domingo, 15 de junho de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

O decreto 8.243 não cria uma nova forma de participação, mas um sistema de tutela sobre os cidadãos ou movimentos organizados que poderão atuar em conjunto com o governo na administração do Estado. A Constituição brasileira já garante o direito à livre manifestação e consagra a democracia representativa com eleições livres em que a sociedade escolhe seus representantes no Parlamento. O grande mérito desse modelo é que todos os brasileiros têm exatamente a mesma importância no momento do voto, independentemente de suas condições econômicas ou sociais, de sua origem, da preferência partidária ou do grau de envolvimento com a política.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do Partido Popular Socialista (PPS), no artigo “Decreto de Dilma afronta a democracia representativa” , Brasil Econômico, sexta-feira, 13 de junho de 2014.

Candidato, Aécio diz que País vive 'ventania de mudança'

• Em convenção realizada para confirmar seu nome à Presidência da República, senador mineiro destaca ação social dos tucanos em estratégia para contrapor o discurso dos adversários petistas e critica área econômica do governo Dilma

Pedro Venceslau, Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

O senador Aécio Neves, de 54 anos, foi oficializado ontem como o candidato do PSDB à Presidência da República em convenção formatada para exaltar o que considera as suas duas maiores vitórias da pré-campanha: a unidade do partido e o apoio de correligionários em São Paulo, maior colégio eleitoral do País.

No discurso que fechou o encontro realizado em um centro de exposições da zona norte da capital paulista, o mineiro defendeu enfaticamente a passagem do tucano Fernando Henrique Cardoso pelo Palácio do Planalto (1995-2002), algo que os candidatos do partido não fizeram nas três últimas disputas à Presidência. Também destacou que o Brasil tem hoje uma “ventania por mudança”, explorando um desejo do eleitorado registrado pelos institutos de pesquisa.

Aécio tentou mostrar, na festa do PSDB, que o partido tem compromisso com a área social. Trata-se de uma das preocupações da campanha, já que a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, têm como principal bandeira o Bolsa Família e a ascensão social dos mais pobres.

O candidato ressaltou que o programa de transferência de renda, “que culminou no Bolsa Família”, foi criado no governo nacional do PSDB – trata-se do Bolsa Escola. “Fomos nós que criamos os primeiros programas de transferência de renda. Demos início ao que seria depois o Bolsa Família. Não adianta os adversários dizerem o contrário.”

A convenção registrou um público de aproximadamente 5 mil pessoas. Entre elas, 451 delegados votaram em cédulas de papel. O placar final foi este: 447 disseram sim pela candidatura de Aécio, 3 votaram em branco e um votou nulo. A convenção decidiu também deixar a escolha do vice de Aécio para depois. O tucano ainda conta com uma dissidência no campo governista para completar sua chapa.

Desafetos. Apontados pelos próprios tucanos como adversários internos de Aécio no PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador do Estado José Serra fizeram longos discursos de apoio ao correligionário ontem.

“Quero saudar o presidente nacional do PSDB e o futuro presidente do Brasil, Aécio Neves”, afirmou Serra. Ele exaltou a capacidade do colega mineiro em montar equipes. “O PSDB e seus aliados chegaram unidos até aqui”, disse. Já Alckmin afirmou que Aécio “é o nome do trabalho e da inovação” e será “o mais mineiro de todos os paulistas”.

As rusgas entre Aécio e os dois paulistas ficaram evidentes nas eleições presidenciais de 2006, quando Alckmin foi o candidato, e 2010, quando Serra disputou o Planalto. Ambos consideram que Aécio não se empenhou o suficiente em Minas.

Essa é a primeira eleição do PSDB, partido fundado em 1988, sem um candidato de São Paulo.
O senador fez questão de ir até a frente do palco erguer os punhos e abraçar os dois paulistas depois dos discursos.

Emoção. No discurso, Aécio se emocionou ao anunciar a presença de sua mãe e sua filha mais velha, e ao relembrar o pai, que já morreu. E chorou ao agradecer, “mesmo que à distância”, o carinho dos dois filhos recém-nascidos e da mulher, que ficaram no hospital, no Rio.

O candidato também atacou o governo e o PT. “Quem foi contra o Plano Real no passado, hoje permitiu a volta da inflação. Quem foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, hoje assina a contabilidade criativa.”

Com Serra e FH, Aécio é lançado candidato

• Aécio é escolhido candidato do PSDB à Presidência com exaltação a FH e a Tancredo

• Tucano foi escolhido por 447 dos 451 delegados do partido em convenção

Maria Lima e Silva Amorim - O Globo

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve sua candidatura à Presidência da República oficialmente formalizada na manhã deste sábado durante convenção nacional do PSDB, realizada no Pavilhão Azul do Expo Center Norte, em São Paulo. A candidatura foi aprovada por 447 dos 451 delegados da legenda.

Aécio chegou de mãos dadas com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, acompanhado pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin e por José Serra. Ele disse ter chegado a hora do “reencontro com a decência no país” e afirmou acreditar que uma “tsunami” poderá tirar o PT do governo em outubro:

- A cada dia que passa, por cada região por onde ando, percebo não só uma brisa, mas uma ventania por mudanças. Um tsunami que vai varrer do governo federal aqueles que lá não têm se mostrado dignos e capazes de atender às demandas da população brasileira - disse Aécio.

Na convenção, Fernando Henrique foi tratado como um dos principais cabos eleitorais da campanha tucana. Logo após sua chegada, foi exibido um vídeo exaltando conquistas de seu governo, como o Plano Real e o início de programas sociais de combate à pobreza. O mesmo filme afagou José Serra, desafeto de Aécio dentro do partido. Foram mencionadas conquistas de seu período à frente do Ministério da Saúde, como a política de combate à Aids e de fomento aos medicamentos genéricos. Os dois temas foram citados no discurso do candidato.

O ex-presidente e avô de Aécio, Tancredo Neves, morto em 1985, também foi lembrado no encontro: no meio do discurso de Aécio, foi exibido um vídeo com imagens do poeta Ferreira Gullar lendo texto escrito em homenagem a Tancredo.

- Se o presidente Juscelino (Kubitschek) permitiu 60 anos atrás o reencontro do Brasil com o desenvolvimento e a modernidade, coube a Tancredo, 30 anos depois, permitir que a gente se reencontrasse com a democracia e a liberdade. Outros 30 anos se passaram e vamos conduzir o Brasil ao reencontro com a decência - afirmou Aécio, que defendeu a paternidade do PSDB em programas sociais e fez duras críticas à atuação do governo federal na área econômica.

- Quem foi contra o plano real é quem hoje permite a volta da inflação - disse o tucano, que acusou o PT de aniquilar “o mais valioso patrimônio construído por gerações de brasileiros, a Petrobras”, e convocou a militância para ir às ruas “por um tempo novo”.

Para Aécio, a história do país ainda será revisitada:

- Pelo menos numa coisa nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal é quem hoje permite a volta da inflação e assina a maldita contabilidade criativa. São os que dividem o Brasil de forma perversa entre nós e eles - discursou Aécio.

O tucano afirmou ver no governo “inegável pendor autoritário e intervencionista”, elementos que seria motivo de desalento para a população. Disse que o povo teria acreditado no discurso da ética, defendido no passado pelos adversários. Para ele, hoje o PT e o governo protagonizam os mais "vergonhosos casos de corrupção" no país.

- O Governo do PT vive da propaganda daquilo que não fez - disse Aécio.

Aproximação com o povo
Em um dos discursos mais aguardados da convenção, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o país está cansado de “empulhação” e fez um chamamento ao PSDB para que se aproxime do povo.

-As urnas clamam, querem mudança. Elas cansaram de empulhação, corrupção, mentira e distanciamento entre o governo e o povo. Nós temos que ouvir o povo, estar mais próximo do povo. Ganhar a confiança do povo. A caminhada do Aécio será essa - afirmou o tucano que usou palavras fortes para se referir ao PT, como “ladrões” e “farsantes”.

Para FH, “não dá mais” para lidar com os adversários à frente do governo:

-Não dá mais. Ninguém aguenta mais isso. Chega. A gente sente que não adianta mais. Não adianta mais repetir o que sabemos que não é certo. A mudança está começando a se concretizar. Não são ideias só, são ideias encarnadas em pessoas. Hoje é Aécio o futuro presidente - disse Fernando Henrique, para quem Aécio seria “um líder jovem” para sentir “de perto o pulsar das ruas e se dedicar de corpo e alma ao povo”.

O líder tucano tocou também num tema que já custou muito caro ao PSDB em eleições passadas e acusou o PT de mentir quando acusa os tucanos de serem privatistas.

- O povo quer respeito e consideração. O povo cansou de comiseração. Quantas vezes ouvi que eu queria privatizar a Petrobras. Mentira. Eles sabem que é mentira. Nos queríamos transformar a Petrobras de uma repartição pública numa empresa dos brasileiros. O que eles fizeram? Nós queremos de novo que as estatais sejam em benefício do povo - afirmou.

Críticas ao PT
O ex-governador de São Paulo José Serra chamou Aécio de “futuro presidente do Brasil” e garantiu que partido está unido em torno da candidatura do senador.

- O Aécio sempre a qualidade de juntar as melhores pessoas para seu governo. Damos aqui um passou muito importante para a vitória. O PSDB e seus aliados chegam unidos para essa disputa. Quanto mais mentiras eles disseram, mais verdades diremos sobre eles.

Serra disse que o país vive um “milagre perverso” com o governo do PT e, ao final de seu pronunciamento, foi recebido por Aécio, que levantou-se e foi até o púlpito onde Serra estava para agradecer com um abraço e poses para fotos.

-Economia estagnada, inflação aumentando e investimento caindo. Vamos convir que para se chegar a isso tudo é preciso que o governo atue com grande incompetência metódica, convicta e com muito talento - criticou Serra.

Assim como o ex-governador tucano, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) acusou o PT de divulgar propagandas mentirosas.

- Estamos “por aqui” com o PT e seu jeito autoritário de governar, a maneira despótica de tratar os adversários, a propaganda mentirosa que nos vende um país que não existe e os blogs mercenários pagos com dinheiro público - disse Nunes Ferreira, que é cotado para ocupar a vaga de vice na chapa de Aécio.

Aliados
Para representar os partidos aliados de Aécio na convenção, discursaram o deputado Paulo Pereira da Silva (SD) e o senador José Agripino Maia (DEM).

Paulinho acusou o governo do PT de “roubar desde lá de cima até embaixo”. Disse que a presidente Dilma Rousseff teria sido vaiada durante a abertura da Copa em São Paulo, na última quinta-feira, por ter mentido em pronunciamento de TV exibido na véspera do jogo, segundo ele.

- Chegou numa situação que o povo não vaia mais, esculhamba! Por que isso acontece? Porque ela vai na TV mentir. E quando ela aparece em público, o povo mandou ela para o lugar que devia mandar - discursou Paulinho, que encerrou sua fala pedindo que a plateia se levantasse para cantar o Hino da Bandeira.

O senador José Agripino lembrou ter conhecido Aécio Neves quando ele ainda era secretário do avô Tancredo. Disse ter rompido na época com o PDS, legenda ligada aos militares, para apoiar Tancredo.

Agripino disse sentir na convenção “cheiro de vitória”.

- Aécio tem a coragem política e cívica para fazer o que precisa ser feito. Se fez em Minas, vai fazer pelo Brasil - disse Agripino, mencionando o ajuste fiscal implantado pelo tucano ao assumir o governo mineiro pela primeira vez, em 2003.

Família
O candidato do PSDB à Presidência estava acompanhado na convenção por sua filha, Gabriela Neves, e pela mãe, Inês Maria, filha do ex-presidente Tancredo Neves. A mulher do tucano, Letícia Weber, está hospitalizada em clínica do Rio de Janeiro, onde deu a luz aos filhos com o senador, que nasceram de forma prematura.

Vídeo exibido na convenção homenageou tucanos que já morreram, como Franco Montoro, Sérgio Motta, Mário Covas, José Richa, Sérgio Guerra, Ruth Cardoso, Dante de Oliveira e Almir Gabriel. Teotônio Vilela também apareceu no filmete.

O primeiro jingle de campanha também foi lançado no evento. “Aécio é o melhor para a gente / Aécio nosso presidente / Aécio presidente do Brasil / Aécio, a gente quer você”, diz a canção, que será tocada até a exaustão até outubro.

Serra: Brasil pode voltar a renascer com o PSDB

SÃO PAULO (SP) – O ex-governador de são Paulo José Serra afirmou, na Convenção Nacional do PSDB, neste sábado (14), que a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República representa um novo “renascimento” para o Brasil.

“Nós, do PSDB, fizemos o Brasil renascer para o mundo uma vez, após 15 anos de hiperinflação. É chegada a hora de novamente, romper com uma era que não faz bem ao país”, disse Serra. Na convenção deste sábado, Aécio Neves foi escolhido o candidato do PSDB à Presidência.

O ex-governador citou, em seu discurso, a trajetória política de Aécio Neves – deputado federal constituinte, presidente da Câmara, governador de Minas Gerais por dois mandatos e, atualmente, senador e presidente do PSDB – e afirmou que, por conta do bom desempenho de Aécio e do seu sucessor Antonio Anastasia, o candidato do PSDB ao governo mineiro, Pimenta da Veiga, “terá a eleição mais fácil do Brasil”.

Serra foi anunciado como o “melhor ministro da Saúde que o Brasil já teve” – ele ocupou a pasta durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e implantou no país os medicamentos genéricos. Ao fim do seu discurso, Serra foi aplaudido e abraçado por Aécio Neves.

PSDB
O ex-governador lembrou do legado do PSDB ao longo dos mais de 25 anos do partido. “Nós fomos um partido criado para servir ao Brasil, e não para se servir do Brasil”, afirmou.
Ao detalhar sobre práticas controversas do PT em eleições anteriores, como a formulação de dossiês , Serra expôs o histórico do PSDB para deixar clara a posição oposta do partido.

“Não esperem jogo sujo do PSDB. Quem vê a nossa história, vê líderes como José Richa, Franco Montoro, e assim percebe que não vamos fazer baixaria. Esse não é o nossos jeito. O PSDB não foi feito para destruir os outros”, disse. “Quanto mais mentiras eles falarem a nosso respeito, mais verdades vamos falar sobre eles.”

Herança
Serra elencou falhas do governo federal em diversas áreas. Em relação à saúde pública, o tucano disse que o PT transformou a área em “uma peça publicitária, loteada e corrompida” distante de atender às necessidades da população.

O ex-governador qualificou o governo petista como um “milagre perverso”, que trouxe o aumento da inflação e “fez a educação avançar para trás”. Para Serra, o PT especializou-se em “transformar facilidades em dificuldades”. Ele afirmou que os petistas “chegaram ao governo para aprender, e não para governar”.
Serra também alertou os tucanos sobre as perspectivas futuras da campanha. “A batalha vai ser difícil. Virá o jogo sujo dos adversários, que dominam essa arte como ninguém. Mas a coragem não nos vai faltar. Muda, Brasil! Vamos todo juntos, com Aécio à frente”, disse.

“Adeus a Tancredo”, por Ferreira Gullar

SÃO PAULO (SP) – Na Convenção Nacional do PSDB, a trajetória do partido foi associada à vida e à luta do ex-presidente Tancredo Neves, que morreu em 1985, logo depois de ser eleito. Em homenagem ao ex-presidente, foi reproduzido o poema “Adeus a Tancredo”, de Ferreira Gullar.

A seguir, o texto e o áudio com a voz do poeta

“Adeus a Tancredo

Companheiro Tancredo Neves, eu não vou chamar você de Excelência logo agora, quando mais do que nosso presidente, você é nosso irmão ferido e que se vai. Foi você quem conduziu de, uma ponta a outra do país, acima de nossa cabeça, uma tocha de chama verde como a esperança.

Esperança é uma palavra gasta, mas não era a palavra, era a esperança mesma, que você carregava, e ela ainda Luzia em suas mãos hoje, no derradeiro momento, num quarto de hospital em São Paulo.

E quando suas mãos se apagaram, essa chama brilhou no céu da pátria nesse instante. Pátria é uma palavra gasta, mas pátria é terra, é mãe, embora muitos de nós, milhões de nós, ainda vagueiem pelas cidades, pelos campos, sem o penhor de uma igualdade que havemos de conquistar com o braço forte.

Pátria é uma palavra gasta, mas no seio dela descansarás Tancredo amigo, no chão macio de São João del Rey, amado pelo povo, à luz de céu profundo. Povo também é uma palavra gasta, mas o povo, o povo mesmo despertou quando lhe prometeste uma Nova República, iluminada ao sol de um novo mundo. E ela virá, e tu a construirás conosco, erguendo nossos braços, cantando em nossa boca, caindo e levantando como este povo em que, ao morrer, te transformastes.”

Para ouvir o áudio do poema, clique AQUI.

Aécio diz que 'tsunami' varrerá PT do governo

• PSDB escolhe senador de MG como candidato à Presidência da República

• Em discurso, tucano resgata ações de FHC, enfatizando programas sociais que precederam o Bolsa Família

Daniela Lima, Gustavo Uribe e Patrícia Britto – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) assumiu oficialmente o posto de candidato dos tucanos à Presidência da República num discurso com forte tom emocional e duras críticas ao PT e à gestão de Dilma Rousseff.

Aécio disse que a administração petista não tem se mostrado "digna" de atender às necessidades do povo. Segundo ele, não há mais uma "brisa" de mudança no ambiente político, mas uma "ventania"."Um tsunami vai varrer do governo aqueles que não têm se mostrado dignos de atender às demandas da sociedade", concluiu.

A convenção nacional do partido aconteceu na manhã deste sábado (14), em São Paulo. Os principais nomes do PSDB estiveram ao lado de Aécio no evento, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seu antecessor no cargo, José Serra. Aécio foi lançado candidato sem que o nome do vice tenha sido definido. Ele o fará até o fim do mês.

O mineiro acusou o PT de ter enganado os eleitores que elegeram a sigla. "Acreditaram na propaganda de quem dizia defender a ética e elegeram um governo que foi protagonista de um dos mais vergonhosos casos de corrupção da nossa história", afirmou, em referência ao mensalão.

Aécio chegou a dizer que a gestão Dilma é marcada por "desacertos de todos os lados". "Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o Plano Real é quem hoje permite a volta da inflação", atacou, lembrando a posição do PT quando o plano foi lançado.

"Estamos aqui para dizer um basta em definitivo àqueles que se apropriaram do Estado", finalizou.

O presidenciável fez uma longa defesa do governo FHC e respondeu de forma velada às críticas do PT, que há anos acusa o PSDB de ser privatista e não ter sensibilidade social. Aécio disse que "nenhum outro governo, na história recente, deixou um legado de transformações e bases tão sólidas para que o país avançasse como o do PSDB".

"O Plano Real conquistou para o Brasil o mais nobre valor que uma nação pode ter: confiança nela própria." Ele disse ainda que a gestão FHC "estruturou a rede de proteção social" do país e deu "início ao que se transformaria depois no Bolsa Família".

Ao discursar, Fernando Henrique também foi duro. Ele insinuou que Dilma é "arrogante" e defendeu Aécio como o nome que "encarna" o sentimento de mudança.

O senador mesclou as críticas que fez ao PT com um discurso de que sua candidatura representa a retomada da confiança e o reencontro do "país consigo mesmo".

Em uma referência aos protestos que tomaram o país, defendeu a reaproximação entre o povo e a política. "É urgente o esforço para nos reencontrarmos com a nação que sempre fomos. Não podemos deixar que a indignação nos paralise, que o rancor nos consuma."

Os tucanos trataram a candidatura de Aécio como o desfecho da trajetória de Tancredo Neves, avô do mineiro. "Tancredo deu a vida para o Brasil mudar. É dele que descende Aécio", disse FHC.

Serra, que por anos disputou o protagonismo com Aécio, disse que o mineiro irá liderar a oposição e que o partido está "unido". Recebeu, ao fim, um abraço.

Na convenção, 451 delegados votaram. Aécio teve 447 votos --três brancos e um nulo. Ao ser questionado se o voto nulo era dele, Serra, aos risos, respondeu: "Mas eu nem votei".

PV lança Eduardo Jorge e diz resgatar posições liberais

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O PV oficializou por unanimidade o nome do médico sanitarista, ex-deputado federal e ex-petista Eduardo Jorge, 64, à Presidência.

Em ato mais modesto do que em 2010, quando lançou Marina Silva, o partido ressaltou que agora tem candidato identificado com suas bandeiras.

O próprio Eduardo Jorge pontuou a tese: "A candidatura [de 2010] era uma coligação do PV com Marina Silva, que tinha o seu grupo e suas ideias próprias. Agora não".

Segundo ele, agora o partido resgata suas posições, mais liberais, como a defesa da descriminalização do aborto e a legalização da maconha.

PV lança candidatura à Presidência e retorna pauta progressista

• O ex-deputado federal Eduardo Jorge foi confirmado como candidato à Presidência da República em convenção do partido

Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Convenção Nacional do Partido Verde (PV) confirmou, por aclamação, o ex-deputado federal Eduardo Jorge como candidato à Presidência da República. A legenda disputará o Palácio do Planalto sem aliados, a vice-prefeita de Salvador, Célia Sacramento, será vice de Jorge. O presidente do partido, deputado federal Penna (PV-SP), defendeu que o partido disputará o Palácio do Planalto sem “amarras” com outras legendas e sindicatos. “Os outros partidos estão muito amarrados a compromissos. Eles não podem falar, como nós, de tudo”, disse.

Penna se referiu indiretamente a ex-senadora Marina Silva, que disputou a Presidência pelo PV em 2010, e hoje é vice na chapa de Eduardo Campos (PSB). “Nós não temos dessa vez uma candidatura inventada. Temos uma candidatura que vem dos nossos quadros”, considerou.

Com apenas oito deputados federais e senador no Congresso Nacional, o PV colocou como principal meta elevar a bancada verde. “Precisamos não/ perder o objetivo estratégico, que é aumentar a bancada de deputados federais. Para enfrentar a bancada do agronegócio precisamos ter números”, disse Penna. “É um bancada própria que nos dará tempo de televisão e fundo partidário”, destacou o deputado Sarney Filho (PV-MA).

O PV colocou a reforma política como uma dos pontos principais de seu programa de governo. O presidente do partido disse que a proposta verde é a retomada do parlamentarismo, experiência vivia no início do governo João Goulart (1961-64). “A bandeira do parlamentarismo, enquanto houver esse presidencialismos maluco que nem imperial é, porque é mais autoritário do Segundo Império (Reinado, no Brasil, de 1840-1889), não teremos uma reforma política. O fundamental é discutirmos esse monstro que é o presidencialismo”, disse.

Bandeira liberal. Jorge afirmou que essa corrida eleitoral tem três “grandes candidaturas” com Aécio Neves (PSDB), Campos e Dilma Rousseff (PT-SP), mas disse que pretende se colocar como opção ao eleitor que “acredita no desenvolvimento sustentável e quer votar verde” e contra os “partidos do século 20”.

Segundo o pré-candidato verde, o PV tem nessas eleições “um programa íntegro”, retomando bandeiras não encampadas por Marina em 2010. “Ela agregou muita coisa, mas tem ideias decorrentes da sua posição religiosa que são muito conservadoras”, afirmou.

Sem Marina para perseguir o feito de 2010, quando ela obteve quase 20 milhões de votos, o PV encampou a legalização do aborto e a descriminalização da maconha como bandeira. “O PV tem uma posição bem mais liberal (que a Marina)”, defende.

Eduardo Jorge, de 64 anos, nascido em Salvador, mas radicado em São Paulo desde os anos 1970, é médico formado pela USP e tem seis filhos. Ele foi um dos fundadores do PT, em 1980, partido pelo qual foi quatro vezes deputado federal e ocupou um mandato como deputado estadual em São Paulo. Jorge deixou o PT em 2003, filiando-se ao PV. Foi secretário municipal de Saúde nos governos das ex-prefeitas Luiza Erundina (PSB-SP) e Marta Suplicy (PT-SP), e chefiou a Secretaria do Verde e Meio Ambiente nas gestões José Serra (PSDB-SP) e Gilberto Kassab (PSD-P).

Célia, de 46 anos, é contadora e advogada, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ela nasceu em São Paulo, mas vive em Salvador desde os seis anos de idade. Foi a vereadora mais votada da capital baiana em 2008 e, em 2012, foi eleita vice-prefeita na chapa do prefeito soteropolitano ACM Neto (DEM-BA). "Sei que não vai ser fáci. São muitos desafios, porém, com coragem e dedicação vamos conseguir fazer uma excelente representação para o que acreditamos para a política partidária do nosso País", disse.

Serra atrela futuro a ‘não atrapalhar’ planos do partido

• Serra é herdeiro de mais de 33 milhões de votos (32%) nas eleições de 2010, no primeiro turno e 43 milhões (44%) no segundo turno

• Ex-governador diz que decidirá sobre disputa à Câmara ou ao Senado em função das alianças do PSDB no Estado e no País

Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), duas vezes candidato à Presidência, disse em entrevista ao Estado que escolherá seu futuro político de modo a não “atrapalhar” nem a candidatura do senador Aécio Neves (MG) ao Palácio do Planalto nem os interesses nacionais e estaduais da legenda.

“Com certeza, no mínimo eu vou ser candidato à Câmara este ano. Ainda não sei sobre o Senado, porque dependo da articulação das alianças do PSDB, tanto em São Paulo quanto nacionalmente. E não quero atrapalhar isso”, afirmou numa conversa na sexta-feira à noite.

A candidatura ao Senado – que neste ano terá só uma das três vagas por Estado em disputa – na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) é uma importante moeda de troca para formar as coligações, de modo a aumentar o tempo de propaganda do governador. Embora Alckmin lidere as pesquisas de intenção de voto e hoje tendesse a vencer em 1.º turno, o partido avalia que a disputa será mais difícil que as duas anteriores, quando Serra e Alckmin ganharam já na primeira etapa da votação.

O PSDB paulista conversa com PSD e PSB para a coligação – os partidos podem ocupar a vaga de vice ou a vaga de candidato ao Senado. Não está descartada, porém, que a vaga ao Senado fique mesmo nas mãos de um tucano. Serra, por exemplo, lidera a disputa pela cadeira nas sondagens feitas recentemente, superando o petista Eduardo Suplicy, que se mantém no cargo desde 1991, obtendo várias vitórias consecutivas.

A atual postura aparentemente mais pacífica de Serra contrasta com o estilo irredutível do ano passado, época em que estava disposto a convocar prévias para que os militantes escolhessem o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto.

Sem o apoio dos principais quadros da legenda – como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, agora entusiasta da candidatura de Aécio –, ele retirou-se do páreo em dezembro.

Empenho. Apesar disso, ainda há tucanos céticos em relação ao empenho de Serra na campanha do mineiro. No PSDB, é notório o ressentimento dos paulistas em relação a Aécio quando o ex-governador e Alckmin disputaram o Planalto, pois acreditam que o correligionário não os ajudou em Minas – os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff venceram no Estado em 2006, quando Alckmin foi candidato, e em 2010, quando o próprio Serra disputou o Planalto.

Dentro do PSDB há dúvidas sobre se o ressentimento estaria mesmo superado. Em recente entrevista de Aécio na TV Cultura, durante o programa Roda Viva, o pré-candidato tucano ao Planalto foi questionado sobre um artigo de Serra, publicado em dezembro, que falava da necessidade de se colocar na pauta do debate público de 2014 “o consumo de cocaína no Brasil”. Muitos viram como uma provocação a Aécio, que acusa o “submundo” da internet de tentar ligá-lo ao consumo da droga.

O senador mineiro respondeu, na TV, que não acreditava se tratar de algo dirigido a ele. Já Serra disse ter ficado indignado com a insinuação feita na pergunta. O ex-governador paulista ressaltou ainda que é melhor nem comentar mais o assunto para não alimentar “esse absurdo”.

O ex-governador também afirmou que “não existe nem nunca existiu” a hipótese de ser vice na chapa de Aécio. “Tinha um desejo de algumas pessoas do partido, nada além disso.”

Independentemente das promessas de Serra, a campanha de Aécio prepara um esquema diferente de estrutura no Estado de São Paulo nesta disputa. Diferentemente do que ocorreu nas eleições presidenciais passadas, o comitê da campanha ao Planalto terá uma estrutura “paralela” ao comitê estadual de Geraldo Alckmin.

Lula: “ainda não é a hora

• Qual é a hora?

Lauro Jardim – revista Veja

Desânimo com as chances dos candidatos petistas

Em recentíssima conversa com um interlocutor, Lula respondeu assim a uma provocação sobre se não era a hora de ele apresentar-se candidato na eleição de outubro, dada a queda da taxa de aprovação de Dilma Rousseff nas pesquisas: “Ainda não é a hora”.

Por essas e outras é que o “Volta, Lula” não morre. Mesmo que de modo oblíquo, Lula alimenta o movimento.

A propósito, aos mais próximos Lula revela grande pessimismo com os candidatos petistas aos governos dos quatro maiores colégios eleitorais do Brasil. Embora nem sob tortura vá admitir de público, avalia que Alexandre Padilha, Lindbergh Farias e Fernando Pimentel não serão governadores. E teme pelas chances de Rui Costa na Bahia.

Candidato do PMDB em SP, Skaf descarta palanque para Dilma

• Presidente cancela participação no lançamento da candidatura de Padilha neste domingo e desagrada ao PT

• Partidos aliados no plano federal se afastam em São Paulo, maior colégio eleitoral do país

Márcio Falcão e Gabriela Terenzi - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O PMDB confirmou neste sábado (14) Paulo Skaf, 58, como candidato ao governo de São Paulo. Patrocinada pelo vice-presidente Michel Temer, a campanha do empresário, descarta, porém, um segundo palanque para a presidente Dilma Rousseff, que apoia a candidatura de Alexandre Padilha (PT) ao governo paulista.

São Paulo, maior colégio eleitoral do país, é o principal objeto de desejo do PT na disputa pelos governos locais. O Estado é governado pelos tucanos há quase 20 anos e é onde a rejeição a Dilma é maior que em outras regiões do país.

Skaf, que é presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que não vê como oferecer espaço para Dilma, uma vez que terá Padilha como seu adversário.

"Eu não creio que haja esse palanque [com Dilma], porque o PT tem candidatura a governador. (...) Eu creio que [o que] vamos fazer aqui é lutar por total independência para ganharmos as eleições seja do PT ou do PSDB", afirmou.

O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha será confirmado candidato do PT a governador numa convenção neste domingo (15). Foram anunciadas as presenças de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal padrinho político de Padilha, mas Dilma cancelou sua participação na última hora.

A decisão surpreendeu e irritou o comando da campanha do ex-ministro, que avalia que a medida trará desgaste ao candidato logo na largada.

Um dos motes da campanha do petista é justamente reforçar a ligação com o governo Dilma, apresentando ambos como responsáveis por um novo ciclo de mudança.

O Palácio do Planalto informou que a mudança na agenda foi motivada por um encontro de Dilma com a chanceler alemã Angela Merkel, que terá um jantar com a presidente.

Em maio, num jantar fechado com a cúpula do PMDB, Dilma afirmou que contava com a candidatura de Skaf para impedir a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). "Temos duas candidaturas, uma que é a do ex-ministro Padilha, e o Skaf. Acredito que é esta a fórmula do segundo turno", disse Dilma à época.

Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, Geraldo Alckmin (PSDB) seria reeleito no primeiro turno com 44% dos votos se a eleição fosse hoje. Skaf tem 21% das intenções de voto e Padilha, 3%.

Dilma não participou da convenção do PMDB, à qual compareceu o vice-presidente Michel Temer. "A presidente não esteve aqui hoje [sábado], amanhã [domingo] tem convenção do PT. Será que estará?, disse Skaf, antes de saber da mudança nos planos de Dilma.

Questionado se espera uma participação discreta do ex-presidente Lula na disputa, Skaf afirmou que não pretende provocar desconforto a ninguém e sabe que ele é padrinho político de Padilha.

Temer evitou polemizar, mas reconheceu que há um racha no Estado. Ele ainda afirmou que o PMDB e Skaf estão com ele e Dilma, mas que uma coisa é a campanha voltada para São Paulo e outra é a nacional. Temer não citou Dilma em seu discurso e preferiu destacar a unidade em torno de Skaf no partido.

Na convenção do PMDB, Skaf fez ataques aos tucanos e tentou se deslocar da imagem de Padilha. O empresário aproveitou para provocar o PT. "Mudou a polarização que existe há 20 anos em São Paulo. Agora, PMDB e PSDB estão polarizados." Também lançou sua primeira promessa, a ampliação do metrô. "Não queremos 1,5 km, queremos 70 km em quatro anos."

Popularizar campanha é o próximo passo, diz FHC

Erich Decat e Elizabeth Lopes - Agência Estado

Um das figuras centrais do convenção nacional do PSDB que oficializou a candidatura presidencial de Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considera que o próximo passo da campanha será o de "popularizar" o tucano entre os eleitores.

A avaliação de FHC ocorreu em conversa com o Broadcast Político logo após a convenção, realizada em São Paulo, neste sábado. Um dos focos do evento foi a tentativa de demonstrar união dos integrantes do PSDB paulista em torno da candidatura de Aécio.

"O próximo passo é caminhar junto com o povo, o tempo todo. É popularizar mais a campanha", afirmou o ex-presidente. O tucano também falou sobre a decisão da coordenação de comunicação de campanha de explorar o mote da "mudança". "A gente está sentido que o povo quer coisa diferente, quer pôr fim a todo esses desmazelos, à falta de atenção. O Aécio representa isso, pois é uma pessoa querida, empenhada, democrática, que tem energia para levar o Brasil para o futuro", ressaltou.

Após o evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra também falaram ao Broadcast Político sobre a participação deles na campanha presidencial do mineiro.

"Vamos trabalhar bastante, o Aécio tem uma boa receptividade em São Paulo. Além disso, acho que campanha é esperança de melhorar o Brasil. O País tem perdido oportunidades, não fez as reformas, ficou caro, com a economia estagnada", disse Alckmin. "É preciso criar uma agenda positiva para o desenvolvimento e avanço da qualidade de vida da população", acrescentou.

Adversário de Aécio dentro do PSDB pela indicação do partido para a disputa presidencial, José Serra disse que participará "no que for necessário" na campanha. "Vou estar na campanha, em São Paulo, ajudando a nacional o tempo todo. No que for necessário, estarei inteiramente disponível para isso".

A aproximação de Aécio com as principais figuras de São Paulo é considerada um das principais "vitórias" por integrantes da cúpula do PSDB de Minas Gerais. Isso se deve ao fato de que, nas eleições de 2010, quando o candidato do PSDB à Presidência foi José Serra, ele perdeu para Dilma Rousseff em Minas Gerais, reduto eleitoral de Aécio e segundo maior colégio eleitoral do país. Na ocasião, chegou a ser criado informalmente o movimento "Dilmasia" composto pela campanha de Dilma e o então candidato ao governo de Minas, Antônio Anastasia (PSDB), que hoje ocupa a coordenação de campanha de Aécio.

"Alcançamos todos os objetivos que foram fixados na pré-campanha. O primeiro deles era unificar o partido. Uma forte inserção em São Paulo é um trabalho que vinha sendo capitaneado", afirmou o presidente estadual de Minas Gerais, deputado Marcus Pestana.

Para Eduardo Campos, 'Dilma piorou o país'

Tiago Décimo - Agência Estado

O pré-candidato do PSB à Presidência, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos, disse neste sábado, em Salvador (BA), que a presidente Dilma Rousseff "piorou o Brasil" e que o próximo chefe da nação vai enfrentar uma "situação inédita" desde que a democracia voltou a vigorar no País.

"Alguns dizem que a presidente não soube (governar); outros, que não teve a capacidade; outros, que não quis. O fato é que é a primeira vez que o País vai ser entregue pior do que estava quatro anos antes", argumentou. "O (ex-presidente) Itamar (Franco) entregou (o governo) ao Fernando Henrique (Cardoso) melhor do que ele recebeu no impeachment (de Fernando Collor de Melo). O Fernando Henrique entregou o governo (a Luiz Inácio Lula da Silva) melhor do que recebeu do Itamar. O Lula entregou o País a Dilma melhor do que ele recebeu do Fernando Henrique. Agora, é a primeira vez que o presidente vai entregar o País pior do que recebeu. A Dilma piorou o País e o País precisa melhorar. Para isso, é preciso tirar a Dilma."

Campos argumenta que esse cenário justifica as vaias recebidas pela presidente no jogo de abertura da Copa do Mundo, na última quinta-feira, em São Paulo. Apesar disso, ele fez críticas aos torcedores que, em coro, xingaram Dilma. "Acho que ninguém no País gostaria de ver uma situação como essa, que a presidente do nosso país fosse tratada dessa forma na abertura de uma Copa do Mundo, diante do mundo inteiro", argumentou. "Sei que a indignação tem sentido, o que a gente não pode perder é a razão. E não perder a razão, nesse caso, é participar do debate e tirar a presidente (do poder) pelo voto."

O presidenciável foi a Salvador participar da convenção estadual do partido, que legitimou a candidatura da senadora Lídice da Mata ao governo, tendo como vice o ex-prefeito de Brumado, Eduardo Vasconcelos, e como candidata ao Senado na chapa a ex-corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon. Em sua quinta passagem pela Bahia desde que teve o nome lançado como pré-candidato ao Planalto, Campos tenta fortalecer sua candidatura nos Estados nordestinos - apesar de ser bem avaliado em Pernambuco, ele ainda é pouco conhecido no resto da Região - para fazer frente a Dilma. "Ela recebeu a chance de governar o País do povo brasileiro, sobretudo do Nordeste, e não usou essa oportunidade."

Petista radicaliza discurso e preocupa o setor empresarial

• Lula tem defendido medidas que destoam do receituário adotado por ele no Planalto

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliado do ex-presidente Lula, o empresariado já começa a ficar preocupado com o tom mais radical do discurso do petista nos últimos eventos em defesa da presidente Dilma Rousseff.

Lula tem criticado empresários, atacado a mídia e até defendido medidas econômicas que destoam do receituário adotado em seus dois mandatos na Presidência.

Em recente reunião, empresários fizeram a avaliação de que o ex-presidente pode colocar em risco seu "patrimônio" político ao voltar a entoar o discurso mais radical do "nós contra eles".

A Folha ouviu de dois interlocutores do mundo empresarial que Lula fez um bom governo ao se firmar como político com bom trânsito em todas as camadas da sociedade. Agora, dizem, ele parece optar pelo enfrentamento para tentar estancar a queda de Dilma nas pesquisas.

O risco, afirmam, é o efeito contrário, com o PT voltando a ser um partido com elevada rejeição na classe média e empresarial. A expectativa dos executivos próximos a Lula é que, se Dilma for reeleita, ele retome um discurso mais amigável e menos radical.

Um interlocutor do presidente confirma que ele está "magoado" com empresários agraciados com benefícios nos governos petistas e que, hoje, circulam em almoços e jantares oferecidos aos principais candidatos adversários, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

"Estamos recebendo relatos de que empresários que frequentam o Palácio do Planalto estão cumprimentando o Aécio como meu presidente'", critica um interlocutor de Lula, reservadamente.

Do lado dos empresários, gerou preocupação a fala de Lula em evento recente em Porto Alegre, quando criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, defendendo que o governo deveria liberar mais crédito e gastar mais.

Neste momento, está claro que um dos problemas do governo atual, diz um empresário, foi exatamente não segurar os gastos federais, o que pressionou a inflação.

Conselheiros
Em tom de brincadeira, a Folha ouviu que Lula deve estar ouvindo pouco dois de seus antigos conselheiros, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Ambos são defensores de um política fiscal mais austera para segurar a inflação dentro do centro da meta, hoje de 4,5% ao ano.

Auxiliares de Lula dizem que o recado do ex-presidente em Porto Alegre não teve como alvo apenas Arno Augustin, mas principalmente o Banco Central. A avaliação é que o BC teria apertado demais a política monetária e provocado uma escassez de crédito na economia.

Com isso, a retração no ritmo econômico foi muito forte exatamente no ano eleitoral, o que levará o país a ter um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 na casa de 1,5%, abaixo do registrado em 2013, de 2,5%.

Em entrevista, Aécio fala de simplificação de tributos

Luana Pavani - Agência Estado

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, pretende resgatar a confiança dos investidores na economia brasileira. "O nosso governo cria um clima mais sereno no mercado", declarou em entrevista ao programa GloboNews Eleições, comandado pela jornalista Renata Lo Prete, noite de sexta-feira, 13.

O senador e ex-governador de Minas Gerais também defendeu o que chama de "reorganização do Estado brasileiro". O plano passa por corte de ministérios, ações de redesenho da máquina pública, reforço das agências reguladoras e, assim que for eleito, a criação de uma secretaria para simplificação do sistema tributário. O candidato diz estar trabalhando com vários órgãos e recebendo contribuições de associações comerciais na questão para buscar "a diminuição horizontal da carga tributária."

Ele explicou que o ajuste fiscal será feito, mas não será do dia para a noite. "E o tamanho dele dependerá do desmonte do atual governo vem fazendo. Mas é natural termos uma política fiscal mais austera e mais transparente. O governo atual aposta na maquiagem dos números e isso tem agravado a situação", disse.

No primeiro bloco do programa, Aécio afirmou que o primeiro ano de governo será difícil. "O sentimento dos especialistas é que não teremos um ano fácil em 2015. Economia é expectativa, e a vitória do atual governo gerará expectativa inflacionária, de descontrole fiscal e de absoluta falta de transparência nas contas públicas. A nossa vitória pode trazer a expectativa oposta." Segundo o candidato, a sua eventual vitória poderia gerar "um ambiente de maior serenidade" para "aplicar políticas públicas mais adequadas ao crescimento e ao controle inflacionário."

Entretanto, Aécio diz que não conseguirá trazer a inflação para o centro da meta em 2015. "Isso é um projeto que estamos discutindo com a equipe econômica para dois a três anos". O candidato também falou sobre a retomada do crescimento econômico. "Tenho absoluta convicção que a adoção de novas políticas públicas, a reorganização do Estado brasileiro, o resgate da confiança do investidor nos permitirá sair da lanterna de crescimento da América do Sul (...) que o País não merece". Disse ainda que é preciso reestatizar as empresas públicas, "devolvê-las aos brasileiros."

Quanto aos programas sociais, defendeu que várias das bolsas atuais nasceram no governo FHC e disse que um ponto positivo da gestão Lula foi unificar esses programas. Citou dados de sua gestão no Estado de Minas Gerais para defender meritocracia e eficiência na administração pública federal. "O que for bom desse governo (Dilma), vamos aprimorar."

No segundo bloco da entrevista, tratou da gestão do setor elétrico. Questionado sobre a falta de planejamento na época do governo Fernando Henrique Cardoso, que resultou no apagão de 2001, respondeu que não é advogado de defesa do governo FHC, alegando que o tempo se encarrega de provar isso, mas que na época o foco era controle da inflação, "um objetivo que se sobrepunha a todos os outros", e o período de ausência de chuvas foi grande.

O apagão, admitiu, prejudicou o saldo do segundo mandato do governo FHC. Aécio reconheceu que também há seca agora, mas que, num momento de estabilidade econômica, não houve planejamento.

"Ao contrário, a presidente, de maneira populista, fez uma perversa intervenção no setor, que afugentou investidores", explicando que o Tesouro tem de socorrer as distribuidoras agora. Citou que a Cemig perdeu quase um quarto do seu valor "num passe de mágica, por causa de uma canetada" do governo.

"A verdade é que o governo do presidente Lula surfou na bendita herança do governo PSDB. E qualquer que seja o próximo presidente da República vai amargar a maldita herança do governo da presidente Dilma".

Na questão do sistema partidário nacional, o candidato defendeu o resgate da cláusula de barreira. "Sou o único candidato que tem a coragem de dizer aos aliados que se preparem para alcançar o mínimo de representatividade na sociedade para terem funcionamento parlamentar. Porque não quero apenas ganhar a eleição, eu quero governar".

Disse defender cláusula de desempenho, redução do número de partidos, mandato de cinco anos para todos os cargos, voto distrital misto, além de fim da reeleição. E aproveitou para tecer mais uma crítica: "A agenda da presidente é a de uma candidata. A reeleição acabou de ser desmoralizada pela atual presidente da República."

Quanto a denúncias de desvios e corrupção que também envolvem o PSDB, Aécio respondeu que faltam provas e que não é responsabilidade de um partido político. "Respondo pela minha vida, absolutamente correta."

Lindbergh tenta aproximação com PSB para romper isolamento

• Pré-candidato do PT ao governo do Rio só atraiu até agora PV e PCdoB

Cassio Bruno – O Globo

RIO, 14 (AG) - Pivô do rompimento da aliança entre PT e PMDB no Rio, o senador petista Lindbergh Farias luta para pôr fim no isolamento de sua pré-candidatura ao governo do estado. Sem apoio público da presidente Dilma Rousseff, ele atraiu até agora apenas dois partidos: o PV e o PCdoB. A menos de 20 dias para o início da campanha, em 6 de julho, Lindbergh corre contra o tempo para se aproximar do PSB, de Eduardo Campos, que concorrerá à Presidência da República.

O objetivo de Lindbergh neste momento é aumentar o tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio. Com dois partidos na aliança, o petista tem direito a cerca de quatro minutos e meio, menos da metade de seu adversário do PMDB, o governador Luiz Fernando Pezão, que terá mais de dez minutos graças à adesão de 16 legendas em favor de seu nome para disputar as eleições de outubro.

Lindbergh apostava em um acordo com o PDT, mas o partido liderado pelo ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi optou por seguir com Pezão. Em troca, Lupi indicou o vice na chapa, o deputado estadual Felipe Peixoto. A rejeição do PDT a Lindbergh foi considerada pelos petistas como "a maior decepção" do grupo político de senador já que este queria formar um "bloco de esquerda".

Embora negue, o senador tenta a última cartada: sepultar a pré-candidatura ao governo do deputado federal Miro Teixeira, do PROS. Assim, Lindbergh teria chances de ter o apoio do PSB. Consequentemente, aumentaria o tempo de propaganda em mais um minuto, mesmo sem ter Campos no mesmo palanque.

Nas constantes negociações com PSB, Lindbergh propõe indicar Miro Teixeira ao Senado e a deputada federal Jandira Feghali, até então nome para esta vaga, à reeleição. A proposta tem a simpatia do presidente regional do PSB, deputado Glauber Braga, que, na última semana, anunciou que deixaria de apoiar Miro. O PROS, porém, reafirma a pré-candidatura própria ao Palácio Guanabara.

Petista foi abandonado por prefeitos do partido
Lindbergh foi abandonado pela maioria dos prefeitos do PT no estado. Na sexta-feira passada, no entanto, ele anunciou que Rodrigo Neves, de Niterói, estaria ao seu lado. Neves era um dos principais apoiadores dentro do PT à candidatura do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O senador também teve de engolir os eventos em que Dilma apareceu ao lado de Pezão. Nas cerimônias, a presidente não poupa elogios ao governador. De aliado fiel, o petista tem somente o ex-presidente Lula, avalista de sua pré-candidatura. No entanto, Lula continua distante do Rio e tem presença incerta na convenção do PT, marcada para o próximo dia 20.

— Lindbergh não pediu exclusividade a Lula. Mas quer ver o ex-presidente ao seu lado nas ruas e faz questão de Dilma apenas pedindo voto para ele na televisão. Na rua, quem dá mais votos é Lula — afirmou um petista próximo ao ex-presidente.

A pré-candidatura de Lindbergh sofreu mais uma baixa nos últimas semanas. Líder da Igreja Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia sinalizou que desembarcaria da pré-campanha do senador. Malafaia comanda 105 templos, frequentados por cerca de 45 mil fiéis. É também presidente do Conselho de Pastores do Brasil, que reúne dez mil pastores em todo o país.

Os motivos do afastamento de Malafaia são a presidente Dilma e o PT. A antiga briga respingou só agora em Lindbergh. O senador frequentava os cultos do pastor, sendo até notificado pela Procuradoria Regional Eleitoral por propaganda antecipada.

— Se depender da Dilma e do PT, eu vou cair fora (da pré-campanha de Lindbergh). Não vai ter jeito. Minhas ponderações são em relação a Dilma e ao PT, mas até julho eu ainda vou decidir se apoio o Lindbergh ou não — desconversou Malafaia ao GLOBO.

Rui Falcão defende candidatura
Vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice nega isolamento de Lindbergh:

— Isolado não está. Tem apoio do PV e do PCdoB. O Lindbergh é carismático. Acreditamos que ele vá crescer nas pesquisas.

Na sexta-feira, Rui Falcão, presidente nacional do PT, reafirmou a pré-candidatura:

— Estamos apoiando candidatos do PMDB, e o PMDB apoia nossos candidatos em vários estados. Temos dialogado com dirigentes do partido aliado para minimizar conflitos, mas não pretendemos retirar a candidatura de Lindbergh.

Merval Pereira: Espírito de sobrevivência

- O Globo

Desde a eleição presidencial de 1998, o PSDB não conseguia apresentar uma candidatura que unisse tanto o partido quanto a de Aécio Neves, confirmada ontem quase que por aclamação na convenção partidária realizada em São Paulo, berço do partido e maior colégio eleitoral do país.

A façanha é mais emblemática ainda se considerarmos que esta é a primeira vez em que um candidato não paulista é o representante do partido.

Na verdade, a tarefa de Aécio Neves, embora delicada, foi facilitada pelo espírito de sobrevivência que prevaleceu no partido e pelo fato de que esta é a primeira eleição presidencial em muitos anos em que não há um candidato paulista na disputa.

Esta seria a razão para que a escolha do vice na chapa tucana venha a recair num candidato paulista, para aumentar a influência regional na eleição. Dois nomes são os mais cotados: o senador Aloysio Nunes Ferreira e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que será o escolhido se o PSD de Gilberto Kassab fechar acordo nacional com o PSDB. O PSD daria os minutos de televisão para os tucanos e teria em troca a vice na chapa do governador Geraldo Alckmin e a vice nacional com Aécio Neves.

Se fechada essa negociação que está em curso, o PSDB reduziria a vantagem que a presidente Dilma tem na propaganda eleitoral. O ex-governador José Serra era também cotado para o cargo, mas ontem foi aclamado por Aécio como futuro senador por São Paulo.

Serra discursou na convenção, selando a pacificação no PSDB, e tem se colocado como um soldado do partido. Provavelmente será ministro em um eventual governo de Aécio Neves e ainda reforçará, com sua votação, a bancada federal do PSDB se decidir concorrer a deputado federal.

O PSDB tem o domínio político dos dois maiores colégios eleitorais do país — São Paulo e Minas Gerais — mas nunca, desde Fernando Henrique Cardoso, venceu nos dois estados na mesma eleição presidencial, mesmo quando elegeu os dois governadores. Graças à força do partido em São Paulo e Minas Gerais, Fernando Henrique Cardoso venceu no primeiro turno as eleições de 1994 e 1998.

Na primeira eleição, FHC colocou 3 milhões de frente sobre Lula em Minas e 4,5 milhões em São Paulo. Na reeleição, a diferença a favor de Fernando Henrique em Minas foi menor, de 2,1 milhões de votos, mas em São Paulo ele ampliou a diferença para 5,1 milhões.

Um detalhe interessante: desde a redemocratização, nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas. Não se trata de mera coincidência, mas de uma representação das diversas regiões do país confirmada pelo presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que constatou em muitos anos de pesquisa eleitoral que os resultados em Minas refletem cada vez mais a média nacional.

Isso porque Minas tem sua parte Nordeste na região do Vale do Jequitinhonha, e, assim, faz parte da Sudene; ao mesmo tempo, é a segunda economia do país (disputando com o Rio) com uma região fortemente industrializada; tem grande influência paulista, na divisa com São Paulo; Juiz de Fora é muito ligada ao Rio de Janeiro; e o estado tem no agronegócio uma parte influente de sua economia.

Em alguns casos, o resultado local foi praticamente igual ao nacional. E, quando isso não aconteceu, é certo que a tendência fica definida nas urnas mineiras: Lula teve 50,8% (48,6% no país), contra 40,6% (41,6% no país) de Alckmin em 2006.

Em 2002, Lula venceu com 53% (46,4% nacional) e Serra teve 22,9% (23,2% nacional). O candidato do PSDB, fosse Serra ou Alckmin, sempre venceu em São Paulo, mas não conseguiu repetir a votação que Fernando Henrique teve.

Alckmin venceu em 2006 por uma diferença de 3,8 milhões, e Serra, em 2010, por 1.846.036. A questão é que perderam para Lula e Dilma em Minas e no Rio. Desta vez, superando as divisões internas, o PSDB prepara-se para a corrida presidencial deste ano com a estratégia de vencer nos dois estados, e com boa possibilidade de ter uma votação importante no Rio, onde o PT tem vencido as eleições nas últimas vezes.

A dissidência dos partidos da base governista no Rio pode levar o candidato do PSB a neutralizar uma diferença de 1,5 milhão de votos que o PT vem tirando no terceiro maior colégio eleitoral do país. Os três estados, juntos, representam cerca de 40% do eleitorado.

Dora Kramer: (Des) mandamentos

• Diferenças ‘programáticas’ entre PT e PMDB têm relevância abaixo de zero

- O Estado de S. Paulo

Fala-se nas diferenças de ideias entre PT e PMDB como se a representação mental de algo concreto fosse a razão primordial da aliança entre os dois partidos.
Mas o fato de divergirem sobre questões como a criação de conselhos populares para orientar decisões de governo, controle dos meios de comunicação e plebiscito sobre Constituinte exclusiva para reforma política não tem a menor importância.

Esses temas são caros aos petistas, que nem por isso dão a mínima para a posição contrária dos pemedebistas. Entre outros motivos porque no mundo real todos eles sabem que tais propostas não passam de conversas para agradar momentaneamente o público do PT e que não vão adiante por absoluta ausência de respaldo político, social e, em alguns aspectos, legal.

Assim como as divergências de pontos de vista pouco importam, é irrelevante a agenda dita de compromissos que o PMDB apresenta ao parceiro para fugir da pecha de fisiológico quando firma aliança para concorrer às eleições. Em 2006, ao aderir de corpo e alma ao governo Lula, o partido apresentou um documento chamado "Os sete mandamentos", do qual falaremos adiante.

Falemos primeiro dos mandamentos de 2014. São oito os itens escolhidos pelo PMDB para exibir como "prova" de que o apoio à reeleição de Dilma Rousseff é programático.

São as seguintes as exigências para eventual segundo mandato: 1. Forte suporte público à política industrial; 2. Retomada do processo de crescimento mediante a criação de um Plano Nacional de Formação e Qualificação de Trabalhadores; 3. Novo modelo de política de infraestrutura; 4. Garantia de acesso à saúde e à educação; 6. Manutenção e extensão das políticas compensatórias; 7. Democratização dos meios de comunicação; 8. Política externa independente e progressista.

Em matéria de obviedades, estaria completo o decálogo com o apoio à luz elétrica e à água encanada. Ainda assim, vamos que Dilma reeleita não cumpra os compromissos exigidos pelo PMDB, deixará ele o governo em protesto programático?

Sem chance. Ficará exatamente onde lhe convier. Como fez nos últimos anos desde que apresentou os tais sete mandamentos de 2006, reunidos em documento na ocasião tido como atestado da "altivez doutrinária" do PMDB.

Vamos aos pontos: 1. Reformas política e tributária; 2. Crescimento econômico acima de 5%; 3. Manutenção dos gastos correntes a níveis inferiores ao PIB; 4. Consolidação das atuais políticas de transferência de renda; 5. Renegociação das dívidas dos Estados; 6. Fortalecimento da federação; 7. Criação de um conselho político de partidos para acompanhar as ações de governo.

Os escribas de tão nobres tábuas tiveram o cuidado de ser mais genéricos entre uma e outra. A de 2014 é vaga o suficiente para não dar margem alguma a cobranças. Já a de 2006 se presta a comparações com a realidade.

Reformas política e tributária? Nem pensar. Crescimento acima de 5%? Nem precisamos entrar e em detalhes. Contenção dos gastos públicos fez o caminho inverso ao do PIB, proporcionando aquele falado espetáculo do crescimento. As políticas de transferência de renda são de interesse do governo; portanto, compromisso do PT com ele mesmo.

Já era previsto que o PMDB não se revoltaria caso não se fortalecesse a federação nem promoveria a ruptura se o tal conselho de partidos não vingasse, como não vingou.

O PMDB renovou a aliança com o PT em clima de revolta, mas não por quebra de compromissos programáticos e sim por falta de influência no governo, insuficiência de poder nos ministérios e avanço do PT sobre as bases do partido nos Estados.

Coisa feia. O que se viu na abertura da Copa ficou muito pior para quem não diferencia protesto de estupidez do que para a presidente que cumpria missão protocolar. Vaia é do jogo, mas o insulto despolitiza o gesto.

Eliane Cantanhêde: Vaias a favor

- Folha de S. Paulo

Depois das vaias e xingamentos, Lula e Dilma deram uma aula de como fazer de um limão azedo uma bela limonada docinha. Ele é craque nisso, ela foi atrás.

Na dúvida atroz entre ir ou não ir à abertura e ao jogo de estreia da Copa, Dilma ficou no meio do caminho: foi, mas sem discursar, acenar e nem mesmo aparecer. Ficou praticamente escondida num canto.

Vieram as vaias, como já esperavam o Planalto e a sociedade. Mas vieram também os palavrões, que não estavam no script.

A primeira reação foi contra Dilma: "onde ela vai, é vaiada"; "vai ficar trancada na campanha"; "colhe o que plantou"; "a reeleição já era".

As redes sociais, porém, amanheceram no dia seguinte recheadas de manifestações de desagravo, solidariedade e simpatia pela "presidente, pela mulher, pela mãe, pela avó". E com o X da questão: tudo começou na área da elite endinheirada.

De ré que merecia vaias pelo "mau humor e arrogância", como desferiu Aécio Neves, Dilma evoluiu para vítima de xingamentos infames diante do mundo. Anti-dilmistas, até tucanos, engrossaram o coro de defesa da presidente-candidata.

O episódio, que era para ser rapidamente esquecido pela campanha petista, passou, ao contrário, a ser potencializado por ela.

Lula ofereceu uma fotogênica rosa branca à pupila ofendida e, de repente, admitiu que trouxera para o Brasil uma Copa "para ricos". Dilma, sacou ele, era a única com cara de pobre (?!) no Itaquerão.

Em menos de 24 horas, Aécio amenizou o tom, conforme a música da opinião pública, e passou a criticar os xingamentos. Com seu recuo, selou o êxito da estratégia lulista.

Os gritos do Itaquerão deixam de ser limão contra Dilma, viram limonada a favor dela e reforçam o bordão dos "pobres contra os ricos". Mas, se xingamentos devem ser condenados, vaias são manifestações legítimas e não são exclusivas da Copa e de ricos. Já viraram rotina.

Luiz Carlos Azedo: Candidato café com leite

- Correio Braziliense

A convenção nacional do PSDB confirmou ontem o nome do senador Aécio Neves (MG) como candidato da legenda à Presidência da República nas eleições de outubro. O político mineiro conseguiu a proeza de unir a legenda, incorporando à candidatura a ala ligada ao ex-governador José Serra, com quem havia disputado o comando do partido. Aécio chegou à convenção com 22% de intenções de votos, segundo o último Ibope, o que lhe garante a condição de principal adversário da presidente Dilma Rousseff, que, na mesma pesquisa, tem 38%. Aécio deixou para trás o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, que tem 13%.

O candidato tucano busca reconstruir a aliança de Minas com São Paulo, uma relação que sempre foi tensa, desde o fim da chamada política café com leite, na República Velha. Na Revolução de 1930, o governador mineiro Antônio Carlos apoiou o movimento armado que levou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder, impedindo a posse do paulista Júlio Prestes, que fora eleito a "bico de pena", derrotando a Aliança Liberal. Na Revolução Constitucionalista de 1932, tropas mineiras também marcharam contra São Paulo.

A elite paulista, mesmo derrotada, sempre buscou o próprio protagonismo, com o cacife de que quem abdicou do patrimonialismo para investir na industrialização, o que transformou o estado na "locomotiva do Brasil". Aécio seduziu os eleitores paulistas.

Entre os 31,8 milhões de eleitores de São Paulo, que representam 22% do total, pesquisa Datafolha mostrou que Aécio Neves (PSDB) venceria Dilma Rousseff por 46% a 34%. É um desempenho espetacular para quem enfrentava forte oposição dos políticos no estado, não somente do PT, mas dentro de sua própria legenda.

Sonho mineiro
Aécio encarna o sonho dos mineiros de voltar ao centro do poder, reeditando os anos dourados do governo de Juscelino Kubitschek, na década de 1950. Esse sonho foi frustrado pelo regime militar e, depois, pela morte de Tancredo Neves, apesar dos dois anos de mandato de Itamar Franco. Mesmo mineira, Dilma Rousseff não representa esses interesses. A estratégia de Aécio Neves para unir o PSDB foi resgatar o legado político e institucional do governo de Fernando Henrique Cardoso, mesmo correndo o risco de restabelecer um tipo de polarização que levou os tucanos à derrota em 2002 (com José Serra), 2006 (com Geraldo Alckmin) e 2010 (com Serra, novamente).

Nessas três eleições, foi responsabilizado pela derrota, acusado de fazer corpo mole na campanha, o que sempre negou. Ontem, o ex-governador José Serra, o senador Aloysio Nunes (SP) e o ex-governador Alberto Goldman, que sempre o criticaram, estavam na convenção, firmes com Aécio, ao lado de Fernando Henrique e dos governadores Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Teotonio Vilela (AL) e Beto Richa (PR).

Ao som do Hino Nacional lembrou o avô Tancredo Neves, eleito presidente da República pelo colégio eleitoral em 1984, mas que morreu antes de assumir. Fez rasgados elogios ao PSDB na gestão FHC: 

"Transformamos a realidade brasileira de forma permanente com o Plano Real. O Real recuperou a confiança do Brasil em si próprio..." Para contrariedade da presidente Dilma, voltou a dizer que o DNA do Bolsa Família é tucano: "Criamos os primeiros programas de transferência de renda e benefícios sociais, aquilo que se tomou depois o Bolsa Família".

O principal artífice de sua candidatura foi Fernando Henrique: "Posso dizer, do alto dos meus 83 anos, que o Brasil precisa de um líder jovem", disse. Hábil nas articulações políticas, o ex-governador mineiro faz uma aposta arriscada ao centralizar sua estratégia na economia e não na política, mas talvez seja essa a única via para chegar ao Planalto: "Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o Plano Real é quem hoje não controla a inflação. Quem foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal é quem hoje assina essa contabilidade maldita, disparou.

O ex-governador de Minas costuma dizer que sua bala de prata é a escolha do vice, opção que já foi feita tanto pela presidente Dilma Rousseff, que manteve Michel Temer na sua chapa como representante do PMDB, como por Eduardo Campos, que cresce com a ex-senadora Marina Silva na vice. Um dos nomes possíveis é o do ex-governador José Serra, que ontem reiterou seu apoio a Aécio: "Este espírito de mudança, Aécio, que agora converge para a sua candidatura, é o desdobramento de uma longa jornada no Brasil". Mas descartou seu nome na chapa. É candidato ao Senado ou à Câmara.

Aécio conquistou a unidade da legenda sem ceder a vice na composição interna. Seu companheiro de chapa pode ter um cacife decisivo para a eleição. Estão cotados o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati e a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, que é gaúcha, além do senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, todos do PSDB. Entre os aliados, desponta o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM. A bala de prata seria um vice capaz de atrair para sua coligação mais uma legenda. O PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.

João Bosco Rabello: A farsa como método

- O Estado de S. Paulo

Menos pela ameaça que poderia representar, se chance tivesse de sobreviver ao Congresso, o decreto presidencial que cria os conselhos populares merece o alarde e a resistência que provocou por representar mais uma tentativa do PT de governar à revelia da sociedade organizada.

Com os movimentos sociais fugindo ao controle em meio a uma campanha eleitoral que devolve o partido ao patamar histórico de 30% das intenções de voto - insuficiente para a reeleição de sua candidata -, e com uma base parlamentar cada dia mais hostil, o PT investe na chamada democracia direta.

A defesa do decreto pelos ministros Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho, a quem ficariam subordinados os tais conselhos, não resiste a uma simples constatação: se boa fé política os movesse, o Congresso seria incluído na iniciativa com uma proposta em forma de projeto de lei, ainda que isso não corrigisse a inconsistência da iniciativa.

Mas como a ideia é exatamente substituir o Poder Legislativo por conselhos de composição ideológica afinada com o PT, a opção pelo decreto é autoexplicativa. O assembleísmo, do qual são retrato fiel as chamadas conferências nacionais do PT, representaria a "sociedade civil", no ideal petista de governo, onde o Congresso seria melhor se decorativo.

Se votado hoje o projeto de Decreto Legislativo da oposição, que revoga o presidencial, o Congresso imporia nova derrota à presidente Dilma, agora na véspera da eleição, razão pela qual o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), preferiu adiá-la, a pedido do vice- presidente Michel Temer.

Mas a conta continuará a mesma após a eleição: para aprovar o decreto legislativo que revoga o presidencial são necessários 257 votos - 19 a menos que os 238 dos dez partidos que o apresentaram. Como o PMDB já se manifestou contrário e o espírito de autodefesa do Congresso o rejeita, não há futuro para os conselhos do PT.

O que resta do episódio é a indigência de conteúdos do governo petista, incapaz de produzir propostas que respondam aos anseios reais da população.

O partido insiste na opção da farsa como método, como demonstrou mais uma vez ao assumir a desfiliação do deputado André Vargas (PR), flagrado em corrupção.

Na vida real, o PT fez um acordo com Vargas, a quem interessava a desfiliação, como forma de evitar sua cassação e viabilizar seu retorno na próxima eleição, escapando à consequente perda dos direitos políticos por oito anos.

Não falta razão, por isso, ao ex-presidente Lula, quando manifesta preocupação com a imagem de corrupção que passou a selo do partido, líder hoje nesse quesito.

A política (do PT) em xeque: O Estado de S. Paulo - Editorial

É fato conhecido que ano de eleição tem regras próprias: mais greves, mais reivindicações, maiores movimentações sociais. Mas 2014 está sendo diferente de todos os outros anos eleitorais.

A Copa do Mundo maximizou essas estridências eleitorais e escancarou a distância entre a sociedade e a política, entre a expectativa e a realidade. A última confirmação veio pelo Pew Research Center, renomado instituto de pesquisa norte-americano, que, em recente relatório, deu nome aos bois nessa generalizada sensação de crise.

O atual quadro de insatisfação apresenta um desafio para o Estado brasileiro nas suas três esferas. Não se trata apenas de um problema criado pelo sentimento popular. Existem inúmeras questões que o poder público precisa enfrentar responsavelmente: a (i)mobilidade urbana, o combate às drogas, a educação, a segurança pública, etc. E, numa democracia, a solução de qualquer um desses problemas nunca é algo meramente técnico, operacional. Requer sempre, como condição necessária, a sua viabilização política.

Neste sentido, o legado mais prejudicial que o PT deixa ao País, nestes 12 anos de poder federal, não é na economia, cujo cenário é grave, para não dizer gravíssimo. A sua herança realmente maldita é na política, ao perpetuar e intensificar a lógica do populismo.

Na voracidade por se instalar no poder, utilizou o seu capital político - em essência, o carisma de um homem - para excluir qualquer racionalidade do debate público, vendendo e prometendo o impossível. Impregnou de tal forma o sistema de populismo que, por exemplo, todos os partidos não tiveram outro jeito senão apoiar uma lei que se sabe impossível de ser cumprida: o Plano Nacional da Educação, com a vinculação de 10% do PIB para a educação. Era evidente que quem ousasse se posicionar de forma contrária à lei estaria morto nas próximas eleições.

O papel aceita tudo, e vai-se deformando a percepção popular, como se o problema brasileiro fosse uma questão de voluntarismo político. O resultado é evidente: não temos um país que aprendeu a andar com as próprias pernas, que sabe sonhar, que olha o presente nos olhos, sem medo do futuro.

Assemelha-se mais a uma casa onde o pai e a mãe endoideceram, tiveram-se por ricos e gastaram o que tinham e o que não tinham, contando bonitas e ilusórias histórias aos filhos, que vão descobrindo aos poucos que a festa acaba, que não há mais dinheiro para o almoço e que o mundo é mais complexo do que aquilo que estavam habituados a ouvir em casa.

Por fim, tem-se um país desiludido, conforme semanalmente vão mostrando as pesquisas nacionais e internacionais. O populismo gera volatilidade, altos e baixos "aparentemente" inexplicáveis.

Há quatro anos podíamos tudo, com a abundância do petróleo do pré-sal como cartão de embarque para o mundo desenvolvido e a felicidade perpétua. Não é de estranhar, já que as ideologias têm no seu âmago a ideia do progresso inexorável. Bastaria cumprir a cartilha e tudo seria perfeito.

A sociedade brasileira anseia por uma melhor educação? Sim, mas o primeiro passo educativo é a responsabilidade. Para gastar mais em educação - que é necessário, mas não é o único nem o principal problema - é preciso cortar gastos em outras áreas. Isso não é neoliberalismo. É simplesmente não enfiar a cara no buraco, como uma avestruz diante do perigo.

Como disse Fernando Gabeira, em artigo publicado no Estado (Dilma e as uvas, 6/6), "até que ponto o cinismo triunfará amplamente numa sociedade democrática é o enigma que envolve o futuro próximo do Brasil". É possível uma mudança? Como em política não há determinismos, a resposta é sim, e dentro do mais delicado respeito à democracia.

As crises são sempre oportunidades de renovação, já que fazem ver além do discurso oficial. O pessimismo não é a única carta disponível diante das tristes notícias que chegam aos brasileiros todos os dias. Com o voto, é possível do limão fazer limonada.