sábado, 8 de novembro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

Mais importante que tudo isso é saudar o novo país que surgiu das urnas. E esse é o fato mais marcante, extraordinário e maravilho dessas eleições que a história haverá de registrar: nós assistimos ao despertar de um novo país. Um país sem medo. Um país crítico. Um país mobilizado. Um país com voz e convicções.

Um país que não aceita mais o discurso e a propaganda que tenta sempre justificar o injustificável. Que tenta esconder a realidade.

O Brasil que saiu das urnas é um novo Brasil, onde os brasileiros descobriram que podem eles próprios serem protagonistas do seu próprio destino.

Por todas as regiões, milhares de pessoas ocuparam as ruas de forma espontânea. Não apenas para apoiar um nome, mas uma causa. Os brasileiros, senhor presidente e senhores senadores, perderam o constrangimento de dizer aquilo que não concordam, que não aceitam, que não pactuam. E eles não pactuam mais com a corrupção, com o desmando e com tanta ineficiência.

Ocuparam as ruas para mostrar que sabem o que está acontecendo com o Brasil e que não vão permanecer mais em silêncio.

Nessa campanha eleitoral, milhões de brasileiros, e a história registrará isso de forma muito clara, tomaram posse do seu próprio país. Os exemplos estão por todos os cantos.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB, trecho do pronunciamento no Senado Federal, 5 de novembro de 2014.

PF apura pagamentos a ‘operador do PMDB’ na Lava Jato

• Investigação acha planilha com a contabilidade de suposta propina no computador do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa

Ricardo Brandt e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Nos computadores aprendidos com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, delator da Operação Lava Jato, a Polícia Federal encontrou dois arquivos com registros de valores supostamente destinados a Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na estatal.

O computador do ex-diretor foi apreendido na empresa Costa Global, no Rio de Janeiro, aberta por Costa em 2012 após ele deixar a Petrobrás. A empresa de consultoria era usada para intermediações de negócios e recebimento das propinas, segundo investigação da Lava Jato.
Costa e o doleiro Alberto Youssef afirmaram em delação premiada que Fernando Baiano era o operador do esquema comandado pelo PMDB na Diretoria Internacional da Petrobrás. Um inquérito específico sobre o operador do PMDB foi aberto pela PF na semana passada.

Na pasta “Planilha Valores2” do computador de Costa estão anotadas “entradas” e “saídas” no período de 30 de novembro de 2012 a 3 de junho de 2013. Numa delas há o registro “entrada” seguida da sigla “FB” e quatro valores totalizando R$ 2,1 milhões com as respectivas datas entre julho e setembro.

No mesmo item do arquivo, abaixo das iniciais “FB”, segue: “PRC” e um valor de R$ 300 mil. Na análise dos arquivos os agentes da polícia afirmam que as iniciais “FB” e “PRC” são “letras conhecidas na Operação Lava Jato e foram usadas pelos investigados para se referir a Fernando Soares (Fernando Baiano) e Paulo Roberto Costa”.

Em outra pasta do computador, intitulada “Planilha Valores4”, há o registro de “FBahia – R$ 270.000,00 (29/01/2014)”.

Essas anotações da suposta contabilidade da propina foram encontradas no mesmo local da memória do computador onde havia o registro de “entrada” em nome de “Primo” – alcunha usada por Youssef. Costa já confessou ser o registro da propina, que chegava a ser de 3% nos contratos da Petrobrás.

Segundo os delatores, PT, PMDB e PP lotearam as diretorias da estatal para arrecadar fundos para campanhas.

Fernando Baiano – cujo nome completo é Fernando Antônio Falcão Soares – representa no mercado brasileiro um grande grupo espanhol que atua na área de infraestrutura e energia renovável. O advogado Mário de Oliveira Filho, que representa Fernando Baiano, disse que ele atualmente mora no Rio de Janeiro. Oliveira Filho protocolou na Justiça Federal em Curitiba, onde correm as ações da Lava Jato, documento em que coloca seu cliente à disposição para esclarecimentos. “Ele não praticou nenhum ato ilícito.”

Sindicância. Não é a primeira vez que o nome de Fernando Baiano é citado. Em agosto deste ano a Petrobrás questionou Costa em sindicância aberta em março sobre a atuação do suposto operador do PMDB na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), que gerou um prejuízo para a estatal de US$ 792 milhões, segundo relatório do Tribunal de Contas da União.
Costa é questionado sobre o papel do ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró e de um valor de US$ 170 milhões pagos à empresa de trade que intermediou a negociação com a Astra Oil. “Este assunto foi totalmente conduzido pela área de Internacional da Petrobrás. A Diretoria de Abastecimento não participou da avaliação econômica”, afirmou Paulo Roberto Costa, em agosto.

A linha de investigação da Petrobrás indica que a suposta participação de Fernando Baiano nas negociações de Pasadena ocorreram na fase final, depois que a Justiça americana determinou que a estatal brasileira pagasse mais US$ 889 milhões pela segunda metade da refinaria para a belga Astra Oil.

“O sr. teve conhecimento da vinda de diretores ou prepostos da Astra ao Brasil para negociar a refinaria de Pasadena para a Petrobrás? O sr. delegou tarefas ao lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, para atuar nesses processos”, perguntou a comissão de sindicância, após veiculação na mídia dos movimentos do suposto operador do PMDB.

Na ocasião, Costa ainda não havia firmado compromisso de dizer o que sabe, em regime de delação premiada. Ele disse conhecer Soares, mas não sua ligação com o negócio.
Costa explicou que todas as reuniões do comitê de proprietários de Pasadena, bem como textos e definição de assuntos tratados, eram preparados pela área jurídica da Diretoria Internacional, “notadamente pelo advogado Borromeu”.

O gerente jurídico internacional Carlos Cesar Borromeu de Andrade foi ouvido na CPI Mista da Petrobrás por ter sido o principal negociador dos processo de litígio entre a Petrobrás e a Astra. Teria sido ele quem recomendou a via do processo em vez de aceitar o valor arbitrado pelas cortes americanas.

Convocação. Três requerimentos da CPI mista da Petrobrás tratam da convocação de Fernando Baiano, dois deles citando Pasadena. Um dos pedidos cita que a Astra teria usado os serviços dele para negociar o acordo. Após o Conselho de Administração da Petrobrás decidir prosseguir com a ação judicial, executivos da Astra tentaram encerrar o caso amigavelmente – o oposto do que asseguravam, meses antes, os advogados da Petrobrás, informa o requerimento do deputado Rubens Bueno (PPS-PR).

Abaixo o relatório de apreensão da PF com as planilhas do computador de Costa

Oposição articula retomada em ofensiva na CPI mista

• Parlamentares dizem que vão pesquisar a fundo documentos da comissão que investiga a Petrobrás, envolvendo políticos

Fábio Brandt , Isadora Peron / - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Depois do mal-estar causado pelo "acordão" entre governistas e oposicionistas para blindar as principais legendas na CPI mista da Petrobrás, a oposição ensaia colocar em prática um plano para minimizar os prejuízos políticos causados pela divulgação do acerto. A ideia, dizem, é não deixar a sensação de que a investigação terminará sem resultados concretos.
Apesar de todos os partidos negarem ter participado do entendimento, os oposicionistas começaram a articular uma retomada na ofensiva da comissão.

Na próxima semana, parlamentares do PSDB, PSB e PPS prometem vasculhar os documentos que já chegaram à CPI atrás de novas informações. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirma ter combinado esse esforço com os colegas Rubens Bueno (PPS-PR) e Izalci Lucas (PSDB-DF). O mineiro explica que, por causa da campanha, ainda não havia sido possível dedicar mais atenção aos papéis.

O "acordão" irritou o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), que divulgou uma nota para desautorizar a articulação. O principal argumento da oposição para não tentar convocar os petistas citados nas delações foi o de que a comissão ainda não obteve o direito de acessar documentos importantes da Operação Lava Jato, como os depoimentos das delações premiadas do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.

Na avaliação do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), vai ser difícil avançar no caso sem ter acesso aos documentos. "Eu vou ouvir a Gleisi e ela vai dizer que é mentira o que está publicado nos jornais. Ou seja, não vai adiantar nada", disse.

Ele argumenta, no entanto, que é "fato notório" que os partidos de oposição estejam trabalhando para que a investigação continue, uma vez que já começaram a coletar assinaturas para abrir uma nova CPI no ano que vem e dar continuidade às apurações.

Na quarta-feira, integrantes da CPI foram ao Supremo Tribunal Federal para reiterar o pedido de acesso aos documentos da Operação Lava Jato. O ministro Luís Roberto Barroso - que relata o mandado de segurança impetrado pelos parlamentares - sinalizou que a decisão sobre o caso deve ser tomada na próxima semana.

Governo agora divulga alta no desmate na Amazônia

• Perda de cobertura vegetal na Amazônia cresceu 122% em agosto e setembro, ante o mesmo período de 2013

• Informação já estava disponível ao menos desde 14 de outubro, antes do segundo turno da eleição presidencial

Marcelo Leite Aguirre Talento - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Agora é oficial: o desmatamento na Amazônia disparou em agosto e setembro. Foram devastados 1.626 km² de florestas, um crescimento de 122% sobre os mesmos dois meses de 2013.

O governo federal já conhecia esses dados antes do segundo turno da eleição presidencial, realizado no último dia 26 --a divulgação do aumento no desmatamento poderia prejudicar a votação da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.

As análises mensais do sistema de alertas de desmatamento Deter estavam prontas pelo menos desde 14 de outubro no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No dia 24, foram encaminhados pelo diretor do Inpe, Leonel Fernando Perondi, ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Em agosto, foram desmatados 890,2 km², um salto de 208% sobre os 288,6 km² do mesmo mês de 2013. Em setembro foram 736 km², 66% mais que no ano passado.

Assim, nesse que é o primeiro bimestre do "ano fiscal" do desmatamento amazônico, a taxa de aumento combinada foi de 122% --tradicionalmente, os dados de desmatamento são medidos de agosto a julho.

Um dos fatores para o aumento do desmatamento pode ser a expansão da agropecuária, que é o único setor da economia cujo PIB tem crescido significantemente.

Além disso, anos eleitorais costumam ter aumento de desmatamento, supostamente em função de uma menor fiscalização, e as mudanças recentes na legislação ambiental podem ter estimulado os desmatadores a aumentar o ritmo das suas atividades.

Segundo o Ibama, houve ainda uma intensificação da atuação do crime organizado no desmatamento para a venda ilegal de madeira.

Criminosos
A Folha tentava obter esses dados do Inpe desde 20 de outubro. Segundo a direção do Ibama, o órgão tem segurado a divulgação de dados do desmatamento para evitar que sejam usados pelo crime organizado para fugir das ações de fiscalização.

"Quando eu coloco os dados na tela, o criminoso pega aquilo e sabe onde vai o Ibama", diz o diretor de proteção ambiental do órgão, Luciano de Meneses Evaristo,

"Muitos dizem que o Ibama esconde os dados. O Ibama esconde os dados do bandido, é isso que você tem que começar a entender", disse Meneses. Segundo ele, foi feita uma operação no fim de agosto no Pará, com 11 mandados de prisão, o que diminuiu os alertas em setembro.

O presidente do Ibama, Volney Zanardi Júnior, afirmou que a divulgação dos dados do Deter "nunca foi mensal" e tem relação com as ações de fiscalização, embora na página do Deter esteja anunciado que os dados são divulgados mensalmente.

O próprio Inpe informa na internet, porém, que a divulgação de seus relatórios é mensal de maio a outubro, quando há menos nuvens para atrapalhar o registro de imagens por satélites. Neste ano eleitoral, a regra foi quebrada nos dois meses anteriores à votação.

Governo faz advertência para que IBGE analise dados sobre miséria

• Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome encaminhou ofício para que o instituto estude a amostra 'com mais profundidade'; Aloizio Mercadante afirma que pode ter havido algum erro metodológico

Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Confrontado com dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontaram um aumento no número de brasileiros que vivem na extrema pobreza, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse nesta quinta-feira , 6, que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome encaminhou um ofício ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para que a amostra seja analisada com mais "profundidade". De acordo com Mercadante, o governo está fazendo uma "advertência".

"Queremos que o IBGE analise com mais profundidade a amostra porque todos os outros índices mostram que a pobreza caiu e que esse indicador de renda zero pode ter algum problema metodológico. De qualquer forma, os dados são para ser analisados, debatidos, com toda a transparência", disse o ministro a jornalistas, depois de participar de cerimônia no Palácio do Planalto de homenagem a servidores.

"Não houve nenhum estudo do Ipea sobre esse assunto. O que o Ipea fez é uma base de dados, uma forma de agregar esses dados e disponibilizar no seu portal. Não há nenhum estudo até este momento. A pobreza caiu, continua caindo, e há uma variação em relação à extrema pobreza dentro da margem de erro estatística da pesquisa."

De acordo com o Ipea, o número de pessoas em situação de extrema pobreza - ou seja, que vivem menos de R$ 70 por mês - teria aumentado de 3,6% da população para 4% entre 2012 e 2013. De 2003, início da série histórica, a 2012, a queda foi contínua, trajetória interrompida no ano passado.

Em outubro, o diretor de políticas sociais do Ipea, Herton Araújo, colocou o cargo à disposição por discordar da decisão do instituto de suspender a divulgação de estudos durante a campanha eleitoral, o que provocou uma crise interna. Araújo pretendia divulgar um levantamento com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) sobre miséria.

"Estamos fazendo essa advertência. De qualquer forma, (o resultado do Ipea) é um variação pequena. A pobreza caiu fortemente, a tendência de queda da pobreza e extrema pobreza é consistente por tudo que foi feito: o desemprego caiu, o Bolsa Família teve reajuste e aumentou cobertura", garantiu o ministro.

Metodologia. De acordo com Mercadante, o governo aponta que a variação positiva no número de miseráveis pode estar relacionada ao grupo de pessoas que declararam renda zero.

"Quando você pega o questionário e olha o patrimônio (das pessoas em extrema pobreza), ou por exemplo, o nível superior (na educação) está muito acima da faixa seguinte que declarou que recebia renda. Então o que pode estar acontecendo, o que precisa ser apurado, é se não são pessoas que não declararam a renda e foram contabilizadas como renda zero", comentou o ministro. "Tem que se tomar cuidado. Inclusive o próprio MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) encaminhou ao IBGE pedindo uma análise mais cuidadosa porque o que cresce ali é o contingente de renda zero."

Na avaliação de Mercadante, esse é um "debate muito bom". Para o ministro, é difícil que qualquer acadêmico que estude a pobreza com profundidade possa concluir que houve uma mudança de trajetória na redução da pobreza extrema a partir de uma "variação muita específica" e dentro da margem de erro.

Questionado se o Ipea não estaria equivocado, o ministro respondeu: "Não posso dizer isso. Vamos aguardar o debate, os acadêmicos, a discussão e o pronunciamento final do IBGE. Da última vez, o IBGE publicou o dado (da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013), apontamos o problema metodológico e foi feita inclusive uma comissão de sindicância para verificar, porque houve erro metodológico amostral. Vamos aguardar agora a avaliação final. Não posso fazer nenhum pré-julgamento."

IBGE nega pedido do governo para revisar dados sobre miséria

• Instituto confirma ter sido acionado por ministério, mas sinaliza não haver intenção de rever informações e, por meio de nota, reafirma metodologia adotada em levantamento

Daniela Amorim - O Estado de S. Paulo

RIO - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comunicou nesta sexta-feira, 7, que não fará revisão de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referente a 2013 após receber pedido de esclarecimentos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Os dados da pesquisa foram usados em uma análise do Instituto de Economia Aplicada (Ipea), que mostra um aumento no número de brasileiros que vive em extrema pobreza. Segundo o IBGE, os esclarecimentos já foram prestados ao ministério.

Representantes do Planalto questionaram a metodologia usada na pesquisa, que repercutiu fortemente no governo federal. A redução da miséria no País tem sido uma das principais vitrines dos governos Lula (2003-2010) e Dilma e foi uma das principais bandeiras da campanha petista neste ano.

“Queremos que o IBGE analise com mais profundidade a amostra porque todos os outros índices mostram que a pobreza caiu e que esse indicador de renda zero pode ter algum problema metodológico. De qualquer forma, os dados são para ser analisados, debatidos, com toda a transparência”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na quinta.

Em nota, o IBGE informou que os métodos para os cálculos com a variável renda devem considerar possíveis flutuações anuais provenientes da amostra. Segundo o órgão, a Pnad 2013 manteve a metodologia de coleta como planejada e seus resultados não serão revisados.

“Por ser amostral, o total de indivíduos sem declaração de rendimentos tem flutuação anual diferenciada. Além disso, uma parcela também anualmente distinta dos informantes se recusa a prestar informação sobre a renda. Os métodos para os cálculos com a variável renda e as demais variáveis devem, portanto, considerar as possíveis flutuações existentes nas variáveis utilizadas”, diz trecho da nota.

O instituto sugere que o ministério consulte o site para esclarecimento de dúvidas sobre cálculo de renda. “A metodologia não sofreu qualquer alteração e os microdados que permitem cálculos da renda estão disponíveis no site do IBGE.”

Dilma estuda cortar despesas com benefícios e ajuda do BNDES

• Medida seria uma das formas de recuperar a economia feita pelo setor público para pagar os juros da dívida

• Ministro também acena com mudanças em seguro-desemprego, abono salarial, pensão e auxílio-doença

Valdo Cruz, Thais Fascina - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O pacote fiscal em elaboração pelo governo Dilma contempla cortes de despesas já prometidos no passado e que não conseguiram interromper o aumento de gastos da União nos últimos anos --alguns foram até engavetados.

Na lista estão seguro-desemprego, abono salarial, auxílio-doença e pensão por morte, despesas que, segundo disse o ministro Guido Mantega (Fazenda) nesta sexta (7), devem sofrer reduções a fim de aumentar a economia feita pelo setor público para pagar juros da dívida.

Mantega disse também que o governo deve reduzir os gastos com subsídios, citando especificamente os concedidos nos empréstimos feitos pelo BNDES por meio de taxas menores do que as de mercado.

"Vamos diminuir os subsídios financeiros, isso também é uma redução de despesa. Uma das contas que nós temos é a conta de subsídios e essa conta também vai diminuir no próximo ano."

Mantega, que não permanecerá no governo no segundo mandato de Dilma Rousseff, reforçou a política da presidente de fazer um ajuste fiscal gradual, sem cortes drásticos de despesas que possam comprometer a geração de empregos.

Logo depois da eleição, a presidente Dilma admitiu que será necessário fazer cortes de despesas por causa da queda no superavit primário. Neste ano, o setor público não vai cumprir sua meta de economizar 1,9% do PIB.

Até setembro deste ano, apenas o governo federal acumulou um rombo de R$ 15,7 bilhões em suas contas.

Foi a primeira vez desde o Plano Real, lançado em 1994, que houve deficit primário no ano, ou seja, o governo teve de se endividar para fazer pagamentos rotineiros e das obras de infraestrutura.

Apenas no mês de setembro, as despesas com pessoal, programas sociais, investimentos e custeio superaram as receitas em R$ 20,4 bilhões, o maior valor em vermelho para um mês.

Segundo Mantega, as despesas com seguro-desemprego, abono salarial e auxílio-doença somam cerca de R$ 70 bilhões por ano. No caso das pensões por morte, são R$ 90 bilhões por ano.

"Então, nós estamos trabalhando para reformatar essas despesas para que no próximo ano elas estejam em declínio, interrompendo uma elevação que tem ocorrido neste momento", afirmou.

Sem avanços
Não é a primeira vez que o governo acena com mudanças nas regras desses benefícios. No ano passado, o Ministério da Fazenda propôs aumentar o tempo mínimo de trabalho que o desempregado precisa comprovar para ter direito ao seguro-desemprego em caso de demissão.

Foi sugerido também que o abono salarial --que hoje paga um salário mínimo aos cadastrados no PIS/Pasep que tenham trabalhado por pelo menos 30 dias e recebido, na média do ano, até dois salários-- passasse a ser proporcional ao número de meses trabalhado.

As sugestões foram encaminhadas ao Palácio do Planalto, mas não avançaram.

No caso das pensões por morte, o Ministério da Previdência já alertou para a importância de mudança das regras para limitar os pagamentos, mas nenhuma proposta foi formalizada pelo governo.

Agora, o governo volta a mirar nessas despesas para tentar melhorar as contas públicas e recuperar sua credibilidade na área.

O pacote fiscal em elaboração por Mantega deve ser anunciado apenas depois da viagem da presidente Dilma à reunião do G20 (20 economias mais importantes do mundo), nos dias 15 e 16.

Brasil precisa de ajuste fiscal ‘extremamente pesado’, diz Nakano

Arícia Martins e Tainara Machado – Valor Econômico

SÃO PAULO - Diante da desconfiança do setor privado nas ações do governo e da perda de credibilidade da política fiscal, o Brasil precisa fazer um ajuste fiscal “extremamente pesado” que reduza as despesas do governo em cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para reverter a situação atual, avaliou nesta sexta-feira o professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV).

Como, no entanto, o ajuste a ser feito não deve ser de magnitude tão expressiva, a economia brasileira deve continuar em processo de semiestagnação.

“Minha visão é pessimista. Não vamos voltar a crescer nos próximos anos”, afirmou Nakano, durante palestra no Encontro de Política Fiscal 2014.

Segundo o economista, o governo precisa fazer um ajuste por meio de corte de gastos e não via elevação de impostos, porque a carga tributária brasileira já é equivalente a cerca de 37% do PIB, patamar “extremamente elevado”.

Para esse tipo de ajuste dar certo, seria necessário uma sintonia fina entre as políticas monetária, fiscal e cambial, o que é difícil, em sua opinião.

“Se tivermos uma combinação de corte de despesas com política monetária mais frouxa, certamente o investimento privado pode ser retomado. Mas não acredito que isso vá acontecer”, afirmou.

Na visão de Nakano, o ajuste a ser feito pelo governo será mais por meio de recomposição de impostos, como a Cide e a CPMF. O controle de gastos não seria muito relevante, diz, e seria mais focado em despesas como o abono salarial, seguro-desemprego e pensões por morte. A tendência, de acordo com o professor da FGV, será cortar o Orçamento proposto para 2015, e não as despesas na comparação com 2014.

Nakano previu que o déficit nominal das contas públicas será na ordem de 5% neste ano, número que considerou ruim. Ele também se mostrou preocupado com a trajetória da dívida pública bruta, que está em tendência de alta desde 2010 e chegou a mais de 61,7% do PIB em setembro. “Somos os mais endividados entre os países emergentes”, disse.

O diretor da escola de economia ainda se mostrou pessimista com a trajetória do crescimento econômico do país no longo prazo. Para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro voltar a crescer a uma média anual de 4%, a taxa de investimento precisa subir para 25% do PIB, calculou, sendo 7 pontos referentes somente ao investimento em infraestrutura. “Com o governo que temos, com a burocracia que temos, isso é praticamente impossível.”

Dilma começa a descer do palanque – O Globo / Editorial

• Assim como Sarney no Cruzado e FH na política cambial, ela esperou o fim das eleições para começar a corrigir erros e admitir medidas que atacou na campanha

Ressalvadas as devidas dimensões e peculiaridades históricas, a presidente Dilma Rousseff atuou no ano da sua campanha à reeleição do mesmo jeito que os antecessores José Sarney e Fernando Henrique Cardoso enfrentaram uma conjuntura econômica difícil também em meio ao calendário eleitoral.

Sarney lançou o Plano Cruzado, congelou preços, não conteve gastos públicos, entre outras falhas, e o plano fez água. Ele postergou os ajustes necessários para depois das eleições do final de 1986, e assim seu partido, o PMDB, ainda impulsionado pela popularidade do plano, elegeu 22 governadores e a maior bancada do Congresso. Depois, vieram os inevitáveis e amargos remédios: cortes de subsídios, fim do congelamento de preços, para acabar com o desabastecimento etc.

FH, por sua vez, enquanto preparava a reeleição, em 1998, lutava para evitar a flutuação do câmbio, a âncora que mantinha a inflação baixa. Assim como Sarney se comprometia com a perpetuação do Cruzado, FH e equipe econômica garantiam a preservação da política cambial. Ganhou a eleição e a primeira grande medida do novo governo, logo no início de 1999, foi deixar o câmbio flutuar.

Nenhum dos dois, Sarney e FH, tinha alternativas, embora, devido às eleições, não reconhecessem as dificuldades. O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff, dura crítica, nos debates e entrevistas antes das urnas, da ideia de ajuste fiscal, política monetária (juros) apertada, atualização de tarifas públicas, como energia e combustíveis.

A mesma história se repete: três dias depois de a presidente conquistar a reeleição, o Banco Central elevou os juros de 11% para 11,25%; tarifas de energia passaram a ser reajustadas em maior ritmo — só a da Light, em 17,7%; e os combustíveis acabam de ter os preços revistos. Isso sem falar em informações de pesquisas oficiais mantidas nas gavetas.

Dilma, assim como, em suas épocas, Sarney e FH, começou a descer do palanque. Em entrevista conjunta ao GLOBO, “Estado de S.Paulo”, “Folha de S.Paulo” e “Valor”, a presidente reeleita reconheceu que terá de “fazer o dever de casa” na luta contra a inflação, como cortar despesas, uma heresia se fosse dito antes de 26 de outubro. Louve-se a franqueza mesmo tardia da presidente no tema, bem como no correto posicionamento diante do PT: “eu não represento o PT. Eu represento a Presidência da República”.

Mas, em alguma medida, ela se mantém prisioneira do estilo fisiológico de exercício do poder pelo lulopetismo. Daí defender, na entrevista, a manutenção dos 39 ministérios. São de fato pouca coisa do ponto de vista dos bilionários gastos públicos, ela tem razão. Mas simbolizam o desregramento administrativo e atravancam a própria gestão. Servem mesmo apenas para o toma lá dá cá.

É um avanço admitir problemas-chave como a inflação. Que continue a descer do palanque e faça escolhas sensatas para a equipe econômica.

Ajustar os sinais – Folha de S. Paulo / Editorial

• Governo federal reconhece necessidade de corrigir rumos da política econômica, mas não esboça planos de médio e longo prazo

Depois de reeleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) deu sinal claro de que reconhece a necessidade de ajustar a política econômica implementada nos últimos três anos. Foi dúbia a respeito de quão grandes serão, a seu ver, as dificuldades e as correções de rumo, mas não indicou que pretenda empreender reformas amplas.

A elevação da taxa de juros, o reajuste do preço dos combustíveis e as promessas de reduções de gastos excessivos no INSS sugerem que Dilma não quer replicar os erros do primeiro mandato. Há motivos, no entanto, para temer que o novo governo se limite a atenuar esses equívocos.

A presidente tem reiterado que o ajuste não pode ser recessivo ou provocar desemprego. Ocioso dizer que ninguém deseja aumentar a aflição socioeconômica.

O problema não está nas boas intenções, mas na mensagem subjacente aos desejos. Isto é, Dilma pode insistir no programa de estímulos artificiais que exauriu recursos federais e resultou em crescimento quase zero, em inflação persistente e deficit externo em alta.

Por vezes, o governo dá a impressão de que a tarefa se esgota em melhorar sua imagem entre financistas e empresários a fim de granjear apoio político.

Não se trata apenas de retórica, boas relações e confiança, porém; é preciso estabilizar a economia, conter de fato a alta crescente de dívidas, preços, juros e gastos.

Isso feito, o país não estará necessariamente preparado para crescer a um ritmo similar ao dos anos de 2004 a 2010.

Tal como médicos lidam com um paciente abalado, importa restabelecer ou equilibrar os sinais vitais --temperatura, pressão, batimentos cardíacos, oxigenação. Um paciente estável, todavia, não está curado. Só recuperou as condições rotineiras de sobrevivência.

As condições da sobrevida do crescimento no Brasil não estão dadas. Desde 2007 cessaram as mudanças institucionais da economia. Embora exista consenso acerca do imperativo de elevar a produtividade, há controvérsia sobre estratégias de prazo mais longo.

Ainda assim, há tarefas óbvias e imediatas, como incentivar o investimento privado em infraestrutura, reduzir subsídios a grandes empresas, conter excessos na Previdência, remover o entulho burocrático que a todos estorva.

Os planos para tratar de tais assuntos inexistem ou são vagos. Sabe-se apenas da intenção de moderar os estímulos fracassados ao crescimento de curto prazo.

Tal programa, além de tacanho, eleva o risco de que o governo volte a se emaranhar na administração de remendos econômicos, estagnação e aumento da tensão social.

Governo só tem 9% dos gastos de custeio para cortar, dizem analistas

• Segundo eles, despesas obrigatórias deixam pouca margem de manobra para Dilma

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA — Embora a presidente Dilma Rousseff tenha prometido “olhar com lupa” os gastos da máquina pública para promover cortes, essa decisão não será simples. O governo tem hoje um universo de cerca de R$ 56,8 bilhões onde poderia promover cortes no chamado custeio da máquina. Só que a própria presidente Dilma deixou claro ontem que também não está disposta a diminuir o número de ministérios, o que poderia gerar economia de cargos nomeados politicamente, gratificações, despesas com terceirizados e estrutura física de cada um. Segundo dados do Siafi, de janeiro a outubro, os gastos em custeio chegam a R$ 615,67 bilhões, sendo que apenas R$ 56,8 bilhões, ou 9,22% do total, é efetivamente passível de corte.

Isso porque mesmo as despesas livres do governo já são hoje, na sua maioria, comprometidas com pagamentos sociais. Esse espaço para corte de R$ 56,8 bilhões equivaleria a 1,1% do PIB, mas os especialistas dizem que não se pode simplesmente acabar com todos esses gastos de custeio dos ministérios de uma só vez. Embora agora a presidente fale em cortar, o problema dos gastos públicos é que o governo vem aumentando, ano a ano, essas chamadas despesas correntes — especialmente com pagamento de benefícios sociais e previdenciários, onde não se pode cortar.

O levantamento no Siafi foi feito pelo economista Mansueto Almeida, que integraria a equipe econômica de Aécio Neves se o tucano tivesse sido eleito presidente. Foram retirados dos R$ 615,67 bilhões gastos em custeio todas as despesas com as funções sociais — Previdência, Saúde, Educação, Trabalho, Bolsa Família e Assistência Social — e ainda as transferências constitucionais e pagamentos de precatórios judiciais, bem como o custeio dos Poderes Legislativo e Judiciário. Então se chegou aos R$ 56,8 bi.

Para Mansueto, o governo poderia reduzir entre 0,2% a 0,3% do total das despesas de custeio, no máximo, o que daria algo entre R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões, utilizando a execução do Orçamento até 31 de outubro. Em 2013, o Orçamento teve o mesmo comportamento: foram pagos R$ 640,9 bilhões de despesas correntes ou de custeio, sendo que livres mesmo foram R$ 45,1 bilhões — o universo que o governo poderia ter mexido —, ou 0,93% do PIB.

O economista lembra ainda que se cortassem todas as despesas com diárias e passagens, por exemplo, a economia seria de cerca de R$ 2,5 bilhões. Nos últimos anos, o governo vem anunciando a redução desses gastos, num valor aproximado a esse.

— Mesmo se o governo fechasse todos os ministérios com exceção dos ministérios da Educação, Trabalho, Saúde, Previdência e Ministério do Desenvolvimento Social, a economia possível seria de 1,1% do PIB. Mas é possível fechar todos os ministérios com exceção dos cinco sociais? Claro que não. Não é possível nem economizar metade do custeio passível de corte. Assim, se o governo conseguir uma economia de 0,2 a 0,3 pontos do PIB de custeio já seria algo excepcional — disse Mansueto.

Para o economista Raul Velloso, é claro o problema do aumento das despesas do governo. Mas ele acredita que, diante da situação financeira, o governo tem que fazer algum corte efetivo.

— A pergunta é: o governo está consciente de que precisa fazer esses cortes para não perder o investment grade? Na hora em que ele está à beira de um precipício, de uma grande dificuldade, de uma grande crise, ele tem que decidir. Mas o primeiro alvo são sempre os investimentos — disse Velloso.

Para Temer, Cunha se coloca 'contra ele'

• Em recado para líder do PMDB, vice-presidente critica lançamento de candidatura à presidência da Câmara em oposição ao governo

João Domingos - O Estado de S. Paulo

Brasília - O vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, irritado com o líder da legenda na Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (RJ), que se lançou candidato a presidente da Casa na próxima legislatura sem procurá-lo e sem propor acordo com a presidente Dilma Rousseff e com o PT, afirmou nesta sexta-feira, 7, que se a candidatura for de oposição, será também contra ele, devido ao cargo que ocupa.

A declaração de Michel Temer foi feita em entrevista ao jornal Destak e também foi publicada em sua conta pessoal da rede social Twitter pelo próprio vice-presidente.

“Se tiver um candidato (à presidência da Câmara), ainda que seja do PMDB, que se coloque contra o governo, ele está se colocando contra mim, que sou vice-presidente da República”, afirmou Temer na entrevista e no Twitter.

Em resposta a Temer, Eduardo Cunha disse ao Estado que não é candidato de oposição. “Sou candidato para ser leal à governabilidade, respeitoso com a oposição, mas não de submissão”, afirmou o deputado.

Indagado se vai procurar o PT e o governo federal para conversar sobre sua candidatura à presidência da Câmara, o líder do PMDB respondeu: “Vou procurar a todos”. Em seguida, perguntado se via na reação de Temer uma pressão da presidente Dilma Rousseff, Cunha afirmou: “Não vi reação do Temer.” Depois, lembrado da fala do vice-presidente, ele acrescentou: “Como não sou candidato contra o governo, não me sentiria atingido por qualquer declaração dessas”.

Cunha afirmou ainda que conversou nesta sexta com Michel Temer, sem problemas.

Desentendimento. Desde que se lançou candidato a presidente da Câmara, Eduardo Cunha e Michel Temer vêm se desentendendo. Na terça-feira, antes de um jantar oferecido ao PMDB no Palácio do Jaburu, em Brasília, pelo vice-presidente, os dois tiveram uma conversa ríspida. Cunha procurou Temer para pedir apoio à candidatura.

O vice-presidente respondeu: “Eu defendo o rodízio com o PT na presidência da Câmara. Já foi feito e deu certo”. Cunha insistiu no apoio. Temer então disse: “Você se lançou candidato e não me procurou. Foi atrás dos partidos de oposição, como o PSDB, o DEM, o PPS. Em nenhum momento quis falar comigo, com a presidente Dilma ou com o PT”. Cunha retrucou: “Mas o PT é contra mim”. Temer: “O fato é que você não me procurou. Se você mudar, se procurar o governo, o Planalto, o PT, pode até ser candidato”. Cunha voltou a insistir: “Mas sou independente”.

Foi a vez de Temer reagir: “Procure o PT, o governo, converse. Eu sou governo. Se a candidatura for de oposição, você está fazendo uma candidatura contra mim.” Cunha: “Como é que você vai ficar contra uma candidatura do PMDB?” E Temer, para finalizar a conversa: “Não. É você que está sendo contra o presidente nacional do PMDB. Você é que está se lançando contra mim se continuar a atuar desse jeito”.

Candidatura petista. Precavido, o PT realizou uma reunião na quinta-feira e decidiu lançar um candidato a presidente da Câmara. Segundo o líder da legenda na Câmara, Vicentinho (SP), será criada uma comissão incumbida de procurar os demais partidos para negociar o apoio à candidatura petista. “Teremos um nome para submeter à avaliação do parlamento”, afirmou Vicentinho.

Na Câmara, PSDB já aposta em alternativa a Cunha e ao PT para aglutinar oposição

• Três nomes estão cotados; PT confirma candidato para se contrapor a Cunha, acusado de agir como oposição

Júnia Gama e Eduardo Barretto – O Globo

BRASÍLIA — Aproveitando o racha na base aliada, o PSDB está costurando apoio a um candidato alternativo para disputar a presidência da Câmara. A ideia é ter um nome que represente as forças políticas que se uniram em torno de Aécio Neves (PSDB-MG) na eleição presidencial para oferecer reciprocidade e aglutinar a oposição pelos próximos anos. Nesta quinta-feira, em mais uma demonstração do tamanho da divisão entre os aliados da presidente Dilma, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), confirmou que o partido terá um candidato próprio e rejeitou acordo para apoiar o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), a quem acusou de agir como oposição.

Os nomes cogitados até agora para a “terceira via” na qual aposta Aécio são os dos deputados reeleitos Júlio Delgado (PSB-MG) e Miro Teixeira (PROS-RJ) e do senador e deputado eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Os três são figuras simbólicas para a cúpula tucana porque representam os espólios do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e da ex-senadora Marina Silva, derrotada no primeiro turno da eleição para presidente.

Os grupos de ambos estiveram com Aécio no segundo turno da eleição, e o senador tucano pretende fazer gestos aos aliados para agradecer o apoio e evitar a dispersão daqueles que se opuseram à reeleição de Dilma. O mais forte até o momento é Júlio Delgado, que disputou a presidência da Casa em 2013, pouco antes de o PSB deixar a base governista, e já trabalha para se candidatar novamente.

Além dos partidos da oposição tradicional, os tucanos contam com os dissidentes da base aliada para aumentar a votação da “terceira via” e levar a disputa pelo comando da Câmara ao segundo turno. Pelas contas mais otimistas do PSDB, será possível reunir cerca de 170 votos para este candidato. Tucanos apostam que até petistas que se sentirem preteridos podem migrar para essa candidatura. Caso a iniciativa não vingue e o segundo turno acabe sendo entre Eduardo Cunha e um nome do PT, a cúpula tucana pretende direcionar os votos para o peemedebista. A pior hipótese, dizem, é ter o PT na presidência da Câmara.

Mercadante: clima favorável
Na quinta-feira, o deputado Vicentinho anunciou que o PT irá apresentar um candidato à presidência da Câmara para a próxima legislatura. Vicentinho disse que não há possibilidade de diálogo com Eduardo Cunha para um consenso entre os dois maiores partidos da base e o acusou, indiretamente, de agir como oposição:

— Não (vamos conversar com Cunha). Jamais vamos concordar com qualquer candidatura que signifique uma postura de oposição. Como vamos ter uma candidatura que tem atitude contrária às suas orientações partidárias, com atitudes individuais? Nós aqui somos coletivos. Cada um que faça o movimento que queira fazer, mas nós seremos muito firmes nesse propósito.

Vicentinho afirmou que o PT não irá voltar atrás na decisão e anunciou que uma comissão foi criada para ouvir deputados da base e da oposição na sucessão do comando da Câmara. O líder do PT acusou integrantes do PMDB de agir mais como oposição que PSDB e DEM.

— Se o partido é da base do governo, como é que algumas pessoas agem como oposição? Não é só sobre este ou aquele projeto. É oposição na eleição, que é muito mais grave, uma oposição permanente e sistemática, mais que PSDB e DEM. Alguma coisa precisa ser corrigida — atacou.

A despeito do ambiente de guerra na Câmara, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou ontem que, para a próxima legislatura, espera um Congresso “parceiro”, e aposta em um clima favorável do Senado e da Câmara com o governo. Apesar de uma oposição com maior potencial de atuação para o ano que vem, Mercadante se mostrou otimista e disse que na base há clima de comemoração dos resultados das urnas:

— A presidenta tem feito reunião com todos os partidos da base. Fez um encontro ontem com o PSD, vai fazer com o PT hoje, e vai fazer com todas as bancadas, saudando a nossa vitória, preparando a retomada do novo ano legislativo, para nós, novos parlamentares que foram eleitos. E nós estamos comemorando, celebrando uma vitória que foi muito importante no reconhecimento desse trabalho de quatro anos, mas também de mais mudança, de corrigir o que está errado, de avançar o que tem que avançar.

Marina reinicia criação de partido, mas Rede será menor

• Apoio a Aécio no 2º turno rachou grupo político da ex-ministra e dissidentes cogitam montar sigla 'horizontal de esquerda'

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Terceira colocada na eleição presidencial deste ano, a ex-ministra Marina Silva deixará o PSB no começo de 2015, quando pretende apresentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os papéis necessários para a segunda tentativa de transformar em partido o seu grupo político, a Rede Sustentabilidade. A movimentação ocorre ainda sob impacto do racha entre os "marineiros" após a decisão de apoiar o tucano Aécio Neves no 2.º turno.

A coleta de assinaturas, que estava congelada, foi retomada logo após a votação de 26 de outubro, Pelas contas dos dirigentes do grupo, faltam 32 mil rubricas certificadas para se atingir as 483 mil exigidas pela lei. O número diminuiu em relação à 2013, quando o TSE negou o primeiro pedido de registro da Rede, porque o cálculo leva em conta a última votação para a Câmara dos Deputados - em 2014, houve menos votos válidos que em 2010.

Durante a campanha, quando Marina liderava as pesquisas de intenção de voto, os integrantes da Rede cogitaram a possibilidade de ficar no PSB, em caso de vitória. Após o 1.º turno, dirigentes do partido deixaram aberta a possibilidade de manter os marineiros na legenda como uma corrente interna. A ideia, porém, foi rechaçada.

Quando se constituir como partido, a Rede poderá receber deputados eleitos em outubro por outras legendas em suas fileiras, mas não herdará o tempo de TV nem os recursos do Fundo Partidário referentes a esses parlamentares. "Essa é uma questão dramática", diz Walter Feldman, porta-voz do grupo.

Ele afirma acreditar na possibilidade de reverter no Supremo Tribunal Federal a Lei 12.875, de outubro de 2013, que fechou as chamadas "janelas partidárias". "Isso dificulta. Essa foi uma lei anti-Rede criada pelo Congresso", diz Feldman. O assunto será discutido no dia 22, quando a direção executiva da Rede se reunirá em Brasília com Marina.

Debandada. Se o TSE reconhecer a Rede como um partido político, a nova legenda nascerá menor que era em outubro de 2013, quando o plenário do tribunal rejeitou a criação da sigla por 6 votos a 1.

Por causa do apoio de Marina a Aécio, houve uma debandada de dirigentes e militantes da Rede.
"Na executiva de São Paulo, por exemplo, 7 dos 12 integrantes saíram", diz Célio Turino, ex-porta-voz dos marineiros em São Paulo. O grupo também perdeu quadros importantes em Minas Gerais e em outros Estados. "O apoio ao Aécio sinalizou outro caminho e criou um ambiente muito ruim. Isso aflorou um conservadorismo na Rede", considera Turino.

Segundo ele, os que deixaram o grupo já se articulam para criar um outro partido, inspirado no "Podemos", agremiação espanhola de matriz esquerdista. "Falta no Brasil uma alternativa claramente de esquerda e que seja ampla e horizontalizada", afirma o ex-marineiro.

"Havia um grupo que, com visão mais à esquerda, já questionava a entrada no PSB e sentiu-se incomodado com a aproximação com o PSDB", reconhece Feldman, que foi tucano na maior parte da carreira política.

Inflação ainda acima da meta

• Apesar da desaceleração, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA registrou taxa de 6,59%

- Zero Hora (RS)

O preço da carne subiu menos e deu alívio para o bolso dos brasileiros em outubro. A inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 0,42% no mês, ritmo mais lento do que o observado em setembro, 0,57%. Apesar da desaceleração, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA registrou taxa de 6,59% e permanece acima do teto da meta estabelecida pelo próprio governo, de 6,50% ao ano.

É o terceiro mês consecutivo que o resultado fica acima do limite esperado. A expectativa de analistas de mercado, no entanto, é que a inflação termine o ano dentro da meta e feche 2014 em 6,45%. A alta das tarifas de energia e dos combustíveis deve aparecer a partir de novembro. A elevação do dólar gera uma pressão adicional ao encarecer o preço dos produtos importados.

Em entrevista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, projetou que o impacto do aumento da gasolina será pequeno, de apenas 0,1 ponto percentual. Mantega avaliou que os preços estão em um trajetória de queda, mas admitiu a necessidade de corte nas despesas públicas.

– O custo dos alimentos deve continuar caindo nos próximos dois meses, compensando o impacto nos reajustes aprovados (pela Agência Nacional de Energia Elétrica e Petrobras) – avalia o economista Leonardo França Costa, da consultoria Rosenberg Associados

‘El País’: melhor um Brasil irritado do que deprimido

• Se até ontem o país parecia um trem de alta velocidade, hoje anda na direção de um beco sem saída.

- Jornal do Brasil

O jornal espanhol El País, publicou nesta sexta-feira (7/11) um artigo de Juan Arias, analisando a atual situação do Brasil. Segundo o jornalista, as melhores expectativas que existiam anos atrás, foram abaladas pelos recentes índices negativos, além da crescente corrupção e os problemas sociais do dia a dia.

“Um perigo ronda o Brasil: o de se precipitar na depressão, abalado por tantas notícias negativas. Não é fácil, realmente, passar da euforia de um país encantado consigo mesmo, invejado mundo afora, que havia deixado de ser o eterno país do futuro, descobrir-se de repente caminhando em marcha a ré.

Melhor a depressão ou a ira como remédio contra os demônios que parecem ter se apoderado do país e que as eleições, em vez de apaziguar, ressuscitaram com maior força?”, questiona Juan Arias.

O jornalista fala do atual cenário, mais desanimador: “Não é psicologicamente saudável para os brasileiros ler que, pela primeira vez depois de 10 anos, cresce o número de miseráveis, que alcança já 10 milhões, enquanto uma empresa como Petrobrás se vê supostamente saqueada em 10 milhões de reais.

A fome volta ao Brasil enquanto cresce a corrupção, que vai abalando o mundo político e empresarial. Quanta miséria seria possível aliviar com o fruto de tantas ilegalidades perpetradas por aqueles que deveriam velar pelas riquezas do país?

Se até ontem amigos espanhóis me escreviam desejosos de vir até aqui porque o Brasil estava se transformando na meca da esperança e das oportunidades, dói ler hoje que há brasileiros com vontade de ir embora para morar fora porque se sentem decepcionados e deprimidos”.

O artigo cita os problemas sociais na vida cotidiana do brasileiro, e especialmente do carioca: “Dói ver que as cidades aqui são cada dia mais violentas. A GloboNews, apresentou dias atrás uma reportagem que me causou uma profunda tristeza. Ela filmou no centro do Rio cenas de cidadãos sendo assaltados por bandos de 15 a 20 adolescentes, com faca na mão, enquanto esperavam o ônibus para ir ou voltar do trabalho.

Homens e mulheres corriam aterrorizados; alguns chegaram a enfrentar os assaltantes. Muitos contaram que decidiram esperar o ônibus todos os dias dentro das lojas em vez de aguardar nos pontos, para se proteger melhor.

Era gente comum, que não tem carro, que já sofre horas para ir e voltar do trabalho, apertados dentro de ônibus velhos e desconfortáveis. Como se não bastassem os assaltos dentro dos ônibus, os passageiros têm que se proteger agora contra a violência enquanto esperam na rua. E isso, no centro da "Cidade maravilhosa", que de fato nos deixa mudos de tanta beleza. Maravilhosa e violenta”.

O jornalista prossegue: “A reportagem contava que nas últimas semanas a polícia havia detido mais de 400 adolescentes assaltantes. Para fazer o que com eles? Para enterrá-los em um sistema penitenciário quando o próprio ministro responsável confessou que preferira ser condenado à pena de morte do que viver numa das prisões do Brasil?

Esta história não é uma digressão na minha análise. Eu quis lembrá-la como sendo emblemática desse desencanto de tantos cidadãos de bem, que trabalham e se sacrificam para que o país cresça e progrida e são obrigados a viver acossados pela violência de bandos de adolescentes sem presente e sem futuro.

Se até ontem o Brasil parecia um trem de alta velocidade a caminho de uma nova primavera de prosperidade e até a modernidade, hoje, tendo em vista os índices cada dia mais negativos em todos os aspectos, desde os econômicos até os sociais, parece mais um trem que começa a se mover na marcha a ré até uma via morta”.

“Os psicólogos e sociólogos se esforçam para ver nesta crise a etimologia da palavra chinesa "oportunidade". O Governo explica que nunca foi tão vistosa a praga da corrupção porque em vez de escondê-la debaixo do tapete, hoje ela é combatida e investigada. A nova oposição - derrotada nas urnas, mas forte com seus 51 milhões de votos - prefere pensar que o Brasil "acordou" de sua letargia de conformismo e passividade atávica e quer agora fazer com que sua voz e seu protesto sejam ouvidos.

O desencanto não é só visível, mas até palpável. É possível ver os sinais na pele irritada dos cidadãos. O momento é crítico, tanto na acepção portuguesa como chinesa da palavra. A crise é real.

E pode ser também uma oportunidade para que, juntos, os brasileiros não se conformem com o a situação. Pressionados pela realidade dolorosa de que as coisas em vez de melhorar parecem começar a murchar, é possível e desejável que transformem a crise em uma nova onda de novas oportunidades”, aponta o artigo do El País.

Juan Arias conclui com otimismo: “Nesse sentido, melhor a ira, no bom sentido da palavra, ou seja, o inconformismo em relação ao que não funciona, a luta para melhorar, a determinação de exigir contas aos responsáveis políticos do governo e da oposição. Melhor isso do que deixar-se levar para a depressão, que tantas vezes é uma porta para o suicídio.

Melhor a irritação, o desabafo, o grito de protesto, a vontade de ser protagonista da própria história do que o silêncio cúmplice da passividade que até ontem os brasileiros comuns, os que se achavam sem poder, haviam esculpido triste e graficamente através da frase: "Fazer o que?".

A resignação aceita como fatalismo costuma desembocar no fracasso. A vontade de se empenhar para mudar as coisas é, ao contrário, a ante-sala da esperança que se recusa a morrer.

Sim, melhor a ira do que a depressão. Para todos, porém mais para os brasileiros que deixariam de ser assim no dia em que renunciassem a poder desfrutar de seus pequenos ou grandes espaços de felicidade.

Tudo menos deixar-se morder pela depressão que nos tira até a vontade de respirar”.

Marco Aurélio Nogueira - Má qualidade da linguagem política modela a linguagem da vida cotidiana

– O Estado de S. Paulo

Conversando esta semana com um jornalista sobre a situação excessivamente belicosa que parece estar configurada no Brasil, me lembrei de uma imagem que costumo usar em aulas: a sociedade brasileira é como um caminhão de mudanças que carrega toda a tralha acumulada ao longo da vida por uma família que não teve tempo de se preparar para a nova casa. Leva tudo consigo, dos móveis e objetos recém-adquiridos à tranqueira esquecida no porão, naquele canto perdido do armário, guardada numa caixa de papelão empoeirada.

O Brasil se moderniza mas não se separa de seus defeitos históricos. Moderniza-se sem enterrar seus mortos e eles, a todo momento, voltam à vida para assustar os vivos. Sempre que isto acontece, os ânimos encrespam.

A metáfora me ajuda a entender por que, ao longo deste ano, há mais tensão e intolerância nos discursos públicos, na linguagem da vida cotidiana e no modo como os brasileiros passaram a se relacionar.

Alguns dizem que isto é tão-somente efeito colateral da disputa eleitoral. Em 2014, brasileiros teriam passado a demarcar melhor suas posições. Voltaram a discutir política, a manifestar suas opções e sua insatisfação, seus desejos e expectativas. Neste raciocínio, não haveria motivo para preocupação: a tensão que se percebe seria apenas nuvem passageira. Pode-se agregar, aqui, a ideia de que se trata de um subproduto da modernização e da democratização das últimas décadas, que deslocaram interesses e mexeram com os equilíbrios sociais. Os mais ricos perderam espaço e exclusividade, os mais pobres subiram à luz do dia e passaram a buscar reconhecimento, direitos e afirmação. O sistema teria ficado, assim, mais “nervoso”.

Há outros que relativizam o problema: só haveria tensão nas redes sociais e entre aqueles que são por elas sugestionados. O resto da sociedade estaria pacificada, ou continuaria a viver com as mesmas taxas de tensão de sempre. Nada, portanto, de luz amarela no horizonte. Os brasileiros continuam “cordiais” como antes, calorosos, passionais, afetuosos e chegados a intimidades no espaço público.

A versão mais próxima da realidade é a de que se trata de uma pequena minoria, uma elite rústica e grosseira, ativa nas redes e com facilidades de voz e exposição. Na contramão da massa da população, seria este segmento enraivecido que agita com violência, xinga e agride.

Acontece que esta minoria está aí e sempre será importante saber qual é seu real poder de fogo, sua capacidade de influenciar partes ponderáveis dos demais. Como não podemos dimensionar o tamanho desta elite, não dá para concluir muita coisa. Especialmente quando vemos tanta gente usando as palavras como se fossem adagas afiadas.

Problema distinto, portanto, é tentar entender porque cresceu a exasperação, ou porque ela ganhou tanta força no espaço público e no debate político, incorporando não somente os integrantes daquela elite grosseira, mas muito mais gente. Ou será que isto não está ocorrendo?

A baixaria está virando norma de conduta, sob o pretexto, por um lado, de honrar a informalidade típica do brasileiro e seu tradicional descuido com a linguagem. Por outro lado, é justificada como sendo o expediente que se tem à mão para que cada um possa demonstrar “combatividade” na defesa das próprias opiniões.

No próximo texto deste blog, pretendo refletir melhor sobre as razões que têm impulsionado esta inflexão em nossa vida cotidiana.

Agora, gostaria somente de enfatizar que o problema existe e deveria nos preocupar. Sempre há uma ligação entre linguagem política e linguagem da vida cotidiana. Uma influencia a outra, por menos que percebamos isto. Fala-se errado nas tribunas parlamentares porque se fala errado em casa e nas ruas. As narrativas do poder são tacanhas porque também o são as do cidadão. A voz do Estado é ruim porque também é ruim a da sociedade e porque o Estado, entre nós, funciona pouco como “educador” e muito como “repressor”. Somos deficientes em gramática, em concordância, em frases com verbo e sujeito bem colocados, em vocabulário. Por que a linguagem política seria diferente?

A linguagem política, por sua vez, funciona como efeito-demonstração e também modela a linguagem da vida cotidiana. Passa a sugerir que não é mais suficiente você ser contra o governo ou contra um ou outro partido: você precisa triturá-los, estraçalhá-los, atribuir todos os qualificativos negativos a eles, sem meio-termo ou papas na língua. Não basta ser contra a Dilma: é preciso apresentá-la como a encarnação de Behemot, a corrupção em pessoa, o diabo em forma de mulher. 

Não basta você não gostar do Aécio: você deve dizer que ele é um “playboyzinho viciado que bate em mulheres”. Não basta ter antipatia por Marina: deve-se dizer que ela é uma ilusionista, uma fada mística das florestas, uma farsante. E assim por diante.

O que está acontecendo hoje, neste mundo de redes e hiperatividade verbal em que vivemos, é a afirmação progressiva de uma convicção social: quanto mais grosso você for, mais chance terá de chamar atenção. Tua comunicação irá parar na sarjeta, mas você poderá terminar o dia com a sensação de ter vencido uma batalha a mais.

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política, Unesp

Merval Pereira - Ao vencedor, os problemas(2)

- O Globo

Fazer mais com menos, e, para tanto, ter uma gestão eficiente para atender a demanda da sociedade por mais e melhores serviços públicos, será o grande desafio dos novos governadores, eleitos ou reeleitos em outubro, que terão a atuação limitada pela restrição de recursos e precisarão inovar na gestão pública. É com este pano de fundo que a consultoria Macroplan, especializada em gestão pública e cenários futuros, organizou o estudo “Desafios dos Governos Estaduais”.

Claudio Porto, presidente da Macroplan, insiste em que a única forma de avançar de forma pertinente é pensar no longo prazo. “Sem uma gestão eficiente, focada no planejamento e implementação de planos de longo prazo não é possível ter desenvolvimento sustentável. Isto está em acordo com a demanda da sociedade por mais e melhores serviços públicos e também com o aprimoramento do papel do Estado”.

Com um diagnóstico dos Estados brasileiros - realizado a partir da análise da evolução na última década de 69 indicadores das áreas de segurança, saúde, educação, juventude, desenvolvimento econômico e social, infraestrutura, institucional e gestão fiscal-, os economistas da Macroplan oferecem questionamentos a modelos de gestão pouco eficientes e expõem alguns pontos para reflexão dos futuros governadores e de suas equipes de planejamento.

“Será preciso ‘fazer mais com menos’. Mais do que nunca será necessário aos governos se concentrar em prioridades e avançar em eficiência”, afirma o diretor da Macroplan, Gustavo Morelli, coordenador do estudo. O ranking exibido pelo estudo da consultoria demonstra que persiste a histórica divisão entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e as regiões do Norte e Nordeste, quando se avalia o desenvolvimento social e econômico do país.

Mas também comprova que boas práticas de gestão e a continuidade na execução dos projetos fazem toda a diferença. Em Pernambuco, programas inovadores na área de educação reduziram a taxa de evasão escolar do ensino médio e possibilitaram ao Estado dar um salto da 26º para o 1º colocação do ranking, entre 2007-2013. O Estado também diminuiu a desigualdade social com uma redução de 17,5% no coeficiente de GINI no período e aumentou em 22,7% a proporção de domicílios com rede de esgoto. E mais. Alcançou uma redução de 33,7% na altíssima taxa de homicídios, contra a tendência de vários Estados da mesma região.

A vizinha Alagoas, apesar de ter elevado a despesa per capita com segurança em 62,4%, entre 2005 e 2012, tem a pior taxa de homicídio do Brasil (2012), que se elevou 88% na última década, chegando a 64,6/por 100 mil habitantes. Há outros exemplos: o Ceará reduziu em 52,3% a taxa de mortalidade infantil em uma década. Goiás reduziu, entre 2006 e 2013, a taxa estadual de distorção da idade do aluno/série em 16,7% e diminuiu em 9,8 pontos percentuais a evasão escolar entre 2007-2013.

Para os economistas da Macroplan, um dos mais urgentes esforços a ser focado em todos os Estados é o investimento na profissionalização da gestão. O grande problema para os Governadores, do ponto de vista da lógica política, é que o retorno de boa parte deste investimento, especialmente em projetos de educação, saúde e melhoria das instituições, entre outros, vai se dar alguns anos depois.

No estudo da Macroplan, embora sublinhados os inegáveis avanços em vários Estados brasileiros, sobressaem notícias preocupantes. Mesmo os Estados com os melhores desempenhos ainda não alcançam os índices de referência mundiais. São bons exemplos os Estados de Santa Catarina e São Paulo que exibem as mais baixas taxas de homicídio do Brasil (de 12,8 e 15,1/ 100 mil habitantes, respectivamente), porém bem acima dos países da OCDE (4,5/ 100 mil habitantes).

A escolaridade média no Distrito Federal - de 10 anos - é inferior à dos EUA, de 13 anos. E as mais baixas taxas de mortalidade infantil do país, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul - de 11 óbitos por 1000 nascidos vivos são maiores do que o padrão aceitável da Organização Mundial da Saúde (OMS) - de 10 óbitos por 1000 nascidos vivos.

Embora deixando a desejar em relação a indicadores mundiais - não só de economias desenvolvidas, mas de alguns países igualmente emergentes -, os Estados de Santa Catarina e São Paulo são, ao lado do Distrito Federal, os que têm os melhores desempenhos do Brasil na análise dos 69 indicadores que compõem o estudo da Macroplan, enquanto Alagoas, Pará e Maranhão estão na lanterna.

Demétrio Magnoli - 'Bolivariano', você disse?

• Chavistas usam vermelho o tempo todo; Lula e Dilma trocam-no pelo branco quando as urnas se fecham

- Folha de S. Paulo

Gilmar Mendes será, daqui a dois anos, o único ministro do STF não indicado pelo lulopetismo. À Folha (3/11), ele alertou para o risco de que o Supremo se transforme numa "corte bolivariana". Seria o lulopetismo uma versão descolorida do "bolivarianismo"?

A revolução "bolivariana" definiu como meta política a unificação da América Latina contra os EUA e, como meta econômica, a implantação de um sistema estatista. O lulopetismo não compartilha tais metas. Na economia, procura modernizar o capitalismo de estado varguista. Na política, almeja apenas uma perene hegemonia. O regime chavista é revolucionário; o lulopetismo é populista e conservador. Sob o chavismo, a Venezuela tenta ser o que Cuba tenta deixar de ser, afundando no vórtice de uma crise terminal. Sob o lulopetismo, o Brasil reitera seus próprios anacronismos, desperdiçando oportunidades históricas.

Há uma diferença crucial de origem. O movimento "bolivariano" é fruto da ruptura: nasceu do colapso da democracia oligárquica venezuelana, no "Caracazzo", o levante popular de 1989, e consolidou-se após o frustrado golpe antichavista de 2002. O lulopetismo, pelo contrário, é fruto da continuidade: surgiu com a redemocratização e conquistou o Palácio na moldura da estabilização da democracia. O chavismo substituiu a desmoralizada elite política venezuelana; o lulopetismo integrou-se às elites políticas tradicionais, até converter-se no fiador principal de seus negócios e interesses.

Palavras servem para iludir. Os ataques "bolivarianos" da campanha de Dilma contra Aécio funcionaram como toque de reunir para os movimentos sociais, o PSOL e os intelectuais de esquerda. Confrontado com o risco de derrota, o lulopetismo precisava recuperar uma franja periférica do eleitorado que se dispersava. Concluída a disputa, o governo realiza o giro ortodoxo, abandonando a "nova matriz econômica". O estelionato, anunciado pela elevação dos juros, tem roteiro conhecido: recomposição de preços de combustíveis, choque de tarifas de energia, ajuste fiscal. Os chavistas vestem-se de vermelho o tempo todo; Lula e Dilma trocam o vermelho pelo branco assim que as urnas se fecham.

Palavras têm alguma importância. Na sua Resolução Política pós-eleitoral, o PT toca os acordes de uma marcha "bolivariana" para acusar a oposição de representar o "retrocesso neoliberal", articular "manobras golpistas" e fomentar "o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância". O lulopetismo, um fruto da democracia, não aprendeu até hoje a regra de ouro do pluralismo político: a legitimidade da oposição. O seu único traço comum com o "bolivarianismo" encontra-se nessa hostilidade visceral à convivência democrática entre "verdades" distintas e concorrentes. O PT não é "bolivariano", mas carrega no seu DNA a convicção pervertida dos antigos partidos comunistas: imagina-se portador da Chave da História.

O alerta de Gilmar Mendes, formulado como um equívoco conceitual, deve ser refraseado. Sob o influxo das nomeações lulopetistas, o STF não se transformará numa "corte bolivariana", pois não será posto a serviço de um projeto político revolucionário. Contudo, depois da experiência do "mensalão" e na hora da eclosão do escândalo na Petrobras, o governo procurará submeter o Supremo a um torno mecânico implacável, convertendo-o em Tribunal da Absolvição.

O contexto faz a diferença. Na "pátria bolivariana", a independência dos Poderes só existe como preceito constitucional irrelevante; no Brasil, apesar de tudo, o preceito conserva sua força, como evidencia o decreto legislativo que fulminou os "conselhos participativos". Compete ao Senado avalizar as indicações presidenciais para o STF. Diante de uma opinião pública atenta, os senadores encararão o dever de vetar a nomeação de "juízes do Partido". A Venezuela não é aqui.

Miriam Leitão Visão de Alckmin

- O Globo

O governador Geraldo Alckmin foi a maior vitória da oposição e ao mesmo tempo precisa de ajuda urgente do governo Federal para enfrentar a crise da água. Numa entrevista que fiz com ele esta semana, Alckmin disse que não acha isso contraditório porque não crê que o dinheiro dos contribuintes pertença aos governos. Diz que a relação entre União e estados tem que ser republicana.

“O que caracteriza a Federação é a parceria entre entes federativos, e nós precisamos ser republicanos. O dinheiro do governo do estado não é do PSDB. É do contribuinte. O recurso federal não é do PT. Ele é do contribuinte brasileiro, é da população que paga impostos, então os recursos devem ir para onde há necessidade.”

Alckmin recebeu a mesma crítica, na gestão da água, que o governo federal recebeu na crise de energia: a de adiar medidas necessárias por causa da eleição. Ele nega que tenha feito racionamento, apesar das inúmeras vezes em que a imprensa mostrou torneiras secas em reportagens. Segundo ele, foram “questões localizadas”. Ele também não elevou o preço para quem aumentou o gasto de energia. Limitou-se a dar bônus a quem gastou menos. Isso produziu uma contradição econômica: caiu o preço do produto que está em aguda falta no estado. Nas leis da economia, o que é escasso tem que ficar mais caro. Há deflação na água em São Paulo.

Ele voltou a defender o fim dos impostos federais sobre a água. Hoje a Sabesp recolhe e transfere para o governo federal mais de R$ 600 milhões por ano em PIS/Cofins sobre água.

— Há quatro anos, em debate na campanha eleitoral, todos os candidatos — Serra, Marina e inclusive a presidenta Dilma — se comprometeram de zerar os impostos federais sobre água e saneamento. Não há imposto estadual nem municipal, mas há uma fortuna de contribuição que fica todinho com o governo federal, dinheiro que poderia ser usado para investimento. As empresas de água e saneamento são hoje arrecadadoras de impostos para o governo federal.

O governador Alckmin ganhou em 644 cidades e só perdeu em Hortolândia. Acabou com a ideia de que o ABC é reduto petista, e o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, teve 67% dos votos no estado. Se fizer um bom governo, Alckmin é uma opção para 2018. Por outro lado, nesta mesma semana, o senador Aécio Neves voltou ao Senado com um discurso forte em que afirmou que será uma oposição incansável. Perguntei a ele se será Aécio Neves o candidato do PSDB em 2018. Ele disse que “se for o Aécio, terá o nosso apoio”.

Sobre a divisão do país pós-eleição, ele culpa a forma do PT de fazer política e ao mesmo tempo elenca os vários tópicos nos quais o país precisa avançar:

— O PT faz a campanha eleitoral da divisão. Isso é populismo. É maniqueísta. A política moderna não é assim. O país só vai caminhar se todo mundo remar na mesma direção. Política não se obriga, política se conquista. Temos que conquistar todas as regiões, estados, falar ao cotidiano das pessoas, dos problemas que o país tem, como saúde, agora que a população está vivendo mais, segurança pública, combate às drogas, eficiência do gasto público.

Alckmin se pergunta:

— Como um país vocacionado para crescer está com crescimento zero? Estamos destruindo a indústria brasileira.

Ele voltou a condenar as manifestações que falaram em impeachment e na volta dos militares. Diz que o PSDB se diferenciou, condenando esse tipo de atitude. Mas diz que é preciso reconhecer que há uma crise de legitimidade política no país, que se resolve, na visão dele, com reforma política, com voto distrital, mas não se mostrou entusiasmado com o fim da reeleição.

Rolf Kuntz - As lições em atraso da presidente

- O Estado de S. Paulo

Fazer mais do mesmo, como se estivesse completando quatro anos de sucesso, foi a grande promessa da presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral. Mas nesta semana ela se declarou disposta a cuidar do "dever de casa" para conter a inflação e ajeitar as contas públicas.

Não contou como vai fechar os buracos do Orçamento nem como planeja atacar os focos inflacionários. Também se dispensou de explicar por que deixou de fazer a lição até agora.

Nenhum dos grandes problemas da economia brasileira surgiu em 2014. Nos 12 meses até outubro os preços ao consumidor subiram 6,59%. Com algum vento a favor, a taxa anual poderá ser um pouco menor, mas ainda estará perto de 6%, onde tem estado, invariavelmente, desde 2010. Neste ano, o superávit primário do setor público sumiu, no período de janeiro a setembro.

Foi destruído pelo efeito combinado da estagnação econômica, de renúncias fiscais mal planejadas e de um aumento eleitoreiro de gastos. A gestão orçamentária pode ter sido pior que nos três anos anteriores, mas nunca foi boa nesse período. Quanto ao baixo crescimento, foi uma das marcas mais notáveis dos últimos quatro anos. O dever de casa foi sempre adiado.

O governo sempre tentou justificar a inflação elevada e o desarranjo orçamentário como se contribuíssem para a criação de empregos ou, no mínimo, para evitar demissões. Essas alegações podem ter convencido algumas pessoas, especialmente por causa da crise e do desemprego muito alto em várias economias desenvolvidas. Além disso, as comparações quase sempre favoreceram o Brasil. Isso se explica, em parte, pelo uso de um indicador incompleto, produzido mensalmente pelo IBGE em seis áreas metropolitanas. Dados muito mais amplos, produzidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, nova versão da Pnad, compõem um quadro muito menos favorável.

O levantamento tradicional do IBGE, nas seis áreas metropolitanas, mostrou neste ano taxas de desocupação variando entre 4,8% e 5%. O número de setembro foi 4,9%. Num universo muito maior, a Pnad Contínua apontou 7,1% de desemprego no primeiro trimestre e 6,8% no segundo.

Este dado foi divulgado nesta semana. Mostrou uma melhora, sem dúvida, mas comprometeu, mais uma vez, as bravatas oficiais sobre a desocupação no Brasil e nos países avançados.

O desemprego brasileiro no segundo trimestre, 6,8%, foi maior que o registrado no mesmo período em 16 dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A lista inclui, entre outros, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Áustria, México, Holanda, Chile e Nova Zelândia. Inclui também a maior economia do mundo, a americana, e a maior da Europa, a alemã, além do Reino Unido.

Entre abril e junho a desocupação na Alemanha ficou em 5,1% da força de trabalho. Nos Estados Unidos variou de 6,3% para 6,1%. Nos meses seguintes, o setor privado continuou criando postos de trabalho na economia americana. A primeira estimativa de outubro, publicada nesta sexta-feira, indicou uma taxa de 5,8%, menor até que a da pesquisa mensal conduzida pelo IBGE nas seis tradicionais áreas metropolitanas.

Vários desses países, mesmo entre os mais atingidos pela crise iniciada em 2008, crescem mais que o Brasil e exibem taxas de inflação muito menores.

Pelas novas estimativas da OCDE, publicadas nesta semana, a economia dos Estados Unidos deve crescer 2,2% neste ano, 3,1% no próximo e 3% em 2016. A da Alemanha, 1,3%, 1,1% e 1,8%.

A da Coreia, 23,5%, 3,8% e 4,1%. A do México, 2,6%, 3,9% e 4,2%. A do Reino Unido, 3%, 2,7% e 2,5%. A do Brasil, 0,3%, 1,5% e 2%. Mesmo a da zona do euro, ainda afetada pela recuperação lenta e insegura da França e da Itália, deve exibir um resultado médio melhor que o do Brasil neste ano e pouco inferior nos dois seguintes: 0,8%, 1,1% e 1,7%.

Fora das bravatas oficiais, o Brasil perde, portanto, nas comparações com várias das maiores economias e com boa parte das industrializadas e emergentes (nem é preciso citar a China, com expansão estimada em 7,3%, 7,1% e 6,9% nos três anos). O Brasil exibe crescimento menor, inflação muito maior e desemprego mais alto, quando confrontado com esses países.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seu sucessor terá o desafio de substituir uma política anticíclica por uma de expansão. Esse palavrório explica boa parte do desastre brasileiro. A insistência numa política anticíclica, nos últimos anos, foi um enorme equívoco, porque os principais problemas do País estavam longe de ser cíclicos. O investimento era baixo antes da crise de 2008, continuou baixo e até encolheu no último ano.

A estagnação industrial é consequência de velhos desacertos, agravados nos últimos anos, como tributação errada, infraestrutura deficiente, baixo índice de expansão e até de renovação da capacidade produtiva, escassez de mão de obra qualificada e até qualificável, e assim por diante.

Não há nada de cíclico nesse quadro. Houve simplesmente a interrupção de mudanças importantes iniciadas nos anos 1990, como a abertura econômica, a integração internacional, a disciplina orçamentária, a melhora da gestão pública e a modernização produtiva. Em vez de avançar, o governo desperdiçou centenas de bilhões com má administração de recursos públicos, envolveu o Tesouro e o BNDES numa perigosa relação promíscua, favoreceu o capitalismo de laços, com políticas seletivas de apoio, e perdeu todo sentido de estratégia e de ação de longo prazo. Enquanto isso, outros emergentes continuaram crescendo e seus governos pelo menos tentaram políticas de modernização.

Abandonada a agenda de reformas, prevaleceram o populismo, o namoro constante com o autoritarismo, a apropriação partidária do Estado e a incompetência. Nenhum dever de casa será bem feito se essa herança for mantida.

*Rolf Kuntz é jornalista