quarta-feira, 9 de março de 2016

Opinião do dia – Dora Kramer

Os atuais inquilinos do poder só demonstram preocupação com o País quando isso pode lhes render algum benefício. Do contrário, lixam-se.

Arrebentaram a economia para ganhar eleições, enterraram o exercício da política em fosso profundo para conquistar aliados, mentiram com inédita jactância para tornar verossímeis toda sorte de manipulações, passaram por cima da lei, aniquilaram a ética como valor essencial de sociedades civilizadas e ainda se perguntam como, quando e por que a receita desandou.

As respostas não dependem de caras pesquisas. Estão à disposição por iniciativa dos fatos. Quando?

No momento em que o Brasil cansou de ilusões e parou de se comportar como um dócil refém da miragem que o PT escolheu como modo de governar.

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Dora Kramer é jornalista. ‘Imoral, ilegal, e daí?’, O Estado de S. Paulo, 9.3.2016

Dilma faz apelo por 'compreensão, diálogo e unidade' do País

• Sem citar especificamente o temor do governo com o acirramento da violência nas manifestações marcadas para o próximo domingo, Dilma afirmou ainda que o País precisa manter sua reputação de ser um país tolerante

Ana Fernandes, Carla Araújo, Elizabeth Lopes, Felipe Resk, Ricardo Galhardo e Tânia Monteiro – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pediu nesta terça-feira, 8, “compreensão, diálogo e unidade” no País, em solenidade no Palácio do Planalto na qual assinou uma portaria para beneficiar com cirurgias reparadoras mulheres vítimas de violência. O apelo foi feito na mesma semana em que militantes começaram a articular atos de apoio ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo da Operação Lava Jato, para o mesmo domingo em que haverá centenas de protestos pelo impeachment de Dilma em todo o País.

“No momento em que nós vivemos, mais uma vez é necessário que a gente repita a importância da tolerância”, afirmou Dilma, sem citar diretamente o temor do governo de eventuais confrontos entre aliados e opositores do governo no fim de semana. “A tolerância e a pacificação da sociedade é algo muito importante.”

A solenidade foi realizada ontem à tarde. Horas antes, Dilma já havia feito apelo semelhante a ministros do governo, durante reunião de coordenação política. A presidente pediu aos aliados que seus respectivos partidos, em especial o PT, desmarcassem qualquer evento previsto para o domingo, a fim de evitar confrontos com manifestantes contrários ao governo. O acirramento de ânimos de partidários e opositores da gestão Dilma, após o depoimento forçado de Lula à Lava Jato, preocupa o Planalto.

Seguindo essa orientação, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reuniu-se com líderes da base e pediu a todos que convençam suas bases a cancelarem manifestações no domingo, não aceitem provocações e evitem o enfrentamento.

O Planalto teme que o governo e o próprio PT possam ser responsabilizados por eventuais conflitos, provocando mais desgaste a ambos. Na sexta-feira, após prestar depoimento à Polícia Federal, Lula fez um discurso cheio de críticas à elite e à mídia, afirmou que era a hora de o PT “levantar a cabeça” e que, “se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo”.

Diante do apelo do governo e da presidente, lideranças de movimentos sociais e sindicais próximos do PT passaram a dizer que não iriam às ruas no domingo, e sim em outras datas previamente definidas para atos contra o impeachment: 18 e 31 de março.

A direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) decidiu orientar as lideranças estaduais a não fazerem manifestações no domingo. A Frente Brasil Popular, formada por partidos, movimentos sociais e sindicais contrários ao impeachment, disse em nota que nenhum eventual ato no domingo faz parte do calendário da entidade, mas o grupo afirmou “apoiar todas as manifestações coletivas”.

Paulista. Em São Paulo, militantes do PT articulam desde domingo um ato em defesa de Lula na Avenida Paulista, no mesmo dia em que está previsto o maior protesto pelo impeachment – a Secretaria de Segurança Pública prevê 1 milhão de pessoas no ato.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que a Polícia Militar não permitirá manifestações de grupos políticos adversários no mesmo local. “No domingo, dia 13, nós devemos fazer um grande trabalho para evitar que haja manifestações contrárias no mesmo local e horário”, disse. “Quem quiser fazer manifestação a favor do governo, contra o impeachment, a favor de quem quiser, tem total liberdade. O que vamos trabalhar é para que não ocorra no mesmo horário e local para garantir a segurança.”

Governo teme perder apoio e apressa rito do impeachment

• 'Já que o processo do impeachment foi recebido indevidamente, não dá para ficar com esse cadáver insepulto', diz o ministro Ricardo Berzoini

Vera Rosa, Daniel Carvalho e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O agravamento da crise política aumentou a instabilidade da base aliada e levou o Palácio do Planalto a rever sua estratégia, pedindo pressa na votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, disse que o caso virou um “cadáver insepulto” e fez um apelo para que o Congresso vote logo o assunto.

Sob o argumento de que o País não pode ficar paralisado por causa de uma ação política sem desfecho, Berzoini disse que o governo não fará qualquer manobra para impedir a votação. “ Já que o processo de impeachment foi recebido indevidamente pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não dá para ficar com esse cadáver insepulto”, disse Berzoini ao Estado. “Há uma tentativa da oposição de obstruir a pauta da Câmara e do Senado só para discutir impeachment. Não é lícito fazer isso. O Brasil não pode parar.”

Em reunião com deputados que lideram partidos da base na Câmara, o ministro afirmou ontem que, enquanto a crise política não se resolver, o País não vai superar a instabilidade econômica. “Nós não temos medo do impeachment. O governo não tem interesse em procrastinar essa votação no Congresso.”

A mesma avaliação foi feita, pela manhã, no encontro de Dilma com ministros que compõem a coordenação de governo. O diagnóstico do Planalto é que a oposição quer arrastar o impeachment o máximo possível para fazer o governo “sangrar” e, nesse período, angariar o apoio das ruas ao processo de deposição de Dilma. Na domingo, haverá manifestações em todo o País pelo afastamento da presidente.

A nova ofensiva da oposição depende da resposta do Supremo Tribunal Federal ao recurso apresentado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre o rito do impeachment. O julgamento foi marcado para o dia 16. “O governo, desde o ano passado, tem dito que está pronto para discutir impeachment. Já existe uma decisão mais que clara. Cabe ao presidente (Eduardo Cunha) colocar a comissão para funcionar. Estamos prontos para discutir esta matéria”, afirmou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Na base, porém, há líderes que entendem o encaminhamento como um erro. Temem a interpretação de que o governo jogou a toalha ou que a própria base defenda a saída de Dilma.

Desgaste. Nesta terça, no Congresso, até governistas obstruíram votações e os sinais de desgaste da base começaram a ser emitidos logo cedo. Minutos antes de seguir para o Planalto para a reunião de líderes com Berzoini, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), defendeu novas eleições gerais. “Outro dia escutei: ‘Rosso, e se fizéssemos eleições gerais, não só para presidente, mas para todos os cargos?’. Eu topo. A gente tem que topar tudo que for para consertar e unir o País”, disse o líder do partido de Gilberto Kassab, um dos ministros mais fiéis a Dilma.

No Senado, também há sinais de racha na base. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) disse que o partido não deve acompanhar o governo em todas as votações. Para um interlocutor do vice Michel Temer, a tendência de desembarque do PMDB do governo é “crescente” e, na convenção do partido, no sábado, há chances de ser aprovada moção de independência em relação ao Planalto. Para evitar que o maior aliado lidere a debandada, foram escalados Berzoini e Jaques Wagner (Casa Civil). / Colaboraram Tânia Monteiro e Julia Lindner

PT pressiona Lula a aceitar ministério e 'escapar' de Moro

• Ex-presidente precisa da prerrogativa de só ser processado no STF para evitar eventual prisão, dizem aliados; ele resiste

Vera Rosa e Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo pressionado a assumir um ministério no governo Dilma Rousseff. Mas, até agora, ele resiste. Com o avanço da Lava Jato, aliados de Lula dizem que ele precisa de foro privilegiado porque, segundo eles, do jeito que a operação caminha, o petista pode ter a prisão decretada. O assunto foi tratado nesta terça-feira, 8, à noite em reunião de Lula, Dilma e ministros, no Palácio da Alvorada.

Se Lula ocupar um ministério, eventual pedido de prisão precisa ser autorizado pelo Supremo Tribunal Federal e o ex-presidente não ficará nas mãos do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na 1.ª instância. Para petistas, é claro o objetivo da operação de atingir Lula e o PT, além de jogar combustível no impeachment de Dilma.

“Aumentou no PT a pressão para que Lula assuma um ministério, para tentar também esboçar uma reação do governo às arbitrariedades que estão ocorrendo”, afirmou um amigo do ex-presidente. Lula não quer aceitar nenhum cargo no governo sob o argumento de que isso passaria a impressão de confissão de culpa. Em agosto do ano passado, o PT já o havia sondado para ocupar um ministério.

Diagnóstico. Apesar da pressão, Lula tem feito um diagnóstico positivo sobre a ação da Lava Jato que o levou a prestar depoimento de forma coercitiva na sexta-feira. “A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E, se me deixarem solto, viro presidente de novo”, disse Lula a mais de um interlocutor. O petista chegou ontem à tarde a Brasília onde se reuniu com Dilma pela segunda vez em quatro dias.
/ Colaboraram Erich Decat, Gustavo Aguiar e Isadora Peron

Em meio à crise, Lula tem dia de articulador

Investigado na Lava- Jato, o expresidente Lula tem hoje encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), e o ex- senador José Sarney para tentar evitar o rompimento entre o PMDB e o governo Dilma. Cresce no Planalto a preocupação com o impeachment.

Investigado, Lula reage e assume articulação contra impeachment

• Ex- presidente chega a Brasília, chama Sarney e atua junto ao PMDB

Simone Iglesias, Isabel Braga Leticia Fernandes - O Globo

BRASÍLIA- Com o aumento da pressão no PMDB pelo rompimento com a presidente Dilma Rousseff, cresceu no Palácio do Planalto a preocupação com o processo de impeachment. Ontem pela manhã, em reunião da coordenação política, Dilma avaliou que a situação do governo é “difícil”, porque os partidos aliados poderão acabar se afastando, assim como os peemedebistas, levados pelas manifestações de domingo e pelo desgaste contínuo de sua gestão.

No quadro de tensão e incertezas, o ex-presidente Lula desembarcou em Brasília para assumir a articulação junto ao PMDB e discutir com a presidente mudanças na agenda econômica que tenham impacto imediato. Investigado na Operação Lava- jato, Lula se reuniu ontem à noite com Dilma e alguns ministros, e hoje toma café da manhã na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), com o ex- presidente José Sarney e o comando do PMDB do Senado, mais alinhado com o governo.

— A semana está afetada pelas manifestações de domingo. Preocupação ( com o impeachment) tem e há uma agenda de conversas com a base. É preciso agir no campo institucional — disse um auxiliar da presidente.

“Faca no pescoço”
Lula assumiu a articulação política junto ao PMDB do Senado, que passou a ter papel decisivo no rito do impeachment determinado pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), dias depois de ser levado a depor pela Polícia Federal, que investiga se ele foi ou não beneficiado pelo esquema de corrupção na Petrobras. Ontem, os advogados do ex- presidente apresentaram recurso ao STF, contra decisão da ministra Rosa Weber que validou a 24 ª fase da Lava- Jato.

A convenção do PMDB, marcada para a véspera das manifestações de domingo, reforça o sentimento no governo de que será difícil recompor com o principal aliado. Até ontem, apesar da ação de Lula, não havia no horizonte de Dilma a possibilidade de uma conversa com o vice-presidente, Michel Temer.

Ontem pela manhã, depois da reunião com Dilma, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) reuniu os líderes da base. O ministro teria dito que é importante tirar essa “faca do pescoço” do governo e pediu equilíbrio aos líderes. Segundo relato de um participante, Berzoini afirmou que o governo costuma ter entre 280 e 300 votos, dependendo do tema das votações. A maioria dos líderes se posicionou a favor de enfrentar o quanto antes o processo de afastamento na Casa.

— Esse filme está no pause, bota o play e deixa tocar, a vida tem que continuar — afirmou o deputado Hugo Leal (PROS- RJ).

Na reunião, o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), sugeriu que Dilma convoque o Conselho da República para tratar da crise enfrentada pelo país.

Para discutir o agravamento da crise política e econômica que o governo enfrenta, Lula e Dilma se reuniram, no Palácio da Alvorada, com os ministros Jaques Wagner ( Casa Civil) e Berzoini, além do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que participou de parte do encontro.

Já a cúpula do PSDB se reunirá amanhã com caciques do PMDB para discutir os possíveis cenários sobre o afastamento da presidente. O encontro será em um jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). (Colaborou Júnia Gama)

Relator de recurso pede pressa em definição de rito

• Julgamento foi marcado pelo Supremo para o próximo dia 16

- O Globo

- BRASÍLIA- O Supremo Tribunal Federal ( STF) marcou para o próximo dia 16 o julgamento do recurso apresentado pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), contra o rito definido pela Corte para o processo de impeachment. A data foi agendada ontem, poucas horas depois de um grupo de deputados da oposição ter cobrado celeridade no julgamento do caso, em encontro com o presidente do tribunal, ministro Ricardo Lewandowski. À noite, Lewandowski conversou com o relator do recurso, ministro Luís Roberto Barroso, que não só prometeu liberar o voto para julgamento no início da semana que vem como também pediu pressa para a resolução do impasse.

Lewandowski lembrou aos deputados, que prometem manter a obstrução no plenário da Câmara enquanto o julgamento não terminar, que o STF já definiu o rito para o impeachment, em dezembro. Um rito que, em tese, tem efeito imediato, porém, ainda carece da análise de recurso.

O presidente do STF também afirmou aos parlamentares que questões políticas precisam ser resolvidas no Congresso Nacional, e não no Judiciário. Ontem, Barroso pediu pressa para a definição do rito do impeachment.

— O rito do processo do impeachment não é questão de governo ou de oposição. O país tem pressa em definir isso. Não sou eu, não é o governo, não é a oposição que tem pressa. É o país que tem pressa. Tem que ter regras claras — afirmou o ministro, que também foi o relator do acórdão do julgamento que fixou regras para a tramitação do processo de impeachment no Congresso Nacional. 

O documento, com todas as decisões tomadas na sessão de dezembro, foi publicado ontem. Agora, será aberto prazo de cinco dias para a apresentação de recursos.

Após ler o acórdão, o ministro Marco Aurélio Mello avaliou que as regras definidas para o processo ficaram claras. Para ele, não devem prosperar contestações apresentadas por Cunha.

— Precisamos aguardar. Mas não consigo conceber que, depois de tanta discussão, tenhamos lançado ao mundo jurídico um pronunciamento obscuro, contraditório e omisso — disse Marco Aurélio, em tom irônico.

Planalto teme confronto, e Alckmin veta ato do PT

• Ministros pedem a petistas que desmobilizem manifestações pró- Dilma

Governador de SP proíbe a militantes que apoiam Lula e o governo federal de protestarem no local já reservado por defensores do impeachment. Marco Aurélio disse temer ‘ um cadáver’

A preocupação com o risco de confrontos nas manifestações de domingo levou o governo a pedir a desmobilização da militância petista, que previa ir às ruas em defesa do ex-presidente Lula e do governo. O protesto fora inicialmente marcado por defensores do impeachment da presidente Dilma. “Ter um quadro de paz é fundamental”, disse a presidente ontem. O ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) pediu a parlamentares que convencessem a militância a escolher outro dia para se manifestar. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin vetou protestos de petistas na Avenida Paulista, local escolhido pelos manifestantes anti-Dilma. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse temer que surja “um cadáver” em confrontos no domingo.

Governo tenta esfriar ânimos

• Preocupado com violência, Planalto pede a apoiadores para não irem às ruas no dia 13

BRASÍLIA- A reação de petistas e da militância anti-impeachment aos protestos do próximo domingo preocupa o Palácio do Planalto e dirigentes do PT, que temem a ocorrência de confrontos violentos entre manifestantes pró e contra o governo Dilma Rousseff. Ontem, esse assunto dominou algumas reuniões, e ministros pediram a líderes do PT e da base aliada que parem de insuflar os militantes a irem às ruas no domingo, mesmo dia do ato contra o governo. Há um grande receio de que o próprio governo seja criminalizado pela eventual radicalização entre os manifestantes.

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, fez o pedido a líderes do governo, em reunião no Planalto. Na véspera do encontro, o presidente do PT, Rui Falcão, já tratara do tema com ministros, e Berzoini começara a telefonar a alguns parlamentares para que não estimulassem militantes a um enfrentamento direto com opositores na rua e escolhessem outro dia para manifestarem- se.

Segundo os líderes aliados, Berzoini disse achar um erro manifestações opostas no próximo dia 13. O ministro disse que o PT não está convocando militantes para atos a favor do governo, e a própria presidente Dilma está ligando para petistas nos estados, sugerindo que façam manifestação em outro dia.

— O ministro disse que está ligando para os estados, e que o governo não quer passar a ideia de que está dividindo o país — contou o deputado Domingos Neto (PROS-CE).

Temor de criminalização
No Planalto, a avaliação é que, se houver protestos em defesa de Lula também no domingo, o ato pró- impeachment pode ficar ainda mais atrativo para quem reprova o governo. Além disso, há o receio de que, com ânimos exaltados dos dois lados, os confrontos ideológicos transformem-se em violência física. Isso criminalizaria o protesto do PT e desgastaria o governo.

— Imagine se tiver confusão, se alguém sair ferido. É uma possibilidade muito real com tudo o que está aí — afirmou um auxiliar de Dilma.

O risco de algum manifestante, seja do lado que for, sofrer algo mais sério, e até mesmo morrer, é a principal preocupação. A expressão “cadáver para jogar no colo do PT” foi ouvida ontem entre auxiliares de Dilma. A frase faz menção à declaração do teólogo Leonardo Boff, que publicou uma mensagem em seu Twitter na segunda-feira, republicada por Rui Falcão. “Nas manifestações de apoio a Lula e Dilma deve se evitar o confronto violento. Os golpistas buscam um cadáver para chamar as Forças Armadas”, escreveu Boff.

— Quanto mais estabilidade, melhor para o governo. Estamos desmobilizando para que as manifestações aconteçam em outro dia. É assim em uma democracia — disse um assessor do palácio.

Dilma Rousseff, em solenidade do Dia Internacional da Mulher, afirmou que os governos precisam de “paz”, principalmente para enfrentar crises.

— Ter um quadro de paz é fundamental. Os governos precisam de paz para que nós tenhamos condições de enfrentar a crise e retomar o crescimento — afirmou a presidente, que fez um apelo pelo diálogo e unidade do Brasil.

O governo alerta ainda que há uma outra preocupação que pode acirrar mais os ânimos: as decisões que o juiz Sérgio Moro possa vir a tomar até a data da manifestação.

— Nesse ritmo, o Moro pode colocar mais gente nas ruas. Decidir por condenações, vai insuflar os que são contrários ao governo. Por outro lado, pode também estimular os que defendem o governo. Acho que o melhor seria o juiz Moro aguardar esse dia 13 passar e depois anunciar suas decisões — disse um parlamentar ligado ao governo, que pediu para não ser identificado.

Pela oposição, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), solicitou ao Ministério da Justiça proteção policial aos manifestantes pró-impeachment.

Alckmin diz que só manifestação contra Dilma será na Avenida Paulista

• Ato pelo Dia Internacional da Mulher em São Paulo apoia presidente e provoca confusão

Luiza Souto, Stella Borges e Renan Xavier* - O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - No próximo domingo, a Avenida Paulista será palco, a partir das 15 horas, de um protesto pró- impeachment, organizado na internet por movimentos contra a presidente Dilma. Desde o início desta semana há especulações de que o local também receberia um ato de apoiadores da presidente. Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) descartou a realização de dois protestos no mesmo dia na Paulista. Ele afirmou que permitirá que no local seja realizado apenas o ato contra Dilma.

— Havia uma solicitação para uma outra manifestação no sentido contrário e nós dissemos que no mesmo local e horário não pode. Esse pleito a favor do impeachment e contra a corrupção já estava agendado há mais de um mês, nem tinha nada a ver com a operação que ocorreu na sexta-feira passada — disse Alckmin, em entrevista a rádio Jovem Pan, referindo- se a 24 ª fase da Operação Lava- Jato, que levou o ex- presidente Lula a depor coercitivamente.

À noite, em Brasília, Alckmin declarou que o esquema de segurança foi montado e que os manifestantes poderão circular em segurança.

— A polícia está preparada e nós vamos trabalhar para que as manifestações ocorram em horários ou locais diferentes.

Na internet, desde anteontem, um movimento intitulado “Sem medo de ser feliz” está convocando simpatizantes para se contrapor ao ato que defenderá o impeachment de Dilma na Paulista. Este evento, porém, está marcado para outro local e horário: 11 horas, na Praça Roosevelt. Outras manifestações estão previstas em mais seis capitais — Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Porto Alegre e São Luís.

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão ( PMD), afirmou que não recebeu nenhuma recomendação por parte do governo federal em relação à segurança das manifestações: — Vai ser tranquilo, como sempre. Ontem, a UNE informou que o ato pró- Dilma se trata de um evento organizado por produtores culturais. O anúncio do evento em uma rede social diz: “No próximo domingo, dia 13 de março, vamos gritar contra a crescente onda de ódio e intolerância que tomou conta do país nos últimos tempos. Vamos celebrar juntas e juntos a Democracia, repudiando os movimentos conservadores que avançam no Brasil”.

O presidente do PT, Rui Falcão, tem dito que o partido não está organizando nenhum protesto para domingo. “Vamos participar, organizadamente, das manifestações do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e das datas convocadas pela Frente Brasil Popular: 18 e 31 de março”, escreveu ele anteontem.

Um ato realizado ontem em São Paulo por movimentos sociais pelo Dia Internacional da Mulher virou palco para uma defesa pública de Dilma. Além de pedir igualdade de direitos, legalização do aborto e equiparação de salários, o evento teve faixas e palavras de ordem em apoio à presidente. 

Uma faixa à frente da marcha dizia: “Somos todas Dilma”. Adesivos colados nas roupas de parte das manifestantes pregavam: “Não vai ter golpe”. O ex-presidente Lula, investigado pela Lava- Jato, também recebeu solidariedade. Uma grande bandeira vermelha tinha a imagem do ex-presidente e a frase “Lula, eu respeito; Lula, eu defendo”. A Polícia Militar estimou que cerca de 2 mil pessoas participaram do ato. Um trecho da Avenida Paulista foi fechado para a passagem do grupo no fim da tarde.

Gritos de “não vai ter golpe”
Apesar da maioria pró-Dilma, uma confusão foi registrada no início do ato entre manifestantes favoráveis e contra a presidente. De cima de um carro de som, uma mulher gritou: “Fora, Dilma”. 

Logo depois, uma das organizadoras do evento anunciou que a pauta da manifestação seria sobre questões ligadas à mulher e não à política. O discurso, porém, foi abafado com gritos de “não vai ter golpe” e vaias. Outra manifestante endureceu o discurso. — Viva às mulheres, mas viva também aos trabalhadores. Precisamos ficar em vigília e tomar cuidado com a direita golpista. Não vai ter golpe — bradou, em defesa à manutenção de Dilma no poder.

Um grupo pediu calma e respeito às diferentes opiniões. A farmacêutica Josefa Alves da Silva, de 63 anos, participava pela primeira vez do tradicional ato no Dia Internacional das Mulheres, mas se disse decepcionada com o governo Dilma.

(* Estagiário sob supervisão de Maria Lima).

Dilma teme retorno do impeachment caso partidos aliados abandonem base

Valdo Cruz, Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com receio de possíveis desembarques na base aliada, a presidente Dilma Rousseff demonstrou nesta terça-feira (8) preocupação com o retorno da tramitação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

Em reunião de coordenação política, a petista criticou o que chamou de tentativa de "cerco pesado" ao governo e avaliou o momento atual como "grave" e "difícil".

Segundo relatos de presentes, ela ponderou que caso haja defecções no momento que o pedido volte a tramitar, há o risco dele ser aprovado na Câmara, apesar dela acreditar que ele será barrado no Senado.

Nos últimos dias, partidos como PP, PTB e PRB têm discutido internamente a possibilidade de deixar a base aliada. Na semana passada, o PSB, antes em posição de neutralidade, anunciou a migração para a oposição ao governo.

No encontro, a presidente escalou os ministros e parlamentares presentes a responderem de maneira enfática a qualquer acusação feita contra o Palácio do Planalto.

Ela voltou a responder ponto por ponto as denúncias feitas pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em delação premiada divulgada na semana passada, na qual ele acusou a presidente de tentar interferir na libertação de presos na Operação Lava Jato.

A petista avaliou ainda que a divisão do país e o clima de confronto prejudicam a governabilidade e defendeu o diálogo como forma de se chegar a consensos e a entendimentos.

Na avaliação dela, a discussão sobre o impeachment tem o risco também de paralisar a pauta do ajuste fiscal no Congresso.

O processo de impeachment também foi a discussão central em encontro nesta terça do ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, com líderes da base aliada.

Segundo relatos, o ministro pediu "cautela" e "equilíbrio" na discussão do processo de afastamento da petista.

Ao final da reunião, o combinado era que os líderes da base aliada acompanhassem o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), em entrevista à imprensa. Ele, no entanto, só teve a companhia do líder do PT, Afonso Florence (BA).

Governista diz que Dilma pode não terminar mandato

Por Raymundo Costa e Claudia Safatle – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em encontros recentes com representantes do mercado financeiro, o deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara, traçou um quadro político dramático para o governo da presidente Dilma Rousseff, caso as manifestações pró-impeachment, marcadas para o domingo, sejam de grande dimensão.

Para ele o prazo de permanência da presidente no cargo pode se encurtar substancialmente se os protestos repetirem ou superarem o padrão das manifestações de março do ano passado.

Picciani é, ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros AL), o principal aliado de Dilma no Congresso e, como deixa claro, não pretende abandoná-la. Ele confirmou que teve um almoço na segunda-feira, no Rio, com um grupo do mercado, e participou há poucos dias de um encontro patrocinado pelo JPMorgan. E procurou amenizar o conteúdo da sua análise sob o argumento de que qualquer um, diante do quadro atual, poderia ter dito o mesmo.

O deputado avaliou como frágeis a situação do PT e, particularmente, a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma eventual candidatura de Lula à Presidência da República em 2018, como o ex-presidente anunciou em entrevista após condução coercitiva para depoimento na Polícia Federal sexta-feira, teria, assim, pouco fôlego.

Dos interlocutores, Picciani ouviu uma grande preocupação com a situação do sistema financeiro nacional caso a crise perdure por muito mais tempo. Sobretudo se a crise que assola o setor de petróleo e gás levar à deterioração financeira irremediável das maiores empreiteiras do país, implicadas nas investigações da Operação Lava-Jato.

Domingo, dia 13 de março, é uma referência para os partidos. Mas não é a única. O poder de articulação do governo Dilma no Congresso caiu a zero, conforme reconhecem líderes da própria base. Nessas condições, as conversas em torno do afastamento da presidente devem ocupar o Congresso mesmo que os protestos sejam um fracasso. Só ficará ainda mais difícil.

Ao Valor, Picciani ponderou que no caso de as manifestações serem modestas ficará "uma lacuna...."

Com nenhuma ou pouca oposição, o processo pode levar até quatro meses na Câmara dos Deputados, se forem seguidos todos os trâmites regimentais previstos. A solução via o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a cassação da chapa Dilma / Michel Temer pode se estender por todo o mandato da presidente.

O PT, no entanto, promete manter a defesa do mandato de Dilma, tanto no Congresso quando no Judiciário, apesar das divergências entre o partido e o governo, sobretudo no que diz respeito à política econômica. Um dos pressupostos das conversas que objetivam abreviar a saída da presidente Dilma é o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo processo de cassação do mandato começou a andar no Conselho de Ética.

A margem de manobra de Dilma começou a se estreitar também no PMDB, partido cuja divisão permitiu à presidente resistir à primeira ofensiva sobre seu mandato, no ano passado. Muito embora os governistas continuem defendendo o mandato de Dilma, as diversas correntes do partido já se entenderam em torno da recondução do vice Michel Temer, em convenção nacional marcada para sábado.

A conversa de Picciani com o mercado financeiro mostra o realismo com que o líder do PMDB encara a situação do governo. Hoje a cúpula do partido está mais preocupada com a ala que quer romper com Dilma, na convenção de sábado, do que com os governistas. Até o início do ano o quadro no PMDB, o fiel da balança na hipótese de votação do impeachment, era exatamente o contrário.

Nos últimos dias cresceu o movimento pelo rompimento com o governo Dilma, principalmente nas seções do Sul do país. Se a resolução for votada, pode ser aprovada. Uma saída intermediária seria a declaração de voto de independência em relação ao governo, o que permitiria que os ministros do PMDB ancorassem em seus cargos.

Senado cria comissão para estudar modelo de 'semipresidencialismo'

Daniela Lima, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sem alarde, o Senado aprovou a criação de uma comissão especial para debater a implementação de um sistema semelhante ao parlamentarismo como alternativa para a crise que paralisa o país.

A iniciativa nasceu de conversas entre o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Serra (PSDB-SP), mas hoje já envolve os principais articuladores do Congresso.

Na prática, ela visa oferecer uma alternativa de governabilidade em caso de a crise política se agravar com a petista Dilma Rousseff no cargo ou, em caso de impeachment da presidente, com o vice peemedebista Michel Temer (SP) à frente do Palácio do Planalto.

O colegiado foi aprovado pelo plenário na última quarta-feira (3), em meio a uma série de votações de outros temas, com base em um requerimento apresentado por Antonio Carlos Valadares (PSB-PE). A proposta foi subscrita por 41 dos 81 senadores.

Os articuladores da proposta trabalham com a ideia de apresentar um projeto que traga para o Brasil um modelo similar ao praticado em países como Portugal e França, onde existe, na prática, um "semipresidencialismo" no qual o primeiro-ministro cuida da gestão com o gabinete e o presidente tem mais poderes do que num regime parlamentarista puro.

Alguns dos principais nomes da oposição foram consultados. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apoiou de forma pública, mas discreta, a medida.

No domingo (6), publicou artigo em que pregou a mobilização de todos os atores políticos pela criação de uma saída para a crise.

No último parágrafo de seu texto, escreveu: "É tempo de se verificar a viabilidade (...) de instituir um regime semiparlamentarista, com uma Presidência forte e equilibradora, mas não gerencial", pregou FHC. "Só nas crises se fazem grandes mudanças. Estamos em uma. Mãos à obra."

O termo "semiparlamentarista" havia sido usado no ano passado por Temer, que defendeu que o Legislativo dividisse tarefas como programação orçamentária com o Executivo.

De saída, os articuladores contam com resistência do presidente do PSDB, Aécio Neves, cujo grupo torce pela cassação da chapa Dilma-Temer e novas eleições, na qual ele seria forte candidato.

A comissão foi criada sob discursos de que não representaria qualquer articulação de golpe, mas uma medida que deveria, depois, ser chancelada pela população, por meio de um referendo.

O Brasil foi parlamentarista, entre 1961 e 63, também em momento de crise aguda. O sistema de governo foi rejeitado em plebiscito em 1993.

Nos bastidores, no entanto, o projeto é tratado como algo que pode "dar uma saída honrosa" para a crise.

Semelhanças e diferenças – Merval Pereira

- O Globo

Continuando na análise sobre as semelhanças — e diferenças também — entre a Operação Lava- Jato, que acaba de produzir a condenação do ex- presidente da Odebrecht, a maior empreiteira brasileira, a 19 anos de prisão, e a Operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália nos anos 1990, a economista Cristina Pinotti, estudiosa do assunto, destaca entre as semelhanças, “além do terremoto político provocado pelas investigações, do uso intensivo das delações premiadas e das prisões cautelares como forma de desbaratar o esquema criminoso de corrupção”, um forte apoio popular nos três primeiros anos da investigação na Itália.

Foram constantes, assim como acontece aqui, as críticas de que os promotores vazavam e investigavam seletivamente os políticos com o objetivo de favorecer esse ou aquele partido ( só os de extrema esquerda e extrema direita ficaram fora); acusações de que a dignidade dos investigados não estava sendo respeitada e que eles sofriam os efeitos da execração pública sem que pudessem se defender.

Cristina Pinotti ressalta que várias verificações foram feitas para comprovar a lisura das investigações ocorridas na Procura di Milano, e nada foi encontrado de errado até hoje. Outra semelhança interessante, diz ela, é a da investigação dos crimes de corrupção ocorridos na loja maçônica P2 com os nossos casos Banestado e mensalão.

A investigação da P2 ocorreu em 1981 e contou com a participação do Gherardo Colombo ( junto com Giuliano Turone), que depois seria peça- chave da força- tarefa da Mani Pulite. Descobriram- se provas de envolvimento em corrupção dos principais membros da loja, comandada por Licio Gelli, e composta por ministros de Estado, parlamentares, chefes de serviço secreto civil e militar, prefeitos, magistrados, oficiais do Exército, generais dos Carabinieri e da Guardia di Finanza, além de jornalistas, empresários, magistrados, editores etc.

As denúncias de corrupção tiveram enorme impacto, pois incluíam, entre outras, descobertas de contas secretas na Suíça da principal figura do Partido Socialista, Bettino Craxi, e de outros socialistas. A reação foi de tal ordem que o caso passou da Procura di Milano para a de Roma, interrompendo, “de fato”, o processo.

Mas a partir da P2 Colombo e outros, estudaram com afinco os métodos de lavagem de dinheiro e as intrincadas operações financeiras usadas pelos corruptos para esconder o dinheiro, o que foi muito útil para identificar mais tarde os caminhos do dinheiro sujo na Mani Pulite.

Da mesma forma aqui a maior parte dos procuradores do Ministério Público que atuam na Operação Lava- Jato, e até mesmo o Juiz Sérgio Moro, atuaram nos casos Banestado e mensalão, e acumularam conhecimentos que estão sendo úteis agora na Lava Jato.

“O fim da História nós sabemos: Berlusconi, grande amigo de Craxi, entrou em cena para reverter o quadro e melar o jogo. As leis hoje na Itália são mais lenientes com a corrupção do que no período anterior à Mani Pulite”, diz a economista. Ela salienta que, para evitar um final semelhante, é fundamental a iniciativa das “Dez Medidas contra a Corrupção”, coordenada pelo procurador Deltan Dallagnol do MPF, que já recebeu mais de 1,5 milhão de assinaturas e será apresentada ao Congresso como um projeto de lei de iniciativa popular.

As diferenças entre a Mani Pulite e Lava- Jato são favoráveis a nós, acredita Cristina Pinotti. O cenário internacional mudou, e há hoje, no mundo, uma grande união ao redor do combate à corrupção e lavagem de dinheiro. Os que atuaram na Mani Pulite tiveram enorme dificuldade em conseguir dados do exterior, o que hoje está sendo um pouco mais fácil para nós.

O clima de violência na Itália antes da Mani Pulite ( terrorismo, atentados, muitas mortes) marcou dramaticamente a sociedade. Os vários suicídios entre os acusados também contribuíram para assustar a população e minar o apoio às investigações. Não temos a máfia, que lá permeia a vida e a mente das pessoas, tornandoas subservientes e amedrontadas.

A presença do Estado é mais forte lá do que aqui, o que reduz comparativamente a amplitude dos desvios de conduta por aqui. Critérios meritocráticos ainda estão mais presentes aqui do que lá, acredita a economista, por mais incrível que pareça. Para fazer uma palestra sobre as lições que a Mani Pulite tem a nos ensinar, Piercamillo Davigo, atual juiz da Suprema Corte da Itália, e Gherardo Colombo, atualmente presidente da editora Garzanti, dos dois principais juízes que atuaram no caso, farão uma palestra em São Paulo no dia 29, com a presença do juiz Sérgio Moro.

Imoral, ilegal, e daí? - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Os atuais inquilinos do poder só demonstram preocupação com o País quando isso pode lhes render algum benefício. Do contrário, lixam-se.

Arrebentaram a economia para ganhar eleições, enterraram o exercício da política em fosso profundo para conquistar aliados, mentiram com inédita jactância para tornar verossímeis toda sorte de manipulações, passaram por cima da lei, aniquilaram a ética como valor essencial de sociedades civilizadas e ainda se perguntam como, quando e por que a receita desandou.

As respostas não dependem de caras pesquisas. Estão à disposição por iniciativa dos fatos. Quando?

No momento em que o Brasil cansou de ilusões e parou de se comportar como um dócil refém da miragem que o PT escolheu como modo de governar.

A lei do menor esforço. A adoção de soluções fáceis (e erradas) para problemas complexos. Neste aspecto, João Santana deu boa contribuição com sua estratégia eleitoral de arrasa-quarteirão. Reelegeu Dilma Rousseff, mas ao mesmo tempo deu ao País a oportunidade de enxergar a realidade em seus traços mais perversos.

Como? Pelo exame de um passivo de ações deletérias que demonstraram ao longo dos últimos 13 anos qual era a intenção do PT: criar um mercado cativo de eleitores.

Entre os pobres, resolvendo questões da miséria extrema, mas, ao mesmo tempo, cultivando a manutenção da pobreza e, sobretudo, da ignorância. Entre os ricos, franqueando os cofres mediante - como se vê agora - retribuição de favores ao partido e seus dirigentes.

Por que, senão o País inteiro certamente a grande maioria, resolveu dizer chega?

Aqui a resposta é mais sucinta, resumida no axioma de Abraham Lincoln: não se pode enganar a todos o tempo todo. Há outro, entre vários, também de autoria do 16.º presidente americano: “Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.


Se estendido o conceito do individual para o coletivo, aí teremos a explicação que o PT tanto busca para a perda de sua boa reputação com a opinião pública. Revelou a natureza de seu caráter - ou a falta do quesito - quando recebeu delegação do povo para exercer o poder.

Do ponto de vista objetivo, capturou o Estado. Em todos os sentidos.

Administrativo, político e, segundo o Supremo Tribunal Federal e os investigadores da Operação Lava Jato, criminal. No campo subjetivo, sequestrou cabeças e corações suscetíveis ao manuseio de anseios e emoções.

A festa, no entanto, nesses moldes acabou. O mito Lula da Silva não resiste ao efeito detergente da transparência. Derrete sob a luz do sol. Aliás, não resiste à própria falta de sofisticação no raciocínio produtor de metáforas, ao se comparar a uma criatura peçonhenta quando a intenção era fazer referência a um animal de poderosa capacidade de recuperação, mas digno de admiração. As cobras jararacas não se incluem na espécie. São, por outra, objeto de repulsa.

Por 13 anos, o PT tocou seu baile no pressuposto de que tudo poderia. Inclusive o ilegal, o imoral, o antiético, dizendo ao País “e daí?”, pois tinham dado aos pobres a chance de comprar geladeira, fogão, passagens de avião, ter acesso a vagas de universidade, empregos com carteiras assinadas.

Pois agora que os empregos minguaram, a inflação comeu o poder de compra, a estagnação da economia subtraiu-lhes os empregos, o crédito anteriormente contratado os afundou em dívidas, os parceiros empresários estão na cadeia e a Lava Jato assentou que a lei é igual para todos. Cabe recordar o poema de Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José?”.

“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu.” E agora, Luiz, você marcha, Luiz, para onde?

Evitar o pior – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Sem tempo para assimilar os golpes da semana passada, o governo passou a conviver com um novo fantasma: o risco de confrontos nas manifestações pró-impeachment do próximo domingo. Era o que não faltava para o Planalto depois da delação do senador Delcídio e da batida policial na casa de Lula.

O pavio foi aceso enquanto o ex-presidente ainda prestava depoimento aos investigadores da Lava Jato. Primeiro veio a pancadaria em Congonhas e São Bernardo do Campo. Depois, parte da militância lulista decidiu planejar atos simultâneos às passeatas contra o governo.

"Não seremos derrotados com as mãos nos bolsos", disse o presidente da CUT, Vagner Freitas. Há sete meses, ele falou em "pegar em armas" e ninguém deu atenção. Agora o clima no país sugere que a nova bravata pode ter consequências funestas.

Ontem a presidente Dilma aproveitou uma solenidade para pregar "tolerância". "Não haver violência e ter um quadro de paz é fundamental", discursou. Na sexta, o senador Aécio Neves já havia dado um bom exemplo ao pedir "tranquilidade" aos eleitores da oposição.

A hipótese de confrontos no domingo seria ruim para a democracia e desastrosa para o Planalto. A presidente já não controla sua base parlamentar nem consegue fazer a economia reagir. A eventual conflagração das ruas representaria um sintoma ainda mais grave de desgoverno.

Em 2015, as passeatas da direita foram criticadas pela presença de nostálgicos da ditadura, que defendiam uma amalucada "intervenção militar", mas não descambaram para a violência. Em dezembro, após meses de apatia, a esquerda conseguiu levar 55 mil pessoas à avenida Paulista no mesmo clima pacífico.

É dever de todas as forças políticas responsáveis zelar para que o 13 de março siga a mesma linha. O PT ajudará se desistir de promover atos no domingo. Quem é contra o impeachment pode ir às ruas outro dia e será ouvido da mesma forma.

A marcha do impeachment - Luiz Carlos Azedo

• O impeachment da presidente Dilma Rousseff voltou à pauta com toda força

- Correio Braziliense

Por uma série de razões, entre elas a incapacidade de o Congresso construir saídas para a crise, os partidos sistematicamente recorrem ao Supremo Tribunal Federal (STF) para resolver suas divergências. Os resultados são decisões judiciais intempestivas e erráticas, que truncam ainda mais o processo político e complicam a situação. A mais recente foi a intervenção aberta do STF no rito de apreciação do impeachment, cujo acórdão foi publicado ontem.

Do ponto de vista político, o caso é o seguinte: o Palácio do Planalto, através de seus líderes, tentou controlar a comissão especial que apreciaria a admissibilidade do pedido de impeachment. Como a comissão formada pelos líderes foi derrotada por uma chapa alternativa no plenário da Câmara, os governistas recorreram ao STF, que virou o jogo. A partir de um voto polêmico do ministro Luiz Barroso, a maioria dos ministros derrotou o relator do caso, ministro Luiz Fachin, e anulou a eleição. Encampou a interpretação de que caberia aos líderes dos partidos, monocraticamente, indicar os membros da comissão, cabendo ao plenário da Câmara apenas homologar ou não a chapa formada. Nada de candidaturas avulsas, como ocorre nas eleições da Mesa e de todas comissões permanentes e temporárias da Casa.

Data vênia, a decisão foi política. Não se baseou na exegese do regimento interno da Câmara, mas numa leitura da situação política cujo maior objetivo foi dificultar a tramitação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Além de anular a eleição, o STF também atribuiu ao Senado o poder de anular a admissibilidade do pedido caso venha a ser aprovada pela Câmara, que perdeu a prerrogativa de afastar Dilma interinamente, até que o julgamento do impeachment fosse concluído pelo Senado.

Essa parecia ser uma sábia decisão, pois afastava do horizonte um cenário de radicalização política. Naquele momento, como agora, a presidente Dilma Rousseff acusava a oposição de impedi-la de governar e de dividir o país. Imaginava-se que o impeachment agravaria a crise econômica e social. A decisão do Supremo parecia sepultar o pedido da oposição, ainda mais porque a presença do deputado Eduardo Cunha no comando da Câmara desgastava a proposta perante a opinião pública.

Entretanto, depois da decisão do STF, a presidente da República continuou a tomar decisões erráticas e a crise econômica se agravou. A Operação Lava-Jato ganhou proporções ainda maiores e a radicalização política, protagonizada pelo PT, subiu alguns degraus. Para completar, Dilma tomou as dores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e passou a atacar a força-tarefa da Operação Lava-Jato e o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, numa tentativa de barrar a investigação criminal que apura o escândalo da Petrobras.

Caso o rito do impeachment tivesse seguido o regimento da Câmara, o assunto já estaria resolvido, com uma provável vitória do governo, pois a oposição não tinha votos suficientes para aprová-lo naquele momento. Esse resultado reduziria o nível de incertezas políticas, pois restaria à oposição afiar as espadas para as eleições municipais e a sucessão de Dilma em 2018. O imponderável seria apenas o julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder econômico durante a campanha de 2010.

Eis, porém, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff voltou à pauta com toda força. Foi inflado pela prisão do marqueteiro João Santana, responsável pela campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff em 2014, e pela iminente delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado. A condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor como suspeito na Lava-Jato politizou de vez a Operação. Manifestações contra e a favor do governo estão sendo convocadas para o próximo domingo.

A Comissão do Impeachment na Câmara, porém, ainda aguarda julgamento dos embargos de declaração apresentados pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com a publicação do acórdão, a tendência é que o julgamento aconteça nas próximas duas semanas. Sendo assim, a comissão especial da Câmara será instalada no final de abril.

Provavelmente, a Câmara votará o pedido em maio. Se for aprovado, seguirá para o Senado. Se os senadores optarem pelo arquivamento, o processo será encerrado até o final de maio, mas, diante da situação da economia e do ambiente político, o Senado pode aceitar o pedido. Nesse caso, a presidente Dilma teria que se licenciar por 180 dias. Michel Temer assumiria interinamente a Presidência. Entre julho e agosto, Dilma estaria afastada. Poderia apelar novamente ao Supremo para adiar a conclusão do julgamento no Senado para outubro ou novembro.
Ninguém sabe o que vai acontecer até lá.

Sob vara - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Tanto o ex-presidente Lula quanto o filho dele, Fábio Luiz, foram informados com antecedência de que acordariam na sexta-feira com a polícia tocando a campainha com um “convite” para que fossem depor. Fábio Luiz despachou os filhos na véspera para a casa da avó materna e, no dia “D”, acordou cedo, tomou banho, arrumou-se e, antes das 6h, já estava pronto para receber os policiais. “De pijama é que não me pegam”, teria dito.

Os partidários de Lula acusam o juiz Sérgio Moro, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal de produzirem um “espetáculo”, como parte de uma estratégia para jogar a opinião pública contra o ex-presidente, a atual presidente e o partido de ambos. Mas, de outro lado, os que se opõem a Lula também acusam Lula de ter maquinado com tempo suficiente o seu próprio “espetáculo” durante e depois da operação policial. Nada foi de surpresa, nada foi por acaso.

É assim que as várias crises chegam a um novo estágio: o embate direto entre Lula e Moro, para definir no imaginário popular quem é o “bem” e o “mal”, ou quem é o “bom” e o “mau”. Isso, obviamente, tem um reflexo direto nos ânimos das ruas, que serão o palco da guerra política não apenas no próximo domingo, dia 13.

A condução coercitiva de Lula dividiu o mundo político e provocou reações apaixonadas na sociedade. Uns, como o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, consideram que levá-lo “sob vara” foi um “ato de força”, um “excesso”. Outros, até mesmo advogados, consideram que foi mais um gesto educativo para mostrar que “todos são iguais perante a lei”.

Entre os dois polos, há também as vozes que unem experiência e contemporaneidade, como o jurista Carlos Velloso, que estava no Supremo durante o impeachment de Fernando Collor e disse no programa Roda Viva, da TV Cultura, mais ou menos o seguinte: “Eu não pediria (a condução coercitiva), mas não vejo excesso do juiz Sérgio Moro, porque havia motivo”. Velloso ressalvou que o juiz teve o cuidado de pedir o convite, deixando a coercitiva apenas como alternativa, caso houvesse resistência.

Segundo relatos, ora do delegado encarregado, ora publicados pela imprensa, Lula teve reações curiosas quando a polícia bateu à sua porta. Teria perguntado: “Cadê o japonês?”. E teria dito que só iria algemado. E depois usou de todo o seu carisma e verve para falar aos seus seguidores. Se Lula condena Moro por um “espetáculo”, pretendeu combater espetáculo com espetáculo, numa estratégia de vitimização.

Na opinião de Velloso, do alto dos seus 80 anos, “Lula falou para militantes encantados, mas a sociedade ficou estarrecida”. Sim, porque a sociedade espera ouvir dele o que a militância releva: explicações objetivas para a montanha de suspeitas. E elas devem piorar.

A condenação de Marcelo Odebrecht por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa tende a causar um estouro da boiada de empreiteiros e grandes executivos do setor para fechar delações premiadas. Até as secretárias – aquelas que costumam saber tudo – entram nessa fila. Se Marcelo, que é Marcelo, pegou quase 20 anos, devem estar apavorados: “Imagina nós?!”

As delações das empreiteiras e as manifestações de rua jogam ainda mais lenha na fogueira do impeachment da presidente Dilma Rousseff. CUT, MST, UNE e sindicatos fizeram um barulho danado contra a condução coercitiva de Lula, mas não deram um pio para defender Dilma da pré-delação de Delcídio Amaral. E ameaçam fazer qualquer coisa a favor de Lula, mas não demonstram tanto entusiasmo pró-Dilma.

Só falta o PMDB aproveitar a convenção de sábado, véspera das manifestações, para abandonar o barco. Essa possibilidade vem tomando corpo (e a alma) no maior partido da base aliada, naquele jeito pemedebista de ser: pulando do governo, mas agarrado aos cargos.

Marcha-rancho - Rosângela Bittar

• Nem os profetas do Velho Testamento sabem o que vem ai

- Valor Econômico

O PT tem suas próprias pesquisas de opinião feitas por instituto com quem mantem relações comerciais. Sabe que a performance político-eleitoral do ex-presidente Lula, nos auditórios de militância e da sua base social aos quais derramou sua raiva por ter ido depor nos autos da Operação Lava-Jato, foi boa para ele. Lula, que andava recolhido, cabisbaixo, sem assunto diante de tantas denúncias que ainda não conseguiu explicar, ganhou de repente um conteúdo, o de vítima da arbitrariedade, que não lhe exige apresentar maiores evidências de inocência e lhe dá o palanque necessário.

É um ganho, porém, temporário, não se sabe até quando dura e a depender da campanha contra os condutores da investigação, alimentada pelo PT e pelo próprio ex-presidente, pode ter efeito bumerangue. Podem se tornar públicos argumentos mais consistentes em gênero, número e grau para combater a propaganda contrária. Ainda tem muita delação a ser divulgada.

O ex-presidente, porém, tem sua base social, os sindicalistas, as organizações e entidades que se deram muito bem no seu governo, a chamada militância de crachá, que pode mobilizar a qualquer momento. Estava devendo uma tarde de animação a essas pessoas que vinham programando vigílias para quando ele fosse depor, ou quando precisasse. Precisou.

Sobre a Operação Lava-Jato, em que pese a torcida, não se enxergam efeitos negativos, nem quanto à credibilidade, nem quanto à legalidade, ou à quebra da infalibilidade do juiz Sergio Moro, se é que isto estava na mira de tiro.

O juiz, tanto quanto o PT, conseguiu o que queria. Era óbvio que não estava dando para marcar data de depoimento de Lula. Sindicalistas, movimentos sociais e outros mobilizadores estavam preparados para as concentrações impeditivas de qualquer atividade desse tipo com um político popular, pior ainda quando tem a agressividade de Lula. Os protestos, as convocações, os ataques nas redes sociais já estavam muitos decibéis acima do tom em que se tem confiança para agir sem riscos de segurança pública e preservação física do depoente, dos manifestantes e dos policiais.

A operação resolveu fazer para o ex-presidente o mesmo modelo que aplicou aos mais de 100 depoentes que precisou conduzir a ambientes fora de suas residências, e acertou. Conseguiu realizar o trabalho, evitar perder provas (há controvérsias quanto a isso dentro da polícia) e reduzir riscos. Lula havia dito antes que não iria depor, seus advogados propagavam uma atitude de resistência, na hora relutou a aceitar a convocação mas, convencido pelos profissionais, foi lá e capitalizou a seu favor o gesto.

O mesmo comportamento que teve na frente dos locais por onde passaria o ex-presidente e até na ante-sala presidencial do aeroporto de Congonhas, onde ele prestou o depoimento, a militância a favor de Lula foi também efetiva e agressiva. Surpreendida, para evitar tumulto, ainda conseguiu seu intento.

Ilegal também não foi. Mais de um ministro do Supremo que discutiu internamente o assunto sem a paixão partidária considerou que não houve ilegalidade. O juiz Sergio Moro poderia ter evitado a celeuma, fazendo para Lula um modelo diferente do que fez para os demais, mas ilegal não foi. Os juízes que presidem uma operação como a Lava-Jato e outras de grande envergadura têm, segundo os argumentos de juízes da alta corte, um "elevado grau de discricionariedade". Pois têm seus dados, o que o público em geral ainda não conhece. As decisões são tomadas com base nas informações, no momento, na segurança do depoente e da sociedade que está na torcida, além da polícia, que executa a ação. O juiz tem total poder de avaliação e definição do seu método.

No caso de Lula, ainda por cima, o problema é muito maior do que a discussão em torno da propriedade de um apartamento e um sítio construídos ou reformados por empreiteira do cartel da Petrobras, e um instituto que faz transações questionáveis de numerários isentos com empresas que não têm isenção. O Ministério Público e a polícia estão trabalhando com a busca do chefe do grupo que saqueou o erário, e as prisões do marqueteiro João Santana e de José Carlos Bumlai foram peças fundamentais na aproximação da investigação aos que os indícios e fatos fazem suspeitar que estejam no centro da meta.

A operação não ficou tisnada ou perdeu credibilidade, e sob o ponto de vista político-eleitoral, foi boa para Lula. Dar a ele a chance de se vitimizar, de animar os manifestantes que já vinham sem motivação para enfrentar a guerra, tantas eram as denúncias, tudo isso está na coluna haver, se é que se pode considerar algo positivo nesse famigerado caso. Serviu também para o ex-presidente testar se ainda funciona seu discurso do pobre contra a elite, da empregada doméstica contra o patrão preconceituoso, do letrado contra o metalúrgico iletrado, que sempre rendeu eleitoralmente para Lula e parece que continua rendendo.

Lula disse que isso o fez decidir se candidatar, mas não é verdade. Ele não decidiu ainda, está tudo no mesmo estágio de antes. Depende da sua saúde, da situação da economia, do governo Dilma, dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, principalmente. Mas se deve-se evitar falar em lições construtivas de um espetáculo deprimente como esse, dá para relacionar as perdas, e elas são da presidente Dilma Rousseff.

De nada serviu, por exemplo, ao governo do PT, emparedado, sob impacto de crises múltiplas, a presidente ter corrido a dar o abraço de afogado e tentar tirar uma casquinha da claque de Lula. A presidente está isolada, não tem base de apoio, não tem base social, não tem palavra de ordem a favor, está afastada do PT e do ex-presidente. Faltam-lhe oportunidades de reagir e alternativas para sair do impasse. Combate o impeachment todos os dias, todas as horas.

Dilma tentou também adquirir um discurso com o episódio, mas continua a sofrer problemas intransponíveis de linguagem. Saiu-se com a afirmação de que o caso mostra que a oposição está dividindo o Brasil. Sem nexo causal com a situação em tela, a conclusão foi registrada como uma daquelas centenas de sentenças presidenciais que não fazem sentido e ficam por isso mesmo.

O governo segue paralisado, o apoio à presidente está a cada dia mais curto e mais ralo, há a conjuntura da Lava-Jato que, convençam-se, ninguém controla.

Nem os profetas do velho testamento sabem o que vai acontecer. É o que o governo Dilma também acha.

A Lava- Jato precisa de humildade - Elio Gaspari

• O ‘ faço- porque- posso’ arruinou o comissariado; o juiz Sérgio Moro e os procuradores sabem disso

- O Globo

A nota divulgada pelos procuradores da Lava- Jato justificando a condução coercitiva de Lula foi um caso de malversação de boas intenções a serviço da onipotência. Era atribuição deles solicitá-la, e do juiz Sérgio Moro concedê-la (ou não). Deu no que deu.

Se a medida se justificava para evitar manifestações e confrontos, resultou inepta, pois a operação vazou, e durante a madrugada havia jornalistas esperando a chegada da Polícia Federal ao edifício de Lula. Admita- se que isso não aconteceu por causa do Ministério Público. A questão essencial estava na necessidade da condução coercitiva.

No seu item 11, a nota dos procuradores disse o seguinte:

“Após ser intimado e ter tentado diversas medidas para protelar esse depoimento, inclusive um habeas corpus perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva manifestou sua recusa em comparecer.”

Esse fraseado ecoa o dos coronéis do século passado. O recurso ao habeas corpus (concedido) se destina a a assegurar um direito do cidadão contra uma exorbitância do Estado. Essa incompreensão diante do instituto do habeas corpus fez com que ele fosse suspenso por dez anos nos casos de crimes políticos. Não foi boa ideia.

Os procuradores acharam que a condução coercitiva era necessária e tiveram a concordância do juiz Moro. Jogo jogado, mas não deveriam se justificar dizendo que em 116 casos semelhantes não houve qualquer clamor. Em fevereiro do ano passado, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi recolhido pela Polícia Federal em sua casa, e um agente pulou o muro da propriedade informando que ele se recusara a abrir a porta. Não fazia sentido. A espetacularização dessas diligências já custou caro a operações destinadas a defender o patrimônio da Viúva.

A Lava- Jato criou um momento luminoso na vida brasileira. Nunca na história deste país a oligarquia política e empresarial foi ferida com tamanha precisão e transparência. Os procuradores e o juiz Moro sabem que estão fazendo o certo, mas daí a acharem que nada podem fazer de errado vai enorme distância. Outro dia chamaram para depor um cidadão que teria sido um executivo da empreiteira Schahin e conheceria um ex-diretor da Petrobras que está na cadeia. Ele vive em Belo Horizonte, trabalha numa loja de capotas e estofamentos, nunca se meteu com a Schahin nem conhece maganos da Petrobras. Um caso banal de homonímia. Viver é arte, errar faz parte.

No seu item 15, os procuradores foram além das chinelas ao qualificar as críticas à condução coercitiva de Lula: “Por fim, essa discussão nada mais é que uma cortina de fumaça sobre os fatos investigados”.

Uma pessoa pode torcer pelo êxito da Lava- Jato e pela danação dos larápios que ela apanhou, mas quando discorda de uma de suas iniciativas, os procuradores não devem qualificar pejorativamente suas intenções, como se fossem condôminos do Juízo Final.

Os procuradores e o juiz Sérgio Moro repetem que todos os fatos devem ser investigados. Todos, mas isso não exclui a discussão dos seus procedimentos, porque tristes experiências passadas já mostraram que a conversa de “cortina de fumaça” pode ser facilmente transformada num manto protetor da onipotência e do seu inexorável filhote, o arbítrio.
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Elio Gaspari é jornalista

O governo contra a lei - José Neumanne*

- O Estado de S. Paulo

O mineiro Artur Bernardes entrou para a História como um presidente autoritário, que governou grande parte de seu mandato sob estado de sítio. A ele é atribuída uma sentença que não deixa dúvidas quanto a isso: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, o rigor da lei”. O gaúcho Getúlio Vargas, que derrubou a República Velha, adotou-a e empregou-a como palavra de ordem de comandante da Revolução de 1930, presidente provisório, escolhido de forma indireta em 1934, ditador do Estado Novo e eleito pelo povo, em 1950. Esse lema poderia até substituir o dístico da Bandeira Nacional, inspirado no positivismo de Augusto Comte: “Ordem e progresso”.

Neste instante em que o retrocesso traz, como “nunca antes na História deste país”, a perspectiva assustadora do caos, pois a presidente da República se mantém no poder, mas não governa, e a economia desaba no buraco do passado, a garantia da prosperidade pela ordem parece mais uma anedota de humor negro. E à sociedade desamparada, aflita pela queda de produção e consumo, que gera o desemprego crescente, resta apegar-se à recente conquista de um Estado Democrático de Direito de verdade, cujo objetivo é a igualdade de todos diante da lei, agora ameaçada por quem comanda a máquina pública federal por delegação da maioria dos cidadãos, consultados em eleição.

Uma nesga de esperança raiou no céu da Pátria quando recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a Ação Penal (AP) n.º 470, conhecida vulgarmente como mensalão, esquema de corrupção assim definido pelo delator Roberto Jefferson. Nele o governo corrompia o Poder Legislativo para garantir apoio a suas decisões. Sob a presidência de Carlos Ayres Britto e, depois, de Joaquim Barbosa, a mais elevada Corte de Justiça processou e condenou altos dirigentes do governo e do partido de Luiz Inácio Lula da Silva. E atingiu pioneiramente maganões da República corrompida, negando o axioma ancestral de que cadeia é exclusividade de pretos, pobres e prostitutas.

Mas a força-tarefa da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), sob a égide do juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, dissipou essa ilusão otimista ao investigar como funcionava o propinoduto da Petrobrás e também de outras empresas e autarquias federais para enriquecer companheiros e beneficiar aliados. Uma série de coincidências afortunadas, iniciada com a devassa de lavagem de dinheiro de burocratas e políticos corrompidos pelas maiores empreiteiras do País, revelou evidências de que não eram descabidas as denúncias de malversação de dinheiro do povo na contratação de obras públicas. O caixa 2 de um posto de gasolina em Brasília virou uma cornucópia inimaginável.

Isso só foi possível por uma série de acasos inesperados. O primeiro deles foi a volta do juiz que mais conhece lavagem de dinheiro no País à primeira instância no Estado onde nasceu, viveu e prosperou o doleiro reincidente Alberto Youssef. A repetição da impunidade garantida na Operação Castelo de Areia tornou-se mais difícil depois da morte do mago das causas vitoriosas em tribunais de terceira instância para cima, Márcio Thomaz Bastos. E a devassa ficou mais consistente e ágil por causa da competência e da lisura dos agentes e procuradores federais e da obediência ao acordo internacional que incorporou o Brasil ao Primeiro Mundo no combate à corrupção. Isso se completa com o aprimoramento da contribuição de réus confessos à Justiça, erroneamente definida de forma pejorativa como delação premiada, que dá aos investigadores o caminho das pedras para obterem provas.

A pusilanimidade da oposição foi compensada pela labuta diligente e corajosa dos meios de comunicação, que têm informado à sociedade fatos relevantes revelados em delação. E também pela histórica decisão do STF de autorizar ordens de prisão contra condenados em segunda instância.

O assassínio do autor do programa de governo na primeira vitória de Lula à Presidência, Celso Daniel, a rapina na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), o mensalão, o petrolão, a compra de decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e a concessão de privilégios a “compadritos” pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não são casos estanques. Mas constituem um escândalo só.

Delitos comprovados e passeios de burocratas e dirigentes de partidos do governo, em especial o PT, pelo Código Penal e entre vários processos mostram que o assalto a estatais foi planejado, organizado e cometido após a ocupação de altos cargos na máquina e nas empresas públicas. Do noticiário pode-se concluir que os gestores da União nestes 13 anos, ao contrário do que imaginavam seus adversários, não seguiram as diretrizes do marxismo-leninismo, do stalinismo, do foquismo cubano, do socialismo, peronismo, bolivarianismo, sandinismo ou qualquer ideologia de esquerda.

A ruína econômica de Cuba e Venezuela foi construída pelos tiranetes de esquerda Fidel e Raúl Castro, Hugo Chávez e Nicolás Maduro. E estes inspiram seus asseclas brasileiros por saberem tirar proveito do acesso sem fiscalização a orçamentos públicos. É o caso do comunista angolano José Eduardo dos Santos, pai de Isabel, a mulher mais rica da África. Mas seus reais inspiradores são, de fato, assaltantes comuns, como Tião Medonho e Fernandinho Beira-Mar. A retórica populista é só pretexto.

A visita de Dilma ao antecessor em solidariedade por sua condução coercitiva pela força-tarefa da Lava Jato não deixa dúvidas de que a chefe do governo apoia o líder dos investigados na operação policial. E não os investigadores. Seu desgoverno presta serviço à impunidade e ao privilégio e fica contra agentes do Estado que tentam garantir a igualdade de todos diante da lei e devassar o maior escândalo de corrupção da História, para puni-los.
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*José Neumanne é jornalista, poeta e escritor

Acirrando os ânimos – Zuenir Ventura

• Sérgio Moro, ao ordenar a condução coercitiva do ex- presidente, acabou por inflamar os ativistas contra e a favor, estimulando a tão indesejada radicalização

- O Globo

Além de devolver a Lula o palanque, as ruas e a disposição de uma jararaca da qual cortaram o rabo e deixaram a cabeça, como ele mesmo se autodenominou, o juiz Sérgio Moro, ao ordenar a condução coercitiva do ex-presidente, acabou por inflamar os ativistas contra e a favor, estimulando a tão indesejada radicalização, numa prévia do que pode vir por aí: a transformação do espaço público num campo de batalha. O tumulto, as agressões até a jornalistas, as pancadarias que ocorreram logo em seguida à operação de sexta- feira passada provocaram um efeito contrário ao pretendido pelo mandado do magistrado, que era “preservar a ordem pública”, impedindo que se repetissem os violentos incidentes ocorridos no mês passado. Se não houve a má intenção denunciada pelos petistas, houve pelo menos um lamentável erro de cálculo, além de soberba e precipitação. A legalidade ou não da ação tem sido discutida por advogados e juristas, com críticas e apoios. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, por exemplo, foi contra, explicando que esse devia ser o “último recurso” e que não há notícia de que Lula tenha se recusado a prestar depoimento.

É um debate técnico para iniciados, mas, do ponto de vista político, o que não se discute é que o resultado serviu para o PT “levantar a cabeça” e mobilizar os que estavam sem motivação, usando a estratégia que a exsenadora Marina Silva chamou de “apologia do confronto” de quem se encontra sitiado pelos fatos. A verdade é que aumentou o clima de tensão e beligerância, inclusive em Brasília. O líder do governo na Câmara, José Guimarães, conclamou “todos os militantes a irem para as ruas”. O senador Lindbergh Farias usou uma imagem bem condizente com o atual estado de espírito, ao afirmar que os seus companheiros agora estão com a “faca nos dentes”. Ou seja, estão com o corpo pintado para a guerra, acreditando que a Lava Jato é direcionada especialmente contra o Partido dos Trabalhadores. E isso sem que se leve a sério os surtos de paranoia como o do deputado Wadih Damous, que está vendo um “golpe articulado” por setores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, junto, claro, com os “grandes meios de comunicação”. O que não falta é imaginação conspiratória.

Por outro lado, partidos de oposição prometem obstruir as votações até que a comissão de impeachment seja instalada. E há mais delações à vista. Resta pedir a Deus para que as manifestações de rua programadas para breve não saiam do controle e agravem a nossa crise — se é que Ele aceita se meter nesse beco sem saída. Acho que é bem provável que diga: “Me inclui fora dessa”.

Os embaraços de Dilma – Editorial / O Estado de S. Paulo

Alguém precisa explicar a Dilma Rousseff que ela já está suficientemente atolada nos problemas políticos que ela própria cria e por isso deve evitar fazer o que só agrava esses problemas: falar em público. Os embaraços de Dilma com as ideias e com a Língua Portuguesa já se incorporaram ao anedotário. Mas, muito pior do que a questão da forma, é a do conteúdo. Quanto mais se afunda no desprestígio e na falta de credibilidade, mais Dilma Rousseff se esmera em produzir pérolas como esta: “A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode, sistematicamente, ficar dividindo o País. Não pode. Sabem por quê? Porque tem certo tipo de luta política que cria um problema sistemático não só para a política, mas, também, para a economia e afeta a criação de emprego, o crescimento das empresas e ninguém fica satisfeito quando começa aquela briga”.

Não ficam claros, nesse discurso pretensamente pedagógico, quais os limites, a juízo da presidente da República, a que a oposição não pode ir no exercício de seu “absoluto direito” de divergir. Para começar, o direito de divergir – como qualquer outro – ou é absoluto ou tem limites, de modo que Dilma acaba proclamando mais uma bobagem retórica. Duas coisas parecem implícitas em sua fala: que a oposição é a responsável pela atual crise e que o limite para a divergência é o ponto em que ela começa a servir só para “ficar dividindo o País”. Mas aí Dilma fala de si mesma, de seus correligionários e, principalmente, de seu patrono Lula, porque são eles os grandes responsáveis pela divisão do País entre “nós”, os bons, e “eles”, os maus, que impôs à luta pelo poder um maniqueísmo que exclui fator indispensável à construção de uma sociedade genuinamente democrática: a racionalidade.

A fala de Dilma no comício de entrega de casas populares em Caxias do Sul, na manhã de segunda-feira, marcou também mais uma mudança de rumo na postura política da presidente em relação a seu padrinho Lula. Dilma aproveitou a ida ao Sul para, de passagem por São Paulo, visitar o ex-presidente em São Bernardo do Campo e prestar-lhe solidariedade depois da “truculência” de que ele fora vítima na sexta-feira por parte da Polícia Federal (PF). Dilma, de alguma forma, se convenceu de que, depois das revelações do senador Delcídio Amaral, ela se tornou especialmente vulnerável à Lava Jato, com a agravante de que tem a perder o mandato de presidente da República.

Dilma voltou do Sul disposta a se colocar, quem diria, na linha de frente da defesa de seu padrinho, coisa que até agora tentava evitar, talvez em respeito à sua investidura na Presidência da República. Politicamente, a nova postura de Dilma faz sentido. Afinal, agora mais ameaçada de ser cassada do que nunca, a quem poderia recorrer, senão àquele que teoricamente ainda é seu partido e ao líder, seu padrinho, que apesar de contar hoje com menos de um quarto do apoio popular que já teve ainda é figura destacada da política brasileira? É um apoio que certamente custará caro, mas essa é outra história.

O desespero, portanto, justifica o comportamento de Dilma em Caxias do Sul, onde apresentou ao País uma faceta até então desconhecida do ex-presidente: “Ele nunca se julgou melhor que ninguém, justiça seja feita”. A pupila certamente ficou impressionada com a versão dada pessoalmente pelo mestre sobre os “abusos” da PF, embora ele tenha provavelmente omitido a parte em que tentou impor aos policiais – depois foi dissuadido por seu advogado – a condição de só acompanhá-los se fosse algemado. Esperteza que provavelmente resultaria inútil, porque, ao contrário do que os petistas alegam ter sido a intenção da PF, já haviam sido tomadas todas as providências para impedir, como efetivamente aconteceu, que o transporte de Lula até Congonhas se transformasse num “show midiático”.

A esta altura do desespero, porém, a Lula, a Dilma e ao PT não interessam os fatos, mas a versão de que são vítimas de uma conspiração da “direita” apoiada pela “mídia golpista”. Dilma, porém, não é a pessoa com maior competência e credibilidade para defender essa versão. Tanto assim que, dispondo a cada dia de menos espaço político para manobrar e estando cada vez mais isolada, procura Lula para com ele embolar-se no abraço dos afogados. Se tivesse um mínimo de grandeza, renunciaria ao cargo. A Nação agradeceria.