sexta-feira, 5 de junho de 2020

Opinião do dia – O Globo (Editorial)

Constituição não dá brecha para golpe de estado

A Carta foi redigida sob o princípio da subordinação do poder militar ao civil

O flerte do bolsonarismo com um regime militar aparece de várias formas, nenhuma dissimulada. Vai de declarações ameaçadoras de filhos, como a de Eduardo Bolsonaro sobre o “momento de ruptura” — que, segundo ele, ocorrerá, faltando apenas saber “quando” —, a manifestações periódicas, pequenas e barulhentas, pró-golpe, recepcionadas calorosamente pelo presidente Bolsonaro ao pé da rampa do Planalto.

O departamento de agitação e propaganda golpista desses grupos julga ter um suposto lastro legal para uma intervenção militar por meio de uma interpretação enviesada do artigo 142 da Constituição. Este estabelece que as Forças Armadas estão “sob a autoridade suprema do Presidente da República (...) e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Numa leitura interessada deste trecho, Bolsonaro teria base legal para convocar as Forças Armadas nestas circunstâncias. E poderia avançar mais, abrangendo casos de “invasão de poderes”. Por exemplo, se o Planalto entender que o Supremo avança sobre seus espaços institucionais, algo nada preciso, mas que poderia desatar crises graves contra os interesses do país.

Seria um contrassenso se a Constituição de 1988, feita para sacramentar o retorno do poder civil e das garantias democráticas depois da ditadura militar, deixasse espaço para os militares se arvorarem como Poder Moderador, função que já foi exercida pelo imperador. Admita-se que o fato de os militares terem dado o golpe que em 1889 derrubou a Monarquia e instaurou a República possa ter cultivado neles uma cultura de tutela sobre a nação. Mas o tempo passou.

Esta discussão jurídico-política tem sido travada por juristas e em boa hora mereceu uma apreciação formal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em um parecer que não deixa dúvidas. Fica evidente que assunto de tamanha importância como a relação entre os poderes e, em particular, o campo de ação das Forças Armadas, ainda mais em um país latino-americano, não pode ser abordado com base em uma frase da Carta ou parte dela.

É básico entender que a Constituição é um todo, não pode ser consultada com lupa, em busca de fragmentos de texto que atendam ao interesse do leitor. Como fazem sectários religiosos em livros sagrados. Também não se deve deixar de lado que a atual Constituição “estabeleceu um modelo institucional de subordinação do poder militar ao civil”, frisa a OAB. E o artigo 142, assim como todos os demais, está subordinado a este princípio.

Outro equívoco é achar que o presidente pode convocar as Forças Armadas para intervir no Legislativo e/ou no Judiciário. Não pode, porque iria contra o artigo 2º da Carta, sobre a separação dos poderes. Foi construído um sistemas de freios e contrapesos, como nas democracias modernas, pelo qual os impasses são resolvidos no Judiciário, e dúvidas constitucionais, no Supremo. A ideia do “golpe constitucional” é uma contradição em termos.

Merval Pereira - Nas ruas

- O Globo

Partidários dos movimentos contra o governo acham que não é o momento de protestos nas ruas, por causa do coronavírus

Em tempos de pandemia, a pulsão individual tem que ser controlada pela realidade, o que é difícil de acontecer. Nos deparamos, então, com situações excêntricas que definem quem está ao lado de quem.

Partidos políticos de oposição pedindo para o povo não ir às ruas protestar contra o governo de Bolsonaro? O próprio presidente incentivando manifestações populares, quebrando o distanciamento social e abraçando seus seguidores?

Partidários dos movimentos da sociedade contra o governo acham que não é o momento de fazer protestos nas ruas, por causa do coronavírus. E, ainda por cima, há o perigo de pessoas se infiltrarem para fazer baderna e dar razão a Bolsonaro.

Mesmo assim, várias manifestações estão programadas para o próximo domingo, e deve haver confronto, apesar de o presidente Bolsonaro ter pedido aos seus seguidores para não se manifestarem no mesmo dia que os opositores. Tentou parecer magnânimo: “Deixem as ruas para eles”.

Está sendo apenas realista, já viu que as ruas não são suas, como chegaram a comemorar seus seguidores em frente ao Palácio do Planalto numa daquelas domingueiras a cada dia mais esvaziadas.

Eliane Cantanhêde - Desigualdade de armas

- O Estado de S.Paulo

Resistir e unir é preciso, mas sem criar pretextos e ambiente favorável a golpistas

A ida às ruas de torcidas organizadas e de grupos pela democracia no Rio, São Paulo e Curitiba serviu como aperitivo. E não foi aprovada. A intenção é boa, o temor com a audácia dos atos golpistas existe e resistir à escalada contra as instituições é preciso. Mas há que se considerar a questão da oportunidade e da forma: quem, como, quando, onde e por que, tal como no jornalismo.

Há que se investigar a possibilidade de infiltrados, de “black blocs”, no movimento pela democracia para promover vandalismos e confrontos com as polícias. Se você dá um espirro hoje, tem sempre uma câmera ou um celular por perto, mas não há um só registro do momento em que o ato pacífico descambou na Avenida Paulista. Com pedrada de manifestante? Ou com bombas de efeito moral da polícia? A única imagem de infiltração é daquela bolsonarista com um taco de beisebol (beisebol?!)...

Assim, a união de corintianos e palmeirenses pela democracia, que merece aplausos, produziu comparações incômodas com atos bolsonaristas. De um lado, as torcidas com gente parruda e agressiva, vestida de preto e em ritmo de guerra. Do outro, famílias até com crianças usando os símbolos e cores nacionais (da maioria...), como se estivessem passeando.

Fernando Abrucio* - Ir às ruas como em 1984 e não como em 2013

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Políticos e pré-candidatos de partidos e tendências diversos devem estar juntos em prol da democracia, pois, do contrário, não terão o que debater e com quem disputar a Presidência da República em 2022

As mobilizações de massa de 2013 fazem aniversário neste mês. De um modo ou de outro, elas mudaram a política brasileira. A origem estava na reivindicação de redução das tarifas de ônibus, mas o que veio depois foi uma miscelânea de reclamações: contra a corrupção, a má qualidade dos serviços públicos, a Copa do Mundo (e nem sabiam do 7 a1!) e, sobretudo, os governos, os partidos e os políticos.

É difícil dizer quais foram os resultados relacionados diretamente a essas manifestações, pois muita coisa aconteceu no meio do caminho. Não obstante, seu sentido despolitizador ajudou a criar um caldo de cultura autoritário que permitiu a ascensão de Bolsonaro ao poder.

A chegada de junho promete trazer novas manifestações sociais, agora mais voltadas à defesa da democracia. Não é mais uma crítica à política em geral, como em 2013. Ao contrário, trata-se de uma luta pela preservação da política democrática definidora dos rumos do país. O alvo é mais específico: as ideias do bolsonarismo, identificadas com uma visão autoritária ou até fascista.

Embora tenha um sentido de oposição contra o atual presidente, não se orienta exclusivamente por seu impeachment, como ocorreu em 1992 com os “cara-pintadas”. Poder viver e respirar sob o regime democrático, em todos os seus significados, é o lema que está juntando todos os que estão querendo ir para as ruas.

Cláudio Gonçalves Couto* - Um governo militar

- Valor Econômico

O grande número de militares no governo, em ministérios ou noutros cargos, compromete as Forças Armadas com seu destino

Já se tornou praticamente um lugar comum chamar a atenção para a imensa presença militar no governo de Jair Bolsonaro. São cerca de três mil militares alocados nos mais diversos cargos da administração federal, seja em nível ministerial, seja no alto e médio escalões, como mostrou um recente levantamento feito pelo site “Poder 360’. Isso representou um aumento de 43% em relação ao que havia em 2018, com cerca de 1,6 mil cedidos pelo Exército, quase 700 pela Marinha e mais de 600 pela Aeronáutica.
Esses números não incluem reservistas, como é o caso, por exemplo, do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Se forem contabilizados os reservistas, bem como os oriundos das Polícias Militares estaduais, os números são ainda maiores.

Se em governos anteriores muito se falou em “aparelhamento” partidário da máquina governamental, sem, porém, que os números demonstrassem algo de efetivamente diferente do usual - como o demonstraram os estudos a respeito feitos pelo cientista político Sérgio Praça - agora há realmente uma novidade. Postos de livre nomeação, normalmente ocupados por civis, pois se constituem em atividades de natureza civil, são distribuídos para militares, com suas correspondentes bonificações remuneratórias. Ou seja, ao convocar para postos civis gente fardada, o governo Bolsonaro lhes assegura ganhos econômicos imediatos e palpáveis.

Guilherme Amado - Esquerda e direita democráticas têm de acordar

- Revista Época

Bolsonaro não vai sair nem abrandar o modo autoritário como governa enquanto Lula não estiver ao lado de Janainas, Renans ou Amoêdos

Quem conheceu a trajetória de Jair Bolsonaro até o Planalto sabia que chegaria o momento em que, uma vez eleito, ele deixaria de lado o falso respeito que, candidato, parecia ter adquirido pelas instituições e voltaria a flertar com uma ruptura institucional, como fazia sem constrangimento na Câmara dos Deputados. A dúvida era somente quando. Bolsonaro despreza a democracia, como mostrou em sua vida pública e agora comprova no exercício da Presidência. Perto de completar um ano e meio no terceiro andar do Planalto, o presidente felizmente não tem força para realizar o que parece ser seu plano: governar sozinho, sem instituições que lhe apontem os erros ou lhe criem obstáculos, mas isso não o impede de, domingo após domingo, seguir tentando. 

Por isso, Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF), imprensa, sociedade civil e diferentes segmentos organizados, como advogados, médicos, artistas, atletas, professores e operários, entre dezenas de outros, vêm fazendo a contraposição à escalada autoritária do presidente, impondo-lhe os freios próprios da democracia. Em abril, a conduta de Bolsonaro contra a pandemia fez a oposição ser ampliada, reunindo governadores de direita. Na última semana, um novo passo foi dado, com movimentos suprapartidários reunindo um espectro ainda mais diverso de opositores. Parecia ganhar corpo a sonhada frente ampla, de pessoas que podem ter discordâncias políticas, mas convergem sobre a democracia. Eis que Lula, em uma reunião virtual do PT, disse não topar estar ao lado de quem apoiou o impeachment de Dilma Rousseff ou defendeu a reforma trabalhista. À direita, a rechaça ao suprapartidarismo foi acompanhada por Janaina Paschoal, deputada estadual em São Paulo e ex-aliada de Bolsonaro; Renan Santos, coordenador nacional do MBL; João Amoêdo, presidente do Novo; e outros. Os três, a exemplo de Lula, dizem querer a saída do presidente, mas também não topam estar ao lado de quem diverge deles em outros temas. Dizem desconfiar do real interesse por trás desses manifestos.

Monica De Bolle - Vida ou morte

- Revista Época

Apesar dos riscos que manifestações pró-democracia em meio à pandemia podem implicar, calar-se neste momento é dar respaldo às atrocidades que levam vidas impiedosamente e com descaso

Perguntado sobre os mais de 30 mil mortos por Covid-19 no Brasil, o presidente da República respondeu, na lata, sem dó: "A morte é o destino de todos". A morte é o destino de todos. Destino de George Floyd nos Estados Unidos, nas mãos de um policial. Destino do menino João Pedro, de 14 anos, baleado enquanto obedecia a quarentena dentro de sua casa. Assassinado por policiais. A morte é o destino de todos. Destino de pessoas de idades diversas, vítimas da doença a que o presidente se recusa a dar a devida relevância. Pois bem. A morte é, de fato, o destino de todos, ou de muitos que não perderiam sua vida tão cedo em razão do desprezo pela vida que demonstra o líder do país. Manifestação? Sim, manifestação.

As manifestações no meio de uma epidemia evidentemente aumentam o risco de contágio. As pessoas precisam se proteger, sair de máscara, procurar manter distanciamento para reduzir o risco de contaminação. Mas condenar as manifestações pró-democracia por causa da epidemia?

É bom lembrar que a manifestação pró-democracia é contra o presidente da República, que não apenas repudia a democracia, mas faz troça da epidemia e da perda de vidas, todas as vidas — em especial, a vida dos mais pobres e dos negros, os mais atingidos até agora. Portanto, manifestar-se pró-democracia é posicionar-se a favor da luta contra a epidemia.

Manifestar-se pró-democracia é uma questão de vida ou morte, tal qual a própria epidemia.

Ricardo Noblat - Se vidas importam, morte de Miguel, 5 anos, não pode ficar por isso mesmo

- Blog do Noblat | Veja

A história da primeira-dama que preferiu cuidar das unhas a cuidar do filho da empregada

E se tivesse ocorrido o contrário? E se fosse Mirtes Renata de Souza, empregada doméstica, moradora de um bairro pobre do Recife, quem tivesse ficado no apartamento a cuidar do filho de 5 anos da patroa que saíra para passear com o cachorro da família?
E se diante da reação do menino que queria ir ao encontro da mãe e correra para o elevador, Mirtes, primeiro, tentasse retirá-lo dali. Desistisse de fazê-lo depois da segunda tentativa. Então apertasse o botão de um andar superior e voltasse ao apartamento.

A porta se fecha. O elevador sobe do quinto para o nono andar. Sozinho, o menino desembarca em uma área de serviço do prédio onde há uma sacada. Debruça-se na sacada na tentativa de avistar a mãe. Então despenca de uma altura de 35 metros e morre.

Foi Mirtes quem saiu para passear com o cachorro da família de Sérgio Hacker Corte Real (PSB), prefeito do município de Tamandaré. Sari, a primeira-dama, ficou no apartamento a fazer as unhas com uma manicure e a cuidar de Miguel, filho de Mirtes.

Dora Kramer - Contrato de risco

- Revista Veja

PT perdeu-se no caminho da aliança por onde envereda Bolsonaro

Há centrão e centrões. A denominação do conjunto de partidos com os quais o presidente Jair Bolsonaro faz parceria nem sempre foi só pejorativa, assim como nem todos os políticos que participam dele fazem da política um negócio no mau sentido.

O grupo surgiu na Constituinte de 1987/1988 e, se de um lado fez da oração de São Francisco (“é dando que se recebe”) o seu pior, de outro conseguiu mitigar propostas inviáveis num país capitalista. Nos anos seguintes, prevaleceu a má fama em decorrência do destaque assumido pela, digamos, banda podre.

Foi ela quem contribuiu de modo acentuado para a derrocada do PT a partir da concepção do ex-presidente Lula de que seria mais fácil comprar parlamentares do que negociar com o Congresso. É com ela que o presidente Bolsonaro imagina agora segurar processos de impeachment.

Bernardo Mello Franco - Seu Creysson virou caso de polícia

- O Globo

Depois de perseguir professores, o ministro Weintraub conseguiu criar atritos diplomáticos com China e Israel. Agora seus insultos se transformaram em caso de polícia

Era previsível. Após a eleição de Jair Bolsonaro, parte da máquina federal estava condenada a se transformar num picadeiro. Mas nem os circos de interior aceitariam Abraham Weintraub em seu elenco.

O ministro da Educação nunca escondeu a que veio. É um provocador profissional, disposto a prejudicar milhões de estudantes para fazer guerrilha ideológica. Desde que tomou posse, ele usa o cargo para ofender e fabricar polêmicas. No pouco tempo que sobra, dedica-se a torturar a língua portuguesa.

Flávia Oliveira - Faça a coisa certa

- O Globo

Aqui, a juventude negra desvia do extermínio por uma polícia ainda mais violenta

Foi num raro fim de semana de poucos compromissos na temporada de isolamento social imposto pela Covid-19 que devorei “Hollywood” (Netflix). Nenhuma ironia. Faz três meses, dias úteis, feriados, sábados e domingos têm sido intensos de trabalho, debates, encontros virtuais tornados urgentes pela virulência de uma crise sanitária agravada pela gestão pública esculhambada, indiferente, desrespeitosa que emana do Planalto. Abriguei-me na série para desviar da realidade crua, quase insuportável no Brasil de 2020.

“Hollywood” é assentada no escapismo do cinema pós-guerra, da iluminação ao figurino, da direção de arte à trilha sonora. Mas da atmosfera de sonho e romance típica das produções dos anos 1950, emergem também a hipocrisia e a opressão que a indústria audiovisual combate até hoje. Cheguei ao fim comovida com a trama e algo indignada com o que o mundo poderia ter se tornado, mas amarelou.

É sobre coragem a série, sobre fazer a coisa certa, com referência direta, absoluta, intencional ao filme de 1989 que consagrou Spike Lee — e ainda hoje, quando a juventude dos EUA marcha em protesto pelo assassinato de George Floyd, um homem negro, asfixiado pelo policial Derek Chauvin. O racismo faz da pele negra ameaça, mas quem usou o próprio corpo como arma mortal foi o homem branco.

José de Souza Martins* - Um outro olhar sobre a abolição

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

A atual atitude em relação à Lei Áurea resultou de um equívoco de interpretação, por não se ter levado em conta a diversidade histórica do escravismo brasileiro

O Brasil já não celebra o 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, de 1888. Em nome de uma data “mais autêntica”, a da lei assinada pela Princesa Isabel foi substituída pelo aniversário da morte de Zumbi (20 de novembro de 1695). Foi ele, simbolicamente, o grande líder revoltoso da Serra da Barriga, no Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Quilombolas que resistiram por quase um século ao assédio escravista.

Quando pressões de motivação racial, religiosa, ideológica ou de outro tipo definem o rol de celebrações históricas, na verdade são elas instrumentos de manipulação do imaginário da sociedade inteira. São meios de usurpar e instrumentalizar a história contra o que é próprio da história, a pluralidade e a contradição.

A minimização da Lei Áurea decorre de uma carência ideológica tardia, de hoje, a de reconhecer no negro o protagonista da libertação de seus antepassados da escravidão.

Está em jogo, aí, o questionamento da pluralidade social e racial do que foi e tem sido a resistência à própria escravidão do negro e da luta mais ampla pela liberdade no país. Pardos e brancos também quiseram o fim da escravidão, como os monges de São Bento, que libertaram todos os seus escravos, em suas fazendas e mosteiros, em 1871.

Devaneio financeiro - Editorial | Folha de S. Paulo

Em meio a crises, real e ações têm surto de alta com base em premissas frágeis

Não é novidade que mercados financeiros mostrem tendências destoantes da chamada economia real, por vezes em momentos dramáticos de crise. Ainda assim, surpreende a aguda valorização recente do real e da Bolsa de Valores, dadas a recessão profunda e a grave instabilidade política do país.

A mudança foi súbita. Neste ano, até meados de maio, a cotação do dólar chegou a acumular alta de 46% e teve recorde nominal de R$ 5,88. Desde então, o movimento se inverteu, e a moeda americana fechou nesta quinta (4) a R$ 5,13. Juros locais recuaram, e a Bovespa subiu 10% em duas semanas.

Mais do que alguma melhora da avaliação das perspectivas do Brasil, são fatores externos que parecem exercer influência primordial no fenômeno. Ao longo de maio teve início a reabertura gradual da economia na Europa e nos Estados Unidos, que mostram sinais consistentes de contenção da pandemia.

Depois do colapso do segundo trimestre, espera-se nessas regiões rápida recuperação da atividade na segunda metade do ano, com ajuda dos gigantescos estímulos monetários e fiscais adotados pelos principais países.

Bruno Boghossian – Escolhas minúsculas

- Folha de S. Paulo

Ao tirar R$ 83,9 mi do Bolsa Família, equipe de Bolsonaro revela suas prioridades

Em tempos de aperto, o governo foi procurar alguns trocados no cofre para melhorar a própria imagem. Numa portaria publicada nesta quinta (4), o Ministério da Economia tirou R$ 83,9 milhões do orçamento do Bolsa Família e repassou o dinheiro para bancar um aumento de gastos da Presidência com ações de publicidade institucional.

O valor representa uma fração minúscula das despesas totais do programa social, mas reflete com nitidez as prioridades e as escolhas políticas da equipe de Jair Bolsonaro.

A pasta de Paulo Guedes tentou justificar a tesourada. Afirmou que 95% das famílias atendidas passaram a receber o auxílio emergencial criado na pandemia do coronavírus. "Nenhum beneficiário do Bolsa Família foi prejudicado no recebimento de seu benefício", acrescentou.

Hélio Schwartsman - Vírus tendem a ser inflexíveis

- Folha de S. Paulo

Quarentena meia-boca não basta para reduzir substancialmente a circulação do Sars-CoV-2

Não é que os planos de reabertura econômica dos governadores sejam irracionais. Eles se baseiam nos parâmetros cientificamente relevantes, como a evolução do contágio e a ocupação dos leitos hospitalares, e, mais importante, preveem a possibilidade de volta do isolamento social, caso os números piorem.

Receio, porém, que eles tenham deixado de levar em conta aspectos menos racionais do comportamento humano.

Num mundo ideal, em nome da previsibilidade, as discussões sobre como sair da quarentena precederiam a própria quarentena. Só que não vivemos num mundo ideal, mas sim em um no qual a simples menção a uma abertura futura faz com que muitas pessoas passem a comportar-se como se já tivéssemos voltado à normalidade, sabotando os esforços de distanciamento social.

Reinaldo Azevedo - Para atravessar a Terra dos Mortos

- Folha de S. Paulo

Para superar esse momento, basta que o parceiro de trajetória defenda a democracia

Nestor Forster, que responde pela embaixada do Brasil em Washington, expressa em telegrama reservado a leitura que faz o Brasil da crise deflagrada nos EUA com o assassinato de George Floyd. O texto, revelado nesta Folha pela sempre competente Patrícia Campos Mello, é uma espécie de boletim do hospício em que nos transformamos. A análise pouco ou nada diz sobre aquele país, mas entrará para a história como um dos emblemas do desastre que vivemos por aqui.

Pesquisas indicam que a maioria dos americanos considera que Donald Trump se comporta mal na resposta à onda de protestos. O republicano George W. Bush e o democrata Barack Obama se solidarizam com o movimento contra o racismo. James Mattis, ex-secretário de Defesa de Trump, diz: "É o primeiro presidente em toda a minha vida que não tenta unir o povo americano nem finge tentar. Em vez disso, ele tenta nos dividir".

Esqueçam. Essas personalidades nada sabem sobre o próprio país. Há alguém que vê um Trump irrepreensível na crise: Forster! Sua análise pode não credenciá-lo como observador competente dos fatos, mas faz dele um exemplar prosélito de uma causa. A mídia, segundo o diplomata, acusaria um inexistente racismo sistêmico naquele país, em associação com a "cultura da queixa", promovida pelo Partido Democrata. Ele presta solidariedade a Trump, que enfrentaria uma "obsessiva campanha de mídia contra o chefe do Executivo".

Ruy Castro* - Dobradinha Bolsolula

- Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro se aliar a Lula, seus seguidores continuarão com ele

Jair Bolsonaro se elegeu prometendo acabar com a corrupção, mas, a cada minuto, trabalha na sombra para impedir que ela seja investigada. E, mesmo assim, seus seguidores continuam com ele. Bolsonaro se faz de vestal para seu público, embora já tenha entrado para o governo cercado de laranjas, bandidos digitais e simples matadores e sua própria família seja um ninho de ratos. Mas seus seguidores continuam com ele. Bolsonaro se valeu da aura de santidade de Sergio Moro para se eleger e tratou-o a bofetadas no ministério, até que Moro se cansou, foi embora e o denunciou. Mas, entre ele e Moro, seus seguidores continuaram com ele.

Bolsonaro vive repetindo o bordão bíblico de que “a verdade vos libertará”, mas ninguém mente mais do que ele. Não há dia em que não desdiga o que disse na véspera, não transfira para os adversários as suas próprias lambanças e não ejacule ameaças que sabe que não poderá cumprir. E não há dia em que não seja desmentido. Mas seus seguidores continuam com ele.

Manchando o Brasil e o agronegócio – Editorial | O Estado de S. Paulo

O governo Bolsonaro marcou mais um gol contra o País. O protecionismo europeu teve o ponto contado a seu favor

Especialista em manchar a imagem do Brasil, o governo Bolsonaro acaba de marcar mais um gol contra o País. O protecionismo europeu, especialmente forte no setor agrícola, teve o ponto contado a seu favor. O Parlamento holandês aprovou moção contra o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Assinado há quase um ano, depois de negociado por duas décadas, o pacto só valerá depois de ratificado por todos os países participantes. Se o protecionismo prevalecer, também Argentina, Paraguai e Uruguai, sócios do bloco sul-americano, pagarão pela política antiambiental do governo brasileiro.

O Parlamento austríaco já havia votado contra o acordo. Se nada mudar, o governo da Áustria terá de se opor à ratificação. O governo holandês ainda está livre para votar a favor, mas o acúmulo de pressões contrárias, em toda a Europa, é inegável. A questão ambiental é parte dos desentendimentos entre os presidentes francês e brasileiro. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, evitou, até agora, comprometer-se com a aprovação final do acordo.

Direitos humanos e ecologia são invocados, na Europa, contra a ratificação do pacto com o Mercosul. Focadas no Brasil, as críticas mencionam a devastação da Amazônia, a destruição de reservas do Cerrado e riscos para os indígenas. Membros de entidades comunitárias se alinham entre os críticos. Um deles é o vice-presidente da Comissão de Agricultura e de Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu, o eurodeputado português Francisco Guerreiro, do partido Pessoas, Animais, Natureza.

Celso Ming - A pandemia e o aumento da desigualdade

- O Estado de S.Paulo

A parcela mais pobre da população é a mais afetada pela pandemia, e isso desencadeia consequências para todos

A pandemia produz uma sensação de sufoco. Mas sufoca incomparavelmente mais a parcela da população mais pobre. E isso desencadeia graves consequências para todos, também para os ricos e para as classes médias.

Essa pode ser uma das razões por que nas principais cidades dos Estados Unidos e em outras metrópoles do mundo tanta gente venha se manifestando em protesto contra a violência cometida por um policial do Estado de Minneapolis que tirou a vida de mais um negro, George Floyd. Também, como ele disse pouco antes de morrer (“não consigo respirar”), ficou muito mais difícil e mais inseguro buscar oxigênio para o sustento da família.

A renda vai desabando em todos os países. A expectativa dos analistas é de que, neste segundo trimestre, o PIB da primeira economia do mundo, os Estados Unidos, caia cerca de 30% em termos anuais. Também por lá, o desemprego pode saltar para acima dos 25% da força de trabalho, o recorde negativo obtido ao longo da Grande Depressão.

Os mais atingidos nos Estados Unidos, relata-nos o economista Mohamed A. El-Erian na revista Foreign Affairs de 2 de junho, são os trabalhadores informais e as mulheres, principalmente as integrantes das minorias étnicas (negras e hispânicas).

Elena Landau* - O Joelho Juvenal

- O Estado de S. Paulo

'Escalavrada' é o adjetivo que define a democracia que vivemos no País hoje

A escatológica reunião ministerial já foi dissecada por muita gente, mas, mesmo assim, volto a ela. Não se pode banalizar a gravidade do que foi dito ali. Não é um novo normal. É anormal e perigoso. O que se viu foi um coro, quase unânime, em defesa de um golpe institucional. Ainda bem que veio a público.

Além do conteúdo, a forma de expressão das ideias foi chocante. Nem nas arquibancadas do Maracanã, que sempre frequentei, eu vi algo parecido. A ministra Damares, tão preocupada com obras do diabo, não enxergou o capeta sentado bem à sua frente.

Muita coisa foi escancarada nesse encontro. Ficou patente a urgência da aprovação da autonomia do Banco Central. A presença do presidente do BC, tanto no ato de desagravo a Moro, como nessa reunião, na qual fez coro com os descontentes com a mídia, é inaceitável. A independência que Roberto Campos Neto tem demonstrado na condução da política monetária pode ser questionada pela sua participação na vida política. Não é bom.

O show dos liberais de pau oco não passou despercebido. Guedes revelou o que pensa de empresas estatais e privatização. Se não puder servir a meus propósitos políticos, tem de vender essa droga logo, disse ele sobre Banco do Brasil. Se não me serve, vende. Nenhum liberal advoga em favor da desestatização em causa própria. Deve ser por isso que não se viu nenhuma reação sua à entrega do Banco do Nordeste ao Centrão. Foi, enfim, privatizado por Valdemar da Costa Neto.

Ignácio de Loyola Brandão - Chega, presidente. Abra o jogo

- O Estado de S. Paulo

O senhor vem procurando corroer nossos espíritos, buscando nos destruir

Desperto a cada dia pensando: o que ele vai dizer hoje para nos afligir? Quando digo desperto, deveria dizer despertamos, porque somos, no mínimo, dois terços da população brasileira sofrendo do mesmo mal: a espera da palavra presidencial no puxadinho do ódio frente ao Alvorada. Esse é um pensamento que oprime. A cada dia, são vergastadas vindas de um iletrado, ofensas a todos e à língua portuguesa, recorrências ao palavrão, ao mesmo tempo que em nossas mentes aumenta a angústia da espera: quando ele virá? Ele. Todos sabem o quê? Ele promete, sonha, gostaria que se concretizasse.

Está próximo o dia em que ele vai cumprir a palavra? O filho anunciou, agora é a ruptura. Vai intervir em tudo e em todos em nome da democracia? A democracia dele tem outra etimologia. Aqui, o demo é de demônio. Sartre disse: o inferno são os outros. Estava errado. O inferno é o Brasil hoje com esse presidente.

Decidi. Chega. Chega, presidente.

Não aguento mais. Não aguentamos mais. O senhor vem procurando corroer nossos espíritos, tentando nos aniquilar moralmente, buscando nos destruir, minando nossas forças. Resisto. Não sou apenas eu, não estou sozinho. Somos milhões.

Presidente, decida logo! Tire o paletó e nos encontre ali na porta, anunciando: é agora. Pegue seus filhos e coloque-os à frente das forças armadas.

Junte os milicianos a que estão ligados. Acrescente seus empresários aliados e coloque-os no ministério da Economia. Arrebanhe seus seguidores na redes sociais e deixe-os no comando do combate à pandemia. Chame o Aras e coloque-o logo no Supremo. Peça ao 02 que apanhe logo um cabo e um soldado e feche o que ele acha que tem de fechar. Jogo limpo. Às claras. Mas não nos deixe nessa agonia, nessa ansiedade que corrói, aguilhoa. Estão esgotados na farmácias os estoques de ansiolíticos. Os laboratórios não dão conta de produzir às toneladas. Terapeutas, psiquiatras, psicanalistas, psicoterapeutas estão exaustos. O senhor, cientista, nos diga que medicamento vai curar esta esquizofrenia pior do que o vírus da covid-19.

Míriam Leitão - Economia e o meio ambiente

- O Globo

Mercados fechados, investidores retraídos e perda de patrimônio, esse é resultado da política ambiental do governo Bolsonaro

O meio ambiente e a economia andam tão juntos que hoje deveria ser também o dia da economia. A reconstrução que se viverá pós-pandemia seria mais eficiente, mais pujante, mais atualizada se o objetivo fosse o de fazer a transição para uma outra forma de se produzir com baixa emissão. Nos últimos dias, para mostrar como os dois temas estão juntos, o parlamento holandês decidiu rejeitar o acordo União Europeia-Mercosul e um grupo de deputados americanos mandou uma carta para o USTR, escritório comercial da Casa Branca, avisando que não é possível sequer começar a negociar um acordo comercial com o Brasil porque a imagem do país, no governo Bolsonaro, está ligada à destruição ambiental e ao desmonte das leis de proteção.

Ricardo Salles faz um papel totalmente avesso ao que deveria fazer como ministro do Meio Ambiente. Foi nomeado como se fosse um cavalo de troia. Sua função é desmontar por dentro o Ministério e ele tem se aplicado em executá-la. Nunca tinha ido à Amazônia quando virou ministro e hoje, um ano e seis meses depois de nomeado, sua maior preocupação é com o seu carro blindado. Ontem, teve que dar marcha à ré e revogar o despacho com o qual ele pretendeu revogar a Lei da Mata Atlântica.

Ele sabia que sua canetada era tão grosseira que acabaria perdendo na ação civil pública que estava na Justiça impetrada pela SOS Mata Atlântica, Associação dos Procuradores do Meio Ambiente e pelo MPF. Por isso, revogou o despacho no qual orientava o Ibama a não seguir a Lei da Mata Atlântica e aplicar no bioma as regras do Código Florestal. A Lei é mais protetiva que o Código, entre outras razões porque esse é um bioma muito ameaçado e o ordenamento foi resultado de duas décadas de negociação no Congresso. Com uma canetada ele tentou desmontar esse arcabouço legal. Exatamente como contou na reunião ministerial que era a oportunidade do momento. Argumenta, em sua defesa, que sempre foi a favor da “desburocratização”. Ora, isso não é desburocratizar, é infringir a lei. Disse que irá agora ao STF para saber se o que vale é o Código ou a Lei. A SOS Mata Atlântica avisou ontem que irá até o Supremo também para defender a integridade da Lei.

Dólar dá trégua após a primeira onda da pandemia – Editorial | Valor Econômico

Recuo do dólar melhora as condições para novo corte da Selic

A primeira onda do coronavírus está prestes a passar, a economia na maior parte dos países parece ter batido no fundo do poço em abril e empreende agora uma lenta e cautelosa retomada, que começa a aparecer nas estatísticas, com desempenhos menos horríveis do que foram. O auge do pânico com a pandemia coincidiu com a preferência pela liquidez de bancos e empresas - uma corrida ao dólar, um porto seguro - e por injeções recordes de recursos pelos principais bancos centrais do mundo. Com o início da recuperação, ainda que sujeita a sobressaltos, o dólar começa a se desvalorizar, após dois anos de apreciação ininterrupta. O movimento favorece o real, a moeda que mais perdeu valor no ano.

Todos os BCs, inclusive o brasileiro, agiram com muito mais vigor para sustentar a economia e o sistema financeiro do que o fizeram durante a crise de 2008, nascida no sistema bancário americano. A pandemia atacou a produção e o consumo impiedosamente e o escopo das ações das autoridades monetárias foi muito mais amplo que então. Em termos de suprir liquidez e amparar empresas e cidadãos, foram injetados mais que o dobro de recursos do que em 2008.

No auge da crise financeira, o balanço dos BCs dos EUA, Europa, Japão e China atingiu US$ 9 trilhões - US$ 4,5 trilhões apenas o do Fed americano. Agora, segundo a Yardeni Research, eles chegaram a US$ 24 trilhões. Mais do que em 2008, o Fed correu para garantir swaps de moeda com os principais BCs do mundo, o que garantiu a oferta de dólares a investidores com dívidas e posições nesta moeda nas principais praças financeiras.

Claudia Safatle - Governo discute termos para renegociar dívidas

- Valor Econômico

Desoneração da folha está em debate desde a campanha

O governo começa a avaliar a situação econômica e financeira das empresas que resistiram, até agora, ao tsunami da covid-19 e prepara alguns parâmetros para uma grande renegociação de dívidas.

Acumulam-se dívidas contraídas e impostos prorrogados com os compromissos correntes. O governo tem ciência de que muitos vão ter que jogar com prazos mais longos para fazer esses acertos. Na parte dos tributos que foram protelados, os parâmetros da renegociação deverão constar da proposta de reforma tributária.

Houve, de março para cá, a suspensão do pagamento do FGTS por três meses; foram adiadas as contribuição de empresas para o PIS/Pasep e COFINS e, também, foram prorrogados os prazos para o pagamento do Simples Nacional; dentre outros.

As medidas destinadas a estimular a oferta de crédito para as médias, pequenas e micro empresas por força da pandemia se esgotaram.

Agora a tarefa é fazer com que elas cheguem ao tomador final. Para isso, a opção foi revigorar a linha de crédito para o pagamento da folha de salários. construir garantias para as operações e procurar persuadir os bancos privados a entrar no financiamento para esse universo de companhias.

Armando Castelar Pinheiro* A pandemia, a economia e o Judiciário

- Valor Econômico

Quanto da conta será paga aumentando a carga tributária e quanto cortando gastos públicos?

Nas últimas semanas, o Brasil virou o segundo país com mais casos de covid-19 e o quarto com mais mortes. É desolador. Felizmente, o vírus agora se propaga a taxas decrescentes. O número de mortes, indicador mais preciso, cresceu 3,5% ao dia na última semana, contra 4,7% ao dia uma semana antes. Mantido esse ritmo, fecharemos junho com um quadro parecido ao atual nos EUA.

A pandemia trouxe enormes perdas na economia. Mundo afora, os contribuintes estão assumindo grande parte dessas perdas, via transferências de renda, financiamentos e garantias dadas pelo setor público etc. Porém, em que pese o tamanho desse apoio estatal, sem precedente histórico, parte significativa da perda terá de ser absorvida por empresários, trabalhadores e consumidores.

No primeiro trimestre de 2020, o PIB já encolheu 1,5%. Os analistas de mercado projetam que no segundo trimestre o PIB caia 13,9%, com altas de 9,9% e 3,5% no terceiro e quarto trimestres. No ano, prevê-se que PIB contraia 6,25%, com recuperação apenas parcial em 2021, quando subiria 3,5%.

A crise afetará alguns setores mais do que outros. Empresas de mineração, agropecuária, telecomunicações, supermercados e farmácias, por exemplo, serão menos afetadas. Por outro lado, o impacto será grande em turismo, entretenimento, transporte de passageiros, comércio varejista (ex-supermercados e farmácias), assim como seus fornecedores, de fabricantes industriais a proprietários de imóveis comerciais e concessionárias de aeroportos.

Os setores mais afetados são mais intensivos em mão de obra. Isso aponta para uma forte retração do emprego este ano. Em abril, o número de pessoas ocupadas já foi 3,4% menor do que um ano antes.

Música | Gilberto Gil - Respeita Januário, Xote das meninas, Eu só quero um xodó

Poesia | Manuel Bandeira - Resposta a Vinicius

Poeta sou; pai, pouco; irmão, mais.
Lúcido, sim; eleito, não;
E bem triste de tantos ais
Que me enchem a imaginação.
Com que sonho? Não sei bem não.
Talvez com me bastar, feliz
– Ah, feliz como jamais fui! –
Arrancando do coração
– Arrancando pela raiz –
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.