sábado, 8 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Eduardo Campos

Já apresentamos as diretrizes do programa, para a sociedade. Aqueles que quiserem se somar às diretrizes e a esse conteúdo serão bem vindos. O eixo programático será respeitado no plano nacional, como fizemos aqui em Pernambuco.

A nova política é, na verdade, quando os políticos se unem em torno de uma pauta do povo. Como nos unimos em 2006 com partidos de centro aqui em Pernambuco e fizemos um governo de mudança que tem 83 por cento de aprovação da população. A velha política é aquela em que os políticos se reúnem em torno dos seus próprios interesses.

Eduardo Campos, “Na ‘nova política ‘ antigos nomes”. O Globo, 08 de fevereiro de 2014.

Após três dias na Papuda, João Paulo renuncia ao mandato

Petista abre mão do mandato de deputado federal e diz que deixa a Câmara com "consciência do dever cumprido"

Três dias após ser preso, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) decidiu renunciar ao mandato parlamentar, segundo informou, na noite de ontem, a Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara. Na carta de renúncia, ele diz que deixa o Congresso “com a consciência do dever cumprido”.

O petista vinha sofrendo pressão de colegas — inclusive do próprio partido — para que deixasse o cargo. No entanto, ele chegou a anunciar, na segunda-feira, durante almoço com militantes acampados em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), que não pretendia renunciar. Segundo deputados do PT, ele estava disposto a enfrentar o processo de cassação e a votação em plenário.

Na quinta, João Paulo Cunha chegou a pedir autorização na Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP) para deixar o Complexo Penitenciário da Papuda durante o dia para trabalhar na Câmara, exercendo a função de deputado. Entretanto, o pedido não chegou a ser analisado.

Na noite de ontem, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), divulgou nota em nome da bancada do partido na Casa na qual “manifesta profundo respeito e solidariedade à decisão e reafirma a certeza da inocência do companheiro”. “Reiteramos ainda que João Paulo Cunha terá o nosso apoio em todas as iniciativas que vier a tomar para demonstrar os equívocos, os erros e as omissões que permearam o julgamento no âmbito da Ação Penal 470”, diz a nota.

Condenado a 9 anos e 4 meses de prisão por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva em regime fechado, o agora ex-parlamentar cumprirá, inicialmente, pena de 6 anos e 4 meses no semiaberto, porque ainda espera o julgamento de recurso no Supremo relativo à pena de lavagem, de 3 anos.

João Paulo Cunha é um dos 12 condenados com direito à análise dos embargos infringentes. Caso o recurso seja negado, ele terá que cumprir pena no regime fechado.

Fonte: Correio Braziliense

Previsões para fevereiro pioram, sistema indica cenário de racionamento de energia

Dados apontam necessidade de redução de cerca de 5% do consumo

ONS espera queda significativa no volume de chuva para as regiões Sul, Sudeste e Nordeste

Reuters

SÃO PAULO - O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou a expectativa de aumento de carga de energia no Brasil em fevereiro para uma alta de 15% e o custo de operação do sistema elétrico superou o primeiro patamar de déficit de carga nas regiões Sudeste/Centro Oeste e Sul, numa sinalização de que há necessidade de redução de carga de energia de cerca de 5%.

O aumento de 15% de carga esperada para o Brasil em fevereiro foi divulgado pelo ONS no final da sexta-feira e é mais do que o dobro da estimativa da semana passada, de que a carga subiria 7,1% neste mês na comparação com fevereiro de 2013.

Já o custo marginal de operação médio para a região Sudeste-Centro Oeste e Sul superou o primeiro patamar que indica custo déficit de energia, de R$ 1.364,42 por megawatt-hora (MWh), e necessidade de reduzir até 5% da carga. Para esta semana, esse custo de operação do sistema está em R$ 1.691,39 por megawatt-hora para as regiões Sudeste/Centro Oeste e Sul.

“Na semana de 8 a 14 de fevereiro, a previsão é de que ocorra chuva fraca em pontos isolados das bacias dos rios Uruguai e Jacuí. Nas demais bacias hidrográficas de interesse do SIN (Sistema Interligado Nacional) predomina a estiagem”, informou o ONS no Sumário Executivo do Programa Mensal de Operação para esta semana.

O ONS acrescentou que o Sudeste/Centro-Oeste teve o segundo pior janeiro em regime de chuvas para geração de energia pelas hidrelétricas desde 1931 e que, pela previsão revista, no mês de fevereiro esta posição está mantida. Além disso, o ONS prevê que o Nordeste apresente a menor média mensal de afluência de chuvas para os reservatórios de todos os meses de fevereiro do histórico.

“A revisão das previsões para o mês de fevereiro indicam queda significativa das afluências aos subsistemas Sudeste, Sul e Nordeste”, informou o ONS.

As afluências previstas para o Sistema Interligado Nacional (SIN) reduziram cerca de 7.000 MW médios, assim como a energia armazenada esperada, que sofreu redução adicional de 4.500 MW médios, conforme informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

As previsões para o mês de fevereiro agravam as preocupações em relação ao abastecimento do país já que os reservatórios, principalmente no Sudeste, estão em níveis baixos críticos e continuam a cair. Os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, os principais para o abastecimento do país, estão em queda desde janeiro, época em que deveriam estar enchendo para sustentar o fornecimento de energia durante o período seco.

Esses reservatórios já tiveram uma queda de 4,66 pontos percentuais desde o fim de dezembro e estão hoje em 38,52% de armazenamento. Esse armazenamento ainda é maior que o fechado ao fim de janeiro do ano passado, de 37,46%, mas o ONS prevê que esses reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste terminem fevereiro em condições ainda piores, a 35,6%. No final de fevereiro de 2013, os reservatórios dessa região estavam a 45,48%.

Já no Sul, o nível dos reservatórios está em 51,5%, e se a previsão do ONS para o fim de fevereiro se cumprir, estará em 36,8% ao final do mês. Todas as térmicas do país disponíveis para a operação estão acionadas, conforme indica o custo marginal de operação, que já está superior ao custo de geração da térmica mais cara do país, indicando a necessidade de racionar carga no Sudeste/Centro-Oeste e Sul.

“Todavia, as regiões SE/CO, NE e N encontram-se em pleno período úmido, o que conduz à expectativa de reversão do atual cenário hidrológico. Assim sendo, a operação do SIN será realizada considerando o pleno atendimento aos requisitos de carga”, disse o ONS no Sumário do PMO, documento disponível em seu site.

A necessidade de redução de carga apontada ocorre após o sistema elétrico nacional como um todo e outras regiões separadamente virem batendo consecutivos picos de demanda de carga de energia.Na terça-feira, curto-circuitos em linhas de transmissão que trazem energia do Norte para Sudeste do país ainda resultaram em apagão que atingiu diversos estados e cerca de 6 milhões de consumidores.

Preço da energia sob pressão
O baixo nível dos reservatórios e forte consumo também provocam o aumento do preço de energia de curto prazo (Preço de Liquidação de Diferenças - PLD), que se mantém no topo permitido para o ano, em R$ 822,83 por MWh, para esta semana, nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul.Especialistas do setor elétrico consideram que o PLD deve se manter no patamar máximo no Sudeste/Centro-Oeste ainda por algumas semanas, diante da ausência de chuva nas previsões.

“Fevereiro vai ser muito ruim, sem chuvas nas três primeiras semanas... Vemos PLD máximo nas três primeiras semanas de fevereiro e pode ser que na quarta semana a gente continue com PLD máximo também”, disse Érico Evaristo, presidente da Bolt Comercializadora, ao explicar que mesmo com alguma chuva, pode ser que não haja recuperação suficiente dos reservatórios para a queda de preço. “Mesmo chovendo nas próximas semanas, qualquer que seja a previsão, os reservatórios estão muito baixos. Precisamos que subam um pouco. Não vejo possibilidade de os preços mexerem muito”, disse Walfrido Ávila, presidente da comercializadora Trade Energy.

Os altos custos de energia de curto prazo prejudicam principalmente as distribuidoras de energia, que estão descontratadas em cerca de 3,5 mil MW e têm que arcar com gastos relacionados à exposição no curto prazo em momento de forte geração térmica.

Aos atuais níveis de preço, a expectativa é de que essas empresas tenham um dispêndio de cerca de R$ 1,5 bilhão por mês, o que pode significar R$ 18 bilhões no ano, afetando o caixa das companhias já que o governo federal ainda não definiu o repasse de recursos do Tesouro para ajudar essas companhias via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE)

Fonte: O Globo

O Estado de S. Paulo / Editorial: A oposição parece acordar

Antes tarde do que nunca, a oposição dá sinais de que começa a despertar da profunda letargia em que esteve mergulhada nos últimos anos, desde que o PT assumiu o poder. Exímio manipulador das massas com a sedução de seu populismo despudorado, durante os oito anos de mandato presidencial Lula conquistou índices estratosféricos de aprovação popular e, vendendo a falácia de uma "herança maldita", deu um nó na oposição. Esta não teve competência, nem disposição, para impedir a reeleição de 2006, apesar da eclosão, em 2005, do escândalo do mensalão. Daí para a frente o lulopetismo se firmou no poder. Deu-se ao requinte de impor um poste para sua sucessão. A patranha de que sua candidata era uma gerente competente, somada a seu prestígio, foi bastante para eleger Dilma, mas não para esconder, depois, o fracasso administrativo que é este governo.

O Brasil de hoje não é o mesmo de três anos atrás. Dilma Rousseff não tem nem de longe o carisma de seu antecessor - embora desfrute de grande popularidade - e enfrenta enormes dificuldades para administrar o insaciável apetite do PT pelo poder e a ganância por vantagens de uma base aliada tão ampla quanto infiel. O que existe hoje é um desgoverno escandalosamente alicerçado sobre o fisiologismo, a preocupação eleitoreira com as aparências e, de quebra, um anacrônico dogmatismo ideológico. Aí estão, para comprová-lo, os indicadores econômicos persistentemente insatisfatórios; a incapacidade de cumprir orçamentos e prazos até nos projetos prioritários do PAC; a ameaça de um vexame internacional que tem deixado a Fifa de cabelos em pé com as obras para a Copa do Mundo; e, sobretudo, a crescente insatisfação difusa dos brasileiros com "tudo isso que está aí" transbordando para as ruas desde junho do ano passado.

Isso tudo até a oposição já está conseguindo enxergar.

O teor das declarações feitas nas últimas semanas pelos principais pré-candidatos a enfrentar Dilma Rousseff nas urnas de outubro parece indicar que as lideranças oposicionistas finalmente estão dispostas a deixar seu berço esplêndido e assumir postura mais contundente diante do desgoverno que aí está, deixando de se comportar "quase como se pedissem desculpas ao País por se opor a Lula e ao PT", como observou Dora Kramer em sua coluna (5/2).

Aécio Neves, pré-candidato do PSDB: "Sob o pretexto das festas de fim de ano, a presidente volta à TV para fazer autoelogio e campanha eleitoral (...). Apenas como exemplo, na ilha da fantasia a que a presidente nos levou mais uma vez, a qualidade do ensino tem melhorado e a criação de creches é comemorada. Enquanto isso, no Brasil real, os resultados dos testes internacionais demonstram o contrário". E ainda, já em janeiro: "Em relação aos leilões do Galeão e do Aeroporto Tancredo Neves, em Confins (MG), a grande constatação é de que, quando o PT acompanha a agenda proposta pelo PSDB, o PT acerta. O lamentável é que essas concessões venham com dez anos de atraso".

Ainda em novembro, preenchendo uma lacuna que chamara a atenção já no pleito presidencial de 2002, o senador mineiro havia deixado claro que Lula também está na mira da oposição tucana: "O presidente Lula tem que parar de brigar com a história. Se não houvesse o governo do Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, com a modernização da economia, não teria havido sequer o governo do presidente Lula".

Por sua vez, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, ex-ministro de Lula, pré-candidato do PSB, também foi incisivo ao apresentar o seu programa de governo: "O País saiu dos trilhos (...) esse pacto social novo que está no seio da sociedade brasileira não tolera mais esse velho pacto político que mofou e que não vai dar nada de novo e de bom ao povo brasileiro. Não há nesse país, em nenhum recanto onde possamos andar, ninguém que ache que mais quatro anos do que está aí vai fazer bem ao povo brasileiro". E ainda: "Não há política social que faça efeito sem desenvolvimento. É o que estamos vendo agora: crescimento do analfabetismo, emprego perdendo qualidade, País perdendo competitividade. Vamos legar o quê para as futuras gerações?".

PSB prioriza afinidade com o seu programa

Governador Eduardo Campos pode anunciar na próxima semana o nome do ex-deputado como candidato da base à sucessão. No entanto, há resistências no PSB

Bruna Serra

Deve ser anunciado na próxima semana o nome do ex-deputado federal Maurício Rands como candidato da base governista à sucessão governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que daria aval ao nome. Socialistas da cúpula do PSB afirmam que a próxima semana será definitiva. Isso porque será dedicada às costuras finais para fechar o partido em torno do nome do ex-petista. Socialistas históricos ainda resistem ao nome do ex-parlamentar por considerar que ele é recém-chegado ao ninho.

O perfil de Rands é considerado pelo Palácio do Campo das Princesas estratégico porque alia a habilidade política à imagem de profissional competente capaz de gerir o Estado. Dois dos atributos mais valorizados pelo governador. Mas uma parte do partido ainda não está convencida da escolha e aponta que o nome de Rands foi lançado como alternativa diante das dificuldades da aceitação do secretário de Casa Civil, Tadeu Alencar.

Ainda assim, o fator determinante teria sido a estratégia do PSB em tentar neutralizar os ataques que devem ser desferidos durante a campanha contra seu candidato pelo PT estadual e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu montar acampamento em Pernambuco para derrotar Eduardo Campos no seu colégio eleitoral.

Rands foi líder do governo do Lula na Câmara dos Deputados exatamente no período de maior dificuldade da administração, sob as acusações de compra de apoio político na Câmara Federal, o chamado Mensalão. Foi à tribuna em vários momentos fazer discursos em defesa do ex-presidente e de seu governo.

Rands adotaria o discurso de que não tem apego a cargos, se colocando em sintonia com a fala nacional de Campos, de uma nova política com serviços públicos de maior qualidade e desapego aos cargos. Inclusive, foi esse o tom adotado pelo ex-deputado na entrevista que concedeu ao JC no último domingo.

Depois de ser um dos protagonistas da prévia fratricida do PT em Pernambuco, Rands decidiu sair do PT e renunciar ao mandato de deputado federal. Sendo assim, ele pode dar o próprio exemplo para embasar o discurso do desapego.

Também comandou a principal comissão da Câmara Federal, a de Constituição e Justiça, em 2004. No âmbito estadual foi secretário de Governo de Eduardo em 2011 e antes integrou a equipe do ex-prefeito João Paulo como secretário de Assuntos Jurídicos, em 2001.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Eduardo, Marina e as adesões

Presidenciável e ex-senadora demonstram sintonia, justificando as alianças com quem acate o programa do PSB-Rede

Gabriela López

Com a missão de construir uma aliança forte para sustentar sua candidatura a presidente da República este ano, o governador-presidenciável Eduardo Campos (PSB) colocou como critério para o ingresso de partidos no seu palanque a afinidade com o programa de governo que está sendo elaborado pelo PSB e Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva.

"Quem concordar com o programa será bem-vindo", resumiu o socialista em entrevista ao lado de Marina Silva, no Recife, ontem, quando ela visitou a primeira-dama, Renata Campos, que deu à luz quinto filho do casal, Miguel, há dez dias. A declaração foi a resposta dada ao ser questionado se algumas alianças costuradas por ele - com o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), por exemplo - não colocam em xeque seu discurso de defesa da "nova política".

"A nova política é quando os políticos se unem em torno de uma pauta do povo, como fizemos em Pernambuco. Em 2006, nos unimos com partidos de centro - como este que você citou (o PR) - e fizemos um governo de mudanças, reconhecido por 80% da população, porque fizemos alianças em torno de um programa. Velha política é quando os políticos se reúnem em torno dos seus interesses, só para ser as coisas", argumentou.

Marina Silva passou cerca de duas horas e meia na casa do governador e, em entrevista depois, negou conversas sobre política. "Temos que respeitar este momento do casal", justificou. Ela afirmou que aproveitou a passagem por Pernambuco - onde participou, à noite, de um seminário promovido pela Igreja Anglicana, em Jaboatão dos Guararapes - para visitar a família de Eduardo Campos.

Em um discurso alinhado com o do socialista, Marina Silva sustentou que as costuras serão feitas com base no programa. "Nenhuma aliança está consolidada. Os contatos que estão sendo feitos pelo PSB e o esforço que estamos fazendo são para que tenham (as alianças) uma base de sustentação coerente com o programa. Não vamos fazer nada que se sobreponha ao conteúdo", comentou, ao ser questionada sobre o imbróglio para definir o palanque em São Paulo. Lá, a Rede resiste a apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) - preferência dos socialistas -, defendendo o lançamento de um nome próprio.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

‘Partidos que acatarem diretrizes são bem-vindos’

Provável candidato à Presidência, Campos afirma que não haverá vetos em palanques

Angela Lacerda

RECIFE - Provável candidato à Presidência da República, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou nesta setxa-feira, 7, que não fará veto a alianças por ideologia. Ele afirmou, após encontro com a neoaliada Marina Silva em Recife, que poderá se aliar a qualquer partido que concorde com o programa da dobradinha PSB-Rede. "Aqueles que quiserem se somar a essas diretrizes, a esse conteúdo, serão bem-vindos", disse.

A prévia do plano de governo foi lançada nesta semana em Brasília. O documento traz orientações genéricas sobre grandes temas do País e procura abarcar o discurso de sustentabilidade da ex-ministra do Meio Ambiente.

Na parte política, porém, a parceria PSB-Rede vive um momento de tensão. Os aliados de Marina resistem à aproximação do partido do governador pernambucano em dois Estados: São Paulo, onde o PSB é muito próximo do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e Minas Gerais, terra do também presidenciável Aécio Neves (PSDB) e onde os correligionários de Campos costumam se aliar aos tucanos.

Campos falou à imprensa na porta de sua casa, no bairro de Dois Irmãos, ao lado de Marina, que fez uma visita à primeira-dama do Estado, Renata, e à família depois da chegada do quinto filho do governador, Miguel.

Marina afirmou que "nenhuma aliança está consolidada". "Os contatos que estão sendo feitos são os que vinham sendo feitos pelo PSB e o esforço que estamos fazendo é que este programa tenha uma base de sustentação coerente com este programa", observou. "Este é o esforço do governador, é o esforço da Rede e, como disse o governador, não vamos fazer nada que se sobreponha a este conteúdo, a este processo de inovação na política brasileira".

A Rede de Marina teve o registro rejeitado no ano passado porque não conseguiu o número de assinaturas necessárias para a sua criação. Para poder disputar a eleição, Marina e seu grupo se filiaram ao PSB de Campos.

‘Velha política’. Indagado se a abertura para alianças partidárias não é característica da "velha política", indo de encontro à "nova política" que prega, Campos afirmou que hoje os partidos se unem "em torno dos seus interesses, só para ter as coisas", enquanto suas alianças serão feitas "em torno de uma pauta do povo". "A nova política estamos fazendo", disse o presidenciável.

"Fizemos a primeira união de partidos políticos em torno de um programa e apresentamos as diretrizes deste programa para a sociedade", afirmou. "Fizemos um governo de mudança, reconhecido por 86% da população porque fizemos aliança em torno de programa de mudança efetiva, de respeito à cidadania, com participação da população nas decisões no controle social, que aposta na transparência", afirmou o governador pernambucano.

Ainda segundo Campos, seu candidato a vice será anunciado "quando chegar a hora, no tempo certo". "Sabemos, eu e Marina, dos passos seguintes às diretrizes programáticas que foram lançadas há poucos dias", afirmou. A ex-ministra do Meio Ambiente é cotada para assumir o posto. "Os Estados já começam a discutir as diretrizes do programa para preparar um debate consistente em cada um deles e nós vamos dar o passo seguinte de forma combinada, no tempo certo", disse o governador. No dia 22 de fevereiro haverá o primeiro encontro regional, no Rio Grande do Sul.

Marina fez palestra sobre desenvolvimento sustentável à noite num seminário da Igreja Anglicana, no município metropolitano de Jaboatão dos Guararapes.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos diz que não pedirá atestado ideológico a parceiros

Pré-candidato do PSB fez bate-papo com internautas acompanhado pela aliada Marina Silva

Governador de Pernambuco defendeu unificação das eleições e mandato de cinco anos sem reeleição

Letícia Lins e Maria Lima

BRASÍLIA e RECIFE - Apesar da resistência da Rede Sustentabilidade a algumas alianças que o presidenciável Eduardo Campos (PSB) pretende amarrar para a campanha de 2014, o governador de Pernambuco deixou bem claro que, mesmo defendendo a nova política, não pedirá atestado ideológico a quem quiser aderir a sua candidatura. Campos disse também que, independente do partido, quem concordar com o programa da aliança PSB-Rede será bem recebido.
— Já apresentamos as diretrizes do programa, para a sociedade. Aqueles que quiserem se somar às diretrizes e a esse conteúdo serão bem vindos. O eixo programático será respeitado no plano nacional, como fizemos aqui em Pernambuco.

As colocações foram feitas no final da tarde desta sexta-feira, durante rápida entrevista no portão da residência do socialista, no bairro de Dois Irmãos, zona norte da capital pernambucana. Campos falou ao lado da ex-ministra Ministra Marina Silva (PSB), que fez uma visita de mais três horas para conhecer o caçula da família, que nasceu com síndrome de Down. O conteúdo da conversa com o governador não foi revelado, e Marina classificou a sua presença na casa como “uma visita para Renata”, mulher de Campos. A ex-senadora disse que foi levar carinho à família, curtir o bebê. O governador insistiu na tese de que está praticando a nova política, e que fazer alianças com políticos tradicionais não seria, necessariamente, uma iniciativa conservadora:

— A nova política é, na verdade, quando os políticos se unem em torno de uma pauta do povo. Como nos unimos em 2006 com partidos de centro aqui em Pernambuco e fizemos um governo de mudança que tem 83 por cento de aprovação da população. A velha política é aquela em que os políticos se reúnem em torno dos seus próprios interesses.

Bate-papo no Twitter
Em conversa com internautas nesta sexta-feira, Campos anunciou que é a favor de unificar as eleições no mesmo ano e do mandato de cinco anos sem direito a reeleição. Ele participou de bate-papo pelo Twitter, sob a hashtag “EduardoResponde”. Ao ser questionado sobre as eleições, Campos disse que se a mudança já valesse para 2018, com o campo aberto na próxima eleição, isso poderia facilitar a decisão da aliada de Campos, a ex-senadora Marina Silva, sobre a formalização da chapa PSB/Rede na condição de vice-presidente em 2014.

O bate-papo com os internautas aconteceu na casa do presidenciável em Recife, e foi acompanhado por Marina Silva,que foi visitar a primeira dama de Pernambuco, Renata, e o recém-nascido Miguel. Campos respondeu sobre combate à seca, reforma tributária, como governar com os atuais partidos no Congresso, e anunciou que a prioridade se eleito, será reservar as conquistas das última décadas e melhorar a qualidade da democracia e do serviço público e iniciar um ciclo de desenvolvimento sustentável. Para dar conta desses objetivos, a prioridade número um é a educação.

Sobre a falta de planejamento de longo prazo, citada por um internauta, Eduardo Campos disse que é preciso combater a crise de expectativa com respostas de longo prazo, lembrando que as grandes nações têm mecanismos de planejamento que ultrapassam mandatos.

A primeira pergunta foi “Como combater a sensação de insegurança que o governo do PT trouxe para todo o país?”. Campos respondeu:

“Tenho dito que o país passa por uma crise de credibilidade, que atinge muito a Economia, mas não apenas ela. Preciso recuperar compromissos com investidores e fazer nosso povo voltar a acreditar no Brasil”, afirmou.

O pré-candidato socialista fez um aceno especial para os jovens, formadores da base de apoio de Marina Silva. Questionado sobre a participação da juventude na elaboração do programa de governo PSB/Rede, ele respondeu que terá uma participação fundamental, poque são os jovens brasileiros que enfrentam os grandes problemas de saúde, mobilidade, empregos.

Sobre que experiência de seu governo em Pernambuco ele levaria para o plano nacional, o governador de Pernambuco citou o programa de segurança “pacto pela vida”, premiado pela ONU e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por reduzir a violência por sete anos consecutivos e transformar o Recife na capital mais segura do Nordeste

Com pouco tempo de propaganda na TV e longe de poder disputar com o poderio econômico do PT, Campos está apostando tudo em uma campanha não convencional, criando um canal pessoal de interlocução com o eleitorado na internet e redes sociais.

— Se fossemos pensar em disputar recursos financeiros com o PT, nem lançaríamos candidato. Essa campanha vai ser diferente de todas e o grande peso virar da internet e redes sociais — diz o secretário geral do PSB, Carlos Siqueira.

O ex-aliado de Lula e Dilma também atribuiu ao baixo crescimento e má gestão do atual governo a culpa pelo “pibinho”. Perguntado sobre qual a relação do atual governo com o “pibinho brasileiro" e o que faria se fosse eleito para melhorar a economia, Campos foi direto:

"A relação do governo federal com o pibinho é toda. O fato é que o Brasil vem crescendo menos que no governo Lula, menos que a América Latina e que o Mundo. Se esse baixo crescimento não for revertido, as conquistas sociais serão jogadas fora", disse.

"O que significa ter Marina ao seu lado?", quis saber um internauta. “É uma alegria e ao mesmo tempo a confiança de que juntos poderemos fazer muito pelo Brasil", respondeu.

Ao responder os internautas, Eduardo Campos criticou o programa que é a menina dos olhos da presidente Dilma, o Mais Médicos. Ao invés da importação de médicos de Cuba e outros países, ele defendeu investimentos na formação de médicos aqui dentro.

"O Brasil tem que evoluir de mais médicos para mais saúde. Precisamos criar uma carreira nacional de saúde. Precisamos formar com qualidade novos médicos entre os filhos do interior do Brasil. E estruturar o atendimento de média complexidade para que quem for ao posto de saúde", disse.

Entrevistas ao mesmo tempo
Enquanto dava entrevista na porta de sua residência, em Recife, o governador aparecia simultaneamente respondendo as perguntas de internautas no Twitter. O assessor de imprensa do socialista garantiu que ele já havia respondido a maior parte das perguntas e que deu para sua assessoria digitar, e que após a conversa com os jornalistas, ele próprio assumiu o comando do computador.

No mesmo horário do bate-papo de Campos, a presidente Dilma Rousseff postou vários comentários no Twitter, sobre o leilão das linhas de transmissão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e em solidariedade ao cinegrafista atingido por bomba nas manifestações no Rio, ontem.

Fonte: O Globo

Aécio Neves em S.Carlos : “Brasileiros querem voltar a respeitar seus governantes”

SÃO CARLOS (SP) – Dando continuidade aos encontros com lideranças de todo o país, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, esteve neste sábado (8), em São Carlos (SP), reunido com prefeitos, vereadores e militantes. Aécio salientou a importância da discussão de uma nova agenda para o país acompanhado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), presidente do PSDB de São Paulo, deputado federal Duarte Nogueira, secretário-geral do partido, deputado federal Mendes Thame (SP), prefeito de São Carlos, Paulo Altomani, e líderes regionais.

“Quero falar de coisas boas, de esperança, de confiança. O Brasil e os brasileiros não precisam acostumar-se e acomodar-se à mediocridade. Não existe propaganda oficial, por mais bilionária que seja, que mascare a realidade. E a grande realidade é que esse ciclo de governo do PT vai ser encerrado. Não em benefício do PSDB, mas em benefício dos brasileiros que querem crescer, se desenvolver e voltar a respeitar os seus governantes”, declarou.

Aécio destacou que suas andanças pelo interior do Brasil têm o objetivo de fortalecer na militância tucana o sentimento de que algo diferente pode ser feito no rumo político do país.

“Esse é um evento muito especial, como tem sido alguns outros, porque vejo as pessoas se aproximando de nós não apenas para dar um tapinha nas costas, um cumprimento, um aperto de mão, mas para perceber e sentir se estaremos realmente em condição de enfrentar os enormes desafios que temos pela frente”, disse o senador.

“É exatamente a partir de encontros que fazemos aqui hoje, em São Carlos, que eu cada vez mais consolido a ideia, o sentimento e a convicção de que depende apenas de nós, da nossa coragem, para que possamos dar, dentro de muito pouco tempo, uma resposta definitiva a todos os brasileiros que estão indignados com o despudor, com a irresponsabilidade e incompetência daqueles que vem comandando o Brasil nos últimos anos”, afirmou Aécio.

Reformas interrompidas
Em seu discurso, o senador apontou ainda a necessidade de retomar reformas interrompidas durante os dez anos de gestão petista na presidência da República. Segundo ele, o sentimento de mudança que o país vive não é meramente partidário, mas fruto de elevada consciência cidadã.

“Em um momento de tamanha desmoralização da classe política, de tamanho divórcio da sociedade com seus representantes, nós temos que nos reunir, porque não se trata do desafio de levar um partido à presidência da República. Trata-se de nós termos a convicção clara de que nos levantamos, com coragem, para dizer basta”, considerou o tucano.

“Basta dessa centralização irresponsável de recursos nas mãos da União, que tão mal vem fazendo aos municípios e aos estados brasileiros na saúde, segurança e educação. Basta dessa visão atrasada e preconceituosa em relação ao mundo, que nos fez alinhar com ditaduras mundo afora e retirou o Brasil das grandes cadeias globais de produção”, ressaltou Aécio.

O presidente nacional do PSDB finalizou dizendo que, em um país continental com desigualdades latentes, é preciso dar mais atenção à importância de estados como o de São Paulo.

“Tenho andado pelo Brasil pregando a mudança, pregando aquilo em que acredito. Diferente dos nossos adversários, vamos fazer campanha falando a verdade, com clareza e simplicidade. Nossa grande diferença são os nossos valores”, destacou Aécio.

Entrevista do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, em S. Carlos (SP)

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu neste sábado (8) entrevista coletiva, em S. Carlos (SP), durante visita à cidade. Aécio respondeu a perguntas sobre o novo pacto federativo, a segurança pública e o PSDB. A seguir a entrevista.

Sobre novo Pacto federativo.
Queremos permitir que os municípios voltem a ter condições de enfrentar as suas dificuldades. O Brasil, na era PT, se transformou em um estado unitário. Apenas o governo federal pode fazer as coisas. O que queremos é uma gestão solidária, onde municípios e estados recuperem a sua capacidade de investimentos. O PT assumiu o governo há 11 anos e o governo federal participava com 56% de tudo que se investia em saúde, hoje apenas 45%. Quem paga o restante da conta? Os municípios e os estados. Na segurança pública, 87% de todo investimento feito no Brasil é de estados e municípios. O governo federal, que é quem mais tem, investe apenas 13%. Na base da nossa proposta de refundação da federação está exatamente uma visão mais solidária na saúde, na segurança pública e na educação com os estados e municípios.

Como isso seria feito?
Isso seria feito a partir de reformas no Congresso Nacional. Temas estão sendo discutidos e o governo não permite que eles avancem. Como, por exemplo, o aumento de 1 ou 2 pontos percentuais no Fundo de Participação para estados e municípios, o fim da tributação do PASEP entre entes federados, a renegociação da dívida dos estados. Essa é a agenda federativa que, infelizmente, o governo federal não deixa avançar.

Sobre segurança pública.
Sem dúvida alguma a questão da segurança pública necessita uma ação do governo federal que não vem ocorrendo. A omissão do governo é enorme. Eu diria até irresponsável, já que o governo federal tem a responsabilidade de cuidar das fronteiras, tem a responsabilidade para coibir o tráfico de drogas, tráfico de armas e investe apenas 13% do conjunto do investimento. E o contingenciamento que o governo vem fazendo em recursos de segurança pública tem levado ao agravamento da crise, por exemplo, no sistema prisional. Eu destacaria uma ação na saúde mais solidária com estados e municípios, mais investimentos em segurança pública e mais eficiência também no controle dos gastos em educação como prioridades para um futuro.

A área de segurança será uma preocupação permanente de um futuro governo do PSDB, que passará por reformas tanto do Código Penal, como no Código de Processo Penal, cuja discussão vem sendo liderada no Congresso pelo senador por São Paulo, Aloysio Nunes, como por medidas que impeçam, por exemplo, o contingenciamento de recursos para essa área. Eu próprio tenho uma PEC tramitando no Congresso Nacional que impede que os recursos aprovados no Orçamento para a segurança pública sejam contingenciados. Isso significa que cada governante, cada estado, independente do partido político do governador, sabe quanto vai receber mensalmente. Seja para ampliar o efetivo da polícia, seja para investir em inteligência, seja para investir em equipamentos. O que diria é que temos hoje no Brasil um estado unitário e um governo pouco generoso com a Federação.

Aloysio Nunes: “Encontro é exemplo da força política do partido e de seus aliados”

ARAÇATUBA (SP) – Participando, ao lado do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, do Encontro Regional do Noroeste Paulista, na noite desta sexta-feira (7) em Araçatuba (SP), o senador Aloysio Nunes (SP) destacou que o evento é exemplo da força política do partido e de seus aliados. “Queremos um Brasil desenvolvido, confiante. Um governo honesto”, disse.

Em seu discurso, o tucano destacou que o interior paulista, uma região dinâmica, está sendo sufocado pela política econômica do governo federal.

“Lula até deu sua contribuição. Teve o bom senso de manter os pilares que Fernando Henrique colocou na politica econômica, e adotou programas, na questão da pobreza e da miséria, que deram início à transferência de renda. Mas, depois disso, depois da proeza de maquiar alguém sob as vestes de grande gestora, de mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a atual presidente Dilma, as coisas estão escorregando”, ressaltou.

“Conseguiram a proeza de quebrar a Petrobras. Temos um governo que desmonta a estrutura industrial que levamos quase um século para construir, que não teve ânimo e competência para fazer da educação, inovação e pesquisa um motor de desenvolvimento, e que é controlador não apenas do estado, com a colocação despudorada de cargos políticos, mas também dos movimentos sociais”, criticou.

Afronta ao STF
Aloysio também aproveitou para se opor ao que considerou como uma afronta ao Supremo Tribunal Federal (STF), promovida pelo deputado federal André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara dos Deputados.

“Como congressista, me senti envergonhado com o gesto grosseiro de André Vargas ao brandir o punho cerrado para afrontar o presidente do STF, órgão de cúpula do sistema judiciário de nosso país. Foi a expressão clara de uma cultura política antidemocrática. De um partido que manipula a opinião publica com uma propaganda mentirosa”, completou.

Roberto Freire: Chegou a hora de recolocar o Brasil nos trilhos

Um dia depois de um deputado petista cerrar os punhos em solidariedade aos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal, um novo caminho para o Brasil começou a ser trilhado a partir do lançamento das diretrizes do programa de governo de Eduardo Campos. Ao lado de Marina Silva, o pré-candidato do PSB à Presidência apresentou os eixos centrais de um novo projeto de desenvolvimento, ao qual o PPS se associa. Após 11 anos de governos lulodilmistas, os sinais de que o país “saiu dos trilhos”, como afirmou Campos, são variados.

O rombo nas contas públicas, a gestão temerária que levou à desmoralização da Petrobras, a desindustrialização acelerada, a escalada inflacionária, o loteamento da máquina pública, o desmantelo na área da saúde e o desastre na educação são alguns dos exemplos mais latentes. As jornadas de junho de 2013, quando o povo brasileiro tomou as ruas pelo fim da corrupção e por transporte, saúde e educação de qualidade, foram o estopim de uma insatisfação generalizada. Enquanto a propaganda oficial cria um mundo de fantasia, o Brasil real convive com graves problemas cotidianos que parecem não repercutir nos gabinetes do Planalto.

A agenda apresentada por Campos trata, entre outros pontos, de desburocratização do Estado, reforma política, recuperação da indústria, investimentos em tecnologia, fortalecimento do Sistema Único de Saúde, educação de qualidade, reforma urbana e aperfeiçoamento dos órgãos de segurança. A essas diretrizes, serão incorporadas as propostas apresentadas pelo PPS, em conjunto com toda a sociedade, que participará ativamente da construção do programa de governo.

O alinhamento das forças democráticas de esquerda representa um reencontro histórico entre os socialistas e o PPS, herdeiro do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desde a origem do PSB, com a redemocratização pós-Estado Novo, a aliança com os comunistas se inscreveu em páginas marcantes da vida política brasileira. Em Pernambuco, um dos estados mais avançados do país na luta democrática daquele período, essa união levou ao surgimento da Frente do Recife, movimento que elegeu Pelópidas da Silveira prefeito da capital, em 1955, e Miguel Arraes governador do estado, em 1962.

Após o golpe de 1964, os dois partidos se integraram às trincheiras do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em oposição à ditadura militar. Essa parceria também se fez presente na eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, na Constituinte, no impeachment de Fernando Collor e na participação no governo de Itamar Franco. Em 2002, apoiamos a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial, mas o PPS se sentiu fraudado e rompeu com o governo em 2004. Recentemente, o PSB deixou a gestão de Dilma Rousseff e optou por construir um novo caminho para o país.

Não é cerrando punhos em defesa da corrupção, o que enxovalha um digno gestual das esquerdas em todo o mundo, muito menos aviltando as instituições ou loteando cargos em nome de interesses eleitorais, que o Brasil sairá do atoleiro em que se encontra. Um novo país só emergirá coma retomada do crescimento, o respeito ao meio ambiente e o resgate da ética como valor fundamental na vida pública. Ao lado de Eduardo Campos e Marina Silva, o PPS trabalha para que a nação volte aos trilhos do desenvolvimento econômico, social e político.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Merval Pereira: Caixa 2 em xeque

O financiamento de campanhas eleitorais voltará à ordem do dia quando o Supremo Tribunal Federal (STF) retomar, nos próximos meses, o julgamento, que já conta com 5 votos favoráveis, da proibição de financiamentos por empresas privadas de campanhas eleitorais.

O tema está em evidência nos últimos dias com a prisão na Itália do ex-tesoureiro do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, e devido à notícia de que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, recomendou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) cumpra uma pena de 22 anos de prisão e pague multa R$ 404 mil por crimes continuados de peculato e lavagem de dinheiro.

No mensalão petista, os condenados alegavam que o dinheiro desviado servira para pagar despesas de campanhas eleitorais passadas, mas o Supremo aceitou a tese da Procuradoria-Geral da República de que o que acontecera mesmo foi uma tentativa de compra de apoio político no Congresso.

Já no caso do PSDB mineiro, a alegação oficial é a mesma: o dinheiro desviado na eleição de 1998 serviu para financiar campanhas eleitorais naquele ano. Mesmo que as evidências mostrem que de fato no caso mineiro houve a utilização de Caixa 2 eleitoral, o procurador-geral Rodrigo Janot pede a condenação de Azeredo e outros por terem usado “a máquina administrativa em seu favor de forma criminosa e causando um desequilíbrio econômico financeiro entre os demais concorrentes ao cargo de Governador de Minas Gerais em 1998".

De qualquer forma, no julgamento do mensalão o STF fixou uma premissa que impossibilita a alegação de simples crime eleitoral: não há Caixa 2 quando se trata de dinheiro público. Nesses casos, o que existe mesmo é peculato, desvio de dinheiro público, que merece todo o repúdio da sociedade. No caso petista, o desvio foi da verba do Banco do Brasil no Visanet, propiciado pela ação do então diretor de marketing Henrique Pizzolato. No caso mineiro, o dinheiro desviado foi das companhias estatais Copasa (R$ 1,5 milhão), Comig (R$ 1,5 milhão) e do antigo Banco Estadual do Estado, Bemge (R$ 500 mil).

O ex-procurador Antonio Fernando de Souza, o mesmo que denunciou o esquema do mensalão petista, diz na acusação original que o esquema mineiro foi o embrião para o mensalão do PT e envolve o já condenado publicitário Marcos Valério.

O relator do processo no Supremo é o ministro Luis Roberto Barroso, que coincidentemente foi o mais destacado defensor do fim do financiamento por empresas privadas de campanhas eleitorais, tema polêmico que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

A base para a representação do Conselho Federal da OAB que resultou na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que está sendo julgada pelo Supremo foi dada por professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde Barroso leciona, como Daniel Sarmento, Professor Adjunto de Direito Constitucional, Procurador Regional da República, e Aline Osório, mestranda em Direito Público e uma das advogadas da Clínica de Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da UERJ que, na qualidade de amicus curiae, sustenta a procedência da ADI 4.650.

Os dois escreveram um trabalho sobre o tema onde defendem a tese de que “a alteração do arcabouço normativo vigente é um importante passo no sentido de reduzir os efeitos decorrentes da promiscuidade entre o dinheiro e a política e de tornar o sistema de financiamento de campanhas mais igualitário, democrático e republicano”.

Alegam a favor da medida que ela produzirá efeitos positivos sobre o controle financeiro das campanhas, embora seja utópico imaginar que dará fim ao caixa 2 eleitoral. No entanto, garantem que não terá o efeito contrário, como alegam seus adversários, de estimular o financiamento ilegal de campanhas eleitorais. “Ao impor o barateamento das mesmas, as restrições adicionais às doações darão maior visibilidade aos gastos eleitorais que forem desproporcionais às receitas declaradas, facilitando a fiscalização e a punição dos que se valerem do “caixa 2”.

Mas como impor o barateamento das campanhas sem alterar o sistema eleitoral? (Amanhã, a reforma política)

Fonte: O Globo

Fernando Rodrigues: A pior semana

A semana que acaba hoje já é, de longe, a pior deste ano para Dilma Rousseff. As desventuras em série da presidente foram várias.

Um apagão deixou sem luz seis milhões de pessoas. Uma médica cubana desertou do programa Mais Médicos. O PMDB espetou (pela centésima vez) a faca na barriga da presidente para arrancar mais cargos e benefícios. Mensaleiros continuaram a ser presos, seja na penitenciária da Papuda ou na Itália.

De quebra, continuam a acontecer manifestações violentas em algumas cidades. O transporte público urbano é um gargalo incontornável no nos próximos meses ou anos. Este verão tem sido um inferno para quem vive nas grandes metrópoles.

Muito do que há de ruim no país não é culpa da presidente da República. Aliás, as coisas poderiam estar piores se o Brasil não tivesse experimentado a sequência FHC-Lula-Dilma no Planalto. Mas não importa. A sensação geral de incômodo é uma realidade --e isso explica grande parte das pessoas desejarem mudança na forma de governar, como bem detectou o Datafolha.

O momento é especialmente delicado para o governo porque há fatores imponderáveis à frente. Os problemas infraestruturais são graves e insolúveis no curto prazo. Ninguém sabe se haverá novos apagões. Nesse ambiente, o principal nó é o político.

Os partidos aliados a Dilma sabem que esta é a hora de esfolar a presidente. O prazo termina em junho --quando se fecham todas as alianças para a eleição de outubro. A partir de julho, quem está dentro não sai; quem está fora, não entra.

A correlação de forças de cerca de dez partidos políticos no condomínio governista se define nos próximos cinco meses. A hora de formatar o fatiamento do poder é agora. A fórmula valerá até 2018 no caso de vitória dilmista. É por essa razão que tudo será muito tenso, pelo menos, até o final de junho. E outras semanas piores podem vir por aí.

Fonte: Folha Online

Luiz Carlos Azedo: Tribunal nas redes sociais

A defesa do justiçamento na internet só não é mais nefasta do que os próprios crimes cometidos no Rio de Janeiro e divulgados na última semana. No país dos Felicianos, arrotam-se direitos e defende-se justiça com as próprias mãos, com a desculpa de que o Estado não ampara os "justos"

Você pode ser de direita, de esquerda, de centro, de lado, defender ou criticar rituais tântricos. Você pode ser contra ou a favor da ingestão de bebidas alcoólicas, sexo antes do casamento ou mesmo desaprovar o vestibular seriado e aprovar o Bolsa Família. Você tem todo o direito de se posicionar sobre aborto, maconha, redução da maioridade penal, Mais Médicos ou qualquer tema mais controverso e partidário. O que você não deve fazer é apoiar um crime. Ou pelo menos não deveria aplaudir o absurdo. O justiçamento é crime, um desrespeito ao Estado, uma afronta à lei dos homens. Refiro-me aqui aos homens honestos e não aos covardes, capazes de amarrar um adolescente de 15 anos, nu, num poste do Flamengo, o bairro carioca, ou de executar, na Baixada Fluminense, um homem acusado formalmente de roubar um telefone celular. Os fatos, divulgados num intervalo de uma semana, mostram como o tribunal das redes sociais só não é mais nefasto do que os próprios crimes ocorridos no Rio de Janeiro.

As imagens dos dois absurdos invadiram a internet e ganharam proporções, principalmente, no primeiro caso, a partir de comentários desmedidos disparados por uma apresentadora de televisão. No último dia de janeiro, um grupo de 15 fascistas prendeu o rapaz acusado de furto e, antes de amarrá-lo pelo pescoço com um cadeado de bicicleta, espancou o suspeito. Foi encontrado e fotografado nu. O outro crime, divulgado pelo jornal Extra, mostra um homem vigiado por outros dois antes de levar um tiro na testa disparado por um motoqueiro, em Belford Roxo, no Rio. Impossível imaginar quantos casos como esses ocorrem no Brasil todos os dias. Com as imagens, a polêmica se estabeleceu, mesmo que da forma mais rasteira, com argumentos toscos por parte dos defensores do justiciamento. O tal tribunal.

No país dos Felicianos, arrotam-se direitos e defende-se justiça com as próprias mãos, com a desculpa de que o Estado não ampara os “justos”. E assim seguimos mal, tateando uma falsa liberdade de opiniões, como se tudo pudesse ser dito. Os gênios idiotizados que acreditam ser maior do que as leis, constroem os tribunais nas redes sociais como se tudo valesse. Não vale. A possibilidade de injustiças sem mediadores é maior. Um princípio fundamental da Justiça estabelece que ninguém — é bom que se repita, ninguém — pode ser condenado sem direito à defesa. Os nossos justiceiros devem ser comparados a ditadores, que desrespeitam as leis. Apoiar ou aplaudir tais homens é defender criminosos. Não, mesmo com toda a violência do país, a atitude de vingadores não é compreensível. Muito mais corajoso seria cobrar segurança dos governantes. Os defensores dos justiceiros estão do lado dos covardes.

Apropriação de um gesto
Outra coisa. A imagem do punho cerrado não pode ser atribuído a apenas um movimento, seja de esquerda, seja de direita. O gesto serviu tanto a negros norte-americanos dos Panteras Negras como a brancos europeus do White Power, por mais que a imagem definitiva da saudação tenha sido feita por Tommie Smith e John Carlos, medalhas de ouro e bronze nos 200m nas Olimpíadas da Cidade do México, em 1968. Com eles, sabia-se o que se estava defendendo: direitos civis. A questão é por que petistas continuam a levantar o braço e fechar a mão a cada episódio envolvendo o mensalão, mesmo com o incômodo da equipe de campanha da presidente Dilma Rousseff?

A resposta imediata é que esses petistas são animadores de torcida. E que o tal incômodo do Planalto é um tanto falso. Cada gesto dos mensaleiros serve para sacudir as bases de petistas espalhados pelo país — grupo formado por militantes profissionais com cargos no governo ou simpatizantes. Assim, por mais que o Planalto possa temer a contaminação das imagens de mensaleiros na campanha de Dilma, o risco é calculado, afinal a militância gosta. Depois de José Genoino, José Dirceu, João Paulo Cunha e André Vargas, só falta agora Henrique Pizzolato levantar a mão e cerrar os punhos. Ficaria ótimo na foto.

Fonte: Correio Braziliense

Rolf Kuntz: Em 2014, muito risco e pouca escolha para Dilma

Inflação oficial em queda foi a novidade boa, mas nem tanto, da primeira semana de fevereiro, marcada por mais um apagão, pelo miserável balanço da produção industrial em 2013 e pela notícia de um déficit comercial recorde em janeiro. A boa nova foi divulgada na sexta-feira. Ficou em 0,55%, no mês passado, a alta do IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, referência para a política de metas de inflação. Em dezembro o aumento havia chegado a 0,92% e a alta acumulada no ano, a 5,91%. Para janeiro as consultorias e instituições do mercado financeiro haviam projetado uma variação de 0,76%. O resultado efetivo foi bem melhor e o resultado de 12 meses caiu para 5,59%, ainda muito longe da meta, 4,5%, mas bem menos feio que o alcançado em dezembro.

Mas o governo deveria ser moderado na comemoração. Ainda há um longo caminho até se alcançar uma taxa mensal compatível com a meta de inflação anual. Nem para 2015 os técnicos do Banco Central (BC) projetam esse resultado. Além disso, o contágio inflacionário foi maior em janeiro que no mês anterior. O índice de difusão passou de 69,3% em dezembro para 72,1% no mês passado, segundo cálculo da Votorantim Corretora, divulgado logo depois de conhecidos os dados gerais do IPCA. Em resumo, quase três quartos dos itens cobertos pela pesquisa ficaram mais caros. Obviamente, os aumentos e repasses ocorrem com muita facilidade e isso torna mais complicado o combate à inflação.

A presidente Dilma Rousseff inicia seu quarto ano de governo com uma assustadora coleção de desafios - indústria emperrada, baixo nível de investimento público e privado, contas externas em deterioração, contas públicas novamente em perigo e intensa vigilância das agências de classificação de risco. A agenda é extensa e complicada e, para evitar um desastre maior, o governo terá de levar em conta, em todas as suas decisões, a persistente alta de preços.

Precisará resolver, em primeiro lugar, se o Executivo participará do combate à inflação ou se apenas continuará tentando maquiar os indicadores e deixando o trabalho sério para o BC. Não pode haver dúvida, neste momento, quanto a um novo aumento de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 25 e 26. Mas a presidente e sua equipe cometerão dois erros se escolherem o caminho mais cômodo e mais compatível, à primeira vista, com as conveniências eleitorais.

Para continuar maquiando os indicadores de inflação o governo terá de aumentar o subsídio ao consumo de eletricidade e a ajuda às empresas do setor. O custo fiscal dessa política poderá subir de R$ 9,7 bilhões em 2013 para algo entre R$ 16 bilhões e R$ 18 bilhões neste ano. As contas públicas serão prejudicadas, o espaço de manobra orçamentária será menor, as pressões inflacionárias persistirão e os consumidores de energia elétrica receberão um sinal errado.

Nenhum investidor ou financiador estrangeiro será enganado pela repetição de manobras desse tipo. A confiança na política econômica, já reduzida, continuará diminuindo. Se a piora da imagem externa comprometer o ingresso de capitais, uma das saídas será ajustar a política de juros para atenuar também esse problema.

No ano passado o investimento estrangeiro direto, US$ 64,04 bilhões, foi insuficiente para cobrir o déficit externo em transações correntes, US$ 81,37 bilhões. Para este ano o BC projeta um déficit de US$ 78 bilhões e investimento direto de US$ 63 bilhões. O superávit comercial, US$ 2,56 bilhões nos cálculos oficiais de 2013, deve subir para US$ 10 bilhões, segundo a mesma projeção.

Um superávit comercial de US$ 10 bilhões já ficará muito abaixo das necessidades brasileiras, por causa do enorme déficit nas contas de serviços e de rendas, mas até esse resultado medíocre parece duvidoso, neste momento. O déficit comercial de janeiro, US$ 4,06 bilhões, foi recorde, mas muito parecido com o de um ano antes, US$ 4,04 bilhões. Os saldos mensais poderão ser menos ruins no resto do ano, mas nada permite prever resultado final muito melhor que o de 2013. O pequeno superávit oficial do ano passado foi garantido pelo agronegócio (saldo de US$ 82,91 bilhões) e pelas exportações fictícias de plataformas de petróleo, no valor de US$ 7,74 bilhões. Nada justifica, neste momento, uma aposta num desempenho muito melhor da indústria no comércio exterior.

Com crescimento de 0,4% em 2011, redução de 2,5% em 2012 e nova expansão, de 1,2%, em 2013, a produção industrial do ano passado foi pouco inferior à de 2010, o último ano da gestão do presidente Luiz Inácio da Silva, quando o setor já estava enfraquecido.

A indústria, principalmente a de transformação, continuou perdendo vigor nos primeiros três anos da presidente Dilma Rousseff e a ceder espaço a concorrentes estrangeiros, tanto no exterior quanto no mercado interno. O crescimento de 13,3% da produção de bens de capital, no ano passado, festejado pelo governo como sinal de recuperação do investimento, foi insuficiente para neutralizar a queda do ano anterior e levar o resultado de volta ao nível de 2011.

No ano passado, a depreciação do real, embora tenha barateado os produtos brasileiros em dólares, foi insuficiente para impulsionar as exportações de manufaturados. Nesta altura, qual seria a taxa de câmbio necessária para compensar as ineficiências brasileiras e tornar a indústria mais competitiva? É inútil discutir esse ponto, até porque o BC tentará, em 2014 como em 2013, atenuar os efeitos inflacionários da depreciação cambial.

Uma política séria estaria voltada há muito tempo para o aumento da produtividade. No discurso, essa é uma prioridade oficial. Os fatos têm mostrado o contrário. A atenção à infraestrutura é recente e a colheita de resultados vai demorar. E isso é apenas, é bom lembrar, uma parte do enorme problema da competitividade.

Rolf Kuntz é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Demétrio Magnoli:Flores no jardim

Temos o hábito de desconfiar da palavra dos políticos, especialmente na estação das eleições. O ceticismo é sempre saudável, mas não convém descartar programas de campanha sem uma leitura atenta. As flácidas 70 páginas das diretrizes programáticas da aliança PSB-Rede, anunciadas por Eduardo Campos e Marina Silva, têm um pouco de tudo --e, na hora decisiva, talvez sejam quimicamente reduzidas ao papo furado convencional. No meio daquele jardim monótono, porém, destacam-se três ou quatro flores incomuns: os sinais de uma ruptura potencial com a velha ordem política abrigada no casulo do lulopetismo.

O compromisso com uma reforma do Estado consubstancia-se nas metas de "consolidar uma burocracia pública meritocrática" e "diminuir a quantidade de cargos de livre provimento". A persistência do patrimonialismo, atualizado na "era Lula", expressa-se antes de tudo na captura da máquina da administração pública pela elite política. Os partidos brasileiros não existem para oferecer propostas doutrinárias à sociedade: são ferramentas destinadas a organizar a pilhagem de um tesouro, formado por cargos em ministérios, autarquias e empresas estatais.

"Presidencialismo de coalizão" é o eufemismo cunhado por acadêmicos cínicos para nomear um sistema político hostil ao interesse público, endemicamente corrupto, que se reproduz parasitando as pessoas comuns. Nas jornadas de junho, a sociedade rebelou-se precisamente contra isso, provocando pânico visível entre gregos e troianos. Campos e Marina dialogam com as ruas quando fazem da reforma do Estado a condição prévia de uma reforma política substantiva. Se tiverem a coragem de enfrentar a velha ordem, rompendo com as máfias encapsuladas em todos os partidos, adicionarão números radicais à equação do emagrecimento dos cargos de indicação política.

A proposta de "repactuar o federalismo brasileiro" adquire densidade no diagnóstico crítico da concentração de receitas na União e no compromisso com uma reforma tributária destinada a "assegurar maior autonomia aos Estados e municípios". A cíclica peregrinação de governadores e prefeitos ao Planalto, num vergonhoso ritual de mendicância, denuncia a natureza farsesca da Federação e esvazia o sentido das escolhas políticas dos eleitores.

O poder discricionário quase absoluto do governo central sobre tributos arrecadados em todo o país funciona como instrumento de chantagem e cooptação. No fundo, encerradas as eleições, configura-se algo como o Partido do Planalto: uma santa aliança dos governantes, em todos os níveis, disfarçada por hipócritas menções à cooperação administrativa suprapartidária. A ex-ministra Gleisi Hoffmann, braço direito de Dilma Rousseff, acusou Eduardo Campos de nada menos que "ingratidão". Essa flor do Lácio da velha ordem, esplendor e sepultura de costumes políticos anacrônicos, invocou supostos deveres de lealdade do governador de Pernambuco, derivados do "apoio financeiro que a União deu àquele Estado". Nas suas palavras deploráveis, dignas de uma monarquia, encontra-se a melhor justificativa para a reorganização do pacto federativo.

Campos e Marina já não são mais dissidentes do bloco de poder lulopetista. A constatação de que "a sociedade brasileira não tolera mais este velho pacto político que mofou" transfere-os para o campo da oposição. A crítica ao "receituário minimalista" do "choque de gestão", empregada por um PSDB carente de vitalidade nas últimas eleições presidenciais, e os ensaios na direção das reformas do Estado e da Federação são indícios de que a aliança PSB-Rede pode evoluir, surpreendentemente, para a contestação dos pilares da velha ordem.

Papo de campanha? Conversa mole de candidato minoritário em busca de um lugar ao sol? É possível. Mas convém prestar atenção nessas flores coloridas que nasceram em terra árida.

Fonte: Folha Online

Cacá Diegues: Uma homenagem merecida

A geração de Coutinho, à qual eu também pertenço, fez sua cabeça nos anos 1960, quando o mundo viveu revoluções

Para os que creem, Deus é o que não sabemos, o que não conhecemos, o que não podemos controlar. Atribuímos o mistério a Deus para evitar a depressão da impotência. Para os que não creem, é só trocar Deus pelo destino.

Quando conseguimos explicar os fenômenos diante de nossos olhos, o conhecimento religioso e as superstições se tornam mito, derrubando a autoridade dele e delas. Durante séculos, o Sol girou em torno da Terra, para não abalar o poder da Igreja.

Segundo a Gênese, o primeiro delito cometido por um ser humano foi o do conhecimento. Contrariando as ordens do Senhor, Adão e Eva colheram o fruto da árvore do bem e do mal, conquistaram a razão que os diferenciaria do resto da criação.

O segundo delito foi um assassinato em família — com ciúme de Abel, Caim assassinou o irmão. O “familicídio” continuaria povoando a mitologia de nossas origens, desde que Abrãao se dispôs a sacrificar seu filho para servir a Deus. Ou quando Édipo matou Laio, seu pai.

Em nome da razão que conquistamos para desgosto de Deus, não conseguimos aceitar o inesperado, o que consideramos antinatural, aquilo que os gregos chamaram de tragédia. Preferimos não tentar entendê-la, não tentar decifrar sua natureza. Aceitamo-la assustados e inertes, como uma fatalidade que não podemos evitar, nem nos interessa saber de onde veio ou para onde vai.

Desde domingo passado, muita coisa se escreveu sobre o cineasta Eduardo Coutinho, mas quase nada sobre a tragédia de que ele foi vitima. Os elogios a ele e seu trabalho são mais do que justos. Coutinho não foi somente o maior documentarista da história do cinema brasileiro, como também um dos cineastas mais importantes no cinema contemporâneo em todo o mundo.

Seus filmes eram uma tentativa permanente de conhecer e entender o ser humano, sobretudo aqueles a nosso lado, os mais desimportantes. Coutinho sabia que a humanidade era uma só, que as nossas diferenças não nos separavam. Era tudo natural e ele observava isso com curiosa naturalidade.

A geração de Coutinho, à qual eu também pertenço, fez sua cabeça nos anos 1960, quando o mundo viveu revoluções de comportamento, gestos de rompimento com o passado de injustiças, preconceitos e regras inúteis. A negação das instituições estabelecidas nos levou aos direitos civis, à liberdade sexual, à cultura pop, à consagração do relativismo, à afirmação dos negros, à liberação das mulheres, ao orgulho gay, à informação instantânea, ao valor da psicanálise como reconstrução do indivíduo, a sexo, drogas e rock’n’roll.

Os anos 1960 acolheram as aspirações de uma juventude que queria mudar o mundo de um modo diferente do proposto até ali. Segundo Contardo Calligaris, a contracultura foi “a única revolução do século 20 que deu certo e, ao dar certo, melhorou a vida concreta de muitos, se não de todos”.

Uma dessas mudanças estava na antipsiquiatria inaugurada pelo italiano Franco Basaglia e pelo inglês Ronald Laing. Para esses cientistas, o que era considerado tradicionalmente como loucura eram apenas formas originais e às vezes mais radicais de as mentes humanas se manifestarem. O “louco” convencional passou a ser uma espécie de arauto de novidades sobre o homem, que o “normal” não conseguia exprimir.

Nos anos 1970, Michel Foucault, um de nossos ídolos do relativismo, publicava livro cujo título era a primeira frase do depoimento feito na Justiça francesa, em 1835, por um preso por assassinato: “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão.” Pierre Rivière, jovem camponês, assassinara a golpes de foice sua mãe grávida de sete meses, sua irmã de 18 anos e seu irmão de 7 anos. O que o teria motivado a cometer um ato de tamanha brutalidade? Foucault tentava explicá-lo de modo inteligente e sofisticado, opondo o trabalho jurídico ao psiquiátrico. Mas a mãe e os irmãos de Pierre Rivière estavam definitivamente mortos.

Esses crimes de “familicídio” se repetem ao longo da história da humanidade. Agora que a população do planeta se multiplica em ritmo geométrico, tudo o que acontece com ela também se multiplica, inclusive a tragédia. E a informação nos chega mais rapidamente, pela informação instantânea através do mundo inteiro, aumentando a importância do número de crimes.

A vida acaba sem que você saiba de onde veio o golpe, mas uma obra como a de Eduardo Coutinho ficará para sempre. No curso da história, seus filmes estarão sempre na lembrança de todos, enquanto sua morte mal será lembrada como uma trágica anedota que não altera o que ele fez. Mas... e se Daniel pudesse ter sido internado, afastado, de algum modo mais humano que a barbárie do hospício, do convívio com aqueles que poderia destruir?

É preciso fazer um documentário sobre Coutinho, é a maior homenagem que se pode prestar a ele.

Não um doc inocente, mas um filme que faça perguntas que desvendem a vida, como ele sabia fazer.

Não basta o clássico depoimento de amigos que o amavam e o admiravam tanto, como todos nós. É preciso ouvir os personagens e os entrevistados semelhantes aos de seus filmes, seus vizinhos, seu filho promotor, a viúva ferida e sobretudo Daniel.

Fonte: O Globo