segunda-feira, 25 de julho de 2011

Opinião – Dora Kramer: No paralelo.

É de se perguntar com que autoridade o ex-presidente Luiz Inácio da Silva diz que os demitidos do Ministério dos Transportes poderão voltar a seus cargos se "provarem" ser inocentes.

Lula faz média com os partidos atingidos (PR e PT), sem atinar para a inconsequência da declaração. Primeiro, porque não é dele (ou não deveria ser) a prerrogativa de decidir sobre nomeações e demissões. Segundo, não havendo inquérito policial - e por enquanto não há - não existe como comprovar culpas ou inocências.

A sem-cerimônia de Lula com os ritos do poder formal já se evidenciou algumas vezes desde que deixou a Presidência. Seja atuando como interlocutor da base aliada na crise Palocci, ou visitando obras que não teve tempo para inaugurar quando presidente.

Lula se declara um "ajudante" de Dilma e, assim, tenta não imprimir a suas ações um caráter de usurpação e obter junto à opinião pública salvo-conduto para circular como a sombra oficial da presidente.

Não só não pretende "desencarnar", como vai ocupando o espaço privilegiado de um "shadow president".

À falta de uma oposição com consistência, unidade e senso de direção para cumprir esse papel.

Dora Kramer, jornalista. Vícios na origem. O Estado de S. Paulo, 24/7/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
FOLHA DE S. PAULO
O ESTADO DE S. PAULO
VALOR ECONÔMICO
ESTADO DE MINAS
CORREIO BRAZILIENSE
ZERO HORA (RS)
JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Crise no Dnit: Pagot pedirá demissão hoje

O diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que resistia a sair do cargo dizendo-se injustiçado com as denúncias de corrupção, entregará hoje sua carta de demissão ao ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. O Planalto temia que Pagot saísse fazendo denúncias contra o governo, mas ele foi convencido por seu padrinho político, o senador Blairo Maggi (PR-MT), a se acalmar. "Recomendei a ele não ficar buscando mais confusão", disse Blairo. A faxina no Dnit continuará: os últimos 3 diretores ligados ao PR devem ser demitidos em agosto, assim como superintendentes

Fim de linha para Pagot

Diretor-geral do Dnit vai entregar hoje sua carta de demissão, sem atacar o governo

Gerson Camarotti

Mais de 20 dias após o início da crise que provocou a faxina no Ministério dos Transportes, o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, entregará hoje sua carta de demissão ao novo ministro da pasta, Paulo Sérgio Passos. A notícia tranquilizou ontem o Palácio do Planalto, que temia que Pagot deixasse o governo atirando. Com essa demissão, o Dnit fica agora com apenas três de seus sete diretores, todos ligados ao PR. Esses três últimos devem ser substituídos em agosto.
Na sexta-feira, Pagot ainda resistia em deixar o cargo e lembrava ao Planalto sua dedicação e participação como arrecadador de campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, como revelou O GLOBO no sábado. Mas, no fim de semana, ele foi acalmado por emissários do governo e finalmente convencido pelo seu padrinho político, o senador Blairo Maggi (PR-MT), de que não tinha mais como ficar.

Ontem, após conversar com Pagot, Blairo confirmou ao GLOBO que a carta de demissão será entregue hoje. Blairo reconheceu que, independentemente da capacitação técnica, não havia mais condições políticas de Pagot continuar no cargo. E revelou que aconselhou o diretor-geral do Dnit "a não criar confusão". Setores do PR incentivavam Pagot a fazer ameaças ao governo.

- Pagot vai entregar a carta nesta segunda (hoje). Falei para ele não ficar preocupado: "Vamos tocar a vida para a frente. Política é assim mesmo. Entrega suas coisas e volta para a iniciativa privada." Fiz a recomendação para ele não ficar buscando mais confusão. Até porque confusão não leva a nada. Ele tem dois caminhos: me seguir ou seguir o partido - disse Blairo. - As condições políticas para permanecer no cargo não existem mais. Vamos deixar livre a presidente Dilma. O PR não tem que reivindicar nada.

Para evitar o seu afastamento, determinado por Dilma assim que surgiram as primeiras denúncias de corrupção no Dnit, em 2 de julho, Pagot entrou de férias, com o acerto informal de só retornar em 4 de agosto. Mas o período oficial de férias dele terminou na última sexta-feira. Para facilitar a saída de Pagot, o Planalto obteve antes o pedido de demissão do petista Hideraldo Caron da diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Dnit.

Ontem, auxiliares de Dilma foram avisados de que Pagot vai entregar sua carta e sair de cena. A expectativa inicial era que ele deixaria o governo na última sexta-feira. Mas o Planalto ainda recebeu recados de que Pagot estava insatisfeito e que considerava sua saída injusta. O Planalto já tinha identificado que setores do PR estavam estimulando Pagot a sair do governo atirando. Ontem, líderes do partido confirmaram que Pagot estava insatisfeito com o tratamento recebido do Planalto.

- É como se Pagot tivesse virado a Geni. Ele não quer sair do governo como um leproso - disse o deputado Lincoln Portela (MG), líder do PR.
Com a saída de Pagot, Caron e José Henrique Sadok de Sá, após denúncias de irregularidades, o Planalto agora também vai tirar do Dnit mais três diretores ligados ao PR: o de Planejamento e Pesquisa, Jony Marcos Lopes; o de Infraestrutura Ferroviária, Geraldo Lourenço; e o de Infraestrutura Aquaviária, Herbert Drummond. Antes da atual onda de denúncias, o então diretor de Administração e Finanças do Dnit, Heraldo Cosentino, ligado ao PT, fora exonerado.

Além disso, Dilma vai mudar também os comandos das superintendências regionais do Dnit, como informou O GLOBO semana passada. O Planalto já identificou que todas as 23 superintendências têm afilhados políticos, 12 deles indicados do PR. As mudanças devem atingir afilhados de líderes do partido como o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (Amazonas) e os deputados Inocêncio Oliveira (Pernambuco), Sandro Mabel (Goiás) e Wellington Roberto (Paraíba).

Recentemente, já houve intervenção no Dnit do Ceará, que tinha influência do ex-governador Lúcio Alcântara. Mas o Planalto também fará mudanças nas superintendências do órgão em estados indicados por petistas, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Há suspeitas de desmandos também em Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul, Piauí e Maranhão.

FONTE: O GLOBO

PMDB será poupado da faxina de Dilma

Para não perder sustentação, presidente não fará limpeza em ministérios do partido

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Determinada a levar a faxina no Ministério dos Transportes até o fim, a presidente Dilma Rousseff será mais cautelosa, no entanto, com aliados mais poderosos, que comandam áreas igualmente importantes do governo. Para evitar uma rebelião generalizada nos partidos da base governista, a ordem no Palácio do Planalto é deixar para outro momento uma eventual limpeza em ministérios comandados por indicados de partidos como PMDB, PP, PDT e até PCdoB, que já foram alvo de denúncias de irregularidade.

Uma avaliação pragmática feita por ministros do Palácio do Planalto indicou que Dilma não pode dar ao PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, o mesmo tratamento dado ao PR. E, para evitar que a sustentação política do governo no Congresso seja enfraquecida, Dilma não deve mexer também agora no Ministério das Cidades, comandado pelo aliado PP, nem no Ministério do Trabalho, comandado pelo PDT.

Presidente quer que ação nos Transportes sirva de alerta a partidos da base

A presidente vai se dedicar, por ora, a fazer a limpeza completa nos Transportes e quer que essa sua ação sirva de alerta para todos os partidos da base. Para um interlocutor de sua confiança, Dilma, num desabafo, alertou que até mesmo as alianças políticas têm limite.

- Pegaram pesado nos Transportes. Por isso, vou adiante, não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Tenho acordo político com os partidos. Mas esse acordo não é com o malfeito - disse Dilma, segundo esse relato.

No Palácio do Planalto, a avaliação é que seria um erro político partir para um enfrentamento com o PMDB. Auxiliares da presidente destacam que é boa a relação com o partido de seu vice, apesar de problemas setoriais. Os próprios caciques peemedebistas também avaliam que o partido não está na mira de Dilma. A explicação dos dois lados é a mesma: a presidente está comprando briga com o PR, um partido médio e sem lastro no governo, o que não é o caso do PMDB. Dilma sabe que pode ter dificuldades sem o apoio do PR, mas também tem consciência de que perde a governabilidade sem o apoio do PMDB.

- O PMDB está tranquilo. A conduta do partido é exemplar. Os nossos ministros estão bem. Tem vários partidos que fizeram indicações técnicas, inclusive o PT. O que ocorreu com o PR é uma questão pontual. Não haverá isso (faxina) em outros ministérios - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Um assessor palaciano ressaltou que podem ser feitas mudanças pontuais, no Ministério do Turismo ou em estatais como Furnas Centrais Elétricas. O mesmo pode ocorrer no Ministério do Trabalho. Os próprios petistas já relataram ao Planalto suspeitas de que o pedetista Carlos Lupi estaria usando o ministério para fortalecer a Força Sindical.

Um ministro peemedebista perguntou, sutilmente, se alguma medida saneadora poderá atingir as pastas administradas pelo PT. Ou seja, é o PMDB sinalizando que, antes de Dilma direcionar suas baterias para o partido, terá de fazer a limpa também entre petistas.

- A Dilma tem noção do que está fazendo - observou esse ministro, insinuando que a presidente tem consciência política de que não pode abrir mão do seu maior parceiro no governo.

Na Valec, a empresa estatal que administra as ferrovias, ligada ao Ministério dos Transportes, a determinação da presidente Dilma, conforme ela já anunciou, também é de mudar todo o comando. Já foi exonerado, da presidência da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, uma indicação do secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto (SP), além de dois assessores. Outras mudanças virão.

FONTE: O GLOBO

PPS quer explicações de Lobão sobre ANP

Deputado Rubens Bueno apresenta hoje um requerimento para que o ministro explique ao Congresso a denúncia de cobrança de propina na Agência Nacional do Petróleo

BRASÍLIA – O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), protocola hoje, na Comissão Representativa do Congresso Nacional, requerimento de convocação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para falar sobre a denúncia de um suposto esquema de cobrança de propina na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Segundo a edição da revista Época desta semana, dois assessores da ANP foram filmados supostamente cobrando propina para acelerar e facilitar a tramitação de processos para registro de empresas. O líder do governo na Casa, Cândido Vaccareza (PT-SP), classificou como “esquisita” a apresentação do requerimento durante o recesso parlamentar.
O líder do PPS também quer que o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, preste esclarecimentos sobre o assunto, além do afastamento imediato dos acusados. “É a forma mais isenta para fazer uma investigação séria de mais um episódio do governo do PT”, disse Bueno. “A denúncia é gravíssima, já que há imagens de pessoas da ANP envolvidas e falando em seu nome, como se ali fosse um grande balcão de negócios para enriquecimento de alguns”, justificou.
Mas para Vaccarezza, não há motivo para que a Comissão Representativa seja acionada. “Acho esquisita a posição do deputado, porque a Comissão Representativa serve para responder na ausência do Congresso em situações emergenciais. Como a Casa voltará a se reunir no dia 2 de agosto, não há razão para protocolar o pedido agora”, disse o líder governista.
Segundo ele, a comissão correta para protocolar o requerimento é de Fiscalização e Controle, o que só pode ser feito após o recesso. No entanto, Vaccarezza ressaltou que a posição do governo é a de investigar todo o desvio de conduta ética.
Depois de protocolado, o requerimento será encaminhado ao presidente da Comissão Representativa do Congresso Nacional, o senador José Sarney (PMDB-AP). O Regimento Comum do Congresso não estabelece prazo para que seja marcada uma reunião com os oito senadores e 17 deputados que integram o colegiado, caso o pedido do PPS venha a ser aceito.
Durante o recesso, o PPS e os demais partidos de oposição não têm condições de realizar sessão extraordinária da Comissão Representativa sem apoio da base aliada, uma vez que é necessária a presença de pelo menos três senadores e seis deputados da comissão. Hoje, a oposição tem apenas três deputados e dois senadores – entre eles, não há representantes do PPS – na comissão. Como a comissão funciona apenas no recesso, o requerimento precisa ser analisado e votado até a próxima sexta-feira. Isso, entretanto, só ocorrerá se os governistas aceitarem.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Oposição insiste em ouvir Passos no recesso

Líder do PSDB na Câmara afirma que vai cobrar do presidente do Senado, José Sarney, decisão sobre convocação do ministro dos Transportes

Marta Salomon e Iuri Dantas

BRASÍLIA - A convocação do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, ao Congresso será tema da oposição na última semana do recesso parlamentar. O líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), autor de um requerimento de convocação de Passos, insistirá para que a comissão representativa do Congresso vote o pedido.

A convocação do ministro precisa contar com o apoio da terça parte dos 8 senadores e 17 deputados que integram a comissão. Registrado na terça-feira da semana passada, o requerimento foi recebido com indiferença pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

"O afastamento do ex-ministro e outros 17 integrantes do ministério não pode encerrar o caso. O ministro Paulo Sérgio Passos ficou de fazer a faxina nos Transportes e é preciso saber se ele vai usar a vassoura para varrer a si mesmo", disse ontem Duarte Nogueira, que cobrará hoje de Sarney a convocação de Passos. "Há indícios grandes de que as irregularidades não foram sanadas e o ministro não convenceu de que não esteve envolvido", completou.

Suspeitas de irregularidades em contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e da Valec, estatal responsável pelas ferrovias, provocaram as demissões e a suspensão de novos contratos. Até agora, o ministério não anunciou o que fará para prevenir novas irregularidades, como a profusão de aditivos contratuais que elevam os valores gastos.

O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), ironizou a manobra da oposição de convocar o ministro no recesso parlamentar. "Não vou mobilizar ninguém da base", ironizou.

Vaccarezza também minimizou a ameaça de congressistas da oposição de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os Transportes. Segundo ele, a oposição promete investigações desde fevereiro, sem nunca conseguir o número de votos suficientes para iniciar o procedimento.

A decisão da presidente Dilma Rousseff de demitir dirigentes do Dnit e da Valec não deve criar problemas na coalizão governista, segundo Vaccarezza. "A presidente tomou medidas duras no tempo certo", afirmou. Até semana passada, o número de afastados chegou a 18, incluindo o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR). Segundo Vaccarezza, o objetivo da "faxina" é esclarecer suspeitas e não atacar o PR, que comanda o setor desde o governo Lula. "O PR é um grande aliado. Uma coisa é o indivíduo que é responsável por um ato. O partido não pode ser culpado."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Questão de fé:: Ricardo Noblat

 “Se Dilma quisesse ‘explodir o PR’ , teria nomeado o presidente da Light ministro dos Transportes.” (Regina Passarelli)

Para não ser acusado de tratar com má vontade todos os governos, deixo de lado, por ora, meu natural ceticismo e sugiro que combinemos assim: apesar de ter sido a mais poderosa e eficiente executiva da história da Casa Civil da Presidência da República, Dilma não fazia a mínima ideia da roubalheira perpetrada no Ministério dos Transportes.

Falha dela? Talvez sim, talvez não.Mas como Lula, em sua infinita sabedoria, observou certa vez, que mãe pode afirmar com segurança que sabe tudo o que seus filhos estão fazendo?

Impossível! É fato que uma mãe ou um pai não dispõem dos órgãos de controle e fiscalização postos a serviço do governo, mas...

Esqueçam a frase que arremata o parágrafo anterior, expressão do vezo de quem foi instado durante mais de 40 anos a só acreditar em algo depois de esgotadas todas as dúvidas. Como não existe verdade absoluta, e, portanto, jamais as dúvidas se esgotam... Perdão! Esqueçam também todo este parágrafo.

Retomo minha profissão de fé naquilo que as almas mais cândidas batizaram de “faxina ética”. E digo: Dilma não sabia da roubalheira. Ponto. Se quiserem dizer que isso compromete sua imagem de executiva implacável, que o digam. Etem mais: Paulo Sérgio Passos, novo ministro dos Transportes, também não sabia.

De fato, ele está no ministério desde 1973. Ocupou a secretaria-executiva, o segundo cargo mais importante, entre 2001 e2003, e novamente em 2007. E de março do ano passado até dezembro substituiu o ministro Alfredo Nascimento, que deixou o cargo para ser candidato a um segundo mandato de senador pelo PR do Amazonas.

Paulo Sérgio é economista. Filiou-se ao PR só para que o partido pudesse se orgulhar de dispor de todos os cargos importantes do ministério. “Porteira fechada” — sabe como é? O ministério era de Nascimento, do deputado Valdemar Costa Neto (SP), réu no processo do mensalão do PT,e de outras figurinhas carimbadas do PR.

E estamos conversados. Paulo Sérgio não era ouvido nem cheirado por essa gente sobre fraudes em licitações, absurdos aditivos em contratos milionários, superfaturamento e cobrança de comissões generosas para abarrotar os cofres do PR ou os bolsos dos seus caciques. Escondiam tudo do coitado. Não era da turma.

Talvez fosse por isso que Lula tanto gostasse dele. E que Dilma também. Era um puro. Outra coisa que precisa ficar clara: na condição de céptico em recesso, repilo a insinuação de que Dilma só decidiu promover uma “faxina ética” no ministério dos Transportes porque pegaria mal não fazê-lo depois de o lamaçal vir à tona.

Verdade que ela não pensou em faxina quando concluiu que o ministério estava “fora de controle”. Esbravejou, espancou a mesa de reuniões da sala vizinha ao seu gabinete no Palácio do Planalto econcluiu que o ministério carecia de babás. Ofereceu-se para ser uma delas. As outras seriam as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.

A ficha de Dilma só caiu ao saber que a Polícia Federal acumulara provas dos trambiques e se preparava para prender alguns suspeitos.Aí veio a imprensa e começou a disparar denúncias. Ok, mas edaí? Dilma correu atrás do prejuízo e cortou cabeças — 17 até o último fim de semana. É isso o que importa. Lula jamais procedeu assim.

Os demitidos serão punidos um dia? Não é tarefa de Dilma. É da Justiça, lenta, lerda e cega. A faxina se estenderá a outros ministérios? Dependerá do que a imprensa descobrir. Ou do que vazarem para ela. Sarney ensinou a seus sucessores que o primeiro compromisso de um presidente deve ser com a sua própria sobrevivência.

Há corrupção em quase todas as instâncias do governo. Os partidos brigam por cargos não para ajudar o governo, mas para desviar o máximo de dinheiro possível. A“governabilidade” depende do apoio que eles ofereçam ao governo. E esse apoio vale mais do que os milhões de votos obtidos por Dilma.

Querem o quê? Que Dilma se suicide? Menos!

FONTE: O GLOBO

Presidentes com e sem luto:: Renato Janine Ribeiro

Não podemos tratar do luto com pressa. Superar a perda de uma pessoa querida exige tempo. A pior coisa nas revistas de celebridades é que, a cada tragédia que elas sofrem, afirma-se que a pessoa "já superou". Mas há perdas que nunca superamos, como a do filho, e outras só com o tempo. Dizia-me outro dia minha colega Clotilde Rossetti Ferreira, da USP de Ribeirão Preto, que nos casos de luto mesmo a medicação pode abafar a maneira como se lida com a perda. O tempo, matéria-prima da história, é também o que decanta o luto.

Por isso, esperei para falar da morte de Itamar Franco. Em poucos meses perdemos, após longo intervalo sem morte presidencial significativa, um vice-presidente e um presidente. O enterro de José Alencar assumiu algumas cores do funeral que é um paradigma para muitos brasileiros, o de Tancredo Neves em 1985. Seguiu-se outro vice, Itamar Franco, que se tornou titular do cargo com a condenação do presidente Collor e viveu duas décadas após o mandato. Não é o caso de comparar os dois, mas de refletir sobre a memória que deles fica, a maneira como nos despedimos, a tradução afetiva de seus legados políticos.

O Brasil tem pouca tradição na liturgia do enterro presidencial. Nossos dois imperadores, que reinaram durante quase todo o século XIX, morreram e foram sepultados no exterior. Mesmo assim, a volta dos restos mortais de Pedro I, na ditadura militar, trouxe um efeito irônico: em pleno regime de exceção, Pernambuco se recusou a honrar o corpo de quem tinha chacinado - tanto tempo antes! - suas lideranças políticas. Funerais têm um significado forte. Já no regime dito republicano, os ditadores militares e os presidentes escolhidos na fraude da República Velha não despertaram saudade ou luto maiores.

Três enterros seminais marcam nossa história, compensando, pela intensidade, seu pequeno número. O último foi o de Tancredo Neves, em 1985. A história era inacreditável. À véspera de sua posse na Presidência, encerrando 21 anos de ditadura, ele era internado; um mês depois, coincidindo com a morte do maior herói popular de Minas e do Brasil, ele morria. O itinerário do corpo atraiu multidões. Vi passar a carreta, saindo do Hospital das Clínicas de São Paulo, pelo cruzamento da Rebouças com a Brasil. Encontrei uma amiga petista, que se opusera à eleição de Tancredo pelo ilegítimo colégio eleitoral da ditadura, mas que estava chocada, como todos. Durante horas, a televisão mostrou o avião levando seu corpo para Brasília, ao som de "Canção de estudante", de Milton Nascimento. Por meia hora, o pedreiro em São João del-Rei alisou o cimento que lacrava sua sepultura. A despedida do presidente que não chegou a sê-lo foi no ritmo mais vagaroso que se possa imaginar. Eram imagens intermináveis de um enorme não-evento. Com razão: sua morte abrupta bloqueara o grande evento previsto, o frenesi de acontecimentos que seria a festa pelo fim da ditadura, fazendo o regime civil começar com um vazio espantoso. A festa, retardada, só explodiu sete anos depois, no carnaval - no melhor sentido do termo - que levou ao impeachment de Collor.

O funeral de Getúlio Vargas foi o mais forte de nossa história. Seu ministro da Justiça era Tancredo, a quem o presidente entregou a caneta com que assinou seus últimos atos; trinta anos depois, Tancredo pretendia assinar com ela o termo de posse. Vargas estava destruído politicamente na noite de 23 de agosto de 1954. Mas, ao suicidar-se, reverteu a situação. Adiou por dez anos o golpe militar. Abriu lugar para Juscelino, o desenvolvimento, Brasília, a indústria, a bossa nova. Vi seu enterro no filme "O mundo em que Getúlio viveu", de Jorge Ileli, que se concentra no luto popular por sua morte, nas cenas de orfandade de um povo que se sente privado do líder querido. Rodado em 1963, o filme só estreou em 1976.

Juscelino Kubitscheck, que morreu perseguido e cassado, teve funerais sob rígido controle. Mas foi difícil a polícia reprimir a emoção. O melhor sinal de que a ditadura perdera o apoio foi dado por um senhor que tentava entrar na igreja e, contido pela repressão, gritou: "Sou cassado!". A frase mágica permitiu que entrasse. Em 1976, a punição pela ditadura tornara-se honra.

Os dois funerais deste ano foram modestos. Felizmente, não tivemos a cena horrível, quase pagã, de cinco pessoas mortas imprensadas contra as grades do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, que marcou a emoção e sobretudo a desorganização do enterro de Tancredo. Mas me surpreendeu, primeiro, que José Alencar fosse o primeiro político, em vinte e seis anos, a ter um enterro de porte presidencial. Muitos de nós nem lembramos quando morreram os ditadores do período militar. Não houve luto por eles. Mas, aqui, vimos um vice extremamente leal ao presidente Lula, mesmo discordando de sua política na taxa de juros, e que se tornou muito querido, como registra Eliane Cantanhede na biografia que lhe dedicou, fosse pela lealdade, pela luta contra o câncer ou, ainda, pela tenacidade que o levou a viver até o fim o mandato que recebeu do povo. E agora assistimos a um enterro mais discreto, o de Itamar Franco. Enquanto Getúlio, Tancredo e Alencar morreram à sombra de suas funções, Itamar sobreviveu à Presidência quase duas décadas. Realizou o sonho de governar Minas, apoiou e atacou FHC e Lula, continuou na ativa. O curioso e triste é que uma de suas grandes realizações, o Plano Real, dele subtraída por anos de propaganda política, só lhe fosse reconhecida na beira do túmulo. Estas são ocasiões de pensar sobre a memória, sua lentidão e talvez sua justiça final.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Prebisch e Furtado:: Rubens Ricupero

Economistas foram os únicos latino-americanos capazes de elaborar pensamentos originais sobre o desenvolvimento

Morto há 25 anos, Prebisch continua atual no cenário de retrocesso da industrialização no Brasil e na América Latina, da dependência das commodities e da volta do debate sobre a "questão nacional". Nada melhor assim do que ler a magistral biografia sobre Raul Prebisch e seu tempo, do professor canadense Edgar J. Dosman, traduzida por iniciativa do Centro Celso Furtado (em coedição com a Contraponto, a ser lançada em São Paulo em 15 de agosto).

A relação fecunda, às vezes conflitiva entre Celso Furtado e Prebisch recebe no livro o relevo que merece. O autor reconhece como decisiva a contribuição intelectual do jovem ex-expedicionário brasileiro na edificação do arcabouço teórico da CEPAL, a Comissão Econômica da ONU para a América Latina, liderada pelo economista argentino.

A infeliz decisão de impedir a divulgação do estudo da economia mexicana dirigido por Furtado levou este último a romper em 1957 com Prebisch, do qual era considerado o natural sucessor. Na descrição do episódio, Dosman não esconde os erros e fraquezas de seu biografado. Sertanejo destemido, Celso perde no terreno do poder, mas sai vitorioso no da coerência e integridade moral.

Reconciliados mais tarde, os dois se tornariam os únicos latino-americanos capazes de criar pensamento original sobre o desenvolvimento com profunda e duradoura influência no mundo. Mais do que simples biografia, o livro traz de volta as grandes discussões no Brasil do após-guerra sobre a "questão nacional", isto é, a passagem definitiva do estágio herdado da economia colonial e dependente para o de um desenvolvimento voltado à integração do mercado nacional.

Ressoam na obra os ecos da polêmica provocada pelas conferências ortodoxas de Jacob Viner, a defesa por Gudin e Bulhões da opção pelas vantagens comparativas do Brasil em agricultura, contrapostas aos partidários da criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e da implantação de indústria de bens de capital.

À luz de hoje é curioso ler sobre as ameaças de Roberto Campos e do governo Castelo Branco ao instituto de pesquisas criado por Prebisch por ter este abrigado em Santiago "esquerdistas" conspícuos como Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort...

Fica da leitura o sabor melancólico de que, como todo profeta, Prebisch foi mais seguido pela China e países asiáticos do que em sua própria terra. A industrialização que ele pregava não era a mera substituição de importações com protecionismo. Essa não passava da etapa inicial da conquista de competitividade mediante a exportação de manufaturas a mercados externos.

Quem aplicou de modo correto a estratégia foram os chineses. Lograram, por isso, escapar da periferia e se converterem no centro da nova distribuição internacional do trabalho. Enquanto isso, o Brasil e a América Latina continuam a gravitar na periferia. Só mudaram, uma vez mais, de centro de dependência.

As commodities latinas não são muito diversas das do passado. Apenas voltaram aos bons preços que durante décadas criaram a prosperidade ilusória da Argentina. Até a crise de 1930 acarretar o colapso que marcou para sempre a vida de Prebisch. Será diferente esta vez?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Câmbio valorizado mostra fragilidade na crise, avalia Belluzzo

João Villaverde

São Paulo - A grave crise de endividamento público atravessada pelos Estados Unidos e os países da União Europeia expõe uma fragilidade no "sólido" modelo de crescimento brasileiro - o câmbio valorizada, que impulsiona o consumo via aumento do poder de compra, e sustenta a inflação, via importação. Essa é a avaliação do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, para quem a principal missão do governo brasileiro, no segundo semestre, será centrar esforços no câmbio."Uma desvalorização, brusca, não está descartada, o que encareceria os importados imediatamente, além de onerar pesadamente os empréstimos externos tomados pelas empresas", diz Belluzzo, que conversou com o Valor de Florença (Itália), na noite de quinta-feira, sobre os impactos que a economia brasileira pode sofrer com o recrudescimento da crise nos países ricos.

Como um espectador privilegiado da crise da dívida pública que avança pelos países europeus, e que fez da Itália a mais recente protagonista, Belluzzo avalia que o resgate da Grécia, cuja dívida bruta beira o patamar de 120% do PIB, está incutindo entre os países ricos a percepção de que, para escapar de um estresse do mercado financeiro e da possibilidade de um calote, é preciso apertar os gastos.

"Assim como a crise foi pegando os países, um a um, a ideia de que é preciso apertar a política fiscal de maneira muito firme tem se tornado consenso, passando de um país para o outro", afirma Belluzzo. "Os europeus estão perplexos com o que está acontecendo, eles não têm nenhuma experiência com esse tipo de situação, que é mais comum em países pobres."

O grande risco para o Brasil, diz o economista, é uma política coordenada de aperto nos gastos na União Europeia e nos EUA. "A Alemanha, único país ainda dinâmico na União Europeia, graças às exportações, não resistiria a um aperto coletivo na política fiscal, porque ficaria sem mercado", avalia Belluzzo. "E nós ficaríamos sem os fluxos de capitais externos, que chegaram em velocidade impressionante no primeiro semestre."

Para Belluzzo, que foi, ao lado do ex-ministro Antonio Delfim Netto, um dos principais conselheiros econômicos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo brasileiro está "um tanto prisioneiro" do atual modelo de crescimento. Ainda que a situação fiscal esteja "muito boa", quando comparada ao resto do mundo, e a inflação permaneça sob o controle do Banco Central, o economista avalia que o governo "não tem como evitar o enorme fluxo de capitais que chegou e chega ao Brasil".

A missão da equipe econômica, portanto, passa por "evitar que uma turbulência muito séria nos países ricos, algo que não está descartado, resulte em uma desvalorização absurda do real".

O elevado nível de reservas acumulado pelo BC - US$ 340 bilhões (dos quais cerca de US$ 220 bilhões aplicados em títulos públicos americanos - e a dívida bruta em torno de 55% do PIB deixam o Brasil em situação confortável para enfrentar uma deterioração adicional nos países ricos.

"O governo não deveria ter permitido uma valorização tão excessiva do real", diz Belluzzo. "No momento em que os fluxos do exterior se reverterem, independentemente da velocidade com que isso aconteça, o modelo de crescimento sustentado de maneira firme no mercado doméstico e no controle de inflação, via ingresso de bens importados, sofrerá um baque".

A situação de impasse vivida por europeus e americanos intriga o economista que, entre a segunda metade de 1985 e os primeiros meses de 1987, teve como principal tarefa encontrar uma solução que evitasse um calote do enorme passivo acumulado pelo Estado brasileiro. Belluzzo era secretário de Política Econômica. Naquele período, Belluzzo passou do céu, representado pelos passos iniciais do Plano Cruzado, que impulsionou o crescimento de 7,5% do PIB em 1986, ao inferno, quando o país declarou a moratória.

Como acontece hoje com os países europeus, quando a descrença quanto à solvência da Grécia, em 2010, atingiu Irlanda, Portugal e, mais recentemente, a Itália, os países latino-americanos foram alvos dos bancos americanos e europeus entre 1982, quando o México foi o primeiro a declarar moratória, e 1994, quando o Brasil finalizou a renegociação da dívida externa.

"A União Europeia passa, hoje, pelo que a América Latina passou entre o fim da década de 80 e o início dos anos 90", diz Belluzzo, "quando todos os agentes do mercado sabiam que as dívidas eram impagáveis e precisavam ser renegociadas, mas ninguém queria arcar com o prejuízo". Mesmo assim, pondera Belluzzo, a renegociação da dívida externa brasileira, entre 1993 e 1994, só foi possível devido à crise econômica que os americanos atravessaram durante o governo Bush (1989-1992), que permitiu ao Brasil acumular as reservas internacionais que serviram de garantia nas reuniões com os credores.

Para Belluzzo, uma política fiscal mais apertada só faz sentido em tempo de bonança - o que não é o caso. "Os países europeus e os EUA precisam resolver o alto desemprego, principal problema da economia real. Isso só acontece com crescimento", afirma.

A situação americana beira a "irracionalidade econômica", diz o economista. Em vez de utilizar a política fiscal como estímulo para a redução da elevada taxa de desemprego, que oscila entre 9% e 10% há um ano, o governo de Barack Obama lançou mão da política monetária. "Foi a agressiva política de emissão de moeda adotada pelo Fed [Federal Reserve, o banco central americano] que propiciou a enxurrada de capital que chegou ao Brasil desde o fim do ano passado, e pouco serviu para ampliar o crescimento interno ou gerar empregos", afirma Belluzzo.

A crise fiscal americana é o reflexo da crise financeira privada, desencadeada pela falência de grandes bancos de investimento, em 2008. "O governo gastou a política fiscal na salvação do sistema financeiro, algo que era necessário, e acabou sendo tímido no incentivo ao crescimento. Agora, a irresponsabilidade será maior, caso decidam por cortes de programas sociais, na hora errada".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

ANP nega aparelhamento político e diz ''não tolerar'' irregularidades

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) rebateu ontem as denúncias publicadas pela revista Época. Em nota à imprensa, a ANP disse não tolerar irregularidades praticadas por seus funcionários.

Segundo a agência, todos seus funcionários foram contratados mediante concurso, o que contradiz a existência de aparelhamento político de seus quadros, conforme afirmou a reportagem da revista.

Está sob investigação no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal (PF) um suposto esquema de corrupção em vigência na ANP desde 2008. Num vídeo ao qual a reportagem de Época teve acesso, a advogada Vanuza Sampaio, representante de empresas com processos na ANP e responsável pela gravação, conversa com Antonio José Moreira e Daniel Carvalho Lima. Ambos, que atuavam na agência, sugerem que os clientes da advogada paguem para se livrar da fiscalização da ANP. Edson Silva, ex-superintendente da ANP, filiado ao PCdoB, também é citado como um dos integrantes do esquema.

Em seu comunicado, a ANP afirma que a advogada Vanuza Sampaio alertou, em 2008, sua área de inteligência quanto às suspeitas de cobranças de propina. Após isso, a própria agência teria encaminhado às acusações ao MP e, justamente por sua intervenção, as investigações teriam começado.

"Edson Silva afirma que jamais autorizou quem quer que seja a falar em seu nome ou fazer tratativas do tipo que a revista lhe atribui", diz a nota. A ANP informa ainda que o ex-superintendente interpelou judicialmente a advogada para que confirmasse em juízo as acusações veiculadas pela revista. "Em sua resposta, a advogada negou que tivesse conhecimento de qualquer irregularidade por ele praticada", diz a nota da ANP.

De acordo com a ANP, Antonio José Moreira e Daniel Carvalho de Lima nunca foram assessores da agência. Um deles trabalhava como procurador, indicado pela União, e o outro era estagiário de Procuradoria. Ambos não prestam mais esses serviços há cerca de um ano.

A ANP atesta também não se eximir de fiscalizar a atuação de todos os seus servidores e produtos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oposição quer ouvir Lobão sobre propina

PPS defende afastamento de assessores filmados negociando processos

Uma nova denúncia de corrupção, desta vez envolvendo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), levará a oposição a protocolar no Congresso dois requerimentos de audiência pública para apurar o caso. O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse que pretende convocar o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e convidar o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, para esclarecimentos.

Em nota, Bueno defendeu o imediato afastamento dos assessores flagrados em um vídeo, gravado em maio de 2008, supostamente exigindo propina.

– Esta é a forma mais isenta para buscar investigação séria de mais este episódio do governo do PT. A denúncia é gravíssima – afirmou.

Durante o recesso parlamentar, o Congresso funciona em esquema de plantão. Uma comissão mista de oito senadores e 17 deputados está de prontidão até 1º de agosto, mas só é convocada para tratar de temas emergenciais. Requerimentos desse tipo não têm prazo e, portanto, não recebem tratamento de urgência.

Hoje, a oposição tem três deputados e dois senadores – entre eles, não há representantes do PPS – na comissão mista. O requerimento precisa ser analisado e votado até a próxima sexta-feira. Isso, no entanto, só ocorrerá se os governistas aceitarem.

Agência nega denúncia de aparelhamento político

Segundo a reportagem da revista Época, as filmagens sugerem a existência de esquema de cobrança de propinas dentro da ANP, aparelhada pelo PC do B, em que assessores pediriam dinheiro para destravar processos de empresas de combustíveis.

Ainda de acordo com a publicação, a advogada Vanusa Sampaio, do Rio, que representa companhias do ramo, foi procurada por dois assessores da ANP, Antonio José Moreira e Daniel Carvalho de Lima. A dupla teria afirmado falar em nome do então superintendente Edson Silva, um ex-deputado federal do PC do B.

Em nota, a ANP classificou as acusações como "falsidades"". Segundo a agência, Moreira e Lima nunca foram do seu quadro de servidores permanentes – o primeiro é servidor da Procuradoria da Fazenda Federal e foi destacado para o acompanhamento de processos na agência, e o segundo era estagiário. Segundo a ANP, os dois estão fora da agência há mais de dois anos.

A nota afirma ainda que Silva nega ter autorizado qualquer pessoa a falar em seu nome para cobrar propina. A ANP negou também que haja aparelhamento político na agência.

Entenda o caso

Reportagem da revista Época desta semana afirma que vídeos gravados sob a orientação da Polícia Federal, a pedido do Ministério Público, exibem cenas de suposta corrupção de funcionários da ANP:

- Em 5 de maio de 2008, dois assessores da ANP, Antonio José Moreira e Daniel Carvalho de Lima, entraram na sala da advogada Vanusa Sampaio, do Rio, que representa companhias do ramo. Diziam falar em nome do então superintendente Edson Silva. Sem que suspeitassem, foram gravados.

- No vídeo, dizem que, do total da propina (R$ 40 mil), Silva levaria R$ 25 mil e os R$ 15 mil restantes seriam rateados entre os dois. Em seguida, propõem à advogada que passe a extorquir outras empresas.

- A Superintendência de Abastecimento, comandada por Silva à época, define cotas de venda de combustíveis e libera e cassa licenças de distribuidoras e postos.
ZERO HORA (RS)

Boa novidade :: Paulo Brossard

Perplexo, para não dizer estarrecido, eu também fiquei boquiaberto com o que ocorreu, ou teria ocorrido ou estava por acontecer na área do Ministério dos Transportes.

As matérias estampadas eram de suma gravidade, e na medida em que fossem confirmadas, as pessoas envolvidas estariam em maus lençóis. Mas havia mais. Os fatos narrados, em sua constrangedora imprudência, não haviam chegado ao conhecimento da nação, nem da própria senhora presidente da República, suponho eu, por intermédio dos serviços oficiais especializados, mas por órgãos da imprensa, de resto, da maior importância e autoridade jornalística – a Veja, o Globo, O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo. A pergunta que me fiz então e volto a fazer-me é se para serem conhecidas do governo, insignes mazelas, necessitam da interferência saneadora da imprensa. Diante do fato, em sua serena objetividade, um espírito um tanto sarcástico não seria levado a propor a contratação de órgãos da imprensa ou de jornalistas selecionados, para fazerem o que a administração não tem feito; pelo menos para que a senhora presidente tenha notícias do que se passa em segmentos da alta administração? Sem ter de aguardar graciosa colaboração da imprensa. Não quero tirar conclusões, mas uma coisa me parece incontestável: alguma coisa não está funcionando, e não está porque não tem feito o que a imprensa tem sido capaz de fazer, sem ter poder estatal. Este é o fato, público, desenrolado aos olhos da nação. Exagero na minha análise?

Ainda que haja imprensa que preste ao governo, gratuitamente, essa valiosa contribuição, não pense o leitor que esteja eu a pilheriar com assunto tão relevante, mas acrescento, os serviços do Estado têm de ser, em relação à administração federal, melhores que as investigações jornalísticas. É claro que a senhora presidente, neste maldito regime presidencial, não pode dedicar-se a coletar informações, nem lhe cabe fazê-lo. Suas atribuições são outras (no momento em que escrevo li em uma de nossas folhas que no sétimo mês de seu governo a chefe do governo recebeu em audiência, pela primeira vez, um ministro de Estado!).

Ela não pode ocupar-se desses assuntos, como não tem de examinar a limpeza de sua sala de trabalho. A questão não é de somenos. Pode não ser brilhante, mas é de fundamental utilidade. Se ela não contar com colaboradores capazes, cuide de sanar a falha. A presidente necessita estar ciente e bem ciente do que se passa sob os tapetes do Palácio do Planalto e alhures.

O fato é que, em dias, e a partir do registro dos jornais, não digo que tenha passado a fazer a limpeza no Ministério em causa, mas o notório é que passou a funcionar a guilhotina sob seu império. Quantas cabeças rolaram sob o ímpeto robespierriano da amável senhora presidente? Dezoito, entre demitidos e afastados.

A um observador distante esse procedimento ou esse dado concreto significa que ela levou a sério as matérias jornalísticas publicadas. Laus Deo! Não há demérito nisso, demérito haveria se ela fizesse ouvidos de mercador e não agisse no sentido de suprimir suas causas, como fazia seu antecessor.

Sem informações privilegiadas, concluo com os elementos que tenho à vista. Imagino que, por motivos vários, ela teve de superar alguns óbices. O ex-presidente da República, por exemplo, observou que ela poderia perder "sua base de sustentação" e, não obstante, não se intimidou e "apesar de queixas dos aliados" "sempre que surgirem denúncias relevantes" e, enquanto contar com a opinião pública a seu favor, manterá seu estilo de agir. Ou seja, se o Ministério fora outorgado de "porteira fechada", deixou de ser para exploração privada de partido. Não deixa de ser uma novidade. E até que enfim, boa novidade.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE ZERO HORA (RS)

Xerife dos fundos de pensão anistia dirigentes que descumpriram lei

Decisão polêmica pode beneficiar 200 gestores e aliviar R$500 mil em multas

Geralda Doca

BRASÍLIA. Xerife dos fundos de pensão, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) aprovou recentemente uma medida polêmica que perdoa condutas passadas de dirigentes que aplicaram recursos dos fundos de pensão em desacordo com a lei e vai orientar o trabalho dos fiscais em auditorias futuras. Trata-se da Súmula 02 - uma das primeiras ações do órgão sob o comando de José Maria Rabelo, indicado do PMDB.

Com efeito vinculante e caráter indicativo, a súmula manda aplicar nas investigações o princípio da retroatividade da norma mais benéfica, com base numa decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), aprovada em setembro de 2009, que ampliou os limites de aplicação dos investimentos dos fundos. Na prática, o governo passou a permitir mais riscos em troca de rentabilidade maior para as entidades, dada a perspectiva de juros baixos no longo prazo.

Chamada nos bastidores do governo de "xerife camarada", a norma muda o tratamento dado a dirigentes de fundos de pensão citados em processos administrativos no âmbito da autarquia por aplicação inadequada (acima dos limites permitidos), que passam a ser considerados enquadrados.

Três casos já foram julgados pela nova medida

O ato causou estranheza às áreas dos ministérios da Fazenda e do Planejamento que acompanham o setor - marcado por forte interesse político, dado o poder de fogo dos fundos de pensão, donos de um patrimônio de R$565,76 bilhões.

Pesa ainda o fato de que, para emplacar a súmula, a Previc revogou um parecer do departamento jurídico da antiga Secretaria de Previdência Complementar (SPC). O documento concluiu pela não aplicação do princípio da retroatividade benéfica para investimentos, "sob pena de esvaziarmos o caráter coercitivo e intimidativo das normas relacionadas com a aplicação dos recursos" dos fundos.

A Câmara de Recursos da Secretaria de Políticas Públicas de Previdência Complementar (SPPC), que faz parte do sistema mas é independente, vê problemas na súmula da Previc. Essa é a última instância da esfera administrativa à qual os autuados podem recorrer. Para o presidente Paulo César dos Santos, a retroatividade da norma mais benéfica só se aplica a casos extremos, como reclusão:

- A Câmara olha sempre o momento em que a infração foi cometida e a legislação existente na época. Não vamos alterar esse princípio.

Os processos são sigilosos, mas, segundo fontes, a bondade pode alcançar 200 gestores de fundos. Com isso, multas, que variam entre R$18,9 mil e R$1,899 milhão, e inabilitação por até dez anos (em fundo de pensão, no mercado financeiro, no serviço público e em seguradora) poderão ser eliminadas ou atenuadas. A estimativa é que o montante de multa que deixará de ser cobrado pela Previc supera os R$500 mil, na avaliação de uma fonte.

Até agora, foram julgados três casos à luz da nova súmula. O primeiro envolve o Celos, dos funcionários da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), no qual quatro dirigentes tiveram a multa reduzida para R$20 mil cada. Os outros foram o fundo de pensão do grupo Gerdau e o Serpros (dos funcionários do Serpro), cujos dirigentes foram absolvidos. Estão na fila, segundo a Previc, mais 15 processos.

O procurador-chefe substituto da Previc, Felipe Araújo Lima, admite que a norma não é praxe em outros órgãos, mas alega que tem fundamento legal e representa um avanço. Ele explicou que a súmula está baseada na Constituição, que diz que a lei só retroage para beneficiar o réu. O Código Penal, disse, reforça este entendimento, mas ressalva que o princípio da retroatividade da norma mais benéfica não se aplica às leis consideradas temporárias ou excepcionais:

- Não é o caso da resolução do CMN, que na nossa avaliação tem caráter perene.

Essa tese, porém, foi derrubada pela SPC. No seu parecer, os fundos de pensão são investidores institucionais capazes de mexer com o mercado, e mudanças na política econômica podem exercer grande impacto na aplicação dos recursos: "Por conta da natureza dinâmica do sistema econômico, as normas relativas aos recursos das entidades acabam por adquirir natureza de temporariedade ou de excepcionalidade".

"Estou tranquilo", diz superintendente da Previc

Apesar da controvérsia, o superintendente da Previc, José Maria Rabelo, defendeu a medida e negou que tenha sido feita para atender interesses específicos:

- Faz parte do trabalho do gestor rever posicionamentos. Estou absolutamente tranquilo.

Já o secretário da SPPC (órgão que define as diretrizes do setor), Jaime Mariz, afirmou que levará o assunto para o Conselho Nacional de Previdência Complementar, no próximo dia 15.

Entre grandes fundos, como Previ (Banco do Brasil) e Funcef (da Caixa), a súmula poderá nortear o trabalho dos auditores nos casos de desenquadramento passivo, quando o ativo se valorizou e ultrapassou o teto do patrimônio líquido para aplicação em papéis de uma só empresa. Em 2009, o CMN elevou o limite de 20% para 25%.

- É muito difícil resolver o problema do desenquadramento passivo porque você teria que vender os papéis e poderia ter até prejuízo. A própria Previc não tem como resolver essa questão, e criou uma solução de conforto - avaliou uma fonte.

Para o Serpros, a edição de súmulas para uniformizar julgamentos fortalece o sistema. O diretor de Seguridade do Celos, João Paulo de Souza, disse que os quatro conselheiros do fundo foram multados por não cumprirem prazo legal na avaliação de um imóvel, vendido em 2001. A Gerdau informou que a Previc lavrou dois autos de infração contra quatro dirigentes do fundo, com multa, suspensão e inabilitação, mas os autuados recorrem e pedem a retroatividade da norma mais benéfica.

O secretário-geral da Funcef, Geraldo Aparecido da Silva, admitiu que a entidade tem um caso de desenquadramento passivo, mas disse que o problema decorre da grande valorização dos papéis. A Previ informou em nota que os casos de desenquadramento serão solucionados dentro de um cronograma até 2014.

FONTE: O GLOBO

Tristeza:: Graziela Melo

Tudo fica
para trás!

Só nós
é que
nos vamos

E para
nunca mais!!!

É a viagem
sem retorno,
não precisa
Passaporte

É o dia
mais triste
da vida,

o dia da
nossa morte!!!

Há muito
se foi
Ulisses

e o nosso
querido
Itamar!!!

Itamar
dormiu
no leito

Ulisses
ficou no mar...

Quando vejo
o sol se pondo,

reflito:
será que
vou vê-lo
nascer?

Será que
vejo
outra noite,

e um outro
amanhecer???

   Rio, 24/07/2011