terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Opinião do dia – Editorial | O Estado de S. Paulo

Onde estavam esses artistas quando se tomou conhecimento da imensa máquina de corrupção montada pelos petistas? Que faziam esses ilustrados quando Lula da Silva escancarou as portas e os cofres do governo ao mais desbragado fisiologismo? A que cegueira estavam submetidas essas sumidades quando o mesmo Lula que festejam como pai dos pobres escolheu ser mãe dos ricos, tornando-se amigo do peito de empreiteiros? Por que esses pensadores não se manifestaram quando Dilma Rousseff fez milhões de brasileiros retornarem à condição de pobres?

A resposta é, na verdade, muito simples: estavam a usufruir da proximidade do poder e do dinheiro público que vertia da generosa máquina estatal petista. A arte que diziam fazer estatizou-se.

Agora, esses artistas e intelectuais, cuja capacidade de raciocinar foi turvada por décadas de submissão à doutrina do PT, agem como a vanguarda da mistificação segundo a qual quem não denuncia o “golpe” – seja em casa, no bar com os amigos, nas redes sociais, no teatro ou em cerimônias de qualquer natureza – golpista é.

*Editorial do Estado de S. Paulo. ‘A politização de tudo’, 21/2/2017

PF diz que Lula, Dilma e Mercadante tramaram contra Lava Jato

Relatório de 47 páginas enviado ao ministro Edson Fachin, do STF, sustenta que ex-presidentes e ex-ministro provocaram 'embaraços ao avanço das investigações da Operação Lava Jato'

Fabio Serapião e Fausto Macedo | O Estado de S. Paulo

A Polícia Federal atribui aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff crime de obstrução de Justiça e ao ex-ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil e Educação) os crimes de tráfico de influência e também obstrução de Justiça. Em relatório de 47 páginas, o delegado de Polícia Federal Marlon Oliveira Cajado dos Santos, do Grupo de Inquéritos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, sugere que os ex-presidentes e o e ex-ministro sejam denunciados criminalmente, mas em primeiro grau judicial – no âmbito da Justiça Federal do Distrito Federal – porque nenhum deles, Lula, Dilma e Mercadante, detém foro privilegiado na Corte máxima.

O relatório do inquérito foi encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, e ao procurador-geral da República Rodrigo Janot. Formalmente, a PF não indiciou Lula, Dilma e Mercadante, mas sustenta que ‘o conjunto probatório é suficiente’.

Para a PF, ao nomear Lula ministro-chefe da Casa Civil, em março de 2016, a então presidente e seu antecessor – que com a medida de Dilma ganharia foro privilegiado no Supremo e, na prática, escaparia das mãos do juiz federal Sérgio Moro – provocaram ’embaraço ao avanço da investigação da Operação Lava Jato’.

Lula e Dilma agiram contra a Lava-Jato, acusa PF

Em relatório enviado ao ministro Edson Fachin, do STF, a PF acusa os ex-presidentes Lula e Dilma e o ex-ministro Mercadante de obstrução de Justiça. Para a PF, os petistas tentaram atrapalhar a Lava-Jato com a nomeação de Lula para a Casa Civil. Fachin deverá enviar os autos à 1ª instância.

Em relatório, PF acusa Lula e Dilma de tentarem obstruir a Lava-Jato

Documento, encaminhado ao ministro Fachin, ainda cita Mercadante

Jailton de Carvalho | O Globo

-BRASÍLIA- Relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) acusa os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de obstrução de Justiça. Para o delegado Marlon Oliveira Cajado, Lula e Dilma tentaram retardar investigações da Lava-Jato quando a ex-presidente tentou, ano passado, nomear o ex-presidente para a Casa Civil. O cargo daria a Lula foro privilegiado e forçaria a transferência das investigações contra da 13ª Vara Federal de Curitiba para o STF, em Brasília.

O relatório foi encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF. No documento, Cajado recomenda o envio dos autos para a Justiça Federal. Lula e Dilma não têm mais direito a foro especial. No mesmo relatório, o delegado acusa o ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante de obstrução de Justiça e tráfico de influência. O ex-ministro teria tentado demover o ex-senador Delcídio Amaral de um acordo de delação que negociou com a Procuradoria-Geral da República.

Empresário ligado a Bumlai acerta delação

Milton Schahin pode esclarecer se houve empréstimo de R$ 60 milhões ao PT

Gustavo Schmitt e Cleide Carvalho | O Globo

-SÃO PAULO- Milton Schahin, um dos sócios do grupo Schahin, fechou acordo delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba. O empresário se comprometeu a pagar uma multa de R$ 7 milhões — com carência de seis meses para início de desembolso. O valor deverá ser pago em 24 parcelas, corrigidas monetariamente.

Pelo acordo, Milton Schahin ficará em prisão domiciliar por três meses, com tornozeleira eletrônica. Após esse prazo, cumprirá por nove meses o regime domiciliar semiaberto, ainda com tornozeleira, podendo deixar a residência entre às 7h e 21h de segunda a sexta-feira e permanecer recolhido em fins de semana e feriados.

PF diz que Lula, Dilma e Mercadante tentaram obstruir Lava Jato

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Polícia Federal concluiu que os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, além do ex-ministro Aloizio Mercadante, atuaram para obstruir trabalhos da Operação Lava Jato.

Aos três a PF atribuiu o crime de obstrução de Justiça. A polícia ainda imputa a Mercadante o crime de tráfico de influência.

Os dados fazem parte de um relatório parcial enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) na última quinta-feira (16). O material agora está nas mãos do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte.

A informação foi publicada nesta segunda-feira (20) no site do jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmada pela Folha.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) também vai receber o conteúdo das investigações da PF e deve se manifestar a respeito no inquérito em andamento.

Vice de Janot é favorito à sucessão

Por Maíra Magro | Valor Econômico

BRASÍLIA - Depois de emplacar Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), o PSDB poderá ter um nome ligado ao partido à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR). José Bonifácio Borges de Andrada, atual vice de Rodrigo Janot, seria o substituto preferido pelo governo.

O mandato do atual procurador-geral termina em setembro. Embora Janot tenha insinuado recentemente que poderia se candidatar a uma segunda recondução, ele não deverá fazê-lo. Desde Geraldo Brindeiro, que ocupou a chefia do Ministério Público por oito anos (quatro mandatos) no governo Fernando Henrique, a tradição é que cada procurador-geral seja reconduzido uma única vez. Além disso, por investigar os principais nomes do PMDB, Janot não tem o apoio do governo.

Os descaminhos do pacote

Maia diz que não há por que votar projeto anticorrupção e vai enviá-lo ao Senado como está

Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- Depois de anunciar na última sexta-feira que havia se entendido com o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), para não paralisar o projeto de iniciativa popular que ficou conhecido como as 10 Medidas contra Corrupção, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu pegar um atalho. Uma liminar de Fux determinara que o projeto, desfigurado por votação na Câmara no ano passado, voltasse a tramitar do início, retomando a proposta original referendada por mais de 2 milhões de assinaturas. Maia disse ontem que vai verificar se o projeto tem todas as assinaturas necessárias, sem necessidade de conferir se são mesmo verdadeiras, mas, ao invés de determinar que a proposta volte a ser apreciada pela Câmara, enviará o texto direto para o Senado.

Na sexta-feira, Maia afirmou ao GLOBO que cumpriria a liminar do ministro Luiz Fux que determinou o retorno do projeto à Câmara. Ontem, disse que a mera conferência de assinaturas por parte da Câmara já seria suficiente para atender a decisão do ministro do Supremo:

— A Secretaria-Geral da Mesa confere as assinaturas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) valida, checa se o rito está correto, e a parte da Câmara estará superada — disse. 

Maia detalha checagem de assinaturas

Por Cristiane Agostine e Cristiane Bonfanti | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A checagem de 2 milhões de assinaturas do projeto de lei anticorrupção, que começou a ser realizada ontem pela Câmara, não levará em conta se as informações fornecidas são verdadeiras ou não. Segundo o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a Câmara verificará apenas o número de assinaturas e se foram apresentados dados como endereço e RG ou CPF.

Os documentos dos apoiadores do projeto que trata das 10 Medidas de Combate à Corrupção não serão cruzados com os nomes nem com as assinaturas. Mesmo se houver repetição das assinaturas ou dos documentos ou até mesmo a invenção desses dados, esse tipo de irregularidade não será checada pela Câmara, segundo Maia.

Governo apresenta projeto para "lei de falência" dos Estados

Por Raphael Di Cunto, Fabio Graner e Ribamar Oliveira | Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo apresentou ontem ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o novo projeto de lei de recuperação fiscal dos Estados, peça fundamental para o socorro do Rio de Janeiro e outros, como o Rio Grande do Sul. A proposta, prevista para ser enviada ainda ontem em regime de urgência, define uma série de medidas de ajuste fiscal para os Estados poderem suspender o pagamento de dívida com a União por até três anos (podendo ser prorrogado por igual período), refinanciarem suas dívidas com o sistema financeiro e tomarem novos empréstimos para reequilibrar suas contas. O governo quer aprovar o texto no máximo até abril.

Os créditos concedidos por instituições financeiras públicas e privadas aos Estados, depois da criação do novo regime, poderão ter os pagamentos suspensos por até 36 meses e renegociados nas mesmas condições da dívida com a União, se o governo estadual solicitar ingresso no programa. "Estamos usando na legislação sobre a recuperação fiscal dos Estados o mesmo conceito da lei de falência", explicou a fonte. É uma espécie de alerta para que os bancos avaliem melhor a situação financeira de cada Estado antes de conceder novos financiamentos e evita que a União assuma sozinha todo custo de eventuais socorros. A medida não vale para os créditos novos em negociação com o Rio de Janeiro.

Pacote fiscal chega hoje ao Congresso

Além de autorizar novos empréstimos e de suspender por três anos o pagamento da dívida com a União, o regime de recuperação fiscal prevê uma série de contrapartidas dos estados. Técnicos da Fazenda também passarão a fiscalizar as contas estaduais para que o acordo seja cumprido.

Congresso recebe hoje projeto de recuperação dos estados

Empresa que será vendida terá representante de credor na diretoria

Martha Beck | O Globo

-BRASÍLIA- Os estados que quiserem aderir ao novo Regime de Recuperação Fiscal terão que cumprir uma série de contrapartidas, incluindo autorizar a privatização de empresas dos setores financeiro, de energia e saneamento. Isso é o que prevê o projeto de lei que, de acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será encaminhado hoje ao Congresso. Segundo técnicos da equipe econômica do governo federal, a venda das estatais ajudará os estados em dificuldades a fazer uma engenharia financeira que permitirá o pagamento de despesas atrasadas, inclusive com pessoal.

Se o Rio ingressar no programa, poderá obter logo empréstimos junto ao setor financeiro com o aval do Tesouro Nacional, dando como garantia as ações da Cedae. Com esses financiamentos, o estado conseguiria quitar parte de suas dívidas e abriria espaço no caixa para honrar a folha do funcionalismo.

Venda da Cedae é aprovada, e socorro ao Rio avança

Alerj dá aval à privatização por 41 votos a 28

Ações devem garantir R$ 3,5 bi em empréstimos

Protesto violento trava trânsito e deixa 20 detidos

Num primeiro passo para garantir sua recuperação fiscal e o socorro financeiro da União, o Estado do Rio aprovou ontem na Assembleia Legislativa o projeto que autoriza a privatização da Cedae. O aval do Legislativo — 41 votos a favor e 28 contra — é fundamental porque as ações da companhia de água e esgoto serão dadas como garantia a empréstimos de R$ 3,5 bilhões para quitar salários atrasados de servidores. Apesar do forte esquema de segurança, inclusive com homens da Força Nacional, houve protestos no entorno do Palácio Tiradentes e quebra-quebra na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil, onde estruturas instaladas para o carnaval foram destruídas. O trânsito ficou caótico na região. Vinte pessoas, entre elas mascarados, foram detidas sob a acusação de atos de vandalismo.

Hoje, os deputados voltam a se reunir em plenário para votar 16 destaques apresentados ao projeto original, mas a expectativa é que os governistas rejeitem todos. Oposição no estado, PSDB e PSOL ameaçam ir à Justiça contra a decisão de vender a estatal, que atende a 64 de 92 municípios do Rio.

Cedae rumo à privatização

Alerj aprova venda da estatal, primeiro passo para estado obter empréstimos e sair da crise

Luiz Ernesto Magalhães, Giselle Ouchana e Renan Rodrigues | O Globo

Lula e o foro especial - Merval Pereira

- O Globo

A questão do foro especial por prerrogativa de função, popularmente conhecido como “foro privilegiado”, volta ao debate justamente no momento em que relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) acusa os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de obstrução de Justiça no caso da nomeação de Lula como chefe do Gabinete Civil de Dilma.

Desse modo, o ex-presidente Lula, que já era investigado e fora dias antes levado coercitivamente a depor na Polícia Federal, ganharia foro privilegiado, e seus processos sairiam da jurisdição do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.

O caso tem sido comparado à nomeação do ministro Moreira Franco pelo presidente Temer recentemente, que voltará a ser analisada pelo plenário do STF depois que o decano, ministro Celso de Mello, considerou que a nomeação foi normal. Justamente porque não há ainda uma investigação sobre o ministro Moreira Franco, e muito menos denúncia.

O teatro - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Com o ensaio numa chalana, sabatina de Alexandre de Moraes vira teatro com 'the end' conhecido

O ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, vai chegar ao Senado para a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), hoje de manhã, disposto a enfrentar a oposição como na música de Erasmo Carlos na Jovem Guarda: Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo. Essa disposição pode parecer uma vantagem, mas a experiência mostra que pode virar uma grande desvantagem.

Oposição é oposição e seu papel é azucrinar a vida dos governos e, por extensão, as sabatinas dos candidatos do governo de plantão para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Liderada pelo PT, vai, sim, apertar o quanto puder o indicado pelo presidente Michel Temer. Seu grande trunfo é que há questionamentos reais a serem feitos, mas os governistas têm um trunfo ainda melhor: uma expressiva maioria.

Os Brumários - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O fortalecimento de Jair Bolsonaro é o sinal de que uma onda reacionária pode crescer à sombra da desordem, da recessão e do desemprego

A Revolução Francesa (1789-1899) foi encerrada com um golpe de estado de Napoleão, intitulado Dezoito Brumário, depois de 10 anos de um processo político que tragou seus líderes. Com a derrota da velha aristocracia e do poder feudal, a burguesia francesa inicia um período de expansão no qual o nacionalismo serviu de base para a formação de um grande exército e para a construção de um império. Napoleão era um gênio militar e avançou por toda a Europa, de Portugal, cuja família real teve que se transferir para o Brasil, até Moscou, que encontrou deserta, mas cuja conquista foi uma ambição fatal. Mas essa é uma outra longa história.

O historiador do Senado – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

- Na semana passada, o senador Romero Jucá apresentou uma proposta ousada. Ele queria mudar a Constituição para impedir que os presidentes da Câmara e do Senado sejam alvo de investigações.

Os ocupantes dos dois cargos atendem pelos apelidos de "Botafogo" e "Índio" na lista da Odebrecht. Se o texto fosse aprovado, eles poderiam tatuar o nome da empreiteira na nuca com a certeza de que jamais seriam incomodados pela polícia.

Para azar da dupla, a manobra veio à tona antes da hora e teve que ser abortada. O Congresso escapou de mais um vexame, mas Jucá não se convenceu de que a ideia era imprópria. Nesta segunda (20), ele subiu à tribuna para reclamar do episódio.

A métrica eleitoral do presidente Temer - Raymundo Costa

- Valor Econômico

Popularidade vem com perseverança na economia

A baixa popularidade de Michel Temer causa ansiedade na área de propaganda do governo, mas é tratada com frieza na área política e no grupo mais próximo ao presidente. A métrica de Temer não é e nem deve ser eleitoral, neste momento, como devem ser a de Lula e Aécio Neves, por exemplo, candidatos à sucessão de 2018. A escala do presidente, segundo auxiliares, são os indicadores econômicos - inflação, juros, emprego. Neste último quesito, aliás, o Palácio do Planalto comemora o crescimento do emprego formal em São Paulo, no mês de janeiro, o que não ocorre ao menos desde 2015.

Foram 6.500 empregos a mais em janeiro de 2017 em relação a dezembro de 2016, um aumento expressivo, comparado à seca de carteiras assinadas verificada nos últimos anos. Registro que passou quase despercebido, o que para o Planalto é apenas mais uma prova do radicalismo que tomou conta do debate político brasileiro.

Os burros n’água - Arnaldo Jabor

- O Estado de S. Paulo

Estamos começando do quase zero, fazemos só o conserto, a recauchutagem do óbvio

Não sei o que se passa hoje no Brasil. Só vejo expectativas, nenhuma clareza. Nosso último acontecimento foi o impeachment de Dilma. Jornais batalham para ter um assunto concreto. A Lava Jato é intocável, todos dizem, principalmente os mais citados por ela.

A Lava Jato foi uma grande conquista. Mas, pergunto, e depois que julgarem e prenderem, em que ela vai desembocar? Haverá por exemplo uma grande campanha para acabar com a espantosa burocracia do País? Seria importantíssimo. A burocracia não é apenas uma aporrinhação; ela é a capa que protege a corrupção e faz a manutenção do eterno patrimonialismo que nos assassina.

Tamanho da queda - Míriam Leitão

- O Globo

Há um quase consenso no mercado de que a Selic vai cair 0,75 ponto percentual. É um corte forte, mas desde que o BC começou a reduzir os juros, em outubro, a inflação caiu ainda mais. Isso fez com que os juros reais subissem quando se compara IPCA com a Selic atual. Quando a conta é feita olhando para frente — a expectativa de inflação e os juros futuros — houve queda, mas a taxa ainda é alta.

Como a diminuição da inflação foi mais forte do que a redução da Selic, houve aumento da taxa real de juros, na medida que o mercado chama de ex-post. Em pouco mais de um ano, ela subiu de 3,54% para 7,65%. Mas o que os economistas mais olham é o ex-ante, ou seja, a expectativa de inflação comparada aos juros futuros, e, nessa medida, ela despencou. O problema é que, mesmo assim, é alta para um país que está há dois anos em recessão.

A responsabilidade da sabatina – Editorial | O Estado de S. Paulo

Prevê-se para hoje a sabatina, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, do sr. Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é demais recordar a importância desse ato, que – longe de ser mero procedimento burocrático – tem consequências decisivas para o bom andamento das instituições.

Não deve haver pressa na escolha de um ministro do STF. Se são prejudiciais ao País delongas desnecessárias – a presidente Dilma Rousseff demorou nove meses para indicar Edson Fachin –, também não cabem aprovações automáticas, como se a indicação presidencial fosse suficiente para conferir ao candidato as condições para o bom exercício do cargo. A responsabilidade pela nomeação de um membro do Supremo é, por determinação constitucional, compartilhada. O presidente da República indica e o Senado sabatina e aprova (ou rejeita) a indicação.

Momento de se repensar o foro privilegiado – Editorial | O Globo

À espera de um número que deverá ser grande de denúncias da Lava-Jato, STF debate revisão do instrumento para que possa julgar todos os processos até o fim

Enquanto o tempo passa e cresce a expectativa para a chegada ao Supremo Tribunal das denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República, o MP federal, contra políticos, com base nas delações premiadas da cúpula da Odebrecht, aumenta o debate, no meio jurídico, sobre a necessidade de uma revisão no conceito de foro privilegiado.

Faz sentido porque a carga de trabalho da Lava-Jato que cairá sobre o STF será muito grande. Maior que a do mensalão, quando o tribunal julgou quatro dezenas de acusados, alguns com foro especial e outros não, mas mantidos no mesmo processo devido à organização com que aquele grupo operou no desvio de dinheiro público para montar a bancada de apoio parlamentar a Lula.

Pragmatismo básico – Editorial | Folha de S. Paulo

Na classe média da economia global, o Brasil coleciona resultados de país pobre quando se avaliam a qualidade e a abrangência do saneamento básico.

A falta de cobertura é alarmante, sobretudo quanto à coleta de esgoto, que alcança apenas 55% da população —e só 42,7% dos dejetos são tratados. Ao menos na coleta de água os números são melhores, com 83,3% de atendimento.

O tímido progresso dos últimos anos mostra-se incapaz de reverter esse quadro em tempo razoável. Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria, mantido o ritmo atual, a universalização dos serviços ocorrerá somente na década de 2050.

Trata-se de defasagem de 20 anos em relação às metas fixadas em 2013 pelo Plano Nacional de Saneamento Básico.

Novo censo escolar ressalta os desafios da reforma do ensino – Editorial | Valor Econômico

Por uma dessas coincidências nem sempre felizes, exatamente no dia em que o presidente Michel Temer sancionou a reforma do ensino médio, na semana passada, foi divulgado o Censo Escolar 2016. O censo pinta um retrato que evidencia como será difícil implementar as mudanças pretendidas e o quanto outras metas traçadas estão ficando para trás, explicando porque a educação ainda está tão longe do ideal.

Uma das principais mudanças introduzidas pela reforma do ensino médio tem como alvo o currículo, que precisava mesmo de uma boa atualização após os 20 anos de idade da reforma anterior. Apesar da resistência inicial por ter sido apresentada como Medida Provisória, a reforma incorporou propostas de mudanças e acabou sendo assimilada. Algumas das 13 disciplinas obrigatórias terão peso menor e poderão ser distribuídas de forma diferente. Português, matemática e inglês serão as únicas obrigatórias nos três anos. Filosofia, sociologia, artes e educação física também são obrigatórias, mas entram no currículo como conteúdo e poderão ser ministradas em outras disciplinas.

A politização de tudo – Editorial | O Estado de S. Paulo

Cada vez mais desprovido de apoio eleitoral, e ciente de que a opinião pública em geral lhe é crescentemente hostil, o PT tem investido o que resta de suas energias na transformação de todos os aspectos da vida nacional em luta política. Segundo essa estratégia de inspiração autoritária – que, malgrado sua evidente afronta à razão e à liberdade, conta com animado apoio de artistas e intelectuais –, tudo deve ser visto pela óptica da polarização.

Simples opiniões sobre temas cotidianos são desde logo enquadradas nas categorias que os petistas criaram para definir todos e cada um dos brasileiros desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff: ou o sujeito é um “progressista”, preocupado com a preservação dos “ganhos sociais” proporcionados pela gestão do PT, ou é “golpista”, que só pensa em prejudicar os pobres e acabar com a democracia.

Tudo hoje parece subordinado a essa lógica binária. Prevalece o ódio, com o qual só lucram aqueles que não conseguem mais angariar votos. Ou seja, se não é possível ganhar o debate político pela via democrática, que seja no grito.

Incerteza política é ameaça à recuperação econômica – Editorial | O Globo

Emergentes e economias avançadas devem crescer este ano de forma mais consistente, prevê o Banco Mundial, mas populismo em alta gera instabilidade

Relatório do Banco Mundial (Bird), divulgado em janeiro, mostra sinais mais consistentes de recuperação da economia mundial, indicando que o mundo se afasta dos efeitos negativos da crise de 2008, que levou o mundo à chamada Grande Recessão. Segundo a instituição, o crescimento global deverá avançar 2,7%, após uma expansão de 2,3% em 2016, a pior performance desde o início da crise. Este avanço será puxado sobretudo pela recuperação dos preços das commodities exportadas por países emergentes, inclusive a cotação do petróleo, além da continuidade da recuperação nas economias avançadas, como a dos EUA.

A cidade antiga – Vinicius de Moraes

Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.

Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!

Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.

Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal

Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!

Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...

Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.

Ultimo Regresso / Getulio Cavalcante e Bloco da saudade