A oposição refez sua avaliação sobre o resultado da eleição. Há seis meses,
a ideia tanto no PSDB, no Democratas e no PPS é que esses partidos sairiam destroçados
na eleição de 7 de outubro. A presidente Dilma Rousseff saiu-se melhor que o
esperado no governo e os tucanos apenas tinham convicção de ganhar em Belém do
Pará e em Teresina, a capital do Piauí, tradicional reduto do partido.
Favorito mesmo, só Antonio Carlos Magalhães Neto, em Salvador, e Marcio
Lacerda, em Belo Horizonte. À época, pois desde então o candidato petista
Nelson Pelegrino cresceu uma boa fatia de pontos em Salvador e Lula estará na
cidade no fim de semana para tentar turbinar ainda mais o candidato do PT.
Não é fácil, porque ACM Neto já está na faixa dos 46 pontos, mas em se
tratando de Lula e de eleições nada é impossível, como ele já demonstrou em
outras disputas.
A oposição acredita que o lulismo já não existe da forma que existiu, em que
Deus nomeava o inquilino do Palácio do Planalto. Prova disso tem sido o
desempenho de seu candidato a prefeito de São Paulo, o ex-ministro da Educação
Fernando Haddad.
No primeiro comício de Lula em Belo Horizonte, terra natal de Dilma, em
apoio à candidatura de Patrus Ananias, havia pouco mais de 3 mil presentes.
Na oposição também há avaliações de que Lula está descompensado, diante da
quantidade de erros que nem PSDB, nem DEM ou PPS julgavam que ele poderia
cometer: a carta que exigiu de Dilma uma resposta sobre as manifestações de FHC
em torno do mensalão e o veto à isenção de produtos da cesta básica.
Há outros elementos a animar a oposição.
A movimentação de Eduardo Campos no Nordeste é um deles. O governador de Pernambuco
e presidente do PSB de uma só tacada pode derrotar três prefeitos de capitais
importantes do Nordeste, território do lulismo. Não é à toa que Lula se apressa
a ir a Salvador dar uma ajuda a Nelson Pelegrino e ouvir alguns pedidos de
Geddel Vieira Lima para assegurar apoio no segundo turno, se houver. Enfim, ele
já não aponta o dedo e as pessoas seguem.
Atualmente, o PSB disputa Recife (com favoritismo), Fortaleza, Belo
Horizonte (com boas possibilidades) e Curitiba. Sim, Curitiba do candidato Gustavo
Fruet do PDT, que foi um implacável relator do mensalão, quando era filiado ao
PSDB, e que hoje está aliado ao PT na eleição.
Fruet e o governador Beto Richa se desentenderam e o deputado que relatou o
mensalão trocou de cores e passou a defender o PDT.
Evidentemente a oposição não acha que vai ganhar a eleição, mas está se
convencendo que não será destroçada, como chegou a imaginar depois da terceira
derrota para o PT. E está certa de que vai fazer um bom papel em João Pessoa,
Maceió (onde Aécio estará nesta semana para um ato eleitoral com Rui Palmeira,
irmão do ex-senador Guilherme Palmeira), Campo Grande, Palmas (em parceria com
o PV), e Belém, com o deputado federal Zenaldo Coutinho.
Aécio foi a Porto Alegre, mas o objetivo na capital do Rio Grande do Sul
está em outro partido da base. E ainda fez um afago na ex-governadora Yeda
Crusius. A campanha da oposição tem a expectativa de ficar com a maioria dos
votos dos três Estados do Sul por afinidades como o agronegócio, entre outras
coisas.
Em Vitória, o ex-governador Paulo Hartung reconciliou-se com o ex-prefeito e
ex-deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas. Em 2014 podem estar de novo no mesmo
palanque.
O clima entre os tucanos, beligerante nas três últimas derrotas para o PT,
nacionalmente, também amenizou. Mas a exemplo do PT, os tucanos também são
chegados as dar tiros no próprio pé.
Exemplo bem recente: o ex-senador Arthur Virgílio estava disparado nas
frente, nas pesquisas para prefeito de Manaus, quando o governo de São Paulo
moveu com uma ação contra a Zona Franca de Manaus (AM). A Zona Franca sempre
foi o inferno de Serra na região Norte, porque se dizia que ele era contrário.
A adversária de Arthur Virgílio, Vanessa Grazziotin, já subiu nas pesquisas
e ameaça seriamente o tucano.
O PT parece calcular melhor esses passos: está nos jornais que a gasolina
vai aumentar. Mas só dia 8, um dia depois da eleição Em 2002, o governo FHC
aumentou o preço do gás de cozinha às vésperas do 1º turno.
Em Porto Alegre, Yeda Crusius trabalhou contra a candidatura de Nelson
Marchezan Filho, que mesmo com traço nas pesquisas ainda teria mais chances que
o escolhido por Yeda.
Um exemplo recente de que a oposição descobriu que precisa se conciliar para
não ser mesmo destroçada: os três partidos constituíram grupo para analisar
temas da atualidade para serem levados à rua em 2013.
A questão da Federação é sempre lembrada por Aécio. Gestão pública entra
para lembrar o "aparelhismo" do PT. Segurança pública e saúde,
também. Aliás, Dilma mandou Alexandre Padilha falar de saúde em BH, e não pegou
bem.
Desde o império os mineiros acham que seus problemas devem ser resolvidos
por eles.
A gafe petista foi do próprio Lula, em Porto Alegre, quando disse que
presidente, governador e prefeito do mesmo partido ajudam os Estados e as cidades.
E até disse que Dilma era gaúcha, para o gáudio dos mineiros.
A avaliação dos oposicionistas é que a situação política mude depois das
eleições municipais. O Brasil tem 30 partidos registrados (e 29 habilitados a
disputar eleições). É uma situação difícil de ser mantida. A tendência seria a
agregação de líderes e o país caminhar para um número menor de partidos.
Podem ser Aécio, Eduardo Campos ou, quem sabe, um nome da moda como Joaquim
Barbosa e Ayres Britto. Pode não dar para levar desta vez mas cria condições
para 2018.
Em 2014, por mais que considere que está melhor do que há seis meses, a
oposição vê poucas chances de mudança.
A situação toda muda, é claro, se José Serra vencer as eleições em São
Paulo, o que daria força ao PSDB.
Em São Paulo, é efetivo o acordo - ou entendimento - de que se José Serra
for eleito prefeito de São Paulo, ele ficará no cargo até o fim, pois não teria
condições políticas de deixar novamente a prefeitura para concorrer a
presidente.
Fonte: Valor Econômico