Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Opinião do dia – Theodoro W. Adorno*
Merval Pereira - Acertando os ponteiros
O Globo
E sensata a reunião do presidente Lula com
os comandantes militares
A crise latente entre as Forças Armadas e o
governo recém-eleito é consequência da politização dos militares levada a cabo
pelo ex-presidente Bolsonaro, com a intenção de que apoiassem o golpe militar
que articulava desde mesmo a campanha presidencial de 2018. Mas também do
descaso da sociedade e dos políticos em discutir o papel dos militares num
governo democrático, dando importância a suas demandas e projetos.
O apoio das Forças Armadas ao golpe de Estado tentado no dia 8 de janeiro não aconteceu de maneira formal, mas setores militares aderiram, participando como ativistas ou facilitadores do vandalismo. Segundo Adriano de Freixo, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, num estudo sobre os militares e o governo Bolsonaro que já abordei aqui na coluna antes dos acontecimentos recentes, as Forças Armadas têm dificuldade para lidar com o controle civil desde quando foi criado o Ministério da Defesa, que deveria ter sido comandado sempre por um civil.
William Waack - Falta respeito
O Estado de S. Paulo
A relação entre Lula e os militares está num ponto crítico
O princípio da autoridade depende do
respeito entre quem manda e quem obedece. Inversamente, desconfiança mútua
corrói a capacidade de dar ordens e dificulta que sejam cumpridas.
É o ponto em que está no momento a relação
entre Lula e os militares.
Os resultados que isto produz estão em
Command, mais uma obra monumental de Sir Lawrence Freedman (do clássico
Strategy), do King’s College de Londres, que acaba de ser publicada. O foco é
entender como a relação entre autoridades civis e militares condiciona decisões
de todo tipo, sobretudo em guerras.
“Os que dão as ordens deveriam ter a autoridade que traz o respeito de subordinados”, escreve Freedman. “Autoridade é algo a ser conquistado, não para ser dada como certa – e isso vale para os civis e para os generais.”
Luiz Carlos Azedo - Uma reforma militar será inevitável
Correio Braziliense
Reforma militar pode ganhar apoio da sociedade,
principalmente da juventude, em razão dos últimos acontecimentos envolvendo as
Forças Armadas
Recém-eleito, com 288 mil votos, o jovem deputado Amom Mandel (Cidadania), de 21 anos, o mais votado no Amazonas para Câmara dos Deputados, antes mesmo de tomar posse, iniciou uma campanha para acabar com o serviço militar obrigatório, um verdadeiro tabu para as Forças Armadas. “Estou preparando um projeto para propor o fim do alistamento militar obrigatório. Qual a sua opinião?” — anunciou no Twitter, a sua principal ferramenta de intervenção política. A proposta provocou 3.567 comentários e teve 1.538 compartilhamentos, o que já é suficiente para se tornar uma causa com ressonância na sociedade e posicionar seu mandato junto à opinião pública.
Maria Hermínia Tavares* - Sem fórmulas fáceis
Folha de S. Paulo
Frente de batalha contra extremistas também
é cultural, no plano dos valores
A democracia convive mal com a radicalização
política. Por isso, desradicalizar, verbo que arranha os ouvidos, é uma das
tantas urgências que o governo e a sociedade brasileira têm diante de si.
Na sequência das imagens panorâmicas do ataque da extrema direita que a TV transmitiu ao vivo, no domingo (8), as emissoras vêm mostrando, a cada dia, os detalhes da destruição. Ela foi gestada pela pregação de Bolsonaro contra as eleições e as instituições democráticas; facilitada pela omissão do governo do Distrito Federal; e executada por indivíduos que se consideram em guerra contra um imaginário perigo comunista, contra o qual pensavam desencadear o golpe final.
Bruno Boghossian - Quem procura acha
Folha de S. Paulo
Vice-procurador que alertou para risco de
desinformação sobre urnas foi demitido em 2021
No dia 3 de maio de 2020, Jair
Bolsonaro foi à rampa do Palácio do Planalto para saudar uma
manifestação a favor de um golpe de Estado. O então presidente foi até o
grupo, que pedia uma intervenção militar no país e o fechamento do STF, para fazer um
ataque ao tribunal. "Não vamos admitir mais interferência. Acabou a
paciência", afirmou.
A Procuradoria-Geral da República não viu problema no episódio daquele domingo. Meses depois do ato, a equipe de Augusto Aras se recusou a abrir uma investigação contra o presidente, com o argumento de que o comportamento de Bolsonaro não representava um "risco real" ao regime democrático.
Thiago Amparo - Bolsonaro, o (quase) fugitivo
Folha de S. Paulo
Biden precisa avaliar se quer bancar custo
político cada vez mais elevado de abrigá-lo
Imbróglios convergem para tornar a presença
de Jair Bolsonaro em solo estadunidense difícil de engolir para a
diplomacia americana.
Não cabe bem à autoimagem dos Estados Unidos de parceiro estratégico do Brasil abrigar, em seu solo, um ex-presidente agitador de um golpe de Estado pior do que a invasão do Capitólio. Com a condenação do vandalismo em Brasília por Rússia e Itália, possíveis locais de asilo para Bolsonaro, o ex-presidente possui agora poucas cartas na manga que não viver na Flórida à custa de empresários brasileiros apoiadores do golpe.
Ruy Castro - Tiros no pé - ou no casco
Folha de S. Paulo
Sem as ferraduras presidenciais, Bolsonaro
está com a lei nos calcanhares: todos os quatro
Bolsonaro dá um tiro no pé. Bolsonaro dá
outro tiro no pé. Os cinco maiores tiros de Bolsonaro no pé. Os dez maiores
tiros de Bolsonaro no pé. Os maiores tiros de Bolsonaro no pé antes, durante ou
depois das eleições. Etc. É o que o Google nos dá às palavras
"Bolsonaro" e "tiro no pé". Referem-se às inúmeras vezes em
que, desde a sua posse, Bolsonaro tentou fulminar as
instituições e acabou fuzilando o próprio pé.
O tiro no pé é a consequência de uma aposta. Resulta de um lance alto, que pode dar certo ou não. O sensato seria primeiro calcular as probabilidades. Mas o verdadeiro apostador não faz isto. Ele joga às cegas, certo de que vai ganhar. O 7 de Setembro de 2021, por exemplo, foi um tiro no pé: Bolsonaro tentou o golpe, não encontrou respaldo e, brochíssimo, teve de se humilhar diante do STF.
Vinicius Torres Freire - Bancos na jugular da Americanas
Folha de S. Paulo
Instituições financeiras querem forçar
acionistas a entrar com dinheiro e vender ativos
Um representante de um dos bancos que vão
tomar um espeto da Americanas diz
que "agora, é preciso apertar a empresa e fazer com que seus acionistas
maiores assumam responsabilidades, o bastante para que a companhia não fuja com
o dinheiro [sic], mas nem tanto, a ponto de que a empresa deixe de ser
operacional".
É público que os bancos maiores, pelo menos, querem evitar que a Americanas saque das suas contas bancárias sem supervisão e controle, sem que explique o que vai fazer do dinheiro (a quem vai pagar, se vai, por qual motivo etc.). O BTG Pactual, por exemplo, conseguiu nesta quarta-feira uma decisão judicial provisória nesse sentido.
Celso Ming - Um bom momento para o Brasil
O Estado de S. Paulo
O crescimento do PIB da China de apenas 3%
em 2022, o mais baixo desde 1976, levantou apreensões e parece ter acentuado
temores com o agravamento da recessão global. Mas é preciso pensar fora dessa
caixa e pensar do ponto de vista do Brasil.
A principal causa da desaceleração da segunda usina produtiva mais importante do mundo foi a chamada política “covid zero”, que obrigou a população dos maiores centros do país a permanecer em casa. A menos que ocorra um recrudescimento da pandemia, hoje improvável, essa quebra não vai se repetir neste ano. Ao contrário, não há por que duvidar de que se cumpra a meta do governo Xi, de um crescimento entre 5,0% e 5,5%, número que atenua a perspectiva de recessão global.
Adriana Fernandes - A estratégia de Lula para o salário mínimo
O Estado de S. Paulo
É assim que a banda toca nas negociações sindicais; pede-se sempre mais
O presidente Lula quer aumentar o valor do
salário mínimo dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1.º de maio.
Isso é certo. O presidente deu tempo, no
entanto, ao seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que sua equipe
acompanhe com lupa a evolução dos gastos da Previdência Social, que sofrem
impacto na veia com a alta do salário mínimo – já que ele é usado como
referência na concessão da maioria dos benefícios.
Lula até queria anunciar na reunião de
ontem com sindicalistas que estava no radar do governo a possibilidade desse
aumento acontecer no Dia do Trabalhador, a depender da evolução das contas
públicas.
O governo decidiu, porém, esperar o monitoramento da área econômica porque não se tem certeza de como será o crescimento vegetativo da folha do INSS depois que o governo Bolsonaro acelerou a concessão de novos benefícios na antessala das eleições presidenciais.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Instituições têm de punir os golpistas infiltrados no Estado
O Globo
Parlamentares, policiais e militares
envolvidos no 8 de janeiro não devem ser protegidos por corporativismo
Não há dúvida de que os Poderes da
República reagiram com rapidez, firmeza e união aos ataques golpistas
perpetrados por apoiadores do ex-presidente Jair
Bolsonaro em Brasília no dia 8 de janeiro. Mas a necessária
condenação ao terrorismo é o mínimo que se espera das autoridades. É preciso ir
além do simples repúdio traduzido em frases de efeito. É fundamental agir para
que barbárie semelhante não se repita nem se propague, investigando e punindo
não só seus executores, mas também seus financiadores, autores intelectuais e
incentivadores. Em particular aqueles que, detentores de mandatos populares
conquistados nas urnas, usam as redes sociais para chancelar vândalos que
conspiram contra a democracia.
No Congresso Nacional, uma das instituições depredadas pelos golpistas durante a infâmia brasiliense, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deram demonstrações inequívocas no apoio à democracia. Precisam agora dizer o que farão em relação aos parlamentares que desonram a Casa com acenos aos vândalos ou disseminam mentiras que confundem a opinião pública e fazem o jogo do golpismo.