• Dilma trabalha a imagem forte de uma presidente da República que disputa a reeleição; a de petista é frágil e não lhe interessa, a não ser para manter a gana de poder da militância
Correio Braziliense
A presidente Dilma Rousseff não faz mais nada no exercício do cargo que não mire o seu programa de tevê de candidata do PT. Está sempre com um olho nos interlocutores e outro na lente da câmera de filmagem do repórter de sua campanha. Precisa disso como o ar que respiramos por causa do desgaste de imagem do PT, responsável por alguns desastres eleitorais em estados importantes, como São Paulo e Rio de Janeiro, sem falar nas agruras do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul.
Na prática, Dilma trabalha a imagem forte de uma presidente da República que disputa a reeleição; a de petista é frágil e não lhe interessa, a não ser para manter a gana de poder da militância em eventos partidários. A estratégia de marketing é tão ostensiva que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Antônio Dias Toffoli, um ex-militante petista de carteirinha, chegou a chamar a atenção de Dilma de que o uso do Palácio da Alvorada, a residência oficial, como locação para peças de campanhas e entrevistas de candidata, era uma prática indevida.
De nada adiantou, pois Dilma já disse que o Alvorada é a única casa que tem para morar e não pode separar uma coisa da outra. Não é bem verdade, pois o comitê eleitoral tem um escritório para a petista que nunca foi usado, mas isso é outra história. Ontem, Dilma exagerou. Foi à solene abertura da Assembleia Geral da ONU para fazer proselitismo eleitoral, com um discurso de balanço de seu governo que lembrou Leonid Brejnev, ex-secretário-geral do Partido Comunista da extinta União Soviética nos congressos partidários.
A diferença é que os informes de balanço do líder comunista ocorriam nas dependências do Kremlin, não na Assembleia-Geral da ONU, palco de discursos memoráveis de outros líderes, mesmo de alguns ex-guerrilheiros, como o discurso em francês de Che Guevara, em 1964, em defesa da Revolução Cubana, após a fracassada invasão da Baía dos Portos; ou a histórica intervenção de Yasser Arafat, em 1974, quando a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi reconhecida como legítima representante de seu povo e anunciou o abandono das ações terroristas em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém.
Mas o discurso de Dilma na ONU foi, sobretudo, chinfrim, nem de longe lembrou, por exemplo, a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU de 2009, quando o líder petista falou da crise econômica mundial, das mudanças climáticas e da ausência de uma governança mundial estável e democrática. Foi uma mera prestação de contas do governo Dilma, completamente fora de contexto e distorcida por dados maquiados.
Em vez de usar a tribuna para falar dos problemas do mundo, Dilma fez propaganda do período petista no poder. “Abro este debate geral às vésperas de eleições, que vão escolher, no Brasil, o presidente da República, os governos estaduais e grande parte de nosso Poder Legislativo. Essas eleições são a celebração de uma democracia que conquistamos há quase 30 anos, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Com ela, muito avançamos também na estabilização econômica do país.”
A partir daí, fez uma autolouvação sem fim. Mais uma vez, a presidente da República mascarou os números de sua administração agregando-os aos indicadores dos oito anos do governo Lula. Esse é o eixo de seu discurso para atacar a gestão de Fernando Henrique Cardoso e, assim, manter a polarização PT versus PSDB.
Com exceção dos ataques dos EUA ao Estado Islâmico, na Síria, que condenou, os problemas da política internacional e da integração do Brasil à economia mundial, que não são pequenos, foram simplesmente ignorados. Isso é o que interessaria aos representantes das nações, quando nada aos aliados do Brasil na América Latina e na África, todos surpreendidos pelo discurso provinciano de Dilma. Para o Itamaraty, foi mais um vexame diplomático. Na véspera, a participação de Dilma na Cúpula do Clima teve o mesmo objetivo.
Pauliceia desvairada
É desesperada a situação do PT em São Paulo, onde a candidatura do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha não decola de jeito nenhum. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo o Ibope, hoje venceria a disputa pela reeleição no primeiro turno, com 49%, seguido por Skaf, do PMDB, com 17%, e Padilha, com 8%.
A bancada de deputados federais do partido, que sempre trabalhou com resultados na faixa dos 30%, vive uma espécie de salve-se quem puder. Os principais líderes estão em risco eleitoral. Nem mesmo o senador Eduardo Suplicy, ícone do chamado “PT do bem”, escapa da debacle.
A situação de Padilha é atribuída à artificialidade da candidatura do ex-ministro, um capricho do ex-presidente Lula; à má administração do prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad; e aos desgastes da legenda provocados pelo julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.