sexta-feira, 28 de março de 2014

Opinião do dia: Friedrich Hegel

Na história política, o individuo, na singularidade da sua índole, do seu gênio, das suas paixões, da energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que caracteriza a sua individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. Na história da filosofia, estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm o cunho da personalidade nem do caráter individual; deste modo, as obras são tanto mais insignes quanto menos a responsabilidade e o mérito recaem no individuo singular, quanto mais este pensamento liberto peculiaridade individual é, ele próprio, o sujeito criador. Primeiramente, estes atos do pensamento, enquanto pertencentes à história, surgem como fatos do passado e para além da nossa existência real. Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da história; ou, para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o passado é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de modo permanente está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano.

Friedrich Hegel (1770-1831), Introdução à história da filosofia, p. 121. Abril S.A Cultural, 1985

Avaliação da refinaria de Pasadena pela Petrobras foi feita às pressas

Análise de informações para compra da unidade demorou 20 dias

Bruno Rosa, Ramona Ordoñez, Henrique Gomes batista e Ronaldo D’Ercole – O Globo

RIO e SÃO PAULO - O processo de compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras envolveu um prazo “muito curto” de due diligence — espécie de auditoria considerada um dos passos essenciais em processos de fusões e aquisições, na qual são avaliadas questões jurídicas, financeiras e operacionais. A afirmação foi feita pela própria Petrobras e está em documento confidencial, datado de 31 de janeiro de 2006, ao qual O GLOBO teve acesso.

Ao todo, o processo levou cerca de 20 dias. Especialistas ressaltam que essa etapa de análise de informações de uma empresa consome, em média, de dois a três meses. Em um dos anexos do documento, a consultoria contratada pela estatal na ocasião, a BDO Seidman, de Los Angeles, nos EUA, diz que, em razão do “tempo limitado”, a estatal deveria buscar sua própria avaliação de dados.

Batizada de Projeto Mangueira, a compra da refinaria envolveu a reorganização de cinco afiliadas da Astra Trading. De acordo com o documento da Petrobras, ocorreu a fusão de três destas companhias, criando a chamada Pasadena Refining Systems (Nova PRSI), dona da refinaria em si, na qual a Petrobras comprou 50% em 2006. Paralelamente, para vender combustível de Pasadena, a Petrobras criou com a Astra outra empresa, a PRSI Trading.

O documento da Petrobras detalha o processo de análise de dados. Após a coleta de documentos e reuniões com diretores financeiros da Astra entre os dias 11 e 25 de novembro de 2005, a estatal teve de fazer nova avaliação em apenas cinco dias.

“A estrutura mudou e passou a considerar a fusão das três empresas... tornou-se necessário verificar possíveis contingências contábeis/tributárias dessas outras empresas. Isso foi feito no escritório da Astra entre os dias 23 a 27 de janeiro de 2006. (...) Contamos com a ajuda dos consultores da BDO Selman LLP, que elaboraram relatório com base em entrevistas e documentos disponibilizados pela CFO (diretora financeira) da Astra, Kari Burke. Sobre esse aspecto, ressaltamos que o prazo foi muito curto em relação ao que uma due diligence normalmente requer. Não obstante, o trabalho procurou cobrir o máximo possível”, diz o documento.

Como forma de se precaver de possíveis passivos, a equipe jurídica e tributária da estatal recomendou a criação de cláusula que responsabilizava a Astra por qualquer tributo devido em decorrência da reestruturação. O documento de 31 de janeiro de 2006 foi assinado por gerentes da área tributária e jurídica da Petrobras. A análise foi feita um dia após o recebimento do relatório feito pela BDO Seidman — e não Selman, como escrito no documento.

No dia anterior, a BDO enviou carta a Renato Tadeu Bertani, presidente da Petrobras America na qual menciona prazo de 25 a 30 de janeiro de 2006 para análise de dados, data que tem uma pequena variação em relação ao documento da Petrobras. “Devido ao tempo limitado para completar esse projeto e programação urgente de trabalho de campo, ficamos limitados na nossa capacidade de identificar assuntos que poderiam potencialmente ser encontrados em uma avaliação mais detalhada”, diz a carta da BDO, que lista questionamentos à estatal.

Acordo previa comitê de proprietários
A consultoria vai além: “Esses serviços e procedimentos não podem servir de base para divulgar todos os assuntos significativos sobre as atividades relacionadas ao projeto e à operação de aquisição, ou para divulgar erros, fraudes ou outros atos ilegais que possam existir”. A BDO diz que as análises até aquele momento não eram suficientes para constituir auditoria aceita pelos modelos estabelecidos. “PAI (Petrobras) deve fazer sua própria diligência”.

Para Rodrigo Meyer Bornholdt, da Bornholdt Advogados, o prazo necessário para auditoria é de dois a três meses. Ele explica que não há obrigação de se fazer due diligence, mas ela é fundamental na aquisição de negócio de médio a grande porte.

O advogado José Antônio Miguel Neto, sócio do Miguel Neto Advogados, explica que a avaliação é feita em várias etapas. A primeira é a comercial, na qual é analisado o negócio em si, como faturamento e equipamentos. A segunda etapa é contábil, com análise financeira. Por fim, é feita a análise jurídica, para conhecer e calcular os riscos, como passivos ambientais, tributários e judiciais.

— Uma due diligence demora, em média, de 45 a 60 dias — afirmou, ressaltando que estava falando em tese, sem conhecer o caso de Pasadena.

Procurada, a Petrobras não respondeu. A BDO confirmou que já fez trabalhos para a Petrobras. A Astra não retornou as ligações.

Em outro desdobramento do caso, o comitê de proprietários de Pasadena, que a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse ao GLOBO desconhecer até a última segunda-feira, já fazia parte do acordo de acionistas assinado entre a estatal e o grupo belga Astra, em 2006. O representante da Petrobras era o ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso na semana passada sob suspeita de envolvimento com lavagem de dinheiro.

Petrobrás deu convite VIP para genro de Dilma

Estatal recebeu parentes de ministros e parlamentares em camarote no GP Brasil

Andreza Matais e Murilo Rodrigues Alves – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Lista inédita dos convidados VIP da Petrobrás para assistir ao GP do Brasil de Fórmula 1, em novembro, revela que o agrado, originalmente usado pela estatal “para relacionamento com grandes clientes corporativos”, teve como beneficiados o genro da presidente Dilma Rousseff, Rafael Covolo; dois filhos do ministro da Fazenda, Guido Mantega; e a irmã, o cunhado e a sobrinha da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, além de parlamentares da base aliada e seus familiares.

Mantida em segredo pela gerência executiva de Comunicação Institucional da Petrobrás, a lista foi obtida pelo Estado via Lei de Acesso à Informação. O cargo é ocupado desde 2003 por Wilson Santarosa, sindicalista amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido de informações foi negado duas vezes, e só foi atendido por decisão da presidência da Petrobrás.

As cortesias dão direito à vista privilegiada da pista do Autódromo de Interlagos, além de acesso aos boxes das escuderias, hospedagem em hotel cinco estrelas e buffet de bebidas e comidas durante o GP. Estima-se que o custo unitário dos convites oferecidos pela Petrobrás chegue a R$ 12 mil – o ingresso mais caro vendido ao público no ano passado, com benefícios semelhantes, valia R$ 11.200.

A Secretaria de Comunicação Social do governo afirmou ontem que Covolo “compareceu ao GP Brasil” a convite da Petrobrás, desacompanhado da mulher, Paula Rousseff, e que Dilma não sabia do convite. “A presidenta disse que, se tivesse sido (consultada), teria dito para ele não comparecer. Isso porque, embora não exista irregularidade, não vale o incômodo.”

Procurado, Covolo avisou pela secretária que “não tinha interesse em se manifestar”.

O secretário adjunto do gabinete de segurança da Presidência, coronel Artur José Solon Neto, também foi convidado. O oficial confirmou o convite, mas disse não saber por que foi escolhido.

Pedido. Dois filhos de Mantega, que preside o Conselho de Administração da Petrobrás, estão na lista VIP da estatal, assim como amigos deles. O pedido de ingressos para Carolina e Leonardo Mantega partiu do próprio ministro. Procurada, Carolina fez um pedido. “Por favor, eu gostaria que você não escrevesse essa matéria.” Perguntada se ganhou o ingresso do pai, repetiu: “Eu não quero falar sobre isso”. Leonardo não foi localizado.

Os filhos de Mantega levaram um amigo, Felipe Isola. “Eu fui convidado porque gosto de assistir à Fórmula 1. O camarote é minha posição preferida”, afirmou. Questionou se tinha algum negócio com a estatal que justificasse a cortesia, Isola disse que a pergunta deveria ser feita à Petrobrás. “Não sou da empresa, mas conheço pessoas de lá”, afirmou.

Em nota, Mantega afirmou que “os convites mencionados pela reportagem foram dados pela empresa devido ao fato de o ministro ser conselheiro da companhia, tratando-se de uma prática usual da Petrobrás para com seus conselheiros”.

Miriam Belchior é outra ministra e conselheira da Petrobrás cujos parentes foram ao camarote. Irmã da ministra, Virgínia confirmou ao Estado ter recebido o ingresso, mas desligou o telefone ao ser perguntada sobre como ganhou o convite.

Por meio de sua assessoria, a ministra afirmou que membros do Conselho de Administração constituem um dos diversos “públicos” de interesse da estatal. “Esse procedimento é praxe por parte de qualquer empresa pública ou privada que patrocina grandes eventos. Não infringe nenhuma norma estabelecida.”

O marido da titular das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o subtenente do Exército Jeferson da Silva Figueiredo, também foi convidado para o camarote VIP. A ministra recebeu o convite, mas afirmou não ter ido ao evento. Figueiredo não quis falar sobre o assunto.

Base. O ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também tem um parente na lista VIP da Petrobrás. O neto do senador, João Fernando Sarney, não quis falar sobre o convite.

O Estado identificou na lista nove deputados federais, um distrital e dois senadores, além de suas mulheres, irmãos, namoradas e filhos. Lá estão o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o senador Gim Argello (PTB-DF), dois dos principais articuladores contra a CPI da Petrobrás.

O gabinete de Argello confirmou o uso da credencial, estendida ao irmão e à mulher, mas disse que “não utilizou o serviço de hospedagem a que tinha direito”. Chinaglia não quis comentar.

Por meio de assessoria, Marcus Pereira Aucélio, subsecretário de Política Fiscal do Tesouro, Paulo Fontoura Valle, subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, e Marcio Holland, secretário da Fazenda, confirmaram a presença no evento, mas disseram que, ao aceitarem o convite, “consideraram que a Petrobras é uma empresa pública e não enxergaram nenhum potencial conflito de interesses, por se tratar de evento promocional e com convite extensivo a várias outras autoridades”.

Confira a lista completa de convidados:

Cota da presidente: Rafael Covolo, genro de Dilma

Família Mantega: Carolina Mantega, filha do ministro Guido Mantega (Fazenda); Leonardo Mantega, filho do ministro Guido Mantega; Felipe Isola, amigo da filha do ministro Guido Mantega; Reginaldo Valença, amigo da filha do ministro Guido Mantega

Ministra do Planejamento: Miriam Belchior, ministra (Planejamento) e membro do Conselho de Administração da Petrobrás; Virginia Belchior Carneiro de Campos, irmã da ministra; José Renato Carneiro de Campos, cunhado da ministra; Carolina Belchior Carneiro de Campos, sobrinha da ministra

Relações Institucionais
Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais; Jeferson Figueiredo, marido da ministra e sargento do Exército

Deputados
Arlindo Chinaglia (PT-SP); Cleber Verde (PRB-MA); Fernando Ferro (PT-PE); Guilherme Mussi (PP-SP); João Carlos Bacelar (PR-BA); José Guimarães (PT-CE); Marcelo Cerqueira (ex-deputado); Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP); Protógenes Queiroz (PC do B-SP); Weliton Prado (PT-MG); Cristiano Araújo (PTB-DF) e namorada

Senadores
Gim Argello (PTB-DF) e irmão; Clovis Fecury (DEM-MA)

Tesouro
Marcus Pereira Aucélio, subsecretário de Política Fiscal; Paulo Fontoura Valle, subsecretário da Dívida Pública

Aprovação do governo Dilma cai sete pontos, revela CNI-Ibope

Com a queda, chegou a 27% o percentual dos que consideram o governo ruim, contra 20% na pesquisa anterior

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - A popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff teve uma expressiva queda no mês de março. O percentual da população que considera o governo ótimo ou bom caiu de 43% para 36%. Este é o resultado da pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Ibope. O último levantamento havia ocorrido em novembro. Esta foi a primeira queda na aprovação da presidente Dilma desde julho, quando ocorreram as manifestações de rua em todo o país.

Na pesquisa, o percentual daqueles que consideram o governo ruim subiu para 27%, contra 20% registrados em novembro. A parcela da população que aprova a maneira da presidente Dilma governar também caiu de 56% para 51%, Já a parcela insatisfeita com sua maneira de governar cresceu de 36% para 43%.

A confiança na presidente Dilma também diminuiu. A parcela da população que confia na presidente caiu de 52% para 48%. O governo teve uma piora na avaliação em todas as nove áreas pesquisadas.

O descontentamento é maior principalmente quanto á condução da política econômica, com preocupações em relação à inflação e ao desemprego.

A pesquisa mostra que apenas 36% esperam que o restante do governo Dilma seja ótimo ou bom, contra 45% na pesquisa anterior. Já 28% apostam que o restante do governo será ruim.

Na área de Educação: a desaprovação subiu para 65%, contra 58% na pesquisa anterior. Na área de Saúde, a insatisfação subiu para 77%, contra 72% na pesquisa anterior; Na área da Segurança Pública, o descontentamento chegou a 76%.

A melhor avaliação continua sendo na área de Combate à Fome, com 48% de aprovação ao governo e 49% de insatisfação.

A pesquisa mostrou que 77% desaprovam a política econômica de forma geral. No caso específico da inflação, a insatisfação é de 71%. Na área de meio ambiente, descontentamento é de 54%.

A pesquisa foi realizada de 14 a 17 de março, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Foram entrevistadas 2002 pessoas, em 141 municípios.

Na comparação entre os governos de Lula e Dilma, 42% consideram que a administração da presidente é pior, contra 34% na anterior. E 46% acreditam que os dois governos são iguais.

A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o protocolo BR-00053/2014.

Aécio diz que inflação alta e baixo crescimento influenciaram queda na popularidade de Dilma

Presidenciável ironiza temperamento forte da presidente e afirma que o comportamento de Dilma contamina a percepção da população

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à Presidência da República, comentou a queda na popularidade da presidente Dilma, identificando uma insatisfação das pessoas com a inflação e o crescimento. O senador citou também o mais recente escândalo envolvendo a Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena (EUA) em 2006, que gerou prejuízos para a estatal.

— Esses indicadores que mostram queda na popularidade da presidente são resultado do conjunto da obra.

 Não é apenas Pasadena e a Petrobras, que impactam na consciência dos brasileiros e nas expectativas. Mas é o conjunto da obra. A equação do PT é inflação alta com crescimento baixo. Na infraestrutura, patinamos até aqui. Tudo parado, no meio do caminho, custo Brasil elevadíssimo. Os resultados começam a apontar para um governo que vive os seus estertores — afirmou Aécio.

O senador também ironizou o que é conhecido nos bastidores do Palácio do Planalto como o temperamento forte da presidente, afirmando que isso contamina a percepção das pessoas.

— O presidencialismo no Brasil é tão imperial que o mau humor do presidente reflete na sociedade — disse.

DEM diz que insatisfação era percebida nas ruas
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), afirmou que o resultado da pesquisa atesta “a insatisfação com a condução do governo federal”, algo que, na visão dele, já é percebido nas ruas.

“Era evidente que a perda de credibilidade do governo sentida aqui e lá fora ia ser revertida em uma maior rejeição pelo povo. A queda na aprovação de governo já era percebida. A crise chegou ao dia a dia do brasileiro, seja com a inflação alta, com a falta de solução para a área de segurança pública, com a ineficiência em modernizar o transporte público, com a alta da gasolina. O brasileiro está vendo que esse país está sem rumo. Acredito que essa é uma situação que tende a se agravar até as eleições”, avalia Mendonça.

Aécio: pesquisa aponta para 'estertor' do governo Dilma

Agência Estado

BRASÍLIA - O pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), afirmou nesta quinta-feira que os resultados da pesquisa CNI/Ibope apontam para o "estertor" do governo Dilma Rousseff. Entre outros dados negativos para o Palácio do Planalto, a sondagem revelou que a avaliação positiva do governo caiu de 43% para 36% em relação ao levantamento anterior, realizado em dezembro.

"Esses indicadores que mostram queda na popularidade da presidente é resultado do conjunto da obra. Não é apenas Pasadena e a Petrobras, que impactam na consciência dos brasileiros e expectativas. Mas é o conjunto da obra", afirmou o tucano, em entrevista na entrada do plenário do Senado.

Para Aécio Neves, a equação do PT é "inflação alta com crescimento baixo". "Na infraestrutura, patinamos até aqui. Tudo parado, no meio do caminho, custo Brasil elevadíssimo. Os resultados começam a apontar para um governo que vive os seus estertores", disse.

A sondagem do Ibope, realizada entre os dias 14 e 17 deste mês, foi feita antes da revelação da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de que Dilma, quando presidia o Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de parte da refinaria de Pasadena com base em um resumo juridicamente "falho".

Em 2012, a estatal concluiu a compra da refinaria e pagou ao todo US$ 1,18 bilhão por Pasadena, que, sete anos antes, havia sido negociada por US$ 42,5 milhões à ex-sócia belga. A oposição protocolou na manhã de hoje um pedido de CPI no Senado para investigar supostas irregularidades na estatal.

Eduardo Campos diz que existe no país hoje uma ‘crise de confiança’

Pré-candidato do PSB à sucessão presidencial diz que a “crise” se deu pois população esperava mais

O socialista afirma que o Brasil precisa de um governo mais transparente

Letícia Lins - O Globo

RECIFE - O pré-candidato do PSB à sucessão presidencial, Eduardo Campos, em entrevista nesta quinta-feira, após cerimônia do lançamento do site do Instituto Miguel Arraes, em Recife, voltou a criticar o governo de Dilma Rousseff. Campos afirmou que o “cristal quebrou”, referindo-se à confiança da população em relação ao mandato da presidente.

- Existe atualmente no país uma “crise de confiança”. O cristal quebrou, pois eles, desde o primeiro mandato do Lula, foram eleitos com a esperança de melhorar o Brasil e não conseguiram fazê-lo. As pessoas não creem e não percebem a consistência de um projeto no governo - criticou ante da divulgação de pesquisa CNI/Ibope que registrou queda na aprovação do governo Dilma.

Ele disse também que falta ao governo uma estratégia de longo prazo e uma maior transparência.

- A nação deseja um outro país onde quem precisa vencer é a “esperança por um Brasil melhor”, que traduza a energia renovadora que emergiu das manifestações nas ruas. É necessário um governo com mais transparência, com mais diálogo, com estruturação de políticas públicas efetivamente discutidas, com alianças focadas não na distribuição de cargos, mas no debate sobre programas, sobre o futuro de cada área. É essa tentativa que nós temos que fazer, para que as instituições sejam revigoradas na confiança da sociedade - disse.

Queda de popularidade do governo e CPI da Petrobras dão força ao ‘volta Lula’

PT se mobiliza para guerrilha digital e promove seminário para assessores de deputados e senadores petistas para treiná-los

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - A queda de popularidade do governo Dilma Rousseff e a perspectiva de criação da CPI da Petrobras deram força ao coro do "volta Lula" no PT. Em conversas reservadas, nesta quinta-feira, petistas defendiam que o ex-presidente dispute as eleições de outubro à Presidência da República, em vez da reeleição de Dilma.

— Essa mulher é um horror — desabafou um integrante da base petista, refletindo o clima sobretudo na bancada do PT na Câmara.

Além das críticas ao suposto voluntarismo de Dilma e à falta de gosto da presidente pela política, petistas reclamavam da comunicação do governo. Parlamentares do PT e da base aliada culpam a própria presidente pela criação da CPI da Petrobras, devido à nota divulgada pelo Palácio do Planalto afirmando que ela apoiou a compra da refinaria de Pasadena baseada em “documentação falha” e “informações incompletas”.

Vice-presidente do PT e coordenador de mídias sociais, Alberto Cantalice tentou minimizar a queda de popularidade da gestão Dilma, mas afirmou que é preciso melhorar a comunicação de governo:

— Isso é normal, mas faz com que a gente trabalhe mais. Tem que intensificar a comunicação, porque tem muita coisa realizada e pouco divulgada.

É justamente na comunicação que o PT está investindo, de olho nas eleições de outubro. O partido promoveu, na tarde desta quinta-feira, um seminário para cerca de 80 assessores lotados em gabinetes de deputados e senadores petistas para treiná-los para a guerrilha digital. O evento, intitulado “Presença Digital”, está sendo replicado em diversas capitais para treinar a militância do partido.

Um dos palestrantes foi o jornalista Leandro Fortes, autor de artigo apócrifo, publicado no Facebook oficial do PT, chamando o pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, de “playboy mimado”. O texto foi considerado um erro por dirigentes petistas e causou uma crise na pré-campanha.

Nesta quinta-feira, de acordo com participantes do evento, que foi fechado, Fortes pregou o ativismo digital e recomendou que cada gabinete de deputado e senador monte uma estrutura de comunicação para fazer frente à grande imprensa. Fortes teria citado a pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira para dizer que a campanha já começou e que é preciso “ir pra cima”, “se mobilizar”.

O jornalista também mostrou como vai ser o novo site do PT, que passará a abrigar uma agência de notícias própria. No seminário também foram apresentadas pesquisas apontando a grande presença dos brasileiros nas redes sociais e foram expostas estratégias para aumentar a audiência do portal do PT.

"Fortalecer a presença nas mídias sociais é estratégico neste momento. Por isso, compartilhar informações, fortalecer vínculos e organizar procedimentos é fundamental para potencializar as ações dos gabinetes e das lideranças no Congresso Nacional", diz texto de apresentação do evento.

'Não há mais o que fazer', diz Renan sobre CPI da Petrobrás

Presidente do Senado deve negociar com líderes nesta quinta a data das próximas etapas antes da abertura das investigações; governistas trabalham para senadores retirarem assinaturas

Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que "não há mais o que fazer" sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás. "Evidentemente que uma CPI em ano eleitoral mais atrapalha do que facilita a vida do Brasil. Mas agora não há mais o que fazer, porque temos o requerimento, o fato determinado, o pedido, o número de membros da própria comissão. Vamos marcar a data, fazer a conferência dos nomes e instalar a CPI",

Publicamente contra a comissão, Renan reiterou em seguida que ainda precisa negociar com os líderes da Casa a data das próximas etapas anteriores à abertura das investigações. Embora a oposição tenha conseguido uma assinatura a mais do que o necessário - o requerimento recebeu a adesão de 28 senadores; eram necessárias, pelo menos, 27 -, a CPI ainda não está garantida. Isso porque, regimentalmente, os senadores podem retirar seu apoio.

Na noite de quarta mesmo, quando se confirmou a coleta da quantidade de nomes necessários, governistas já começaram a trabalhar para convencer adeptos da CPI a retirarem o apoio.

Os próximos passos, a partir de agora, são marcar a data de leitura do requerimento de CPI no Plenário e fazer a conferência de assinaturas. Renan disse que, ainda nesta quinta, vai conversar com as lideranças partidárias para avaliar a melhor data para isso. "Vou conversar por telefone com os lideres e ver com eles do ponto de vista do encaminhamento, da necessidade de nós instalarmos rapidamente como deveremos fazer."

O presidente do Senado não garantiu, contudo, que o requerimento siga para plenário já na próxima semana. Isso porque, os líderes da base tentarão atrasar o quanto puderem a instalação.

Até a meia noite do dia em que o pedido de investigação for lido no plenário, os senadores poder retirar assinaturas. Caso a investigação continue contando com o apoio de, no mínimo, 27 parlamentares, a Comissão de Inquérito é instalada. Para isso, contudo, Renan ainda precisará indicar os membros da CPI. Para minimizar os danos ao governo em ano eleitoral, a estratégia será tentar colocar um peemedebista na presidência e um petista a relatoria.

Para Aécio, requerimento da CPI deve ser lido na terça

Erich Decat - Agência Estado

Protocolado o pedido de criação da CPI da Petrobras nesta quinta-feira, 27, integrantes da oposição consideram que a leitura do documento por parte do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ocorra apenas na próxima terça-feira (1º).

Feita a leitura em plenário do requerimento, o governo terá até a meia noite para tentar convencer pelo menos dois dos 28 senadores que apoiaram a criação da comissão a retirar a assinatura. Caso isso ocorra, o número de apoiamentos cai para 26 o que impediria a instalação da CPI, uma vez que regimentalmente são necessários no mínimo 27 assinaturas.

Segundo técnicos legislativos ouvidos pela reportagem, não há nenhum prazo determinado para a leitura em plenário do documento, o que pode ser postergado por Renan, ligado ao Palácio do Planalto.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), também trabalha com a possibilidade de os deputados de oposição conseguirem o mínimo de 171 assinaturas para estender a CPI do Senado para uma Comissão Mista com a participação das duas Casas. O tucano considera, como um prazo limite para os deputados, a segunda semana de abril. A data coincidiria com a próxima sessão do Congresso em que poderia ser lido o requerimento da CPMI.

Graça está se contaminando pelas versões, diz Aécio

Ricardo Brito e Bernardo Caram - Agência Estado

O pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), criticou nesta quinta-feira o fato de a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, desconhecer a existência de um comitê interno da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), que se sobrepunha ao Conselho de Administração da estatal. "Eu acho que ela está se contaminando um pouco pelas versões de cima: eu não sabia", disse Aécio, em entrevista no Senado.

A revelação da existência do Conselho foi feita por Graça Foster em entrevista ao jornal O Globo publicada ontem. O tucano disse não considerar adequado que a presidente da Petrobras, por quem tem um "enorme respeito pessoal", "dê uma desculpa como essa". "Isso assusta a todos. Para mim, pessoalmente, ela ainda era ou é um dos pilares para que este assalto aos cofres da Petrobras seja ainda maior", afirmou.

Aécio Neves disse que Graça Foster é "uma mulher de bem, mas perdeu a capacidade de comandar". "Acho que as forças que estão no seu entorno são tão poderosas e mandam tanto que se chegou ao cúmulo de ter um comitê que ela própria desconhecia e decidindo o destino de milhões e milhões de dólares da companhia", destacou.

Hoje, reportagem da Folha de S. Paulo revela que há mais de sete anos a Petrobras sabia da existência o comitê misterioso que Graça Foster diz não conhecer. A gestão da estatal está sob pressão desde a semana passada depois que o jornal O Estado de S. Paulorevelou que a presidente Dilma Rousseff, quando presidia o Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de parte da refinaria de Pasadena com base em um resumo juridicamente "falho".

Em 2012, a estatal concluiu a compra da refinaria e pagou ao todo US$ 1,18 bilhão por Pasadena, que, sete anos antes, havia sido negociada por US$ 42,5 milhões à ex-sócia belga. A oposição anunciou ontem ter recolhido assinaturas para pedir no Congresso a criação de uma CPI para investigar irregularidades na estatal.

Papéis da Petrobras chegaram adulterados a Imbassahy

Agência Estado

Documentos da Petrobras encaminhados ao Congresso em resposta a requerimento de informação do líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), chegaram adulterados ao gabinete do parlamentar em dezembro de 2012. Conforme relato do tucano à Câmara, o envelope estava aberto e era possível observar pela numeração que faltavam páginas.

Após queixa formal com a presidência da Câmara, o deputado recebeu um pedido de desculpas. O documento foi recuperado na sua totalidade. Em ofício encaminhado ao então primeiro secretário da Câmara, Eduardo Gomes (PSDB-TO), o tucano afirmou que "deixei de receber as informações encaminhadas pelo ministro Edison Lobão, em seu teor original, solicito providências imediatas para averiguar o modo como ocorreu a violação do citado sigilo, identificando os respectivos responsáveis."

Uma investigação da Câmara concluiu que houve um erro de um servidor. No requerimento, o deputado solicitava à Petrobras informações sobre a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, que gerou um prejuízo aos cofres públicos de U$ 1,2 bilhão.

PT reage à CPI da Petrobras com ameaça de investigar governos do PSDB e PSB

Gleisi Hoffmann e Vicentinho anunciam que vão propor inclusão no escopo da CPI caso Alstom e operações no Porto de Suape

Júnia Gama, Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - Em uma reação orquestrada do PT à criação da CPI da Petrobras, representantes do partido na Câmara e no Senado anunciaram nesta quinta-feira que irão tentar incluir investigações que afetem diretamente governos tucanos e do PSB, para afetar os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE). O líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP) e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciaram à imprensa na tarde desta quinta-feira que irão propor a parlamentares inclusão, como adendo à CPI já protocolada, de investigações sobre o cartel de trens e fraude em licitações em contratos firmados com o metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), de governos tucanos de São Paulo.

— Se eu tiver um fator determinado que envolva recursos federais, eu posso tentar ampliar o objeto da investigação da CPI. Eu tive muito cuidado ontem em dizer no plenário ao senador Aécio que nós nunca tratamos desse caso aqui no Congresso Nacional, nunca trouxe isso porque sempre avaliei que esse é um tema técnico que tem que ser analisado pelo Ministério Público, Tribunal de Contas, como eu acho que também tem que ser da Petrobras. Eles estão politizando, aproveitando um momento político-eleitoral para trazer uma CPI e para fazer a discussão. Ora, tem que ter coerência, se eu sugiro uma investigação política para algo que já tem uma investigação técnica, porque é que eu sugiro só para o outro? — questionou a senadora.

— O que eu cobrei do senador Aécio Neves, que não foi deputado estadual e não é deputado estadual, é a coerência como presidente nacional do seu partido, como alguém que quer liderar um processo político e vai disputar a presidência da República: qual é a orientação que ele dá ao seu partido, ao seu governador em São Paulo, à sua base sobre esta investigação. Penso que tem que ter coerência – completou Gleisi.

A senadora afirmou que, nesse momento, não está trabalhando com a hipótese de uma nova CPI. Gleisi irá consultar sua equipe técnica e com a base aliada para discutir o tema.

Já o líder do PT disse que se o adendo não for aceito pelos que propuseram a CPI da Petrobras, irá discutir com sua bancada, na próxima semana, a apresentação de uma CPI neste sentido. Além de mirar as denúncias envolvendo os governos tucanos de São Paulo, sem explicitar o motivo, Vicentinho avisou que o adendo poderá poderá incluir investigações relacionadas ao Porto de Suape, em Pernambuco, e na Companhia de Energia de Minas Gerais.

— Nossa proposta é passar o Brasil à limpo. Vamos propor a inclusão de um adendo nesta CPI da Petrobras. Se não aceitarem, vou propor que minha bancada apresente uma CPI mista para investigar o caso Alston, Suape, Cemig e outros. O nosso partido tentou fazer uma CPI em São Paulo e o governo de lá nunca deixou investigar. Se abre uma CPI com fato concreto de um erro administrativo, por que não abrir com outro que tem mais do que corrupção comprovada? — avisou o líder, acrescentando:

— Queremos uma CPI que apure todos os fatos. Não podemos ficar calados diante de uma CPI que tem caráter eleitoreiro. Consideramos uma CPI parecida com a CPI do Fim do Mundo ( de 2006, que apurou o esquema do mensalão).

Governistas reagem à CPI da Petrobrás e pedem apurações contra adversários

Enquanto tentam impedir criação da comissão, aliados querem ampliar investigações para que casos envolvendo o PSDB e o PSB também sejam analisados pelo Congresso

O Estado de S. Paulo

Brasília - Diante da iminente abertura da CPI da Petrobrás, os aliados da presidente Dilma Rousseff passaram a defender investigações no Congresso de suspeitas envolvendo o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos, seus adversários nas eleições de outubro.

Com 28 assinaturas, uma a mais que o mínimo necessário, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) protocolou ontem pela manhã o pedido de abertura de uma CPI exclusiva no Senado para investigar a Petrobrás.

Para constranger a oposição, o governo orientou os parlamentares da base a anunciarem que também vão querer investigar, na mesma CPI, o cartel de trens e Metrô em São Paulo, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), e eventuais irregularidades no Porto de Suape, em Pernambuco, Estado governado por Eduardo Campos (PSB).

"Se eu tiver um fato determinado que envolva recursos federais, eu posso tentar ampliar o objeto da investigação", disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil.

"Por que não incluir na CPI o caso Alstom, em São Paulo, e as obras do Porto de Suape? Queremos ver Eduardo Campos explicar o Porto de Suape, alvo de denúncia de corrupção. É uma obra com dinheiro federal", emendou o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).

Os governistas não desistiram do esforço de tentar retirar assinaturas do pedido de CPI, que ainda não foi oficialmente instalada no Senado.

O requerimento protocolado ontem teve apoio de três senadores da base aliada do governo e cinco considerados "independentes". Diz que a comissão investigará denúncias de irregularidades cometidas na Petrobrás entre 2005 e 2014. Quatro pontos são citados: compra da refinaria de Pasadena; pagamento de propina a funcionários da estatal pela companhia holandesa SBM Offshore para obtenção de contratos com a Petrobrás; acusação de que plataformas estariam sendo lançadas ao mar sem equipamentos de segurança; e indícios de superfaturamento na construção de refinarias.

"Infelizmente o PT trata empresas estatais, como a Petrobrás, como propriedade privada. Queremos reestatizar a Petrobrás, e não submeter a empresa a grupos partidários", disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Pré-candidato à Presidência, o tucano disse que a oposição quer ler o requerimento em plenário e instalar a CPI na terça-feira.

O plano da oposição é instalar uma comissão mista, com senadores e deputados. Há dois requerimentos pedindo uma CPI para investigar a Petrobrás correndo na Câmara: um deles, do PPS, já tem 178 assinaturas – sete a mais do que o mínimo necessário. O PSDB, no entanto, lidera agora nova coleta de assinaturas para sintonizar o objeto da comissão protocolada no Senado com a da Câmara.

Embora Aécio tenha falado em instalar a CPI na terça-feira, cabe ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ler o requerimento em plenário. Aliado do governo, Renan tentará protelar a leitura. Ontem, ele se mostrou resignado. "Não há mais o que fazer", disse, sobre a abertura da CPI.

Confronto. A ordem do Planalto é partir para o confronto com a oposição. Se não puder barrar a CPI, o governo deve fazer o presidente e o relator da comissão. Para o comando da CPI, um dos nomes mais citados é o do senador Romero Jucá (PMDB-RR). O PT tende a ficar com a relatoria. "O que não podemos admitir, de forma especial na Petrobrás, é que a questão da disputa eleitoral afete uma investigação que já está ocorrendo. É da vida", disse a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de saída do governo – ela será substituída pelo também petista Ricardo Berzoini.

Pelos cálculos do Planalto, dos 26 titulares da CPI, os partidos da base aliada terão 20. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, passou o dia de ontem ao telefone com senadores e dirigentes de partidos da base aliada. O assunto foi a CPI da Petrobrás.

Eduardo avalia popularidade de Dilma e avisa: "ela já teve sua oportunidade"

Aline Moura - Diário de Pernambuco

O governador Eduardo Campos enxergou a queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, de 43% para 36%, segundo dados da pesquisa Ibope, com naturalidade. Segundo ele, à medida que as eleições forem se aproximando e a população entender que vai precisar debater o futuro, o desempenho da presidente será cada vez mais avaliado e criticado.

Em dezembro, 43% da população avaliou o governo de Dilma como "bom e ótimo", em fevereiro o índice caiu para 39% e agora, no levantamento realizado entre os dias 14 e 17 de março, a pedidos da Confederação Nacional das Indústrias, foi para 36%.

"Acho que a medida que a população vá se ligando mais que esse é um ano eleitoral, que é um ano de debater o futuro, de fazer escolhas, e for prestando mais atenção ao governo, a tendência vai ser essa. Na verdade, à medida que as pessoas forem olhar o desempenho do governo, a tendência será cada vez uma posição mais crítica ao governo. As pessoas podem até poupar a presidenta, mas cada vez compreendem mais que ela teve a oportunidade dela e, agora, é a hora da mudança", afirmou, após prestigiar o Congresso Estadual de Vereadores e Servidores de Prefeituras e Câmaras Municipais, em Gravatá, no Agreste do estado.

Críticas a Dilma e ao governo federal dão o tom do programa do PSB

Críticas diretas à presidente Dilma Roussef foram feitas pelos pré-candidatos

Agência Estado

A Petrobras realmente teve papel de destaque no programa nacional do PSB que foi ao ar na noite de hoje. Numa gravação de 10 minutos, o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva se apresentaram ao Brasil sem uso de muitos recursos de marketing para debater os principais problemas do país, entre eles o da petrolífera, cuja gestão se envolveu este mês em denúncias de corrupção. A ideia do programa foi mostrar um diálogo intimista entre os dois líderes e reforçar como o partido atualmente vê a realidade.

O governador não dispensou críticas diretas à presidente Dilma. "Ela teve a oportunidade de chegar à Presidência da República, de receber um legado do presidente Lula, com quem nós trabalhamos, e ela poderia ter feito com o Brasil aquilo que ela se comprometeu a fazer, que era seguir melhorando o Brasil. Não desmanchar o que estava sendo feito", declarou.

O programa foi feito pela Link Propaganda, do jornalista Édson Barbosa, que continua à frente do marketing de Eduardo Campos na disputa presidencial. Segundo fontes da legenda socialista, a publicidade vai tentar passar ao telespectador simplicidade e a relação próxima entre Eduardo e Marina, que se aliaram desde outubro do ano passado para enfrentar o PT nas próximas eleições. Os dois conversarão frente a frente, sem tom de fantasia.

Pior notícia para presidente é o 'Volta, Lula'

Raymundo Costa

BRASÍLIA - A pior notícia da pesquisa para a presidente Dilma Rousseff é o reaquecimento do movimento "Volta, Lula", uma espécie de gripe mal curada que ameaça se transformar numa pneumonia.

O PT e os aliados esperavam a queda na avaliação positiva do governo desde a semana passada, mas foram surpreendidos por uma pesquisa do mesmo Ibope mostrando a presidente ainda numa faixa de conforto, com expectativa de reeleição em 1º turno.

A pesquisa divulgada ontem não mediu a intenção de votos, mas a avaliação do governo. E ela não é boa, o que deve ser visto como um sinal de advertência pela presidente. Afinal, quanto mais bem avaliado é o governo, melhores são suas chances na eleição.

Até a pesquisa da semana passada, o "Volta, Lula" permeava todas as articulações políticas em Brasília, desde a escolha de candidatos a governador até a nomeação de ministro. Os 43% de intenções de voto aferidos pelo Ibope funcionaram como um freio nas expectativas.

Os 36% de avaliação do governo da pesquisa divulgada ontem têm o efeito contrário. Dilma entrou na perigosa "faixa dos 30%" - como se diz nos corredores dos palácios de Brasília - que é a margem de tolerância do PT para a manutenção de sua candidatura.

A pesquisa que surpreende, na realidade, é a da semana passada. Afinal, a presidente da República atravessa uma zona de turbulência capaz de desestabilizar qualquer governante: demora para nomear o novo ministério (o que indica hesitação ou pouco apreço pelo Congresso), a nomeação de mais um ministro de Lula, sem falar num bate-boca infrutífero com o PMDB.

A confrontação com os políticos pode até render algum dividendo para a presidente, mas o rebaixamento da nota soberana do Brasil tem seu preço: o governo reage com desdém, como na fábula da uva e a raposa. Mas comemorou de maneira ufanista quando a mesma agência concedeu o grau de investimento.

Por último, mas certamente o mais importante: a inflação está com viés de alta. Na eleição de outubro pode estar próxima ao teto da meta. Como estava quando Dilma desabou 30 pontos nas pesquisas, em junho do ano passado. A carestia é que causa a insegurança em relação ao emprego, quando o desemprego é mínimo, detectada pela pesquisa CNI/Ibope.

Definitivamente, as próximas semanas não indicam alívio político para Dilma, como indica o recrudescimento das articulações para a criação da CPI da Petrobras.

Rogério Furquim Werneck: Promessas que murcham

Um a um, desaparecem os grandes trunfos eleitorais com que a presidente contava

Como pétalas de uma flor que perde o viço, a cada dia despenca mais um dos grandes trunfos com que a presidente contava para se reeleger. E, para horror do Planalto, os supostos trunfos, ao despencar, têm-se convertido em questões espinhosas que a presidente passou a ter de evitar.

A Copa foi a primeira grande decepção. O governo já não alimenta esperança de ainda poder extrair benefícios políticos palpáveis da realização do campeonato mundial no Brasil. Muito pelo contrário.

A esta altura, se dará por satisfeito se puder evitar que o evento traga sérios danos ao projeto da reeleição. Traumatizada por ter sido vaiada na abertura da Copa das Confederações, no ano passado, a presidente não quer mais se expor a risco similar. Já resolveu que não fará qualquer tipo de pronunciamento durante a Copa. Vai simplesmente prender o fôlego, cruzar os dedos e esperar que o evento chegue ao fim.

A política do governo para o setor elétrico é outra pétala que, ao cair, converteu-se em espinhos. No início de 2013, o governo estava convencido de que a redução de tarifas de energia, em ato triunfal que culminava uma década de intervenções de Dilma Rousseff no setor elétrico, tinha vasto potencial eleitoral. Ledo engano. Mal passado um ano, o setor tornou-se fonte de permanente pesadelo para o Planalto. E a presidente agora se vê sem outra alternativa que a de rezar para que os céus não a obriguem a impor um racionamento de energia elétrica em plena campanha eleitoral.

Outro grande trunfo que parece ter despencado de vez são os supostos feitos do governo na exploração e produção de petróleo, que agora se converteram em tema extremamente incômodo para o Planalto. Nessa área, o desgaste vem ocorrendo já há algum tempo. Ao dar por encerrada a longa permanência do antecessor de Maria das Graças Foster na presidência da Petrobras, em fevereiro de 2012, o governo não teve como deixar de reconhecer que a empresa vinha enfrentando problemas sérios. Boa parte deles advindos de decisões impensadas tomadas ao longo dos dois mandatos do presidente Lula.

Obrigada a se engajar em projetos de investimento pouco defensáveis e extremamente onerosos, a Petrobras vem tendo dificuldades para cumprir a parte que lhe cabe no problemático modelo do pré-sal. Um modelo que sobrecarrega a empresa com a tríplice exigência de que exerça o monopólio da operação dos campos do pré-sal, mantenha pelo menos 30% em cada consórcio que vier a explorar tais campos e, ainda por cima, assegure que os equipamentos utilizados tenham percentuais absurdamente altos de “conteúdo local”. Tais problemas já seriam graves o bastante, não estivesse a empresa sendo também rapidamente descapitalizada pela política populista de controle de preços de derivados de petróleo.

Nas últimas semanas, esse fluxo de más notícias sobre a Petrobras tornou-se, de repente, bem mais desgastante para o Planalto, quando se noticiou que, em 2006, a então ministra Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da empresa, havia dado voto favorável à compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em decisão altamente lesiva aos interesses dos acionistas.

A emissão precipitada de uma nota de esclarecimento pela Presidência, a demissão sumária de diretor de subsidiária da Petrobras envolvido na decisão de 2006, a prisão de outro ex-diretor da empresa, o pedido de instauração de CPI pela oposição e a criação de comissão de apuração interna na Petrobras já adicionaram combustível suficiente à crise para que ela se prolongue por muito tempo mais. E, possivelmente, passe a se nutrir também da investigação de outros projetos controvertidos, como o da Refinaria Abreu e Lima, concebido para ser desenvolvido com a estatal venezuelana PDVSA, que, orçado em US$ 2,5 bilhões, deve custar mais de US$ 18 bilhões.

Para agravar esse melancólico fim de festa, o governo se viu agora obrigado a lidar com mais um resultado desastroso da sua “nova matriz econômica”: um vergonhoso rebaixamento da classificação da dívida brasileira.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Fonte: O Globo

Fernando Gabeira* : Passa, passa, Pasadena

Água era o meu foco. Revisitava o Rio Piracicaba castigado pela seca. No passado fui a algumas reuniões do Comitê de Bacia. Já havia na época uma preocupação com o futuro do rio, tão solicitado: abastece uma região em crescimento e mais 8,8 milhões de pessoas em São Paulo.

Lembrei, à beira do Piracicaba, alguns autores no fim do século passado afirmando que a água seria o petróleo do século 21, com potencial de provocar conflitos e até guerras. Mas ao falar no petróleo como algo do passado constatei que está na ordem do dia. Enterraram uma fortuna em Pasadena, no Texas. Outra Pasadena, na Califórnia, é a cidade cenário da sitecom The Big Bang Theory.

Pois é, nossa Pasadena começou com um singular ponto que se expande de forma vertiginosa. Foi uma espécie de Big Bang na consciência dos que ainda duvidavam que a Petrobrás estivesse indo para o buraco nas mãos dos aliados PT e PMDB. Diante dos fatos, vão-se enrolar de novo na Bandeira Nacional, sobretudo num momento de Copa do Mundo, fulgurante de verde e amarelo.

Os críticos da Petrobrás não são bons brasileiros. Bons são os que se apossaram dela e a fizeram perder R$ 200 bilhões nestes anos e despencar no ranking das grandes empresas do mundo.

O líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), disse que a perda desse dinheiro faz parte do jogo capitalista de perde e ganha. Se fosse numa empresa privada, dificilmente seus diretores resistiriam no cargo. Em Pasadena enterrou-se dinheiro público. O que deveria ser mais grave em termos políticos.

Pasadena é uma boa versão com sotaque latino para Waterloo. Dilma Rousseff afirma que assinou a compra da refinaria no Texas sem conhecer as cláusulas. Depois disso conheceu. Ela lançou uma nota para explicar o momento em que não sabia. E se esqueceu de explicar todos os anos de silêncio e inação.

Os diretores que teriam omitido as cláusulas que enterram mais de US$ 1 bilhão em Pasadena continuaram no cargo. Até a coisa explodir mesmo. Tenho a impressão de que tentaram sentar-se em cima da refinaria de Pasadena. Sentaram-se numa baioneta, porque não se esconde um negócio desastroso de mais de US$ 1 bilhão.

Os fatos começam a se desdobrar agora que os olhares se voltam para esse refúgio dos nacionalistas, defensores da Pátria enriquecidos.

Uma empresa holandesa cobrou US$ 17 milhões da Petrobrás por serviços que não constavam do contrato. A primeira parcela da compra em Pasadena foi declarada como US$ 360 milhões, mas no documento americano ela foi registrada como uma compra de US$ 420 milhões. Refinarias compradas no Japão têm as mesmas cláusulas do contrato desastroso de Pasadena.

Um amigo de Brasília me disse ao telefone: "Se esse Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobrás, abrir a boca, a República vai estremecer". Conversa de Brasília. Quantas vezes não se falou o mesmo de Marco Valério?! O que pode trazer revelações são os computadores, pen drives e documentos encontrados na casa dele. A Polícia Federal não acreditava que ele iria falar, tanto que o prendeu com o argumento de que estava destruindo provas.

Passa, passa, Pasadena, quero ver passar. A Petrobrás da nossa juventude, dos gritos de "o petróleo é nosso", se tornou o reduto preferido dos dois grandes partidos que nos governam. O petróleo é deles, do PT e do PMDB. Levaram o slogan ao pé da letra e suas pegadas na maior empresa do País demonstram que devoram até aquilo que dizem amar.

De certa forma, isso já era evidente para mim nas discussões dos contratos do pré-sal. Eles impuseram uma cláusula que obriga a Petrobrás a participar de todos os projetos de exploração. Não deram a chance à empresa de recusar o que não lhe interessava.

Tudo isso é para fortalecer a Petrobrás, isto é, fortalecer-se com ela, com uma base de grandes negócios, influência eleitoral e, de vez em quando, uma presepada nacionalista, tapas imundos de óleo nas costas uns dos outros, garrafas de champanhe quebradas em cascos de navios.

Lá, no Texas, os magnatas do petróleo usavam aqueles chapéus de cowboy. Lá, em Pasadena. Aqui, os nossos magnatas em verde e amarelo estão com poucas opções no momento. Ou reconhecem o tremendo fracasso que é a passagem dos "muy amigos" da Petrobrás pela direção da empresa ou se enrolam na Bandeira e acusam todos de estarem querendo vender a Petrobrás. Diante das eleições e da Copa do Mundo, devem optar por uma alternativa mais carnavalesca.

Mas os fatos ainda não são de todo conhecidos. Deverá haver uma intensa guerra de bastidores para que não o sejam, especialmente os documentos nas mãos da Polícia Federal.

Pasadena. Certos nomes me intrigam. O mensalão não seria o que foi se não houvesse esse nome tão popular inventado por Roberto Jefferson, que no passado apresentava programas populares de TV. Pasadena soa como algo esperto, dessas saidinhas em que você vai e volta em cinco minutos, leve e faceiro. Mas pode ser que Pasadena não passe e fique ressoando por muito tempo, como o mensalão. E se tornar uma saidinha para comprar cigarros, dessas sem volta, para nunca mais.

Criada uma comissão no Congresso Nacional, envolvidos Ministério Público e Polícia Federal, podem sair informações que, somadas às de fontes independentes, deem ao País a clara visão do que é a Petrobrás no período petista. Não tenho esperança de que depois disso todos se convençam de que a Petrobrás foi devastada. Mas será divertido vê-los brigando com os fatos, com as mãos empapadas de óleo.

Diante do Rio Piracicaba meu foco é a água. Na semana passada, vi como na Venezuela o uso político do petróleo deformou o país. No Brasil o alvo da voracidade aliada é a Petrobrás.

E se a água é o petróleo do século 21, daqui a pouco vão descobri-la, quando vierem lavar as mãos nas margens dos nossos rios.

*Fernando Gabeira é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Merval Pereira: Queda confirmada

Na semana passada já havia acontecido a mesma coisa, mas não passou de especulação: a Bolsa subiu a partir do boato de que o Ibope detectara uma queda da candidatura da presidente Dilma que acabou se confirmando apenas em parte naquela ocasião.

Hoje, a confirmação da queda de popularidade da presidente fez com que a Bolsa voltasse a subir e o dólar a se desvalorizar diante da Real, seguindo a previsão dos economistas: se a reeleição da presidente for inevitável, os mercados reagirão de mau-humor, fazendo a Bolsa despencar e o dólar subir, como aconteceu com Lula em 2002.

Caso contrário, como a nova pesquisa do Ibope indica, a possibilidade de alternâncias no poder faz com que a mercado financeiro festeje mudanças futuras. Em alguns cenários na pesquisa anterior, Dilma caia de 43% para 40%, mas mantinha a tendência de fechar a eleição no primeiro turno.

Essa queda especulada há uma semana foi confirmada hoje em nova pesquisa, desta vez abordando apenas a popularidade pessoal da presidente e a de seu governo, sem entrar na medição de intenção de votos dos candidatos à eleição presidencial deste ano, o que deve acontecer mais adiante, confirmando ou não a tendência de queda na intenção de votos nela.

Caso se confirme uma tendência de queda, será bom também saber para onde foram esses votos arrependidos. Tanto podem aumentar a faixa dos brancos e nulos ou a dos “não sabem”, quanto ir para os adversários, indicando então uma nova tendência na corrida presidencial.

Os novos números demonstram que a popularidade da presidente caiu de 43% em novembro para 36% agora, o que a coloca novamente no patamar próximo aos 30% a que chegou em junho do ano passado, durante as manifestações de rua. A arrogância do marqueteiro João Santana, que previu que a presidente recuperaria o total de sua popularidade ainda no ano passado – voltando aos 57% que tinha – não foi respaldada pela realidade.

As pesquisas indicam que a maioria do eleitorado está em busca de mudanças na maneira que gerir o país sem a presidente Dilma à frente do Executivo. Essa queda registrada ontem é conseqüência do desejo, revelado na pesquisa anterior do mesmo Ibope, de uma maioria de 64% do eleitorado que quer que o próximo presidente “mude totalmente” ou “muita coisa” na próxima gestão.

Entre esses, apenas 27% consideram que a própria Dilma poderá fazer as mudanças necessárias, o que significa que cerca de 40% do eleitorado quer mudar tudo, inclusive Dilma. O caso da Petrobrás é exemplar de como esse mal-estar das ruas se reflete na atuação política. A oposição minoritária acabou forçando a convocação de uma CPI auxiliada por uma dissidência da base aliada do governo em diversas dimensões.

Os senadores do PSB votaram contra o governo, solidificando a posição oposicionista que deve ser aprofundada na eleição de outubro. Isto quer dizer que pela primeira desde 2002 o candidato do PT vai ter num provável segundo turno a ação coordenada de dois candidatos de oposição real.

Há também diversas dissidências em partidos da base como o PMDB e o PP, o que confirma a previsão de que o governo pode vir a ter o tempo de televisão de todos os partidos da base, mas provavelmente não terá nem a lealdade nem a máquina partidárias desses partidos a seu lado integralmente.

Os candidatos da oposição mais conhecidos, Aécio Neves pelo PSDB e Eduardo Campos pelo PSB ainda não obtém nas pesquisas a integral votação dos cerca de 40% que querem mudanças radicais no comando do país, o que indica que ainda têm campo para melhorar a atuação. Eles terão o benefício de terem seus programas eleitorais na televisão nesse momento de ebulição.

Há também dois outros candidatos que podem agregar votos para oposição, ajudando a realização de um segundo turno: o pastor Everaldo, do PSC, aparece com 3% dos votos e, dizem os especialistas, tem fôlego para chegar a cerca de 5%. E o jovem senador Randolfe Rodrigues, do PSOL, pode ter uma posição melhor do que o candidato anterior Plínio de Arruda Sampaio, que não obteve nem 1% dos votos na disputa de 2010.

O importante nesse tremor de terra registrado pelo Ibope é que a queda de popularidade da presidente Dilma se deu sem as manifestações de massa nas ruas, apenas provocada pelas notícias ruins que vieram se acumulando ao longo dos últimos dias.

Fonte: O Globo

Dora Kramer: Tiroteio nos pés

Notícia ruim não anda só. Caminha em bando, como bem pode atestar a presidente Dilma Rousseff de seu gabinete no Palácio do Planalto com vista para a Praça dos Três Poderes, onde bem ao centro localiza-se o Congresso Nacional.

Ali é que terá, nessa altura, maior repercussão a pesquisa CNI/Ibope que registrou a queda de sete pontos porcentuais no índice de avaliação positiva, agora em 36%. A população ainda não está eleitoralmente mobilizada, mas para os partidos e os políticos a hora de armar o jogo é agora. Muitos à espreita de Dilma na esquina. E aqui falamos dos ditos governistas.

De acordo com os pesos e medidas usados por especialistas no tema, um governante candidato à reeleição é considerado competitivo quando tem pelo menos 40% das indicações nos quesitos ótimo e bom.

Por essa régua, no momento a presidente Dilma estaria fora da zona de razoável conforto. Longe da faixa entre 45% a 50% em que o candidato é tido como franco favorito e mais distante ainda dos 50%, patamar acima do qual dificilmente alguém é derrotado.

Na semana passada se ouviu cantar esse galo, mas como ninguém sabia direito onde, correu a boataria de que uma pesquisa do Ibope registraria a queda das intenções de voto da presidente. Divulgados, os números desmentiram os boatos: ela continuava com os mesmos 43% da consulta anterior, feita em novembro.

Ontem apareceu o fundamento do falatório. A queda referia-se à avaliação do governo, comumente traduzida como popularidade da presidente. Esse era um ativo que Dilma ainda mantinha para lidar com uma base parlamentar tão ampla quanto insatisfeita, embora sem ter para onde correr, com resquícios de reverência decorrentes do favoritismo numérico diante de pretendentes da oposição.

Esse capital dá sinais concretos de erosão que os políticos captam no ar e transformam rapidamente em ação. Para começo de conversa, se reduz o receio do confronto com o governo. Quando eclodiu a última crise com o Parlamento liderada pelo PMDB, a versão do departamento de propaganda do Planalto é que a briga seria excelente para a presidente, pois ela ficaria com os dividendos da intransigência e os políticos, com os prejuízos da má imagem junto à opinião pública.

Como se viu pelo resultado da pesquisa, não se observou ganho algum junto à população. A ideia de se aproveitar do desgaste dos políticos evidentemente não cai bem entre eles, o que resulta em má vontade, principalmente entre deputados, no empenho pela reeleição da presidente. Ora, quando a isso se soma uma queda acentuada na popularidade, a insatisfação se manifesta mais abertamente e cada vez com menos cerimônia.

Tal ambiente não foi criado por obra da oposição. Tanto não foi que os dois candidatos, Aécio Neves e Eduardo Campos, ainda não têm o grau de conhecimento da presidente e continuam com índices baixos de intenção de votos. Todos os problemas que o governo enfrenta foram confeccionados internamente e são do conhecimento geral.

Condução errática da economia, insuficiência de desempenho na saúde, educação, segurança, ausência de diálogo com setores importantes da sociedade, menosprezo às críticas, manipulação da realidade, submissão dos interesses de Estado a conveniências partidárias, predominância eleitoral sobre todas as coisas, a presunção de que ao PT tudo é permitido e quem discordar é ingrato ou golpista.

A presidente não mede consequências. Não mediu no confronto com sua base aliada, não mediu quando acreditou que sua palavra bastava para encerrar um assunto relativo à Petrobrás e prosseguiu sem medir ao entrar na base da força bruta para impedir a CPI para investigar negócios da estatal. Foi ela quem colocou a empresa na berlinda.

A oposição não tinha número, mas tanto o governo ameaçou fazer e acontecer que as assinaturas apareceram em reação. O esforço para a retirada proporcionará cenas do arco da velha. Para quem pedir e para quem aceitar voltar atrás. Um prato para a oposição.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Maria Cristina Fernandes: A nota da campanha

Na manhã de terça-feira, um dia depois do rebaixamento da dívida brasileira, o diretor de rating soberano da Standard &Poor's, Sebastian Briozzo, era um dos mais aguardados palestrantes de um evento em São Paulo que também tinha entre suas atrações o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Ao responder à mediadora sobre o impacto da sucessão nos prognósticos fiscais do país, disse: "Faz tempo que não só no Brasil como no resto da America Latina a cor da bandeira deixou de fazer a diferença. Governos de direita e de esquerda fazem políticas pragmáticas e prudentes. O importante é a agenda e a equipe que vai trabalhar com as agendas".

Uma tradução possível do bom português do diretor argentino da S&P é que a política no Brasil e na América Latina não preocupa a agência. Quem faz a política, na verdade, são as equipes econômicas e suas agendas. O rebaixamento de BBB para BBB-, portanto, seria um aviso para a atual presidente não se desgarrar do caminho do meio, onde inexistem bandeiras.

Três anos atrás, ao baixar a nota da dívida americana, a S&P pode ter sido acusada de tudo pelo governo Obama, menos de ter ignorado as bandeiras da política local. O país vivia o impasse entre democratas e republicanos em torno do teto da dívida pública que travou os gastos do governo.

A S&;P justificou o rebaixamento de AAA para AAA-: "A política temerária dos últimos meses evidencia que a governança e a administração pública nos EUA estão se tornando cada vez mais instáveis, menos efetivas e menos previsíveis. (...) As diferenças entre os partidos políticos provaram-se extraordinariamente difíceis de ser estreitadas".

Como se trata de um país que imprime a moeda mundial, restou à S&;P invadir a política para explicitar suas dúvidas sobre a capacidade de o governo americano pagar sua dívida.

A nacionalidade americana da empresa talvez explique a falta de cerimônia com que a agência adentrou terreno minado. As reações foram muito mais enervadas do que aquelas que se observam por aqui, mas a maior delas veio dois anos depois num prato frio. O Departamento de Justiça levou à frente uma ação de US$ 5 bilhões contra a S&P pelas barbeiragens de seus ratings na crise de 2008. A agência queixou-se de retaliação.

Na queda de braço entre a S&P e o governo americano ficou explícita a inconformidade da agência com um modelo político em que Congresso e partidos têm peso na definição dos rumos do país.

No Brasil, o dirigente da agência até chegou a reconhecer os limites do mercado - "O Brasil tem uma democracia consolidada, pluralista e mais avançada que a de outros emergentes e, por isso, é mais difícil construir consensos".

Onde Briozzo se traiu, e seu domínio do português não autoriza um lapso idiomático, foi na constatação de que as equipes econômicas valem mais que as bandeiras políticas.

O maior responsável pela convicção da S&P de que a esquerda no Brasil pode ser pragmática - ou seja, fazer o que a agência acha que precisa ser feito - foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seis anos atrás, Lula comemorou o grau de investimento a que chegou o Brasil sob seu governo.

A mesma agência que no passado serviu para o PT se exibir como o partido capaz de acender vela para deus e o diabo sem descuidar das criancinhas, agora é contestada como "inconsistente" e "contraditória" pelo governo do mesmo partido.

O rebaixamento chega num momento em que os candidatos - a governista e os de oposição - fogem despudoramente do debate que já precifica todo o mercado: quanto, como e onde vai se dar o corte de gastos.

Cinquenta anos atrás o país iniciava sua mais longa ditadura destruindo a chance de enfrentar a ordem financeira mundial que se modelou a partir da Guerra Fria com uma democracia mais pluralista e avançada do que hoje avalia Briozzo. Foi o pacto social da Constituinte de 1988 que pôs fim à ditadura. E é precisamente esse pacto, e os gastos nele envolvidos, que a sucessão, mais do que a S&P, põe em jogo.

Desaprovação
Intenção de voto vale pouco a esta altura do campeonato. Importa mais a popularidade de governo. Daí que os números do CNI/Ibope como aumento na reprovação à presidente acendam a luz amarela para Dilma.

A reeleição é recente para gerar um histórico confiável, mas tanto FH quanto Lula chegaram às urnas de sua reeleição com aprovação mais próxima a 60%, ainda que, em março tivessem índices parecidos com os de Dilma hoje (ver gráfico).

Para quem gosta de olhar a política brasileira com a bússola voltada para o Norte, os EUA têm 12 presidentes candidatos à reeleição e há quem ache a amostra pequena para que se tire conclusões. Lá aprovação de 60% é probabilidade de 90% de reeleição. Quando a aprovação cai para 40% também despenca para esse patamar a probabilidade de reeleição.

O cientista político Alberto Almeida, do instituto Análise, tabulou um outro dado, a soma de ótimo e bom de 47 governadores candidatos à reeleição desde 1998. Aqueles que tinham a soma superior a 60% foram todos reeleitos. A totalidade dos que tinham a mesma soma inferior a 34% foi derrotada. Dilma hoje tem 36%.

Dos quatro itens mais desaprovados pela população, três estão na linha de tiro do rebaixamento: juros, inflação e impostos. Se mexer para agradar o mercado, pode azedar o eleitor. Faltam Copa, horário eleitoral e seis meses para a eleição, mas vai ser difícil para Dilma escapar dessa calibragem.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política

Fonte: Valor Ecomômico

Murillo de Aragão: As raízes da nostalgia

Existe, tanto no PT e entre seus aliados quanto no PSDB, uma imensa nostalgia com relação aos dois últimos ex-presidentes da República. São, de longe, os preferidos para disputarem a campanha presidencial em outubro.

Diz Vinicius Torres Freitas, em coluna na Folha (19.3.14), que o país está à espera de algo extraordinário, e que tanto FHC quanto Lula fizeram mágicas e milagres por meio de reformas conciliadoras. Para ele, nenhum dos atuais candidatos desperta nem tais sentimentos nem a esperança de que possam fazer mágicas e milagres. Daí o saudosismo em relação a ambos.

No PSDB, não sem razão, vive-se uma época de nostalgia de tudo o que o PSDB foi nos tempos de FHC. Acrescenta-se o fato de que o tucanato paulista não tem um engajamento total com a campanha de Aécio Neves.

Uma parte porque os serristas não esquecem os atritos e os desencontros da campanha passada, inclusive com guerra de “dossiês”. Outra parte devido aos fenômenos “dilmanastasia” e “dilmaécio”, ocorridos em Minas Gerais em 2010.

Outra razão atravessa a questão. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é pré-candidato a presidente em 2018. Mas a eleição de Aécio Neves deve inviabilizar tal operação, já que Aécio seria o candidato natural do PSDB em 2018, caso eleito este ano.

Como sempre, a fogueira de vaidades e interesses no PSDB arde alta, com mágoas do passado e esperanças para o futuro. Assim, nada melhor do que trazer o nome de FHC de volta ao debate. Seria um conciliador entre o passado e o futuro, além de representar um fato novo de proporções significativas. Mas isso não passa de sonho. Ou de balão de ensaio.

FHC não é candidato a nada. Pois, acima de tudo, ama ser simplesmente FHC e, afora a piscina do Alvorada e o helicóptero presidencial, não sente grandes saudades de seus tempos de presidente, embora tenha muito orgulho do que fez.

No PT, o queremismo “volta Lula” tem motivos diferentes. O primeiro deles é o imenso desagrado com a conduta política do governo na relação com seus aliados. O resultado é que mais de 90% da base aliada gostaria que Lula fosse o candidato presidencial, incluindo a bancada do PT no Congresso.

Lula trabalha para voltar em 2018 e sabe que é temerário antecipar o retorno à disputa sem um motivo muito especial. Lula, em que pese ter muitas restrições à condução do atual gestão, tem esperanças de que Dilma aprenda com seus erros e faça um governo de maior convergência e menos arrogância.

Assim, sem Lula e FHC, a campanha presidencial será dos nomes que estão por aí. Nada mal. Apesar de não terem o histórico de “milagreiros”, os três candidatos são nomes fortes e interessantes.

Dilma, mesmo com seus tropeços políticos e a falta de entrega de bons resultados econômicos, tem história e realizações para mostrar. Caso a Copa do Mundo funcione razoavelmente bem, sua imagem sairá fortalecida.

Aécio e Eduardo Campos (PSB) foram bons governadores e tiveram elevados índices de aprovação no posto. Ambos trazem o traço da conciliação como políticos. São nomes jovens que surgem após décadas de protagonismo de figuras oriundas dos tempos do regime militar.

Salvo um evento extraordinário, a campanha deverá ficar restrita aos nomes que estão postos.

Murillo de Aragão é cientista político.

Fonte: O Tempo (MG)

Freire diz que com apenas 36% de aprovação Dilma perderá a eleição

“Historicamente, é raríssimo um caso de um candidato à reeleição com esse percentual de aprovação ser vitorioso. A regra é perder”, avalia o presidente do PPS

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

“Um governo tão mal avaliado não tem condições mínimas de disputar uma reeleição, como atestam os profissionais que analisam pesquisas”, disse o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), ao comentar o resultado do levantamento CNI/Ibope realizado entre os dias 14 e 17 de março sobre a popularidade da administração Dilma Rousseff. Segundo a pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, a avaliação positiva da gestão da petista caiu de 43% em dezembro para 36% neste mês. O percentual dos que consideram o governo ruim ou péssimo subiu de 20% para 27%.“Com certeza, essa pesquisa acende a luz vermelha no Palácio do Planalto”, analisou o parlamentar.

Segundo Freire, a pesquisa aponta para a vontade da sociedade de mudar. “O desgaste das ações do governo demonstra isso”, avaliou. O deputado lembrou que nas eleições de 2010 havia um sentimento de continuidade. “Apresentaram uma candidata desconhecida e ela venceu porque representava a continuação do governo. Agora ocorre o inverso, conforme mostra a pesquisa”.

No entender de Roberto Freire, o índice de 43%, aferido em dezembro, já não era positivo. “Agora ficou pior ainda. O governo está mal avaliado em todos os setores, e não houve melhoria em nenhum deles; ao contrário, ocorreu um recrudescimento da desaprovação”, observou. Com essa performance, disse Freire, a tendência da candidata Dilma Rousseff é ser derrotada no pleito deste ano. “Historicamente, é raríssimo um caso de um candidato à reeleição com esse percentual de aprovação ser vitorioso. A regra é perder”.

Para Roberto Freire, o quadro mostrado no levantamento eleva a responsabilidade dos candidatos de oposição. “Nós, do PPS, apoiamos Eduardo Campos, que é a melhor alternativa contra o governo, mas com a candidatura de Aécio Neves a oposição também está bem servida”. É preciso apontar soluções eficazes, disse Freire, para os graves problemas que o governo Dilma legará ao país. “Como mostra a pesquisa, o governo é um desastre, um poço de incompetência”.

CPI da Petrobras
Freire afirmou que a oposição tem grande responsabilidade também com a CPI que investigará denúncias de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA) pela Petrobras em 2006. O deputado comemorou o fato de os senadores oposicionistas terem conseguido protocolar o requerimento de instalação da comissão e defendeu que não haja “briga” entre as duas Casas do Congresso pela criação do colegiado. “Será um processo difícil, que necessitará do empenho de deputados e senadores. Por isso, a tarefa agora é levar as asssinaturas da Câmara dos Deputados para serem anexadas ao requerimento de CPI mista do Senado e ter em mente o que é mais eficiente e mais factível para realizar a investigação”.

Para Freire, “é preciso fazer uma boa CPI e ter cuidado porque haverá desespero no seio do governo, já que a luz vermelha está acesa no Planalto”. Na avaliação do parlamentar, pode haver tentativa de empastelamento da Comissão Parlamentar de Inquérito. O presidente do PPS ressaltou que as ilegalidades na Petrobras ocorreram no governo Lula, embora tenham contado com a participação de Dilma. “É um grande desgaste para os governos Lula/Dilma porque o brasileiro não esperava que um governo se envolvesse com o desmantelamento de uma empresa símbolo da nacionalidade, como aconteceu nas gestões petistas”.