sábado, 16 de agosto de 2014

Opinião do dia: Antonio Lavareda

O formato da disputa será mais uma vez triangular, mas os três vértices são muito diferentes hoje, o que dificulta qualquer previsão. O PSDB tem Aécio Neves, político jovem, com rejeição menor do que a de José Serra em 2010. No PT, Dilma é o oposto. Em 2010, tinha sob seus pés o crescimento econômico de Lula e a imagem imaculada de mãe do PAC. Hoje, é a mais rejeitada numa situação econômica difícil. Mas tem ainda a força de Lula e o cargo, além de um tempo de TV ainda maior. Marina é maior do que em 2010, acrescida do sentimento das manifestações de 2013, do apoio de uma aliança e de uma máquina várias vezes maior do que que a que tinha em 2010 e mais que o dobro de tempo de TV. E ainda tem a carga emocional do trágico desaparecimento de Campos, que é algo difícil de mensurar. É bastante plausível que influencie em alguma medida o processo eleitoral”.

Antônio Lavareda, sociólogo, na entrevista: ‘Marina é o maior patrimônio que o acaso deu ao PSB’. O Globo, 15 de agosto de 2014.

Marina dá aval ao PSB para encaminhar candidatura

• Ex-ministra recebeu a cúpula do partido na sua casa em SP; legenda se reúne no dia 20

• Marina mostra disposição para disputar Planalto e aceita acordos do PSB

• Em encontro com dirigentes e aliados da Rede em São Paulo, ex-ministra afirma que tem responsabilidade sobre legado de Campos

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou nesta sexta-feira em conversas reservadas que está disposta a disputar a Presidência da República no lugar de Eduardo Campos, morto na quarta-feira passada em um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista. Candidata a vice na chapa do ex-governador pernambucano, ela se comprometeu a respeitar os acordos regionais do PSB e a manter o programa de governo firmado pela aliança. Essas eram as exigências do partido para lançá-la ao Planalto, algo que deve acontecer nos próximos dias.

Marina recebeu em seu apartamento em São Paulo dirigentes do PSB e aliados da Rede - partido que tentou criar sem sucesso no ano passado. Disse que se sente responsável pelo legado de Campos e que, se não houver objeção na aliança, está disposta a disputar o Palácio do Planalto contra a presidente Dilma Rousseff e o candidato tucano Aécio Neves.

Foram os primeiros encontros políticos realizados por Marina após a tragédia de três dias atrás. A ex-ministra recebeu uma comitiva do PSB formada por Roberto Amaral, que assumiu a presidência nacional do partido após a morte de Campos, pelo coordenador-geral da campanha, Carlos Siqueira, por outro integrante da coordenação, Milton Coelho, pela deputada Luiza Erundina, e pelo porta-voz da Rede, Walter Feldman.

O grupo indagou Marina sobre a candidatura. Ela respondeu, de acordo com relato dos presentes, que não se oporia “aos processos do partido.”

No PSB, sigla à qual Marina aderiu em outubro do ano passado após não conseguir o registro da Rede, a maioria dos dirigentes apoia a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. A escolha está ligada ao capital político da neoaliada, que quatro anos atrás, quando disputou o Palácio do Planalto pelo PV, obteve 19,33% dos votos e ficou na terceira colocação. Campos ainda não havia atingido dois dígitos nas pesquisas.

Divergências. Apesar de haver resistências internas - grupos minoritários do PSB dizem preferir um nome com uma ligação mais forte com o partido, como o de Luiza Erundina, por exemplo -, os dirigentes acreditam que o anúncio da ex-ministra possa ser feito até quarta-feira. Eles não querem fazer o anúncio oficial antes que os restos mortais de Campos sejam enterrados no Recife. Nesse período, pretendem consultar governadores, prefeitos e parlamentares do partido sobre a escolha.

Além dos dirigentes do PSB, Marina também recebeu aliados próximos, que a auxiliaram na tentativa de criar a Rede. Estiveram em seu apartamento Eduardo Giannetti, economista, Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú que integra a coordenação do programa de governo da aliança PSB-Rede, Ricardo Young, vereador do PPS, entre outros. A eles, falou sobre a “responsabilidade” com o legado do pernambucano.

Silêncio. Até sexta-feira, Marina vinha se recusando a falar de política. Passou a lidar com o tema após a própria família de Campos revelar preferência por sua candidatura. O único irmão de Campos, Antônio, divulgou anteontem uma carta na qual defende abertamente a indicação da ex-ministra como candidata ao Palácio do Planalto.

Renata, viúva do ex-governador, também é a favor de que Marina passe a ser o nome do PSB. As duas conversaram por telefone na quinta-feira. A ex-ministra deve embarcar hoje para Recife, onde os restos mortais de Campos serão enterrados.

Colaboraram Alessandro Lucchetti e Mateus Coutinho

Marina sinaliza ao PSB que disputará o Planalto

• Ex-senadora indica que ratificará os acordos estaduais feito pelo partido

PSB sela acordo para lançar Marina no lugar de Campos

• Novo presidente aceita inversão da chapa; Beto Albuquerque deve ser vice

• Ex-ministro de Lula, Roberto Amaral afirma que Marina 'contempla' o partido; aliado diz que ela está 'à disposição'

Bernardo Mello Franco, Paulo Gama Bruno Boghossian – Folha de S. Paulo

O PSB superou as divergências internas e selou acordo para lançar Marina Silva à Presidência da República no lugar de Eduardo Campos. Ela concordou com a inversão da chapa e deverá ser anunciada oficialmente na próxima quarta-feira (20).

O novo presidente do PSB, Roberto Amaral, era visto como último entrave ao acerto. Sob forte pressão de correligionários, ele se convenceu a apoiar Marina, que disputou o Planalto em 2010 pelo PV.

O PSB agora discutirá a indicação do novo vice na chapa presidencial. O deputado gaúcho Beto Albuquerque, hoje candidato ao Senado, é o mais cotado para a vaga.

"A candidatura de Marina contempla nosso projeto. Será uma solução de continuidade. O PSB indicará o novo vice", disse Amaral à Folha.

Depois de uma reunião com Marina, o coordenador da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido, confirmou à reportagem que ela aceita disputar a Presidência.

"Com o OK do PSB, ela está à disposição para ser a candidata", disse.

Por respeito à memória de Campos, o anúncio oficial da nova chapa só deverá ser feito três dias depois do enterro, programado para o domingo (17), em reunião da executiva nacional do PSB.

A negociação se acelerou após Marina receber apoio público da família do ex-governador de Pernambuco. Segundo aliados, ela se sentiu revigorada ao conversar com a viúva Renata Campos, que a incentivou a concorrer.

Ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula e considerado próximo ao PT, Roberto Amaral visitou Marina na tarde desta sexta (15). Com seu aval, começou a consultar os governadores do PSB sobre a inversão da chapa.

Ele quer dar caráter coletivo à decisão e agora buscará entendimento sobre o vice até a reunião da executiva. "Vou fazer um trabalho de afunilamento. O ideal é chegar com dois nomes. Ou um", disse.

Além de Albuquerque, que se aproximou de Marina desde que ela aderiu à candidatura de Campos, são vistos como alternativas o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o ex-deputado Maurício Rands (PSB-PE) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), ex-ministro da Integração Nacional no governo Dilma Rousseff.

Marina sinalizou ao PSB que respeitará as duas principais exigências do partido: respeitar os acordos regionais fechados à sua revelia, em Estados como Rio e São Paulo, e incorporar o discurso desenvolvimentista.

A ex-senadora disse a pessoas próximas que pretende conduzir a campanha da mesma forma que Campos a conduziria, atuando como líder de uma coligação, e não apenas da Rede, o futuro partido que ela quer criar.

Embora tenha se recusado a falar publicamente sobre política, em respeito ao luto pelo ex-governador, repetiu a aliados que era preciso manter o projeto da chapa.

Ela disse que o PSB foi generoso ao abrigar a Rede em 2013, quando a Justiça Eleitoral negou registro ao partido, e agora é a hora de retribuir.

Colaboraram Ranier Bragon e Valdo Cruz, de Brasília, Gustavo Uribe, de São Paulo,Natuza Nery e Marina Dias, enviadas especiais ao Recife

Sinal verde de Marina

• PSB e ex-senadora discutem condições para que ela substitua Campos sem resistências internas

Julianna Granjeia, Fernanda Krakovics – O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA- A ex-senadora Marina Silva aceitou ontem que seu nome seja levado oficialmente à consulta dos dirigentes do PSB como substituta de Eduardo Campos na chapa que disputará a Presidência. Essa sondagem é uma condição para assegurar que Marina entre na disputa sem resistências internas. Ela deu o aval para que o partido consulte congressistas e líderes regionais, antes de tomar uma decisão. O partido pretende apresentar oficialmente a nova chapa na próxima quarta-feira, já depois do início do horário eleitoral gratuito.

Após conversa com Marina, em São Paulo, o presidente do PSB, Roberto Amaral, e o coordenador da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira, também secretário do partido, deram início à discussão da nova composição da chapa. Em reunião fechada num hotel na capital paulista, à noite, lideranças fizeram um balanço das consultas.

Também analisaram o encontro com Marina e traçaram um cronograma para o novo arranjo.
Foi estabelecido que, na segunda-feira, Amaral se reunirá novamente com Marina e, no dia seguinte, haverá uma missa em homenagem a Campos. Nesse mesmo dia, à tarde, ocorrerá uma grande reunião com prefeitos e governadores do PSB, além de candidatos a cargos majoritários nas eleições deste ano, provavelmente em Recife. Após essas consultas, a decisão será anunciada na quarta-feira, em Brasília. Amaral admitiu que dificilmente haverá unanimidade no partido:

— Vamos construir uma solução. Essa solução não será de consenso. Essa coisa de unanimidade em partido é stalinista. Não estou atrás de unanimidade. O que estou querendo é que a solução seja compreendida por todo o partido. Meu papel como presidente é achar uma solução que possa ser de fácil absorção na quarta-feira — disse Amaral, já na madrugada de hoje.

Escolha de vice é outra polêmica
A consulta sobre o nome de Marina é necessária, dada a resistência inicial de parte do PSB à ideia de ela ser a candidata. Amaral confirmou ontem sua preferência pela ex-senadora. — O mais provável é que Marina seja a candidata, mas tomaremos a decisão apenas no dia 20 — afirmou Amaral antes da reunião que entrou pela madrugada.

Na saída do encontro com Marina, ontem de manhã, líderes do PSB disseram que foram prestar solidariedade à ex-senadora pela morte de Campos. Além de Amaral e Siqueira, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e o ex-deputado Walter Feldman, da Rede Sustentabilidade, também estiveram ontem no apartamento de Marina. A ex-senadora teria dito nesse encontro que não se opõe à consulta no partido, demonstrando que aceita ser lançada candidata à Presidência.

Hoje à tarde, dirigentes do PSB viajam para Recife, onde também devem conversar novamente com Marina. A discussão do vice de Marina será iniciada após o término dessa consulta interna e a oficialização da ex-senadora como cabeça de chapa. Há entre correligionários quem aposte que Marina, se aceitar disputar a Presidência, tentará impor o nome do vice. Entre os cotados está o de Erundina, que tem a preferência de Amaral, mas sofre resistência de um grupo no PSB. Também são considerados os nomes dos deputados Júlio Delgado (MG) e Beto Albuquerque (RS), do ex-ministro Fernando Bezerra Coelho (PE) e de Renata, viúva de Campos.

Segundo dirigentes do PSB, o posto de vice deve ser assumido por alguém que represente a renovação proposta por Campos — o que, em tese, descartaria Erundina. O partido quer ainda alguém que tenha acompanhado o processo da candidatura de Campos e honre o legado dele.

Questionado se há uma articulação para fazer de “Dona Renata”, como Campos a chamava, vice na chapa, Amaral disse ignorar esse fato:

— Não tenho conhecimento, mas ela seria um grande nome.

O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), não acredita nessa possibilidade.

— Não tenho dúvidas que, entre a maternidade e a política, a prioridade dela, pelo o que conheço bem dela, seja cuidar dos cinco filhos. Ela é uma mãe muito dedicada — afirmou Lyra. Marina conversou com Renata ontem. O telefonema, marcado pela emoção, foi da vice na chapa de Campos. As duas ainda não haviam conversado desde o acidente. Segundo relatos, Renata demonstrou serenidade.

Sobre o encontro com a direção do PSB, Marina avaliou, junto a aliados, que a iniciativa foi um “gesto do partido de condolências mútuas, mais do que qualquer outra coisa”. Como condição para anunciar Marina cabeça de chave, a direção do PSB quer que ela entenda que será a candidata do partido, e não da Rede
Sustentabilidade — partido montado pela ex-senadora, mas que não conseguiu o número suficiente de assinaturas para obter o registro a tempo de disputar as eleições deste ano.

O líder do PSB no Senado e candidato do partido ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (DF), e o deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) defenderam a opção por Marina.

— Eduardo escolheu Marina para ser sua vice por confiar nela. Nós temos que manter essa confiança. Não vejo como ela não ser a substituta — afirmou Patriota.

— A questão da Marina ser candidata é natural — disse Rollemberg.

Novo cenário eleitoral reacende 'volta, Lula'

• Alas do PT que temem derrota de Dilma caso candidatura de Marina seja confirmada já defendem retorno do ex-presidente

• Se pesquisas apontarem situação desfavorável à presidente, pressão ficará incontrolável, avaliam dilmistas

Andréia Sadi, Valdo Cruz e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O temor de que Marina Silva apareça nas próximas pesquisas eleitorais com chances reais de vitória reacendeu nos bastidores, ainda de forma tímida, o coro "volta, Lula"" entre um grupo de petistas.

A articulação que pedia o retorno do ex-presidente para a disputa de 2014 foi forte no primeiro semestre de 2013, mas acabou abafada no encontro nacional do PT, em maio, quando a sigla unificou o discurso em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Os principais defensores do "volta, Lula" eram empresários descontentes com o estilo intervencionista de Dilma e petistas que perderam espaço na atual gestão.

A mudança de planos não se concretizou porque, na avaliação do PT, mesmo nos piores momentos, como nos protestos de junho, Dilma nunca teve risco real de derrota. Agora, dilmistas temem que, se houver previsão de derrota, "o volta, Lula ficará incontrolável"". A avaliação é de alas petistas e não foi discutida com o ex-presidente.

Lulistas disseram à Folha que a adesão dependerá do resultado do Datafolha nesta segunda (18). Assessores da campanha preveem a volta das especulações caso Marina supere Aécio e bata Dilma num eventual segundo turno.

Pela lei, o candidato pode ser substituído até 20 dias antes do primeiro turno --prazo que acaba em 15 de setembro.

Após o acidente que matou o candidato do PSB, Eduardo Campos, na quarta (13), o PT fez um levantamento por telefone, que indicou Marina empatada com Aécio e Dilma oscilando negativamente.

Amigos de Lula disseram à Folha que ele não autorizou ninguém a tratar de sucessão até o enterro de Campos.

Além disso, dizem que é preciso aguardar passar o momento de comoção, já que a intenção de voto em Marina agora estará vitaminada, mas pode não se sustentar.

Coligação de Aécio incentiva Marina a aceitar candidatura

• ‘Adversário a ser batido continua sendo Dilma e o PT’, diz Aloysio Nunes

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O comando da campanha do candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, saiu em defesa da escolha da ex-senadora Marina Silva como candidata na cabeça de chapa do PSB, para mostrar que não teme a adversária. A estratégia de “passar destemor” consiste em consolidar a indicação de Marina, situá-la no campo das oposições e inviabilizar uma reaproximação do PSB com o PT no primeiro turno, ou num eventual segundo turno contra Aécio.

Nas avaliações feitas nas últimas 48 horas com aliados, Aécio previu que os próximos 15 dias serão de grande comoção pela morte de Campos, o que vai impactar as pesquisas. Ele avaliou que Marina terá inicialmente o dobro dos votos de Eduardo Campos, ficando num patamar inicial de cerca de 20%, capitalizando votos de protesto, em branco e nulos, um pouco de Dilma e um pouco dele mesmo.

Perda de pontos em setembro
Para Aécio, logo que o emocional sair de cena e fraturas com o PSB passarem a ser expostas, no início de setembro, Marina pode começar a perder pontos.

— O PSB, que teve um candidato com a musculatura de Eduardo Campos, deve dar a ele um substituto à altura. Não acredito que o PSB vá abrir mão de um capital já conquistado por Eduardo. Nesse quadro, não consigo enxergar ninguém com atributos maiores que os de Marina — declarou o coordenador geral da campanha de Aécio, senador José Agripino Maia (DEM-RN).

Na sexta-feira, Aécio voltou a gravar para o programa eleitoral, quando deve homenagear Campos. No próximo domingo, após o enterro do socialista em Recife, Aécio se reunirá com a coordenação de sua campanha para redefinir os próximos passos. Estarão lá Fernando Henrique; o prefeito de Salvador, ACM Neto; o candidato a governador da Bahia, Paulo Souto; o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; José Agripino e outros.

Uma orientação já dada no comitê, para a hipótese de Marina ser mesmo a adversária: os aliados não devem polarizar ou revidar eventuais ataques, mas se centrar em vender a imagem de otimismo e esperança.

— Não temos que atacar Marina. Nosso adversário a ser batido continua sendo Dilma e o PT — diz o candidato a vice na chapa de Aécio, senador Aloysio Nunes Ferreira.

— Marina vai procurar se diferenciar de Dilma e Aécio, colocando-se como uma suposta nova política. Nossa estratégia não mudará. Vamos tornar conhecida a vida de Aécio, seu legado, e administrar seu ativo mais conhecido, passar consistência como o intérprete da mudança, fazer uma boa campanha na TV e chegar numa marca de 25% a 35% para ir ao segundo turno — disse o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana.

Comparação com tucano
Um dia depois do acidente, o Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, publicou análise em que ressalta as semelhanças de valores e legado político-administrativo de Campos com Aécio e colocou o tucano como a alternativa que mais se aproxima do projeto abortado de Campos, com maior possibilidade de continuá-lo.

O artigo diz que, assim como Aécio, Campos encarnava o desejo de mudança manifestado por quase 70% dos brasileiros nas recentes pesquisas: “O país pede mudanças, e elas virão. O país pede renovação, e elas acontecerão. O país espera juventude, e ela está a caminho. Campos era um dos agentes desta transformação, cujo curso não se extinguirá. (...) Em sua administração, espelhou-se em experiências como a de Aécio. (...) A escola é a mesma e será continuada”.

PSDB diz na internet que Aécio levará boas bandeiras de Campos

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - De olho em capturar o espólio político deixado por Eduardo Campos, o PSDB publicou na internet uma análise que coloca Aécio Neves (PSDB) como o nome capaz de "levar adiante as boas bandeiras" do pessebista.

Elaborada pelo ITV (Instituto Teotônio Vilela) --órgão de "estudos e formação política" do PSDB--, a análise diz que Campos espelhou-se em Aécio durante sua gestão como governador de Pernambuco. O texto foi publicado na página do instituto um dia depois da morte de Campos.

"O ex-governador de Pernambuco era um dos representantes da boa política que mira, acima de tudo, os benefícios aos cidadãos, a gestão responsável da máquina pública, a busca pela justiça social. Em sua administração no Estado, espelhou-se em outras experiências exitosas como a de Aécio Neves no governo de Minas Gerais. A escola é a mesma", diz o texto.

O texto diz que as candidaturas do PSB e do PSDB representam o sentimento de união em favor do país, "em contraposição ao modelo que prefere dividir para conquistar, atacar para triunfar".

‘Marina é o maior patrimônio que o acaso deu ao PSB’, diz sociólogo

• Antônio Lavareda diz que, com capital político aguçado pela comoção da tragédia, ex-senadora é a sucessora óbvia de Campos

Alexandre Rodrigues – O Globo (15/8/2014)

RIO — Um dos mais experientes consultores eleitorais do país, o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda foi procurado por Eduardo Campos no início de 2013 para testar a viabilidade de sua candidatura à Presidência. O Ipespe, instituto de pesquisa de Lavareda sediado no Recife, fez uma série de sondagens que deram ao ex-governador parte dos subsídios para formular seu projeto de terceira via. Em entrevista ao GLOBO, Lavareda diz que Campos tinha potencial para chegar ao dia da eleição com, no mínimo, votação igual à de Marina Silva em 2010. Para ele, a lógica indica a vice à frente da chapa, repetindo o triângulo do pleito de 2010. No entanto, alerta, os vértices, hoje, são diferentes.

No que suas pesquisas estimularam Campos a decidir se candidatar?

No início de 2013, já ficava claro que o espaço se ampliaria quanto mais complicada ficasse a situação econômica. Testamos hipóteses de estagnação em meados de 2014, embora não houvesse ainda essa expectativa. Obviamente, a deterioração econômica abre espaço para a oposição e alimenta a expectativa por algo diferente, que seria a terceira via. Era o perfil do Campos. Ele não era o anti-Lula, mirava o contraditório em Dilma Rousseff. Podia buscar votos na oposição representada pelo PSDB e no eleitorado da terceira via de 2010, de Marina. No início de 2013, ninguém poderia imaginar Marina ao lado de Campos. Nem ele. Nem o mais visionário dos sonhadores ou o mais sonhador dos visionários poderia antecipar o curso extraordinariamente trágico dessa campanha.

O caminho natural do PSB é substituir Campos por Marina?

É lógico. A despeito das diferenças entre Marina e parte do PSB — uma relação que ganha um grau de tensão potencial sem a mediação de Campos —, é óbvio que Marina é o maior patrimônio eleitoral que o acaso colocou dentro do PSB.

Qual a diferença entre a terceira via de Campos e a de Marina?

Campos tinha um projeto dentro de um partido bem estruturado. O PSB teve o melhor desempenho nas eleições municipais e já havia crescido no Congresso em 2010. O partido vinha se estruturando para construir uma terceira via mais consistente do que tentativas anteriores, como Ciro Gomes, Garotinho, Heloísa Helena. O projeto de Marina em 2010 era assentado no carisma dela e nos vínculos com segmentos específicos: jovens, mulheres, evangélicos, ambientalistas. Campos buscava uma ossatura político-partidária. Por isso, mais consistente. Até porque transmitia maior ideia de governabilidade.

Por que Campos ainda tinha desempenho fraco nas pesquisas?

O projeto dele dependia do trânsito entre formadores de opinião e empresariado, mas sobretudo da montagem de palanques fortes nos estados. Acabou não conseguindo fazer isso nos três maiores (São Paulo, Rio e Minas). Daí boa parte da explicação para ter patinado na casa de um dígito nas pesquisas. Mas era muito provável que chegasse aos 15 pontos logo na primeira fase, após o início do programa na TV. Ele era pouquíssimo conhecido. Nas pesquisas, os que o conheciam não ultrapassavam 30%.

Era vantagem ou desvantagem?

É desvantagem na pré-campanha, mas, quando se tem bom posicionamento, bom discurso, abre espaço para crescer. Era o caso de Campos. No mínimo, ele teria na eleição o mesmo patamar de Marina em 2010, entre 19% e 20%.

Mas pesquisas indicavam baixa transferência de votos de Marina.

Ainda por desconhecimento, falta de argumentação da própria Marina, o que só ocorreria com a propaganda na TV. É preciso lembrar que o crescimento vertiginoso de Marina se deu nos últimos dez dias antes da eleição de 2010.

Se Marina assumir candidatura, teremos a mesma configuração da eleição de 2010?

O formato da disputa será mais uma vez triangular, mas os três vértices são muito diferentes hoje, o que dificulta qualquer previsão. O PSDB tem Aécio Neves, político jovem, com rejeição menor do que a de José Serra em 2010. No PT, Dilma é o oposto. Em 2010, tinha sob seus pés o crescimento econômico de Lula e a imagem imaculada de mãe do PAC. Hoje, é a mais rejeitada numa situação econômica difícil. Mas tem ainda a força de Lula e o cargo, além de um tempo de TV ainda maior. Marina é maior do que em 2010, acrescida do sentimento das manifestações de 2013, do apoio de uma aliança e de uma máquina várias vezes maior do que que a que tinha em 2010 e mais que o dobro de tempo de TV. E ainda tem a carga emocional do trágico desaparecimento de Campos, que é algo difícil de mensurar. É bastante plausível que influencie em alguma medida o processo eleitoral.

Mesmo com ele pouco conhecido?

Campos se tornou conhecido agora. Nesse sentido, hoje ele é algumas vezes maior do que quando estava vivo.

Economia brasileira encolheu 1,2% no segundo trimestre, segundo o Banco Central

• Pelo índice do BC, o IBC-Br, já é o terceiro trimestre seguido de retração, o que indica possibilidade de recessão no país

Gabriela Valente e Lucianne Carneiro – O Globo

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - Com o desempenho oscilante do comércio e com a indústria em retração, a economia brasileira encolheu 1,2% no segundo trimestre deste ano, nos cálculos do Banco Central. O número veio acima da expectativa dos analistas do mercado financeiro de que o IBC-Br (índice que mede a atividade no Brasil) tivesse uma queda de cerca de 1,6% no período, mas, ao mesmo tempo, é o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, auge da crise financeira, quando o recuo havia sido de 2,68%. De acordo com os dados revisados pelo Banco Central, esse já seria o terceiro trimestre de retração da economia.

Os dados consideram o índice dessazonalizado (que não leva em conta as variações por época do ano). No primeiro trimestre deste ano, a economia encolheu 0,02%, de acordo com o IBC-Br. Já nos últimos três meses do ano passado, a retração foi de 0,29%. No entanto, metodologicamente, o IBC-Br não pode ser considerado uma simples prévia do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Isso porque o dado oficial, calculado pelo IBGE, é muito mais complexo. O índice construído pelos técnicos da autoridade monetária é o que os economistas chamam de proxy, ou seja, uma aproximação. O resultado oficial será divulgado pelo instituto no próximo dia 29.

Os dados oficiais do IBGE são de que o PIB cresceu 0,2% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2013. Mas boa parte dos analistas não descarta a possibilidade de que esse número seja revisado para mostrar contração, com a divulgação do resultado do PIB do segundo trimestre.
Resultado de junho é o pior desde maio de 2013

Somente em junho, mês da Copa do Mundo (que diminuiu o número de dias úteis e, consequentemente, de atividade econômica), esse índice do BC revelou que a economia encolheu 1,48%. Foi o pior resultado mensal desde maio do ano passado. Isso porque o resultado do comércio ficou muito abaixo do que previam os especialistas. A queda de junho também foi a quinta seguida na comparação mensal. O IBC-Br acumula alta de 1,41% em 12 meses, ainda segundo dados dessazonalizados.

— Acho que não podemos falar em recessão técnica (dois trimestres seguidos de retração) porque o IBC-Br não crava exatamente o que aconteceu na economia brasileira. O primeiro trimestre, por exemplo, teve desempenho positivo nas contas oficiais do IBGE — ponderou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual. — Mas esse número já indica que teremos um segundo trimestre negativo no resultado das contas nacionais do IBGE.

Na avaliação do economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, o resultado de junho não foi uma surpresa, diante dos dados já divulgados de indústria e comércio, mas o Banco Central acabou revisando o IBC-Br de abril e maio, o que levou a esse recuo de 1,2% no trimestre.

— A intensidade da queda do IBC-Br no segundo trimestre foi maior por causa do efeito Copa, que afetou a indústria, por exemplo. É diferente daquele momento lá atrás, quando entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009 tivemos o pior momento da crise econômica internacional — disse Leal.

Outros indicadores mostram pé no freio
Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, também afirmou, em relatório nesta sexta-feira, que a queda apontada pelo IBC-Br reforça percepção de desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre. A contração já foi indicada por outros indicadores, caso das vendas no varejo e produção industrial, por exemplo, divulgadas pelo IBGE.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, porém, reforçou nesta sexta-feira que não é correto afirmar que a variação do PIB do Brasil foi negativa no segundo trimestre tendo como base o IBC-Br. O diretor, que participa de seminário em São Paulo, lembrou que a projeção do BC para o PIB é a que consta no Relatório de Inflação, que é de 1,6% para 2014. Entretanto, as expectativas dos especialistas, ouvidos em pesquisa Focus do próprio BC, são de que o PIB crescerá apenas 0,81% em 2014, bem aquém dos 2,5% vistos em 2013.

Índice baliza política de juros
O IBC-Br foi criado pelo BC para balizar a condução da política de juros para controlar a inflação. É para ele que o BC olha na hora de fixar a taxa básica de juros (Selic), que está em 11% ao ano. O dado leva em consideração Esses são os indicadores que mais pesam no “PIB do BC.

No segundo trimestre, as vendas do varejo registraram uma queda de 0,6%, na comparação com o primeiro trimestre, de acordo com os dados do IBGE após ajuste sazonal. Já a indústria registrou uma retração de 0,9% da sua produção no período.

Falta de confiança desemboca em recuo na atividade produtiva

Economia freio na produção

Zero Hora (RS)

Indicador do BC teve queda de 1,48% em junho. Especialistas avaliam que influências negativas da indústria e do varejo pesaram em meio ao ambiente de falta de ânimo para investir e consumir
A divulgação do resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses e é usado por analistas de mercado para ajudar a projetar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), aumentou o temor de recesssão no país. O Banco Central (BC) informou ontem que o índice recuou 1,48% em junho na comparação com o mês anterior, a maior queda desde maio do ano passado. E revisou os dados de meses anteriores, todos para menos – o período de fevereiro a junho ficou inteiro no negativo.

A atividade econômica no segundo trimestre recuou 1,2% em relação aos três meses anteriores. É a maior contração desde o primeiro trimestre de 2009, quando o país sentia os efeitos da crise financeira internacional. No primeiro semestre, ainda é positivo: apenas 0,13%. A preocupação é que se configure um quadro de recessão em meio ao ambiente de confiança em baixa.

Essa situação só será caracterizada caso o IBGE, que divulga a variação do PIB, aponte dois trimestres seguidos de queda na atividade econômica. Isso configura o que os economistas chamam de "recessão técnica". De janeiro a março, houve expansão, mas de apenas 0,2%. No próximo dia 29, o instituto divulga o PIB do segundo trimestre. Diante dos novos números do IBC-Br, a Rosenberg Associados atualizou a expectativa para o PIB de abril a junho para contração de 0,1%. A consultoria não descarta a possibilidade de a alta de 0,2% no primeiro trimestre ser revisada para queda, o que configuraria a recessão técnica. O cenário de possível recessão também foi citado por outras instituições, entre as quais os bancos Credit Suisse e ABC Brasil e a consultoria Tendências. O economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências, destacou que indústria e do varejo perderam fôlego, enquanto indicadores de confiança estão baixos.

O resultado ruim de junho fez o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, alertar que IBC-Br é um indicador de tendência e não uma prévia do PIB:

– Não é correto afirmar que projeta variação do PIB negativa no segundo trimestre.

Reação em cadeia

-Preocupado com a inflação, o BC começou a subir o juro básico da economia (taxa Selic) em abril de 2013. Estava em 7,25% ao ano e, após nove alta seguidas, chegou a 11% em fevereiro, patamar que se mantém.

-Com a ajuda da diminuição dos preços dos alimentos, a inflação desacelera há quatro meses. Em junho, ficou em 0,01%. Mas, no acumulado de 12 meses, está em 6,5%, o teto da meta oficial.

-O efeito colateral é a redução do ritmo da economia. Taxas mais altas tornam mais caro para as empresas investirem em equipamentos ou para o consumidor comprar um bem financiado.

-O resultado foi que o PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2014 desacelerou e subiu apenas 0,2%, após crescer 0,4% nos últimos três meses do ano passado.

-A retração da atividade também é evidenciada pelo IBC-Br, calculado pelo BC. Em junho, caiu 1,48%, o menor nível desde maio de 2013.

Luiz Sérgio Henriques A crueldade de agosto

- O Estado de S. Paulo

Observando nosso imaginário político, talvez agosto, e não abril, ao contrário do que supunha T.S. Eliot, seja o mais cruel dos meses, aquele que nos coloca violentamente, do ponto de vista simbólico, diante da Roda da Fortuna, a misturar memória histórica, névoa do presente e futuro indecifrável. A morte de Eduardo Campos, além do drama humano que comporta e envolve todos os que o acompanhavam, acrescenta elementos adicionais de interrogação ao atual período pré-eleitoral, que, mal comparando, se assemelha àquela drôle de guerre que antecedeu, em 1939-1940, os combates propriamente ditos.

Em nossa particular "guerra estranha", o contexto pré-eleitoral estava, como ainda está, aberto a todos os desenvolvimentos, não excluído o que necessariamente decorre de traço elementar de um regime democrático: a existência de oposição ou oposições viáveis e capazes de vencer legitimamente, fato catalogado por Bobbio em sua definição mínima de democracia. Mas as notícias vindas das primeiras escaramuças e sondagens são mais do que ambíguas: um desejo de mudança da parte majoritária do eleitorado se associa ao favoritismo da presidente Dilma. A possibilidade de uma vitória da presidente em primeiro turno não pode ser cancelada em absoluto, assim como, em segundo turno, parecem crescer as chances de qualquer um dos oposicionistas mais bem colocados. A alta rejeição a um estilo de mando não implica, como era de esperar, a adesão entusiasmada às alternativas propostas. E assim poderíamos prosseguir amplamente.

Mais preocupante do que a indeterminação eleitoral, afinal inscrita na própria natureza das competições, especialmente no início, são os sinais de apatia da sociedade. Esses sinais se mostram ora no elevado número de cidadãos que declaram o voto em branco ou nulo, ou a decisão de se abster, ora no dado, já incontornável, da queda do número de jovens cujo voto é facultativo. Uma democracia de baixa intensidade, dir-se-ia, em que o cinismo, certo ou erradamente atribuído à "classe política" e aos governantes, gera e consolida a indiferença do homem comum: ruas e instituições parecem se afastar, num movimento que, levado além de certo ponto, solapa as bases de qualquer democracia, mesmo se definirmos esta última de acordo com as regras mínimas de Bobbio.

O visível mal-estar da sociedade, que veio à tona há pouco mais de um ano nas manifestações de junho, logo esvaziadas pelas estratégias de "ação direta" e seu cortejo de violências, convive paradoxalmente com um fato destinado a marcar época, a saber, a ascensão da esquerda petista ao poder central. Uma esquerda com pretensões de refundar o País, de produzir um novo começo de sua História, nisso não inteiramente distante da centro-esquerda de Fernando Henrique com a ideia de reinventar o capitalismo além da "era Vargas". Hipóteses para a difusa insatisfação coletiva não faltam e uma delas reside exatamente na deliberada exacerbação das diferenças entre esquerda e centro-esquerda, a ponto de tucanos e petistas praticamente monopolizarem a disputa presidencial no período pós-democratização, exceção feita à aparição meteórica de Collor de Mello em 1989.

É provável que na cultura política de tipo sindicalista, complementada pelas frações de extrema esquerda que conformaram o petismo, devam ser buscadas primariamente raízes e razões de tal exacerbação artificial. Rendosa eleitoralmente, ao garantir para o petismo vitórias insofismáveis em 2002, 2006 e 2010, a contraposição frontal com os tucanos, de fato, empobrece a esfera pública e faz a vida política girar permanentemente em falso, segundo lógica absurda em contexto democrático, ao abrir abismo intransponível entre "amigos" e "inimigos".

No plano institucional, a estratégia implicou a decapitação dos partidos tradicionais de direita ou centro-direita, seja pela cooptação direta, seja por razias, como a criação do PSD, que esvaziaram forças oposicionistas praticamente até a irrelevância. No plano da relação com a sociedade, a mesma disposição para a fagocitose, o enquadramento e a subjugação, como no decreto sobre os conselhos populares, no qual se adivinha uma mal disfarçada concepção estatista da política. Esta, por definição, antes hegemonista do que verdadeiramente hegemônica, convive mal com a dialética democrática e concede reduzido espaço até mesmo aos aliados.

Esse é o quadro que viu nascer nos últimos meses brechas e inquietações no bloco de poder. Um partido histórico, ainda que fragilizado e por vezes irreconhecível, como o PMDB, mostra-se recorrentemente arredio a aventuras extraconstitucionais, como se, a despeito de si mesmo, guardasse a memória genética da saga da resistência nos anos de chumbo. E não pode ser outro o legado de Eduardo Campos e sua terceira via, em diálogo não isento de conflitos com o ambientalismo de Marina da Silva, ainda não testado em posições de governo, mas certamente em linha com novíssimas exigências de requalificação ecológica da economia.

Pode-se argumentar que os últimos 12 anos foram de intensa incorporação social, ainda que seja muito pouco rigoroso deixar de correlacionar tal incorporação e a relativa prosperidade de um país produtor de matérias-primas num mundo assombrado pelo avanço do "capitalismo perfeito" da China - um capitalismo sem sindicatos e com um só partido. Não terá sido essa, no entanto, a contribuição decisiva da esquerda para a cultura política brasileira. Tudo somado, a posição de Campos, apontando para a recuperação atualizada do velho PSB, implica a postulação de uma outra esquerda, mais respeitosa das instituições e dos procedimentos da democracia dita formal - na verdade, o caminho real para as mudanças substantivas.

Tradutor e ensaísta,É um dos organizadores das 'obras' de Gramsci no Brasil

Merval Pereira: O testamento de Campos

- O Globo

A oficialização da candidatura de Marina Silva à Presidência da República pelo PSB está sendo encaminhada sem grandes turbulências, embora aqui e ali surjam boatos que ainda tentam inviabilizar a escolha, que tem praticamente a unanimidade não apenas nos partidos aliados como também na família de Eduardo Campos, empenhada em reafirmar seu legado durante a campanha eleitoral.

Cotada até mesmo para a vice na chapa com Marina, o que dificilmente acontecerá, a viúva Renata Campos está disposta a fazer campanha com Marina, levando a mensagem de seu marido aos programas eleitorais, comícios e passeatas, especialmente em Pernambuco.

Marina, mais do que nunca, representaria um eleitorado que quer uma experiência extrema de não política tradicional no poder. Os que defendem seu nome dizem que as ruas não perdoarão o PSB se, mais uma vez, Marina for impedida de se candidatar à Presidência por uma manobra de bastidores comandada pelo Palácio do Planalto.

Marina seria a candidata das ruas, e tentarão fixar em Aécio Neves, do PSDB, a imagem de que é o candidato dos políticos. Essa definição pode afetar a receptividade de Aécio em parte do eleitorado que rejeita a política tradicional, mas o que ele tem de mais eficiente são as negociações de bastidores para montar sua base de apoio, o que faltará a Marina, mesmo que hoje ela tenha no PSB uma organização partidária maior do que a do Partido Verde em 2010.

Por outro lado, uma candidatura não comprometida com acordos políticos e estruturas partidárias pode ter dificuldades na campanha e afastar um eleitorado que não quer se meter em aventuras. A expectativa de poder que Marina exala, no entanto, faz com que, pelo menos neste primeiro momento, as divergências regionais sejam superadas por um espírito de conciliação.

Os representantes do agronegócio já começaram a emitir sinais de que não recusarão o apoio a Marina, e a palavra de ordem no momento é de apoio ao programa básico para o setor, apresentado por Eduardo Campos na reunião com a Confederação Nacional da Agricultura em Brasília. Se Marina, que estava presente à reunião, confirmar esses compromissos, não haverá maiores problemas nas coligações montadas por Eduardo Campos.

O deputado federal Alfredo Sirkis, do PSB, que é o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, ressalta que existem muitos pontos de convergência entre o grupo político de Marina e os representantes não apenas do agronegócio, como também da agricultura familiar, o que abrange da agricultura de baixo carbono à recuperação de pastagens e outros tópicos. Para ele, as divergências são superestimadas, quando existe um vasto campo de convergências que podem ser exploradas neste momento.

A questão agora parece estar nas mãos de Marina, que já autorizou que seu nome seja levado às diversas instâncias partidárias. O vice da chapa deve ser o candidato ao Senado no Rio Grande do Sul Beto Albuquerque, que já conversou ontem com Marina. Os setores da aliança mais diretamente ligados às eleições, ou “os que têm voto” na definição de um pessebista, já estão unificados em torno dessa chapa, e convencidos de que uma candidata como Marina, que tem no misticismo uma característica natural, poderá aproveitar este momento para potencializar a votação da aliança unindo a representatividade da “nova política” que ela e Eduardo Campos defendiam à comoção causada pela morte do líder, ajudando a levar suas bandeiras, como já defendeu seu filho mais velho.

As palavras finais de Eduardo Campos na entrevista ao “Jornal Nacional”, na véspera de morrer, já estão sendo tratadas como uma espécie de testamento que vai dar base à toda a campanha: “Agora, ao lado da Marina Silva, eu quero representar a sua indignação, o seu sonho, o seu desejo de ter um Brasil melhor. Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente, de reunir uma agenda. É essa agenda que nos reúne, a agenda da escola em tempo integral para todos os brasileiros, a agenda do passe livre, a agenda de mais recursos para a Saúde, a agenda do enfrentamento do crack, da violência. O Brasil tem jeito. Vamos juntos. Eu peço teu voto”.

Cláudio Couto: A segunda inflexão de Marina?

- O Estado de S. Paulo

Num cenário político percebido cada vez mais como marcado pela amoralidade pragmática, ou mesmo pela imoralidade pura e simples, a liderança de Marina Silva parece se diferenciar. Enquanto políticos dos mais diversos partidos parecem não se incomodar com alianças até poucos anos atrás improváveis, mudanças repentinas de posição e concessões consideráveis com respeito a seus princípios mais fundamentais, Marina é vista como alguém que evita certas aproximações e se mantém fiel às convicções.

Tal imagem não é mera miragem e se deve a muitos dos posicionamentos por ela assumidos ao longo de sua trajetória política. Primeiro nome anunciado para o ministério do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Marina despontava como um grande trunfo simbólico do novo governo petista que se iniciaria. Afinal, se forjara numa luta coerente no movimento social ambientalista, iniciada ao lado do mártir Chico Mendes e coroada por uma atuação destacada no Senado. Mais do que isso, sua trajetória pessoal, marcada pela superação das condições mais adversas - inclusive de saúde -, credenciavam-lhe como uma lutadora incansável e destemida.

Todo esse percurso foi importante, mais tarde, para dar coerência ao momento de sua guinada, quando deixou o Ministério do Meio Ambiente para, pouco tempo depois, abandonar o PT. Parecia que o partido mudara, mas não ela. Ou, ao menos, se ambos mudaram, fizeram-no de formas distintas: um, afastando-se de seus princípios norteadores originais, a outra, aprofundando-os.

Adveio daí um novo reforço de sua imagem de integridade, já que a ruptura com a agremiação na qual construíra sua carreira política se apresentava como uma reafirmação da própria identidade.

Foi esse seu trunfo decisivo na bem sucedida candidatura presidencial alternativa em 2010, quando se sagrou a mais bem votada terceira colocada das eleições presidenciais no Brasil desde a redemocratização. O resultado surpreendente lhe catapultou a um novo patamar no cenário político nacional, tornando quase inevitáveis a recandidatura e o projeto de liderar a criação de um partido de tipo novo, o Rede Sustentabilidade.

O malogro da criação da nova agremiação em tempo hábil para as eleições de 2014 tornou difícil a recandidatura, sobretudo para quem se esforçava em manter uma trajetória especialmente coerente. Diante disso, abdicou por lançar-se por uma agremiação qualquer (como o PPS, que lhe desejava) e buscou abrigo no PSB, que hipotecara apoio moral ao seu projeto desde antes.

Esse ingresso na agremiação de Eduardo Campos ensejou uma conduta que combinava, paradoxalmente, humildade e intromissão. Por um lado, desde a primeira hora Marina e seus aliados anunciavam que não entravam ali para solapar o projeto presidencial de quem lhes hospedava. Por outro, uma vez formada a chapa presidencial na qual secundavam o líder do partido, puseram-se a palpitar e criticar as alianças regionais do PSB, bem como a marcar posições que dificultavam (ou mesmo implodiam) certas aproximações já desenhadas por Campos - como ocorreu com o agronegócio.

De qualquer modo, o ingresso no PSB, no último dia do prazo para filiações, representou uma inflexão pragmática da aparentemente idealista Marina Silva. Obrigou-lhe a relativizar o purismo de sua imagem, marca de sua trajetória. Explicitou que também ela possui um traço comum às lideranças políticas de maior envergadura, poder e ambição: a capacidade de estabelecer soluções de compromisso.

Após a tragédia, caso se torne mesmo a candidata presidencial por um partido que apenas lhe deu abrigo provisório e com o qual mantém relações tensas, Marina terá de iniciar um processo de recomposição, concessões e flexibilizações. Será uma nova inflexão pragmática. Caso venha a vencer, o treino lhe terá sido muito útil.

Fernando Rodrigues: Política inorgânica

- Folha de S. Paulo

Tudo indica que Marina Silva será a candidata a presidente da República pelo PSB. Substituirá Eduardo Campos, morto no acidente aéreo da última quarta-feira (13).

Para além do impacto eleitoral, a tragédia e a possível unção de Marina servem também como um alerta renovado sobre a falta de organicidade na política brasileira.

Uma das falas de Hamlet a respeito da morte é a conhecida "estar pronto é tudo" ("readiness is all"). Parece-me uma exigência dificílima para qualquer um. Só que os partidos e os políticos brasileiros exageram e vivem no limite da falta de planejamento para momentos adversos.

É notória a fragilidade das agremiações políticas. O drama vivido pelo PSB torna a legenda epítome dessa debilidade. A sigla dependia de Eduardo Campos como precisamos todos de oxigênio para respirar. A morte do pernambucano mostrou um agrupamento mergulhado em interesses paroquiais. Cada um pensando na sua sobrevivência eleitoral local. Nem de longe a maioria dos pessebistas se assemelha ao discurso campista da nova política.

A própria escolha de Marina Silva, se vier, será apenas pragmática. Um nome com robustez eleitoral na disputa pelo Planalto é útil aos candidatos a deputado pelo PSB. Vão acelerar suas campanhas, entrando no vácuo produzido pelo rastro marinista --e pela exposição do número 40, o do PSB, que serve a todos na urna eletrônica.

Mesmo com todas as divergências que possam existir entre Marina e o PSB, o projeto com ela candidata tende a dar ao partido uma bancada maior a partir de 2015. Mas a pergunta é: para quê? Esse exército de políticos, cada um pensando de uma forma, estará unificado no Congresso em torno da proposta central que uniu Marina a Eduardo Campos?

Perto de completar 30 anos de democracia formal, o Brasil ainda está longe de conviver com instituições político-partidárias maduras.

Vagner Gomes de Souza : Lição da Política no Momento da Dor

O precoce desaparecimento do presidenciável Eduardo Campos, que liderava a coligação Unidos Pelo Brasil (PSB – PPS – PHS – PSL – PPL - PRP) além de receber apoio da REDE Sustentabilidade (legenda partidária em formação), coloca o inesperado da fortuna em meio dos rios caudalosos de nossa conjuntura política nacional. Não se deve esperar dos atores políticos tamanha criatividade diante do arcaísmo de nossas forças partidárias, porém a “grande política” deve ser o norte de nossas reflexões.

O acidente interrompeu uma candidatura política de uma vertente da Oposição. Essa vertente não se considera representada no quadro político brasileiro pelos descaminhos da política “congelada” num sistema em constante espera por reformas. Os indicadores econômicos não são favoráveis para garantir os ganhos sociais dos últimos anos e essa vertente da Oposição defendia outra postura diante dessa situação. Portanto, deixar esse campo político vazio somente deixará o debate eleitoral mais pobre. Não se trata de quebrar polarizações, mas simplesmente de qualificar um processo político sem se deixar levar pelos “cantos das sereias” do conformismo.

O núcleo político da coligação tem uma herança democrática e progressista que deve ser respeitada. Ela sempre priorizou em sua trajetória o programa para além de nomes ou personalidades. A palavra “viabilidade eleitoral” é menor se pensarmos na importância da “viabilidade democrática”. Eixo importante nesse momento é colocar nossa sociedade no debate eleitoral seja quem for a melhor personalidade da conjuntura para representar esse discurso.

Os “tecnocratas da Ciência Política” lançam profecias sobre “candidaturas naturais” sem citar propostas ou vertentes políticas. A “candidatura natural” é respaldada em mobilização da sociedade em torno de um programa. Sempre foi esse o eixo de ação política das forças políticas no mundo e no Brasil. Não se deve alimentar os vícios do “sebastianismo político” de nossa cultura ibérica sob perigo para a nossa democracia. Em primeiro lugar, essa vertente da oposição deve esclarecer sua estratégia política para esse debate eleitoral. Em seguida, compor a melhor chapa para essa proposta.

Não é um rito simples por há a dor de uma perda por um articulador. Contudo, nesses momentos os núcleos dirigentes precisam emergir e dar exemplos de renúncias de interesses menores e eleitoreiros. A hora é própria para expor os motivos de um jovem político não ter aguardado 2018 para se lançar como candidato a Presidência da República. Fazer a diferença com discurso de mobilização da sociedade. O prazo de dez dias é pouco diante da tamanha tarefa da grande política. Entretanto, se deixarem a virtu afastar os ventos dos predestinados será uma oportunidade para que tenhamos dez dias para abalar a política nacional com grandes surpresas.

Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRRJ

Rosiska Darcy de Oliveira: Não desistam do Brasil

• Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O que não quer dizer que a esperança que despertava morra com ele

- O Globo

Quando um acidente fatal acontece instala-se um sentimento de absurdo. Aconteceu como poderia não ter acontecido. E, entre essas duas possibilidades, seja para uma família ou para um país, cava-se um abismo. A vida que poderia ter sido e a que, doravante, será. E, contra todas as expectativas, um aprendizado: o acaso tem sempre a ultima palavra.

A desgraça que se abateu sobre Renata Campos e seus cinco filhos é difícil de aceitar. O Brasil perde com a morte de Eduardo um dos raros homens públicos que despertavam entusiasmo em tempos em que políticos têm merecido da população indiferença, quando não asco. Sua última entrevista ao “Jornal Nacional” na véspera da tragédia mostrou, sob duro questionamento, alguém capaz de olhar nos olhos de seus eleitores. “Não vamos desistir do Brasil” foi sua última mensagem, que calou fundo mesmo em almas gastas pelos dissabores.

Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O que não quer dizer que a esperança que tinha e que despertava morra com ele. Renata, uma mulher forte, há de saber, com o poeta Drummond, que “as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”. Os filhos de Eduardo vão crescer — o mais velho, João, já se manifestou nas redes pró-candidatura de Marina Silva com um límpido argumento: não teria sentido apoiar Dilma, que era sua adversária, em detrimento de Marina, que seria sua vice. O que se lhes pode desejar é que não percam o gosto da política que trazem no sangue e o olhar atento sobre as injustiças.

Eduardo Campos foi um ar fresco na atmosfera viciada dos partidos. Sua morte soma a perplexidade de seus eleitores ao já agudo desencanto que fere os jovens — é neles que penso — de quem precisamos tanto, já que são os autores do futuro. A credibilidade junto à juventude é um bom sinal.

O país tem uma dívida de gratidão com quem lutou contra a ditadura e trouxe o Brasil de volta à democracia, mas é preciso reconhecer que o ciclo que começou com o golpe de 64 está terminando. Cai o pano sobre seus atores. Partidos nascidos deste ciclo se afrontam nas urnas enquanto passa ao largo uma juventude para quem suas propostas estão esgotadas e que dá as costas a um quadro institucional falido.

Trinta anos atrás milhões de brasileiros foram às ruas exigindo eleições diretas. Hoje, às vésperas de uma eleição democrática, a juventude promete votos brancos e nulos. Sequer se inscreve para votar. A recusa da juventude tem raízes profundas e é uma história em curso.

PSDB e PT completaram a transição da ditadura para a democracia — obra do povo brasileiro — consolidando as liberdades públicas, estabilizando a moeda e combatendo a pobreza. A sociedade metabolizou essas conquistas. O que antes era percebido como favor do Estado, hoje é afirmado como direito. Os jovens acusam quem governa e quem legisla de estelionato contra a população. Vivem o Estado como sucata e a eleição como pantomima.

Na recusa visceral aos políticos e à politica partidária há uma mensagem a ser decifrada. Essa juventude não diz, como diziam seus pais, que “um outro mundo é possível”. Acredita que “outra vida é possível”. Vivencia a política no cotidiano, ancorada em escolhas existenciais. Seu espaço e tempo são aqui e agora. A experiência vivida é o seu horizonte.

Ouvir os jovens rejuvenesce: recusa radical da corrupção e da impunidade, exigência de serviços públicos eficientes, uma nova esfera pública onde tudo se sabe, tudo é debate, a juventude demonstrando nas redes sociais uma insuspeita capacidade de argumentação e uma expectativa de justiça que corrija as desigualdades.

Não estão incluídos entre os que rejuvenescem a democracia os jovens violentos que vivem no passado e citam Bakunin. Esses situam-se entre o ridículo e o patético.

Melhorar a qualidade da política e da democracia era o objetivo anunciado de Eduardo Campos que, muito jovem, entrou no PSB. Caberia a pergunta: o jovem descrente da politica por que não entra em um partido para tentar mudá-la? Porque partidos esclerosados não são as estruturas que melhor acolhem sua maneira de agir por uma causa. Movem-se em agrupamentos virtuais ou de corpo presente com um fim determinado, flexíveis e ágeis como são seus relacionamentos nas redes.

A morte de Eduardo torna imprevisível o resultado da eleição. Espera-se que Marina o substitua como candidata. Os jovens, nas redes sociais, já começaram sua campanha. Menos votos nulos e brancos? Quaisquer que sejam os caminhos que tomem, os votos que deem ou que neguem, há que insistir: não desistam do Brasil.

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Demétrio Magnoli: Ruptura da ruptura

• Eduardo Campos, ainda hesitante, escolhia um lugar para o retrato de Lula na galeria do passado

- Folha de S. Paulo

Morremos porque um dia Deus puniu nossa desobediente ousadia de buscar o conhecimento, tornando-nos humanos. Eduardo Campos morreu em meio a uma trajetória política, mas, sobretudo, na hora crucial de um percurso de ruptura intelectual. Na campanha ao Planalto, o neto de Miguel Arraes e antigo protegido de Lula tentava completar algo como uma libertação pessoal, definindo seu lugar na cena brasileira. Um acaso trágico, ruptura súbita de uma ruptura progressiva, interrompeu a escritura do capítulo final da história.

"Versão moderna de um coronel nordestino tradicional" --a síntese ambígua escolhida em 2012 pela "The Economist" para classificá-lo talvez servisse como uma fotografia banal, mas não captava o fluxo da vida. O "coronel" cerca-se dos seus, distribuindo os destroços da coisa pública ao séquito dos "compadres". Campos, pelo contrário, distinguiu-se no governo de Pernambuco por um esforço persistente, nem sempre bem sucedido, para insular a máquina estatal dos interesses das camarilhas. Quando seus restos mortais baixarem à sepultura de Arraes, será tão legítimo celebrar a ruptura quanto a continuidade.

Campos provou que o Bolsa Família não congela a política. Dois anos depois de, com o respaldo de Lula, obter 83% dos votos na reeleição ao governo estadual, sua liderança catapultou Geraldo Júlio a um improvável triunfo na disputa municipal do Recife contra o candidato lulista. Naquela hora, convenceu a si mesmo, e ao mundo político, de que já não precisava ser um apêndice do presidente de fato. Ingrato, oportunista, traíra? Os epítetos lançados pelo PT, até quarta-feira incorporados à campanha dilmista e ainda reverberados pelos "companheiros de viagem", circulam na esfera da difamação. Campos ambicionava o poder, como qualquer político, mas sua ruptura refletia divergências de princípio.

No Brasil, vezes demais, sacrificamos a clareza no altar dos afetos. Um "lulismo sem Dilma", como parecia propor o candidato Campos, não era uma narrativa política viável, mas um tributo pago pelo presente ao passado --e uma renúncia voluntária à crítica justa. O fato, porém, é que o ex-ministro de Lula rejeitava a sujeição do interesse nacional à ideologia ("Nós não podemos ter diplomacia de partido. Nós temos de ter uma diplomacia de país"), acreditava na meritocracia ("Eu fiz salário variável na educação, na saúde, na segurança pública") e esboçava um desafio à partidocracia ("A nossa perspectiva é que os cargos comissionados, algo como metade deles, sejam exclusivos dos servidores de carreira").

Aprender e evoluir não é trair. Na sua ruptura, Campos pisou a fronteira do tabu ao concluir que os programas de transferência de renda devem funcionar como ponto de partida, não de chegada, e sugerir uma "política social 2.0". "Vemos as filhas do Bolsa Família serem mães do Bolsa Família. Vamos assistir a elas serem avós do Bolsa Família?", indagou com uma coragem incomum entre os políticos. O "ciclo da pobreza", explicou, só será ultrapassado pela qualificação dos serviços universais de educação e saúde. Ele não disse, nem precisaria, que os beneficiários políticos do "ciclo da pobreza" entrincheiraram o país no castelo da "política social 1.0".

O "menino de Arraes", na expressão cunhada por um rival em Pernambuco, pendurou o retrato do avô na parede, mas mordeu a maçã da desobediência, procurando uma trilha ainda não devassada. Em sua campanha ao Planalto, martelo e pregos à mão, ainda hesitante, escolhia um lugar adequado para o retrato de Lula na galeria do passado. Nessa tendência a se desviar encontram-se as fontes da saraivada de recriminações que lhe dirigiam as páginas de propaganda lulopetistas, apagadas às pressas logo depois da queda do Cessna PR-AFA.

Ruptura da ruptura, história incompleta. Cada um pode imaginar seu final preferido.

Rolf Kuntz: A mágica do mercado interno virou fumaça

- O Estado de S. Paulo

Perdido o primeiro semestre, o governo terá de rezar com muito fervor para fechar o ano com o mísero crescimento econômico previsto há dois meses pelo Banco Central (BC), 1,6%. No setor privado as apostas há muito tempo estão abaixo desse número. No dia 8 a mediana das projeções do mercado, coletadas entre instituições financeiras e consultorias, já estava em 0,81%. Quatro semanas antes havia chegado a 1,05%. Só no fim do mês o IBGE divulgará os novos números do produto interno bruto (PIB) e mostrará, de acordo com os padrões oficiais, o tamanho do desastre nos primeiros seis meses. Por enquanto, a informação mais aproximada é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Publicados na sexta-feira, os dados mostraram queda mensal de 1,48% em junho e crescimento de apenas 0,08% no semestre. Esses números são da série depurada de efeitos sazonais.

A Copa das Copas tem sido usada como desculpa, ou meia explicação, para o emperramento da atividade em junho: menos dias de trabalho, adiamento de compras e coisas parecidas. Mas a Copa das Copas, também anunciada como a melhor de todos os tempos, durou umas quatro semanas. A economia, no entanto, foi mal durante seis meses - sem contar, é claro, o período entre o começo de 2011 e o fim de 2013. A presidente Dilma Rousseff e sua equipe cuidaram de manter em 2014 um desempenho econômico à altura dos três anos anteriores. Não tomaram, pelo menos até agora, uma única e solitária medida para renegar o padrão. Seu sucesso é confirmado pelos principais indicadores - contas públicas em frangalhos, inflação ainda ameaçadora, investimento baixo e balanço de pagamentos esburacado.

O baixo investimento é explicável tanto pela má condução dos programas oficiais quanto pela desconfiança dos dirigentes da indústria. Muitos podem até apoiar politicamente o governo e aplaudir o protecionismo e os favores setoriais, mas aplicar dinheiro em máquinas, equipamentos e instalações é outra história. A produção de bens de capital no primeiro semestre foi 8,3% menor que a de um ano antes, segundo o IBGE. Os empresários terão substituído máquinas e equipamentos nacionais por estrangeiros? Nem isso. O valor gasto com a importação desse tipo de produto, entre janeiro e julho, foi 6% menor que nos sete meses correspondentes de 2013, pela média diária.

Apesar disso, fabricantes estrangeiros de bens de capital até podem ter ocupado uma parcela maior do mercado interno. Mas, no balanço geral, tudo indica, por enquanto, um corte do investimento em bens de produção. A pior situação, de toda forma, é a dos produtores nacionais, pressionados pela combinação de procura em queda e custos em alta. Com dificuldades para competir no mercado externo, têm de enfrentar, ainda, a retração dos compradores nacionais.

Na maior parte dos últimos seis anos, desde o começo da recessão internacional, o governo brasileiro alardeou o vigor e a dimensão do mercado interno como fator de segurança contra a crise. A insistência nos estímulos ao consumo foi uma consequência dessa concepção - e da percepção errada, naturalmente, do problema e das soluções possíveis.

Se a presidente e sua equipe fossem mais atentas aos fatos, teriam percebido há muito tempo os erros de sua estratégia. Apesar dos incentivos fiscais a alguns setores, da expansão do crédito e da elevação da renda dos consumidores, a indústria brasileira teve um desempenho muito fraco durante os últimos anos. Alguns setores mais beneficiados pelos incentivos conseguiram boas vendas e lucros, durante algum tempo, porém nem esses aproveitaram as vantagens para ganhar poder de competição. Mas até a mágica do mercado interno parece estar acabando, como indicam os últimos números do comércio varejista. De janeiro a junho, as vendas foram 4,2% maiores que as do primeiro semestre do ano anterior, sem contar veículos, componentes e material de construção. Com a inclusão desses itens, a diferença fica em apenas 0,1%.

O mercado interno está sendo incapaz de acompanhar a produção de automóveis, disse na quarta-feira o vice-presidente da associação nacional das montadoras, Antônio Carlos Botelho Megale. A solução, segundo ele, é exportar mais. Outros segmentos mal acompanharam - ou nem acompanharam - a expansão da procura, nos últimos anos, como indica o aumento de importações. Todos estariam agora em melhor situação, e com melhores perspectivas, se houvessem cuidado mais do poder de competição e da ocupação de espaços dentro e fora do País.

Para exportar a indústria automobilística depende amplamente do mercado argentino, estagnado e protegido. A maior parte das indústrias, com algumas exceções notáveis, acostumou-se a exportar principalmente para os vizinhos. Agora nem esse mercado é garantido, por causa da invasão da turma da Ásia. Até no Mercosul esses competidores têm deslocado os brasileiros. Mas a concorrência vem também de economias desenvolvidas, facilitada pelos acordos comerciais dos latino-americanos com as potências da América do Norte e da Europa.

Esnobar o mundo rico foi uma das espertezas da diplomacia comercial brasileira a partir de 2003. Boa parte da indústria aceitou esse jogo e se acomodou como fornecedora de países da vizinhança. Alguns exportadores continuaram batalhando pelos mercados da Europa e dos Estados Unidos. Mas tiveram problemas crescentes de competitividade. O ambiente de ineficiência - tributação irracional, logística ruim, inflação elevada, intervencionismo desastrado, etc. - prejudicou também as empresas bem organizadas e equipadas. Nos últimos 12 anos o País foi orientado para jogar na segunda ou na terceira divisão. Falta explicar esse detalhe ao resto do mundo e pedir compreensão.

Jornalista

Miriam Leitão: Palavras indesejadas

- O Globo

Quando o Banco Central divulgou ontem que o IBC-Br, índice no qual ele antecipa a tendência do PIB, mostrou queda de 1,5% em junho e um número negativo no trimestre, de 1,2%, uma das perguntas que surgiram foi se o país está em recessão. A resposta é simples: ainda não se pode dizer isso. A outra pergunta tem resposta mais complicada: o que fazer para retomar o crescimento?

O dado de ontem foi a quinta retração mensal consecutiva do IBC-Br. Em bases trimestrais, houve queda no quarto trimestre do ano passado, estagnação no primeiro deste ano, e nova queda agora no segundo. Tecnicamente, dois trimestres consecutivos de número negativo é recessão. Mas o índice do Banco Central é apenas um composto de números que mostra a tendência. O PIB do segundo trimestre será divulgado pelo IBGE no dia 29 de agosto. Ele, muito provavelmente, será de queda. Se o PIB do primeiro trimestre, ao ser revisto como normalmente acontece, sair do 0,2% de alta para o terreno negativo, pode-se dizer então que o país está em recessão, palavra que ninguém quer ouvir.

Mas isso será apenas uma formalidade, porque o país não está crescendo. Os números estão muito ruins, e o IBC-Br mostrou isso. Tudo esteve em queda neste mês de junho, e o trimestre foi de fato muito fraco. Não foi apenas a Copa, mesmo quando se separa o efeito dos dias parados dos jogos o resultado mostra um país em forte desaquecimento. Para piorar, há ainda a inflação no limite máximo da tolerância, o que impede um corte forte nos juros que facilite uma retomada.

O economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, acredita que o primeiro passo para voltar a crescer é recuperar a confiança. Seria preciso um choque de credibilidade na política econômica, para inverter a crise de confiança que está paralisando investimentos:

— Para que o ajuste tenha o menor impacto possível na vida das pessoas, é preciso que haja confiança na política econômica. Isso facilitaria o trabalho do Banco Central de combater a inflação e destravaria os investimentos.

Essa mudança de clima pode acontecer durante a campanha ou ao fim do processo eleitoral, se a pessoa eleita souber apresentar propostas de solução que convençam os investidores. Essa virada de humor pode acontecer mesmo no cenário de a presidente Dilma ser reeleita, mas o governo teria que sair do estado de negação dos problemas, abandonar o receituário de sempre e apresentar algo novo e realmente mobilizador.

A economista Silvia Matos, também do Ibre, estima uma retração do PIB de 0,4% no segundo trimestre. A mesma taxa que é projetada pelo Itaú. O Banco ABC Brasil estima uma queda de 0,3%, e a LCA consultoria prevê menos 0,1%.

Mesmo que o número surpreenda e seja positivo, ainda assim não melhora muito. Tudo que acontece é fugir do estigma da palavra recessão. Mas não se escapa da realidade que as pessoas sentem e os números têm contado. Esta semana, por exemplo, saiu a queda de 0,7% nas vendas do comércio, em junho. No varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, foi a segunda retração seguida.

O presidente do Banco Central disse na semana passada no Senado que o país está longe da estagflação, palavra também indesejada. A inflação zero de julho pareceu dar razão a ele. O problema é que no ano a taxa está nesse fura-não-fura o teto da meta. E o crescimento está bate-não-bate no piso. Mesmo que as palavras indesejadas saiam do dicionário, o governo precisa reconhecer que a economia está com problemas. Do contrário, não conseguirá encontrar o remédio certo.

Painel :: Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Janela aberta
O PSB lançará Marina Silva ao Planalto sem exigir que ela permaneça no partido se for eleita. A promessa é do novo presidente da sigla, Roberto Amaral. "Isso estava no pacto. Ela pode se eleger, criar seu partido e sair", afirma. O grupo de Marina temia que o PSB cobrasse a sua permanência na legenda até o fim de um eventual mandato na Presidência. Isso travaria o projeto de criação da Rede Sustentabilidade, o novo partido que ela começou a organizar depois de romper com o PV.

Palavra Segundo Amaral, o PSB sabe que Marina só se filiou porque não conseguiu registrar sua nova sigla. "A entrada dela foi um arranjo político porque a Rede não obteve registro. Sem isso, todos os candidatos dela estariam inelegíveis hoje."

Exigências O PSB se deu por satisfeito com a sinalização de que Marina aceita encampar o discurso desenvolvimentista e respeitar os acordos regionais firmados por Campos. "As alianças já estão postas e terão que ser respeitadas", afirma o ex-ministro.

Sapos Isso significa que a nova presidenciável se compromete a engolir alianças com candidatos a governador que ela não desejava apoiar, como Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e Lindberg Farias (PT), no Rio.

Mudou Dirigentes do PSB contam que Amaral defendia, na noite de quinta-feira, que o partido indicasse um integrante histórico como novo cabeça de chapa. Mesmo sabendo que Marina não aceitaria continuar na vice.

Motim Integrantes do partido já faziam planos para referendar o lançamento de Marina à revelia do novo presidente, próximo ao PT de Lula e Dilma Rousseff.

Contatos Além de Lula, Amaral conversou com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, após a morte de Campos. "Só transmiti a ele minha solidariedade e pêsames. Nada mais", jura Falcão.

Alambrado O novo presidente do PSB afirma que Lula não sugeriu nenhum pacto que favorecesse Dilma na corrida presidencial. "Ele nem tocou no assunto. Meu pai dizia: a gente só fura a cerca que não conhece."

Dileto Beto Albuquerque foi o único político do PSB a ser recebido por Marina já na quinta-feira. Disse à ex-senadora que ela precisava abraçar o partido, ferido pela perda repentina de Campos.

RH Apesar do favoritismo de Albuquerque, ainda há no PSB quem defenda um vice com "perfil executivo", mais próximo ao de Campos.

Reconhecimento Conta a favor de Albuquerque o fato de ele ter alinhado PSB e Rede no Rio Grande do Sul. A sigla apoiaria Ana Amélia (PP), mas desistiu para se aliar a José Ivo Sartori (PMDB), ligado a Pedro Simon.

Solo O deputado Márcio França (PSB-SP) baixou a resistência a Marina. Manteve, entretanto, a ideia de que o partido se fragiliza em São Paulo, já que ela não se vinculará a Geraldo Alckmin (PSDB), de quem é vice.

Recomeço O marqueteiro Diego Brandy já iniciou a seleção de imagens para o novo programa de estreia na TV, uma homenagem a Campos.

Transição Apesar do discurso de que a eleição ainda não seria abordada, integrantes da Rede se reuniram na quinta com Brandy.

Tributo Pessoas que passavam ontem em frente à sede do comitê, na zona sul de São Paulo, paravam para observar as fotos de Campos e Marina cobertas por tarjas pretas de luto. O semblante geral era de desolação.
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Tiroteio
"O ataque especulativo de Lula contra o PSB tem uma explicação: o pânico do segundo turno, uma certeza com a entrada de Marina"
DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP), candidato à Vice-Presidência na chapa de Aécio Neves, sobre o assédio do PT ao partido de Eduardo Campos.
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Contraponto
Prazer, Romário...
O ex-deputado Pedro Valadares, que morreu junto com Eduardo Campos no acidente, foi quem articulou a volta de Romário ao PSB. Desde então, era consultor político do ex-craque, apesar de não entender nada de futebol.
--É muita habilidade ficar com a bola no pé e olhar para a frente para dar um passe, sem perder o controle... --disse certa vez ao deputado, admirado.
Em um comentário, superou-se:
--Romário, você jogava na seleção na Copa de 94?
Depois de risos gerais, o tetracampeão respondeu:
--Olha, Pedro, acho que eu estava lá...