terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques*

“Trata-se, no fundo, de reivindicar para nosso país a plena inserção no Ocidente democrático – um conceito que nada tem de geográfico nem se limita à repetição de ritos e instituições de países ditos desenvolvidos. Antes, ele corresponde a um sistema articulado e flexível de formas políticas e sociais assentadas na tolerância, no pluralismo de valores e nos direitos humanos em todas as suas dimensões. E daí, precisamente, retira sua aspiração à universalidade ou, numa definição menos eloquente, à condição de barreira, sempre frágil e necessitada de reparos, contra a fúria destrutiva que de tempos em tempos acomete as sociedades, como ainda há poucos dias pudemos ver entre atônitos e horrorizados.”

*Tradutor, ensaísta. É um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. “A democracia como valor universal”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 15/1/2023.

Merval Pereira - Dilema político

O Globo

Possível prisão de Bolsonaro causa discussão dentro do governo. Há quem ache que ele sairia ganhando se fosse preso

A volta ao país do ex-presidente Bolsonaro, que deverá acontecer brevemente devido à pressão política para que seu visto especial não seja renovado, pois não é mais presidente do Brasil, está criando uma discussão dentro do governo. Há os que consideram que o governo tem de ser rigoroso e prendê-lo quando existir alguma acusação formal contra ele, mesmo que seja logo na chegada.

Outros consideram que Bolsonaro só sairia ganhando se fosse preso, reforçando a imagem de vítima que vem cultivando no exterior. Não foi por acaso que ele ontem comentou que os atos de vandalismo ocorridos em Brasília foram “inacreditáveis”, reforçando a crítica que já havia feito quando disse que quebrar prédios públicos “está fora das quatro linhas da Constituição”.

Luiz Carlos Azedo - Vandalismo isolou extrema direita, mas sociedade segue polarizada

Correio Braziliense

Nas redes sociais, permanece o dispositivo montado para manipular a opinião pública e coordenar as ações bolsonaristas, apesar de todas as medidas tomadas até agora contra a extrema direita

Os atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro isolaram a extrema direita, porém, a sociedade continua polarizada. A pronta resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra os sediciosos e a dura reação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contiveram a escalada golpista. A pesquisa divulgada ontem pelo Ipec mostra que 54% dos brasileiros confiam no petista. Por outro lado, 41% disseram que não confiam e 4% não responderam ou não opinaram.

A maior parte dos que confiam no presidente são homens (59%), com mais de 60 anos (63%), que possuem escolaridade até o ensino fundamental (65%) e que moram na região Nordeste (77%). O índice dos que não confiam é maior entre as mulheres (45%). Elas são jovens de 25 a 34 anos (46%), com ensino superior (49%) e moradoras da região Sul (53%). O dado mais positivo foi o fato de que 55% dos entrevistados acreditam que o governo Lula será bom ou ótimo. Já para 21% será ruim ou péssimo. Os que consideram que a gestão será regular são 18%. Essa expectativa não pode ser frustrada.

Andrea Jubé - Receita para curar um fanático político

Valor Econômico

Pimenta propõe diálogo a opositores não radicais

O escritor e pacifista israelense Amós Oz não viveu para testemunhar a horda de bárbaros que invadiu e depredou as sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro, no simulacro do atentado ao Capitólio americano, em um dos capítulos mais terríveis da nossa história. Igualmente, não testemunhou o ataque ao Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021 pelos apoiadores do ex-presidente Donald Trump.

Morto em dezembro de 2018, aos 79 anos, ele foi o principal porta-voz do movimento Paz Agora, fundado em 1977, para lutar pela conciliação entre judeus e palestinos. Nos artigos e ensaios sobre o longevo conflito entre Israel e o Estado palestino, afirmava que a infância em Jerusalém lhe concedera “expertise em fanatismo”.

Com esse atributo, invariavelmente manifestava-se ou proferia palestras sobre atentados terroristas praticados por grupos extremistas nos diferentes palcos mundiais. Em 2002, em uma Alemanha que até hoje cumpre um doloroso processo de “desnazificação” social, propôs alternativas sobre “como curar um fanático”.

Eliane Cantanhêde - O joio e o trigo entre os fardados

O Estado de S. Paulo

O desafio de Lula: afastar os militares golpistas sem confrontar os legalistas e as Forças

Em reunião nesta segunda, 16/1, com os ministros da Justiça, Defesa e GSI, mais o interventor do DF e o diretor da PF, o presidente Lula estava bravo, irritado com “omissões” e “conivências”, inclusive de militares, no golpe de domingo, 8/1, e avisou: “Nunca mais vai acontecer!”.

Entre tantas heranças malditas deixadas por Jair Bolsonaro, não só para Lula, mas para o Brasil, a mais complexa e difícil de consertar é o estrago nas Forças Armadas. Não depende só de recursos e dança de cadeiras, é preciso muito mais, sobretudo tempo, habilidade e bom senso.

Edu Lyra - Cabeça técnica, coração solidário

O Globo

O Brasil precisa como nunca promover a mentalidade ambidestra, unindo solidariedade e conhecimento

Quem trabalha no setor social precisa ter coração. É fundamental cultivar certa indignação perante as injustiças, se solidarizar com a dor do próximo, não cair na armadilha de naturalizar a pobreza e a desigualdade.

É esse ímpeto que nos leva a enxergar as pessoas tidas como invisíveis, gente cuja história costuma ficar escondida nos barracos e vielas das periferias brasileiras.

Mas boas intenções não bastam. A pobreza é um desafio social e também técnico. Com o coração, nós podemos sentir a dor dos que vivem “da ponte pra lá”, como no verso dos Racionais MC’s, mas apenas o conhecimento técnico pode transformar esse ímpeto bondoso em soluções reais, exequíveis, para a questão da pobreza.

Aprendi essa lição, meio ao acaso, com a minha mãe. Sempre que eu tinha um dia ruim, ela estava pronta para me ouvir, me abraçar, me acolher, mas jamais me deixava faltar à escola. Ela não se esquecia de como a educação era importante para que eu pudesse um dia quebrar os grilhões da pobreza.

Felipe Salto* - O bom começo de Haddad

O Estado de S. Paulo

Pacote de medidas ajuda a segurar subida da dívida em 2023. Para obter condições sustentáveis, é preciso esperar novos anúncios

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou suas primeiras medidas. O pacote poderá ter efeito relevante nas receitas e amenizar o déficit das contas públicas projetado para 2023. As despesas devem ganhar maior atenção com o início do trabalho das novas equipes.

O pacote contempla R$ 70 bilhões em medidas relacionadas à litigiosidade e às relações entre Fisco e contribuintes. A ideia é ampliar a arrecadação por meio de novos incentivos ao pagamento de tributos atrasados. Mais: R$ 23 bilhões em apropriação dos recursos do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); R$ 4,4 bilhões em tributação de receitas financeiras das empresas; R$ 36 bilhões em reestimativas das projeções de arrecadação da Lei Orçamentária Anual; e R$ 30 bilhões da correção no método de retirada do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da base do Pis/cofins. A reoneração dos combustíveis poderá render outros R$ 28,8 bilhões.

Joel Pinheiro da Fonseca - Como conter o STF?

Folha de S. Paulo

Supremo cresceu na medida em que demais Poderes se omitiram

Um ministro do Supremo pode afastar um governador por uma decisão de ofício, ou banir quaisquer usuários das redes sociais —na prática, a esfera pública de nossos tempos— por prazo indefinido e sem possibilidade de recurso. Não é preciso ser fã do Monark ou do Rodrigo Constantino para entender o perigo desse precedente.

Não há contradição nenhuma em afirmar, ao mesmo tempo, que: 1) sem as decisões —às vezes questionáveis— de Alexandre de Moraes, a democracia brasileira estaria em risco. 2) Os precedentes abertos por essas decisões são eles próprios fontes de risco à democracia.

Cristina Serra - Chico, Sônia, Anielle e Silvio

Folha de S. Paulo

O Brasil deles é a síntese do melhor que somos

No show em cartaz no Rio e que ainda vai passar por outras cidades, Chico Buarque faz um convite nos versos de "Que Tal um Samba?": "pra remediar o estrago", "pra alegrar o dia, pra zerar o jogo", "depois de tanta derrota, depois de tanta demência e uma dor filha da puta, que tal?".

No momento que o Brasil atravessa, o apelo tem a força de um manifesto, compartilhado no palco com a cantora Mônica Salmaso e os músicos que o acompanham há décadas. Chico nos faz olhar para o melhor de nós mesmos e para o território das nossas utopias. Sem esquecer, no entanto, das raízes do Brasil que afloram em "Meu Guri", "Caravanas" e versos de "Deus lhe Pague", cantadas em sequência como tradução da nossa violência e brutalidade.

Hélio Schwartsman - Mordomias naturais

Folha de S. Paulo

No Brasil, naturalizamos as benesses concedidas a políticos

Boa parte dos brasileiros se surpreende ao descobrir que o presidente dos Estados Unidos paga pelas refeições (excluídos banquetes oficiais) que ele e sua família consomem na Casa Branca. Outros itens cobrados do presidente incluem pasta de dente e papel higiênico. O simples fato de acharmos isso estranho já indica como brasileiros naturalizamos as mordomias.

E olhem que os EUA concedem várias regalias pecuniárias e de segurança a seus ex-presidentes. Se quisermos um modelo mais igualitário, ao menos no que diz respeito à diferenciação entre cidadãos e políticos, devemos olhar para nações da Europa do norte como Suécia, Dinamarca e Noruega. Ali, não é impossível ver um premiê pedalando ou tomando um ônibus para ir ao serviço. Também dá para cruzar com chefes de governo num supermercado, empurrando seus próprios carrinhos de compras. Tampouco esses países são exemplos perfeitos de igualitarismo, já que são monarquias constitucionais, que inscrevem na própria Carta uma desigualdade fundamental, que é aquela entre a família real e os comuns.

Alvaro Costa e Silva - O supersecretário é ficha-suja

Folha de S. Paulo

Inelegível, Washigton Reis será responsável por obras bilionárias do metrô do Rio

Na pandemia ele tinha a solução: "Vamos manter as igrejas abertas porque a cura virá dos pés do Senhor". Foi contra o distanciamento social, promoveu aglomerações e não obedeceu ao Plano Nacional de Vacinação, desrespeitando o grupo prioritário de idosos, causando tumulto e desespero nos postos de saúde. Ao pegar o vírus por duas vezes, fugiu de sua cidade, na Baixada Fluminense, para se tratar num hospital particular da zona sul carioca.

Ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis foi condenado pelo STF por crimes ambientais. Enquadrado na Lei da Ficha Limpa, foi considerado inelegível e impedido de se candidatar a vice na chapa de Cláudio Castro. Com base eleitoral no interior do estado e nas regiões sem lei controladas por milicianos, é o político que se vende como novidade e tem atitudes de "maluco", "autêntico", "gente como a gente".

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Investigação de Bolsonaro tem de seguir adiante

O Globo

É preciso descobrir quando, como e com quem ex-ministro Torres debateu minuta de golpe achada em sua casa

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu na sexta-feira pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para incluir o ex-presidente Jair Bolsonaro entre os investigados no inquérito que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. O Ministério Público diz ter encontrado indícios de que Bolsonaro atuou como um dos “autores intelectuais” do vandalismo e cita um vídeo compartilhado por ele nas redes sociais questionando a legitimidade das eleições de outubro.

Para os procuradores, Bolsonaro ocupa posição de destaque na “câmara de eco desinformativo”. O surpreendente não é o teor da suspeita, mas a PGR ter levado tanto tempo para tomar uma atitude. Levantamento do GLOBO mostra que, desde o início da pandemia, Bolsonaro radicalizou o discurso contra Judiciário, Legislativo e a lisura das eleições. Fez um ataque a cada 23 dias, vários insinuando ruptura institucional. De 46 ameaças explícitas entre 2020 e 2022, 29 tiveram o Judiciário como alvo e 18 a urna eletrônica.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade -Parolagem da Vida

 

Música | Alceu Valença - Voltei Recife