segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Opinião do dia: Luiz Sérgio Henriques*

Corre contra o tempo quem acalenta a ideia de reconstruir o centro político em 2018. A seu favor tem só a certeza de que, longe de evocar a noite em que todos os gatos são pardos, o centro reconstruído é um espaço que pressupõe inteligência e sentimento profundo do País. Em tempos mais terríveis ainda, um artista talentoso quis dar a cada um de nós, brasileiros, a “profissão esperança”. Está na hora de retomar essa nossa profissão esquecida.

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* Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta. Um dos organizadores das ‘obras’ de Gramsci no Brasil, ‘Profissão esperança’, O Estado de S. Paulo, 19/11/2017.

Fernando Henrique Cardoso*: Negros, preconceitos e ideologias

- Revista Veja

A dualidade entre a existência da discriminação e sua negação oficial caracteriza o estilo de nossas relações raciais

Na segunda metade dos anos 1950 houve um seminário internacional no Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro sobre raça e preconceito. Apresentei alguns dados da pesquisa que fizéramos no Rio Grande do Sul, na sequência dos estudos sobre os negros em São Paulo comandados por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Os dados eram eloquentes: não se precisava de muito número ou de retórica para comprovar a fragilidade da noção de que o Brasil era um país sem preconceitos raciais. No Sul, como em toda parte, as coisas eram mais complicadas.

Conto isso não para reafirmar um truísmo, mas porque, ao fim da reunião, o embaixador que a presidia me chamou e disse secamente: “Eu quase o expulsei da reunião”. “Por quê?”, perguntei. “Porque isso não é coisa que se diga diante de estrangeiros!” Deveria prevalecer a noção de que não temos preconceitos raciais...

Contudo, não devemos tratar as afirmações sobre nossa democracia racial como “mera ideologia”, disfarces da realidade. As ideologias contam no comportamento das pessoas. De alguma maneira os que dizem ao mundo que no Brasil não existe preconceito contra os negros confessam inconscientemente que seria melhor que não o tivéssemos. Repetem um chavão, que tem consequências: empurram o preconceito para a área não pública. Em privado, nas relações cotidianas, ele é o feijão com arroz; nas palavras oficiais não é permitido. Não por acaso o preconceito “é crime”, capitulado no código penal.

Luiz Roberto Nascimento Silva: A nação judicializada

- O Globo

STF deveria voltar a ser uma corte constitucional. Não deveria ter de julgar se solta goleiro condenado porque tribunal de origem não apreciou o caso de forma definitiva
Vivemos numa nação judicializada. O grande Miguel Reale dizia que o fórum era um imenso hospital, ou seja o que iria para ele era patologia da sociedade. Se inquilino e proprietário se acertam sobre o reajuste do aluguel, não haverá processo. Se dois sócios que decidem se separar chegam a um acordo, não há demanda.

No Brasil de hoje tudo é motivo de demanda. Todo mundo recorre de tudo. A expressão “vou recorrer” é uma interjeição, quase uma vírgula. Como somos originais em tudo, temos quatro graus de jurisdição, quando o normal na maioria dos países são dois, no máximo três.

O due process of law deriva do direito anglosaxão fixado na Magna Carta de 1215, através da qual os barões impuseram limites ao rei João Sem Terra, impedindo que pudessem ser processados ou perdessem seus bens sem o devido processo legal. Percebeu- se depois que a decisão individual de um juiz poderia estar errada, consolidando injustiça. Assim, seria necessário que uma instância acima, o Tribunal, pudesse mantê- la ou modificá- la. Surgiu o duplo grau de jurisdição ou o direito de recorrer, que exercermos com tanta volúpia.

Jose Roberto de Toledo: De Congresso a delegacia

- O Estado de S. Paulo

Sempre que parlamentares aprontam, seja resgatando um colega da cadeia seja aprovando uma lei impopular, uma altercação emerge nas mídias sociais. Primeiro, a fúria: “Deputado isso!”, “deputado filho daquilo!”,”deputado #@$%&!”. E, imediatamente, a ponderação: “Foi o povo que colocou eles lá”, “democracia é isso”. Todo congresso, assembleia, câmara é reflexo da sociedade que o elegeu, mas prismado pelo sistema eleitoral em que vingou.

Lapidar sistemas eleitorais para favorecerem uma casta, partido, corporação ou região geográfica é prática recorrente nas maiores democracias do mundo. Nos EUA, de tão banal, cunharam a palavra que designa a manipulação dos distritos eleitorais: gerrymandering (“salamandragem”). Bem torturadas, regras admitem qualquer coisa. Até que quem tem menos votos pode eleger mais representantes e fazer o presidente. Não é mágica, é técnica.

No Brasil, o sistema poderia ter ficado ainda pior se o Congresso tivesse aprovado a reforma política. Retirados os bodes do texto, pouco mudou. Entre muitos defeitos mantidos, o sistema favorece a perpetuação de dinastias e a falsa renovação do plenário – basta dar novos prenomes a velhos sobrenomes, de tempos em tempos. Nem dinheiro aumenta mais a chance de um candidato se eleger do que ele já ser deputado ou seu herdeiro.

Marcus Melo: Crises produzem aprendizado social?

- Folha de S. Paulo

O debate político atual está assentado em um modelo de "eleitor bayesiano" que atualiza suas crenças arraigadas em função de informações novas. Ao deparar-se, por exemplo, com o fracasso de políticas, dados sobre déficit público ou evidências de corrupção, ele mudaria suas crenças e suas preferências de política e voto.

A expressão vem de Thomas Bayes (1701-1761) que formulou o conceito de probabilidade condicional. A teoria normativa da democracia representativa assenta-se nesse ideal de eleitor: ele ou ela punirá/premiará seus representantes a partir de um ajuste constante de crenças. A democracia implicaria assim experimentação e aprendizado social.

As análises recentes da ciência politica comportamental mostram, no entanto, que o eleitor –ou pelo menos parte importante do eleitorado– é não-bayseano. A forma como processa informação é assimétrica: aquelas que não são consistentes com suas crenças prévias ("priors") são descartadas. Há assim uma exposição seletiva a novas informações e um viés confirmatório: só são retidas as que confirmam crenças prévias.

Marcus Pestana: A refundação da República

- O Tempo (MG)

Mais do que nunca é preciso recuperar o sentido da palavra “República”. Comemoramos 128 anos da proclamação, embora, como em outras transições, o processo tenha se dado “pelo alto”, sem um engajamento da população. Mas o fim da monarquia marcou um novo ciclo, caracterizado pela introdução do trabalho assalariado, com o fim da escravatura e o lançamento das bases do capitalismo brasileiro. O poder foi descentralizado e se concentrou nas mãos de elites regionais. O sistema político e econômico era extremamente excludente. E a industrialização e a urbanização ainda engatinhavam.

As raízes militares do 15 de Novembro traduzem bem a falta de tradição e cultura democrática em nossa história. Apenas muito tempo depois, vivemos ciclos democráticos de 1946 a 1964, e depois após a inauguração da Nova República, tendo à frente Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Autoritarismo e populismo se alternaram, impedindo o enraizamento dos valores republicanos.

Ricardo Noblat: Com brasileiro não há quem possa

- O Globo

“Foi um caso pontual de família” Rodrigo Rollemberg, governador de Brasília, sobre o desmaio de um menino com fome em uma escola

Compreensível que poucos cariocas tenham cercado o prédio da Assembleia Legislativa do Rio para protestar contra o que ali ocorria na tarde da última sexta- feira — uma sessão convocada às pressas com o único propósito de libertar os deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, do PMDB, presos e acusados de receber milionárias propinas. Perderam um espetáculo e tanto de sordidez.

É BEM VERDADE QUE sexta-feira foi dia imprensado entre o feriado da Proclamação da República e o sábado da preguiça para quem pode. A temperatura bateu os 35 graus. Deu praia. A três meses da folia, as escolas de samba costumam promover ensaios técnicos. É tempo de trabalho insano nos barracões, de tirarem- se medidas para as fantasias e de fazerem-se provas de roupas incompletas.

Vinicius Mota: Viva Chile

- Folha de S. Paulo

Pouco entusiasmados com a política, os eleitores chilenos -menos da metade deles, a rigor- deram início ao sétimo ciclo de votações presidenciais desde o fim da sangrenta ditadura Pinochet.

O desencanto deveria ser comemorado, pois é típico de nações desenvolvidas, em que o resultado eleitoral altera pouco o rumo da comunidade. O Chile já percorreu 4/5 da estrada que conduz ao seleto clube dos países ricos, enquanto o Brasil está parado no meio do caminho há 37 anos.

Em 1980, o trabalhador chileno e o brasileiro tinham praticamente a mesma produtividade. Cada um produzia cerca de US$ 30 mil por ano, em dinheiro de hoje. O brasileiro ficou estagnado. O chileno agora entrega quase US$ 55 mil por ano.

Escolhas mais contemporâneas -como o grau de abertura aos negócios, domésticos e externos-, misturadas a algumas decisões do passado mais distante, têm provável relação com a diferença nos destinos das duas nações sul-americanas.

Em 1890, o Chile registrava taxas de matrícula no ensino primário acima da média latino-americana, enquanto a brasileira rastejava em metade desta marca. O efeito de longo prazo, contudo, não deve ser exagerado. A Argentina, potência educacional e econômica no raiar do século 20, vive decadência de quase cem anos.

Cida Damasco: Mercados em campanha

- O Estado de S. Paulo

Analistas emitem sinais de que vale tudo, menos populismo econômico

Mercados não votam. Mas têm voz ativa nas campanhas. Não dá para esquecer de 2002, ano em que eles tremeram diante do apocalipse-Lula, a ponto de empurrar o candidato para a edição da Carta aos Brasileiros, com compromissos de não ruptura, para dobrar as resistências dos setores empresariais e financeiros e, por tabela, do eleitorado tradicionalmente não afinado com o PT.

A um ano das eleições, ainda reina uma certa calmaria, mas as dúvidas com o desfecho da atual administração começam a se misturar e até a ceder lugar às indagações sobre o que será do Planalto depois de 2018. Os juros futuros chegaram a ensaiar uma alta no começo deste mês, refletindo os sinais de que o governo Temer havia abandonado a reforma da Previdência, mas logo em seguida retomaram a trajetória anterior.

Leandro Colon: A culpa é do mingau

- Folha de S. Paulo

O presidente Michel Temer negocia ministérios com partidos aliados enquanto crianças passam fome em uma escola a 11 km do Palácio do Planalto e do Congresso.

Uma delas, um menino de oito anos, desmaiou na sala de aula. Ele faz parte de um grupo de 250 alunos que viaja 30 km de ônibus até o colégio porque não há ensino público na região pobre onde eles vivem
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Moram em conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida a 20 km da Praça dos Três Poderes.

A professora que socorreu o aluno afirmou à imprensa que o menino "apagou". Seus três irmãos, matriculados no mesmo local, contaram que não haviam se alimentado no domingo (12), dia anterior ao desmaio. Na segunda-feira (13), antes de sair de casa para a escola, comeram apenas um mingau de fubá.

O serviço de emergência do Samu foi acionado. A professora disse ter chorado ao saber que o diagnóstico do problema de saúde do menino era falta de comida. Relatou que a questão da fome é rotineira entre as crianças da escola de Brasília.

A vontade não substitui a lei – Editorial: O Estado de S. Paulo

Ao explicar por que decidiu devolver à Procuradoria-Geral da República, sem homologação, um acordo de colaboração premiada eivado dos mesmos vícios que têm caracterizado o uso desse precioso instrumento de investigação por parte de alguns procuradores, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski foi muito além da mera crítica formalista. Em seu despacho, desabonou a crescente desenvoltura da Procuradoria-Geral ao celebrar esses acordos, que estabelecem a pena a ser cumprida e até mesmo a forma de cumprimento, algo que só cabe ao juiz fazer. Há muito se esperava, da parte do Supremo, alguma manifestação clara que lembrasse aos procuradores que nada pode justificar o desrespeito às leis, nem mesmo a ambição quimérica de acabar com a corrupção.

Finalmente essa manifestação veio – e dentro dos autos –, mas infelizmente não há garantia de que encontre, entre vários dos pares do ministro Lewandowski, o apoio necessário para que se torne referência em futuras decisões a respeito dos acordos de delação.

Convém lembrar, por exemplo, que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, homologou sem questionamentos o inacreditável acordo de delação premiada fechado pela Procuradoria-Geral com Joesley Batista, por meio do qual o empresário ganharia imunidade total. E convém lembrar que, mesmo quando ficou claro que Joesley, para obter o acordo, omitiu informações e armou flagrantes de autoridades – supostamente em conluio com gente de dentro da Procuradoria-Geral –, o Supremo decidiu que um acordo de colaboração, uma vez homologado, não pode ser revisto. Segundo esse entendimento, admitir a revisão seria um risco para a segurança jurídica, pois o delator só aceitará falar se tiver a garantia de que nada poderá cancelar o acordo.

Remover o entulho – Editorial: Folha de S. Paulo

No fim do ano, termina o programa de incentivos às montadoras de veículos criado em 2012, no governo Dilma Rousseff (PT). Planeja-se substituir o Inovar-Auto, em termos mais modestos, pelo Rota 2030. Há empecilhos, porém, no caminho do novo pacote de proteção à indústria automobilística.

Ele sofre ataque em duas frentes. O Ministério da Fazenda pretende reduzir o número e o alcance de medidas de proteção setorial –em especial, aquelas que impliquem renúncia de receitas de impostos. Além do mais, incentivos do regime ora em vigor renderam ao Brasil uma condenação na Organização Mundial de Comércio.

No que tem de mais substancial, o Inovar-Auto tributa pesadamente empresas que não atinjam um grau mínimo de nacionalização de seus produtos.

Controle necessário – Editorial: O Globo

Estudos comprovam que taxas de homicídio teriam subido mais não fosse o controle das armas de fogo

Desde que foi regulamentado, em julho de 2004, o Estatuto do Desarmamento tem estado sob fogo cerrado da bancada da bala. Em pouco mais de uma década de vigência, foi sendo desfigurado. Agora, prepara- se no Congresso Nacional o que pode ser o golpe de misericórdia contra a legislação de controle de armas.

A Comissão de Constituição e Justiça recebeu do senador Sérgio Petecão ( PSD- AC) parecer favorável ao projeto do senador Wilder Morais ( PPGO), batizado de Estatuto do Armamento, que facilita a comercialização, a posse e o porte de armas de fogo e munição para maiores de 18 anos no país. Basta comprovar que o interessado está apto psicologicamente, tem bons antecedentes e capacidade técnica para manuseá- las.

O autor do projeto que praticamente aniquila o Estatuto do Desarmamento diz que pretende resgatar o direito de escolha do cidadão e argumenta que, em referendo realizado em 2005, 63% da população votaram contra a proibição do comércio de armas de fogo e munição.

Frutos de uma decisão acertada – Editorial: O Estado de S. Paulo

Recentemente, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) anunciou o resultado da pesquisa trimestral Sondagem Econômica da América Latina, feita em parceria com o instituto Ifo, da Alemanha. No Indicador de Clima Econômico (ICE), o Brasil subiu 32,7 pontos, obtendo no período avaliado a nota de 91,7 pontos. Trata-se do melhor resultado em quatro anos.

Além de um cenário externo mais favorável, com a retomada dos preços das commodities, o desempenho positivo do Brasil é decorrência de uma melhora de vários indicadores macroeconômicos internos, avaliou a pesquisadora Lia Valls, da FGV. Ao mesmo tempo, lembrou a economista, as incertezas do cenário político levantam dúvidas a respeito da continuidade da trajetória positiva do indicador.

A ressalva sobre a manutenção da boa avaliação é pertinente, pois ainda não foi aprovada pelo Congresso a principal reforma capaz de proporcionar um equilíbrio mais estável às contas públicas, a da Previdência. De toda forma, chama a atenção que, num cenário conturbado politicamente, o País tenha conseguido apresentar o melhor clima econômico dos últimos quatro anos.

Capítulo final – Editorial; Folha de S. Paulo

A interrupção do pagamento da dívida venezuelana, levado a cabo nos últimos dias, não surpreende. No roteiro tristemente repetitivo do populismo latino-americano, a incapacidade de honrar compromissos quase sempre surge no epílogo dos desmandos que vão minando a economia e as instituições.

Após descumprir um pagamento de US$ 200 milhões em juros de sua dívida externa, estimada em US$ 150 bilhões, o país foi declarado em calote parcial pelas três principais agências internacionais de classificação de risco.

A crise descomunal –que fez a renda per capita retroceder 40% desde 2013, no processo de empobrecimento mais explosivo já observado na América Latina– entra agora em nova fase.

A inadimplência dificulta o acesso do regime de Nicolás Maduro a divisas estrangeiras, fundamentais para financiar importações de produtos essenciais.

O caos há muito está instalado. A inflação se aproxima de 1.000% anuais e escasseiam todos os tipos de mantimentos. As reservas cambiais não passam de apenas US$ 9,6 bilhões, tendo caído cerca de 75% em cinco anos.

Juízes de SP têm verba de R$ 5 mil para livros

Coluna do Estadão / O Estado de S. Paulo.

Os tribunais de Justiça de São Paulo e do Maranhão garantem o pagamento de um auxílio para que os juízes e desembargadores comprem livros. Em São Paulo, cada magistrado tem direito a R$ 5 mil por ano para adquirir obras literárias, softwares e hardwares para consumo próprio. No Maranhão, a “bolsa livro” é de R$ 1.300. Neste ano, 1.340 magistrados de São Paulo já solicitaram parte do valor do auxílio, perfazendo uma média de R$ 1.710 cada um. Se os 2.600 pedirem o “bolsa livro” integralmente, o custo para o TJ-SP será de R$ 13 milhões.

» Leitores vorazes. Em 2017, o TJ do Maranhão desembolsou R$ 162,6 mil para atender 209 pedidos de reembolso de magistrados pela compra de livros, uma média de R$ 835,28 cada.

» Manobra. O corregedor do CNJ, João Otávio de Noronha, disse à Coluna que o auxílio é um “absurdo”. “Sou radicalmente contra. Ler é da natureza da profissão. Eu mesmo compro meus próprios livros”.

» Depende deles. Está nas mãos do Supremo decidir sobre o fim da “bolsa livro” e outros auxílios pagos pelos TJs sem previsão na Lei Orgânica da Magistratura. Há uma ação questionando isso na Corte, mas sem previsão de julgamento.

» Com a palavra. O TJ-SP diz que para obter o reembolso o magistrado precisa apresentar a nota fiscal com indicação da natureza da obra. O TJ-MA também informa que o reembolso depende de comprovação.

» Barriga de aluguel. O senador Aécio Neves (PSDBMG) tenta fazer o deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG) ministro da Secretaria de Governo no lugar do tucano Antonio Imbassahy.

Petistas veem disputa acirrada no Rio e querem que Lula use caravana para se contrapor a Bolsonaro

Painel / Folha de S. Paulo

2018 é agora A duas semanas de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciar uma caravana no Rio, o PT recebeu uma pesquisa em que ele aparece empatado com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na disputa pelos votos do Estado na corrida presidencial. Com os números em mãos, lideranças petistas passaram a sugerir que o ex-presidente polarize com Bolsonaro no giro fluminense, ignorando outros potenciais adversários. Lula resiste. Acha que poderia atrair ainda mais atenção para o rival.

Por nós Para convencer Lula, aliados dizem que só ele seria capaz de combater o discurso de criminalização da política que tem sido usado fartamente por Bolsonaro. Se não partir para o enfrentamento ideológico, afirmam, o PT deixará uma porta aberta para a direita mais radical.

Os números A pesquisa usada para justificar uma ofensiva mostra Lula com 23% das intenções de voto para presidente no Estado do Rio e Bolsonaro com 21%. Marina Silva (Rede) tem 7%, Ciro Gomes (PDT), 4%, e Geraldo Alckmin (PSDB), 3%.

A casa é sua As mudanças feitas pelo PEN para atrair Jair Bolsonaro não se limitam ao novo nome da sigla (Patriota) e à composição da executiva. O partido também mexeu em nove diretórios estaduais para acomodar pessoas indicadas pelo deputado.

Quero mais As trocas já foram registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas Bolsonaro ainda aguarda a conclusão de outras trocas para se filiar ao partido.

De grão em grão O DEM vai concluir a primeira fase de seu plano de expansão em dezembro, com a incorporação de sete deputados que deixaram o PSB. A sigla buscará novas adesões até março, quando haverá janela para troca de legenda antes das eleições. Hoje com 29 deputados, o DEM quer chegar a 45.

Maia sai fortalecido com trocas no governo

Presidente da Câmara põe aliado em Cidades e deve dar aval a mudança no comando do BNDES

Igor Gadelha / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - As mudanças no primeiro escalão do governo que o presidente Michel Temer anunciará nos próximos dias vão fortalecer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Além de decidir entregar o Ministério das Cidades a um dos principais aliados de Maia, o governo prepara a troca do comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – demanda do presidente da Câmara, responsável pelo cronograma de votação do plenário, o que inclui a reforma da Previdência. Ontem, Temer foi à casa de Maia para um almoço do qual participou o deputado Alexandre Baldy (sem partido-GO), escolhido para substituir Bruno Araújo (PSDB-PE)no Ministério das Cidades. Segundo um ministro próximo de Temer, ele deve indicar um nome que tenha aval de Maia para comandar o BNDES. O atual titular, Paulo Rabello de Castro, é alvo de pressão da base após ter sido lançado pelo PSC pré-candidato à Presidência.

As mudanças no primeiro escalão que o presidente Michel Temer vai anunciar nos próximos dias irão fortalecer o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ). Além de decidir entregar o Ministério das Cidades a um aliado de Maia, o governo já prepara a troca do comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – defendida pelo presidente da Câmara.

Temer quer manter uma boa relação com Maia em razão da posição estratégica do deputado. Como presidente da Câmara, ele é responsável pelo cronograma de votação do plenário, o que inclui a reforma da Previdência e as medidas fiscais já enviadas pelo governo. O governo também precisa de Maia para votar os ajustes na reforma trabalhista, na medida provisória enviada pelo Planalto, o que contrariou o deputado, que defendia as mudanças por projeto de lei.

Temer amplia poder de Maia para aprovar a Previdência

Presidente da Câmara negociará com o centrão secretarias da pasta das Cidades

Para retomar a votação na primeira semana de dezembro, Planalto prepara maratona de encontros com prefeitos e governadores e organiza jantar com deputados

O presidente Michel Temer ampliou os poderes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na articulação política do governo para destravar a votação da reforma da Previdência já na primeira semana de dezembro. Temer autorizou Maia a negociar com os partidos do centrão a distribuição das quatro secretarias mais importantes do Ministério das Cidades, cujo novo titular, Alexandre Baldy, foi indicado pelo presidente da Câmara. O Planalto reunirá prefeitos, governadores e deputados esta semana para angariar apoio à reforma.

Todo o poder a Maia

Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza presidente da Câmara a negociar cargos

Geralda Doca, Manoel Ventura, Patricia Cagni / O Globo

- BRASÍLIA- Em semana que pode ser decisiva para a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer se reaproximou do presidente da Câmara, Rodrigo Maia ( DEM- RJ), e conferiu a ele poderes para recompor os postos- chave do Ministério das Cidades. Além de emplacar o deputado Alexandre Baldy, de quem é amigo pessoal, no comando da pasta, Maia vai dividir com os partidos que compõem o chamado centrão ( PP, PSD, PR, PRB, PTB e PSC) a secretaria- executiva e as secretarias de Habitação, de Saneamento, Desenvolvimento Urbano e de Mobilidade Urbana. O presidente da Câmara também vai ajudar Temer na reforma ministerial e na tentativa de segurar votos do PSDB. Temer negocia o remanejamento do ministro da Secretaria- Geral de Governo, Antonio Imbassahy, para outra pasta. Uma possibilidade é que ele assuma o lugar de Luislinda Valois, do mesmo partido, na Secretaria de Direitos Humanos.

Imbassahy pode ficar com Direitos Humanos

Marina Dias / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer bateu o martelo neste fim de semana sobre mudanças em sua Esplanada dos Ministérios e pode deslocar o tucano Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) para a pasta de Direitos Humanos.

Em conversas com aliados nos últimos dias, o presidente decidiu nomear o deputado federal Alexandre Baldy (GO) para o Ministério das Cidades, no lugar de Bruno Araújo (PSDB), que pediu demissão na semana passada.

O nome de Baldy tem a chancela do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se reuniu com Temer neste sábado (18) para tratar do assunto.

Filiado ao Podemos, Baldy decidiu sair do partido em agosto quando foi destituído da liderança da sigla na Câmara e agora deve entrar para o PP. O partido, que compõe o centrão, reivindica mais espaço no governo em troca de votos para aprovar a reforma da Previdência.

Outra mudança ministerial que está praticamente acertada é a Secretaria de Governo, hoje ocupada por Imbassahy.

No Recife, agenda de Alckmin inclui missa e favela

Governador tucano testa popularidade na capital pernambucana e se reúne com viúva de Campos

Adriana Ferraz, enviada especial / O Estado de S.Paulo

RECIFE - Foi como um teste de popularidade. Ciente de que precisa ampliar seu eleitorado no Nordeste para ter chance de vencer a disputa pelo Planalto em 2018, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), cada vez mais confiante de que será o escolhido do partido ao pleito, cumpriu agenda de candidato, neste domingo, no Recife.

Ciceroneado pelo tucanato local, o governador paulista seguiu o roteiro de um dia de campanha, com direito a missa pela manhã, almoço em um mercado popular e visita a uma favela.

Disposto, Alckmin fez política desde às 8h30, quando desembarcou na capital pernambucana após quase três horas de voo em avião de carreira. Já no aeroporto, foi recebido por uma comitiva chefiada pelo deputado federal Bruno Araújo, primeiro tucano a deixar o governo de Michel Temer.

Ex-ministro das Cidades, Araújo quer disputar o governo do Estado ou o Senado e busca apoio de Alckmin, que, além de pré-candidato à Presidência, é cotado para também assumir o comando do PSDB ano que vem.

Sobre esse desafio, o paulista, mais uma vez, não deixou clara sua intenção, mas deu pistas de que a possibilidade existe e é cada vez mais forte entre o grupo que o apoia, como a deputada federal Terezinha Nunes (PSDB-PE), presente na comitiva pró-Alckmin. “Falta ele aceitar, mas é claro que seu nome é o mais apropriado.”

Aos jornalistas, o governador afirmou que não precisa ser o presidente do partido. “O que o PSDB precisa é de unidade para mudar o Brasil.” Acompanhado apenas por José Aníbal e Samuel Moreira – seguindo sua estratégia de passar a imagem da austeridade, Alckmin não levou assessores –, o governador posou de candidato, mas com o cuidado de não tocar no tema eleição e muitos menos pedir votos.

Ao fim da missa das 11h da Igreja Madre de Deus, no Recife antigo, foi aplaudido, tirou selfie com potenciais eleitores, ganhou uma pintura das mãos do frei Rinaldo (famoso entre os católicos da cidade) e, em seguida, o acompanhou em visita à Comunidade do Pilar. Lá, ouviu questionamentos da população sobre programas habitacionais, mas sem opinar ou apresentar qualquer proposta.

O local escolhido para o almoço foi um restaurante simples no Mercado da Madalena, na zona oeste. No cardápio, baião de dois, macaxeira e cerveja – um copo apenas, para combater o calor de 31 graus.

O café foi na casa da viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo na campanha de 2014. A conversa com Renata Campos durou cerca de uma hora e serviu como uma aproximação com o PSB local, que ainda tem forte influência da família Campos e é disputado também pelo PT.

Antes de jantar com empresários, o tucano conversou com o deputado federal e ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). “Apoio Alckmin para presidente, dou palanque para ele com o PMDB nacional ou sem, como uma dissidência”, afirmou.

Chile terá segundo turno mais acirrado

Candidato à direita, o ex-presidente Sebastián Piñera teve um desempenho bem abaixo do esperado na primeira etapa das eleições presidenciais do Chile, ontem, e vai enfrentar um segundo turno mais difícil em meados de dezembro contra Alejandro Guillier, de centro- esquerda. Com 87% dos votos apurados, Piñera tinha 36,7% e Guillier, 22,7%.

Segundo turno acirrado

Piñera tem desempenho mais fraco do que o previsto, mas disputará com Guillier em dezembro

Janaína Figueiredo / O Globo

BUENOS AIRES- O primeiro turno da eleição presidencial chilena traçou o cenário previsto na corrida pela sucessão de Michelle Bachelet. De acordo com resultados oficiais divulgados, o ex-presidente Sebastián Piñera (2010- 2014) foi o candidato mais votado ontem e disputará o segundo turno em meados de dezembro com o candidato independente de centro-esquerda Alejandro Guillier. O que surpreendeu ontem foi o desempenho do ex-presidente e candidato da aliança de direita Chile Vamos, que, com 87% dos votos apurados, obteve 36,7% dos votos, muito abaixo dos 45% esperados por Piñera, fato que anteciparia um segundo turno bem mais acirrado do que se imaginava. Um dos fatores que teriam afetado a votação do ex-chefe de Estado chama- se José Antonio Kast, candidato de ultradireita que alcançou 7,9% com um discurso de defesa do pinochetismo e oposição a iniciativas instaladas na agenda política e social chilena, como casamento gay e aborto.

— Estamos felizes, porque esta noite conseguimos alcançar um grande resultado eleitoral… a partir de março espero ser o presidente da unidade dos chilenos — declarou Piñera, tentando minimizar o clima de decepção entre seus seguidores.

Ontem à noite jornalistas locais especulavam sobre mudanças no comando de campanha do ex-presidente, já que os resultados foram considerados quase uma derrota. Até ontem, a reeleição do ex- chefe de Estado era quase uma certeza no Chile. A partir de agora, essa é apenas uma das possibilidades. Outra que ganhou muita força é a formação de uma frente anti- Piñera. Um dos candidatos da centro- esquerda, o ex- socialista Marco Enríquez Ominami ( 5,7%), já anunciou sua decisão de votar por Guillier, que ficou em segundo lugar, como previram todas as pesquisas, com 22,7%. O candidato independente deverá começar imediatamente uma negociação com os demais partidos e movimentos de centro- esquerda, sobretudo com a esquerdista Frente Ampla, a grande novidade eleitoral da política chilena. Sua candidata, a jornalista Beatriz Sánchez, atingiu, segundo os resultados, 20,3%.

Jorge de Lima: Zumbi

Em meu torrão natal — Imperatriz —,
nas serras da Barriga e da Juçara,
um homem negro, muito negro, quis
mostrar ao mundo que tinha alma clara.

E tem o sonho que Platão sonhara: —
que um sonho nobre não possui matiz.
(O sol d’Egina é o mesmo sol do Saara,
da Senegâmbia, de qualquer país).

Em mil seiscentos e noventa e sete,
galgam o topo da montanha a pique,
os homens brancos de Caetano e Castro.

E o negro herói que não se curva e inflete,
faz-se em pedaços para que não fique
com os homens brancos, o seu negro rastro…

Clara Nunes: Canto das três raças