Para Steve Bannon, investigação contra Flavio Bolsonaro é 'parte da guerra do marxismo cultural'
Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Formulador da retórica nacionalista que elegeu Donald Trump e estrategista-chefe do presidente nos primeiros oito meses na Casa Branca, o americano Steve Bannon tem voltado suas atenções para fora dos EUA, em particular ao Brasil.
Na semana passada, apontou o deputado federal Eduardo Bolsonaro(PSL-SP) representante de seu O Movimento, uma rede de partidos e políticos que pregam ideais de direita radical, populistas e nacionalistas. O filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o próprio capitão, como Bannon o chama, são extraordinários, disse Bannon em entrevista por telefone à Folha no domingo (3).
Mas o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) é reprovado pelo estrategista. "Ele é desagradável, pisa fora da sua linha", criticou. "Até onde sei, o presidente Bolsonaro não lhe atribuiu responsabilidades e parece que foi uma decisão sábia."
A opinião de Bannon é compartilhada por ala do governo ligada aos filhos do presidente. O primogênito, o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), é defendido pelo americano. As investigações de corrupção que o envolvem são parte da guerra do marxismo cultural contra a família no poder, afirmou.
Para o controverso estrategista, acusado de ligação com grupos racistas em seu país, será muito difícil Trump se reeleger caso não consiga construir o muro nos Estados Unidos na fronteira com o México.
• Quais suas expectativas com Eduardo Bolsonaro? Quais são as prioridades para O Movimento no Brasil, na América do Sul?
Eduardo veio aos EUA em dezembro e tive a sorte de recebê-lo. Em Washington, havia líderes políticos, agentes de inteligência e segurança nacional. Na noite seguinte, em Nova York, foi bem diferente, gente das finanças. Nunca vi um político com esse potencial para lidar com públicos diferentes, em inglês.
A afiliação a O Movimento visa atingir outros conservadores populistas nacionalistas em países no continente e reforçar aspectos-chave, trazer o poder das elites globais de volta ao homem comum, à pessoa comum. Não há ninguém melhor que Eduardo para isso.
• Em relação ao Brasil, a associação de Eduardo Bolsonaro com o Movimento pode influenciar de que forma na sua atuação no Congresso e no governo de seu pai?
Como na Itália, na Hungria, ou mesmo com Trump, a ideia é expor as pessoas ao que eles estão fazendo e também conseguir agregar apoiadores, expandir nossas ideias, reunir pessoas. Colocar gente influente das finanças, pessoas interessadas em investir, agentes de start-ups, ações públicas e privadas em companhias brasileiras. É construir relações e intercambiar ideias.
• Como pessoas comuns e empresários podem se engajar no Movimento? O sr. aceita doações?
Agora somos uma rede de partidos políticos e líderes. Não queremos competir com partidos políticos. Falamos às pessoas para se afiliarem aos partidos em seus países e trazer informações de volta ao Movimento.
O que pretendemos fazer são workshops, conferências, encontros. Em dezembro, Eduardo participou da Cúpula Conservadora das Américas, no Sul do Brasil [Foz do Iguaçu (PR)]. Vamos começar a fazer isso no Movimento. O mesmo estamos fazendo na Europa, reunindo pessoas na Hungria, Itália, França e preparando para as eleições.
• Poderia definir populismo? No Brasil, muitas vezes o termo tem uma conotação pejorativa.
É um entendimento errado do establishment global. Populismo significa tomar decisão o mais perto das pessoas possível e com a influência das pessoas. Fazer políticas sociais, econômicas ou de segurança nacional, mas sem atender aos interesses da elite.
Nos EUA, na última década, as elites cuidaram de si mesmas às custas das classes trabalhadoras e médias. Populismo é basicamente garantir que a classe média e a classe trabalhadora terão um lugar à mesa.
Temos uma situação globalmente que eu chamo de "real-feelism" [sentimento de vida real]. É muito difícil comprar uma casa, ter ações. Os empregos são sempre temporários, não há pensões, não há benefícios.
O governo Bolsonaro tem como ministro da Economia um egresso da Universidade de Chicago, muito consistente [Paulo Guedes]. O Brasil tem tremendos recursos, tremendo capital humano, só precisa ser bem gerido, por um populista que acredite em soberania. O capitão Bolsonaro e Eduardo são os líderes perfeitos para o momento.