segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Estamos em uma época em que é preciso fazer uma releitura da pessoa. Não se trata da volta ao individualismo, quem está ligado a uma rede está opinando, é parte daquilo, mas tem sua individualidade. Nada a ver com ser do partido e seguir a orientação geral.

Sonho, talvez, mas uma possibilidade que se divisa como nunca antes. Acrescentar ao interesse de pessoa, ao de uma classe, de Nação, o que diz respeito a uma comunidade mais ampla, à Humanidade.

Acho que é preciso prestar atenção à representação, a despeito de todas as dificuldades, é preciso tentar dar vida aos partidos. E fazer com que os partidos tomem partido. Como eles partem de uma posição de apenas querer votos, não tomam partido, e ao não tomar partido as pessoas não acreditam no que dizem.

Os partidos passaram a ser um agregado de pessoas que querem um pedacinho do orçamento. O sistema é corrompido. Isso é a deterioração da democracia representativa. A cultura política brasileira precisa ser alterada, sem essa mudança nada acontecerá. E essa mudança cultural se dá pela exemplaridade, pela repetição, pelo embate, e nós ainda não temos uma cultura democrática.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República, em palestra no ciclo "Novos olhares" – Perspectivas políticas do século XXI: crise e reinvenção da democracia –, na Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2014.

PSDB quer explicação de Cardozo sobre depoimento de Valério

• Em 2012, empresário teria falado sobre pagamento de R$ 6 mi ao empresário Ronan Maria Pinto

Beatriz Bulla – O Estado de S. Paulo

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antônio Imbassahy (BA), vai pedir explicações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre as providências adotadas pelo órgão após depoimento de 2012 do empresário Marcos Valério, condenado no processo do mensalão. Na ocasião, Valério afirmou que dirigentes do PT pediram a ele R$ 6 milhões que seriam destinados ao empresário Ronan Maria Pinto.

Segundo o depoimento de Valério em 2012, o dinheiro serviria para encerrar suposta chantagem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, e o então ministro da Casa Civil, José Dirceu.

Por meio de nota, o PSDB informou que pedirá requerimento de informações amanhã, dia 25, por meio da Lei de Acesso à Informação, questionando detalhes sobre as medidas adotadas após a denúncia. "Queremos saber que andamento foi dado às denúncias que agora parecem se confirmar, após a apreensão no escritório de Yousseff de um contrato de empréstimo entre Marcos Valério e uma empresa de Ronan exatamente no mesmo valor denunciado à época", afirmou Imbassahy, em nota.

Conforme noticiado pelo Estado neste fim de semana, a polícia federal apreendeu no escritório da contadora do doleiro Alberto Yousseff contrato de empréstimo de 2004 no valor de R$ 6 milhões entre Marcos Valério e uma empresa de Ronan, empresário de Santo André.

O líder do PSDB aponta que a imprensa noticiou que, em 2012, após as denúncias, a presidente Dilma Rousseff deu ordens a Cardozo e outros ministros para realizarem ação coordenada na tentativa de desqualificar o depoimento prestado por Valério. "Mas qual terá sido o procedimento tomado por aquele que um dia vangloriou-se de não ignorar nem engavetar as denúncias que recebe? Ele não pode agora desqualificar a própria Polícia Federal", completou o líder tucano, em nota.

Com as informações recentes, o tucano destaca "parecer claro" que o Supremo Tribunal Federal julgou apenas "um dos braços do mensalão". "A operação Lava Jato tem revelado outros desdobramentos de uma organização criminosa que não estava entranhada no Estado brasileiro, mas dele fazia parte - e sua última grande vítima foi justamente a Petrobrás", completou.

Simon será candidato ao Senado no lugar de Beto Albuquerque

Carlos Rollsing – Zero Hora (RS)

Decisão foi acertada ontem à noite em Porto Alegre em reunião com representantes do PMDB e outros partidos da coligação, como PSB e PSD

Em reunião na sede municipal do PMDB, em Porto Alegre, contando com a presença de representantes dos outros partidos da coligação, ficou decidido ontem à noite que Pedro Simon será candidato ao Senado em substituição a Beto Albuquerque, que foi alçado ao cargo de vice-presidente na chapa de Marina Silva, após a morte de Eduardo Campos em acidente aéreo.

A indicação de Simon contou com o aval do PMDB e também de partidos como o PSB e o PSD. A candidatura será oficializada em coletiva de imprensa hoje, às 14h, no diretório estadual do PMDB.

Candidato ao governo do Estado pelo PMDB, José Ivo Sartori considerou a aceitação de Simon um "ato de renúncia" do senador, que, aos 85 anos, chegou a receber recomendações do médico Fernando Lucchese para não participar da eleição.

– Houve uma convergência de todos os oito partidos da coligação para o nome do senador Pedro Simon. O ato de renúncia dele é importante para o PMDB e para a coligação – disse Sartori.

Simon era considerado o principal nome do partido, mas também eram cotados para a disputa Germano Rigotto, José Fogaça e Ibsen Pinheiro.

Vieira tentou atrair apoio a Lasier Martins
No final de semana, o candidato do PDT ao Piratini, Vieira da Cunha, fez contatos com lideranças do PMDB e do PSB para abrir a possibilidade de a coligação não lançar um novo nome ao Senado, optando por apoiar Lasier Martins (PDT), que protagoniza uma acirrada disputa com Olívio Dutra (PT). Simon, 85 anos

Presidente diz que Petrobras está acima de crimes e malfeitos

Operação Lava-Jato

- Zero Hora (RS)

Após o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa decidir fazer delação premiada, a candidata à reeleição Dilma Rousseff disse ontem que "não se pode confundir as pessoas com as instituições" e que a estatal está acima de eventuais desvios de conduta cometidos por seus integrantes.

A Polícia Federal (PF) deflagrou na semana passada a quinta fase da operação Lava-Jato, vasculhando endereços de 13 empresas de consultoria, gestão e assessoria, ligadas a uma filha, a um genro e a um amigo do ex-diretor da Petrobras. A Procuradoria da República apontou "vertiginoso acréscimo patrimonial" dessas empresas na época em que Costa foi diretor da Petrobrás. A LavaJato investiga a existência de um suposto esquema de lavagem de bilhões de reais.

– O Brasil e nós todos temos de aprender que se pessoas cometeram erros, malfeitos, crimes, atos de corrupção, isso não significa que as instituições tenham feito isso. Inclusive, nas instituições, qualquer uma, e nas empresas, inclusive nas que vocês trabalham, pode ocorrer isso – disse a petista.

Sem comentário para atitude de ex-diretor
Dilma, porém, não quis comentar a proposta de delação premiada negociada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

– A Petrobras está acima disso e eu não tenho que comentar sobre a decisão de uma pessoa presa fazer ou não delação premiada. Isso não é objeto de interesse da presidente da República – afirmou.

Na sexta-feira, delegados da PF envolvidos na investigação descartaram qualquer acordo de delação premiada, por ora.

Aécio diz que pleno emprego é falácia

Reuters - Brasil Econômico

Candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves acusou a presidenta Dilma Rousseff e o PT de estarem usando o horário eleitoral obrigatório para "divulgar um Brasil virtual". "Uma das maiores falácias é a propagação que o país vive uma fase de pleno emprego". Segundo Aécio, o Brasil precisa voltar a crescer de forma vigorosa e sustentável.

Aécio reforça manutenção do Bolsa Família
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou o PT, partido da presidente Dilma Rousseff, de fazer "terrorismo" eleitoral ao divulgar boatos de que, se o tucano for eleito, vai acabar com o programa Bolsa Família, um dos principais projetos sociais do atual governo. Nos últimos dias, Aécio tratou de reservar parte da sua campanha para garantir a manutenção do programa social e até destacar que pretende ampliá-lo e aprimorá-lo, caso seja eleito presidente.

"Isso é um terrorismo implantado pelo PT e seus correligionários... uma irresponsabilidade", disse ele a jornalistas após visita a um abrigo na cidade do Rio de Janeiro. O candidato tucano prometeu ainda reajuste especial para as aposentadorias dos brasileiros.

Um critério que o presidenciável pretende usar é levar em conta a inflação de remédios para atualizar o pagamento do benefício. Ele declarou que com uma administração sem desperdícios e com austeridade será possível atualizar as aposentadorias levando em conta também a alta dos medicamentos.

Aécio acena a eleitores idosos e jovens com novos benefícios

• Sem detalhar custos, tucano promete programas para aposentados e
estudantes

• Reajuste de benefícios da Previdência Social teria adicional para compensar alta
nos preços dos remédios

- Folha S. Paulo

SÃO PAULO e RIO - O candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG),
prometeu nos últimos dias novos benefícios para aposentados, estudantes e
participantes do Bolsa Família, numa tentativa de combater a ideia de que sua eleição representa uma ameaça para os programas sociais que viraram marca registrada dos governos do PT.

Sem detalhar como pretende financiar os novos benefícios num ambiente de estagnação econômica e fragilidade das finanças do governo, Aécio prometeu aumentar o Bolsa Família e os índices de reajuste das aposentadorias e financiar uma poupança para estudantes que não abandonarem o ensino médio antes de concluir o curso.

Em seu programa no horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão no sábado (24), Aécio prometeu pagar R$ 3 mil a estudantes pobres do Nordeste, estendendo a eles um programa adotado em Minas Gerais no período em que ele governou o Estado, entre 2003 e 2010.

A ideia é criar uma poupança para estudantes que entrarem no ensino médio. Se o aluno não deixar a escola nem se envolver com crimes, Aécio promete que o governo depositará ao fim de cada ano R$ 1 mil numa conta cujo saldo poderá ser sacado na conclusão do terceiro ano.

O projeto começaria no Nordeste, região que nas últimas eleições presidenciais foi decisiva para a vitória do PT sobre os candidatos do PSDB. A coordenadora da área de educação do programa de Aécio, Maria Helena Guimarães de Castro, prevê que 1,8 milhão de alunos nordestinos poderiam ser atendidos por ano, o que permite estimar em R$ 1,8 bilhão o custo anual desse programa.

No domingo (24), durante visita a um abrigo de idosos no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio, Aécio prometeu aplicar aos benefícios pagos pela Previdência Social um reajuste adicional para compensar a alta dos preços de uma cesta de medicamentos de uso contínuo que pesam no bolso dos idosos.

"A gente sabe a dificuldade que é manter um padrão de vida digno", disse. "Além do reajuste anual, os aposentados receberão adicional que vai acompanhar a variação dos preços de medicamentos", afirmou o tucano.

O candidato não ofereceu nenhuma estimativa do custo da medida, que tende a ampliar as dificuldades da Previdência Social, que gasta com benefícios mais do que arrecada com contribuições das empresas e dos segurados.

Programa
No programa de governo que apresentou à Justiça Eleitoral em junho, Aécio diz que resolverá os problemas da Previdência com a retomada do crescimento da economia e não diz nada sobre fatores que têm contribuído para o aumento das suas despesa, como a ausência de idade mínima para a concessão de aposentadorias no setor privado.

Aécio promete manter a atual política de valorização do salário mínimo acima da inflação, o que também tem contribuído para o aumento das despesas da Previdência.

Durante a visita ao abrigo no Rio, Aécio voltou a acusar os petistas de fazer "terrorismo"espalhando rumores de que os tucanos vão acabar com o Bolsa Família se vencerem as eleições deste ano.

Aécio promete aumentar em cerca de 10% o valor pago aos beneficiários do programa, fixando em US$ 1,25 por dia per capita a renda mínima assegurada pelo programa de combate à miséria.

O candidato do PSDB também promete benefícios adicionais aos participantes do programa que conseguirem reduzir sua vulnerabilidade social, recolocando filhos na escola ou ingressando no mercado de trabalho formal.

Aécio acusou "o PT e seus correligionários" de espalhar boatos sobre o fim do
programa. "É irresponsabilidade dizer que o Bolsa Família vai acabar se eu for eleito", disse.

O que ele promete fazer

Aécio lança novos programas sociais

Programa Dignidade
A proposta é garantir aos aposentados e pessoas que recebem o Benefício da Prestação Continuada (BPC) um aumento real superior ao do salário mínimo. O reajuste seria possível adicionando à fórmula atual de correção do benefício um valor para compensar a variação no preço dos remédios. Para isso, Aécio diz que o governo vai criar uma cesta de medicamentos que teria o seu preço monitorado.

O candidato não explicou como será feito o cálculo de reajuste dos remédios e quanto esse benefício extra vai custar Reforço no Bolsa Família

O tucano promete ampliar em cerca de 10%, já na saída, o valor pago aos beneficiários do Bolsa Família. Isso porque prevê que o Brasil adote como piso a renda per capita de US$ 1,25 por dia, segundo ele, um critério de consenso internacional. Aécio promete ainda "premiar" famílias inscritas no programa que melhorem seus níveis de vulnerabilidade social, retornando aos estudos ou ingressando no mercado de trabalho, por exemplo.

A equipe de Aécio diz que ainda não finalizou os cálculos sobre o impacto do novo formato do Bolsa Família nas contas da União Poupança Jovem

Nasceu como um programa de combate à evasão escolar mas acabou integrando o pacote de ações para combater a pobreza na Região Nordeste. Cria uma poupança para alunos que estejam ingressando no ensino médio. O governo se comprometeria a depositar R$ 1 mil por ano ao estudante que não deixasse a escola nem se envolvesse em crimes. Ao fim 3º ano, ele poderia sacar o valor integral da poupança, R$ 3 mil.

O impacto previsto é de cerca de R$ 1,8 bi por ano no Orçamento. Os idealizadores ainda não definiram de onde virá o dinheiro para cobrir o custo.

Aécio acusa PT de fazer 'terrorismo' sobre Bolsa Família

Rodrigo Viga Gaier - Reuters

RIO DE JANEIRO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou o PT, partido da presidente Dilma Rousseff, de fazer "terrorismo" eleitoral ao divulgar boatos de que se o tucano for eleito vai acabar com o programa Bolsa Família, um dos principais projetos sociais do atual governo.

Nos últimos dias, Aécio tratou de reservar parte da sua campanha para garantir a manutenção do programa social e até destacar que pretende ampliá-lo e aprimorá-lo, caso seja eleito presidente.

“Isso (dizer que vai acabar com o Bolsa Família) é um terrorismo implantado pelo PT e seus correligionários... uma irresponsabilidade”, disse ele a jornalistas após visita a um abrigo na cidade do Rio de Janeiro.

O candidato tucano prometeu ainda reajuste especial para as aposentadorias dos brasileiros. Um critério que o presidenciável pretende usar é levar em conta a inflação de remédios para atualizar o pagamento do benefício. Ele declarou que com uma administração sem desperdícios e com austeridade será possível atualizar as aposentadorias levando em conta também a alta dos medicamentos.

“Vamos cuidar do reajuste das aposentadorias. Governar é cuidar das pessoas e temos que ter sensibilidade para tratar dos idosos que são aqueles que mais precisam de nós”, afirmou.

“Os aposentados poderão receber um adicional que vai acompanhar os preços dos medicamentos”, completou. Os preços de remédios e serviços de saúde têm um grande peso no orçamento dos aposentados, assim como os alimentos.

Aécio tem fortalecido sua agenda no Rio de Janeiro após a morte do candidato Eduardo Campos e a confirmação de Marina Silva como cabeça de chapa pelo PSB. Em 2010, quando Marina foi candidata pelo PV, ela teve grande votação no Rio, ficando à frente do tucano José Serra, mas atrás de Dilma Rousseff.

Aécio visitou na sexta-feira um centro de reabilitação na zona sul da capital e neste domingo esteve em um abrigo na zona norte da cidade. Na segunda-feira, ele cumprirá novamente agenda no Rio, ao visitar o comércio popular do Saara, no centro, e pode ainda ir a Niterói.

Aécio lança ofensiva social para se blindar de boatos

• Tucano propõe melhorar Bolsa Família e nega ser contra programa

Júnia Gamjve Luiz e Ernesto Magalhães – O Globo

BRASÍLIA E RIO- Candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) tem reforçado em seus discursos a defesa de que, se eleito, não acabará com os programas sociais do governo federal, com ênfase no Bolsa Família. O tema dominou boa parte de seu programa de TV de sábado e foi citado em atos de campanha no fim de semana. Anteontem, ele lançou o programa Nordeste Forte, na tentativa de buscar apoio do eleitorado da região e rebater acusações de que os tucanos seriam contra os programas sociais. 

Ontem, ele acusou o PT de espalhar rumores de que acabaria com o projeto.

— Há um terrorismo disseminado Brasil afora, obviamente pelo PT, pelos filiados e seus simpatizantes. Na ausência de propostas a apresentar ao Brasil, fazem terrorismo — disse Aécio, acrescentando que já se viu a mesma situação em outras eleições.

O candidato afirmou que pretende inclusive ampliar a abrangência dos programas sociais:

— No nosso governo, o Bolsa Família não apenas vai ser mantido como vamos fazer outras intervenções adequadas no cadastro para que os dependentes do programa possam ser beneficiados por outras ações, como buscar melhorar suas residências ou um saneamento adequado. E vamos investir na qualificação dessas famílias para que elas possam buscar espaço no mercado de trabalho.

Marina afirma que seu programa de governo vai 'valorizar as instituições'

• Candidata do PSB à Presidência sugere que texto da campanha com defesa do 'controle social' da atividade política será alterado

Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Dividindo o segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos com o tucano Aécio Neves e com chances reais de chegar ao segundo turno da corrida presidencial, a candidata do PSB ao Planalto, Marina Silva, afirmou ontem em São Paulo que o seu programa de governo, a ser lançado na sexta-feira, pretende "valorizar as instituições".

"O nosso documento fala em aprofundar a democracia. Aprofundar a democracia significa a valorização das instituições e que essas instituições e as representações políticas possam estar ligadas à sociedade brasileira", disse a ex-ministra do Meio Ambiente, que durante duas horas fez campanha no Centro de Tradições Nordestinas.

A declaração foi uma reação à reportagem publicada ontem pelo Estado que revelou o conteúdo do programa em discussão da campanha.

O texto preliminar da candidatura do PSB fala na criação de mecanismos para ampliar o "controle social" da atividade política. Diz que é necessário criar "instâncias próprias para o exercício de pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização".

Conselhos. O texto defende a Política Nacional de Participação Social, instituída por decreto pela presidente Dilma Rousseff. O decreto orienta órgãos do governo federal a criar conselhos com participação da sociedade civil e movimentos sociais a fim de acompanhar a criação e execução de políticas públicas. A medida sofreu resistência no Congresso. Os críticos veem na iniciativa uma maneira de "aparelhar o Estado" e tirar prerrogativas de fiscalização dos parlamentares.

Marina, quando era vice de Eduardo Campos, morto no dia 13 em um acidente aéreo, chegou a defender publicamente o decreto de Dilma. Ontem, evitou dizer se a defesa do decreto será de fato colocada no papel. "O documento a que tiveram acesso não é o documento que eu e o Eduardo revisamos. Então, não posso falar de coisas que não são do documento oficial da campanha", afirmou a candidata do PSB.

Já o líder do PSB na Câmara dos Deputados e candidato a vice, Beto Albuquerque, foi mais explícito e sugeriu uma alteração de posicionamento entre a Marina candidata a vice e à Presidência. "A proposta de Dilma é diferente. Eu sou deputado e você não pode me dizer que vai ter controle social sem me dizer quem vai controlar o eleito, isso é muito perigoso."

Marina fez a defesa pública da "valorização das instituições" num contexto em que tenta dissipar desconfianças em relação a um eventual governo seu.

Na semana passada, integrantes de sua campanha disseram abertamente serem a favor da autonomia do Banco Central, uma proposta defendida por Campos. Ao sanar dúvidas sobre o que pensava Marina, buscou-se dar sinais ao mercado financeiro. No sábado, ela também acenou à classe política, dizendo que, se eleita, governará com setores do PT e do PSDB. Chegou a afirmar que espera o apoio, inclusive, do tucano José Serra, caso ele seja eleito para o Senado.

A estratégia busca afastar temores a respeito de como ela governaria sem o apoio dos políticos tradicionais.

Críticas. Em nota ao Estado, Maurício Rands e Neca Setubal, coordenadores do Programa de Governo da Coligação Unidos pelo Brasil, informaram que, em meados de julho, várias propostas contidas no documento prévio do programa "receberam críticas do então candidato a presidente, Eduardo Campos, e de sua vice, Marina Silva".

A nota diz que a Coordenação "reformulou o conteúdo do capítulo 'Estado e Democracia de Alta Intensidade' para incorporar a crítica feita pelos candidatos justamente para impedir qualquer interpretação errônea sobre o compromisso da Coligação com os marcos constitucionais que regem as relações da sociedade com o Estado brasileiro".

Os coordenadores alegam que "na mesma época, por determinação do próprio Eduardo e da própria Marina, foi descartada a edição de qualquer sumário executivo do Programa de Governo, dada a complexidade e a profundidade com que as propostas são tratadas no documento completo, que será apresentado dia 29 de agosto".

Marina Silva diz que seu programa de governo terá medidas para ‘aprofundar a democracia’

• Candidata nega que vá propor a criação de conselhos populares para controlar atividade de políticos

Thiago Herdy – O Globo

SÃO PAULO — A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, disse neste domingo, em São Paulo, que a versão final de seu programa de governo, que será será lançado na sexta-feira, terá medidas para “aprofundar a democracia” e “valorizar as instituições”, em vez de diminuir o tamanho delas, ponto sempre citado por críticos aos modelos de participação popular.

— Existem meios de conectar representantes e representados. Esse é o esforço que estamos fazendo. Respeitando sobretudo o desejo que a sociedade tem de melhorar a qualidade da políticas e das instituições públicas — declarou a candidata, durante visita ao Centro de Tradições Nordestinas (CTN), na Zona Norte de São Paulo.

Perguntada, Marina negou que seu programa cite a implantação de conselhos sociais para controlar a atividade de políticos. Segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”, versão preliminar do programa previa os conselhos e a ampliação de canais de consulta popular, como plebiscitos e referendos.

— O documento a que tiveram acesso não é o documento que eu e Eduardo (Campos) revisamos. Então, eu não posso falar de coisa que não é o documento oficial da campanha — disse a candidata.

Segundo integrantes da equipe de Marina, o controle da atividade pública estará no programa no contexto de valorização de mecanismos de transparência pública — como ouvidorias e divulgação de informações de interesse público —, e não na criação de estruturas paralelas de governo e controle.

Durante a visita, Marina seguiu o roteiro de outro candidato, Aécio Neves (PSDB), repetindo por diversas vezes que o Bolsa Família seria “mantido e aperfeiçoado” em um eventual governo. Marina também repetiu seu compromisso com o que chamou de elementos da “base da economia brasileira”: a autonomia do Banco Central, o controle da inflação e a responsabilidade fiscal com o orçamento público.

A candidata também disse que o controle inflacionário deve ser feito com medidas que vão além da política monetária. Para Marina, a “eficiência do gasto público”, a diminuição da estrutura governamental e o ataque “ao dreno da corrupção” são formas de atacar o aumento nos preços.

— O controle da inflação não se dá apenas pela elevação de juros — disse Marina, para quem é preciso fazer com que “os recursos públicos possam ser investidos naquilo que faz o país crescer, a gerar oportunidade de trabalho” e a garantir a continuidade da estabilidade econômica.

Ela reforçou ainda que é “perfeitamente possível não deixar ultrapassar o teto da meta (de inflação, de 6,5% ao ano) mantendo as prioridades sociais”.

— O problema é que muitos dos recursos estão sendo alocados para prioridades que não são compatíveis com a manutenção das duas coisas: ter meta de inflação garantida e assegurar as prioridades estratégicas de melhoria da qualidade de vida das pessoas — disse Marina, sem detalhar medidas práticas que adotaria em seu governo.

Irregularidades no uso do avião
Ao ser perguntada sobre suspeitas de irregularidade na utilização da aeronave que se acidentou no início do mês e causou a morte do então candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, Marina preferiu não responder. O novo vice da chapa, Beto Albuquerque, estava ao seu lado e anunciou novamente que o partido prestará esclarecimentos no início da próxima semana sobre o caso.
— Continuamos querendo explicações sobre as razões do acidente, como este avião caiu, porque essa caixa preta não tinha nada gravado. Quanto aos assuntos pertinentes, quero dizer que o partido prestará informações a todos vocês sobre as condições daquele contrato — afirmou.

Marina age para passar segurança a setores que desconfiam da candidatura

• Grupo político da ex-senadora começa a conversar com o mercado e o agronegócio

- O Globo

BRASÍLIA - Para aplacar temores de que um eventual governo seu seja uma aventura repleta de incertezas, a nova candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, já age para tentar se apresentar como opção segura. De modo pragmático, seu grupo político começa a trabalhar em uma série de sinalizações para setores sensíveis como o mercado, o agronegócio e o de pesquisa científica. Em sua primeira aparição como candidata, Marina também já discusou para apaziguar os ânimos do mercado financeiro. Afirmou que manterá o tripé inflação dentro da meta, câmbio flutuante e controle fiscal. E disse que vai assegurar, em lei, autonomia para o Banco Central — proposta de Eduardo Campos, da qual ela discordava, mas que agora abraça.

Outro recado para o setor financeiro é a composição de sua equipe, que conta com Neca Setúbal, acionista do banco Itaú, como coordenadora do programa de campanha. A entrada do candidato a vice do tucano Geraldo Alckmin, Márcio França, no comitê financeiro também é vista como exemplo de que a candidata está mais aberta ao contraditório desde que assumiu a corrida presidencial. Marina e França trocavam fortes críticas desde que ela chegou ao PSB, em outubro passado.

Embora tenha opiniões consideradas radicais sobre temas como transgênicos e legalização de drogas, Marina vai deixar claro que não fará alterações legais no que já está regulamentado. A Lei de Biossegurança, aprovada em 2005, autoriza a produção e a comercialização de produtos transgênicos, questão contra a qual Marina se opôs fortemente quando foi ministra do Meio Ambiente de Lula. Mas seus aliados garantem que ela não revisará essa previsão. Mas, se eleita, fará com que os rótulos dos produtos transgênicos explicitem que se trata de um produto geneticamente modificado, algo que a lei exige.

A ex-ministra criticou parlamentares da bancada ruralista, que tentavam aprovar um projeto no Congresso para acabar com essa obrigatoriedade. Por outro lado, no caso da permissão de pesquisas com células-tronco embrionárias, prevista na Lei de Biossegurança, ela não fará revisões.

O Código Florestal é outro tema que gera anseios por parte do agronegócio. Durante a discussão da nova legislação, Marina se manifestou contra flexibilizações e anistia de multas por desmatamentos feitos até 2008, o que acabou aprovado. Quando Dilma sancionou a nova legislação, Marina declarou que o código “não é mais florestal, é um Código Agrário. Uma caixa de Pandora com todas as maldades”.

Sua equipe afirma que agora o importante é fazer com que a lei seja cumprida por meio da implementação do Cadastro Ambiental Rural, um raio-X da propriedade rural que definirá áreas que eventualmente terão de ser recuperadas.

— Marina não vai colocar a agenda pessoal acima da agenda do país. Não vamos tentar reverter temas vencidos — afirma um assessor.


O setor financeiro é o menos problemático nesse sentido, já que quando foi candidata em 2010, Marina já defendia a reforma fiscal como forma de tornar o Estado mais eficiente na gestão dos recursos públicos. 

Para ela, esse é um dos fatores que limita o crescimento do país. Ela defendia também a melhoria e o aperfeiçoamento do ambiente de negócios, como forma de atrair investimentos. Semana passada, na 1ª entrevista como candidata, Marina reafirmou que tem um compromisso com a estabilidade da economia:

— Mantenho o que está no programa: meta de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. A independência do Banco Central é um tema de consenso entre nós.

Aliados pontuam que ela tampouco tomará a iniciativa de modificar a legislação em relação ao aborto ou à liberalização do uso da maconha. Mas que caso haja um movimento da sociedade para que os temas sejam revistos, não fugirá do debate. Com relação ao casamento gay, ela mantém que sejam respeitadas as religiões de cada um, mas que todos os direitos civis sejam estendidos à população homossexual, inclusive o da adoção de crianças.

Confronto entre sonhos e realidade
Quem a conhece de longa data antevê um dilema que Marina terá de encarar caso vire presidente: o de confrontar seus sonhos com a realidade.

— A Marina sempre teve posições muito claras sobre temas polêmicos. É parte do que ela acredita. Ela vai ter que enfrentar um choque de realidade entre os sonhos de sua vida e a prática de uma pessoa que quer assumir um país diverso como o nosso — avalia o senador Jorge Viana (PT-AC), cuja maior parte de vida política esteve ligada à da ex-seringueira.

Antes de morrer, Eduardo Campos vinha num esforço de apresentar sua candidata a vice como uma pessoa afeita ao diálogo, alguém que gosta de ouvir e se deixa convencer. Sua ideia era contrapor esse temperamento de Dilma Rousseff, que tem fama de autoritária e intransigente. Quem já trabalhou com Marina diz que a ex-ministra do Meio Ambiente gerava muitos conflitos por não abrir mão de suas posições e se rodear de gente que pensa como ela. Um marineiro que foi subordinado a ela no MMA discorda:
— Ninguém respeita mais a diversidade que ela. Muito próximo tinha um ateu, budista, espíritas, gays e usuários de drogas.

Embora defenda maior diversidade da matriz renovável e mais investimentos em energia eólica, solar e de biomassa, aliados afirmam que ela dará continuidade inclusive às polêmicas hidrelétricas da Amazônia. Segundo integrantes da campanha, ela só não abrirá mão de cumprir todo o rito do licenciamento ambiental
— algo a que qualquer governo é obrigado. Um ex-servidor que trabalhou com Marina diz que é falso afirmar que ela protelou o andamento de obras enquanto ministra.

— Quando ela assumiu o Ministério do Meio Ambiente havia 40 hidrelétricas paradas. Quando saiu eram apenas oito, e não estavam paradas, estavam em processo de licenciamento — relata.

Aos poucos, Marina dá sinais de que será menos “sonhática“, termo que usou ao sair do Partido Verde em 2011, cedendo em parte ao pragmatismo para diminuir resistências ao seu projeto.

Nova candidata do PSB divide apoio evangélico

• Líderes religiosos reavaliam posições na eleição com entrada de Marina na disputa; Dilma é quem mais deve perder em relação à campanha de 2010

Bernardo Caram - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A entrada de Marina Silva (PSB) como candidata à Presidência da República está redesenhando o cenário eleitoral entre os evangélicos, grupo que representa 20% do eleitorado. Devota da Assembleia de Deus, Marina passou a atrair o apoio de líderes evangélicos antes alinhados com o Pastor Everaldo (PSC), quarto colocado nas pesquisas. No novo contexto, quem mais tende a perder apoio das lideranças evangélicas é a presidente Dilma Rousseff.

Com templos em cerca de 500 municípios brasileiros, a Igreja Fonte da Vida é comandada pelo Apóstolo César Augusto, que integrou um grupo de apoio a Dilma em 2010. "O quadro mudou muito.

As nossas expectativas não foram supridas. Houve um desgaste com relação ao governo do PT", afirmou o apóstolo, que dava como praticamente certo o apoio ao Pastor Everaldo até a morte do ex-governador Eduardo Campos, então candidato à Presidência pelo PSB, em um acidente aéreo no dia 13. "Eu represento dois milhões de pessoas e, dos líderes que tenho contato, a tendência é que talvez 80% migrem para a Marina", avaliou.

No coro contra Dilma, destaca-se Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Ex-aliado de Lula, ele se diz perseguido pelo governo petista desde que pediu a prisão dos condenados no processo do mensalão em um evento religioso, há dois anos, em Brasília.

O pastor, que apoiou José Serra em 2010, também afirma ter outros motivos para fazer propaganda contra Dilma. "O PT pensa que nós somos otários e não estamos monitorando o que eles estão fazendo. Tudo que é lixo moral, o PT apoia", criticou, ao dizer que boa parte da legenda é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Em guerra contra Dilma, Malafaia vai fazer campanha para Pastor Everaldo, mas diz que recebeu bem a entrada da ex-ministra do Meio Ambiente na disputa. "Se a Marina for para o segundo turno contra Dilma, eu vou de cabeça com Marina", afirmou.

Em 2010, Dilma conseguiu o apoio de grande parte dos líderes religiosos após fechar um acordo em que se comprometia a não trabalhar pessoalmente no avanço de temas como aborto e casamento gay, que ficariam a cargo do Congresso. Neste ano, ainda não houve uma definição oficial no programa da candidata a respeito de temas desse tipo. Mas nem mesmo a presença da presidente em eventos e templos religiosos tem dado retorno.

No início do mês, ela esteve em uma igreja em São Paulo da Assembleia de Deus , maior congregação evangélica do País, com mais de 12 milhões de fiéis. Entretanto, o presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, Bispo Manoel Ferreira, que recepcionou Dilma no encontro e participou de sua coordenação de campanha em 2010, está com Pastor Everaldo e será uma das atrações da propaganda eleitoral do candidato.

Uma semana antes, Dilma participara da inauguração do Templo de Salomão em São Paulo, ao lado do chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, que foi um de seus aliados nas últimas eleições. A igreja informou que vai se abster de apoiar qualquer partido e seus respectivos candidatos.

Entre os líderes ouvidos, o único que ainda não tem posição definida é Robson Rodovalho. O bispo comanda a Sara Nossa Terra, que tem mais de mil igrejas espalhadas em todos os estados do País.

Em 2010, ele apoiou Dilma Rousseff, mas agora diz estar desapontado com o partido da presidente.
"O PT perdeu muita credibilidade com os parceiros, não só os religiosos. Uma pessoa (Dilma) faz um acordo, e os outros (membros do partido) não assinam embaixo", criticou. Sobre a presença de Marina na disputa, Rodovalho disse que será bom para os evangélicos se houver "um bom diálogo com ela".

Com forte atuação na região Norte, o apóstolo Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração, vai manter a linha adotada nas últimas eleições, quando apoiou Marina Silva. Por sua vez, o chefe da Igreja do Evangelho Quadrangular, Mário de Oliveira, que apoiou Dilma em 2010, agora faz campanha com Pastor Everaldo e diz que vai "indicar o voto aos fiéis".

Cenário político -‘Imprevisibilidade e emoção’

• Diretor do Instituto Brasil do King´s College avalia cenário político nacional

• Anthony Pereira vê Marina com chances e diz que Dilma precisa de autocrítica

Vivian Oswald – O Globo

LONDRES - Diretor do Instituto Brasil do King´s College, Anthony Pereira, avalia O cenário político nacional no Brasil em entrevista ao GLOBO. Ele vê a candidata Marina Silva (PSB) com chances e diz que a presidente Dilma Rousseff precisa de autocrítica.

Qual é o cenário político brasileiro após a morte de Eduardo Campos?

Antes, havia a expectativa de uma eleição com o eixo PSDB-PT, como em 2002, 2006 e 2010. Eu não diria que Marina representa uma terceira via em termos de políticas públicas, porque isso talvez implique uma via híbrida entre o modelo mais neoliberal e o mais desenvolvimentista. Mas, em termos de partido, é uma alternativa fora do padrão das outras eleições.

O PT está mais vulnerável?

O PT está mais preocupado. Até o acidente, os politicólogos achavam que Dilma venceria porque ainda ia fortalecer a candidatura pelo tempo da TV. Agora haverá mais imprevisibilidade e emoção.

Eleição PresidenteComo diferenciar Dilma de Marina?

Pode-se pensar na saída de Marina do governo Lula após divergências sobre o meio ambiente. No debate sobre o Código Florestal, membros do governo e o senador Jorge Viana apoiaram o acordo. Marina não aceitou. Não sei se isso será destacado na campanha, mas como evangélica ela pode atrair eleitorado.

Há quem diga que isso afasta eleitores.

Os apelos de Marina são um pouco contraditórios. Um jovem de classe média interessado no meio ambiente pode se afastar por ela ser evangélica, contra o aborto e o casamento gay. Posso ver choques entre os eleitorados.

Marina também deixou claro que não vai subir em alguns palanques. Isso a prejudica ou beneficia?

Se ela tem uma posição tão purista em termos de palanques e alianças, isso levanta a pergunta: como governar o país com o sistema presidencialista de coalizão, com vários partidos, interesses e indivíduos dentro do Congresso?

Quem teria mais chances no segundo turno contra Dilma: Marina ou Aécio?

Se Marina quebrar esse perfil e reunir mais pessoas, pode ser uma candidata de oposição mais forte. Mas posso imaginar o empresariado, o setor financeiro, investidores e a grande imprensa sem maiores dúvidas em apoiar Aécio. A dúvida é se esses interesses fariam o mesmo por Marina.

Quais são os desafios dos três principais candidatos?

Para Marina, é comunicar suas ideias, políticas públicas e qual tipo de governo faria. Para Aécio, é defender a relevância de sua candidatura num momento em que se fala em quebrar o eixo PT-PSDB e a alternativa mais forte parece ser Marina. Para Dilma, é refletir sobre seu governo, talvez admitir alguns erros e mostrar capacidade de autocrítica, o que não é o forte dela.

O que espera o próximo presidente?

As perspectivas de crescimento econômico são tão ruins que podem queimar o partido que ganhar.

Queremos Lula e FHC como aliados, diz conselheiro econômico de Marina

Mariana Carneiro – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na manhã de sexta-feira (22), o economista Eduardo Giannetti da Fonseca estava animado com o resultado de pesquisas feitas pelo PSB e por instituições do mercado financeiro que sugeriam crescimento das preferências eleitorais da candidata do partido à Presidência, a ex-senadora Marina Silva.

As pesquisas indicam que a candidata, que ele conheceu na campanha eleitoral de 2010, firmou-se em segundo lugar na disputa presidencial deste ano e tem condições de derrotar Dilma Rousseff (PT) no segundo turno.

A possibilidade de vitória tende a alimentar especulações sobre a função reservada para Giannetti, que se define como uma pessoa "sem ambições políticas", num futuro governo. Mas ele diz que não tem interesse em ser o próximo ministro da Fazenda.

"Sou um colaborador, um conselheiro, não uma pessoa de perfil executivo", diz. Em entrevista à Folha, ele afirma que, se for eleita, Marina procurará pessoas do PT e do PSDB para formar sua equipe de governo e garantir apoio a seus projetos no Congresso.

Para Giannetti, até os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso poderiam colaborar. "Se [José] Sarney, Renan [Calheiros] e [Fernando] Collor [de Mello] vão para a oposição, com que se governa e com quem se negocia? É com Lula e FHC."

Ele afirma que tentaria levar até para a cozinha do governo membros de siglas rivais. "O PSDB é um partido de muitos técnicos e pouca liderança", disse.

"O PT também tem técnicos de excelente qualidade, que trabalharam no primeiro mandato de Lula, e a gente adoraria trazê-los. Nossa ideia é governar com os melhores na política e na gestão de políticas públicas."

Folha - Se Marina for eleita, o sr. terá um cargo no governo?

Eduardo Giannetti - Não um cargo executivo. Me vejo como um conselheiro, alguém que pode ajudá-la na escolha dos quadros que vão assumir funções executivas. Mas não é o meu caso.

Essas pessoas vão aparecer na campanha eleitoral?

Espero que sim. É uma conversa que não vem de hoje, nem de ontem. É uma conversa de muitos anos. O Brasil não tem falta de quadros competentes. O que falta é liderança e valores na política. E é isso que Marina traz.

Quais são as mudanças na economia que Marina vai apresentar na campanha?

O governo Dilma se meteu em tamanha confusão que teremos que insistir em algo que deveria estar superado: restabelecer o tripé macroeconômico [câmbio flutuante, meta de inflação e disciplina fiscal]. O Brasil tinha construído um acordo em torno desses princípios. [O tripé] foi estabelecido no segundo mandato de FHC e não só foi confirmado, mas reforçado por Lula em seu primeiro governo. Agora, a gente está com inflação alta, artificialmente controlada, e com o câmbio supervalorizado, o que é um caminho ruim e que prejudica a nossa indústria. Além disso, estamos com um deficit em conta corrente [nas trocas com o exterior] de 3,2% do PIB, o que nos coloca de volta na vulnerabilidade externa do primeiro mandato de FHC. E isso com o menor crescimento da era republicana, excetuando [os governos de] Floriano Peixoto e Collor. É um quadro muito ruim. Não nos leva à beira do precipício, mas não dá horizonte para a sociedade brasileira.

Como a independência do Banco Central se encaixa aí?

Um dos elementos do tripé é a autonomia do BC. Há sérias dúvidas de que ela esteja valendo no governo Dilma. Enquanto prevalecia a autonomia, havia um acordo tácito de que o Executivo não interferiria nas decisões do BC buscando o cumprimento do centro da meta [de inflação]. Essa autonomia pode ser reforçada quando se formaliza a independência do BC. Ou seja, presidentes e diretores têm mandatos fixos e não estão sujeitos a ordens do presidente. Mas é preciso pensar com cuidado o desenho institucional deste modelo.

Há um esboço?

Não é o caso de predefinir os elementos centrais. Tem que ter regras para indicação e eventual destituição, se os dirigentes do Banco Central não atenderem seu mandato. Pode parecer uma coisa linda abstratamente e é um caminho corretíssimo, mas tem que tomar cuidado para garantir que a independência resulte no que se espera. Vamos imaginar que o governo Dilma, para tranquilizar os mercados, resolva implementar uma independência do BC. E indique um aventureiro para o cargo. Vamos ficar amarrados a isso? O governo Dilma cometeu uma grave barbeiragem na condução da política do BC, que foi deixar claro, no início do mandato, que a inflação no teto da meta [de 4,5%, com tolerância até 6,5%] estaria de bom tamanho. Se diz que o teto está bom, ele vira o novo centro. Foi o que aconteceu. E aí o governo, na base do desespero, começou a entrar no corpo a corpo com a inflação, algo que eu não esperava ver de novo na minha vida. A controlar os preços das tarifas públicas, da gasolina, usar o câmbio... A gente já deveria ter virado essa página.

Será preciso uma nova Carta ao Povo Brasileiro, como a que Lula apresentou na campanha de 2002 para vencer as desconfianças dos investidores?

Não creio. Não há temor em relação a Marina como havia com o PT. Agora, qualquer reforço de credibilidade e de confiança é bem-vindo.

E o que fazer com quem a considera uma pessoa inflexível?

Não existe democracia sem negociação. A questão são os limites, até onde se transige. O projeto de Marina a diferencia muito de Dilma e Aécio. Ela quer construir uma nova governabilidade, que não é baseada na barganha de pedaços do governo para obter apoio no Congresso. Eduardo Campos tinha dito, e Marina está alinhada com isso, que no seu governo Sarney, Renan e Collor iriam para a oposição. E com quem se governa e se negocia? Com Lula e Fernando Henrique. Temos todo o interesse em ter os dois como aliados de projetos que interessem ao país. FHC tem compromisso com a estabilidade econômica, nós também. Lula tem compromisso com a inclusão social, nós também. Vamos trabalhar juntos. Acho possível. Se a democracia brasileira tem razão de ser, é para que isso possa acontecer.

Embora Marina se apresente como uma alternativa a petistas e tucanos na política, muito do que ela defende na economia representa uma volta à rota proposta pelo PSDB.

Recuperar o arcabouço macroeconômico é pré-condição para que coisas importantes possam ser feitas. Onde está o problema do brasileiro comum? Na condução, na delegacia, no posto de saúde, na sala de aula. É aí que o Brasil tem que agir com desembaraço e coragem. O deficit brasileiro hoje é de cidadania. A escalada do consumo não resolveu esse problema. Em certo sentido, ela até o agravou.

É preciso reduzir ou reformular os programas sociais?

Eles são intocáveis. O gasto aumentou porque o governo deu isenções de impostos. O governo Dilma deu algo em torno de R$ 250 bilhões de isenção tributária para setores escolhidos. O incentivo do BNDES para um grupo seleto de empresas é maior do que o gasto com o Bolsa Família.

O PSB propõe reduzir a meta de inflação para 4% em 2016 e 3% em 2019. O governo diz que isso geraria desemprego.

Não há relação negativa entre estabilidade e desemprego. Meta de inflação é como guerra de trincheira. Se você fica receoso em adotar as medidas para manter a inflação em 4,5% e aceita flexibilizá-la para 6,5%, a guerra continua igual, a única coisa que acontece é que você saiu de 4,5% para 6,5%. O que é preciso é credibilidade e fazer com que as expectativas convirjam para onde você deseja, e 3% é melhor do que 4%.

Poderia haver demissões?

O custo de não fazer é maior que o de fazer. A geração de empregos despencou, a indústria está demitindo.

Qual é o custo de fazer?

É aceitar que as tarifas públicas ficaram defasadas, o que causa distorções em outros setores da economia, e que os gastos públicos terão que ser melhor controlados.

Economistas dizem que será necessário ou reduzir gastos ou aumentar impostos.

Aumentar impostos nem pensar.

Significa cortar gastos?

Significa ser muito criterioso nos gastos e entender onde eles vêm crescendo. A regra de ouro é que os gastos correntes não podem crescer mais do que o PIB. Significa rever isenções tributárias. O governo mexeu discricionariamente em impostos com base na pressão de setores empresariais para obter benefícios, não só de impostos como o IPI, mas também nas tarifas de importação. Com a economia retomando o crescimento e com os gastos públicos crescendo menos do que o PIB, no tempo, podemos corrigir isso. Não haverá um choque fiscal maluco, uma bala de prata. É um caminho de correção.
-
RAIO-X: EDUARDO GIANNETTI*
IDADE 57 anos
FORMAÇÃO Graduado em economia e em ciências sociais pela USP; PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra)
ATUAÇÃO Foi professor em Cambridge, na USP e no Insper. É colunista da Folha. Escreveu os livros "Vícios privados, benefícios públicos?" (1993), "Autoengano" (1997),"Felicidade" (2002) e "A ilusão da alma" (2010

Ricardo Noblat: O furacão Marina

- O Globo

“Meu querido: não posso ficar preocupada com qualquer pessoa.Dilma, sobre a entrada de Marina para presidente

Ventania não é. Ciclone? Tampouco. Está mais para furacão a recém-lançada candidatura de Marina Silva a presidente da República no lugar da candidatura de Eduardo Campos, do PSB. O que precisa ser confirmado é se estamos diante um furacão de nível 1, 2, 3, 4 ou 5.

Por ora, ele parece ter força suficiente para fazer de Aécio Neves, candidato do PSDB, sua primeira grande vítima. E assustar Dilma.

Há duas semanas que Marina ocupa sozinha a boca do palco da sucessão. Os holofotes convergem para ela. Aécio e Dilma viraram meros coadjuvantes.

Na primeira semana, Marina se impôs como candidata natural do PSB e dos partidos nanicos que Eduardo conseguira atrair para seu lado. Na segunda, dedicou-se a sossegar os espíritos mais inquietos com o risco de uma eventual vitória sua sobre Dilma.

Amiga de Marina e porta-voz dela junto ao mercado financeiro, a herdeira do Banco Itaú, Neca Setúbal, garantiu que a candidata, se eleita, respeitará os fundamentos da política econômica herdada por Lula de Fernando Henrique.

Marina preferiu falar ao mundo político. Disse que governará só por quatro anos. E prometeu fazê-lo com as melhores cabeças do país. Citou José Serra, candidato ao PSDB ao Senado, como uma delas. Acenou com um governo de união nacional.

A força do furacão chamado Marina há uma semana pelo Instituto Datafolha. Na pesquisa de intenção de voto, ela empatou com Aécio. Na simulação de segundo turno, derrotou Dilma.

Para os que imaginam que a ascensão relâmpago de Marina se alimenta principalmente da comoção derivada da morte de Eduardo, pesquisas a serem divulgadas nos próximos dias provarão que não é bem assim.

Tudo indica que Marina abriu uma vantagem confortável sobre Aécio e tomou votos de Dilma. Amanhã, dia de mais uma pesquisa Ibope encomendada pela TV Globo e o jornal O Estado de S. Paulo, ela participará do primeiro debate entre os candidatos a presidente promovido pela TV Bandeirantes.

Na quarta-feira, será entrevistada durante 15 minutos pelo Jornal Nacional. No dia seguinte, anunciará seu programa de governo.

Nova pesquisa do Datafolha virá à luz na sexta-feira. A superexposição de Marina refletirá nos seus resultados.

Havia dúvida sobre quem logo acusaria os estragos provocados pelo furacão – Aécio ou Dilma? Aécio piscou primeiro. Anteontem, apresentou-se como a opção mais segura de mudança. E bateu de leve em Marina. Os bons modos, em breve, serão arquivados.

Líderes do PT dizem que Dilma prefere enfrentar Aécio no segundo turno que é para a gente pensar que ela prefere enfrentar Marina, mas na verdade Dilma torce para encarar Aécio.

Primeiro porque o PSDB é freguês do PT há três eleições presidenciais. Segundo porque eleitor do PSDB votará em Marina para derrotar Dilma. O eleitor de Marina não votaria necessariamente em Aécio. Elementar, meus caros leitores.

Aécio é o velho travestido de novo. Marina, o novo se comparado com tudo isso que está aí. O futuro preocupa Marina. O passado assombra Dilma.

Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras preso desde junho, admite abrir as comportas para que escorra o mar de lama capaz de afogar a empresa. O desarranjo da economia tende a se agravar. Dilma não gostaria de voltar a ser Lula dependente para se eleger. Mas fazer o quê?

Salvo se o acaso fizer uma surpresa, esta eleição ganhou com Marina um toque de imprevisibilidade que antes não tinha com Eduardo. Para quem aprecia fortes sabores, poderá vir a ser um prato e tanto.

Luiz Carlos Azedo: Aves não dão leite

• A grande oposição unificou o discurso contra o voluntarismo e o intervencionismo do governo na economia. Há, porém, contradições profundas entre Aécio e Marina.

- Correio Braziliense (24/08/2014)

Velho professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, o economista pernambucano Aírton Albuquerque costumava ilustrar suas aulas para os calouros com uma provocação. Dizia que a economia era como as aves: poderiam cantar, falar, nadar, lutar e até voar, mas jamais dariam leite. Ou seja, haveria mais de uma maneira de resolver os problemas da sociedade, mas todas teriam que respeitar as limitações objetivas de sua base produtiva.
É mais ou menos essa a discussão que começa a se estabelecer como um divisor de águas entre a presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e, agora, Marina Silva (PSB). O pano de fundo da discussão é o fracasso da estratégia econômica do governo para a retomada do crescimento.

Dilma esgrime o regime de pleno emprego e os programas de transferência de renda como trunfos de sua gestão, com o argumento de que preferiu não sacrificar o povo ao enfrentar a crise mundial. Insiste nas políticas de desoneração fiscal com chapéu alheio (quebrou estados e municípios) e nas medidas de estímulo ao crédito popular (endividou as famílias).

Isso, entretanto, reforça as preocupações de empresários e investidores com o caráter errático e a falta de consistência da atual política econômica. Para sustentar essa retórica, Dilma recorre a artifícios que minam a sua credibilidade com os agentes econômicos, como acontece com as contas do Tesouro.

No momento, o Ministério da Fazenda viola as regras do jogo do sistema financeiro, ao se socorrer de forma mascarada à Caixa Econômica Federal, para pagar o Bolsa Família, o seguro desemprego e os abonos salariais, e ao Banco do Brasil, para bancar os subsídios agrícolas, que estão sendo questionados até pelo Banco Central.

Blindagem
Essas práticas vêm sendo duramente criticadas pelo candidato do PSDB, senador Aécio Neves, desde as comemorações dos 20 anos do Plano Real. O posicionamento do tucano sobre a política econômica está mais em sintonia com os grandes grupos empresariais que apoiavam o governo e, agora, buscam uma alternativa à política econômica atual.

Houve também um reposicionamento da candidata do PSB, Marina Silva, em relação aos grandes temas econômicos. Defensora da chamada nova economia e líder ambientalista mundial, a ex-senadora sofre duros ataques dos governistas, que a acusam de ser contra o desenvolvimento, opinião compartilhada por setores do empresariado, principalmente do agronegócio.

Marina surpreendeu ao defender o famoso tripé da estabilização econômica — meta de inflação, câmbio flutuante e superavit fiscal —- e jogar a toalha quanto à blindagem da política monetária, ao admitir a autonomia formal do Banco Central (BC).

Com isso, a grande oposição unificou o discurso contra o voluntarismo e o intervencionismo do governo na economia. Há, porém, contradições profundas entre Aécio e Marina. Não bastam o saneamento das contas públicas e a blindagem da política monetária, na avaliação dos agentes econômicos. Uma política econômica exitosa, que enfrente os problemas de infraestrutura e da produtividade, pressupõe segurança jurídica e sustentação política.

É aí que rondam as suspeitas contra Marina Silva, que já é considerada uma alternativa de poder. Os agentes econômicos têm em relação à candidata do PSB mais desconfianças do que aquelas que haviam sinalizado em relação ao ex-governador Eduardo Campos, de quem ela era a vice, antes de ele ser afastado da disputa por sua morte trágica.

Lado a lado
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que Dilma Rousseff corre sério risco de perder as eleições se for para o segundo turno, seja contra Aécio Neves, seja contra Marina Silva. Por isso, pôs o pé na estrada para gravar os programas eleitorais de Dilma ao lado da petista.

Renato Janine Ribeiro: A grande pergunta de Marina

• Como repensar a produção de modo não destrutivo

- Valor Econômico

Marina Silva, de todos os que disputam a presidência da República, é o único nome que seria ouvido mesmo fora de qualquer cargo ou mandato. Não chega a ser uma pensadora, mas tem uma proximidade do mundo do pensamento que é rara no mundo da política. De nossos políticos talvez seja quem melhor capte as novidades de nosso tempo. Transita com tranquilidade entre a política e o mundo da vida. Sua entrada na disputa faz esperar um salto de qualidade na discussão - tanto nas perguntas que só ela pode fazer, quanto nas que tem de responder.

Deixo para a próxima coluna os questionamentos a ela. Hoje, trato daquilo que pode ser sua maior contribuição ao debate, ganhe ou perca as eleições - lembrando a diferença que ela fez, em 2010, entre "perder perdendo" (caso de Serra) e "perder ganhando" (foi o seu caso).

Este faro para o ar do tempo, que os alemães chamam de "Zeitgeist", se evidenciou nas manifestações de 2013. Só ela entendeu, quase que por intuição, as formas de mobilização - e de vida - dos jovens. Por isso, não creio muito que seus valores religiosos a barrem ao mundo contemporâneo e a seus modos novos de amar. Ela insiste em separar sua fé das posições políticas que lhe cabe defender. Mas tem valores éticos fortes - assim, aliás, como Dilma Rousseff. Na entrevista de Dilma, note-se que o Jornal Nacional, sempre duro com a corrupção atribuída ao PT, poupou sua honra pessoal; e note-se a severidade com que ela manteve à distância, durante a Copa, o presidente da CBF. A diferença é que a ética de Dilma é laica, a de Marina, religiosa.

Dessa preocupação ética, vem a crítica que se faz a ambas - que não gostem daquela atividade política primordial que consiste em escutar, ceder, negociar. A ética lida com o certo e o errado, com o justo e o injusto: é difícil transigir com eles. Já a política trabalha com um "dégradé" de cores, em que é incerta a fronteira entre bem e mal; por isso, sujeitos estritamente éticos dão, com frequência, maus políticos. A política é uma lição ininterrupta sobre a condição, ou a natureza, humana - pior que isso, sobre nossa imperfeição ou mesmo maldade.

Talvez Marina seja mais apta à discussão, às ideias, aos ideais, do que à gestão. É uma possibilidade. Parece que os dois homens que concorriam, Aécio Neves e Eduardo Campos, tinham uma aptidão maior a dialogar e conversar, disposição esta que no caso das duas mulheres que ora concorrem é substituída por valores éticos que as fazem desconfiar das concessões - que para o político tradicional, para o político homem, fazem parte da paisagem, do ar que eles respiram, mas que não é o mesmo delas.

A morte trágica de Eduardo Campos tirou de cena uma questão que poderia ser crucial para nossa democracia. Afirmei que Marina foi quem melhor entendeu a forma que tomaram as manifestações de 2013. Mas Eduardo talvez fosse o melhor presidente para atender ao conteúdo delas: a melhora substancial nos serviços públicos, a saber, transporte, segurança, educação e saúde - o que tenho chamado de quarta agenda democrática, após a queda da ditadura, a redução da inflação e a maciça inclusão social dos últimos anos. Eduardo poderia dar, ao projeto técnico de boa gestão nos serviços públicos, a base política que se chama apoio popular. Seria o mais apto, parafraseando Heidegger, para mostrar que a essência de uma solução técnica está no suporte político. Ele foi-se, e com ele talvez essa agenda.

Mas Eduardo estava sendo só um coadjuvante no confronto de PT e PSDB. A candidatura de Marina traz à praça uma terceira posição. É isso o que muda o cenário.

Marina já tem nome na ecologia, mas nos últimos anos se deslocou para a economia. Na defesa do meio ambiente, sabe-se sua história. Na economia, ainda não. Ora, a ecologia coloca uma questão essencial - e nova - na discussão brasileira. Os candidatos Dilma e Aécio acreditam no PIB. Para eles, desenvolvimento econômico é uma prioridade. Marina muda o jogo, podendo ter como grande "case" o automóvel privado.

A cada dificuldade econômica maior, os governos federal e estaduais, petistas ou tucanos, baixam impostos para estimular a produção de carros. A indústria automobilística, desde sua criação, no governo Juscelino Kubitscheck, tem notável efeito multiplicador sobre a economia. Mas o transporte privado devasta as cidades. O trânsito se torna impossível.

Espaços públicos são destruídos, para dar passagem a automóveis. A antiga praça, como ponto de encontro das pessoas (o "footing" das cidades do interior), cede lugar a avenidas e ruas nas quais cada indivíduo vê o outro, não como interlocutor ou mesmo amigo, mas como um inimigo disputando espaço e velocidade. O carro é uma arma de guerra, e não só porque mata perto de 50 mil ao ano no Brasil. Os custos econômicos de uma sociedade norte-americanizada pelo transporte individual são elevados; já o prejuízo à qualidade de vida, nem dá para medir.

Neste ponto se espera uma posição firme de Marina. As questões que ela pode colocar são preciosas. Está na hora de dizer que uma sociedade se destrói, a continuar por esse caminho. Não é uma plataforma fácil ou popular, mas ninguém tem ascendência moral comparável à de Marina para defendê-la. Com isso não desqualifico seus adversários, apenas noto que há um discurso importante, estratégico, que ela é a única líder apta a propor. E o carro é apenas a porção emersa de um iceberg que envolve todo o sistema produtivo, sobretudo de bens mas também de serviços, chegando a ameaçar o laço e o tecido sociais.

Marina cumprirá a missão de emplacar, na agenda brasileira, esta questão?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

José Roberto de Toledo: O 'swell' Marina

- O Estado de S. Paulo

Há data e hora marcados para todo mundo ficar sabendo o que a turma diferenciada já vislumbrou desde suas coberturas: a candidatura de Marina Silva (PSB) está surfando uma onda de opinião pública de proporções havaianas. Será nesta terça-feira, às 18h, quanto o Estadao.com divulgar a pesquisa Ibope que está em campo. O que ninguém sabe é quão longe a onda vai chegar.

Por força da legislação eleitoral, o eleitor indiferenciado só tem acesso às pesquisas registradas pelos institutos. A divulgação dos números de pesquisas não registradas e das sondagens telefônicas diárias é punível com multa alta pela Justiça eleitoral - para jornal, jornalista e instituto.

A lei provocou um oligopólio informativo dos mais excludentes. Uma quantidade anormal de pesquisas foi encomendada mas não divulgada desde a morte de Eduardo Campos e a assunção de Marina. Só candidatos, partidos e operadores do mercado financeiro já conhecem os resultados - e estão assombrados.

As mudanças são diárias e na mesma direção. Indicam uma tendência que vai além do impacto emocional provocado pela morte de Campos e de seus auxiliares. A tragédia foi o despertador do público para a eleição, mas não só. Também catalisou um sentimento difuso de insatisfação com a política, com a polarização PT x PSDB. Ambos correm risco de afogamento, mas os tucanos foram pegos primeiro, em local mais fundo.

O "swell" Marina tem origem na mesma tempestade que causou as turbulências de junho de 2013. Uma sensação coletiva de que é preciso mudar, mas não se sabe bem como nem o que. Ao se reconhecer no outro, a inquietude individual se espalha e se multiplica em muitas direções, com efeito potencialmente devastador quando chega à praia. A praia pode ser a urna.

Ou não. Em 2002, a onda Ciro Gomes quebrou antes do tempo e derrubou o presidenciável de sua prancha eleitoral. Dez anos depois, o fenômeno Celso Russomanno parecia irrefreável rumo à cadeira de prefeito paulistano, mas se desfez tão rapidamente quanto surgiu. Ambos se autoimolaram. O cearense destratou um ouvinte numa entrevista; o outro sinalizou que quem mora longe deveria pagar mais caro pelo transporte público.

Pelo histórico, Marina é também o pior inimigo de Marina. Saiu do governo Lula ao não conseguir fazer o que queria. Saiu do PT quando não viu o futuro que almejava para si. Saiu do PV ao não alcançar o controle que pretendia. Saiu do projeto da Rede sem criar um partido onde 32 outros conseguiram. Mal entrou no PSB, já provocou saídas. Não é exatamente uma agregadora.

Mas é em momentos de insatisfação coletiva que personalidades disruptivas encontram a sua chance. A onda é de Marina, e os adversários não a enfrentarão de peito aberto. Subirão onde der e, olimpicamente, torcerão para que faça espuma logo.

Dilma Rousseff (PT) tem mais chance de escapar à correnteza do que Aécio Neves (PSDB), mas não está a salvo. Ela se equilibra no saldo de popularidade que, segundo o Ibope, mantém em ao menos 15 estados, mas com grande variância: do pico de 51 pontos no Piauí a rasos 5 pontos em Santa Catarina.

O lugar mais difícil para a presidente se manter no seco é o Sudeste. A popularidade de Dilma está soçobrando nos maiores colégios eleitorais: tem saldo negativo de 19 pontos em São Paulo, de 11 no Rio de Janeiro e de 1 em Minas Gerais.

Pergunte aos acreanos. Lula diz que Marina foi candidata a presidente em 2010 porque não se reelegeria senadora no Acre. Presidenciável, ela acabou em 3º lugar no próprio Estado. José Serra teve lá o seu melhor desempenho no país. No Acre, seria eleito presidente no primeiro turno. Ninguém é governado há mais tempo por petistas do que os acreanos: 16 anos. Lá, Marina e PT têm mais em comum do que em qualquer outro lugar.

Valdo Cruz: Vestindo a camisa

-Folha de S. Paulo

Empresário influente de um setor maltratado pelo governo petista, ele não poupa críticas à atual presidente, mas não demonstra um pingo de hesitação ao ser questionado quem apoiaria num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva.

"Eu visto uma camisa vermelha, mando imprimir Dilma Rousseff e saio pedindo votos para ela", diz o líder empresarial, que não esconde sua preferência pelo tucano Aécio Neves na disputa presidencial.

Economista do mercado financeiro, ele bate sem dó na política econômica do governo petista e não dá ouvidos aos que dizem que Marina Silva pode ser um risco maior do que a presidente Dilma.

"Num segundo turno, eu vou de Marina, ela beija a cruz do mercado, temos de tirar o PT do governo", afirma o analista, ligado a um grande fundo de investimento e simpatizante declarado de Aécio Neves.

Dois exemplos de como a saída trágica de Eduardo Campos da disputa embaralhou o cenário eleitoral no meio empresarial. Dividido não só entre setores produtivo e financeiro. Tem banqueiro contra e a favor de Marina, como dono de indústria a favor e contra Dilma.

Atordoados, petistas e tucanos agarram-se à tese de que o namoro de parte do
eleitorado com Marina, incluindo os donos do PIB, pode virar fogo de palha. Apostam no pragmatismo do empresário que não gosta de Dilma, mas não quer nem ouvir falar da ambientalista.

Para atear fogo nesta palha, vem aí a velha, mas muitas vezes eficaz, estratégia de explorar o medo pelo novo e imprevisível, o receio de entregar o país a pessoas inexperientes e sem quadros qualificados para enfrentar tempos de crise.

Só que Marina pode convencer mais gente, como o analista do mercado financeiro, de que hoje é mais pragmática e fará um governo de transição, entre o velho e o novo.

Este discurso pode apagar qualquer fogo inimigo pela frente.

Carlos Melo: O potencial de Eduardo

• No Brasil, que um dia contou com centro político moderador entre extremos, gente assim faz falta

- O Estado de S. Paulo – Aliás

Liderança é palavra gasta. A todos ocorre, poucos compreendem e muitos a confundem com poder. Ao poder bastam os meios: um porteiro tem poder; um sargento, um empresário também. Presidentes têm. Mas liderança é outra coisa. Difícil medir. Adquiri-la demanda talento. Ninguém compra, aluga ou reivindica. É exercício que não se ensina, mas se aprende, supõe percepção apurada do mundo e das circunstâncias, trânsito, abrangência, articulação, sagacidade, sedução, astúcia, coragem, certo atrevimento e, ao mesmo tempo, temperança.

O Brasil passa por uma crise de liderança. Nem sempre foi assim: já houve líderes às pencas, paridos da escuridão das crises. Com tantas crises, vários surgiram. No desafio de consolidar a democracia e instaurar a estabilidade, emergiu Fernando Henrique Cardoso. Com a tarefa de reafirmar a estabilidade e estender a inclusão, confirmou-se Luiz Inácio Lula da Silva. Cada um a seu modo, FHC e Lula são, talvez, os últimos líderes de verdade do Brasil atual.

Mas, vertiginoso, o tempo passa também para eles. E o País carece de quem saiba conduzir processos políticos com habilidade e visão amplas. Esses assim são raros. O controle burocrático – caso da presidente Dilma – não faz ninguém líder. Vocalizar apenas parte da sociedade, bradar eficiência, como Aécio, não basta. Tampouco o líder se reduz a representar justos sonhos e anseios de vanguardas, como Marina. Liderança é habilidade essencialmente política, pragmática. Implica, sim, a submissão da burocracia a um projeto, a capacidade de gestão para realizar, é claro, e, evidentemente, alguma dose de sonho para buscar o futuro. Líder é tudo isso num só.

Há enorme esforço social e político para formá-lo. Ele não nasce das escolas, embora o conhecimento ajude. Não brota de fratricidas disputas partidárias, ainda que elas calejem. O líder tem um jeito especial – um dos apelidos de Vargas era Jeitúlio: sorriso enigmático, timing, sedução... Algo raro. Desgraçadamente, a consolidação de lideranças assim tem sido impedida por cruel destino.

Novamente cada um a seu modo, nos últimos anos despontaram Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), Marcelo Déda (PT-SE), Eduardo Campos (PSB-PE), aparentemente possuidores dessas características. Jovens, coincidentemente, do Nordeste – “a Bahia tem um jeito...” –, eram a negação do carrancudo estilo do Sul-Sudeste, a pálida e apática sociedade pós-industrial. Expressavam a malemolência dos trópicos, no confluir de sinhozinhos e moleques. Uma fórmula antes da antropologia que da sociologia.

Os que conviveram com Luís Eduardo, Déda e Eduardo testemunham a incomum capacidade de agregar, não subtrair, articular maiorias. O diálogo aberto, o trânsito pelos partidos, o humor, o sorriso, a sofisticação de raciocínio, a facilidade da aproximação, a confiança, o pragmatismo e a recusa em fazer inimigos que não pudessem vir a ser aliados... Vidas ceifadas, caminhos interrompidos: o coração de Luís Eduardo, o câncer de Déda, o desastre de Eduardo. A impiedosa sorte, que dá e retira.

No Brasil, que um dia contou com centro político moderador entre extremos – das raposas do PSD aos liberais do MDB – e hoje se corrói na metástase fisiológica, gente assim faz falta.

Cenários de eventuais governos Dilma, Marina ou Aécio permitem imaginar essa falta: é óbvio que a economia não vai bem e qualquer ajuste que se faça – ou não se faça – trará custos consideráveis, reações imprevisíveis. Ruas inquietas, movimentos sociais, novos e antigos, a ocupá-las com virulência. Congresso desacreditado, ausência de expressão política, oportunismo voraz. Serão artigos de primeira necessidade o pragmatismo, a habilidade, o diálogo e o indescartável auxílio do carisma. Presidentes da República, Dilma, Marina ou Aécio deterão o poder, de direito. Mas o fato é que pode lhes faltar – tende a lhes faltar – a imprescindível liderança.

No entrechoque da sociedade moderna com a antiga há a necessidade de superação progressiva dos conflitos. Há o imperativo de um governo ativo, liberto das amarras da resignada governabilidade defensiva, do tipo e da fase do presidencialismo de coalizão que temos hoje. Quem realizaria a tarefa?

Presidentes, nem todos possuem a liderança que a circunstância requer. Na sua ausência, mandam buscar o que Eduardo Campos vinha cultivando. Na vitória eleitoral, ele a exerceria. Fora dela, a emprestaria na condição de interlocutor de interesses diversos, articulador do meio-campo, organizador à mesa de lulistas e tucanos, parte do PMDB, desenvolvimentistas, monetaristas, ambientalistas e novos atores sociais.

Surgirão novas lideranças? Essa é a grande pergunta para o Brasil. É possível. A crise as viabiliza – foram os casos de Ulysses e Churchill. E crise virá. Luís Eduardo, Déda e Eduardo estavam prontos. Outros terão que se fazer: Haddad (SP), Kassab (SP), ACM Neto (BA), Richa (PR), Paes (RJ), quem mais possa surgir do improvável, estão num estágio inferior. Assumirão seus papéis? Em que condições vingarão? Liderança é palavra gasta. Que não seja letra morta.

*Carlos Melo é cientista político e professor do Insper