O Estado de S. Paulo
Desarmar as armadilhas do terreno novo em
que pisamos, e pacificar o País, representará um feito histórico.
Vastas emoções e pensamentos imperfeitos
certamente gostariam de nos conduzir para um cenário de duelo fatal entre
direita e esquerda, ou entre o bem e o mal, na sucessão próxima, instalando um
clima de roleta-russa e conflagrando ainda mais o País. Para tanto, teriam a
seu favor a rarefação do centro político e a dificuldade de afirmação de um
campo que se quer, por princípio, distante de polos extremos, seja lá o juízo
que fizermos sobre a simetria, ou não, de tais polos.
Expulsa pela porta, a questão do centro
costuma retornar pela janela, ainda mais num contexto desequilibrado por um
governo de extrema-direita, com raso apreço pela institucionalidade. E retorna
de variadas formas, traduzindo-se até de modo “filosófico”. O centro, como
querem alguns, é menos “aristotélico” do que “hegeliano”, definindo-se antes
como relação de forças em tensão do que como termo médio espacialmente
definido. Nada muito distante do elo que políticos sagazes agarram e, a partir
daí, controlam toda a corrente, por discernirem o problema decisivo de uma
conjuntura. Ou, se quisermos, o centro desta mesma conjuntura.
O cerne das nossas atribulações é o perigo autoritário que põe em risco a convivência civil. Não se trata de perigo inédito na História recente. Sem nos alongarmos, há não mais do que uma ou duas gerações configurou-se, de fato, uma questão democrática de natureza que ao menos lembra a de agora. Tempos certamente mais sombrios, uma vez que a anarquia institucional, típica de todo regime de força, parecia requerer soluções radicais para sua superação: por exemplo, o voto nulo, a autodissolução do MDB e, consequentemente, a denúncia da via eleitoral.