Pré-candidato do PSDB à Presidência considera equivocada decisão de incluir outros temas na CPI da Petrobras
Silvia Amorim – O Globo
SÃO PAULO - Um dia depois de o governo conseguir a primeira vitória no Congresso na discussão sobre a instalação da CPI da Petrobras, o pré-candidato do PSBD à Presidência, senador Aécio Neves, fez críticas à postura do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Ele disse que o senador, para atender a interesses do governo, deixou uma das "páginas mais tristes" da biografia do Senado.
- Essa decisão do Renan é equivocada. É uma nódoa que ele deixa na sua história pessoal e na do Senado (...) Infelizmente, para atender ao governo, que é quem manda no Congresso, o presidente Renan Calheiros escreve uma das mais tristes páginas na história da nossa instituição.
Renan usou um parecer do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Paulo Brossard, para abrir brecha para incluir na CPI, proposta pela oposição, outros dois temas: o cartel de trens dos governos de São Paulo e do Distrito Federal e o porto de Suape, em Pernambuco, que atingem os adversários eleitorais da presidente Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, respectivamente.
Aécio, que participou de um almoço com a bancada de deputados estaduais na capital paulista, disse que a oposição "deposita todas as fichas" na decisão do STF. Mas, diferentemente do que alguns tucanos cogitaram ontem, ele defendeu que o PSDB participe da CPI, caso ela seja criada mesmo com outros temas agregados às denúncias da Petrobras.
- Eu acho que de qualquer forma nós devemos estar lá presentes, por mais que eu não acredite que ela queira investigar absolutamente nada. Até para sentir que há uma manobra e, num segundo momento, pensar em fazer um ato de protesto.
O encontro de Aécio com os deputados paulistas do PSDB foi marcado em um restaurante no bairro do Jardins, área nobre da cidade. Nesta quinta-feira, o senador cumpre uma agenda de eventos públicos prevista para terminar à noite. Aos tucanos paulistas, Aécio vai propor que a convenção nacional do PSDB que oficializará seu nome para a disputa presidencial aconteça em São Paulo.
Ainda não há data definida. Nas últimas eleições, o ato aconteceu em Brasília.
A escolha do candidato a vice ficará, segundo ele, para o fim de maio ou início de junho. Agora, defendeu o senador, é momento para organizar a campanha.
- Hoje é momento de falarmos de organização de campanha. Pretendo nessa conversa fazer a sugestão de que nossa convenção nacional que indicará o nome do candidato do PSDB à Presidência ocorra em São Paulo numa demonstração da importância que daremos na campanha e no governo ao estado de São Paulo - afirmou.
O senador comemorou nesta tarde o acordo fechado nesta manhã entre o PSDB e o PMDB para a sucessão na Bahia.
- Fechamos uma chapa forte na Bahia, quarto colégio eleitoral do Brasil, que terá como candidato o ex-governador Paulo Souto e, para o Senado, o ex-deputado Gedel Vieira Lima. Uma aliança do PSDB, do Democratas e do PMDB. Um demonstração de que teremos apoio de siglas dissidentes do governo Dilma.
Em relação ao indiciamento do pré-candidato do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, ele repetiu o discurso feito pelo companheiro de partido.
- O que é estranho é que depois de cerca de 10 anos de dados os esclarecimentos considerados satisfatórios, quando ele vira candidato esse assunto surge. Mas ele já deu os esclarecimentos e se houver necessidade de mais ele certamente os dará.
Renan rebate oposição
Após ouvir a fala de Aécio, o presidente do Senado, Renan Calheiros, criticou a oposição, que governa os dois estados e quer uma CPI restrita à Petrobras. Ele admitiu até mesmo a coexistência de várias CPIs sobre o tema.
- Corre o risco de ter mais de uma CPI. Quando fui presidente do Senado Federal da outra vez nós fizemos simultaneamente cinco CPIs. Tem determinado momento da vida nacional que é importante ter muita CPI para que as respostas sejam dadas. O difícil é você limitar, dizer: "Tem problema na Petrobras? Tem. Mas vamos limitar, investigar só a Petrobras, com tantos problemas no Brasil?". O mais recomendável do ponto de vista do parlamento seria aproveitar e dar a resposta sobre esses problemas todos. Convergindo os esforços de todos, o Congresso Nacional estaria dando respostas mais ágeis à sociedade - disse Renan.
Segundo o presidente do Senado, está difícil acreditar na oposição.
- Fica difícil (a oposição) dizer que quer investigar. Mas quer investigar uma denúncia isolada. Tem outras denúncias que estão na ordem do dia que não podem ser investigadas. Ora! Como é que o Congresso vai poder investigar a Petrobras, e eu acho que tem que investigar sim, e não vai investigar o metrô, não vai investigar o porto de Suape, não vai investigar a corrupção que houve em relação aos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, que inclusive pagou marqueteiro nas campanhas eleitorais? Vamos aproveitar e investigar tudo.