segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A Carta de 2022*

Entre as principais razões do êxito na expressiva adesão, estão seu caráter plural e a ausência de vinculação a partido político

Comemoramos hoje os 45 anos do histórico evento ocorrido no pátio da Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia e em repúdio ao regime militar.

Em 8 de agosto de 1977, o professor Goffredo da Silva Telles Júnior leu a “Carta aos Brasileiros”, documento que se tornou um marco na luta pelo restabelecimento do Estado de Direito.

Diante dos atuais ataques à democracia e às instituições, com questionamentos infundados ao processo eleitoral brasileiro, insinuações de adiamento do pleito e, até mesmo, de eventual desprezo ao resultado da vontade popular, resolvemos editar uma nova “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros”, com o propósito de reafirmar o pacto de 1988 e o respeito às regras do jogo democrático, aproveitando a simbologia da data para fazer uma justa homenagem à carta de 1977.

Entre as principais razões do êxito na expressiva adesão à “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, estão seu caráter plural e a ausência de vinculação a partido político, vocalizando o anseio da sociedade civil.

Fernando Gabeira - Presença de Anitta na corrida eleitoral

O Globo

Missionários do tipo Bolsonaro não têm outro caminho, exceto celebrar a atenção do universo que os rejeita

 ‘O mundo começava nos seios de Jandira/Depois surgiram outras peças da criação’.

Esses versos do maior poeta da minha cidade natal, Murilo Mendes, me inspiram para dizer que, de certo modo, as eleições começam na voz de Anitta, e as outras partes da criação.

A cantora brasileira decidiu apoiar Lula, vestiu uma calça vermelha com uma estrela do PT.

Foi um grande impulso para Lula, pelo menos nas redes sociais, onde suas citações cresceram 30%.

Numa sabatina como candidato, Ciro Gomes lamentou que o apoio de Anitta tenha sido dado a outro que não ele. E Bolsonaro ficou furioso, mas aproveitou a popularidade da cantora para atacá-la por sua opção política.

Escolhidos, preteridos ou mesmo rejeitados, os candidatos não podem ignorar Anitta, que tem mais de 60 milhões de seguidores nas redes sociais.

Recentemente, no Rio, Anitta foi chamada a arbitrar a disputa pelo Senado, dividida entre Alessandro Molon, do PSB, e André Ceciliano, do PT. Molon pediu e ganhou o apoio da cantora.

Bruno Carazza* - Lula vence o segundo round das eleições

Valor Econômico

Petista isola Ciro, racha terceira via e afasta novidades

Na minha coluna de 04/04/2022, argumentei que Jair Bolsonaro havia largado na frente e vencido o primeiro round na disputa eleitoral deste ano. Naquela época, a janela para mudanças partidárias tinha acabado de fechar, e os partidos que apoiam o presidente (PL, PP e Republicanos) haviam atraído os maiores contingentes de parlamentares no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas.

Após quatro meses de intensas negociações, pouca coisa mudou. A campanha está na rua, mas nada de bombástico surgiu: nenhum candidato surpresa apareceu, o PSD de Kassab não se aliou formalmente a ninguém, não há frente ampla e nem terceira via. Até as intenções de voto evoluem lentamente, com alterações milimétricas, sempre dentro da margem de erro a cada rodada de pesquisas.

Com as convenções partidárias encerradas, Bolsonaro mantém a tríade de partidos do Centrão lhe dando suporte, enquanto Lula, do outro lado, manteve num amplo espectro de legendas de esquerda a sua base de sustentação. A terceira via, como esperado (vide coluna de 21/03/2022), se fragmentou entre Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB, PSDB, Cidadania e Podemos), Soraya Thronicke (União Brasil) e Luiz Felipe d’Avila (Novo).

Persio Arida: Superação da crise exige primazia da economia política

Por Cristiano Romero / Valor Econômico

Persio Arida e outros cinco economistas lançaram um conjunto de propostas para o governo que comandará o país a partir de 2023

A superação da crise econômica exigirá a primazia da chamada economia política, diz Persio Arida, um dos formuladores do Plano Real. Além da necessidade de corrigir o legado de “distorções” criadas pelo atual governo e o Congresso, a próxima gestão terá que propor uma série de reformas institucionais nas áreas tributária, orçamentária e administrativa, uma agenda que demandará grande capital político. A tarefa, observa o economista, será hercúlea e terá que ser tocada em meio a um cenário internacional difícil.

Em coautoria com cinco economistas, Persio lançou na sexta-feira um conjunto de propostas para o governo que o país terá a partir de 2023, intitulado “Contribuições para um Governo Democrático e Progressista”. No documento, os autores vão além da proposição de medidas e trazem algo inédito: a combinação de propostas para que o país avance do ponto de vista institucional com outras que assegurem, durante o período de ajuste, o apoio da sociedade às reformas. A ideia é instituir “programas especiais de gastos”, que na área social aumentariam a despesa de 0,4% do PIB para 1% do PIB.

“O governo precisa de reformas que são absolutamente necessárias para o Brasil retomar o crescimento econômico”, disse ele ao Valor. “É sempre possível que tudo dê certo e não precise de nada e o programa de gastos especiais pode ser anunciado mais para frente”, disse.

Sergio Lamucci - Com foco no curto prazo, Brasil vende o futuro

Valor Econômico

O foco do governo está em iniciativas para tentar melhorar a popularidade de Bolsonaro, sem preocupação com o custo ou com as suas consequências

O governo de Jair Bolsonaro opera em 2022 com o foco em medidas de curto prazo para melhorar a popularidade do presidente, não importando o efeito sobre a credibilidade das instituições fiscais do país. Iniciativas com horizonte de poucos meses terão impacto duradouro. Há reduções de impostos baseadas no pressuposto de que o aumento corrente de receitas será permanente, afetando a situação fiscal futura de Estados e municípios. Elevações de gastos previstas para vigorar apenas no segundo semestre devem se perenizar. Há ainda adiamento de despesas - caso dos precatórios - que poderão gerar uma bola de neve de dívidas nos próximos anos.

Algumas dessas medidas foram tomadas por meio de Propostas de Emenda à Constituição (PEC), banalizando um instrumento que deveria ser usado de modo criterioso. Para completar, iniciativas de estímulo à demanda ocorrem num ambiente em que o Banco Central (BC) se esforça para derrubar uma inflação que roda na casa dos dois dígitos há quase um ano. Com isso, os juros terão de ficar mais altos por mais tempo.

Jairo Saddi - Juros, juros e mais juros

Valor Econômico

Só estímulo à competição, redução da inadimplência e simplificação tributária e regulatória podem derrubar juros ao consumidor

Roberto Troster, em artigo neste Valor (“Métricas bancárias”, 15/07/22, pág. A-8), sugeriu acertadamente uma padronização no conceito e na convenção da aplicação de juros. Diz ele: “No Brasil, é desnecessariamente mais complexa, usando várias medidas de juros em vez de uma, como no resto do mundo. Um mesmo número pode representar valores muito díspares dependendo se a taxa vier expressa em taxa mês ou taxa ano, o ano com 252 dias ou com 365 dias, com e sem o IOF, que tem uma alíquota efetiva que varia de acordo com o dia do mês”. Acho que é meritório, a partir de sua sugestão, ampliar o debate.

Demétrio Magnoli -17h44, hora de Moscou

O Globo

O pouso de Nancy Pelosi em Taipé é uma evidência definitiva de que Washington opera sem bússola estratégica

O avião militar de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos EUA, aterrissou às 22h44 em Taipé, capital de Taiwan, na terça passada. Em Moscou eram 17h44, e o sol brilhante do verão russo incandescia as cúpulas douradas do Kremlin. Naquele momento, Putin terá erguido um brinde. A troco de nada, o governo Biden violava o catecismo geopolítico, estabelecendo uma confrontação simultânea com seus dois rivais nucleares.

Pelosi chefia um Poder separado e, portanto, não precisa de autorização do Executivo para viajar ao lugar que quiser. Há décadas, ela denuncia as políticas autocráticas da China. Mas, no fim das contas, pertence ao mesmo partido de Joe Biden, que tinha o dever de dissuadi-la da mais imprópria das visitas. O pouso em Taipé é uma evidência definitiva de que Washington opera sem bússola estratégica.

Mathias Alencastro* - Brasil rifou agenda do clima

Folha de S. Paulo

Enquanto isso, da Colômbia à França há uma mudança de paradigma calcada em valores e pragmatismo

A última semana foi frustrante para aqueles que pensavam que, pela primeira vez, o clima teria um papel central na eleição.

A candidatura ao Senado de um dos mais ilustres defensores do meio ambiente da República, Alessandro Molon (PSB-RJ), está comprometida por trivialidades partidárias. Ciro Gomes (PDT), que há muito vagueia longe de terras democráticas, qualificou a questão indígena de "política de papo-furado".

É muito difícil criticar Simone Tebet (MDB) depois do festival de machismo na convenção que formalizou a indicação da sua vice, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Mas, na condição de presidenciável, ela terá de explicar a contradição entre sua promessa de zerar o desmatamento e o envolvimento histórico do seu grupo na predação de terras em Mato Grosso do Sul.

Marcus André Melo* - A balbúrdia eleitoral

Folha de S. Paulo

Por que Bolsonaro promove ataques às urnas eletrônicas?

A balbúrdia em torno da urna eletrônica é puro Bolsonaro. Parafraseando Hofstader, no clássico "The Paranoid Style in American Politics", de 1964, é exemplo do estilo paranoico. As eleições acabaram sendo uma das poucas questões em que ainda se pode fazer alarido. (O autoritarismo do STF é outra). Pode-se fingir que não é governo, é vítima.

A denúncia sobre uma conspiração no dia das eleições é consistente com um espírito antissistema, que tem se mostrado crucial para o sucesso eleitoral na nova onda populista global. Eis o Leitmotiv principal da investida denuncista. A balbúrdia poderia servir para mobilizar o núcleo duro de apoiadores; flexionar músculos visando eventuais retaliações futuras; e, não menos importante, monopolizar a agenda pública em torno do assunto. Mas há custos —não desprezíveis— que não foram antecipados. O saldo líquido é negativo.

Celso Rocha de Barros - Propostas para um crescimento justo

Folha de S. Paulo

Ideias de especialistas merecem ser discutidas com atenção pelas forças democráticas

Na semana passada, um grupo de especialistas que representam o que o debate público brasileiro tem de melhor lançou um documento com propostas para o Brasil.

O texto se chama "Contribuições para um governo democrático e progressista" e tem como autores Bernard Appy, Carlos Ari Sundfeld, Francisco Gaetani, Marcelo Medeiros, Pérsio Arida e Sérgio Fausto.

Arida foi um dos criadores do Plano Real, Appy foi um dos melhores nomes da equipe econômica de Lula, Medeiros é um dos maiores especialistas brasileiros em desigualdade de renda. É um grupo politicamente heterogêneo e altamente qualificado.

Ruy Castro - Um erro providencial

Folha de S. Paulo

Todo mundo erra, mas alguns abusam

Outro dia, li numa biografia do escritor inglês Graham Greene que, em crise entre sua fé católica e uma irrefreável tendência à devassidão, Greene tentou se matar. Mas fez tudo errado: bebeu colírio. Como não morreu, decidiu conciliar a fé e a devassidão.

Ninguém erra por querer. O cantor Eddie Fischer, ex-marido de Elizabeth Taylor e pai de Carrie Fischer, acordou meio bleargh e, fazendo confusão com seus comprimidos, tomou com água os dois fones sem fio de seu aparelho de surdez. Já Keith Richards, dos Rolling Stones, cheirou as cinzas do pai achando que fosse cocaína. E o pai de minha amiga Ana Luiza, pensando estar vendo aranhas, matou de chinelo os cílios postiços que ela deixara na mesa.

Carlos Pereira - Lutas pela democracia e anticorrupção são irmãs

O Estado de S. Paulo

Democracia sem um juiz forte e independente é o hall de entrada de iliberalismos.

No dia 11 de agosto a sociedade dará mais uma demonstração de vigor da democracia brasileira com o lançamento da “Nova Carta aos Brasileiros”. O que é mais emblemático nessa iniciativa é a compreensão de que a defesa da democracia passa por um movimento a favor do juiz... a favor da Justiça Eleitoral... a favor das urnas eletrônicas... a favor das regras do jogo democrático.

Dificilmente alguém discordaria dessa frase. Num olhar mais atento, entretanto, percebemos que o grau de concordância é condicionado pelos ganhos/perdas proporcionados pelas próprias decisões judiciais.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Sem sinal

Folha de S. Paulo

Estreia do 5G mostra que será preciso cuidado para não acentuar desigualdade no acesso à tecnologia

A estreia da rede 5G, nova geração da telefonia celular, teve impacto reduzido para a maioria dos consumidores. A nova tecnologia promete velocidade até dez vezes superior à oferecida pelo 4G à transmissão de dados, mas essa experiência ainda é muito incomum.

Nas capitais que já têm antenas conectadas à nova rede, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa, a cobertura é parcial e a resposta do sinal se mostrou oscilante nos primeiros dias de operação, na semana passada.

Parte do problema era previsível a esta altura do processo de instalação do sistema. A frequência usada pela rede exige um número maior de antenas, separadas entre si a distâncias menores do que as requeridas pelos sistemas atuais.

Será preciso tempo para instalar os equipamentos que viabilizarão o funcionamento pleno da rede. Estima-se que o 5G demandará dez vezes mais antenas do que as que sustentam as redes mais antigas.

Além disso, ainda são muito poucas as pessoas que carregam no bolso os aparelhos mais modernos, habilitados para se conectar ao sistema e usufruir os benefícios prometidos pela nova tecnologia.

Poesia | Castro Alves - As duas flores

 

Música | Caetano Veloso, Gilberto Gil - Sampa