertados rumos
E vagos instrumentos de procura
Que, de longínquos, pouco me auxiliam.

Por ver que és claridade e superfície,
Desprendo-me do ouro do meu sangue
E da ferrugem simples dos meus ossos,
E te aguardo com loucos estandartes
Coloridos por festas e batalhas.

Aí, reúno a argúcia dos meus dedos
E a precisão astuta dos meus olhos
E fabrico estas rosas de alumínio
Que, por serem metal, negam-se flores
Mas, por não serem rosas, são mais belas
Por conta do artifício que as inventa.

Às vezes permaneces insolúvel
Além da chuva que reveste o tempo
E que alimenta o musgo das paredes
Onde, serena e lúcida, te inscreves.

Inútil procurar-te neste instante,
Pois muito mais que um peixe és arredia
Em cardumes escapas pelos dedos
Deixando apenas uma promessa leve
De que a manhã não tarda e que na vida
Vale mais o sabor de reconquista.

Então, te vejo como sempre foste,
Além de peixe e mais que saltimbanco,
Forma imprecisa que ninguém distingue
Mas que a tudo resiste e se apresenta
Tanto mais pura quanto mais esquiva.

De longe, olho teu sonho inusitado
E dividido em faces, mais te cerco
E se não te domino então contemplo
Teus pés de visgo, tua vogal de espuma,
E sei que és mais que astúcia e movimento,
Aérea estátua de silêncio e bruma