O
que estamos vendo nos Estados Unidos nos últimos dias é a surpreendente
repetição, com anos de atraso, de situações que já vivemos aqui no Brasil no
tempo em que tínhamos votação em cédulas eleitorais, contabilizadas
manualmente. De acordo com a geografia da apuração, um candidato poderia sair à
frente, e depois perder força. Havia, claro, fraudes, e ficou famoso, por
exemplo, políticos mineiros atribuindo aos votos “da Zona da Mata” uma mudança
de tendência.
Trump
está surpreso com o crescimento de Biden com os votos pelo correio, e acusa
fraude. Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro promete aqui pressionar o
Congresso pela volta da cédula eleitoral. Desde que temos as urnas eletrônicas,
nunca mais houve acusações de fraude, e Bolsonaro insiste na denúncia de
fraudes sem provas, como seu avatar Trump. E pretende pressionar o Congresso
pela volta da cédula eleitoral.
À
medida que a apuração da eleição presidencial nos Estados Unidos vai mostrando
uma provável vitória do democrata Joe Biden, fica claro também que não é apenas
a agenda internacional que será alterada, obrigando o governo brasileiro a se
reposicionar. Também a maneira de se expressar e de tratar os adversários
políticos e temas sensíveis no mundo ocidental mudará sensivelmente, o que
colocará o presidente Bolsonaro no papel de espécie de político em extinção em
países civilizados.