quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Caos no Equador serve de alerta para o Brasil

O Globo

Explosão de violência no país é resultado do fracasso do Estado ao enfrentar crime organizado

O caos institucional imposto ao Equador pelas facções do narcotráfico é um alerta para o Brasil e para outros países que enfrentam o poder desafiador de organizações criminosas transnacionais. As cenas de terror que se espalharam pelo país nos últimos dias expõem de forma didática o que pode acontecer quando o Estado falha no combate ao crime organizado e cede terreno à anomia e à barbárie.

violência, já presente no cotidiano da população equatoriana, explodiu depois do último domingo, quando fugiu da prisão o chefe da facção criminosa Los Choneros, vinculada aos cartéis de drogas do México e da Colômbia. Rebeliões eclodiram nos presídios. Ao menos sete policiais foram sequestrados. Grupos criminosos tomaram universidades e hospitais, disseminando o pânico. Homens encapuzados e armados invadiram um estúdio da TV estatal, promovendo cenas de terror transmitidas ao vivo. Explosões e saques tomaram conta das ruas. Os episódios já deixaram pelo menos 13 mortos.

Merval Pereira - Votos contra a polarização

O Globo

Há diversos experimentos, especialmente nos Estados Unidos, para tentar superar a polarização política e fazer com que o resultado das urnas espelhe realmente o desejo amplo dos eleitores.

Num momento em que vivemos uma realidade política radicalizada, que não dá espaço para a expressão de um centro político, calcificando posições extremas, buscam-se caminhos para impedir que o poder do dinheiro, ou de promessas populistas, formem uma “maioria aparente”. Na semana passada escrevi que é uma falácia dizer que a composição da Câmara representa a sociedade brasileira, contrariando uma tese amplamente divulgada para justificar atitudes de deputados, e mesmo resultados de votações.

Há diversos experimentos, especialmente nos Estados Unidos, para tentar superar a polarização política e fazer com que o resultado das urnas espelhe realmente o desejo amplo dos eleitores. Ronaldo Lemos, especialista em tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), lembrou outro dia que a mudança nos critérios de votação para o Big Brother Brasil (BBB) mostra que qualquer eleição pode ser influenciada por diversos fatores que desvirtuam a vontade real da maioria.

Míriam Leitão - As notícias do novo PGR

O Globo

Em sua primeira entrevista após assumir, Paulo Gonet revelou quais serão as suas prioridades do biênio à frente do Ministério Público

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, revelou que vai propor como meta ao Conselho Nacional do Ministério Público “o combate ao crime organizado” porque o país não pode ter “um estado paralelo”. Disse que o Ministério Público tem lições a aprender com os erros da Lava-Jato, mas não pode deixar de combater a corrupção. “Uma sociedade que feche os olhos para a corrupção é uma sociedade que está perdida.” Ele falou que vai reanalisar os casos denunciados pela CPI da Covid. A respeito das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro serão levadas às últimas consequências, garante.

— Há muita gente que não percebe que o crime não acontece apenas quando alguém furta o seu celular, entra na sua casa e faz os habitantes de reféns. O crime existe também quando se atenta contra o regime que propicia uma boa vida para as pessoas e esse regime é o regime democrático, é o regime republicano. Quando alguém se insurge de modo violento contra esse regime e essa conduta se encaixa numa hipótese de punição prevista pelo povo, na hora que ele edita a lei, nós somos obrigados a aplicar essa lei.

Malu Gaspar – O Equador (ainda não) é aqui

O Globo

No mesmo dia em que o presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou conflito armado interno em razão da onda de violência sem precedentes, o prefeito do Rio de JaneiroEduardo Paes (PSD), pediu ajuda nas redes sociais ao governo federal para lidar com o achaque à empreiteira que constrói um novo parque na Zona Norte da cidade. Segundo a prefeitura, três bandidos foram ao canteiro exigir R$ 500 mil para permitir que a obra continue.

Embora os dois episódios não tenham nem de longe a mesma gravidade — ainda não se viram por aqui líderes de organizações criminosas construindo piscinas ou dando entrevistas coletivas na cadeia, nem invadindo canais de TV armados para falar ao vivo à população —, nossa situação tampouco autoriza ignorar o que se passa no vizinho latino.

Quem acompanha a evolução da crise da segurança no Rio ouviu falar em criminosos cobrando propina de empreiteiras em obras públicas pelo menos desde 2012, quando um grupo de traficantes promoveu até o sequestro-relâmpago de um funcionário para extorquir construtoras que faziam uma ponte nos arredores do Complexo da Maré, também na Zona Norte.

Dani Rodrik* - Os quatro desafios da economia global

Valor Econômico

Não existem modelos prontos de desenvolvimento liderado por serviços que possam ser copiados

Outro ano tumultuado confirmou que a economia global se encontra num ponto de inflexão. Enfrentamos quatro grandes desafios: a transição climática, o problema dos bons empregos, uma crise de desenvolvimento econômico e a procura de uma forma de globalização mais nova e mais saudável. Para abordar cada um deles, precisamos deixar para trás modos de pensamento pré-estabelecidos e procurar soluções criativas e viáveis, reconhecendo que esses esforços serão necessariamente descoordenados e experimentais.

As alterações climáticas são o desafio mais assustador e o desdenhado por mais tempo - a um custo elevado. Se quisermos evitar condenar a humanidade a um futuro distópico, precisamos agir rapidamente para descarbonizar a economia global. Há muito que sabemos que devemos nos afastar dos combustíveis fósseis, desenvolver alternativas verdes e reforçar as nossas defesas contra os duradouros danos ambientais que a inação tem causado. No entanto, tornou-se claro que pouco disso poderá ser conseguido por meio da cooperação global ou das políticas preferidas dos economistas.

William Waack - Assim somos?

O Estado de S. Paulo

O Equador é o mais recente exemplo da expansão do crime em países latino-americanos

Países latino-americanos são muito diferentes entre si e muito similares em pelo menos dois pontos. Não conseguem frear a expansão do crime organizado. Não conseguem promover de forma sustentável a expansão da economia.

A relação entre uma coisa e outra não deve ser estabelecida como causalidade mecânica (do tipo “menos prosperidade na economia significa mais prosperidade do crime organizado”). A complexidade da situação está no fato de serem comuns a esse enorme conjunto de países o desarranjo institucional e a incapacidade das diversas sociedades de se organizarem em torno de desafios percebidos.

José Serra* - Aspectos essenciais da balança comercial

O Estado de S. Paulo

Há muito a fazer para que o saldo comercial se entrelace ao desenvolvimento da economia brasileira

Os vários países que, nos últimos 40 anos, lograram construir trajetórias seguras de desenvolvimento tiveram no saldo comercial um elemento-chave. Isso vale para diversas nações asiáticas. Tanto as da primeira geração, como a Coreia do Sul, como as mais recentes, de segunda geração. O grande saldo comercial em geral expressa um estilo de crescimento integrado ao mercado internacional.

O formato das economias varia, mas o grande eixo é o influxo de moeda externa. Ao mesmo tempo, esse influxo gera renda interna, que se deriva em oportunidade de negócios no mercado interno e investimentos. Mas, talvez mais importante, no capitalismo das finanças em que vivemos, o fortalecimento da posição cambial desses países dá segurança ao cálculo capitalista por ancorar as moedas nacionais. No caso da máquina de crescimento chinesa, não há como negar que esses fatores foram os fundamentos de sua gestação e consolidação.

Maria Hermínia Tavares* - As redes e o extremismo

Folha de S. Paulo

Regulação das redes sociais não basta para conter extremismo doméstico

Na manhã de 19 de abril de 1995, Timothy McVeigh, veterano da Guerra do Iraque, estacionou um caminhão carregado de explosivos d­­iante de um prédio da administração federal, em Oklahoma. Acendeu o pavio e saiu andando. A história do atentado que matou 167 pessoas, entre elas 15 crianças de uma creche, é contada pelo escritor e comentarista político Jeffrey Toobin no livro "Homegrown: Timothy McVeigh and the rise of right-wing extremism" (Criação doméstica: Timothy McVeigh e a ascensão do extremismo de direita).

O autor sustenta que, longe de ser um franco-atirador insano, McVeigh foi produto de uma cultura de extrema direita em formação. Décadas depois, ela alimentaria as fantasias de violência entre os seguidores de Donald Trump e, em seu nome, invadiriam o Capitólio em 2021. Muito antes que as redes sociais os difundissem em tempo real, ­ali já estavam seus elementos definidores: o culto às armas e a plena liberdade de portá-las; o supremacismo branco; o horror ao governo federal; uma versão primitiva de nacionalismo; o fanatismo religioso; a política como conspiração.

Conrado Hübner Mendes* - 8 de janeiro foi contido, não derrotado

Folha de S. Paulo

Estrutura material e ideológica do autoritarismo nem começou a ser desarmada

Existiu algo de cínico e patético nas falas sobre o primeiro aniversário da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. O patético insuperável irrompeu da boca de Aldo Rebelo, para quem "atribuir tentativa de golpe a bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado". A "instituição do golpe de Estado" realmente se desmoraliza diante de analista assim.

O cínico marcou presença no esforço retórico de simular normalidade e disfarçar a inapetência institucional para responsabilizar perpetradores intelectuais e materiais da violência política.

STF disse apenas que o "tribunal agiu com celeridade e imparcialidade para investigar e responsabilizar os que atentaram contra a democracia". Alexandre de Moraes assegurou que "todos aqueles que tiverem a responsabilidade comprovada, após o devido processo legal, serão responsabilizados." Luís Roberto Barroso prometeu que "estamos enterrando definitivamente o golpismo no Brasil", "para evitar que isso aconteça de novo".

Luiz Marinho* - Ministério do Trabalho: protagonismo na defesa do emprego

Folha de S. Paulo

Pasta reassumiu o seu papel na arena político-econômica brasileira

Em 2023, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reassumiu o seu protagonismo na arena político-econômica brasileira. Voltou ao posto de principal agente de promoção, mediação, formulação, indução e acompanhamento de políticas públicas para geração de mais e melhores empregos e defesa do trabalho digno e decente.

Os últimos 12 meses foram marcados pela reconstrução de um espaço que começou a ser destruído após o golpe contra a presidenta Dilma. A pauta trabalhista experimentou retrocessos em série, tendência que chegou ao apogeu em 2019, no momento que a própria pasta foi descontinuada.

O trabalho do governo Lula concentra-se então em dar respostas aos diversos anseios da sociedade. Práticas como o trabalho remoto e a jornada de quatro dias surgiram ou ganharam espaço no século 21, porém convivem com chagas que remontam ao período colonial. De janeiro de 2023 até o início de dezembro, o MTE atuou para resgatar pessoas em trabalho análogo à escravidão: foram 3.151 registros, o maior resultado dos últimos 14 anos.

Bruno Boghossian - A Metástase equatoriana

Folha de S. Paulo

Fracasso de políticas de segurança e corrupção levaram a uma situação de equilíbrio entre facções fortalecidas e um Estado fraco

No mês passado, 31 pessoas foram presas numa operação contra o crime organizado no Equador. Entre os alvos estavam juízes, promotores, policiais e um general que havia comandado o sistema penitenciário do país. Todos eram acusados de proteger um chefão do tráfico. A ação foi batizada de Metástase.

A crise da segurança no Equador exibe os sintomas mais agudos do fortalecimento do narcopoder na América Latina. Facções do tráfico se espalham por órgãos da estrutura do Estado, assumem o controle de territórios e postos estratégicos e, com certo desembaraço, usam o terror para desafiar autoridades.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Um engano de apenas R$ 10 trilhões

Deve ter assustado muita gente. Foi  um erro de apenas R$ 10 trilhões. No artigo anterior cometi esse "pequeno (!!!) deslize",  ao registrar  o PIB - Produto Interno Bruto do Brasil  projetado para 2024. Anunciei  (Só pode ser a idade, ou estas malditas teclas!)  - R$ 11 bilhões para o PIB brasileiro em 2024, quando o valor correto estimado seria R$ 11,... trilhões 

Um erro com esse tamanho  é para derrubar qualquer um , até meus editores. Imagine, se o Projeto de Lei do Orçamento (PLO) tivesse sido aprovado com uma vacilada dessas. É possível acontecer. Primeiro, porque o governo deixa o PLO para votar nos último dia da Sessão Legislativa junto com dezenas de outras projetos que  também que ver aprovados: um  pacote para confundir. No caso do Orçamento para  2024, inflado por emendas e excessivos gastos eleitorais, o governo reuniu  diversos projetos de lei destinados a aumentar a  arrecadação de impostos para serem aprovados na rodada.

Poesia | Aprendizado - Ferreira Gullar

 

Música | Paulinho da Viola - Evocação Nº 2 (Nelson Ferreira/Oswaldo Santiago)