segunda-feira, 17 de julho de 2023

Fernando Gabeira - Extrema direita e a tática do escândalo

O Globo

Os últimos acontecimentos no interior do PL mostram que o bolsonarismo não tarda muito a virar a mesa

Um dos problemas de estudar a História da extrema direita é que, às vezes, durmo no sofá e tenho curtos pesadelos. Supremacia branca, antissemitismo, homofobia, raiva de mulheres — cada grupo tem seu gosto, e juntos formam a chamada direita alternativa — alt-right.

Uma coisa que aprendi nas horas de estudo e vigília é que a extrema direita tem uma tática de escandalizar para emergir no chamado mainstream. Foi assim quando Hillary Clinton, nas eleições de 2016, mencionou a alt-right. Muitos grupos celebraram por terem sido citados.

— Conseguimos entrar na cabeça dela — postaram nas suas redes.

Sou pai de professora e tenho tudo para estar indignado com o deputado Eduardo Bolsonaro, que comparou os mestres brasileiros a traficantes de drogas.

No entanto não posso deixar de colocar sua fala no contexto, como dizíamos antigamente. O pai foi derrotado na votação da reforma tributária.

Nesse quadro de isolamento, uma tábua de salvação é precisamente dizer algo bombástico. Os adversários comentam e movem processos, o próprio governo manda investigar.

Um encontro insignificante de pessoas que defendem armas acaba tendo uma divulgação que o salvou de passar completamente em branco, ou em cinza, dependendo de como se avalia o anonimato.

Miguel de Almeida - A direita e a extrema direita

O Globo

No momento em que escrevo, Bolsonaro se assemelha ao aspartame, ambos com muito passado e nenhum futuro. Intitulado líder da direita brasileira, se encontra encostado como funcionário bem remunerado do Valdemar; no papel de mau oficial, ainda em liberdade, observa seus arruaceiros atrás das grades.

Nem muito longe que o esqueçam, nem muito perto que o comprometam, antigos correligionários saem disfarçadamente da cena do crime; pé atrás de pé, traçam no chão uma linha de separação, a começar pela nominação — Bolsonaro seria de extrema direita; eles, como Valdemar, aquele que paga o salário, ou ainda Ciro Nogueira ou Marcos Pereira, se dizem apenas de direita.

Seria educativo não fosse balela, a denominação gritada pelos ex-bolsonaristas: o que é ser direita e extrema direita? A diferença estaria entre aquele que já fugiu e o que ainda não caiu a ficha.

Dois momentos recentes, de fato constrangedores pelo mau roteiro, escandem o desabrigo dos extremistas do capitão.

Ricardo Henriques* - Economia Criativa como ativo de desenvolvimento

O Globo

Para explorar esse potencial, o Brasil deve investir em educação, capacitação profissional e infraestrutura, bem como em políticas públicas que incentivem a inovação e a proteção dos direitos autorais

Num mundo em que máquinas e sistemas de inteligência artificial avançam cada vez mais sobre empregos tradicionais, é fundamental identificar setores onde a mão-de-obra humana continue sendo a mais valorizada. A economia criativa emerge como alternativa particularmente relevante, com enorme potencial a ser aproveitado pelo Brasil.

Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, em relatório de 2022, o setor representa 3,1% do PIB mundial, promovendo inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano. Além de representar um caldeirão preenchido pelo encontro da arte com a cultura, cruciais para o desenvolvimento de habilidades como raciocínio crítico e criatividade, envolve também a produção e o comércio de bens e serviços baseados intensivamente em conhecimento.

Bruno Carazza* - A reforma ministerial necessária e indesejada

Valor Econômico

Ampliar a base é preciso, mas amigos serão sacrificados

Dia 25 de abril de 1996, meia-noite. No gravador em que registrou o cotidiano de seus oito anos de governo, Fernando Henrique Cardoso relatava que aquele havia sido, se não o mais difícil, com certeza o mais duro dia desde que assumira a Presidência da República, em 1º de janeiro do ano anterior.

FHC havia acabado de chegar do apartamento de sua ministra da Indústria, Comércio e Turismo, Dorothea Werneck, aonde fora comunicar a decisão de demiti-la. Segundo o registro, publicado na primeira edição de seu Diários da Presidência (1995-1996), a conversa durou quase três horas, houve choro de ambas as partes, desabafo, queixas e até uma ponta de arrependimento.

Dorothea Werneck era uma ministra de perfil estritamente técnico. Formada em economia na UFMG, foi aluna do famoso curso de mestrado montado por Mário Henrique Simonsen na FGV e depois se doutorou no Boston College, nos EUA. De volta ao Brasil, trabalhou no Ipea e foi professora da UFRJ.

Angela Alonso* - Notícias políticas do Censo

Folha de S. Paulo

Novo quadro populacional dá pistas sobre caminhos da esquerda e direita no país

ex do Brasil atrapalhou o Censo, mas os números não guardaram mágoa e na sua cesta informativa, trouxeram até boas novas para o seu algoz.

Uma notícia é que o país envelheceu. No Censo anterior, os brasileiros tinham filhos suficientes para replicar o volume populacional. Agora o quadro é outro. Foi-se a janela demográfica —muitos jovens, poucos velhos. Estamos na vereda de EuropaJapão e outras partes onde nasce cada vez menos gente, desequilibrando as gerações, com muitos avôs e poucos netos.

descenso da fecundidade começou aqui nos anos 60 e foi rapidíssimo. Meio século depois, a taxa de crescimento médio anual é de 0,52%. Isto é, o país conta agora com metade dos brasileirinhos necessários para substituir os brasileirões. As mulheres em idade reprodutiva estão tendo poucos filhos ou nenhum. O país da juventude agrisalhou.

E a política com isso? Se nas eleições futuras a distribuição geracional do voto de 2022 se mantiver, a direita pode comemorar. Na última eleição, a juventude apertou muito o 13, e os cabeças brancas foram mais de 22. No médio e sobretudo no longo prazo, a diminuição do número de jovens pode estreitar o eleitorado de esquerda.

Marcus André Melo* - Reforma tributária nos EUA e no Brasil

Folha de S. Paulo

O sucesso legislativo inesperado de novos arranjos tributários

"Até uma ordem de monges trapistas fez lobby a favor de tratamento tributário especial". Com isso Jeffrey Birnbaum e Alan Murray descrevem o estado do regime tributário americano pré-1986 em "Showdown in Gucci Gulch: lawmakers, lobbyists, and the unlikely triumph of tax reform" (Confronto na Gucci Gulch: parlamentares, lobistas e o triunfo inesperado da reforma tributária). Os autores descrevem o labirinto da mudança que ninguém esperava que fosse aprovada.

Foi a reforma histórica do imposto de renda nos EUA, aprovada no governo Reagan "contra tudo e contra todos". Os lobistas que se reuniam cotidianamente na "Gucci Gulch" —a sala no Congresso onde se instalavam com suas gravatas Gucci— eram totalmente céticos. Foram todos pegos de surpresa. A reforma eliminou milhares de isenções, regimes especiais e deduções que se acumulavam desde 1913, quando o imposto foi criado.

Felipe Moura Brasil - O verdadeiro massacre da cultura pelo poder

O Estado de S. Paulo

O legado de Milan Kundera serve de alerta contra o massacre da cultura pelo poder

“A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento.” A frase é dita por Mirek, em 1971, três anos após a ocupação soviética da Tchecoslováquia, para explicar aos amigos por que guarda seus “escritos comprometedores”, contidos em diário, correspondências e minutas de reuniões.

Os amigos apontam a imprudência de Mirek, que se convence, ao menos, de levar o material para “lugar seguro”, porque a Constituição “garante a liberdade de palavra, mas as leis punem tudo que pode ser qualificado de atentado à segurança do Estado”.

E “nunca se sabe quando o Estado vai começar a gritar que essa palavra ou aquela atentam contra a sua segurança”.

Denis Lerrer Rosenfield* - O pagador de impostos

O Estado de S. Paulo

A política extrapola o Orçamento, excedendo os seus limites e comprometendo o próprio funcionamento da economia, em prejuízo do pagador de impostos

O cidadão, o pagador de impostos, foi o grande ausente dos debates da reforma tributária. Afinal, é ele que financia o Estado, devendo ser, por via de consequência, o seu destinatário. Discute-se como aumentar os impostos, distribuir fatias do Orçamento para assegurar votações legislativas, setores da economia são privilegiados com reduções de alíquotas, enquanto outros são prejudicados, sem que tenha entrado em discussão o ponto central, a saber, uma redução da carga tributária ou uma melhor avaliação dos gastos em cada ministério, nos diferentes Poderes e nas esferas estaduais e municipais. A coisa pública, a do cidadão, é considerada como a coisa de alguns.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Atenção com inadimplência deve ser permanente

Valor Econômico

O governo deve evitar a tentação de criar novos planos voltados à indução de um consumo desenfreado

A campanha eleitoral começava a pegar tração na noite de 25 de agosto de 2022, quando Luiz Inácio Lula da Silva, novamente na condição de candidato do PT à Presidência da República, prometeu renegociar as dívidas de pessoas físicas negativadas. “Aliás, uma coisa importante: nós temos quase que 70% das famílias brasileiras endividadas, e a grande maioria delas é mulher, 22% endividadas, porque não podem pagar a conta de água, a conta de luz, a conta do gás. Nós vamos negociar essa dívida”, assegurou Lula, nos minutos finais de sua entrevista ao “Jornal Nacional”, da TV Globo. “Pode ficar certo que nós vamos negociar com o setor privado e com o sistema financeiro, porque nós precisamos fazer com que o povo brasileiro volte a viver com dignidade”, acrescentou.

O tema tinha apelo. Também era objeto dos discursos de seus adversários, desde que o agravamento da conjuntura econômica após a pandemia de covid-19 deixou milhões de pessoas em delicada situação financeira. Nas contas do governo, os números são diferentes daqueles citados por Lula em agosto passado. Mas também são alarmantes: em maio, 70 milhões de brasileiros eram considerados inadimplentes, o que representava aproximadamente 42% da população adulta brasileira. São pessoas que não têm conseguido quitar suas dívidas.

Nesse triste quadro, de acordo com estimava feita pelo Executivo quando enfim foi publicada a medida provisória que instituiu o programa de renegociação de dívidas, posteriormente batizado de Desenrola Brasil, quatro em cada dez famílias estavam com dívidas em atraso acima de três meses - principalmente de cartão de crédito, contas básicas (água, luz, gás e telefonia) e no varejo.

Poesia | Manoel Bandeira - Belo Belo

 

Música - Paulinho da Viola - Amor é assim