O Globo
O semipresidencialismo voltou à cena de
maneira sutil ao ter o ex-presidente Michel Temer o defendido em uma live
durante o simpósio da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa sobre as
perspectivas futuras das relações Brasil-Portugal na comemoração do bicentenário
da Independência do Brasil. Sempre que pode, Temer faz essa defesa, como
solução para as permanentes crises provocadas por nosso regime, que tinha
características de hiperpresidencialismo e, no governo Bolsonaro, passou a
ser uma espécie de “parlamentarismo venal”, na definição de um dos
participantes do seminário, referindo-se ao fato de que não há projetos nas
alianças partidárias, apenas interesses fisiológicos.
A figura do presidente, que tinha poderes quase supremos no nosso
presidencialismo, passou a ser quase uma figuração ao Bolsonaro perder para o
Centrão o controle do orçamento do governo. Bolsonaro, ao assumir a presidência
da República em 2018, dedicou-se a tentar desmontar os esquemas políticos
vigentes, para assumir o controle total das ações do governo. Nunca se
acostumou às limitações que a democracia impõe aos governantes, e errou a mão.
Tentou governar através de apoios transversais de bancadas que seriam
suprapartidárias, como as da bala, da Bíblia, da agropecuária, mas não deu certo.
Embora tenhamos um sistema partidário disfuncional, com um enorme número de
legendas em atividade no Congresso, ele se adaptou às necessidades de
sobrevivência dos políticos e encontrou mecanismos congressuais de
funcionamento, em que cada legenda encontra seu lugar ao sol.