O Estado de S. Paulo
A dialética democrática desconhece a
dominação bruta de um grupo sobre os demais
O Brasil dos nossos dias não é propriamente
o ponto de observação mais adequado para avaliar processos políticos
latino-americanos, tão surpreendentes e imprevisíveis quanto os que nós mesmos
temos experimentado na carne. O redemoinho nos é comum e arrasta todos,
fazendo, em geral, os raciocínios ficarem turvados pelas paixões da hora.
No País oficial as avaliações obedecem a um
automatismo indigente. Diante do protagonismo de qualquer setor da esquerda
latino-americana, em si tão diversa e fragmentada, as vozes dos nossos
governantes se limitam a lamentar a “perda” de tal ou qual nação vizinha para a
causa das “liberdades”, como se os antolhos da guerra fria devessem nos
envesgar indefinidamente. Sintomáticos o uso e o abuso da palavra “comunismo”,
como se se tratasse de escolher “modos de produção” a cada rodada eleitoral, e
não, mais singela e concretamente, barrar os nacionalismos autoritários de
vertentes às vezes opostas que nos ameaçam.
Os representantes do País não oficial nem sempre estão atentos ao que se passa fora das nossas fronteiras, ainda que os eventos pipoquem ao redor. Proverbiais, a respeito de temas externos, o silêncio e a desatenção de forças moderadas ou de centro, pouco afeitas a tratar do “nexo nacional-internacional” como questão de primeira ordem. Partidos desse campo não costumam ter “política externa” e, uma vez no governo, em regra são pouco inovadores.