O Estado de S. Paulo
É razoável que o eleitor se sinta indeciso.
Os polos muitas vezes são mais semelhantes que diferentes e não trazem
programas com intenções pedagógicas
Sente-se no ar um desejo de mudança. Tão
forte que é como se pudéssemos apalpá-lo. Como está não pode ficar, ouve-se por
toda parte. A democracia precisa ser defendida contra os arreganhos
autoritários. A inflação come os bolsos da população, afeta os mais pobres de
maneira vil. Os sintomas de uma crise aguda, múltipla, latejam sem cessar.
Os democratas se mobilizam, lançam cartas e
manifestos que vocalizam a insatisfação e a disposição de luta. Atores
posicionados em campos distintos se reúnem para defender a Constituição, as
regras eleitorais, as urnas eletrônicas. Alerta-se para o risco que correremos
se a mudança tardar, se o mau governo atual prolongar sua existência, com tudo
o que exibiu nos últimos quatro anos: o desprezo pela política democrática, a
falta de empatia, o descalabro administrativo, a grosseria, a ausência de
compostura e de respeito presidencial ao cargo.
O desejo de mudança impregna o ar, mas não
necessariamente irá vencer nas eleições de outubro próximo.
Antes de tudo, porque mudar é sempre difícil. Exige que personagens reconheçam erros e incompetências. Passa por deslocamentos (de pessoas, de ideias, de hábitos) que custam a se completar. Não é só uma troca de roupas, ou de governantes.