terça-feira, 13 de novembro de 2018

Opinião do dia: Emmanuel Macron

"A história ameaça às vezes retomar seu curso trágico e comprometer nosso legado de paz.

Somemos nossas esperanças em vez de colocar em confronto nossos medos.

Juntos, podemos afastar essas ameaças que são o espectro do aquecimento global, a pobreza, a fome, as desigualdades, a ignorância."

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Emmanuel Macron, presidente da França, domingo (11) na cerimônia do centenário do Armistício da Primeira Guerra (1914-18)

*Rubens Barbosa: A política externa e o novo governo

- O Estado de S.Paulo

Espera-se que a ação do Itamaraty não repita as estripulias do PT com sinal trocado

O presidente Jair Bolsonaro enfrentará o mais imprevisível e complexo cenário internacional desde 1945. O multilateralismo (ONU e OMC) e a globalização estão sob ataque com o risco concreto de uma guerra protecionista, pondo em perigo a ordem liberal e ameaçando trazer de volta a recessão.

Políticas equivocadas nos 13 anos e meio do PT puseram o Brasil numa situação de isolamento nas negociações comerciais, de atraso na inovação e tecnologia, de perda de poder, de influência e de espaço no comércio internacional e de manufaturas, além de ter crescido abaixo da média mundial e dos países em desenvolvimento.

Sendo o Brasil uma das dez maiores economias do mundo, espera-se que o novo governo responda - como foi feito nos últimos dois anos - a esses desafios e busque restaurar e ampliar a voz do País no cenário internacional, e nos reinserir nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior.

Sem apriorismos ideológicos, e com visão de futuro, o Itamaraty deveria definir as prioridades segundo o atual interesse nacional e as transformações do cenário internacional no século 21. Parece evidente que os principais interesses estratégicos do Brasil se encontram nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, em particular com a China, pela importância da agenda bilateral. A integração regional deveria merecer uma atenção especial, já que interessa ao Brasil ampliar a liberalização comercial, aprofundar os acordos vigentes e a integração física da região. Em relação ao Mercosul, depois de 25 anos de sua criação, para reexaminar seu funcionamento e sua prioridade para o Brasil poderia ser convocada a conferência diplomática prevista no Tratado de Ouro Preto, que estabeleceu a união aduaneira. O relacionamento com a Venezuela deveria merecer cuidado especial pelo impacto sobre nossos interesses (tráfico de armas e drogas, refugiados, dívida), assim como deveriam ser ampliadas as medidas de coordenação com os nossos vizinhos para a proteção das fronteiras, a fim de combater o crime transnacional.

Aloysio Nunes Ferreira: O Itamaraty e a política comercial brasileira

- O Globo

A ideia de retirar do Itamaraty a condução das negociações comerciais internacionais e a defesa do Brasil em disputas nessa área aparece sazonalmente. Ela insinua ares modernizantes, mas, na verdade, abre margem ao domínio por interesses setoriais do ciclo da política comercial, desde sua formulação até a liderança em negociações multilaterais, plurilaterais ou bilaterais.

Os argumentos são, normalmente, um festival de distorções: em outros países há área separada das chancelarias para negociar, então devemos imitá-los, afinal tudo que vem de fora tem de ser melhor; diplomatas têm visão política, então é preciso assegurar prevalência de visão técnica, deslocando a condução das negociações para o colo de luminares do comércio internacional; a política comercial tem sido passiva, de modo que a solução seria mudara máquina para assegurar novo ímpeto negociador.

Por distintas razões, em vários países a condução das negociações comerciais não se situa nas chancelarias, embora isso não seja uma unanimidade. Mas essa é uma falsa questão. A imitação de modelos forâneos não leva em conta as características de nossa história institucional e os resultados que foram obtidos ao concentrar no Itamaraty capacidade e conhecimento, que não podem ser desaproveitados sob pena de graves prejuízos ao país.

Bernardo Mello Franco: Novo chanceler terá trabalho dobrado

- O Globo

O futuro ministro das Relações Exteriores terá que segurar a língua de Bolsonaro e dos colegas. O governo ainda não começou, mas já criou atritos com Argentina, Egito, China e Noruega

O próximo chanceler ainda não foi escolhido, mas terá trabalho dobrado. Quem assumir o Itamaraty enfrentará uma forte desconfiança externa sobre os rumos do país. Além disso, precisará conter a língua do presidente e de seus principais assessores.

Na campanha, Jair Bolsonaro já demonstrou potencial para produzir incidentes diplomáticos. O então candidato fez uma série de provocações à China, maior parceira comercial do Brasil. Depois do segundo turno, foi avisado de que as bravatas podem custar caro à economia do país.

O presidente eleito também criou mal-estar com os países árabes ao imitar Donald Trump e anunciar a mudança da embaixada em Israel para Jerusalém. O Egito foi o primeiro a reagir: cancelou uma visita oficial do ministro Aloysio Nunes. Os empresários brasileiros tiveram que antecipar a volta para casa sem fechar negócios.

Eliane Cantanhêde: Engolir sapos

- O Estado de S.Paulo

Governar não é moleza nem para quem tem experiência, partido, programa e equipe. E para quem não tem?

Eunício Oliveira é do MDB, não tem nada de esquerda e apoiou Lula e Fernando Haddad pela força do PT no Nordeste, mas já no primeiro turno Haddad e o próprio Eunício perderam a eleição no Ceará. Coisa rara, o presidente do Senado não se reelegeu.

Assim, ele é um pote até aqui de mágoa e, além de dizer, ele já mostrou que não está nem aí para o presidente eleito: após Jair Bolsonaro dizer que “não é o momento” de reajustar os salários do Supremo e pedir “grandeza” aos senadores, Eunício desdenhou o apelo, pôs o aumento na pauta e ajudou a inflar em bilhões por ano o rombo fiscal.

Para piorar, Paulo Guedes foi infeliz ao falar em “dar uma prensa” no Congresso e as relações entre Executivo e Legislativo começaram a azedar antes mesmo da posse de Bolsonaro e Guedes, em janeiro, e da nova Legislatura, em fevereiro.

É um choque de realidade, porque presidentes da República não fazem o que querem e precisam aprender algo que envolve política, experiência, maturidade e personalidade: engolir sapos. “Crus, fritos, assados, cozidos, grandes, pequenos, sem sal”, acrescenta um velho conhecedor de Brasília.

Merval Pereira: Novo jeito de governar

- O Globo

Colocar um civil no Ministério da Defesa pode ser uma maneira de não constranger nenhuma das Forças Armadas

Ao confirmar a nomeação de Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, para presidir o BNDES, o presidente eleito Jair Bolsonaro ratificou a decisão de delegar aos ministros, especialmente aos dois superministros — Paulo Guedes, da Economia; Sergio Moro, da Justiça —, a escolha de seus principais assessores, de porteira fechada como se diz na política de Brasília, mas sem interferências políticas.

Além disso, está fechando negociações com as bancadas suprapartidárias de corporações, como a da Agricultura, para onde indicou a deputada Tereza Cristina, que preside a Frente Parlamentar da Agropecuária. Desistiu de unificar o ministério com o Meio Ambiente, mas deixou claro que a nomeação do futuro ministro dependerá da aceitação da deputada.

Tanto Guedes quanto Moro foram escolhas pessoais de Bolsonaro; nem a bancada da economia, nem a da bala interferiram nas escolhas, mas o espírito das nomeações é o mesmo: uma definição técnica que simbolize a importância que o presidente eleito dá aos setores.

O futuro chanceler, tudo indica, será um embaixador de carreira, fortalecendo o Itamaraty. Também os militares ocuparão alguns ministérios dentro de suas atribuições, e até mesmo a não indicação de um civil para o Ministério da Defesa, que era a intenção original quando a pasta foi criada, não pode ser creditada a Bolsonaro, pois o governo Michel Temer quebrou essa tradição colocando o general Silva e Luna à frente da Defesa.

Míriam Leitão: Moro no país das urgências

- O Globo

Moro deu entrevistas esclarecedoras, mostrou convergências com Bolsonaro, mas ainda há enigmas sobre como lidará com temas difíceis

Há uma enorme expectativa sobre como o novo ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, vai lidar com questões inteiramente novas para ele, que vão dos índios às prisões, passando pela migração nas nossas fronteiras. Sobre os pontos polêmicos da agenda do presidente eleito, o futuro ministro já mostrou muitas convergências e algumas dissonâncias. Ontem, o Cade saiu da alçada dele, mas a lista do que ele terá que assumir é imensa.

Num governo que tem improvisado além do razoável na comunicação, e tropeçado demais na relação com a imprensa, Moro tomou a decisão correta, de dar, no primeiro momento, uma entrevista longa, organizada, clara e aberta a todos os veículos. Na entrevista do fim de semana, ao “Fantástico” ele esclareceu outros pontos das dúvidas levantadas pela ida dele para o governo Bolsonaro.

Nos dois momentos exibiu sua capacidade de pensar antes de falar, e de procurar palavras que arredondem as arestas. Mas não dá para contornar o incontornável. Disse que nunca viu de Bolsonaro “uma proposta de cunho discriminatório” contra minorias. Elas foram desrespeitadas em várias declarações do deputado. Ele foi bem explícito.

José Casado: O valor do voto-Cedae

- O Globo

Faltavam quatro semanas para a eleição. Na noite de terça-feira, 4 de setembro, o deputado Luiz Martins atendeu o telefonema de um cabo eleitoral de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Eram 22h46m, registrou o gravador: “Luiz, tão prejudicando você aqui em Austin, tá?”

Líder da bancada do PDT na Assembleia do Rio, Martins lutava pela quarta eleição, e Austin, bairro pobre de 30 mil votos, havia sido relevante em 2014, quando sua votação cresceu 50% na Região Metropolitana.

“É a Cedae, tá?”, prosseguiu o auxiliar. “Estão mandando pro outro candidato. É dois, três caminhão por semana... o André Ceciliano, pô! Entendeu? A Cedae parece que quer que tu perde a eleição, tá?”

A Cedae é uma joia do governo estadual: fatura cerca de US$ 1,5 bilhão, ou R$ 6 bilhões, em serviços de qualidade questionável de água e esgoto.

Martins decidira impedir a privatização da Cedae. Seu adversário Ceciliano, líder do PT na Baixada, era a favor no verão, mas no inverno mudou e ficou contra. Ambos disputavam os mesmos redutos pobres, onde água vale como moeda.

Luiz Carlos Azedo: O terceiro turno

- Correio Braziliense

“Bolsonaro tem um projeto ambicioso: sepultar o modelo de “presidencialismo de coalizão”, que tem caraterizado o governo federal desde o presidente Itamar Franco”

Ao contrário do que se imaginava, por enquanto, não é com a oposição petista que se arma uma espécie de “terceiro turno” das eleições. É com as forças centristas do Congresso, que controlam as duas casas legislativas e não querem abrir mão desse poder no novo governo. Por enquanto, não é uma guerra aberta, mas uma queda de braços em torno das presidências da Câmara e do Senado. Formalmente, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, declara que não tomará partido nas disputas, mas isso é apenas uma cortina de fumaça. Há muitas coisas em jogo, entre as quais a própria natureza do governo, que lida com duas forças que sempre optaram por arbitrar a governabilidade do país a partir do Congresso: o MDB e o DEM.

Na Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) opera com desenvoltura a própria reeleição. Mas há surpresas: ontem, um deputado do PSB, João Henrique Caldas (PSB-AL), conhecido como JHC, visitou Bolsonaro na Barra da Tijuca, no Rio, para comunicar sua candidatura. O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MDB-MG), também articula sua candidatura. Bolsonaro cancelou a reunião que teria nesta semana com Maia e com o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB-CE), para tratar das agendas legislativas que podem virar uma pauta-bomba.

Maia tem reclamado da falta de interlocução de Bolsonaro com o Congresso: “Ainda não houve nenhuma articulação. Não vou pautar uma matéria porque eu li no jornal”, disse, na semana passada, numa reunião de representantes do mercado financeiro, sobre a reforma da Previdência. “O governo acha que viabiliza a base por meio das frentes parlamentares, mas eu acho que não viabiliza”, arrematou Maia.

Fernando Exman: Acerto de contas entre modelos políticos

- Valor Econômico


Congresso reserva surpresas para o presidente eleito



Deputados e senadores tinham certeza que logo chegaria o acerto de contas entre os profissionais da política e a propensa nova forma de se relacionar com o Congresso defendida pelo presidente da República eleito. Não foi preciso nem Jair Bolsonaro tomar posse para que esse ajuste começasse a ocorrer.


O discurso de desqualificação da política catapultou a candidatura de Bolsonaro e facilitou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto, mas a manutenção dessa postura já provocou os primeiros atritos entre seu governo, a administração atual e o Parlamento. Em pouco mais de duas semanas, Bolsonaro já tem que lidar com um quebra-cabeça orçamentário e um não menos complexo processo de eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Bolsonaro e seus articuladores políticos deveriam estar preparados. O período entre o fim do processo eleitoral e o início da próxima legislatura é tradicionalmente desafiador para quem vai assumir o Executivo nos quatro anos seguintes. É uma época em que os parlamentares se aproveitam que o café está esfriando na mesa do presidente da República em exercício, mas ainda não começou a ser servido para o seu sucessor. Neste vácuo de poder, ocorre sempre uma espécie de xepa parlamentar, em que são aprovados todos os tipos de benesses, cujas faturas são inevitavelmente endereçadas aos cofres públicos. Líderes partidários asseguram que mais nada polêmico deve ser votado, mas o reajuste do Judiciário e o regime especial para o setor automotivo podem ter sido apenas os primeiros projetos de uma leva que ainda pode surpreender a equipe de transição.

Ao se pronunciar nas redes sociais dizendo que não pode ser responsabilizado pelo reajuste salarial concedido ao Judiciário, Bolsonaro colocou em prática, pela primeira vez desde que foi eleito, sua estratégia de tentar conduzir a opinião pública a pressionar parlamentares e o próprio presidente Michel Temer. Ou seja, condenou as declarações de seu futuro ministro da Economia sobre a necessidade de dar "uma prensa" no Congresso, mas na prática o fez por uma via alternativa.

Bruno Boghossian: Perda de tempo

- Folha de S. Paulo

Guerra ideológica de Bolsonaro incomoda até políticos conservadores

Não foram poucas as ocasiões em que Jair Bolsonaro disse que "a questão ideológica é tão ou mais grave que a corrupção". Parecia um exagero retórico para alimentar o antipetismo que o empurrou para a vitória nas urnas. Passada a campanha, aliados do presidente eleito ainda levam a máxima ao pé da letra.

Eduardo Bolsonaro acha razoável prender até 100 mil pessoas ligadas a movimentos sociais. Defende substituições em massa no corpo diplomático para se livrar do "marxismo" do Itamaraty. Também considera importante aprovar uma lei que torne crime o comunismo.

O tom que o filho do presidente eleito adotou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo incomodou até políticos conservadores. Dirigentes de partidos dispostos a apoiar as pautas do próximo governo temem que a equipe de Bolsonaro perca tempo e gaste energia à toa com sua guerra ideológica.

Embora a agenda de direita tenha aderência no Congresso que tomará posse em 2019, as tintas usadas por personagens como Eduardo costumam aborrecer potenciais aliados.

Para esses caciques, a eleição de Bolsonaro é uma oportunidade para aprovar a redução da maioridade penal e a flexibilização da posse de armas, por exemplo. Levar para a cadeia quem usa boné do MST, jogar o PC do B na ilegalidade e caçar embaixadores prestigiados está longe de ser uma prioridade.

Pablo Ortellado: O viés dos outros

- Folha de S. Paulo

Com orientação ideológica, Bolsonaro compromete autonomia e eficácia das instituições

Jair Bolsonaro se elegeu prometendo acabar com o "viés ideológico" nas escolas e na política externa. Mas, até agora, tudo o que fez foi imprimir uma orientação ideológica ainda mais marcante, comprometendo a autonomia e a eficácia das instituições.

No discurso da vitória, Bolsonaro celebrou o compromisso de libertar "o Brasil e o Itamaraty das relações internacionais com viés ideológico".

Uma das suas primeiras ações foi o anúncio, pelo Twitter, de que o Brasil transferiria sua embaixada de Tel Aviv, capital comercial de Israel, para Jerusalém, a capital política reivindicada tanto por israelenses como por palestinos.

Até recentemente, havia consenso na comunidade internacional de que as representações diplomáticas deveriam ficar em Tel Aviv, deixando o controverso status de Jerusalém ser decidido em negociações de paz.

Entre os países grandes, apenas os Estados Unidos de Donald Trumptransferiram a embaixada para Jerusalém, num gesto que a comunidade internacional condenou por ser belicoso e desequilibrado.

Ao tomar o partido de Israel, Bolsonaro imprimiu forte sentido político a uma orientação anterior que era mais prudente e mais equilibrada.

A resposta veio rápida, com ameaça de boicote pelos países árabes que são o segundo mercado de exportação de alimentos produzidos no Brasil.

Justamente por ser mais e não menos ideológica, a política externa de Bolsonaro colocou em risco os interesses comerciais brasileiros.

Joel Pinheiro da Fonseca: Há doutrinação nas salas de aula?

- Folha de S. Paulo

A corda está no pescoço dos professores, que foram eleitos os grandes inimigos infiltrados da família e da ordem social

Existe, de maneira geral, um viés ideológico na educação brasileira. Quem nunca teve um professor de esquerda? Eu tive vários, e dos que traziam suas convicções políticas para a sala de aula.

Alguns foram do perfil autoritário, que desestimulava o debate e exigia que os alunos “esquerdassem” na prova. Já outros foram professores incríveis, que estimulavam a discussão e incitavam os alunos a pensar por conta própria. A crença política era o material que animava o debate. Fui doutrinado? Se fui, não funcionou.

E eis que esse fato corriqueiro do nosso sistema —muitos professores serem de esquerda— virou o grande bode expiatório da precariedade de nossa educação.

Ninguém se preocupou em medir e conhecer a real extensão da tal doutrinação em sala de aula; mas os proponentes do projeto Escola Sem Partido (que se manifesta em diversas iniciativas e projetos de lei, uma das quais vem sendo debatida pelo Congresso) juram que se trata de um problema gravíssimo e que justifica colocar o Ministério Público para perseguir professores.

Não existe sequer um consenso mínimo do que seja “doutrinação”. Há todo um espectro de práticas que podem entrar na conta: desde um caso de abuso claro como o professor obrigar os alunos a fazer manifestação partidária para passar de ano, até práticas mais corriqueiras como usar um livro de autor “de esquerda” ou mesmo propor alguma análise que irrite algum pai de aluno.

Na prática, a corda está no pescoço de todos os professores, que foram eleitos os grandes inimigos infiltrados da família e da ordem social.

Hélio Schwartsman: Marechal Piolho

- Folha de S. Paulo

Antes da 1ª Guerra, maioria dos óbitos nos conflitos era por epidemias com ectoparasitas como vetor

O presidente da França, Emmanuel Macron, em seu discurso por ocasião do centenário do armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, queixou-se de demônios do passado que estariam ressurgindo na forma de nacionalismo e ameaçando mais uma vez colocar a história num curso trágico.

Não há dúvida de que o nacionalismo, que era ruim cem anos atrás, continua ruim hoje, mas, ao traçar comparações históricas de grande envergadura, é preciso estar atento para não fechar os olhos para as diferenças que marcam cada um dos períodos. Dados quaisquer dois momentos da história, sempre haverá mais diferenças do que semelhanças entre eles.

Há demônios e demônios, e, se alguns ressurgem, outros parecem ter sido exorcizados. Algo pouco destacado nas efemérides da Primeira Guerra é que ela foi o primeiro conflito envolvendo grandes exércitos em que a maior parte das baixas foi provocada pelos combates propriamente ditos e não por doenças.

Em guerras anteriores, a maioria dos óbitos era causada por epidemias que têm ectoparasitas como vetor, a exemplo do tifo. Exalta-se o papel do general Inverno na derrota de Napoleão na Rússia, mas o marechal Piolho foi muito mais decisivo. Estima-se que, para cada soldado francês morto no campo de batalha, quatro tenham sucumbido a patógenos transmitidos por insetos.

Ricardo Noblat: Corre o risco de dar certo

- Blog do Noblat | Veja

Um novo presidencialismo

Uma nova forma de governar o país será testada quando o presidente eleito Jair Bolsonaro tomar posse em 1º de janeiro do próximo ano. É isso o que está em construção desde agora.

Se antes os presidentes negociavam com os partidos a escalação dos seus ministros em troca de apoio no Congresso, agora é o presidente que os escolhe e, por tabela, quem com ele governará.

Os partidos perderam força. Quem ganhou foram as bancadas suprapartidárias organizadas em torno de temas – a da bala, a dos ruralistas, a dos evangélicos, a dos empresários, e assim por diante.

Os representantes das bancadas dentro do governo serão os ministros – não mais os presidentes ou líderes dos partidos na Câmara dos Deputados e no Senado. Os líderes do governo no Congresso terão mais um papel formal.

Um governo com menos ministros e com dois deles – o economista Paulo Guedes e o juiz Sérgio Moro – como superministros libera o presidente da obrigação de se envolver com muitos assuntos, inclusive com os menores.

No caso de Bolsonaro, ele se ocupará das relações com os demais poderes, das tarefas de representação do país e do ativismo político, o seu forte. Dele dependerá, é claro, a palavra final na hora de tomar decisões importantes.

O principal segredo para que a fórmula dê certo será a montagem de uma equipe de governo que aponte para uma mesma direção. A direita ganhou a eleição e é ela que governará o país pelo menos até 2022.

Rasgando dinheiro

Gilles Lapouge: O Ocidente rompido

- O Estado de S.Paulo

Na Europa, agora não há nações de peso que poderiam apoiar a visão de Macron

As cerimônias organizadas por Emmanuel Macron para o 100.º aniversário do fim da 1.ª Guerra foram maravilhosas, comoventes e fervorosas. Todos os 80 chefes de Estado e de governo falaram de seu horror da guerra, das carnificinas e do amor que tinham uns pelos outros. Todos – ou quase todos – defenderam a amizade entre os povos.

Nas multidões dos Champs-Elysées, nos rostos dos mais emocionados, havia lágrimas. Todos nós nos amávamos, os checos e os irlandeses, os italianos e os poloneses, era como um milagre.

Essa efervescência durou apenas o tempo das cerimônias. Antes mesmo de aterrissar em Paris, o “líder do mundo ocidental”, Donald Trump, enviou a seu “amigo” Macron um feroz tuíte para “castigá-lo” por ter desejado a criação de uma defesa da Europa, destinada a se proteger da Rússia, ou da China ou mesmo, nunca saberemos, até dos EUA (é verdade que a formulação de Macron não foi uma obra-prima de delicadeza).

Um pouco mais tarde, Trump estava amuado, preferindo recolher-se, solitário, aos túmulos dos soldados americanos que haviam caído na França no fim da guerra. Evidentemente, havíamos compreendido alguns meses atrás que os EUA de Trump retornaram a uma tradição com a qual romperam desde 1945.

Mas com essas cerimônias do centenário, ficou em destaque essa ruptura entre Trump e a Europa, e especialmente entre Trump e as instituições “supranacionais” e “multilaterais” da Europa (UE). Devemos admitir que ela é eficaz, nítida, incisiva. E surge a questão: Como pode a Europa “estar à altura” diante desses três monstros que são a imensa China, a imensa Rússia, a imensa América?

A radicalização nas universidades: Editorial | O Estado d S. Paulo

Apesar de o 2.º turno da eleição presidencial ter sido realizado há mais de duas semanas, em clima de absoluta normalidade democrática, em muitas universidades a polarização ideológica e partidária continua crescendo de modo preocupante, a ponto de denúncias, acusações, ameaças de agressão física e afrontas morais a professores e estudantes estarem comprometendo o convívio acadêmico.

Como mostrou o Estado em reportagem da jornalista Renata Cafardo, o clima de radicalização na vida universitária se disseminou em todo o País. Em algumas instituições, circulam listas com nomes de professores acusados de ser fascistas ou comunistas e de expressar “opiniões preconceituosas”. No Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, um docente não conseguiu entrar em sala de aula e teve de ser escoltado até em casa pela guarda universitária. Em universidades do Sudeste, estudantes têm fotografado a lousa em aulas das quais discordam da orientação dos professores e divulgado o conteúdo nas redes sociais. Na USP, a reitoria precisou acionar a polícia para impedir confrontos em algumas faculdades logo após o término do 2.º turno.

Antes das eleições, os embates entre grupos de direita e de esquerda foram agravados por decisões dos Tribunais de Justiça Eleitoral de alguns Estados, cujos juízes proibiram debates e a colocação de faixas contra e a favor dos dois candidatos que disputaram o segundo turno, Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). Depois do pleito, o acirramento político foi estimulado pelas discussões sobre a votação do projeto conhecido como Escola sem Partido. O projeto, que proíbe o uso dos termos gênero ou orientação sexual nas atividades acadêmicas e veda aos professores a manifestação de suas preferências ideológicas, religiosas e morais, tem sofrido críticas de diretores de faculdades e reitores de universidades públicas.

Ensaio de otimismo: Editorial | Folha de S. Paulo

Agenda liberal e formação da equipe encorajam previsões mais favoráveis para a economia

As previsões para o crescimento da economia em 2019 convergem para 2,5%. Tendo em vista que o Produto Interno Bruto avançará neste ano pouco mais que o 1% de 2017, trata-se de algum progresso, embora lento, insuficiente e incerto.

Lento porque basicamente reproduz a média verificada de 1995 a 2017, um desempenho medíocre, perdoe-se o trocadilho, para um país que se pretende emergente.

Insuficiente, dado que, a esse ritmo, o PIB nacional por habitante só voltaria ao nível de 2014 em 2023. O período configuraria, pois, mais uma década perdida.

Incerto porque, em primeiro lugar, tais previsões têm mostrado elevada margem de erro nos últimos anos, em boa parte devido à adoção de premissas que não se confirmam. No presente momento, o pressuposto para a recuperação econômica é a realização de um cardápio básico de reformas pelo governo Jair Bolsonaro (PSL).

A atenuação da turbulência internacional e o fim da campanha ao Planalto propiciaram melhora das condições financeiras no mercado. Taxas de juros e de câmbio e o índice da Bolsa de Valores retornaram a patamares mais amigáveis à expansão dos negócios.

Aumento do STF é nova fonte de pressão nas contas públicas: Editorial | Valor Econômico

Está nas mãos do presidente Michel Temer barrar o aumento de 16,38% do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovado pelo Senado, após ter sido colocado em votação de surpresa, em uma manobra de seu presidente, Eunício de Oliveira. Entre os 41 votos a favor, foram identificados vários senadores com processos na Justiça; apenas 16 foram contra. Tudo indica que o aumento vai ser sancionado, pregando uma nova despesa anual de R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões nas contas públicas dos próximos governos.

Temer disse que iria esperar, no período de 15 dias que tem para se pronunciar a respeito, um gesto do STF em direção a acabar com o criticado auxílio-moradia. A promessa de rever a concessão do penduricalho foi feita pelo próprio presidente do STF, Dias Toffoli, como contrapartida para minimizar o impacto do reajuste salarial. Sai arranhado também o futuro presidente Jair Bolsonaro, já que ele no mesmo dia dito publicamente que era contra o reajuste.

No entanto, tudo parece encenação para tentar aplacar as críticas ao aumento e a revolta da opinião pública, amplificada pela expectativa com o anúncio de medidas que vão penalizar a população para cobrir o rombo do setor público. Com processos na Justiça, correndo no âmbito do STF, se Temer quisesse cortar o problema pela raiz, já poderia tê-lo feito. O reajuste dos salários dos ministros do STF foi inicialmente aprovado pela Câmara dos Deputados em 1º de junho de 2016, sem maiores comoções, beneficiando-se do vácuo de poder então existente, uma vez que o Congresso estava mergulhado no processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

É erro crasso adiar uma real reforma da Previdência: Editorial | O Globo

Executar as mudanças necessárias a passos lentos é repetir a falha de Mauricio Macri na Argentina

Não há tema no campo econômico e social mais debatido nestes 30 anos de redemocratização, a contar da Constituição de 88, do que a crise da Previdência.

Nada justifica, então, pedir mais discussões de um tema já por demais esclarecido. Tampouco político pode dizer-se desinformado, pois o assunto é de amplo conhecimento do Congresso. Do próprio Estado brasileiro como um todo, porque também as finanças de estados e municípios estão sendo asfixiadas por aposentadorias e pensões do funcionalismo.

Na verdade, já passou, e muito, da hora de Executivo e Legislativo executarem a necessária reforma de um sistema cujo déficit ultrapassará em breve R$ 300 bilhões anuais, e está em ascensão descontrolada.

O rombo é a soma das perdas do INSS (empregados no setor privado, abrigados no Regime Geral da Previdência) e do Regime Próprio, do funcionalismo federal e de militares das Forças Armadas. Sem incluir servidores estaduais e municipais.

Não tem guinada à direita no PSDB, diz Alckmin

Para o tucano, partido é de 'centro, reformista, moderno, liberal em economia'

Marco Rodrigo Almeida | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Candidato tucano derrotado na eleição presidencial, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin disse que o PSDB não passa por processo de guinada à direita.

"Não há guinada à direita. O PSDB é um partido de centro. É importante para o Brasil ter um partido longe dos extremos. Um partido de centro crítico, reformista, moderno, liberal em economia", disse ele.

No segundo turno das eleições, João Doria, eleito pelo PSDB governador de São Paulo, declarou apoio entusiasmado a JairBolsonaro (PSL), eleito para a Planalto, o que acarretou especulações de que os tucanos adeririam à agenda de direita do capitão reformado do Exército. Doria cunhou na disputa a expressão "Bolsodoria".

Alckmin ficou em quarto lugar no primeiro turno, o pior resultado da história do PSDB.

Também presidente de seu partido, Alckmin disse que os tucanos farão um congresso nacional, provavelmente em maio, para discutir o futuro da sigla.

Alckmin esteve na noite desta segunda (12) no lançamento de livro do ministro do STF Gilmar Mendes, em São Paulo.

Pouco depois de o ex-governador ter ido embora, o senador José Serra, outro nome histórico do partido, chegou ao evento.

Serra afirmou a jornalistas que não faz mais sentido ficar discutindo classificações como esquerda e direita.

Alckmin marca congresso tucano para março

Por André Guilherme Vieira | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-governador de São Paulo e presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, confirmou ontem que a sigla irá realizar um congresso em março do próximo ano para discutir os rumos da legenda. Ele negou, contudo, que o partido tenha dado uma guinada à direita, com a eleição de João Doria para governador do Estado. Doria tem afirmado que, agora, o PSDB "tem lado".

Alckmin foi governador do Estado até abril e disputou a presidência da República no mês passado, terminando em quarto lugar, com 5% dos votos.

"Não tem guinada à direita. O PSDB é um partido de centro. É importante para o Brasil ter partidos longe dos extremos, seja extrema direita, seja esquerda. É importante para o país ter um centro crítico, reformista, moderno, liberal na economia. Esse é o bom caminho".

Segundo Alckmin, o congresso do PSDB em março "será para rediscutir programas, propostas, temas, estatuto". O mandato do ex-governador como dirigente partidário se encerra em maio. Ele estava sendo pressionado pelos governadores eleitos da sigla para abreviar sua gestão. O mês do Congresso será o mesmo em que a sigla renova suas direções no âmbito municipal. Em abril, acontecerá a renovação estadual.

Alckmin desconversou quando questionado sobre o fato de Doria ter ascendido à posição de principal liderança do PSDB. "Todos os governadores eleitos são lideranças importantes. Isso é natural e participarão do processo". Ele e o governador eleito almoçaram juntos na semana passada, depois de Doria articular-se com o governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja.

Executiva Nacional do PPS debate implementação da mudança de nome do partido dia 21

O presidente do PPS, Roberto Freire, divulgou convocação (veja abaixo) de reunião da Comissão Executiva Nacional do PPS para o dia 21 de novembro, em Brasília, com a finalidade de debater a convocação de Congresso Extraordinário para implementação da mudança de nome do partido e novos estatutos, aprovada no 19º Congresso Nacional da sigla, em março.

Ofício Nº 026/18
Brasília, 12 de novembro de 2018.

Prezado(a) companheiro(a),

Estamos convocando os membros da Comissão Executiva do Diretório Nacional, e nossa bancada no Congresso atual, incluindo os recém-eleitos, para uma reunião no dia 21, quarta-feira próxima, das 10h às 13h, tendo como local o San Marco Hotel, quando trataremos das seguintes questões:

1. Convocação do Congresso Extraordinário para implementar a mudança de nome do Partido e novos Estatutos, aprovado no 19º Congresso Nacional;
2. Conjuntura Política;
3. Informes Gerais.
Sem mais para o momento e certos de contarmos com sua imprescindível presença, subscrevemo-nos,
Atenciosamente,

Roberto Freire
Presidente Nacional

Entrevista / Rebens Ricupero: ‘Estamos voltando ao mundo de 1914’

Para embaixador, Primeira Guerra Mundial marcou entrada da diplomacia brasileira no século 20 como protagonista

Luiz Raatz | O Estado de S.Paulo

O fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), cujo centenário se celebra neste mês, marcou a entrada da diplomacia brasileira como protagonista no século 20. A avaliação é do diplomata Rubens Ricupero, diretor da Faculdade Armando Alvares Penteado (Faap).

Para Ricupero, a relação custo benefício da participação brasileira no conflito foi excelente em termos diplomáticos e de prestígio no cenário mundial em virtude do pequeno capital militar empregado no conflito.

Ele alerta para os riscos do ressurgimento do nacionalismo no mundo.

• Qual a importância para a diplomacia brasileira da atuação do País durante a Primeira Guerra?

O que vale a pena realçar é que é uma grande relação custo-benefício. O custo foi pequeno em termos militares e estratégicos. Perdemos seis navios, mas eram perdas inevitáveis. O Brasil em relação à Segunda Guerra Mundial até participou menos. Mas o que recebeu em troca em termos diplomáticos e políticos foi muito grande. Participamos da Conferência de Paris com três delegados, algo destinado apenas às grandes potências da época, graças ao apoio americano e ao argumento de que o Brasil de certa maneira representava todo o continente latino-americano. Então, a participação foi destacada e resolveu as duas questões pendentes de seu interesse: o pagamento do café apreendido pelos alemães em depósitos na Europa e a posse dos 46 navios alemães apreendidos pelo País. De certa maneira, a primeira vez que o Brasil aparece de fato entre as grandes potências mundiais é na Conferência de Paris (em 1919). Quando a Primeira Guerra acabou, França, Inglaterra e Itália elevaram o nível da delegação que tinham no Brasil para embaixada, que, na época, apenas Estados Unidos e Argentina mantinham aqui.

Silvio Rodriguez: Mariposas

Vinicius de Moraes: O Mergulhador

"E il naufragar m'è dolce in questo mare".
Leopardi

Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos
No líquido luar tateiam a coisa a vir
Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos
Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti.

És a princípio doce plasma submarino
Flutuando ao sabor de súbitas correntes
Frias e quentes, substância estranha e íntima
De teor irreal e tato transparente.

Depois teu seio é a infância, duna mansa
Cheia de alísios, marco espectral do istmo
Onde, a nudez vestida só de lua branca
Eu ia mergulhar minha face já triste.

Nele soterro a mão como a cravei criança
Noutro seio de que me lembro, também pleno...
Mas não sei... o ímpeto deste é doido e espanta
O outro me dava vida, este me mete medo.

Toco uma a uma as doces glândulas em feixes
Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos
Na massa cintilante e convulsa de peixes
Retiradas ao mar nas grandes redes pensas.