domingo, 16 de abril de 2023

Luiz Sérgio Henriques* - Comunismo, tragédia e farsa

O Estado de S. Paulo

Hoje, havemos de convir que, originalmente tragédia ou drama, o comunismo vê-se reduzido a mísero artefato das modernas guerras de cultura

Clássico incontornável, dono ainda por cima de estilo ferino e inconfundível, Karl Marx começou seu estudo sobre o bonapartismo, este antepassado distante das autocracias modernas, com imagens que povoam nossa memória e, mais importante, ainda servem como instrumento analítico.

Segundo ele, momentos de transformação são capazes de promover singular “ressurreição dos mortos”. Lutero, por exemplo, espelhava-se no apóstolo Paulo, Cromwell embebia a revolução inglesa na linguagem do Velho Testamento, os revolucionários de 1789 viam-se às vezes como antigos romanos. Mas havia também acontecimentos e personagens que podiam irromper como drama ou tragédia e, em seguida, “voltar” como farsa – e neste caso incluía, como sabemos, Napoleão e seu sobrinho Luís Napoleão, respectivamente, um dos fundadores do mundo moderno e o medíocre articulador do golpe de 1851, objeto específico da análise marxiana no seu Dezoito Brumário.

Antonio Lavareda* - Os pagadores de promessas

Folha de S. Paulo

Boa avaliação de governantes reflete fidelidade a compromissos eleitorais

Todo governante, seja ele presidente, governador ou prefeito, tem como "core" da avaliação do mandato a percepção pela opinião pública do seu empenho no cumprimento das principais propostas apresentadas na campanha eleitoral. Uma primeira impressão disso é fotografada nos 100 dias de gestão. Mas por que não 60, 90 ou 120 dias?

Franklin Delano Roosevelt inventou essa marca. Seus 100 dias se deram em 12 de junho de 1933, mas foi somente em 25 de julho que chamaria atenção para "os primeiros 100 dias que foram devotados a pôr em movimento as rodas do New Deal". Ele se referia à avalanche de leis aprovadas no Congresso dos Estados Unidos em ritmo vertiginoso, algumas tramitando em um único dia na Câmara e no Senado. Todas voltadas à promessa síntese que o levara à Presidência: vencer a Grande Depressão que se arrastava desde 1929. A largada do seu governo correspondeu à expectativa dos americanos. E esse marco temporal virou referência obrigatória para qualquer governante mundo afora.

Celso Rocha de Barros - Lula e o centro

Folha de S. Paulo

Governo de frente ampla não vai satisfazer inteiramente as várias visões

Ao menos entre os formadores de opinião, parece haver muitos centristas decepcionados com Lula. Mesmo que apoiem a desbolsonarização e boa parte da agenda de Fernando Haddad, os centristas parecem ter dificuldade em abraçar o governo Lula como "seu".

Em alguma medida, isso era inevitável. Trata-se de um governo de frente ampla, que não vai satisfazer inteiramente nenhuma das várias visões ideológicas que o compõem. Mas a esquerda, ao menos, tem o presidente e a palavra final nos impasses.

Para os centristas, resta a aplicação de algumas de suas ideias favoritas, como a reforma tributária, e a reconstrução das coisas que Bolsonaro destruiu.

Vinicius Torres Freire -Lula na hora da coalizão

Folha de S. Paulo

À beira de grandes votações, governo lida com Congresso forte, de direita e em mudança

Enfim nos demos conta de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá os problemas de sempre, de qualquer governo, para formar algum tipo de coalizão no Congresso. Lula terá os problemas de sempre e os mais recentes, pois não são lá novos: resultam de uma transformação em curso desde 2013 e em marcha forçada desde 2018.

A formação de dois blocos de partidos na Câmara causou certa impressão e inflamou a discussão do que será Lula 3 no Parlamento. A criação desses agrupamentos, de 173 e 142 deputados cada, não quer dizer, necessariamente, que o governo terá mais ou menos oposição. Quer dizer que o governo tem cada vez menos influência sobre a organização de alianças em um Congresso com cada vez mais poder desde 2015.

Paulo Celso Pereira* - Presidencialismo de varejão

O Globo

Desde a redemocratização, a abundância de partidos representados no Congresso sempre foi considerada determinante para o desafio dos governos em formar maiorias sólidas. Com a cláusula de barreira que entrou em funcionamento pleno em 2022, a esperança de que se estabelecesse uma relação mais republicana entre Poderes parecia plausível. As sete maiores legendas ou federações saíram das urnas com 80% dos deputados federais, e os 20% restantes se dividiam em outras 12 agremiações, que tendem a se fundir ou desaparecer. Na legislatura anterior, os sete maiores partidos concentravam 54% dos deputados, e os restantes se dividiam em 23 legendas.

Na prática, no entanto, o objetivo principal não se concretizou. A base que elegeu Lula no segundo turno conseguiu fazer 140 deputados. Somados aos representantes de MDBPSD e União Brasil (União), que receberam ministérios antes mesmo da posse, o total de aliados deveria, em tese, assegurar uma maioria simples segura, com 283 votos, 26 a mais que o necessário. Ainda assim, hoje, o Planalto precisa negociar cargos e emendas no varejo, com parlamentares de partidos contemplados ou não com ministérios, e não sabe nem mesmo se conseguirá garantir que o Congresso aprove a mais básica das Medidas Provisórias.

Bernardo Mello Franco - Inelegibilidade é pouco para crimes de Bolsonaro

O Globo

Se for punido apenas pelo TSE, ex-presidente prolongará as férias até 2031

Até a tropa do PL já admite: Jair Bolsonaro deve ser condenado no processo que apura seus ataques ao sistema eleitoral. Se a previsão se confirmar, o TSE impedirá o ex-presidente de disputar eleições por oito anos. É muito pouco para a coleção de crimes que ele cometeu.

A Procuradoria pediu que Bolsonaro seja punido por abuso de autoridade e de poder político, desvio de finalidade e uso indevido dos meios de comunicação. O processo trata da reunião com embaixadores em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno.

O capitão convocou o corpo diplomático para mentir sobre a urna eletrônica e atacar o candidato da oposição. O discurso foi transmitido na TV Brasil e nas redes do governo, inflamando extremistas que já ensaiavam um levante contra a democracia.

Elio Gaspari - A arrogância do Twitter

O Globo

As grandes empresas de tecnologia que controlam plataformas de redes sociais tiveram mais de cinco anos para mostrarem-se dispostas a colaborar com o governo brasileiro no policiamento de mensagens que incitavam à prática de atos criminosos. Empurraram o assunto com a barriga e argumentos falsos até que, numa reunião com o ministro Flávio Dino, representantes do Twitter desafiaram-no, dizendo que mantinham na rede 431 mensagens que tratavam de ataques a escolas pois elas não ofendiam suas regras internas. O Twitter vinha respondendo a perguntas da imprensa com emojis de fezes.

Quando esse debate começou, discutiam-se notícias falsas em geral e mentiras políticas em particular. Em 2014 uma página do Facebook intitulada “Guarujá alerta”, com 56 mil curtidas, falava de uma mulher que sequestrava crianças para rituais de magia negra. Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que não estava identificada nas mensagens, foi linchada e morta no dia 3 de maio. Seus assassinos foram condenados a 30 anos de prisão.

Dorrit Harazim - Dois tempos

O Globo

A coleira que chicoteou o entregador Max poderia constar de algum museu do racismo no Brasil de 2023

Agosto de 1955, Estados Unidos — foi sucinta a última recomendação da mãe de Emmett Till, de 14 anos, ao embarcá-lo para visitar familiares no estado sulista do Mississippi:

— Lá não é como aqui em Chicago. Você é um menino negro, não deve arrumar confusão.

Os tios que hospedaram o garoto curioso lhe fizeram advertência semelhante. Também os priminhos da mesma idade falavam em nunca chamar a atenção, mesmo em programas tão inocentes como sair para comprar doces. Foi numa noite daquele agosto escaldante que Emmett entrou no mercadinho Bryant, de propriedade de um branco, acompanhando o primo Curtis Jones. No caixa estava a mulher do dono. Os meninos fizeram a compra, saíram rapidamente e ainda estavam a fazer hora quando a sra. Bryant também saiu para pegar o carro. Um assovio atrevido, insolente, proibido cortou o silêncio e permaneceu no ar. Saíra da boca de Emmett.

Míriam Leitão - As trapalhadas na visita à China

O Globo

A viagem, que deveria mostrar a nova forma de o Brasil se relacionar com o mundo, virou uma coleção de declarações infelizes de Lula

O presidente Lula estava com tudo preparado para ganhar a visita à China, mas errou ao falar e ao não falar. Não quis dar entrevista à imprensa brasileira, hábito que até os ditadores militares seguiam quando em viagem ao exterior. No dia seguinte, pediu desculpas. Fez improvisos infelizes, que mostraram pouca sabedoria para lidar com as relações internacionais. Isso é espantoso, diante da experiência de Lula em seu terceiro mandato.

Não é necessário dar gritos de independência em relação aos Estados Unidos, só por estar em solo chinês. Nessa altura da nossa maturidade como potência regional, o Brasil deve estar bem com as principais potências mundiais. Isso é um clássico do Itamaraty.

Bruno Boghossian - A esquerda latina no divã

Folha de S. Paulo

Choque geracional e ideológico expõe contraste agudo em política identitária e tolerância com autocratas

segunda onda rosa na América Latina levou a esquerda da região para o divã. Líderes que assumiram o poder nos últimos anos defendem ajustes para evitar o que consideram erros do ciclo anterior, nas décadas de 1990 e 2000. Outras alas parecem convencidas de que a atualização da agenda desse campo pode significar sua destruição.

A justiça social é a ponte que une as duas ondas, com a redução de desigualdades e o papel do Estado como pilares principais. Contrastes agudos, por outro lado, são exibidos em público nas avaliações sobre a amplitude da chamada pauta identitária e na tolerância com condutas antidemocráticas.

Muniz Sodré* - Por que atacar escolas

Folha de S. Paulo

Jogos e anarquia informativa confirmam a crise disciplinar e exacerbam a hostilidade à educação moral

Na crônica sombria dos serial killers americanos existe a figura do "copycat", aquele que imita criminosos precedentes. Noutro plano, mas na mesma esfera do crime, também se reproduzem em diferentes regiões os massacres aleatórios, com escolas como alvos preferenciais. Nos EUA são quase semanais, já alarmantes entre nós. Foi traumatizante o assassinato de crianças numa creche.

Hélio Schwartsman - Com fins lucrativos

Folha de S. Paulo

Livro traça história de corporações, mostrando suas realizações sem esconder suas maldades

Podemos confiar em corporações? Não faltam exemplos a sugerir que não. Basta lembrar a crise econômica de 2008, que teve como ingrediente a ação desregulada de empresas do setor financeiro em busca de lucros exorbitantes. E a lista de "crimes" cometidos por corporações pode ser ampliada significativamente. Epidemia de opioides? Há farmacêuticas envolvidas. Mudança climática? As big oil têm algo a ver com isso. Misérias do colonialismo? Ponha a culpa na Companhia das Índias Orientais. Há até quem atribua às primeiras corporações a responsabilidade pela queda da República romana.

José Roberto Mendonça de Barros* - Indústria e agro (1)

O Estado de S. Paulo

A expansão da digitalização e da agricultura de precisão reduz o uso de certos insumos

Com o novo governo, voltou à luz um debate que nunca nos deixou. Setores da indústria tentam obter protagonismo ao se contrapor ao sucesso do agronegócio, criticando a exportação de grãos, uma coisa primária e atrasada.

O argumento é essencialmente equivocado, pois o agro está numa fase de grande criação de valor, especialmente por meio do progresso tecnológico.

A expansão da digitalização e da agricultura de precisão está reduzindo o uso de certos insumos e o custo de produção.

Ao mesmo tempo, estamos assistindo às melhorias contínuas na utilização de big data na gestão de riscos de produção, das finanças e das atividades empresariais.

Eliane Cantanhêde - Trocar uma potência por outra?

O Estado de S. Paulo

Tradição brasileira é de neutralidade, mas Lula se alinha à China e se distancia dos Estados Unidos

A ida à China, aproveitando o amplo leque de ofertas da segunda maior potência do mundo e principal parceira comercial do Brasil, foi importante. Porém, não está exatamente claro o que o presidente Lula pretende com um alinhamento cada vez mais ostensivo com a China e as caneladas nos Estados Unidos durante a viagem. Com sinal trocado, Lula repete Bolsonaro: um batia na China; o outro, nos EUA.

Lula 3 quer não só replicar, como aprofundar a política externa do Lula 1 e 2, pautada pelo enfrentamento a um “mundo unipolar”, ou seja, pelo anti-imperialismo ou, para dar nome aos bois, pelo antiamericanismo. Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e depois África do Sul) são o grande marco dessa estratégia.

Celso Lafer* - Rui Barbosa – internacionalista

O Estado de S. Paulo

Resultaram de seu empenho em arguir a partir da perspectiva do Brasil, que não era e não é uma grande potência, os méritos da reputação e da credibilidade nacional

Rui é um paradigma de advogado que soube valer-se do Direito como instrumento estratégico da sua ação política. Foi o que o singularizou no cenário nacional, mas é também a relevante marca de sua atuação internacional. Dela advém o seu legado para a construção do capital diplomático do Brasil e a contribuição para pioneiramente afirmar o lugar do nosso país no mundo.

A Conferência de Paz de Haia de 1907 foi o primeiro grande ensaio da diplomacia multilateral do século 20, pela abrangência dos 44 Estados soberanos da época que dela participaram. Foi também a primeira expressão da “diplomacia aberta”, sensível às aspirações pacifistas da opinião pública internacional da época.

Rui foi o chefe da delegação brasileira e atuou em estreita coordenação com o chanceler Rio Branco. Tinha todas as qualidades para o novo da diplomacia parlamentar do multilateralismo: o pleno domínio dos assuntos da pauta, a vocação de infatigável trabalhador, a capacidade de exprimir-se – inclusive de improviso e com perfeição – em francês, a língua oficial da conferência. A isso se conjugou a combatividade, que sempre o caracterizou, como advogado, político e parlamentar.

Rui em Haia contestou a igualdade baseada na força e sustentou a igualdade dos Estados lastreada no Direito. Essa contestação colocou em questão o exclusivismo até então preponderante das grandes potências na ordem mundial. Sua posição representou a primeira formulação do Brasil em prol da democratização do sistema internacional. Abriu espaço para respaldar inovadora perspectiva da nossa política externa: a pauta diplomática do País não se circunscreve a questões específicas; transita pelos seus “interesses gerais” na dinâmica do funcionamento da ordem mundial.

Luiz Carlos Azedo - Relação do Brasil com a China ameaça os Estados Unidos?

Correio Braziliense

Não há a menor chance de o Brasil sair da esfera de influência do Ocidente, porque o “americanismo” está incorporado ao modo de vida dos brasileiros

O encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente da China, Xi Jinping, teve mais repercussão na mídia norte-americana do que sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Talvez o discurso do ex-presidente Donald Trump acusando o democrata de perder a Rússia, o Brasil, a Colômbia e toda a América Latina para a China tenha esquentado o noticiário. O fato é que o Brasil voltou à cena internacional para a opinião pública do Ocidente, ainda que muitos considerem essa agressiva projeção de poder de Lula desnecessária e desprovida de sustentação econômica e política.

No Brasil, a aproximação com a China está sendo interpretada como uma deriva do governo Lula em direção às ditaduras, numa projeção das relações com a Venezuela, Nicarágua e Cuba ao Oriente. Lula também está sendo acusado de fazer o jogo do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao propor um acordo de paz com a Ucrânia em que a desocupação da região do Dombass pelas tropas russas teria como contrapartida a entrega da Crimeia, também ocupada pela Rússia. A viagem de Lula virou um prato cheio para a oposição bolsonarista e sua narrativa anticomunista, que agora encontra eco em setores que desejam ressuscitar a chamada “terceira via”.

Cristovam Buarque* - Tiro no coração do Brasil

Blog do Noblat / Metrópoles
A decadência da educação brasileira

Há décadas os eleitos e os eleitores não reagem diante dos claros sinais de decadência da educação brasileira e das consequências que esta tragédia provocará sobre a economia e a sociedade: baixa produtividade, pobreza, violência, estagnação cultural, atraso civilizatório. O maior sinal é o abandono escolar por 50% de nossos adolescentes antes da conclusão do ensino médio, e a constatação de que a metade dos que terminam são “analfabetos para a contemporaneidade”: não são fluentes em idiomas estrangeiros, não sabem usar as ferramentas do mundo moderno, não adquirem um ofício profissional que lhes assegure emprego e renda, não estão preparados para aprender novos conhecimentos que o mundo exige a cada novo momento.

Entrevista | Craig Smith: Adam Smith - A riqueza das ideias

Por Hamilton dos Santos; Especial para O Globo

Celebração do autor de 'A riqueza das nações' é ponto culminante de um revisionismo que inclui resgatar sua crítica moral da escravidão

Este ano são comemorados os 300 anos do nascimento de Adam Smith (1723-1790), autor do clássico “A riqueza das nações” (1776). As celebrações prometem muito barulho, transformando-se no ponto culminante de um processo revisionista que teve início ainda nos anos 1970, e que pretende resgatar o “verdadeiro Smith” de sua imagem popular, ainda associada à pregação de um neoliberalismo selvagem.

No epicentro das principais festividades, de 5 a 10 de junho, está a Universidade de Glasgow, da qual Smith foi o aluno e o professor mais célebre. Uma série de colóquios já está em andamento em diversos países, apresentando a mais recente produção acadêmica e biográfica sobre o pensador escocês e sua obra.

Quem está à frente da curadoria dos eventos oficiais e das recuperações históricas é o professor Craig Smith (que, apesar do sobrenome, não é descendente do filósofo), do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Glasgow. Autor de “Adam Smith’s political philosophy: the invisible hand and the spontaneous order” (“A filosofia política de Adam Smith: a mão invisível e a ordem espontânea”, em tradução livre), ele falou ao GLOBO sobre a missão.

O Adam Smith do imaginário popular difere do que viveu e escreveu no século XVIII?

Adam Smith tem um lugar na cultura popular muito associado à economia de livre mercado por ser autor de “A riqueza das nações”, um dos primeiros clássicos modernos da área, em que argumenta em favor da livre iniciativa. Mas ele é também um filósofo interessado em moral, ciências naturais, artes, linguagem — sem levar isso em conta, não é possível ter uma imagem clara do que ele escreveu sobre economia. Por exemplo: muita gente acredita que Smith era um defensor dos interesses particulares, do egoísmo, e isso não é verdade. Em sua “Teoria dos sentimentos morais” (1759), ele descreve e defende motivações diferentes para as ações humanas, inclusive benevolentes. Em “A riqueza das nações”, Smith fala de situações nas quais o livre mercado não funciona e os governos deveriam agir. Existe uma imagem enganosa dele como economista, uma espécie de caricatura. Na celebração de seu 300º aniversário, queremos conscientizar as pessoas de outras coisas que ele defendeu em sua obra.

Quem deturpou a sua imagem?

Não gosto de atribuir culpa. Livros recentes afirmam que economistas associados à Universidade de Chicago teriam sido responsáveis por cultivar essa imagem de Smith e provavelmente existe alguma verdade nisso. Mas é igualmente verdade que muitas outras pessoas fizeram essa associação, gente que nunca ouviu falar de Milton Friedman, George Stigler ou outros nomes dessa escola. Então acredito que a questão da responsabilidade seja mais profunda. Acho que Smith é uma dessas figuras que são tão conhecidas que todos acham que sabem o que elas disseram. Ocorre o mesmo com Karl Marx — poucos leram o original ou mesmo livros sobre ele, mas muitos pensam entender sua obra quando, na verdade, apenas absorveram uma versão resumida de seu pensamento via cultura popular.

O que a mídia pensa - Editoriais/Opiniões

Impostos absurdos tornam tudo mais caro no Brasil

O Globo

Episódio dos sites asiáticos serve para comprovar nível escandaloso de taxação que encarece produtos

É preciso reconhecer que o governo está certo ao querer acabar com a sonegação na compra de mercadorias importadas de sites asiáticos como Shein, Alibaba ou Shopee. Não dá mesmo para aceitar a concorrência desleal de empresas que não pagam impostos com aquelas que operam dentro da lei. Mas as medidas formuladas para deter as artimanhas usadas para driblar a fiscalização, anunciadas com um misto de estardalhaço e trapalhada, levantaram uma discussão bem mais relevante: as alíquotas escandalosas dos impostos no Brasil.

Embora o governo diga que o imposto sobre a importação equivale a 60% do valor do produto, a realidade não é bem assim. Os 60% incidem sobre o valor acrescido de frete, seguro e outros elementos — em alguns estados, do ICMS. Como mostrou reportagem do GLOBO, em São Paulo ou no Rio uma blusa importada de R$ 20 pode sair por quase R$ 56, 180% mais cara que o valor anunciado (com 95% em impostos, que incidem também sobre o custo do frete). Em Minas Gerais, a taxação de importados fica em 113%. Isso se os bens não custarem mais de R$ 3 mil. Aí são obrigados ainda a pagar IPI, PIS, Cofins, sobre os quais incidirá a taxa de importação.

Poesia | Fernando Pessoa - Quando vier a primavera

 

Música | Carinhoso (Pixinguinha) - Orquestra Unisinos Anchieta e Convidados