segunda-feira, 5 de abril de 2021

Opinião do dia / Fernando Henrique Cardoso*

 

“Defendamos a Constituição, que é democrática, e saudemos os políticos que creem que é melhor apoiar quem possa chegar à Presidência sem representar um extremo. Apresentemos aos brasileiros, quanto antes, um programa de ação realista, que permita juntar ao redor dele os partidos e as pessoas para formar um centro, que seja progressista, social e economicamente. Centro que não pode ser anódino: terá lado, o da maioria, o dos pobres; mas não só, também o dos que têm visão de Brasil e os que são aptos para produzir.

Quem personificará este centro? É cedo para saber. É cedo para “fulanizar”, como diria Ulysses Guimarães. Mas é hora de promover a junção das forças capazes de se contraporem a eventuais estrebuchamentos autoritários, antes que surjam propostas que nos levem a eles. Vejo que alguns políticos se dispõem a agir para evitar que a mesmice predomine. Pelo menos é o que deduzo das declarações recentes de vários líderes da vida brasileira. A eles juntarei minha voz. Sei das minhas limitações e não tenho a ilusão de que, ao escrever que a eles me juntarei, a situação mudará. Mas, se cada um brasileiro se dispuser a falar e a agir, é de esperar-se um futuro melhor.”

*Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República. “A hora se aproxima”, O Globo / O Estado de S. Paulo, 4/4/2021.

Carlos Pereira* - Entre o ‘bandido’ e o ‘genocida’

- O Estado de S. Paulo

Polarizar afetivamente com os dois extremos é a alternativa para o centro

Estudos de psicologia política e social sugerem que a polarização política se expressa cada vez menos a partir de diferenças ideológicas, mas, fundamentalmente, por meio de conexões afetivas. A construção de identidades não requer a concordância com valores ou atitudes políticas; basta simplesmente uma sensação de inclusão a um determinado grupo e de exclusão de outro.

Assim como democratas e republicanos nos EUA, lulistas e bolsonaristas cada vez mais desgostam uns dos outros, chegando mesmo a se odiar. Esses grupos polares identificam, antes de tudo, quem somos “nós” e quem são “eles”. Os membros de cada um dos grupos se consideram superiores aos membros do grupo rival e esse julgamento está baseado em conexões de identidade e pertencimento, e não em ideologias ou políticas específicas.

Em estudo recente, mostro que eleitores que reprovaram o desempenho do governo Bolsonaro na pandemia se opuseram ao programa de auxílio emergencial quando perceberam que tal política iria beneficiar Bolsonaro. Vale salientar que a avaliação negativa da política de transferência de renda foi contraditoriamente mais forte entre eleitores de esquerda, que, a princípio, seriam favoráveis a políticas de proteção social. Por outro lado, os apoiadores do presidente, que ideologicamente seriam contrários a políticas de transferência de renda, mostram grande suporte ao programa quando perceberam que Bolsonaro dele poderia se beneficiar. 

Fernando Gabeira - Até quando, Bolsonaro?

- O Globo

O Brasil é o campeão do mundo em mortes diárias por Covid-19. Tivemos, segundo Margareth Dalcolmo, o março mais triste de nossas vidas e, infelizmente, começa o abril mais triste de nossas vidas.

Estamos isolados no mundo. Não podemos viajar para encontrar nossos parentes no exterior, muito menos para realizar os negócios essenciais num mundo globalizado.

O fantástico Orçamento produzido pelo Centrão é, na verdade, um ataque de gafanhotos à nossa horta financeira. Não há mais governabilidade.

Um leitor me escreve perguntando até quando continuaremos discutindo e argumentando enquanto as pessoas vão morrendo às pencas.

Devo responder que ainda não encontrei outro caminho. Mas era só o que faltava, no auge da maior crise que o Brasil enfrenta ao longo de tantos anos, acrescentar uma pitada de autoflagelação.

Tudo o que podemos fazer é prosseguir isolando Bolsonaro para derrubá-lo no momento em que for possível, ainda que isso só possa acontecer em 22. E julgá-lo também por sua incompetência assassina, quando for possível e tivermos força para que a Justiça não falhe. Bolsonaro tem algumas características que podem absolvê-lo em certos tribunais brasileiros. Uma delas é a grande quantidade de provas contra ele. Já houve no país casos de absolvição por excesso de provas.

Demétrio Magnoli - Braga Netto, historiador

- O Globo

A ordem do dia alusiva ao golpe de 1964 foi assinada por Walter Braga Netto, um ministro da Defesa que acabava de ser nomeado em substituição a seu camarada de farda, Fernando Azevedo e Silva, demitido por recusar a subordinação das Forças Armadas aos delírios subversivos de Jair Bolsonaro. No texto, o general vestiu o manto do historiador para, supostamente, inscrever os “eventos ocorridos há 57 anos” no “contexto da época”.

Sabe-se que a ordem do dia estava pronta, assinada por Fernando Azevedo, e foi deliberadamente adotada por seu sucessor para exibir uma imagem de unidade dos comandantes militares. Por isso, deve ser lida como um consenso das cúpulas das Forças Armadas. Seu aspecto mais notável é a tentativa implícita de enterrar o “movimento de 1964” no arquivo do passado.

O general-historiador aprecia o conceito de continuidade e a ideia de harmonia. No texto, o golpe de 31 de março emerge na moldura da Guerra Fria, como derivação longínqua da aliança de guerra contra o nazifascismo, que teve a participação do Brasil. As Forças Armadas não aparecem como agentes principais da derrubada do governo, mas como componente de uma mobilização nacional que abrangeu a “imprensa”, “lideranças políticas”, “igrejas”, o “segmento empresarial” e “setores da sociedade organizada”. Por essa via, a virtude — ou a culpa — fica amplamente distribuída.

Eduardo Affonso - A mitomania como método

- O Globo

No começo de 2020, o presidente da República sugeriu aos jornalistas: “Sigam o exemplo do governo; adotem o lema João 8:32”. O versículo (“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”) tinha aparecido, um ano antes (em grego, com legenda em português), no discurso de posse de um agora ex-ministro. A patacoada toda, que incluía citações em latim e tupi, girava em torno de um mito: “O presidente Bolsonaro está libertando o Brasil, por meio da verdade”.

Só faltou ser criado, como em “1984”, um Ministério da Verdade para garantir que, de 2019 em diante, houvesse o primado de um tipo particular de mentira: a que se quer validar, por obra da alquimia da repetição.

(“Mentem / de corpo e alma, completamente. / E mentem de maneira tão pungente / que acho que mentem sinceramente.”)

— Convoco cada um dos congressistas para me ajudarem [sic] na missão de restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica, disse o presidente que se empenharia em boicotar o combate à corrupção, flertar com a irresponsabilidade fiscal e praticar o servilismo ideológico (a persistir alguma dúvida, Donald Trump deverá ser consultado).

— Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão, disse o presidente que mais investiu na intolerância e no aprofundamento do fosso cavado por um antecessor.

Ricardo Noblat - Decisão de Marques de abrir templos será derrubada pelo STF

- Blog do Noblat / Veja

Passe livre para o vírus

Hoje, o ministro Gilmar Mendes começará a demolir a decisão do seu colega Nunes Marques de permitir o funcionamento de templos e igrejas enquanto durar a pandemia. Mendes já foi o algoz do ministro novato no Supremo Tribunal Federal quando ele votou contra a suspeição do ex-juiz Sergio Moro no caso da condenação de Lula. Reduziu seu voto a pó.

O governo de São Paulo proibiu missas e cultos presenciais e foi alvo de contestações. Gilmar as rejeitará logo mais e pedirá ao ministro Luiz Fux, presidente do tribunal, que submeta seu voto ao plenário na sessão marcada para depois de amanhã. Espera-se que Nunes Marques faça o mesmo com o seu, mas não é certo. O novato meteu-se numa toga justa e tem tudo para dar-se mal.

Quem lhe deu a primeira e dura estocada foi Marco Aurélio Mello, o ministro mais antigo do Supremo, que se aposenta em julho próximo, abrindo vaga para que o presidente Jair Bolsonaro indique outro nome de sua confiança, certamente um evangélico de raiz, como prometeu. Disse Marco Aurélio:

O novato, pelo visto, tem expertise no tema. Pobre Supremo, pobre Judiciário. E atendeu a Associação de juristas evangélicos. Parte legítima para a ADPF (tipo de processo que discute o cumprimento à Constituição)? Aonde vamos parar? Tempos estranhos!”

Marcus André Melo* - A ciência tem lado?

- Folha de S. Paulo

A politização da ciência desmorona face ao horror sanitário cotidiano

A pergunta que dá título à coluna aponta para um oximoro; afinal, a ideia de ciência está associada a imparcialidade, ceticismo, falsificabilidade. No limite, o teste derradeiro é o conhecimento aplicado e embutido nos objetos ao nosso redor; habitamos um mundo tecnológico em que as coisas "funcionam". Mas a questão é mais complexa.

A refutação do conhecimento científico ao longo da história combinou-se com crenças religiosas; mas sua forma nova e mais insidiosa é a que assume que o conhecimento tem lado. É partidário.

Com a pandemia, a questão assume obviamente grande saliência, porque os cientistas se tornaram protagonistas importantes do debate público. Mas já se manifestava antes dela irromper. Cass Sunstein e co-autores discutem a questão em "Would You Go to a Republican Doctor"? (Você iria a um médico afiliado ao Partido Republicano?), em que reportam os achados de um experimento publicado na revista de neurociência Cognition, em 2019.

Celso Rocha de Barros - Bolsonaro acelerou o golpismo e perdeu

- Folha de S. Paulo

Isso não significa que não haja mais risco à democracia brasileira

Pela primeira vez na história da República brasileira, os chefes das Forças Armadas renunciaram coletivamente em protesto contra a tentativa do presidente da República de utilizá-las contra a democracia. As Forças Armadas informaram ao Brasil na semana passada que o presidente da República é golpista.

Isso não quer dizer que Bolsonaro pretendesse dar um golpe de Estado na semana passada. O que fez foi remover militares legalistas que poderiam se opor, tanto a um golpe "old school" com tanques na rua, como à corrosão progressiva da democracia brasileira que está em curso desde 2018.

Além de golpe, Bolsonaro quer dos militares demonstrações de fidelidade à sua pessoa (e não à pátria ou à República), tuítes golpistas como os de Villas Bôas e a possibilidade de ameaçar Congresso e Supremo com gestos inconstitucionais dos militares.

Mas Bolsonaro perdeu esse round.

Catarina Rochamonte - Um estorvo no Planalto

- Folha de S. Paulo

Azevedo saiu por não aceitar que o Exército fosse transformado em milícia. Não existe isso de 'meu Exército'

Respeitar a autonomia das instituições de Estado é dever do governante democrático, coisa que Bolsonaro não entende. Em meio à aceleração assustadora de mortes diárias por Covid, o presidente achou de aumentar o tumulto com uma reforma ministerial de corte fisiológico e intenção autoritária, tentando subordinar as Forças Armadas aos seus caprichos de ocasião.

Nesse intento, por ora, fracassou, uma vez que os líderes militares reagiram com altivez e dignidade, abrindo mão dos cargos para manter as Forças Armadas comprometidas com a democracia e guiadas pela Constituição, como afirmado na nota do general Fernando Azevedo e Silva, exonerado do cargo de ministro da Defesa.

Ruy Castro - Sem combinar com os russos

- Folha de S. Paulo

Garrincha nunca disse a famosa frase - mas, certo dia, ela foi mesmo dita por alguém

"Não adianta, Ruy. A gente escreve, mas ninguém toma providências". Era o que me dizia, entre sério e rindo, Carlos Heitor Cony. Referia-se às lendas que se tornam fato e, mesmo que os historiadores as desmintam, elas voltam à tona e à circulação. Uma delas, aquela sobre Garrincha e os russos.

A poucos minutos do jogo Brasil x URSS pela Copa de 1958, o treinador Vicente Feola deu as últimas instruções: "Garrincha, você recebe a bola e dribla o lateral russo. O quarto-zagueiro virá na cobertura e você o dribla também. Já na linha de fundo, cruze para a área onde Vavá estará livre, porque o zagueiro central terá saído para cobrir o quarto-zagueiro". Garrincha ouviu e disse: "Tá bem, seu Feola. Mas o senhor combinou com os russos?"

Em meu livro "Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha", de 1995, ignorei de propósito essa história. Tinha boas razões para isso. Perguntara ao preparador físico da seleção, Paulo Amaral, e aos jogadores Gilmar, Bellini, Orlando, Didi e Nilton Santos. Todas estavam naquela preleção. E nenhum escutou o diálogo.

Bruno Carazza* - Vai sair barato

- Valor Econômico

O que são R$ 2 bilhões para se garantir a paz em 2022?

Confesso que este é um texto requentado. No caderno em que anoto ideias para minhas colunas futuras do Valor, o tema apareceu em vários momentos nos últimos meses - embora minha opinião fosse mudando ao longo do tempo.

A primeira vez que pensei em escrever a respeito foi há pouco mais de um ano, quando o presidente da República, naquela famosa viagem a Miami em que quase toda a comitiva voltou infectada pelo coronavírus, declarou: “Eu acredito, pelas provas que eu tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, [que] eu fui eleito em primeiro turno”.

Na época pensei em fazer um texto desafiando a afirmação de Jair Bolsonaro, argumentando que, apesar dos questionamentos, nunca ficou demonstrado que as urnas eletrônicas brasileiras, que começaram a ser implantadas em 1996 e foram universalizadas em 2002, foram “hackeadas” ou fraudadas. Cheguei até a compilar dados do International Institute for Democracy and Electoral Assistance, uma organização intergovernamental da qual o Brasil é um dos países-membros, mostrando que 41 nações - entre elas Estados Unidos, Canadá, Austrália, França e Coreia do Sul - já adotam sistemas de votação eletrônica em nível local ou nacional.

Sergio Lamucci - O trunfo das contas externas

- Valor Econômico

Num cenário marcado por uma situação fiscal complicada, a atual solidez das contas externas ajuda a evitar um quadro pior

Num momento em que as contas públicas causam incerteza e preocupação, as contas externas mostram uma situação extremamente sólida. O Brasil caminha neste ano para o maior superávit comercial da história, o que deve levar o resultado em conta corrente ao primeiro saldo positivo desde 2007. A disparada das commodities, o câmbio desvalorizado e a fraqueza da demanda interna explicam as projeções otimistas para a balança em 2021. Com a alta das taxas de retorno dos títulos do Tesouro americano, contas externas robustas são um trunfo para o Brasil sofrer menos caso haja um aumento mais forte da aversão global ao risco, afetando os países emergentes.

As incertezas fiscais têm contribuído para enfraquecer o real. A dívida bruta está na casa de 90% do PIB e não está claro quando o indicador vai começar a se estabilizar. Para complicar, a aprovação de um orçamento irrealista para 2021 mostrou a resistência do governo e do Congresso em tomar decisões difíceis em relação às contas públicas, num quadro em que deputados e senadores agem para engordar ao máximo os recursos para emendas parlamentares.

Armando Castelar Pinheiro* - O último trem para Paris

- Valor Econômico

A tentação de resolver desafios sem incorrer no ônus de onerar o consumo privado é sempre grande

 “Anos Dourados”, a ótima coluna de Mario Mesquita aqui publicada quinta passada, traz duas importantes mensagens sobre nossa dificuldade de crescer a um ritmo satisfatório desde os anos 1980. Uma, que essa dificuldade resulta, em parte, da herança deixada pelo modelo econômico desses anos: economia fechada, focada demais no Estado empresário e de menos na educação básica, e incapaz “de resolver problemas macroeconômicos de curto prazo, como controlar a inflação”, que comprometem o desempenho de longo prazo. Outra, que não reconhecer essa herança ruim leva a um saudosismo imerecido desse modelo, dificultando a adoção de políticas mais favoráveis ao crescimento.

A coluna me deixou pensando sobre um dos acontecimentos mais interessantes de nossa história: a decisão do governo Geisel, que tomou posse em março de 1974, de ir contra a tendência mundial de se ajustar ao primeiro choque do petróleo desacelerando o crescimento. Em vez disso, dobrou a aposta em políticas expansionistas. O discurso à época é que o Brasil seria uma ilha de prosperidade em um mundo revolto.

Castro busca escapar à ‘crivellização’

Adesão de Bolsonaro à reeleição do governador é alvo de incertezas

Por Cristian Klein / Valor Econômico

 RIO - O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), teve a imagem e a liderança questionadas nos últimos dias, quando protagonizou um embate com o prefeito da capital, Eduardo Paes (DEM), e foi flagrado em duas ocasiões contrariando o próprio decreto que busca aumentar o isolamento social no pior momento da pandemia. No cargo desde o afastamento de Wilson Witzel (PSC) por corrupção, há sete meses, Castro terá que mostrar capacidade de articular um bloco bolsonarista para a disputa no ano que vem - o que está em xeque. Sua missão é evitar o processo de “crivellização” do seu projeto eleitoral.

Para um interlocutor que participou da distensão da crise com Paes, Castro terá dificuldade de obter um apoio explícito de Jair Bolsonaro (sem partido), apesar do alinhamento que o governador busca com o presidente da República. “Quem conhece Bolsonaro diz que é impossível ele ficar com o Cláudio”, afirma essa fonte, para quem o mais provável é que a família Bolsonaro tente encontrar outro nome, mais próximo. A situação do governador seria semelhante à do ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), acrescida de desvantagens.

Derrotado por Paes no ano passado, Crivella teve o apoio constrangido de Bolsonaro, mesmo contando com um conjunto de recursos que faltam a Castro, além da máquina de governo: a influência da Igreja Universal, o apoio de um partido de tamanho médio, o Republicanos, e de uma emissora de TV, a Record. “Apesar disso, você viu o Bolsonaro cair de cabeça [na campanha do Crivella]?”, questiona essa fonte, lembrando ainda o pouco investimento que o governo federal tem feito no Estado do Rio, a despeito de ser o reduto eleitoral do clã Bolsonaro e da busca de proximidade de Cláudio Castro. A estagnação das negociações sobre o Regime de Recuperação Fiscal do Rio seria um exemplo da falta de prioridade com o Estado.

Entrevista | Marcelo Freixo: ‘Ideal seria reunir o centro e o campo progressista’

Deputado defende uma aproximação do PSOL com Lula e uma aliança ampla para se contrapor ao bolsonarismo no Rio

Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo

Escolhido líder da minoria na Câmara com o apoio do PT, que abriu mão da vaga em um gesto para as eleições de 2022, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) quer aproximar seu partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Freixo, que é cotado para disputar o governo do Rio de Janeiro, também defendeu, em entrevista ao Estadão, uma frente ampla – que pode incluir até uma aliança com o centro – para derrotar o bolsonarismo no Estado.

A escolha do sr. como líder da minoria na Câmara foi um gesto do PT para as eleições de 2022?

O PT foi de grande generosidade, mas a vez era do PSOL, que foi o único partido que não tinha ocupado a liderança da minoria ou da oposição. (Em 2022) Se formos capazes de montar uma aliança de centro-esquerda no Rio, topo colocar meu nome nesse projeto. 

Há uma aproximação com o PT? A candidatura do sr. ao governo do Rio está consolidada? 

Sempre tive muito diálogo com o PT. O projeto para o governo do Estado existe. Coloquei meu nome à disposição. Se eu for disputar o governo, terei de abrir mão de um mandato de deputado federal. Tenho uma situação delicada. Enfrentei as milícias no Rio e isso me trouxe uma situação particular. Se for para entrar na disputa, é para ganhar. Isso significa ter apoio do campo progressista e do centro. 

O que define como “centro”?

O PSB é fundamental e a relação é muito boa. O PCdoB tem conversado comigo. PT e PDT também. Mas precisamos de um palanque no Rio que reúna Ciro (Gomes) e Lula. É assim no Ceará. A eleição no Rio é para ganhar. Derrotar o Bolsonaro aqui, no berço dele, é a melhor contribuição que podemos dar para o próximo presidente. Acho importante ter apoio do Eduardo Paes e do Rodrigo Maia. O César Maia sempre votou em mim. O próprio Rodrigo diz isso.

Freixo articula chapa em 2022 com Maia e Paes, antigos adversários

Deputado do PSOL cita diálogo com políticos de centro e diz que frente contra Bolsonaro vai ‘além do limite de qualquer partido’

Bernardo Mello / O Globo

RIO — Vislumbrando o apoio de antigos adversários, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) articula uma candidatura ao governo do Rio, em 2022, que inclua partidos além da esquerda, o que chama de “frente ampla para derrotar o bolsonarismo”. Ao GLOBO, o parlamentar disse já ter falado sobre o tema com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de conversar também com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Ambos estiveram em lados opostos ao do psolista nas duas últimas eleições que ele disputou para a prefeitura da capital, em 2012 e 2016.

Por ora, mesmo sem esconder o interesse de concorrer ao Palácio Guanabara, Freixo evita bater o martelo sobre sua candidatura. Em discurso semelhante ao da campanha de 2020, quando desistiu da corrida à sucessão de Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio após ter dificuldades para aglutinar outras siglas de esquerda, o deputado afirma só estar disposto a tentar o governo caso seja formada uma união de diferentes forças “para ganhar”. Caso contrário, planeja tentar novo mandato na Câmara — ele foi escolhido, no último mês, como novo líder da Minoria na Casa.

— Já fui procurado por várias forças. Acho ótimo que possamos abrir este debate com antecedência, pelo tamanho da responsabilidade que o Rio exigirá. O próprio Rodrigo (Maia) falou sobre o interesse em me apoiar, se for numa frente ampla com capacidade de reunir forças — afirmou.

Economia deve ditar alcance de aliança do centro para eleições presidenciais de 2022

Dirigentes partidários e cientistas políticos acreditam que plano econômico do grupo será chave para definir tamanho do bloco. Para garantir competitividade, apresentação de candidato fica para o segundo semestre

Gustavo Schmitt / O Globo

SÃO PAULO — A discussão em torno de um candidato que possa representar o centro nas eleições presidenciais de 2022 deve ganhar corpo a partir de outubro, segundo dirigentes partidários e cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. Até lá, o grupo deve continuar negociando pontos de um programa em comum que sustente essa candidatura. Na última semana, seis presidenciáveis desse campo assinaram um manifesto em defesa da democracia, um tema de fácil consenso, mas ainda há outras áreas em que é preciso construir acordos. Analistas acreditam que o projeto econômico defendido pelo grupo vai ajudar a definir o tamanho da aliança eleitoral.

Para abrigar Ciro Gomes (PDT), por exemplo, o grupo teria que ter um projeto com traços mais desenvolvimentistas, proposta que contraria a visão de partidos como PSDB, DEM e Novo. Os formuladores de políticas públicas dessas siglas costumam defender privatizações e um Estado mais enxuto.

Música | Leila Pinheiro - Além da Razão (Luiz Carlos da Vila)

 

Poesia | Fernando Pessoa - A Aranha


A Aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou  presa do meu suporte.