A pouco mais de um ano das eleições de 2014, o virtual candidato a presidente da República pelo PSDB, senador Aécio Neves (MG), incorporou o discurso do colega de partido e governador do Paraná, Beto Richa, que deve concorrer à reeleição. Aécio encampou as reclamações de Richa de que a gestão paranaense tem sido vítima de “perseguição” por parte do governo federal. A perspectiva é de que a dupla enfrente como adversárias a presidente Dilma Rousseff e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ambas do PT.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo na sede do PSDB em Brasília, na última quinta-feira, Aécio definiu como “asfixiante” a forma como o governo federal trata o estado na liberação de transferências. Sem citar números, prometeu “denunciar e cobrar da presidente uma ação republicana”. O senador, que é presidente nacional do partido, está em Curitiba para participar de um encontro regional da legenda.
Chico Marés
Aécio: “Candidato que chegar ao 2º turno contra Dilma vencerá eleições”
Em entrevista coletiva em Curitiba ontem, o senador Aécio Neves comentou seu desempenho recente em pesquisas de intenção de voto – nas quais aparece na terceira colocação. Ele disse que não briga com os institutos, mas que se encontra em desvantagem em relação à presidente Dilma Rousseff, que considera já estar em campanha, e a Marina Silva, que foi candidata à Presidência nas últimas eleições.
“O dado que considero mais importante, até porque aparece em todas as pesquisas, é que pelo menos 60% dos brasileiros não querem votar na atual presidente”, disse. “O candidato que chegar ao segundo turno contra Dilma vai vencer as eleições.”
Aécio também defendeu que a Rede Sustentabilidade, partido de Marina, tenha seu registro aprovado no TSE e disse que “o Brasil merece” opções dentro da oposição, como a própria Marina e Eduardo Campos (PSB).
Desde 2011, a gestão Richa vem sofrendo problemas para conseguir a liberação, por parte da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), de empréstimos nacionais e internacionais acima de R$ 2 bilhões.
Qual é a importância estratégica do Paraná para as eleições de 2014?
O Paraná, além de ser um dos principais estados brasileiros, tem um governador do PSDB com uma história como a do Beto, e por isso é um ponto de referência para nós, do ponto de vista de administração e geopolítico. Na Região Sul, é o nosso bastião mais sólido. Apesar da forma asfixiante com que o governo federal trata o Paraná, e essa é uma questão extremamente grave, o Beto tem conseguido avanços importantes. Seja no fortalecimento dos municípios, seja em programas que são referência, como o Mãe Paranaense. Nós queremos buscar algumas boas experiências da administração Beto como inspiração para a construção de um projeto nacional.
Quando o senhor fala em asfixia é porque acredita em perseguição política por parte do governo federal ao Paraná?
Eu não tenho dúvidas de que sim, que há uma perseguição política ao Paraná. Há um embate eleitoral antecipado indevidamente pelo governo federal, desde o momento em que o ex-presidente Lula lançou a presidente Dilma como candidata. Nós deixamos de ter uma presidente candidata para termos uma candidata a presidente full time. Isso contamina, obviamente, as relações estaduais. O que eu vejo é que estados com dificuldades ou com problemas fiscais muito mais graves do que o Paraná estão tendo muito mais facilidades na obtenção de recursos da União. Nós temos de denunciar e cobrar da presidente uma ação republicana.
Como o senhor vê um possível confronto entre Beto Richa e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pelo governo do Paraná? Haverá um tom nacional, polarizado?
Até pela história recente do Brasil, é natural que a campanha caminhe para uma certa polarização. Mas nós não devemos ter medo da polarização. Nós estamos prontos, nacional e regionalmente, para discutirmos qualquer tema. Na área econômica, que é uma questão mais nacional, nós somos os responsáveis pela estabilidade da economia, pela sua modernização, pela sua internacionalização, pela privatização de setores que deveriam ter sido privatizados e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O que o governo do PT fez? Flexibilizou todos esses valores. Nos estados, vamos também para o embate. Nós apostamos em um governo que apoie as pessoas, que ajude as pessoas a se desenvolver. O PT tem a lógica de um governo que faz tudo para as pessoas, um governo paternalista.
Na última propaganda partidária nacional do partido, o senhor falou em inflação, falta de logística e paternalismo do governo petista. Esse será o tripé da campanha do PSDB?
Nós vamos chegar ao final desse governo do PT com a marca da ineficiência. Ineficiência pela má gestão econômica. Ineficiência porque todos os grandes eixos de desenvolvimento, inclusive algumas obras estruturantes que dizem respeito ao estado do Paraná estão no meio do caminho. Os investimentos federais, por exemplo, no Porto de Paranaguá não existem. O governo do estado é quem tem aportado recursos lá. Eu estive recentemente no Centro-Oeste do país, e as carências de infraestrutura, que também afetam o Paraná, são as mesmas de dez anos atrás. O governo do PT quer fazer parecer normal realizar investimentos sem planejamento, sem controle algum, e as obras ficarem pelo meio do caminho. Isso não é normal.
Do ponto de vista eleitoral, o senhor acredita que quanto mais candidatos forem lançados em 2014, com José Serra pelo PPS e Eduardo Campos pelo PSB, melhor será para a oposição?
Meu papel hoje, como presidente do PSDB e não como candidato, é apresentar uma proposta alternativa à que está aí. Eu tenho confiança de que o contraponto real será o do PSDB. Agora, qualquer candidatura é legítima. Eu não ajo como o PT, que busca sufocar a criação de novas alternativas. Eu saúdo a Marina Silva se ela conseguir viabilizar o seu partido, acho que ela traz um componente importante para a disputa, assim como o Eduardo. Nós não temos que temer adversário.
Onde o PSDB errou nas últimas três campanhas presidenciais?
Ao abandonar o nosso legado. Nós precisamos ser afirmativos na defesa do que nós fizemos lá atrás. Seja na estabilidade monetária, seja na internacionalização da economia e nas próprias privatizações. O abandono dos nossos feitos foi um equívoco. E não ir para um embate com o PT na questão social talvez tenha sido outro. O DNA do Bolsa Família é do PSDB. A diferença entre nós e o PT é que, para nós, o Bolsa Família é o ponto de partida. Para o PT, é o ponto de chegada.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)