sábado, 1 de outubro de 2016

Opinião do dia - Miguel Reale Júnior

O mensalão constituiu comprovadamente a forma espúria pela qual o PT, partido de 50 deputados, sem partilhar o poder com os demais partidos, veio a formar uma maioria parlamentar.

A concentração de poder nas mãos do partido era sagrada. Podia-se contemplar outro partido com cargo de ministro, mas não com ministério, cujo controle a partir do secretário executivo era detido por apaniguados do PT. O aparelhamento do Estado foi absoluto. A administração, direta e indireta, agências reguladoras, fundos de pensão foram entregues a sequazes do PT.
------------------
Miguel Reale Júnior é advogado. ‘A confissão de Lula’, O Estado de S. Paulo, 1/9/2016

Palocci sem prazo para ser solto

O juiz Sérgio Moro aceitou pedido do Ministério Público para transformar a prisão temporária do ex-ministro Palocci em preventiva, sem data para expirar. Ele é acusado de intermediar R$ 128 milhões de propina da Odebrecht para o PT.

Moro ordena, e Palocci ficará preso por tempo indeterminado

• Valor bloqueado nas contas de ex-ministro chega a R$ 61,7 milhões

Cleide Carvalho e Dimitrius Dantas - O Globo

Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda do governo Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff, e seu assessor Branislav Kontic tiveram a prisão temporária convertida ontem em preventiva, por tempo indeterminado, pelo juiz Sérgio Moro. Palocci está na carceragem da PF desde a última segunda-feira, quando foi preso na 35ª fase da Lava-Jato, chamada de Operação Omertà.

Ele é acusado de ter intermediado o pagamento de R$ 128 milhões em propinas do Grupo Odebrecht para o PT, entre 2008 e 2013. Por determinação da Justiça, R$ 61,7 milhões já foram bloqueados em contas e aplicações do ex-ministro e da empresa dele, a Projeto.

Moro decreta prisão preventiva de Palocci

• Juiz da Lava Jato acolhe pedido da Polícia Federal e da Procuradoria da República que suspeitam que o ex-ministro da Fazenda e da Civil destruiu provas; Moro vê risco à ordem pública

Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão preventiva do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) nesta sexta-feira, 30. A medida atende a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria da República, que suspeitam que Palocci destruiu provas.

Alvo da Operação Omertà, 35ª fase da Lava Jato, Palocci estava em regime de prisão temporária desde segunda-feira, 26. Os investigadores afirmam que o ex-ministro recebeu R$ 128 milhões em propina da empreiteira Odebrecht. Parte deste valor teria sido destinado ao PT e cobriu despesas da campanha presidencial de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita pela primeira vez.

Moro afirma que ‘nem o afastamento de Antônio Palocci Filho de cargos ou mandatos públicos preveniu a continuidade delitiva’.

Para o juiz da Lava Jato ‘os crimes foram praticados no mundo das sombras, através de transações subreptícias, tornando inviável a adoção de medidas cautelares alternativas que possam prevenir a continuidade da prática delitiva, inclusive o recebimento do saldo da propina, novas operações de lavagem de dinheiro, ou prevenir a dissipação dos ativos criminosos ou a supressão de provas’.

Palocci, de médico modesto a milionário preso

• Operações nada republicanas levaram o ex-ministro Antonio Palocci, um médico sanitarista que tinha R$ 2 mil de saldo em conta corrente, a virar o principal consultor das maiores empresas do País com uma movimentação financeira de mais de R$ 200 milhões. Na semana passada, devido aos caminhos tortuosos que escolheu para enriquecer e acumular um patrimônio colossal, o petista foi preso pela Lava Jato

- Revista IstoÉ

Preso na última segunda-feira 26, Antonio Palocci atravessou a recepção da Superintendência da Polícia Federal do Paraná meio sorumbático. Cabisbaixo, mal conseguiu reparar no quadro que adorna a entrada da carceragem em Curitiba com a imagem de uma onça agressiva – “a fera”, como costumam dizer os agentes penitenciários. Seu semblante abatido em nada lembrava o impávido ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, protagonista do Petrolão, responsável por gerenciar negociatas que renderam cifras extraordinárias ao PT. 

Tampouco fazia jus ao physique du rôle do consultor milionário investigado pelo Ministério Público Federal. Pela primeira vez, em muitos anos, Palocci estava mais para Antonio, o médico sanitarista boa praça de Ribeirão Preto que debutou para a política em 1981 vendendo estrelinha do PT. De lá para cá, realmente, muita coisa mudou em sua vida. Preso pela Lava Jato, o petista é o retrato mais bem acabado do político que enriqueceu no poder – e graças ao poder. No início dos anos 2000, antes de se eleger deputado, Palocci tinha um patrimônio que somava R$ 295 mil. Sua conta-corrente no Banco do Brasil apresentava um saldo de R$ 2.300. No Banespa, seus depósitos somavam R$ 148. A ascensão patrimonial foi colossal. 

"Compadre de Lula comandou compra", diz empresário que vendeu nova sede do Instituto Lula

• Em entrevista a ÉPOCA, vendedor de imóvel diz que advogado do ex-presidente da República era o “maestro” do negócio. Documento comprova que transação foi fechada no escritório de Roberto Teixeira

Daniel Haidar - Época

A pouco mais de um mês do fim do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Roberto Teixeira fechava um negócio para cuidar do legado do amigo. Compadre de Lula desde os tempos de sindicalista, Teixeira recebia em seu escritório um empresário que resistia a vender sua parte de um imóvel. Diante da resistência do interlocutor, Teixeira fez uma oferta final e anunciou: “É pegar ou largar”. O advogado comandava a compra de um prédio de três andares na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo, por R$ 6,8 milhões, em nome de um laranja da Odebrecht. O objetivo era que o imóvel, com área de 3.900 metros quadrados, servisse como nova sede para o Instituto Lula. Terminava a negociata que contribuiu, seis anos depois, para a prisão do ex-ministro Antonio Palocci na Operação Omertà, a 35ª fase da Lava Jato, na segunda-feira, dia 26, e enredou Lula em mais um esquema de corrupção de empreiteira, investigado pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal.

PMDB e PSDB largam na frente

PMDB e PSDB estão à frente em cinco capitais cada, segundo as últimas pesquisas. Sete disputas podem terminar no 1º turno.

PMDB e PSDB lideram em quatro capitais

• Até o momento, apenas sete dos 26 candidatos a prefeito devem ser eleitos já no primeiro turno

Isabel Braga e Renan Xavier (*) - O Globo

BRASÍLIA - A dois dias da eleição municipal deste ano, PMDB e PSDB lideram em quatro capitais cada, de acordo com as pesquisas mais recentes. Os levantamentos, doze deles do Ibope divulgados ontem pela Rede Globo, mostram ainda que sete dos 26 candidatos a prefeito em capitais tendem a ser eleitos em primeiro turno nas eleições deste domingo, já que figuram com mais de 50% das intenções de votos válidos. Todos são candidatos à reeleição, com exceção de Rafael Greca (PMN), que é ex-prefeito da cidade e apoiado pelo governador tucano Beto Richa.

Se as pesquisas se confirmarem, devem ser reeleitos a peemedebista Teresa Surita em Boa Vista (RR); o petista Marcos Alexandre, em Rio Branco (AC); Luciano Cartaxo (PSD), em João Pessoa (PB); o pedetista Carlos Eduardo, em Natal (RN); ACM Neto (DEM), em Salvador; e Firmino Filho (PSDB), em Teresina. Em 2012, nove candidatos a prefeito foram eleitos no primeiro turno.

Candidatos buscam votos em antigo reduto petista

• Às vésperas da votação em 1º turno, campanhas de Doria, Russomanno, Marta e Haddad investem em bairros periféricos que concentram 2 milhões de eleitores

Pedro Venceslau Valmar Hupsel Filho Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo foram buscar votos em ex-redutos petistas localizados em bairros nos extremos da cidade na reta final da campanha antes da votação em primeiro turno. O principal foco das agendas desta sexta-feira e neste sábado e é a zona leste, região com mais de 2 milhões de eleitores e que em eleições anteriores registrou votações expressivas para candidatos do PT.

Segundo dados do Ibope e Datafolha, naquela região as intenções de votos vêm sendo divididas majoritariamente entre Celso Russomanno, do PRB, e João Doria, do PSDB. O deputado lidera em bairros como Guaianases, São Mateus e Cidade Tiradentes, enquanto o empresário está em primeiro lugar na Penha, Itaquera e São Miguel Paulista.

Cesar Maia ignora candidato do PMDB

• Apesar de seu partido estar coligado à chapa de Pedro Paulo no Rio, vereador faz campanha só

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

/ RIO - Na lanchonete da Ilha do Governador, na zona norte do Rio, onde parou para tomar um café depois de caminhar distribuindo panfletos e conversando com eleitores, ontem de manhã, o vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM) pergunta à atendente: “Já escolheu candidato a prefeito?” A moça responde que não. Em vez de citar o nome de um aliado, Maia responde: “Eu também, vou decidir no sábado (hoje). Quando vierem as pesquisas, vou sentir como estão os candidatos”

Apesar de o DEM estar na coligação do candidato do PMDB, Pedro Paulo, e de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu filho, ser um dedicado cabo eleitoral do peemedebista, Cesar Maia faz campanha apenas para si próprio.

O material de propaganda impresso, por exigência da lei, traz o nome da coligação, mas não há nenhuma menção, muitos menos foto, de Pedro Paulo, que disputa com cinco adversários uma vaga para o segundo turno, para enfrentar o líder nas pesquisas, o senador Marcelo Crivella (PRB).

Rodrigo Maia esperava pelo pai na lanchonete, “só para dar um abraço”. Já tinha participado de uma reunião de campanha de Pedro Paulo e seguiria para outro encontro. “Em primeiro lugar, meu pai autorizou a aliança com o PMDB. E o PMDB sempre soube que meu pai faria a campanha dele. O importante é que houve transparência e a gente falou a verdade o tempo todo”, disse o deputado.

Rio chega à votação com 2º turno indefinido

• Paes pede voto útil em Pedro Paulo, e Freixo apela a eleitores de centro

Prefeito defende que eleitores de Indio, Bolsonaro e Osorio apostem no candidato do PMDB para derrotar Crivella, que está virtualmente no segundo turno, mas prefere enfrentar o adversário do PSOL

A campanha no Rio chega à véspera da votação sem definição de quem enfrentará, pelas pesquisas, Marcelo Crivella (PRB) no segundo turno. Empatados com 10% cada, Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSOL) tentam conquistar eleitores de adversários convencendo-os de que são mais capazes de derrotar Crivella. O prefeito Eduardo Paes fez um apelo pelo chamado voto útil em Pedro Paulo: “O eleitor do Osorio, do Indio e do Bolsonaro vão entender que não dá para ter um segundo turno com Freixo e Crivella.” Já Freixo busca eleitores de centro.

De olho no voto do vizinho

• Eduardo Paes apela a eleitores de adversários; disputa por segundo lugar está indefinida

Fernanda Krakovics, Marco Grillo, Gustavo Schmitt e Miguel Caballero - O Globo

Em uma disputa acirrada para ir ao segundo turno nas eleições para a prefeitura do Rio, os candidatos do PMDB, Pedro Paulo, e do PSOL, Marcelo Freixo, apelam para o voto útil do eleitor, explorando vulnerabilidades um do outro às vésperas da votação em primeiro turno, amanhã. Pedro Paulo investe na falta de experiência administrativa do adversário do PSOL, enquanto Freixo ressalta escândalos de corrupção envolvendo o PMDB.

BH - Campanha curta incomodou

• Candidatos à PBH avaliam que era preciso mais tempo de televisão

Fransciny Alves, Lucas Ragazzi e Luiza Muzzi – O Tempo

Após 45 dias de campanha, os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte avaliam terem feito um bom trabalho nas ruas, embora a maioria tenha reclamado do pouco tempo de TV. Até mesmo quem está nas últimas colocações nas pesquisas ainda confia que os indecisos podem ajudar a chegar ao segundo turno.

O candidato do PT, Reginaldo Lopes, diz que o formato da campanha do ponto de vista da legislação teve avanços, mas ressaltou que é possível melhorar: “É preciso fazer alguns ajustes no modelo, mas no final acho que (a campanha) foi excelente. O eleitor está formando opinião nas últimas horas. Então, a expectativa é chegar ao segundo turno”.

Os candidatos Sargento Rodrigues (PDT) e Marcelo Álvaro Antônio (PR) também apostam nos indecisos para ir para o segundo turno. Eles ressaltaram ainda que a campanha teria sido melhor se tivessem mais tempo de televisão. “Um pouco mais de tempo, mais um minuto, teria ajudado muito, mas preferi ir desse jeito do que aceitar fazer os conchavos políticos”, disse Marcelo.

Qual será a mensagem das urnas?

• Intelectuais analisam o processo eleitoral e seu impacto na arena política

Por Maurício Oliveira - Para o Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

SÃO PAULO - Neste domingo, ocorrem as eleições de 463.374 vereadores e de prefeitos de 5.568 municípios no Brasil. Os resultados das disputas deste ano expandem o território local, têm características absolutamente singulares e apresentam um alto grau de imprevisibilidade, apontam muitos dos 20 intelectuais - cientistas políticos, sociólogos e economistas - convidados a escrever textos sobre as eleições municipais para esta edição do "EU&;Fim de Semana".

A redução do tempo de campanha e as restrições a doações empresariais obrigaram os candidatos a apresentar mais conteúdo e menos jingles, observam alguns textos. Na opinião de articulistas, devem levar vantagem aqueles candidatos que conseguiram se aproximar da população, ouviram as demandas e fizeram uso eficiente das redes sociais.

Outro aspecto peculiar numa eleição para cargos municipais, em que as discussões costumam se voltar a problemas locais, é a grande relevância dos acontecimentos recentes da política em âmbito nacional - as jornadas de 2013, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a cassação do mandato do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) e os desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Somados ao tenso clima de polarização e de intolerância política que tomou conta da sociedade brasileira, esses fatores devem influenciar fortemente a decisão dos eleitores.

Há grande expectativa ainda quanto ao mapa que se desenhará após o resultado das urnas. Pergunta-se como e quais forças políticas se acomodarão depois de tanta instabilidade e qual será o espaço ocupado pelas esquerdas assim que a disputa chegar ao fim, já que o Partido dos Trabalhadores foi duramente afetado pela Lava-Jato e pelo impeachment de Dilma. Para boa parte dos analistas, há uma ligação direta entre esse cenário e as apostas para as eleições presidenciais de 2018 - incluindo a menor ou maior chance de que ganhe força a candidatura de um "outsider".

Dizimado nas urnas

• Sem doações de empresas e com a imagem ligada a escândalos de corrupção, má gestão e desemprego, legenda de Dilma e Lula sai das eleições municipais como a maior derrotada

Mel Bleil Gallo - IstoÉ

Na primeira eleição municipal em que os candidatos não puderam contar com doações de empresas, e para a qual dispuseram de apenas 35 dias de horário eleitoral gratuito, há muitos vencedores, mas um só perdedor: o Partido dos Trabalhadores. As pesquisas de intenção de voto asseguram que os petistas e seus aliados saem das urnas no dia 2 com o pior desempenho dos últimos 20 anos. O fracasso na disputa pelas 463.374 cadeiras de vereador e 5.568 prefeituras do Pais é capaz de comprometer não apenas os planos do PT para 2018 como a própria existência do partido — que corre o risco de perder seu registro na Justiça.

Ouçam as crianças - Cristovam Buarque

- O Globo

• A imposição de disciplinas é uma forma de palmatória intelectual

Toda reforma educacional precisa ter dois propósitos: atender ao aluno e ao futuro do Brasil. Ouçam as crianças, os adolescentes e as vozes que vêm do futuro. Os alunos brasileiros estão há anos gritando o horror como eles percebem o ensino médio: gritam ao abandonar a escola e gritam tirando 3,7 no Ideb. E o Brasil de hoje não ouve, nem atenta para as trágicas consequências disto para o futuro.

A escala Ideb mede terremotos sociais e econômicos futuros. Seus últimos resultados mostram a catástrofe que ameaça o futuro do país e de seus futuros adultos. Depois de quase 30 anos de democracia, 13 de governos da esquerda-ao-redordo-PT, o ensino médio brasileiro carrega duas falências: a brutal evasão de alunos e o baixíssimo nível no seu Ideb.

Defesa da política contra alguns de seus amigos - Bolívar Lamounier*

- O Estado de S. Paulo

• Rezo para que a ministra Carmen Lúcia trabalhe por restaurar o artigo 52, § único, da Constituição

Num profícuo seminário sobre o sistema de governo promovido duas semanas atrás pela Federação do Comércio de São Paulo, o ex-senador Bernardo Cabral fez candente defesa da Constituição de 1988. Argumentou – a meu ver, com razão – que ela tem mais qualidades que defeitos, e tem normatizado razoavelmente bem a vida brasileira. Frisou, para exemplificar, as generosas estipulações do artigo 5.º sobre direitos individuais e coletivos e as referentes ao meio ambiente nos artigos 24 e 225, área em que foi pioneira.

Repensando lideranças públicas - Fernando Abrucio

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O conceito de esfera pública passa atualmente por intensas transformações. Um maior número de atores participa ou influencia as decisões coletivas, seja por causa da disseminação dos direitos e da informação para os cidadãos, seja em razão do surgimento de novas instituições atuando na democracia.

Muitas dessas novidades são positivas, mas também delas surgiram diversos problemas e desafios. Um dos mais importantes diz respeito a como formar lideranças públicas e de que maneira elas devem enfrentar a nova realidade.

O diagnóstico inicial é de que há uma sensação de "desarmonia da democracia", para usar os termos da cientista política Amy Gutmann. Nem as promessas de maior participação são aceitas como verdadeiras por parte substantiva dos cidadãos, nem a suposição de melhores decisões na democracia confirma-se na visão de muitos estudiosos.

A confissão de Lula - Miguel Reale Júnior*

- O Estado de S. Paulo

• Aquele que propalou a sua ‘honestidade’ tem um futuro desolador pela frente

O mensalão constituiu comprovadamente a forma espúria pela qual o PT, partido de 50 deputados, sem partilhar o poder com os demais partidos, veio a formar uma maioria parlamentar.

A concentração de poder nas mãos do partido era sagrada. Podia-se contemplar outro partido com cargo de ministro, mas não com ministério, cujo controle a partir do secretário executivo era detido por apaniguados do PT. O aparelhamento do Estado foi absoluto. A administração, direta e indireta, agências reguladoras, fundos de pensão foram entregues a sequazes do PT.

Com essa forma de governar se descontentavam os demais partidos e seus parlamentares, que passaram a ser cooptados por meio de envelopes com dinheiro entregues em hotéis de Brasília. José Dirceu, chefe desse esquema de propina, que destrói a democracia por dentro, tesoureiros do PT e líderes do PP e do PTB arquitetaram inteligente manobra financeira para alimentar a compra de deputados.

Voto útil difícil - Merval Pereira

- O Globo

As dificuldades do voto útil no Rio. O voto útil é a superação do sonho pela realidade. Nestas eleições municipais, que não empolgaram os eleitores nas principais cidades do país, estamos diante de quase 30% de cidadãos em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo dispostos a votar em branco ou anular o voto, e outros tantos tão indecisos que podem mudar o voto na última hora.

Mas, há um fator em falta mesmo na decisão pragmática do voto útil, a confiança em partidos a ponto de o eleitor abrir mão do que seria o candidato preferido em troca de um resignado voto na alternativa menos ruim. Rio e São Paulo, as principais cidades do país, são exemplares deste estado de espírito do eleitor.

O impacto das urnas para 2018 – Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Aécio Neves e Eduardo Campos celebravam há quatro anos a vitória em primeiro turno de seus candidatos nas eleições municipais de Belo Horizonte e do Recife.

Ambos saíram daquela eleição fortalecidos e praticamente definidos como os nomes de PSDB e PSB ao Palácio do Planalto para a votação que ocorreria dois anos depois.

O roteiro a seguir todos sabemos. Campos morreu tragicamente num acidente aéreo a dois meses da eleição presidencial. Aécio perdeu no segundo turno para Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.

De lá para cá, Aécio foi chamuscado pela Lava Jato, Dilma teve seu mandato cassado num processo de impeachment e o PMDB assumiu a Presidência com Michel Temer. Muita coisa mudou em pouco tempo.

Razões para a lenta retomada da economia -Claudia Safatle

- Valor Econômico

• Fim do ciclo de aperto monetário será decisivo

A retomada do crescimento econômico será mais árdua e mais lenta do que as experiências passadas de saída do país da recessão. Essa avaliação é quase um consenso entre os economistas do setor público e do setor privado e há razões objetivas para isso.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Carlos Hamilton, identificou que dos anos 1980 para cá as recuperações foram, em média, de mais de 1% ao trimestre. Em 2003, foi de 1,5% e na saída da crise global de 2008/2009, o crescimento chegou a 2% em média por trimestre. Havia, portanto, um dinamismo que se perdeu. Agora, o ímpeto da retomada tende a ser a metade da média do passado.

País sem líderes - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Não importa o nome do partido que sair vencedor ou perdedor das eleições municipais de amanhã. O certo é que o Brasil continuará carente de líderes políticos. Principalmente de líderes que representem a nova geração, e que deveriam estar se preparando para substituir a que está no poder. Em qualquer horizonte que se possa olhar, é pouco provável que da eleição de agora possa surgir alguém que daqui a uns anos venha a chacoalhar a política, a liderar mudanças, a ditar o rumo da História.

É estranho que uma Nação com 206 milhões de habitantes, 31 anos de uma democracia que suportou bem dois processos de impeachment do presidente da República, 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), liberdade absoluta de opinião política e eleições a cada dois anos encontre dificuldades para construir novos líderes políticos. Mas essa é a realidade brasileira. Não há como fugir dela.

Crises interligadas - Míriam Leitão

- O Globo

Governo precisa de políticas para o emprego. O Brasil vive a pior crise de desemprego das últimas décadas e ainda não há qualquer proposta de como enfrentar o problema. Os programas dos últimos anos foram feitos para dar dinheiro para as empresas, para que elas não demitissem. Não funcionou. Há questões sendo discutidas que têm relação direta com uma mudança estrutural desse quadro, mas são vistas como temas separados.

O mercado de trabalho está no meio de um problema agudo, mas tem também desequilíbrios crônicos. O dado de ontem mostrou mais uma piora na crise imediata. Ao fim do primeiro mandato da ex-presidente Dilma, havia 6,4 milhões de desempregados e agora são 12 milhões. O aumento desenfreado, de 86%, fez com que 5,6 milhões engrossassem a fila das pessoas que procuram emprego e não encontram. A série histórica do Caged, registro de empregados com carteira assinada, mostra dois momentos em que o balanço de demissões superou as novas contratações e houve destruição líquida de emprego: no governo Collor e no governo Dilma, que terminou deixando essa herança.

Só o acordo de paz pode libertar a Colômbia da prisão do destino – Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Macondo, a cidade metafórica de Gabriel Gárcia Márquez, terminou destruída por um furacão bíblico. O motivo da catástrofe derradeira é que, incapazes de suportar as incertezas do futuro, seus habitantes condenaram-se a repetir, eterna e circularmente, o passado. Os defensores do "não" no plebiscito colombiano sobre o acordo de paz têm razões poderosas. Contudo, só o "sim" pode romper o ciclo da reiteração, libertando a Colômbia dessa prisão chamada destino.

José Miguel Vivanco, da Human Rights Watch, e o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe brandiram o mesmo argumento contra o acordo de paz, mas por motivos simétricos (Folha, 27/9 ). Vivanco acusa-o de impedir a punição de comandantes militares e paramilitares que cometeram violações em massa de direitos humanos –mas justifica, em nome da paz, a impunidade parcial concedida aos chefes das Farc. Uribe, por sua vez, exige sentenças de prisão contra os guerrilheiras –mas cala-se sobre as culpas das Forças Armadas e das milícias.

O FMI e a agenda brasileira – Editorial / O Estado de S. Paulo

Com uma pitada de otimismo e uma lista de severas advertências, o Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de publicar um novo e muito bem informado relatório de avaliação da economia brasileira e de suas perspectivas. O otimismo é baseado nos primeiros sinais de estabilização da atividade, nas promessas de ajuste e de reforma apresentadas pelo governo e, naturalmente, na reação favorável dos mercados ao novo cenário. A economia poderá crescer em torno de 0,5% no próximo ano, depois de uma retração de 3,3% em 2016. Mas a modesta reação projetada para 2017 poderá ser prejudicada, se o avanço nos programas de ajuste e de reformas for muito lento ou, pior, se as mudanças ficarem travadas no Congresso. Nesse caso, a confiança reavivada nos últimos tempos logo se esvairá, a incerteza voltará a dominar os mercados e o País afundará de novo na recessão.

Essa primeira e mais importante advertência é meramente sensata. Sem um claro progresso na aprovação e na implementação das novas políticas, a insegurança impedirá a reativação dos negócios. Mesmo numa hipótese mais otimista, o retorno ao crescimento será provavelmente vagaroso.

Atraso na reforma da Previdência é contra o trabalhador – Editorial / O Globo

• A leniência da classe política foi tal que os desequilíbrios no sistema previdenciário — que só tendem a aumentar — passaram a exigir tratamento de choque

Ainda há quem resista à reforma da Previdência. Mas os argumentos a favor dela, fundamentados em números, são tão sólidos que apenas a fé ideológica pode impedir que se constate a marcha rumo à falência total de um sistema estruturalmente abalado devido a motivos indiscutíveis: enquanto a expectativa de vida da população felizmente aumenta — está em 75 anos —, os segurados no INSS continuam a se aposentar muito cedo — 54 anos, em média. Dessa forma, não há adesão ao sistema de novos contribuintes que possa bancar o pagamento de benefícios e pensões. Estas também necessitam de ajustes.

Tiros na democracia – Editorial / Folha de S. Paulo

A violência foi bem mais que retórica na política brasileira nos últimos meses. Desde junho, ao menos 45 aspirantes a cargos eletivos foram alvos de ataques a tiros. Nada menos que 28 morreram, 15 dos quais em plena campanha.

Num dos casos mais recentes, o postulante a vereador Marcos Vieira de Souza (PP), o Falcon, foi assassinado dentro de seu comitê, em Madureira, zona norte do Rio.

Na mesma segunda-feira (26), em Serrinha dos Pintos (RN), o vereador Clementino do Carmo (PMDB), que tentava se reeleger, morreu baleado durante evento político.

Auto-Retrato – Manuel Bandeira

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

Mariene de Castro - Oração de Mãe Menininha