terça-feira, 17 de outubro de 2023

Merval Pereira - Forças Armadas podem atuar no Rio

O Globo

Forças Armadas não subirão morros. Ações combinam inteligência e operação, mas não podem abrir mão de ações sociais

O ministro da Justiça, Flávio Dino, revelou ontem, em debate com entidades de classe e representantes da sociedade civil na sede da Firjan, no Rio, que está em discussão dentro do governo o uso das Forças Armadas no combate ao crime organizado no estado. Ele e o ministro da Defesa, José Mucio, já discutem como operacionalizar a atuação, mas Dino deixou claro que não há ainda decisão, que deverá passar obrigatoriamente pelo presidente Lula. Advertiu que uma coisa é certa: as Forças Armadas não subirão morros.

O ministro Dino citou como exemplo de possível atuação das Forças Armadas a exitosa Operação Ágata, na Amazônia, em que elas atuam em cooperação com Polícia Federal, Ibama, Receita Federal e Abin para combater delitos transfronteiriços e ambientais na fronteira com a Colômbia.

Carlos Andreazza - O Lirão distribui os chocolates

O Globo

O Brasil está parado — não sem que os desafios encorpem — enquanto a República viaja. A República viaja em dólares e euros. Voltará com chocolates suíços. O feriadão se impõe; se impôs. Pediu Bis. Imposto à agenda brasileira, pelos senhores de Brasília, mais um recesso — nem sequer votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias. (Longamente expostas à criatividade dos dispêndios ilimitados, as balizas para o Orçamento já decerto acomodaram — é impositivo — novas modalidades para o exercício do orçamento secreto.)

Quase todo mundo (poderoso) pelo mundo, enquanto — conflagrado o mundo — a situação econômica brasileira, sob incertezas, complica-se. Governo que não corta gastos — e cujas despesas aumentarão autorizadas pela regra fiscal — precisaria multiplicar as receitas. Depende do Parlamento, ao mesmo tempo mole e faminto. Ao mesmo tempo indolente (para votar) e apressado (para comerciar as votações). Sempre faminto. A conta não fecha.

Míriam Leitão - Inflação na meta após três anos

O Globo

No início deste ano, poucos acreditavam que a inflação poderia ficar na meta. Agora o mercado já vê isto como realidade

Poucos acreditavam até recentemente que a inflação terminaria o ano na meta, mas ontem a mediana do mercado apostou nisso pela primeira vez em três anos. O economista José Roberto Mendonça de Barros vinha dizendo que esse cenário era possível há algum tempo. Agora a previsão da sua consultoria é a de que o IPCA terminará o ano em 4,71%. Perto do teto, mas dentro do espaço de flutuação permitido pelo regime de metas. Esse resultado se deve em grande parte à queda da inflação de alimentos. Do fim do ano passado até o fim deste ano pode ocorrer uma inversão de 17 pontos na inflação da alimentação no domicílio.

— No ano passado, este item terminou com uma inflação de 13,2%. Nossa projeção agora, junto com a MB Agro, é que chegue a dezembro de 2023 com -3,3%, uma virada de 17pp. Isso aí equivale a um abono salarial para as classes C e D. E é justamente a inflação de alimentos no domicílio que é a mais importante —diz Mendonça de Barros.

Luiz Carlos Azedo - Quando os fatos mudam na atual desordem mundial

Correio Braziliense

"A ação de Israel na retaliação ao ataque terrorista do Hamas ao seu território tem muita semelhança com a bagunça criada pelos Estados Unidos no Oriente Médio após o 11 de setembro, principalmente depois da invasão do Iraque", avalia colunista

Argentina, Egito, Etiópia, Gana, Quênia, Paquistão, Sri Lanka, Tunísia, Ucrânia e Zâmbia estão à beira ou já entraram em inadimplência. Não podem contar com mais ajuda internacional, inclusive a Ucrânia, porque a economia global enfrenta grandes incertezas, em razão de dois fatores, principalmente: o primeiro, de natureza objetiva, as mudanças climáticas; o segundo, de características subjetivas, o fracasso da ideia de um mundo unipolar, sob hegemonia norte-americana, capaz de impor a paz mundial. A crise na Faixa de Gaza e a guerra da Ucrânia são sintomas mórbidos e patológicos desse cenário em mudança, que não se sabe ainda para onde. Com certeza, não é para onde estamos indo, apesar das nossas vãs expectativas de que a revolução tecnológica resolveria os principais problemas civilizatórios.

Mais ou menos como aconteceu com a Liga das Nações, entre a Primeira e a Segunda Grandes Guerras, a decadência dos atuais mecanismos de governança global pode se tornar irreversível. A Organização das Nações Unidas, desde quando os Estados Unidos decidiram assumir o papel de xerife do mundo, passou a ter um papel de segundo plano nos conflitos regionais. Seu Conselho de Segurança se tornou o palco da "nova guerra fria" entre o Ocidente e o Oriente, polarizados pelos Estados Unidos e a União Europeia, de um lado, a China e a Rússia de outro. Conflitos que poderiam ser resolvidos num ambiente de cooperação entre essas potências estão sendo acirrados e saem de controle, como aconteceu na Ucrânia e, agora, se repete na Faixa de Gaza.

Andrea Jubé - Itamaraty fez história com repatriações

Valor Econômico

Desde a Segunda Guerra Mundial, não havia registros de um conflito armado que tenha afetado tantos civis brasileiros

O Ministério das Relações Exteriores havia trazido de volta ao Brasil, até essa segunda-feira, 916 brasileiros e seus familiares que pediram ajuda às autoridades diplomáticas para fugir da guerra no Oriente Médio entre Israel e o Hamas, grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza.

Com um quinto voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que partirá de Tel Aviv nesta quarta-feira, deverão ser mais de mais de 1,1 mil brasileiros repatriados. Se houver vagas, o Itamaraty poderá trazer, também, cidadãos de nossos vizinhos na América do Sul, como Paraguai e Bolívia, que pediram ajuda ao Brasil.

Em paralelo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanha, pessoalmente, as tratativas para viabilizar a retirada dos cerca de 30 brasileiros, inclusive crianças, da Faixa de Gaza pela fronteira com o Egito. Ocupando a presidência “pro tempore” do Conselho de Segurança das Nações Unidas até o fim do mês, Lula também articula com outras autoridades a criação de um corredor humanitário para a entrada de remédios e alimentos em Gaza, soma de esforços para a libertação dos reféns com o Hamas, e o fortalecimento da Autoridade Palestina. Ele pediu ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que essas posições sejam reafirmadas nesta terça-feira na reunião extraordinária do Conselho Europeu, em Bruxelas.

Gideon Rachman - Apoiar Israel e proteger os palestinos não são políticas contraditórias

Financial Times / Valor Econômico

Compaixão pelas pessoas inocentes que sofrem em todos os lados desse conflito não é apenas a posição moral, é também o único caminho prático a seguir

De que lado você está – dos israelenses ou dos palestinos? Você acha que a política do Ocidente deveria ser apoiar Israel, após o maior massacre de civis israelenses desde a fundação do Estado em 1948? Ou você acha que o governo de Benjamin Netanyahu está cometendo atrocidades em massa em Gaza e que a política do Ocidente deveria exercer a pressão máxima para Israel parar?

Estes são os termos binários em que grande parte da discussão sobre o conflito israel-palestino está sendo conduzida. Mas, ao conversar com autoridades em Washington, Bruxelas e outras capitais europeias, surpreendeu-me o fato de essa não ser a abordagem da maioria dos líderes ocidentais que se envolveram com Israel na última semana. Eles afirmam que a melhor alternativa para evitar uma catástrofe humanitária em Gaza é apoiar Israel.

Isso soa paradoxal – e até mesmo hipócrita. Mas, pensando melhor, entendo a lógica. Muitos civis já morreram em Gaza e há muito mais tragédias por vir. A Organização das Nações Unidas (ONU) está alertando para um desastre iminente.

Mas a melhor chance de amenizar o sofrimento dos civis palestinos é partir da compreensão de que Israel acaba de sofrer uma tragédia sem precedentes e tem o direito e a obrigação de garantir sua própria segurança. Esta é uma política que uma autoridade de alto escalão dos EUA chama de “abraçar com força”. Ele descreve Israel como “traumatizado e assustado”. “Precisamos apresentar isso como uma situação que estamos enfrentando juntos e na qual podemos trabalhar juntos”, diz essa autoridade.

Eliane Cantanhêde - Nem vitória nem derrota

O Estado de S. Paulo

Ao presidir o Conselho de Segurança da ONU, o Brasil é só coordenador, quem manda são as potências

O governo Lula armou uma armadilha para si próprio: colocar-se como o grande articulador de uma solução ao menos humanitária, emergencial, para a guerra em Israel. Se sair uma resolução consensual no Conselho de Segurança da ONU, será um sucesso estrondoso. E se não sair? A oposição está pronta para espalhar aos quatro ventos – e ao mundo – que foi o oposto: um estrondoso fracasso.

A presidência rotativa do Conselho de Segurança, por um único mês, não transforma o Brasil em grande negociador, em “resolvedor-geral” dos problemas mundiais. Sua função é meramente de coordenador. Importante? Sim, mas quem continua mandando, tomando decisões e delimitando os termos das resoluções são as potências. As mesmas de sempre.

Paul Krugman* - O estranho declínio da pax americana

The New York Times / Folha de S. Paulo

Problema não é a falta de firmeza no topo, mas sim o inimigo interno

Quando o Hamas atacou Israel, os republicanos sabiam a quem culpar —o presidente Joe BidenDonald Trump afirmou que o ataque não teria acontecido se ele ainda estivesse na Casa Branca; Mike Pence, enquanto condenava Trump por elogiar o Hezbollah e o Hamas, afirmou que Biden estava de alguma forma colocando em perigo os interesses dos Estados Unidos ao "projetar fraqueza".

Como grande parte do que a direita americana diz nos dias de hoje, essas difamações foram tanto vis quanto infantis. Não, o presidente dos EUA não é como o Lanterna Verde, capaz de moldar os eventos mundiais apenas pela força de vontade. E Biden, de fato, adotou posições surpreendentemente duras em assuntos internacionais, muito mais do que seu antecessor.

De forma mais geral, é impressionante como tanto a extrema esquerda, que não tem influência significativa no Partido Democrata, quanto a extrema direita, que em grande parte comanda o Partido Republicano, são solipsistas americanos. Eles culpam os líderes dos EUA por tudo de ruim que acontece no mundo, negando aos estrangeiros qualquer agência.

Alvaro Costa e Silva - Guerra lá, guerra aqui

Folha de S. Paulo

O horror no Oriente Médio magnetiza atenções, enquanto o nosso não para

A partir da década de 1970 o Rio cresceu em direção à Barra da Tijuca, bairro mais ou menos planejado que oferecia, além da beleza natural de praias e lagoas, o conceito publicitário da segurança em condomínios fechados e shoppings. Uma espécie de paraíso para a classe média alta. Hoje o perigo mora ao lado.

Na semana passada, a Polícia Federal apreendeu 47 fuzis e centenas de munições calibre 556 escondidos numa mansão de um condomínio de luxo, na Barra. O arsenal veio de Belo Horizonte para abastecer traficantes de drogas, milicianos e bicheiros que estão em guerra na região. O que seria uma ilha de tranquilidade se transformou em palco de assassinatos brutais –como os que vitimaram por engano três médicos num quiosque.

Joel Pinheiro Fonseca - Entre Israel e Palestina, quem está certo?

Folha de S. Paulo

Há uma linha mínima de humanidade que, se violada, acaba com qualquer pretensão de justiça

Bilhões de pessoas depositam em Israel as esperanças e medos apocalípticos de suas tradições religiosas. No centro dela está Jerusalém, onde um dia já funcionou o Templo de Salomão, até ser destruído pelo Império Romano. Nessa mesma cidade Jesus pregou, morreu e —acreditam os cristãos— ressuscitou. É ela também um lugar sagrado para muçulmanos, lembrando que Maomé honrava os profetas judeus e cristãos e inicialmente rezava com seus seguidores não voltado a Meca, e sim a Jerusalém.

É por essa razão que ela sempre ocupou o centro das atenções de reinos e impérios muçulmanos e cristãos (dos cruzados medievais ao Império Britânico e EUA) e da diáspora judaica.

Trazendo para o plano secular, a criação de Israel em 1947 respondeu a uma demanda histórica de judeus, que sofriam perseguição onde quer que morassem, até culminar no crime monstruoso do Holocausto. Não havia um país árabe no território, que fora parte do Império Turco-Otomano e, depois da Primeira Guerra, mandato imperial britânico. Mas havia povo. E centenas de milhares de árabes foram desalojados e expulsos para que a nova nação se consolidasse.

Hélio Schwartsman - Realpolitik e moral

Folha de S. Paulo

Ditames da civilização exigem que israelenses e palestinos refreiem instintos mais primitivos

O sangrento ataque do Hamas é fruto de décadas de abusiva ocupação israelense sobre os territórios palestinos. Essa é uma observação sociologicamente irretorquível. Mas precisamos tomar cuidado para não confundir juízos sociológicos, isto é, a realpolitik, com justificativas morais. Eu não me surpreenderia se alguém demonstrasse empiricamente que mulheres que usam minissaia correm maior risco de ser estupradas. É óbvio, porém, que tal constatação jamais poderia servir de justificativa para os estupradores, por mais sociologicamente precisa que fosse.

Uma outra lição da realpolitik do Oriente Médio ensina que, se você ataca seu inimigo, ele fará o que puder para revidar com força redobrada. Na lógica local, deixar de vingar-se é mostrar-se fraco, o que é um convite a novos ataques. O Hamas sabia que suas ações de 7 de outubro provocariam uma resposta duríssima de Israel e que a vítima seria a população de Gaza.

Quem aceita a realpolitik para justificar as ações do Hamas deveria, para ser coerente, aplicar esse mesmo raciocínio em relação ao revide israelense.

Dora Kramer - A cara do Brasil

Folha de S. Paulo

Repatriação de Israel mostra a melhor face de um país que pode muito quando aciona seus reais ativos

Se nos falta cacife geopolítico para mediar conflitos mundo afora, sobra-nos capital em áreas em que o Brasil está, ou poderia e deveria estar, entre as nações influentes no mundo. Na cultura, no regramento ambiental, no acolhimento a imigrantes, na imagem de amabilidade projetada por nosso povo.

Por isso não se justifica a pretensão do caminhar a passos maiores que as pernas, um jeito gerador de frustração e descrédito, quando podemos fazer uso de nossos reais ativos para realmente nos destacar e, mais importante, ajudar na proporção de nossas capacidades.

Vivemos agora um exemplo eloquente na operação de repatriação dos brasileiros de Israel e nas negociações para a retirada de Gaza de cidadãos nacionais. O presidente Luiz Inácio da Silva foi célere na ordem, e o Ministério da Defesa, as Forças Armadas e o Itamaraty foram de notável eficiência nas ações compartilhadas.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Estados obtêm compensação dupla por perda de ICMS

O Globo

Mesmo já beneficiados com R$ 27 bilhões, governos elevam alíquotas, de olho na reforma tributária

Está em curso uma manobra de governos estaduais para inflar receitas com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e se beneficiar na reforma tributária que tramita no Congresso. Executivo e Legislativo precisam estar atentos para impedir a perpetuação dessas distorções na arrecadação estadual e municipal em detrimento do contribuinte.

A operação, revelada em reportagem do GLOBO, é simples. De acordo com dados do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e Distrito Federal (Comsefaz), 16 estados (Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Ceará, Bahia, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Roraima, Rondônia, Sergipe e Tocantins) e o Distrito Federal já elevaram, no ano passado ou neste ano, suas alíquotas de ICMS entre 1 e 3,5 pontos percentuais. O pretexto alegado é recompor receitas perdidas quando o então presidente Jair Bolsonaro, em campanha à reeleição, cortou o ICMS sobre combustíveis, serviços de telecomunicações e eletricidade, importantes fontes de receitas tributárias dos governadores.

Poesia | Fernando Pessoa - Estou Tonto

 

Música | Dulcis Orchestra - (José Pablo Moncayo )-