- O Globo
Transcorridas três semanas de depoimentos
na CPI da Covid, os senadores estão convencidos de uma coisa: além de ver a
responsabilização de autoridades pela calamidade brasileira na pandemia, a
população quer uma reparação para um luto traumático, prolongado, que tem sido
tratado com profundo desprezo por Jair Bolsonaro e seus subordinados,
familiares e aliados. O relatório final do senador Renan Calheiros deverá
abranger as duas dimensões.
No campo da responsabilização, a sucessão
de depoimentos deixa claro que há um trabalho árduo e técnico a fazer, que até
aqui deixou a desejar.
É preciso esquadrinhar os principais eixos
de crimes cometidos para que se alcançasse a marca inadmissível de mortos, que
deverá chegar em breve a aterrador meio milhão de brasileiros, e traçar a
cronologia, a cadeia de comando e a correta imputação jurídica em cada um
deles.
Esses eixos, definidos desde o início dos
trabalhos, são três: a decisão de postergar ao máximo a compra de vacinas,
único meio cientificamente seguro de proteger vidas; a ênfase, com largo
emprego de recursos públicos, no “tratamento precoce”, sabidamente sem eficácia
científica para Covid-19, e a tragédia de Manaus.
Uma quarta frente aventada depois da instalação da CPI, a aposta por parte do governo federal numa imunidade de rebanho sem vacina, que seria obtida fazendo com que o maior número de pessoas se contaminasse para que as atividades econômicas pudessem ser retomadas mais rapidamente, é considerada de mais difícil demonstração fática.