O Globo
O teatrinho encenado entre Paulo Guedes e
seu ex-subordinado e agora colega Adolfo Sachsida a respeito da disposição de
privatizar a Petrobras é uma forma de entreter a claque para que não perceba o óbvio:
Jair Bolsonaro ameaçou fazer, acontecer, demitiu dois presidentes da empresa e
um ministro, e não será possível alterar a política de preços dos combustíveis.
Não haverá privatização alguma, nem mesmo os passos iniciais para isso. Eles
sabem, todos sabem.
Da mesma forma, os levantes dos
funcionários do Banco Central, que chegaram a pressionar a Economia pelo
reajuste de 22% para seus servidores, e dos agentes e delegados da Polícia
Federal, que cobram em peças publicitárias que “Bolsonaro cumpra sua palavra” e
dê o aumento que prometeu a eles, são consequências da forma leviana,
despreparada e populista como o presidente age também nessa área, que resulta
em tiro em seu próprio pé.
Prometer baixar o preço da gasolina, do
diesel e do gás de cozinha na base da pressão sobre a Petrobras e acenar para
servidores com reajustes com que o Tesouro não é capaz de arcar são só alguns
dos embustes de Bolsonaro em matéria econômica. Dizem respeito a temas em que
ele tem muito a perder por achar que fala o que quiser, sem conhecimento de
causa, sem planejamento e sem se conscientizar de que há limites para a ação do
Executivo, impostos seja pela lei, seja pelo mercado, seja pela
responsabilidade fiscal.
De fato, a disparada do preço dos combustíveis, em razão de fatores diversos, torna a inflação galopante um problema para qualquer presidente incumbente que deseje se reeleger. Mas, em momento algum, o governo estruturou sequer um plano emergencial para dar subsídios ao preço, se fosse o caso, avaliando quanto isso custaria ao Tesouro e de onde viriam esses recursos.