• PSB e ex-senadora discutem condições para que ela substitua Campos sem resistências internas
Julianna Granjeia, Fernanda Krakovics – O Globo
SÃO PAULO E BRASÍLIA- A ex-senadora Marina Silva aceitou ontem que seu nome seja levado oficialmente à consulta dos dirigentes do PSB como substituta de Eduardo Campos na chapa que disputará a Presidência. Essa sondagem é uma condição para assegurar que Marina entre na disputa sem resistências internas. Ela deu o aval para que o partido consulte congressistas e líderes regionais, antes de tomar uma decisão. O partido pretende apresentar oficialmente a nova chapa na próxima quarta-feira, já depois do início do horário eleitoral gratuito.
Após conversa com Marina, em São Paulo, o presidente do PSB, Roberto Amaral, e o coordenador da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira, também secretário do partido, deram início à discussão da nova composição da chapa. Em reunião fechada num hotel na capital paulista, à noite, lideranças fizeram um balanço das consultas.
Também analisaram o encontro com Marina e traçaram um cronograma para o novo arranjo.
Foi estabelecido que, na segunda-feira, Amaral se reunirá novamente com Marina e, no dia seguinte, haverá uma missa em homenagem a Campos. Nesse mesmo dia, à tarde, ocorrerá uma grande reunião com prefeitos e governadores do PSB, além de candidatos a cargos majoritários nas eleições deste ano, provavelmente em Recife. Após essas consultas, a decisão será anunciada na quarta-feira, em Brasília. Amaral admitiu que dificilmente haverá unanimidade no partido:
— Vamos construir uma solução. Essa solução não será de consenso. Essa coisa de unanimidade em partido é stalinista. Não estou atrás de unanimidade. O que estou querendo é que a solução seja compreendida por todo o partido. Meu papel como presidente é achar uma solução que possa ser de fácil absorção na quarta-feira — disse Amaral, já na madrugada de hoje.
Escolha de vice é outra polêmica
A consulta sobre o nome de Marina é necessária, dada a resistência inicial de parte do PSB à ideia de ela ser a candidata. Amaral confirmou ontem sua preferência pela ex-senadora. — O mais provável é que Marina seja a candidata, mas tomaremos a decisão apenas no dia 20 — afirmou Amaral antes da reunião que entrou pela madrugada.
Na saída do encontro com Marina, ontem de manhã, líderes do PSB disseram que foram prestar solidariedade à ex-senadora pela morte de Campos. Além de Amaral e Siqueira, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e o ex-deputado Walter Feldman, da Rede Sustentabilidade, também estiveram ontem no apartamento de Marina. A ex-senadora teria dito nesse encontro que não se opõe à consulta no partido, demonstrando que aceita ser lançada candidata à Presidência.
Hoje à tarde, dirigentes do PSB viajam para Recife, onde também devem conversar novamente com Marina. A discussão do vice de Marina será iniciada após o término dessa consulta interna e a oficialização da ex-senadora como cabeça de chapa. Há entre correligionários quem aposte que Marina, se aceitar disputar a Presidência, tentará impor o nome do vice. Entre os cotados está o de Erundina, que tem a preferência de Amaral, mas sofre resistência de um grupo no PSB. Também são considerados os nomes dos deputados Júlio Delgado (MG) e Beto Albuquerque (RS), do ex-ministro Fernando Bezerra Coelho (PE) e de Renata, viúva de Campos.
Segundo dirigentes do PSB, o posto de vice deve ser assumido por alguém que represente a renovação proposta por Campos — o que, em tese, descartaria Erundina. O partido quer ainda alguém que tenha acompanhado o processo da candidatura de Campos e honre o legado dele.
Questionado se há uma articulação para fazer de “Dona Renata”, como Campos a chamava, vice na chapa, Amaral disse ignorar esse fato:
— Não tenho conhecimento, mas ela seria um grande nome.
O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), não acredita nessa possibilidade.
— Não tenho dúvidas que, entre a maternidade e a política, a prioridade dela, pelo o que conheço bem dela, seja cuidar dos cinco filhos. Ela é uma mãe muito dedicada — afirmou Lyra. Marina conversou com Renata ontem. O telefonema, marcado pela emoção, foi da vice na chapa de Campos. As duas ainda não haviam conversado desde o acidente. Segundo relatos, Renata demonstrou serenidade.
Sobre o encontro com a direção do PSB, Marina avaliou, junto a aliados, que a iniciativa foi um “gesto do partido de condolências mútuas, mais do que qualquer outra coisa”. Como condição para anunciar Marina cabeça de chave, a direção do PSB quer que ela entenda que será a candidata do partido, e não da Rede
Sustentabilidade — partido montado pela ex-senadora, mas que não conseguiu o número suficiente de assinaturas para obter o registro a tempo de disputar as eleições deste ano.
O líder do PSB no Senado e candidato do partido ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (DF), e o deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) defenderam a opção por Marina.
— Eduardo escolheu Marina para ser sua vice por confiar nela. Nós temos que manter essa confiança. Não vejo como ela não ser a substituta — afirmou Patriota.
— A questão da Marina ser candidata é natural — disse Rollemberg.