quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Alberto Aggio

A conquista do segundo turno das eleições presidenciais representa uma vitoria contra esse tipo de arrogância e um alerta: a maioria dos eleitores brasileiros votou contra a candidata inventada pelo “dedaço” do presidente Lula. Juntos, os votos de Serra e Marina formam uma maioria que poderá se reproduzir no segundo turno, uma tendência que não pode ser desprezada se for examinada com isenção.

(Alberto Aggio, no artigo ‘A política venceu a arrogância’, neste blog, ontem)

Sem intervalo:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Há duas informações contraditórias no noticiário sobre a campanha do segundo turno da candidata Dilma Rousseff: ou bem o tom Paz e amor vai prevalecer ou bem o deputado Ciro Gomes vai fazer parte da coordenação política da campanha.

As duas coisas não combinam.

O mais provável é que nenhuma das duas aconteça.

A maioria dos governadores quer que Lula participe da campanha, mas tire o dedo do gatilho da metralhadora giratória, onde ele o repousou no último mês de campanha.

Querem a volta da criação imortal de Duda Mendonça, que levou Lula à Presidência da República e à qual ele retorna sempre que vê escapando uma vitória pressentida ou que se mete em uma enrascada pelo rancor que guarda no peito.

Apesar de todas as glórias, locais e internacionais, Lula não se sente confortável neste mundo que não lhe dá uma aprovação unânime.

Talvez seja o caso para um psicanalista, mas o fato é que ele não se contenta com menos do que a unanimidade burra identificada por Nelson Rodrigues.

Foi assim também em 2006, quando foi para o segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin. Ficou nada menos que 15 horas desaparecido, curtindo sua mágoa, imprecando contra os seus aloprados e também contra o picolé de chuchu que ousou enfrentá-lo quase de igual para igual.

Quando se acalmou , reassumiu o papel de Lulinha Paz e Amor e fez uma campanha de segundo turno irretocável, colocando no corner seu adversário.

É claro que Dilma não é Lula, e Serra não é Alckmin, e o país é outro hoje em dia.

Ficará mais difícil levar a campanha do segundo turno para o campo ideológico, como querem alguns dentro da campanha.

A polêmica sobre o aborto, que retirou de Dilma boa parcela de votos, é uma demonstração de que a nova classe média criada no governo Lula, conservadora como já havia registrado o cientista político André Singer, ex-porta-voz de Lula, não gosta de marolas.

O interessante é que Mangabeira Unger, o professor de Harvard que já foi ministro do governo Lula e foi o estopim para a saída de Marina Silva do Ministério, ao receber de Lula e Dilma a incumbência de cuidar das questões ambientais na Amazônia com um olhar desenvolvimentista, desenvolveu a tese de que os evangélicos brasileiros tinham semelhança com os pioneiros que fundaram os Estados Unidos e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.

Esse grupo, e mais os católicos, ao que tudo indica reagiu contra posições ambíguas da candidata Dilma sobre a legalização do aborto, e o debate continua pela internet.

Outras contradições da candidata oficial serão exploradas durante este segundo turno da campanha.

Mas uma coisa é inegável: mais uma vez a campanha do PT saiu na frente em organização.

Um exemplo claro disso foi o aproveitamento que Dilma Rousseff fez do bloco de reportagens do programa Fantástico, da Rede Globo, marcando seu pronunciamento para um horário em que pôde entrar ao vivo na maior audiência do domingo.

O candidato Serra simplesmente não foi encontrado e só foi fazer seu pronunciamento perto da meia-noite.

Outra demonstração de organização foi a convocação dos governadores eleitos e demais aliados para uma reunião em Brasília, já levando em consideração os programas eleitorais do segundo turno, que começam na sexta-feira.

Serra só reunirá seus aliados hoje.

Uma coisa houve de bom para a campanha de Serra.

Ele não repetiu o erro de Alckmin, que suspendeu a campanha entre o primeiro e o segundo turno por uma semana, freando todo o embalo que o levou a ter 42% dos votos no primeiro turno.

E, em vez de receber o apoio de Garotinho em primeiro lugar, como fez Alckmin em 2006, Serra desta vez recebeu o apoio de Fernando Gabeira, o que faz toda a diferença.

As duas campanhas estão se movimentando nos bastidores para conseguir o apoio de Marina Silva e de seu Partido Verde, e a missão é tão importante que os principais líderes do PT e do PSDB estão capitaneando os esforços de aproximação.

O presidente Lula e seu principal adversário, o expresidente Fernando Henrique Cardoso, estão mais uma vez disputando esse lance político, numa demonstração de que a candidatura de Marina Silva teve o condão de quebrar a polarização entre os dois partidos.

Embora sejam eles que disputam o segundo turno, o protagonismo está com Marina Silva, mais do que com o Partido Verde.

Ninguém sabe exatamente a composição desses quase 20 milhões de brasileiros que escolheram Marina mesmo sabendo que ela não tinha chance de chegar ao segundo turno.

Foram eleitores que quiseram demonstrar sua insatisfação com a dualidade proposta, como sempre Marina salientou nos debates.

Como terão que decidir quem escolher no segundo turno, não é provável que aguardem uma orientação de Marina, nem que ela pretenda ser a guia genial desses eleitores.

As motivações do voto em Marina parecem ser bastante variadas, e cada grupo escolherá o candidato(a) que sobrou, ou escolherá não escolher, de maneira mais independente do que normalmente acontece.

Os petistas desiludidos provavelmente voltarão ao seio do partido, mas eles ao que tudo indica são a menor parte desse contingente, que, também pelas primeiras análises, não é nada parecido com os eleitores que em 2006 escolheram Cristovam Buarque e Heloisa Helena no primeiro turno e depois desembarcaram na candidatura de Lula em peso.

Os eleitores de Marina parecem ser menos ideológicos, assim como ela.

Compromissos com uma visão mais abrangente da questão do meio ambiente dentro do projeto de desenvolvimento do país devem ser mais eficazes para uma boa parte desses eleitores

Cair de maduro:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

As duas semanas que Marina Silva e o PV pedem para decidir qual apito tocarão para seus eleitores no segundo turno não cabem dentro dos 25 dias que faltam para a eleição.

Nem os candidatos Dilma Rousseff e José Serra podem esperar tanto nem a expectativa do público se sustenta durante tanto tempo.

Inclusive porque no fim Marina pode chegar à conclusão de que a neutralidade é a melhor posição. A posição do PV não importa, já que o centro mesmo das atenções é a senadora.

Decisões que demoram a sair, ainda mais em situações emergenciais como a do segundo turno da eleição presidencial. A procrastinação põe os personagens da história no sério risco de ser atropelados pelos fatos e pelas circunstâncias.

Os fatos já a partir de agora vão começar a surgir: as polêmicas, os programas do horário de rádio e televisão, a tomada de posição dos aliados País afora, a arrumação interna das campanhas, os acertos, os desacertos, uma série de coisas que vão acontecendo muito rapidamente e que podem fazer do apoio de Marina/PV um acontecimento vencido. Ou pior: aborrecido.

Guardadas todas as proporções, não custa lembrar a quem interessar possa que a escolha do vice da chapa do PSDB um dia foi assunto nobre e acabou naquela situação lamentável que todo mundo viu.

Ninguém é capaz de dizer ou informar com razoável grau de precisão o que vai acontecer com essa que hoje é a mais cortejada das noivas da política.

Primeiro, um parêntese: melhor ver PSDB e PT correr atrás de Marina que reverenciar o PMDB por causa de tempo de televisão e serviços prestados à "governabilidade".

Ninguém consegue saber com segurança qual o rumo do PV porque nem o PV sabe.

O presidente do partido anunciou apoio a Serra, bem como figuras de destaque do PV como Fernando Gabeira e Fábio Feldmann. Isso, aliado ao fato de "os verdes" estarem aliados aos tucanos em vários Estados faz supor que o partido irá com Serra.

Convém, porém, não subestimar a capacidade de cooptação do governo e o fato de que é o presidente em pessoa quem procurará Marina para convidá-la a apoiar Dilma.

Apesar de todo os pesares, Marina simplesmente adora, no sentido religioso do termo, Luiz Inácio da Silva. De outro lado, abomina - no sentido pagão da palavra - Dilma.

Por isso a aposta geral é a de que ficaria neutra. Se apoiar Dilma, volta para uma campanha do PT. Se ficar com Serra, salta para o outro lado da margem sem escalas.

Para quem está chegando ao "grand monde" da política agora qualquer passo em falso é um risco, muito embora a paralisia tampouco seja a melhor conselheira.

Marina não é uma líder de massas. Tanto que tem gente chamando seus 20% de votos de "fenômeno".

Se Lula com seus 80% de popularidade só conseguiu dar 47% para Dilma, Marina de repente faria 20% das pessoas que votaram nela por variados motivos - dos piores aos melhores - seguirem incontinenti sua posição?

E se só uma ínfima parte seguir, como ela fica?

Difícil, mas qualquer que seja a decisão será necessário apressá-la. Sob pena de os verdes acabarem caindo de maduro.

Embarque na onda. Os institutos contratados por campanhas e governos não "erraram", cumpriram suas tarefas. As pesquisas saíram com a credibilidade arranhada, mas isso acontece em toda eleição e depois (lamentavelmente) passa.

Pior aconteceu com a imprensa em geral, nacional e estrangeira, que ficou na referência cega dos números, abstendo-se de pensar, de "reportariar", de dar às amostragens sua devida dimensão.

Na melhor das hipóteses, as intenções de voto de Dilma alcançaram 55%. Cinco pontos é pouco para sustentar aquela certeza toda na decisão no primeiro turno.

Precisão. Na quinta-feira anterior às eleições, logo após o debate da TV Globo, o marqueteiro do PSDB, Luiz Gonzalez, revelava a um grupo de jornalistas o resultado do "tracking" (medições em série por telefone) daquele dia: 42% para Dilma, 31% para Serra e 20% para Marina. Mais preciso que a pesquisa da boca de urna.

Nas trevas de Deus :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A despeito das suas diferenças, Dilma Rousseff e José Serra são oriundos da esquerda e pertencem ao campo progressista da política brasileira. É tanto mais esdrúxulo, por isso, que o segundo turno comece pautado, de ambos os lados, pela cabeça de Severino Cavalcanti. Disputa-se para saber quem é mais filho de Deus ou quem consegue ser mais dramaticamente contra a legalização do aborto.

Na noite de domingo, no seu primeiro discurso, Serra, com a mão no peito, fez questão de agradecer a Deus (seria um milagre que estivesse ali?). E Dilma, ao vivo no "JN", anteontem, forçou a nota para dizer que tinha o "princípio de valorizar a vida em todas as suas dimensões".

O comércio com Deus pelo voto religioso virou uma gincana teatral para saber quem é mais impostor.

Serra, na ofensiva, como neoaliado do Senhor, e Dilma, na defensiva, embromando os fiéis, desempenham papéis complementares de uma mesma regressão política.

Isso posto, Dilma precisa deixar claro se mudou ou não de posição. Em outubro de 2007, antes de ser candidata, em sabatina na Folha ela disse o seguinte sobre o aborto:

"Olha, eu acho que tem de haver descriminalização do aborto. Hoje, no Brasil, é um absurdo que não haja a descriminalização. Até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto. Não as de classe média, mas as de classes mais pobres deste país. O fato de não ser regulamentado é uma questão de saúde pública. Não é uma questão de foro íntimo, não.".

Os fatos corroboram o que Dilma dizia até se converter num fantoche. O aborto ilegal é a terceira ou a quarta causa (a depender do período analisado) da morte materna no país. Estima-se que 5 milhões de mulheres em idade reprodutiva (18 a 39 anos) já abortaram no Brasil.

Não é uma questão grave de saúde pública? Não é um debate que candidatos progressistas à Presidência têm a obrigação de fazer?

FHC tem razão: não somos um país conservador, mas atrasado.

Surpreendentes derrotas e previsíveis vitórias:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Multiplicam-se os registros das vitórias do presidente Lula neste primeiro turno das eleições gerais, e elas são realmente impressionantes. Todas previstas, não houve surpresas. Escolheu sozinho a candidata à sua sucessão, sem ousadias indevidas de contestação partidária. Construiu as bases da candidatura, fez no Executivo os programas definidos para mostrar na campanha, numa ação pontuada por profissional e eficiente marketing. Ergueu-a de um patamar rente ao chão para perto da metade dos votos válidos no primeiro turno, 47 milhões de eleitores aderiram à sua escolha. A candidata Dilma Rousseff, do PT, começa a campanha de segundo turno com uma vantagem significativa de 14,5 milhões de votos à frente do seu adversário.

Lula elegeu, no primeiro turno, mais de uma dezena de governadores dos partidos de sua coligação, alguns deles, do PSB, com votações de proporção gigantesca, como os de Pernambuco e Espírito Santo. Solidários, estão todos há dois dias em Brasília para apoiá-lo na definição da estratégia para a nova etapa da campanha. Igualmente com sucesso, fez maiorias na Câmara e no Senado, e afastou do Parlamento quatro dos seis senadores de oposição a quem se propôs derrotar: Tasso Jereissati (PSDB), Arthur Virgílio (PSDB), Heráclito Fortes (DEM) Marco Maciel (DEM). A redução das bancadas dos três partidos de oposição, PSDB, DEM e PPS, tanto na Câmara quanto no Senado, foi outra vitória do presidente, que se comportou na campanha como quis, sem os freios legais ou comportamentais que abomina.

Um voto que não é contra nem a favor, antes pelo contrário

As derrotas, e houve muitas, também devem ser contabilizadas só para ele, e a maioria diz respeito à frustração de expectativa. Esperava eleger entre 105 a 110 deputados federais do PT, elegeu 88. Propôs, em comício, em Santa Catarina, o extermínio do DEM, e justamente lá, terra do presidente de honra do partido, Jorge Bornhausen, foi eleito governador o demista Raimundo Colombo, em primeiro turno. Para desgosto do presidente, o DEM elegeu também em primeiro turno a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini.

Lula teve perdas importantes nas disputas estaduais em que se envolveu muito e pessoalmente. Por exemplo, sua atuação em Minas Gerais. Escolheu esse Estado como um dos que ofereceria o PT em sacrifício para dar vez ao PMDB na negociação da aliança. Com o fracasso do projeto, acabou deixando seu partido, no Estado, fora de tudo, restando, agora, fazer mais uma vez a guerra interna para ver quem ficará com os cargos federais em um governo Dilma, caso a candidata seja eleita.

Perdeu, também, no maior colégio eleitoral, São Paulo, onde os seus adversários venceram a disputa ao governo no primeiro turno e, ainda, elegeram senador o tucano Aloysio Nunes Ferreira, nome que estava inteiramente fora dos cenários do Palácio do Planalto. Envolveu-se na definição da candidatura do senador Osmar Dias no Paraná, e perdeu para o PSDB em primeiro turno. Pode perder ainda para o PSDB em Alagoas e Goiás, onde o partido adversário disputa com chances o segundo turno para o governo.

Tanto o PSDB quanto o DEM vão sair maiores do que entraram nas eleições estaduais, uma compensação do eleitor às perdas impostas nas bancadas da Câmara e Senado. Foram eleitos, ainda, dois senadores do DEM, o partido que derrubou a CPMF e por isso foi amaldiçoado pelo presidente, Demóstenes Torres (GO) e José Agripino Maia (RN), que estavam no seu index e escaparam. A oposição demonstrou força: 52,7 milhões de votos, se somados os dados a Serra (PSDB) e a Marina (PV).

Pelas sucessivas transgressões à lei, e por ter feito de tudo, como prometera, para eleger sua candidata Dilma Rousseff em primeiro turno, houve perda de imagem.

O presidente Lula ainda teve que ouvir, durante a campanha, críticas contundentes ao seu desempenho nas áreas de Educação, Saúde e Segurança, temas escolhidos por todos os candidatos como as maiores lacunas do governo, agora prioritários até para Dilma, num reconhecimento tácito de que, por esses caminhos, não havia argumentos. Lula não conseguiu, também, no primeiro turno, fazer o que tanto queria, a disputa plebiscitária entre seu governo e o antecessor, mas voltará a isso na segunda etapa.

Há um fenômeno, ainda não registrado, que sintetiza o recado das urnas sobre os limites que ainda existem para o presidente. Sua maior derrota foi não ter alcançado a vitória no primeiro turno, com a qual todos contavam e ainda agora estão perplexos com a frustração. Teve que ir ao segundo turno apesar dos seus 80% de popularidade e da campanha fraca do adversário do PSDB. Pior, para alguém de vaidade tão exarcebada, o presidente Lula foi ao segundo turno levado por um eleitorado que lhe é indiferente.

Os 19,6 milhões de votos dados a Marina Silva não são contra ou a favor de Lula. Estiveram com a Marina jovens universitários, petistas que com ela saíram do partido mas mantiveram ali laços fortes e devem para lá voltar, grupos religiosos, ambientalistas, seguidores do Partido Verde, um sortido eleitorado de diferentes classes sociais que preferiu fazer sua escolha sem levar em consideração o eixo central desse universo eleitoral.

O PPS anuncia pedido de investigação de Institutos de Pesquisa eleitoral. Poderia o partido liderar no Congresso, em vez de CPI ou algo semelhante, uma proposta de regulação para evitar a dupla militância, razão da maioria dos problemas. O Instituto que trabalha para candidatos e portanto funciona como instrumento de propaganda destina a influenciar o eleitorado, não poderia trabalhar para meios de informação à sociedade, que leva a pesquisa a sério.

A duplicidade já está proibida em países de economia mais desenvolvida mas de organização eleitoral mais precária que a nossa.

Fortalecidas pelos resultados eleitorais de 2010 emergem na política novas promessas de futuro, que têm tudo para se transformarem em opções presidenciais. Marina Silva (PV), Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves (PSDB), Beto Richa (PSDB), podem figurar em qualquer disputa, independente dos partidos em que estejam no momento.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

FHC entrou pela frente, Dirceu pelos fundos:: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

No dia em que Marina Silva, uma pobre menina do Acre, nascida no seringal Bagaço, teve 19,6 milhões de votos, José Dirceu, o engenheiro da máquina petista na eleição vitoriosa de 2002, chegou cedinho para votar num colégio de Moema, em São Paulo. Entrou por uma porta lateral e saiu protegido por seguranças.

Há quatro anos, nesse mesmo local, ouviu gritos de ladrão. Na mesma manhã de domingo, Fernando Henrique Cardoso percorreu a pé uns poucos quarteirões e votou no Colégio Sion, o prédio onde, em 1980, um grupo de sindicalistas fundou o Par tido dos Trabalhadores.

Algo está acontecendo debaixo dos olhos do comissariado petista.

Mais: os resultados trouxeram sinais de que algo está acontecendo debaixo dos olhos do eleitorado. Com 255 mil votos, o deputado federal mais votado do PT de São Paulo foi João Paulo Cunha, réu do processo do mensalão.

Numa bancada que já teve Florestan Fernandes e Hélio Bicudo, o líder do PT na Câmara, Candido Vaccarezza, chegará à Câmara numa coligação beneficiada pelos 1,4 milhões de votos dados ao palhaço Tiririca, pior do que está, não fica.

Em Boa Vista, um colaborador de Romero Jucá (PMDB), líder do governo no Senado, ao ver a Polícia Federal, jogou um pacote com R$ 100 pela janela do carro.

Quando Marina Silva se juntou aos movimentos da igreja e ao PT nas causas do andar de baixo do Acre, Erenice Guerra, a filha de um pedreiro, militava nas bases cristãs e no jovem PT. Uma chegou ao Senado, a outra à Chefia da Casa Civil.

Uma saiu do PT e festejou 19,6 milhões de votos, a outra tem os filhos depondo na polícia por conta de maracutaias urdidas no Planalto e na Anac.

O comissariado menosprezou Marina Silva. Esse tipo de erro é neutro. Resulta da impossibilidade de se prever o desempenho de um adversário. O comissariado menosprezou também a descoberta do Ereniçário, um factoide, segundo Dilma Rousseff.

Aí não se tratou de um erro neutro, mas de um produto da soberba petista.

Pode-se supor que Marina Silva recebeu 10 milhões de votos sem culpa, movidos a emoção. Foram eleitores que usufruíram o direito de ficar longe de argumentos extremados como os do mensalão petista e da privataria tucana. Na infância, o PT foi alimentado por esse tipo de voto, daqueles que não queriam trato com os náufragos da ditadura, nem com políticos que formavam aquilo que supunham ter sido uma oposição consentida. (Tremenda injustiça com Tancredo Neves, Franco Montoro e Ulysses Guimarães.) Acreditar que um apoio formal de Marina afrouxe o cadeado aritmético dos 47,6 milhões de Dilma Rousseff é uma aposta arriscada.

Os votos sem culpa não formam um curral. Eles são o contrário disso.

Votos evangélicos saídos da fé podem ir para qualquer lado. Votos evangélicos produzidos por pastores e bispos eletrônicos possivelmente serão devolvidos a Dilma.

O que levará eleitores sem culpa a escolher entre Dilma e Serra será um processo complexo e imprevisível, ligado ao simbolismo que os candidatos constroem em torno de suas figuras. Foi isso que Marina conseguiu.

Por falar em simbolismos, na noite da vitória de 2002 José Dirceu teve um piti porque não foi levado ao pódio de Lula no palanque da festa, na Avenida Paulista. Passados oito anos, foi votar pelos fundos, enquanto FHC entrou pela porta da frente.

Elio Gaspari é jornalista.

Noel Rosa - Com que Roupa ?

Para conter a debandada

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

PT corre para aparar arestas com aliados que não receberam afagos no primeiro turno e evitar desmobilização nos estados. Ciro se torna coordenador e ajudará na aproximação com Marina

Denise Rothenburg e Igor Silveira

No primeiro turno, os políticos fizeram fila na porta do Alvorada em busca de uma mensagem de apoio do presidente Lula e de sua candidata Dilma Rousseff para exibir na TV. Agora, o processo se inverteu. Dilma e Lula correm atrás dos políticos. Depois de deixar potenciais aliados pelo caminho, a coordenação de campanha petista começa a temer que os candidatos desprezados na primeira fase simplesmente lavem as mãos no segundo turno. Nas reuniões que fizeram ao longo dos dois últimos dias, PMDB e PT avaliaram separadamente que um erro crucial foi a falta de uma política mais amistosa com alguns aliados.

Por isso, a campanha governista será montada com quatro ingredientes: a tentativa de resgate daqueles que ficaram para trás; um plano de governo que inclua a essência das propostas de Marina Silva, de forma a atrair os eleitores dela; uma pitada a mais de alegria, com Dilma nas ruas, mais próxima do povo; e, fechando tudo, um presidente menos raivoso para com a imprensa e com a oposição. O Lulinha paz e amor, como declarou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O horário eleitoral gratuito, que vai espelhar essa toada, terá início na sexta-feira (leia mais na página 9).

O resgate de alguns aliados é considerado crucial. Em Mato Grosso do Sul, o governador eleito André Puccinelli (PMDB) chegou a oferecer uma proposta de neutralidade na sucessão presidencial desde que o governo federal ficasse neutro na eleição estadual. Foi desprezado. Puccinelli então abriu seu palanque para Serra, que obteve ali 42,35% dos votos, contra 39,86% de Dilma e 16,88 de Marina Silva. No Piauí, o senador eleito Ciro Nogueira (PP), desmotivado, até saiu mais cedo da reunião dos aliados com a candidata na segunda-feira. É outro que não se sente parte integrante do time de Dilma porque, ao longo do primeiro turno, aguardou uma gravação de apoio para exibir na TV e não a obteve.

Na Bahia, o deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB, passou a campanha para o governo buscando um afago do presidente Lula e uma gravação da candidata. Nem que fosse para dizer que ele tinha sido um bom ministro da Integração Nacional. Dilma e Lula, nas visitas ao estado, desfilavam exclusivamente ao lado de Jaques Wagner e ainda declararam que, se fossem baianos, votariam no petista. Para completar, Geddel, logo depois da eleição, recebeu um telefonema de Serra e não de Dilma ou Lula. A petista só ligou ontem, depois que Serra já havia telefonado. Sou amigo de Serra, mas sou homem de partido. Quem vai pautar meu comportamento é o PMDB, diz Geddel, claramente desmotivado.

Avaliação

Para atrair esse pessoal, o presidente Lula reuniu governadores e senadores eleitos no Palácio da Alvorada, onde fez uma avaliação do resultado. Dilma saiu do nada e obteve 47%, o mesmo que obtive no primeiro turno da reeleição. Foi um grande feito. E tenho certeza de que vamos ampliar no segundo turno como aconteceu comigo, disse o presidente. Ali estavam líderes como os governadores eleitos do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT); do Amazonas, Omar Aziz (PMN); do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB); e os reeleitos de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), de Sergipe, Marcelo Déda (PT), e do Ceará, Cid Gomes (PSB). Sérgio Cabral (PMDB), do Rio Janeiro, não esperou o encontro ampliado. Justificou a ausência dizendo que tinha compromissos no Rio.

Para o presidente, os aliados devem trabalhar para desfazer os nós religiosos sobre aborto e união homossexual e, ao mesmo tempo, trazer para o primeiro plano a comparação entre os governos de Fernando Henrique Cardoso e o dele, Lula. A tal polarização que o PT tentou fazer no primeiro turno e não conseguiu por conta de Marina. Nos últimos dez dias, fomos vítimas de uma campanha fascista, caluniosa. Isso fez com que uma parcela do eleitorado que estava nos apoiando desse um passo para trás. O segundo turno é a oportunidade de desfazer versões mentirosas, disse Campos.

Uma aparição importante ontem em Brasília foi a do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), amigo de Marina Silva e alçado à condição de um dos coordenadores de campanha. Sou uma das pessoas que tem, talvez, mais intimidade, carinho e respeito por Marina, explicou. Segundo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, Marina já topou negociar com o partido. Mais tarde, porém, a assessoria da senadora afirmou que ela declarou apenas que gostaria de iniciar as conversas sobre as condições de apoio, assim como fizera com Serra. Enquanto a articulação segue, Dilma Rousseff incorpora bandeiras verdes. Na entrevista de ontem, ela afirmou que é uma mulher a favor da vida, como Marina enfatizava.

PPS contra o uso do palácio

As reuniões no Alvorada se tornaram motivo para uma representação do PPS no Ministério Público Eleitoral. O partido que apoia a coligação de José Serra entende que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser investigado por uso eleitoral da máquina pública. Para o PPS, os dois encontros que Lula promoveu, domingo à noite e na manhã de ontem, para avaliar o primeiro turno, configuram uso eleitoral de prédios públicos, o que é proibido pela Lei Eleitoral. A assessoria de imprensa do Planalto afirmou que o governo não iria responder ao questionamento do PPS ontem.

Faltam 25 dias para o 2º turno

Análise da notícia

A fatura encareceu

Dilma Rousseff teve a eleição na mão no início de setembro. Ali, entretanto, começou a se perder. Lula, considerando o primeiro turno da sucessão presidencial favas contadas, abandonou o jogo político da boa vizinhança e apostou as fichas na eleição dos governadores e senadores amigos como o derrotado Zeca do PT (MS) sem levar em conta que poderia precisar dos adversários desses petistas. Agora, a conta sairá muito mais cara, porque, entre os peemedebistas, já existe quem avalie que o partido tem muito mais a ganhar com José Serra na Presidência do que com Dilma Rousseff. Afinal, o PMDB é hoje maior que o PSDB e o DEM juntos e está quase do mesmo tamanho do PT.

Não é à toa que hoje Michel Temer irá reunir o PMDB derrotado e vitorioso nas urnas para um apelo em favor de Dilma. A avaliação é de que esse momento é crucial para lembrar aos peemedebistas que Michel na vice-presidência é a vitória de todo o partido. E que, num governo da petista, eles vão dividir o trono e não ganharão apenas espaço na periferia. A ordem é cortar o mal pela raiz, conta um cacique do PMDB, antes que os tucanos tentem cooptar mais alguns para o lado de Serra. Pelo visto, além do PV, a cúpula da campanha de Dilma terá que ficar com os olhos bem abertos com os aliados. (DR).

Personagem da notícia

Ciro Gomes saiu da toca. Impedido de participar da corrida presidencial pelo PSB, em abril deste ano, após a intervenção do presidente Lula, o deputado federal passou o primeiro turno no Ceará, ajudando a reeleger o irmão, Cid Gomes, ao governo estadual. O apoio discreto a Dilma Rousseff não vai se repetir nesta segunda etapa do pleito. Convidado para integrar oficialmente a coordenação de campanha da petista, ele vai ajudar a planejar os próximos passos da presidenciável e as estratégias nos estados. O trabalho começou intenso. Depois do encontro com a candidata ontem à tarde, no Lago Sul, Ciro permaneceu na casa para participar de reuniões mesmo depois que Dilma deixou o local.

O estilo agressivo de Ciro Gomes também não demorou a aparecer. Ao deixar o Palácio da Alvorada, onde se reuniu com Lula durante a manhã, ele foi perguntado sobre o trecho do jingle do tucano José Serra que diz que o Serra é do bem. A resposta veio afiada. Todos sabemos que os marqueteiros usam artifícios para atenuar as características ruins dos candidatos. Eu, mais do que ninguém, sei que o José Serra é do mal, disparou.

Conhecedor das entranhas e, portanto, das fraquezas do PSDB legenda que o abrigou durante a primeira metade da década de 1990 , Ciro Gomes não deve poupar o candidato ao Palácio do Planalto e será uma grande arma do PT, que pretende poupar Dilma e Lula de questões polêmicas. Sem o amigo Tasso Jereissati (PSDB-CE), que ficou de fora do Senado, para frear suas reações explosivas e com um José Serra, um dos seus principais desafetos, como alvo principal, Ciro deve movimentar o segundo turno presidencial. (IS)

Encontro para definir rumo do 2º turno

DEU EM O GLOBO

Serra e aliados se reúnem hoje; Região Sul vai receber atenção especial

Adriana Vasconcelos e Silvia Amorim

BRASÍLIA. A exemplo do que fez sua adversária petista Dilma Rousseff na segunda-feira, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se reúne hoje às 15h no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, com seus principais aliados para discutir a estratégia para a campanha no segundo turno. Apesar do luto pela morte do pai, o recém-eleito senador por Minas Gerais, Aécio Neves confirmou presença, após conversa ontem com o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra.

A estratégia é priorizar o Sul, na tentativa de ampliar a vantagem do tucano na região, e trabalhar para reverter a dianteira de Dilma no Sudeste, onde Serra só ganhou em São Paulo.

Além de Aécio, apontado por Serra como peça-chave na nova etapa, estão sendo aguardados os seis governadores da oposição eleitos no primeiro turno quatro do PSDB e dois do DEM além dos outros quatro tucanos que enfrentarão o segundo turno estadual. Serra não abre mão da presença até de líderes derrotados, como os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Escondido no 1ºturno, FH não quer atuar no 2º O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi escondido por Serra no primeiro turno da campanha, também foi convidado a participar e a contribuir. Mas alegou que já tinha compromisso.

Ontem, Serra se reuniu com aliados em seu comitê na capital paulista. Participaram da conversa o ex-senador do DEM Jorge Bornhausen (SC), o ex-governador de Santa Catarina e senador eleito Luiz Henrique da Silveira, o presidente do DEM, Rodrigo Maia, o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), o candidato a vice, deputado Indio da Costa (DEM-RJ), entre outros.

Confiante de que está diante de uma nova eleição, Serra admitiu que está disposto a corrigir os erros do primeiro turno, quando pouco se reuniu com aliados e fez uma campanha considerada excessivamente paulista e individualista. Hoje, antes de mais nada, deverá ouvir.

Ele espera sugestões para estabelecer metas e apresentar propostas que ajudem na mobilização da bases nos estados.

Vou ouvir, além de dizer, claro, o que estou pensando.

Mas é tudo gente experiente. Eu não vou ensinar. Vamos compartilhar análises e propósitos.

Com Aécio mais livre para se dedicar à campanha nacional, Serra acredita que possa recuperar a vantagem que chegou a ter em relação a Dilma em Minas, no início da campanha.

A nossa meta agora é somar e reunir todo mundo para chegarmos a vitória no segundo turno afirmou Sergio Guerra.

A vice-presidente do partido, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), uma das organizadoras do evento de hoje, disse que são esperados de 100 a 150 líderes de PSDB, DEM e PPS, entre governadores, senadores e deputados. O encontro deverá ser feito a portas fechadas, para discutir mais à vontade erros e acertos da campanha nacional.

É um momento de encontro para coordenar as ações em todo o Brasil. O que eu vejo é muito otimismo por toda a parte disse Serra.

A expectativa é que sejam estabelecidos novos coordenadores regionais da campanha de Serra. Por enquanto, está descartada a possibilidade de substituição do marqueteiro Luiz Gonzalez, um dos principais alvos de críticas da campanha.

Não sou ambientalista de "última hora", afirma Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Declaração teve objetivo de atacar Dilma, a quem o tucano acusa de ter mudado sua posição sobre a descriminalização do aborto

Evandro Spinelli

DE SÃO PAULO - Em busca do apoio de Marina Silva (PV), e dos votos de seus eleitores, José Serra, candidato do PSDB à Presidência, disse ontem que não vai virar ambientalista "de última hora".

A frase teve como alvo sua adversária, Dilma Rousseff (PT), a quem acusa de ter mudado de opinião sobre outro tema, o aborto, para evitar a perda de votos entre eleitores religiosos.

"O meu currículo em matéria ambiental tem qualificação muito alta. Eu não vou agora virar ambientalista de última hora, como eu não virei cristão de última hora, como não virei nada de última hora", disse Serra, durante visita à obra de extensão da avenida Jacu Pessego (zona leste de SP).

"As minhas posições são muito conhecidas e eu as explicito de maneira muito clara, não fico mudando toda hora segundo a conveniência eleitoral [...] Eu sou ambientalista convicto não apenas na teoria, mas na prática", afirmou Serra.

Preocupado com uma possível rejeição do eleitorado mais conservador, o PT cogita retirar a defesa programática da descriminalização do aborto do programa do partido, aprovado em congresso.

O tucano disse ter telefonado anteontem para Marina Silva para parabenizá-la pelo desempenho eleitoral, que permitiu a realização do segundo turno.

BELO MONTE

Marina, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, deixou o governo em meio à crise que envolvia o licenciamento ambiental da usina de Belo Monte.

"A posição que eu lembro de ter ouvido da Marina em debates é parecida com a minha: fazer Belo Monte, mas corrigir os absurdos ambientais, as falhas econômicas e as falhas do próprio projeto."

A declaração também embute uma crítica a Dilma, que coordenou a elaboração do projeto de Belo Monte quando era ministra da Casa Civil do governo Lula.

A avenida inaugurada ontem por Serra ligará as rodovias Ayrton Senna e Presidente Dutra com o trecho sul do Rodoanel, em Mauá, inaugurado em março.

DISCURSO AMBIENTAL

Tanto a Jacu Pessego quanto o Rodoanel foram construídos com compensações ambientais milionárias.

Ele afirmou ter muitas afinidades com o PV, partido que fez parte de seu governo na Prefeitura de São Paulo e no governo do Estado -a legenda também compõe o governo federal.

Para demonstrar a afinidade, lembrou a aprovação da Lei Estadual de Mudanças Climáticas, criada em sua gestão como governador e, segundo ele, elaborada com o apoio de Fabio Feldman, candidato derrotado do PV ao governo de São Paulo.

Também afirmou que as compensações ambientais do trecho sul do Rodoanel, onde foram gastos cerca de R$ 500 milhões, foram estabelecidas em seu mandato como prefeito.

MAIORIA

Serra disse que, caso eleito, conseguirá obter maioria no Congresso mesmo sem ter eleito a maior bancada.

Questionado sobre a maior parte dos parlamentares eleitos ser da base aliada a Lula, Serra disse que "isso no Brasil nunca é assim". "Sempre tem gente nos partidos que têm mais identidade com projetos como os nossos."

Aécio quer repetir por tucano tática que levou à vitória de Anastasia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mineiro deve viajar por Estado em busca de engajamento para campanha presidencial

Rodrigo Vizeu

DE BELO HORIZONTE - O senador eleito Aécio Neves (PSDB) quer repetir com o presidenciável José Serra a estratégia que reelegeu Antonio Anastasia em Minas Gerais: contatos de liderança em liderança pelo Estado em busca de engajamento na campanha presidencial.

Aécio mandou seus aliados levantarem a lista de prefeitos e deputados estaduais e federais aliados para cobrar apoio a Serra. As ligações começaram ontem.

Ele deve viajar por Minas para angariar adesões mesmo quando Serra não estiver presente. A tática é parecida com a utilizada na campanha estadual, quando Aécio, Anastasia e outros líderes da coligação dividiam agendas para cobrir mais municípios.

A ideia é ampliar os contatos com as lideranças locais para além de PSDB, DEM e PPS e cortejar também os que fecharam com Aécio em Minas, mas que apoiam Dilma Rousseff (PT) nacionalmente, como PP, PDT e PSB.

O foco será conquistar dissidentes nessas legendas e não negociar com as direções partidárias.

Aécio também vai tentar conquistar o PV mineiro, que lançou candidato a governador, mas que é historicamente ligado aos tucanos.

A campanha de Serra também será consultada sobre estruturar os comitês pró-tucano em Minas. Sugeridos por Aécio no início da campanha, seriam cerca de 40 unidades no Estado, com cabos eleitorais e material para distribuição.

Por falta de empenho e recursos da campanha de Serra, eles acabaram resumidos a ações individuais com o objetivo de "multiplicar e fiscalizar" o apoio ao tucano.

O deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG), coordenador da campanha de Serra no Estado, disse ter "convicção de que Aécio terá um peso muito maior a favor de Serra após liquidar a eleição de Anastasia".

A expectativa é que a entrada forte de Aécio na campanha ajude a convencer a parcela do eleitorado mineiro que rejeita Serra por ter derrotado Aécio na disputa interna do PSDB.

O PSDB-MG lembra, porém, que para o esforço vingar é "sempre bom" que Serra injete recursos no Estado.

Itamar diz que Serra tem de "mostrar a que veio"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Para ex-presidente, falta à campanha tucana expor diferenças e mostrar antigos aliados

Rodrigo Vizeu

DE BELO HORIZONTE - O ex-presidente e senador eleito Itamar Franco (PPS-MG) cobrou ontem que o presidenciável José Serra (PSDB) "parta para o confronto" contra Dilma Rousseff (PT) no segundo turno.

Ele reclamou da influência de marqueteiros na campanha e de levar à TV "só o blá-blá-blá, só biografia".

"Se nós tivermos medo [do confronto], não adianta dizer "eu fui isso, eu fui aquilo". É por isso que eles estão ganhando", afirmou.

O ex-presidente disse que o tucano precisa "sair do casulo e mostrar a que veio", e exibir melhor diferenças em relação a Dilma, com menos dependência da "sensibilidade do marqueteiro".

Deixar claro que defende o Senado independente, enquanto Dilma e Lula defenderam a eleição de aliados para a Casa é uma das ideias.

Itamar cobrou que a propaganda lembre que a atual situação econômica "é fruto do Plano Real" e criticou a estratégia de esconder aliados do passado.

Defendeu que o senador eleito Aécio Neves (PSDB), a quem chamou de "maior liderança política do Brasil", seja o coordenador nacional da campanha.

Itamar passou a entrevista dizendo que queria ser "cuidadoso" e "respeitoso" com Serra e pediu que o tucano não "fique com raiva" dele.

Ele repetiu um conselho que disse já ter dado para Serra: "Se não quer falar mal [do governo], não elogia, fica quietinho". À época, disse, Serra não gostou do que ouviu. "Me chamaram atenção e eu calei a boca."

PSDB errou ao não usar FHC na eleição, afirma governador

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE MACEIÓ - O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), que foi para o segundo turno da eleição, disse que considera um erro o fato de o partido não ter usado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha de José Serra (PSDB) à Presidência.

"Fernando Henrique era bom de urna. Ganhou duas eleições no primeiro turno", disse o governador, que presidiu o PSDB durante a maior parte dos mandatos de FHC.

Vilela disse que irá convidá-lo para ir a Alagoas, assim como o próprio Serra.

Ele disputará o segundo turno com o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT). Ambos disseram que vão buscar o apoio de Fernando Collor (PTB), que ficou em terceiro lugar.

Tucano adota 'Serrinha', inspirado em 'Kassabinho'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Boneco inflável faz parte da estratégia tucana para humanizar presidenciável e apresentá-lo como um candidato "do bem"

Com o início do horário eleitoral gratuito em rádio e televisão, na sexta-feira pela manhã, a campanha do PSDB pretende humanizar o candidato José Serra e insistir na tese de apresentá-lo como um candidato "do bem", como no primeiro turno.Serão reeditadas ideias bem sucedidas das disputas anteriores e que já resultaram na vitória do próprio Serra e de aliados. Uma das medidas será a criação de um boneco inflável chamado "Serrinha", que participará de caminhadas e eventos com o candidato - as imagens serão captadas e depois usadas no programa.

A proposta atende à tentativa de tornar o candidato mais próximo do eleitorado e foi usada na disputa municipal de 2008, na reeleição de Gilberto Kassab (DEM), pela mesma equipe de marketing que está trabalhando na campanha presidencial. Na eleição anterior, o "Kassabinho" foi tido como um dos gols marcados pelos marqueteiros.

A estreia de "Serrinha", em animação, já ocorreu nos programas da TV no primeiro turno da campanha. Antes mesmo do programa eleitoral começar, foram feitas algumas versões do boneco. Na primeira, "Serrinha" ficou com cara de Tancredo Neves e, na segunda, parecia o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.

Ontem, o comando da campanha tucana se reuniu no comitê do PSDB, no centro de São Paulo, para discutir alguns pontos da segunda fase da disputa. A distribuição de material foi um dos assuntos discutidos.

A produção de adesivos, folders, banners e do próprio "Serrinha" deve começar apenas na semana que vem. Os pilotos que circulavam ontem reeditavam o mote "Serra é do bem", que vem sendo usado na campanha tucana desde o primeiro turno. A expressão, na verdade, nasceu em 2004 quando o tucano disputou e venceu a prefeitura paulistana.

A quantidade de material para a segunda etapa da campanha não está definida. "Depende de quanto dinheiro tivermos", afirmou Sergio Kobayashi, responsável pela área. No primeiro turno houve críticas sobre a ausência de material para divulgar a candidatura de Serra. Os responsáveis pela arrecadação disseram ontem ao Estado que estão otimistas com a nova fase da campanha e a perspectiva de aumentar a captação de recursos. / A.P.S. e J.D.

No 1º turno, aliados de Serra tiveram mais apoio do PV do que governistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os verdes fizeram aliança formal com PSDB, DEM ou PPS em 7 Estados e apoiaram coligados com Dilma em outros 5

Marcelo de Moraes

Na disputa pelo apoio dos eleitores da candidata do PV, Marina Silva, o tucano José Serra conta com a vantagem de sua coligação ter fechado mais acordos políticos regionais com os verdes no primeiro turno do que os de sua adversária, a petista Dilma Rousseff.

No primeiro turno da campanha, os verdes tiveram aliança formal com PSDB, DEM ou PPS em sete Estados: Amazonas, Amapá, Rio de Janeiro, Paraíba, Rondônia, Sergipe e Tocantins.

Do outro lado, o PV apoiou diretamente aliados de Dilma em cinco Estados: Acre, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Pará.

Nas outras 15 unidades federativas, o partido lançou candidatura própria independente ou ficou neutro, sem apoiar nenhum dos parceiros diretos dos dois candidatos.

Além de ter fechado mais coligações formais com os verdes, Serra leva outra vantagem na briga pelos votos dados a Marina. Nos três maiores colégios eleitorais do Brasil, o PV já tem uma sintonia política bastante grande com o PSDB, o que poderá influenciar a decisão do partido.

Em São Paulo, o PV lançou Fábio Feldman ao governo local, mas a parceria com o PSDB e DEM já funciona na prefeitura da capital, onde Eduardo Jorge, do PV, ocupa a secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Em Minas Gerais, Marina também teve palanque próprio com o lançamento do candidato de José Fernando Aparecido. Mas sua candidatura foi confirmada apenas para reforçar a campanha local do partido e ajudar os deputados. Depois do primeiro turno, já houve a reaproximação dos dirigentes locais do PV com o ex-governador tucano Aécio Neves e com o governador reeleito Antônio Anastasia.

No Rio de Janeiro, a situação pró-Serra é mais clara. O PV coligou-se oficialmente com o PSDB no Estado e ocupou a cabeça de chapa com Fernando Gabeira.

Mesmo terminando em segundo lugar e sendo derrotada já no primeiro turno pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), a candidatura de Gabeira foi a mais forte campanha majoritária bancada pelo PV e recebeu apoio direto de Serra e dos tucanos, que ocuparam a vaga de vice-governador na chapa com o ex-deputado Márcio Fortes. Independentemente da decisão que o comando nacional do PV venha a tomar sobre o apoio oficial a algum candidato, Gabeira já anunciou que estará com Serra no 2º turno.

Pró-Dilma. Para Dilma, existem também alguns trunfos regionais importantes. No Acre, Estado de Marina, o PV é aliado direto do PT e ajudou a eleger o senador Tião Viana (PT) como novo governador e seu irmão, o ex-governador Jorge Viana (PT), para o Senado. Os dois vão pedir votos para Dilma no segundo turno e tentarão convencer Marina a ficar ao lado da petista ou pelo menos se manter neutra.

Em outro diretório importante, o do Maranhão, o PV faz parte do clã Sarney. O deputado Sarney Filho (PV) é o principal líder local do partido e também já está afinado com a candidatura de Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial.

Para Serra, rival finge estar otimista

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Serra (PSDB) insinuou que Dilma Rousseff (PT) demonstra abatimento por não ter vencido no 1º turno: "Tenho experiência e sei quando um político está pessimista e está fingindo ser otimista".

Presidenciável insinua que adversária petista finge otimismo

Tucano considera que Dilma está pessimista após ver frustrada a vitória no 1º turno, como indicavam pesquisas

Anne Warth

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, insinuou ontem que Dilma Rousseff (PT) demonstra abatimento por não ter vencido a eleição no primeiro turno, como apontavam as pesquisas. "Tenho experiência política e sei quando um político está pessimista e está fingindo ser otimista. A gente percebe na hora, nos olhos", afirmou Serra, em clara referência a Dilma.

Questionado se estava se referindo à candidata, ele sorriu e disse que não falaria sobre a campanha petista, mas apenas da sua própria.

Em uma clara demonstração de afago aos aliados, Serra participou à noite de reunião no comitê tucano na capital paulista com articuladores políticos e candidatos eleitos em Santa Catarina - o governador Raimundo Colombo (DEM), o vice, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), e os senadores Luiz Henrique Silveira (PMDB) e Paulo Bauer (PSDB) -, além do deputado Paulo Bornhausen (DEM) e do ex-senador Jorge Bornhausen (DEM).

"Nós nos encontramos agora com os vitoriosos de Santa Catarina, todos eleitos agora com uma grande vantagem e uma grande votação, aliás, em um Estado em que eu também cheguei na frente", afirmou.

Embora a maioria dos deputados e senadores eleitos no dia 3 faça parte da base do governo, Serra insistiu que será capaz de formar maioria no Congresso. "Nós pensamos em governar o Brasil com um governo forte, de maioria. Temos todas as condições para fazer dessa maneira, e eu tenho experiência nessa área", afirmou. "Sempre contei com maioria política para levar adiante os projetos fundamentais do Brasil, do meu Estado e da minha cidade", disse. "É muito importante termos a certeza e a determinação de formarmos um governo de maioria no Brasil, um governo que some com base em propostas, projeto, e que some no Brasil inteiro e em todas as regiões."

Serra disse que fará um "governo de soma, não de divisão entre os brasileiros e brasileiras".

Rumos. O tucano afirmou que se encontrará hoje em Brasília com governadores, senadores e deputados eleitos no domingo. De acordo com ele, o objetivo será discutir os rumos da campanha no segundo turno. "De alguma maneira vou ouvir, além de dizer, claro, o que estou pensando. Mas é tudo cobra criada, gente experiente, com muita trajetória política e eleitoral. Não vou ensinar ninguém. Vamos é compartilhar análises e propósitos."

Colombo e Silveira disseram que vão se dedicar inteiramente à campanha de Serra. "Viemos trazer nosso apoio, renovar nossa admiração e nosso desejo de ajudar. Todo nosso time vai trabalhar o dobro porque temos certeza de que estaremos ajudando o Brasil a ser cada vez melhor. Serra é, com clareza, o melhor para o Brasil e estamos prontos para lutar firme e construir essa grande vitória", disse Colombo.

"O Serra falou em otimismo e temos todas as razões para estarmos otimistas", afirmou Silveira. De acordo com ele, a oposição ao governo Lula elegeu 25 dos 40 deputados estaduais, 10 dos 16 deputados federais e os 2 senadores. "Vamos disponibilizar toda a nossa força política para elevar, e muito, a diferença com que José Serra venceu em Santa Catarina."

Aliados criticam agressividade de Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governadores e parlamentares eleitos pediram que presidente evite ironias, faça promessas e cesse os ataques à imprensa

Governadores eleitos e parlamentares aliados do Planalto e da candidata Dilma Rousseff querem, no embate do segundo turno, uma participação menos agressiva do presidente Lula. Em duas reuniões realizadas ontem e domingo, no Palácio da Alvorada, os aliados pediram que o presidente, considerado o maior cabo eleitoral de Dilma, evite ironias, faça mais promessas e, acima de tudo, elimine os ataques à imprensa. Sem citar o presidente, o governador Eduardo Campos (PSB), reeleito em Pernambuco com recorde de votos, reprovou o embate com a mídia: "Nós vivemos além das pancadas que recebemos", ensinou. Segundo relatos colhidos pelo Estado, o governador da Bahia, Jaques Wagner, disse, na presença de Dilma, que as críticas enfurecidas à imprensa "são entendidas como tentativas de coerção". E acrescentou que isso desfoca o próprio PT.

Aliados do governo querem Lula menos agressivo no segundo turno

Avaliação é de que ataques do presidente à imprensa estão entre as causas do declínio de Dilma na reta final da primeira fase

Tânia Monteiro, Christiane Samarco, Leonencio Nossa

BRASÍLIA - Os governadores eleitos e parlamentares aliados do Planalto e da candidata Dilma Rousseff querem, no segundo turno, uma participação menos agressiva do maior cabo eleitoral da petista, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas avaliações feitas ontem e anteontem, em Brasília, os aliados pediram menos ironias, mais promessas e, acima de tudo, reprovaram os ataques de Lula à imprensa.

Os aliados também listaram entre as razões para Dilma não ter vencido no primeiro turno o escândalo do tráfico de influência na Casa Civil da ex-ministra Erenice Guerra, o debate sobre o aborto e, como disse o governador reeleito de Pernambucano, Eduardo Campos (PSB), "o voto chique da juventude de classe média" em Marina Silva (PV).

Campos, recordista com 82% de votos nas disputas estaduais, puxou as críticas ao embate com a mídia. "Nós vivemos além das pancadas que recebemos", ensinou na reunião de anteontem com Dilma. O alerta foi reforçado pelo governador da Bahia, Jaques Wagner, petista reeleito no primeiro turno com 63% dos votos. Também sem citar Lula, Wagner chamou a briga com a imprensa de "batalha perdida". "Passou arrogância, colocou medo em alguns setores que viram nessa postura um exagero. A liberdade de imprensa é um valor da sociedade e muita gente se abrigou no campo de Marina por causa disso", comentou um dos presentes.

Segundo relatos colhidos pelo Estado sobre os bastidores das reuniões, o governador da Bahia disse diante de Dilma e aliados que as críticas enfurecidas à imprensa "são facilmente entendidas como tentativas de coerção". E acrescentou que essa atitude desfoca o próprio PT. "Nós nascemos da contestação ao autoritarismo e acabam nos colocando a pecha de autoritários."

"Muito duro". As avaliações críticas foram feitas depois que Dilma pediu aos aliados para dizerem o que tinham visto de positivo e negativo na campanha e o que precisava mudar para o segundo turno.

Ontem, também em reunião que juntou no Alvorada meia dúzia de governadores e uma dezena de parlamentares e ministros, Lula admitiu que se excedeu nas críticas, mas disse que precisou dar "um freio de arrumação" na campanha. "Eu fui muito duro em alguns Estados por onde passei, mas precisava ajudar a eleger alguns senadores", justificou. Rindo, disse aos governadores que no segundo turno "o Lulinha paz e amor estará de volta". Acrescentou que "acusações não ficarão sem resposta".

Em tom de provocação, Lula aproveitou para comemorar a derrota de antigos opositores, caso do tucano Tasso Jereissati, que perdeu a eleição para o Senado. "Esse cara acabou com o Tasso no Ceará", disse, apontando para o senador eleito Eunício Oliveira (PMDB).

Incomodado com o noticiário sobre tráfico de influência envolvendo a Casa Civil da então ministra Erenice Guerra e seus filhos, Israel e Saulo Guerra, o presidente passou a criticar a imprensa durante a campanha.

"A liberdade de imprensa não significa que você pode inventar coisas o dia inteiro. Liberdade de imprensa significa que você tem liberdade para informar corretamente a opinião pública para fazer crítica política e não o que a gente assiste de vez em quando", afirmou Lula, levantando a suspeita de que as notícias eram inventadas.

Esse discurso, por exemplo, foi feito durante cerimônia de inauguração do trecho Colinas do Tocantins-Palmas da Ferrovia Norte-Sul no dia 21 de setembro. "Não tem mais aquele negócio: deu na televisão é verdade, acabou", acrescentou.

PMDB reclama. Anteontem à noite, em jantar na residência oficial do presidente da Câmara e vice de Dilma, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), um grupo de peemedebistas também reclamou do comando da campanha. Disseram que a candidata ficou "muito distante" dos aliados e o partido não teve como interferir na campanha.

A cúpula peemedebista lembrou que alertou Dilma sobre o risco da polêmica sobre o aborto. "Fizemos alertas, mas disseram que se tratava de uma questão segmentada e sem influência sobre os votos da Dilma, que venceria no primeiro turno", relatou um dos presentes ao jantar.

Servidor violou sigilo de tucano intencionalmente, diz Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Investigação feita pela Receita Federal desmente Gilberto Souza Amarante, lotado em Formiga (MG), e afirma que o servidor, filiado ao PT, fez consulta direcionada no banco de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. A violação dos dados aconteceu em 3 de abril de 2009 e foi revelada pelo Estado no último dia 4 de setembro.

Acesso a IR de tucano foi intencional

Apuração da Receita desmonta tese de servidor lotado em Minas de que entrou nos dados de Eduardo Jorge quando buscava homônimo

Leandro Colon

BRASÍLIA - Investigação da Receita Federal desmente o servidor petista Gilberto Souza Amarante, lotado em Formiga (MG), e afirma que ele acessou intencionalmente, sem motivação funcional, o banco de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, em 3 de abril de 2009. A violação dos dados por Amarante foi revelada pelo Estado no dia 4 de setembro passado.

"Os indícios encontrados não remetem a um acesso equivocado, mas sim a uma consulta direcionada", diz relatório assinado pela corregedoria na quinta-feira. Em cima disso, foi pedida a abertura de um processo disciplinar contra Amarante. A apuração da Receita, obtida pelo Estado, contradiz a versão dele de que abriu os dados de Eduardo Jorge por "confusão".

Filiado ao PT desde 2001, Amarante alegou que buscava um "homônimo" do dirigente tucano. Mas a corregedoria descarta essa possibilidade. "Caso isso ocorresse, teria sido registrado como acesso todos os contribuintes que possuem tal denominação (Eduardo Jorge)", diz o relatório da Receita.

Segundo a investigação, o servidor violou os dados do tucano e, em 41 segundos, abriu informações, inclusive, sobre as empresas de Eduardo Jorge, acessando cerca de dez páginas cadastrais. "Disso se conclui inicialmente que Gilberto Souza Amarante realizou pesquisa direcionada ao CPF ou ao nome de Eduardo Jorge Caldas Pereira", afirma o relatório da Receita.

De acordo com a investigação, ficou "caracterizada a plausibilidade das denúncias, bem como, por não se comprovar, nessa fase da investigação, motivação funcional para realização de tais acessos". A corregedoria diz que não há nenhum documento ou elemento na Receita em Formiga que justifique a abertura dos dados do tucano.

O resultado da apuração da Receita contraria ainda o discurso da presidenciável Dilma Rousseff (PT) em reunião com governadores e senadores eleitos na segunda-feira. Segundo gravação obtida pelo Blog do Noblat, Dilma citou a quebra do sigilo fiscal de tucanos como um dos fatores que impediram sua vitória no primeiro turno, domingo. Mas, segundo a candidata petista, "ficou caracterizado que havia uma situação em que se tratava de um esquema de corrupção específico da Receita".

Dilma tentou referir-se ao caso das violações de Mauá e Santo André, em que a Receita e a Polícia Federal buscam descaracterizar o caráter político das quebras fiscais. Agora, em Minas, a investigação já aponta para um direcionamento, por parte de um filiado ao PT, no acesso aos dados de Eduardo Jorge.

Amarante declarou à Receita que não se lembra dos motivos que o levaram a abrir os dados do vice-presidente tucano. Admite a filiação ao PT, mas nega qualquer motivação política para consultar as informações de Eduardo Jorge. A corregedoria diz que, além do vice-presidente do PSDB, apenas um outro Eduardo Jorge, também morador em Brasília, teve seus dados acessados. Mas, nesse caso, o servidor não ficou um segundo sequer com a tela aberta.

Logo em seguida, o petista acessou as informações do dirigente tucano por 41 segundos.

PPS pede investigação de uso do Alvorada para reuniões políticas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Partido questiona uso de residência oficial da Presidência para eventos de partido político, o que é vetado por lei

Tânia Monteiro

BRASÍLIA – O PPS vai pedir hoje ao Ministério Público Eleitoral que abra inquérito e investigue o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suspeita de uso eleitoral da máquina pública. O partido viu crime eleitoral nas duas reuniões que Lula promoveu, domingo à noite e na manhã de ontem, ambas do Palácio da Alvorada, para fazer um balanço do desempenho da candidatura da petista Dilma Rousseff e montar a estratégia para o segundo turno.

O Palácio da Alvorada é a residência oficial da Presidência da República. A assessoria de imprensa do Planalto disse ontem que o governo não iria responder ao questionamento do PPS.

A reunião na manhã de ontem, realizada durante horário de expediente, foi entre Lula, seis governadores eleitos e mais 14 políticos (ministros, senadores e deputados). "Isso mostra que o presidente Lula não vê limites para fazer campanha e revela que ele também quer um segundo turno sem limites. Se nem o presidente tem limites, aí fica difícil", disse ao Estado o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), autor da representação ao Ministério Público.

A candidata Dilma Rousseff participou da reunião de domingo à noite, quando o presidente juntou no Alvorada o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o coordenador da campanha, Antonio Palocci, e mais oito ministros. Ao fim da reunião, em que foi avaliado o desempenho da petista no primeiro turno e a estratégia para cooptar os eleitores de Marina Silva, Dilma dirigiu-se a um hotel próximo e fez uma saudação à militância do partido.

O PPS, que integra a coligação do candidato tucano José Serra, acusa Lula de ter violado a Lei Eleitoral. Para Jungmann, Lula infringiu o artigo 73, inciso I, que proíbe o uso de prédios e bens públicos para fins eleitorais. A lei diz que, nas campanhas eleitorais, os agentes públicos não podem "ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, Territórios e Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária".

"As reuniões do presidente Lula usaram recursos dos cofres públicos para fins eleitorais. Isso é crime eleitoral e o PPS vai pedir que o Ministério Público investigue a origem dos recursos", disse Jungmann. Para o deputado, que concorreu ao Senado mas não se elegeu, "a postura do presidente da República configura, de maneira explícita, uso e abuso da máquina pública".

Estilo 'paz e amor' de Dilma terá Ciro Gomes à frente

DEU EM O GLOBO

Petista investe em discurso de confronto de projetos e tem reunião a sós com Lula

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, começou a pôr em prática ontem mesmo os ajustes na campanha.

Mas, na contramão do espírito paz e amor anunciado na manhã de ontem, ela anunciou que o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) conhecido por seu estilo agressivo vai integrar a coordenação de sua campanha.

Além disso, iniciou um forte discurso de confronto de projetos contra o candidato tucano José Serra.

A indicação de Ciro é um gesto no sentido de que a campanha quer agregar e atrair aliados. Na conversa, que aconteceu à tarde, Dilma reconheceu que era preciso descer do salto alto e dar um traço de mais humildade na campanha.

Até então, o núcleo duro da campanha era formado exclusivamente por petistas: o pres i d e n t e d a l e g e n d a , J o s é Eduardo Dutra, e os deputados federais Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo.

Tem uma pessoa muito especial que hoje integra a coordenação da minha campanha, o nosso querido Ciro Gomes. Eu estou muito feliz com isso porque eu admiro e respeito e eu considero muito o deputado Ciro Gomes. Tenho certeza que ele tem uma contribuição grande para dar anunciou Dilma.

Ontem à noite, Dilma teve longa reunião com o presidente Lula no Alvorada. Ela chegou sozinha e permaneceu por mais de duas horas, pelo menos. Depois que ela chegou, outros não entraram no Alvorada.

Preocupação com faca no pescoço de aliados Magoado com o fato de o Palácio do Planalto ter pressionado o PSB a retirar sua candidatura presidencial em abril, Ciro não se envolveu com a campanha para o Planalto no primeiro turno nem gravou depoimento para Dilma. Ontem à tarde, participaram da reunião os governadores reeleitos Eduardo Campos (PSB-PE), Cid Gomes (PSB-CE) e Marcelo Déda (PT-SE), além do senador eleito Wellington Dias (PT-PI).

Outra preocupação na campanha é com a postura de faca no pescoço de aliados, principalmente do PMDB. Há mágoas e ressentimentos do primeiro turno que a campanha terá que administrar, como a do senador Hélio Costa (PMDB-MG). Nos bastidores, ele tem atribuído a sua derrota ao pouco empenho do PT e do próprio presidente Lula, que teriam feito vista grossa para o voto Dilmasia, o que fortaleceu a reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDBMG).

Dilma negou possibilidade de dissidências: Ninguém sai, só entra. A gente não diminui. Nós estamos na fase de somar. O processo hoje é de adição disse Dilma, que também ressaltou: Agora, a campanha conta com uma porção de lideranças que são eleitas, que antes estavam dedicadas às outras campanhas. Um grande reforço que vou receber. Esse é o efeito do segundo turno.

(Recebo) Pessoas que estavam engajadas nas suas próprias eleições.

Seguindo a estratégia montada pela campanha, Dilma iniciou ontem mesmo as comparações com Serra para estabelecer a disputa plebiscitária. Dilma fez duras críticas ao projeto tucano e resgatou a memória da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Vou ter oportunidade de mostrar a diferença entre o meu projeto e o projeto do meu adversário. Deixar cada vez mais claro que se trata do confronto entre dois projetos. Um que é necessariamente uma volta ao passado, porque o exemplo do que foi o governo do PSDB no Brasil tem que ser lembrado, que é a única carta de referência que o eleitor pode ter sobre o que significa concretamente o projeto do meu adversário.

E o meu projeto é de mudança e de transformação do Brasil que nós levamos nesses últimos oito anos, que é a era de prosperidade.

Dilma ainda voltou a fazer críticas às privatizações do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e afirmou que na gestão anterior a questão social não era uma prioridade.

Tem que comparar a questão das privatizações e do tratamento à Petrobras. A Petrobras, que era uma empresa que tiraram o que era mais brasileiro nela, que é o bras, e quiseram botar um brax. O projeto anterior excluía uma parte dos brasileiros.

Não de forma explícita. Mas, ao não cuidar desses brasileiros, na prática os excluiu. Quando a gente recebeu o Brasil com taxa de inflação elevada, com o Fundo Monetário dando as cartas, nós começamos o Bolsa Família.

Ninguém pode alegar que não fez programa social porque não tinha recurso. Quando a gente quer fazer programa social, encontra e acha os recursos.

Marina nega ter aceitado conversar com PT

DEU EM O GLOBO

Dutra tinha dito que, em telefonema à senadora, ela teria afirmado que aceitaria sentar para discutir apoio

Maria Lima, Cristiane Jungblut, Sérgio Roxo e Silvia Amorim

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse ontem, após reunião do conselho político da campanha de Dilma Rousseff, que já fez um primeiro contato com a candidata derrotada do PV, Marina Silva, para conversarem sobre um eventual apoio da verde no segundo turno. Na conversa, ele disse que aproveitou para parabenizá-la pela expressiva votação.

Dutra disse que Marina aceitou sentar para conversar, mas a data ainda não foi marcada: Ela aceitou sentar para conversar. Mas estamos respeitando o timing da Marina. Ela vai estabelecer procedimentos de consulta nas instâncias do partido. Lógico que, se a decisão for pela neutralidade, vamos respeitar também.

À noite, porém, Marina divulgou nota negando que já tenha aceitado conversar com o PT sobre eventual apoio a Dilma. Ela disse que agradeceu a ligação de Dutra, mas não aceitou conversar sobre apoio. Disse ter repetido o que já afirmara anteontem a Dilma e José Serra: que por considerar que sua candidatura é maior do que o próprio PV, nos próximos dias, estará envolvida em processo decisório baseado na escuta às parcelas da sociedade civil que se integraram ao seu projeto e às instâncias do próprio partido.

Tião Viana também telefona para Marina
A nota lembra ainda que uma convenção nacional do PV será convocada para decidir o que o partido fará no segundo turno.

Você sabe que sou uma mulher de processo, teria dito Marina a Dutra, diz a nota, para impedir que surgisse qualquer dúvida sobre o método escolhido para a tomada de decisão.

Enquanto os verdes não decidem o assunto, tucanos e petistas continuam em busca de uma aproximação com a candidata.

Ontem, Marina também recebeu um telefonema do governador eleito do Acre, Tião Viana (PT), seu aliado histórico. O petista não teria tratado de apoio, apenas a cumprimentou pelo desempenho nas urnas. Viana é tido como o provável principal interlocutor junto a Marina. Dutra também procurou Bazileu Margarido, presidente do Ibama na gestão de Marina no Ministério do Meio Ambiente. Ele queria a indicação de uma pessoa que pudesse falar pelos verdes.

Em discurso na tribuna, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez um apelo pelo apoio de Marina.

Ele lembrou que a verde participou da fundação do PT, em 1980. Lembrou ainda da solidariedade do presidente Lula na época da morte de Chico Mendes, líder seringueiro acreano.

Do lado tucano, a verde recebeu ligação do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Eles também não teriam falado sobre apoios. Alckmin ainda procurou o candidato do PV derrotado ao governo em SP, Fábio Feldmann, ex-tucano.

Caso queiram contar com o apoio de Marina, Dilma e Serra terão de trabalhar pela rejeição do projeto de reforma do Código Florestal, que tramita no Congresso, e assumir compromisso com a liberdade de imprensa. Os dois pontos devem constar do programa mínimo que será apresentado pelos verdes aos dois candidatos. A adesão a esse programa será pré-condição para abrir negociação. Caso nenhum dos lados aceite, o caminho dos verdes será a neutralidade.

Durante a campanha, Marina criticou duramente a aprovação do relatório de reforma do código, chamado por ela de estelionato ambiental. O texto é do deputado federal Aldo Rebello, do PCdoB, partido da coligação de Dilma. Mas Serra conta com apoio da bancada ruralista, favorável à reforma do código.

Temos que ver o apetite dos candidatos em assumir o compromisso de implantação da lei de resíduos sólidos e de trabalhar pela não aprovação da reforma do Código. Só depois é que tomaremos uma decisão diz Ricardo Young, candidato derrotado ao Senado por SP.

Apesar de conter questões ambientais, o programa não ficará restrito ao tema.

Não será um programa ambientalista afirma o presidente do PV do Rio, o deputado eleito Alfredo Sirkis.

Ontem, os aliados de Marina e a direção do PV chegaram a um acordo sobre como será a definição do apoio no segundo turno.

O processo começará amanhã e deve terminar com uma espécie de convenção, em São Paulo, daqui a duas semanas, quando haverá votação para escolher o rumo a ser seguido pelo partido. Devem participar da votação cerca de 150 filiados ao PV, os intelectuais que contribuíram com o programa de governo e representantes do Movimento Marina.

Em Brasília, o conselho político com representantes dos partidos da aliança de Dilma mapeou os pontos fracos da campanha nos estados e meios de comunicação. Ao lado de Dutra, os representantes dos partidos saíram com tarefas de ampliar a mobilização em todas as regiões.

Mas o tema boatos de caráter religioso continua sendo a grande preocupação. Ligado à ala carismática da Igreja Católica, o senador Gim Argelo (PTB-DF) foi encarregado de agendar eventos e entrevistas nos canais religiosos para desfazer os boatos.

Esse boato pegou e estamos tentando mostrar que não é verdade. Essas correntes de internet são piores do que fofoca antiga. Estamos em contato com as redes de comunicação da Igreja para que a Dilma vá e diga que é temente a Deus e nunca defendeu aborto ou casamento gay disse Gim Argelo.

Dutra nega que Dilma esteja provando do mesmo veneno de 2006, quando a campanha de Lula espalhou que Alckmin iria privatizar a Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Aquilo não era boato, era fato. Quem privatiza um privatiza mais. Eles tinham planos.

Michel Temer terá participação mais efetiva nessa etapa. O PMDB procurando contornar problemas nos estados, para evitar debandadas. A cúpula já conversa, por exemplo, com o baiano Geddel Vieira Lima, que está descontente com Dilma

Vox Populi e Sensus: os que mais erraram

DEU EM O GLOBO

Institutos superestimaram desempenho de Dilma e chegaram a afastar a possibilidade de um segundo turno

Fabio Brisolla

Na véspera da eleição presidencial, uma divergência entre os principais institutos de pesquisa de opinião chamou atenção para o resultado do primeiro turno. Vox Populi e Sensus, os que mais erraram, indicaram vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno. Já Datafolha e Ibope sinalizaram a possibilidade de uma decisão no segundo turno. Mas o resultado do TSE demonstrou erros nas estimativas dos quatro institutos.

Dilma teve 46,91% dos votos válidos; Serra, 32,61%; e Marina, 19,35%. Ibope e Datafolha indicaram a probabilidade de segundo turno por causa da margem de erro.

No sábado, véspera da votação, o tracking divulgado pelo Vox Populi mostrava que Dilma mantinha naquele momento 53% dos votos válidos.

Quatro dias antes, a pesquisa CNT/Sensus mostrava Dilma com 54,7% das intenções de voto.

Paulino: eleitor é influenciado até a hora da votação No caso do Datafolha, a pesquisa do sábado indicou 50% dos votos para a candidata do PT, que marcou 46,91%, abaixo da margem de erro estabelecida pelo instituto.

Nossa pesquisa foi realizada no fim da tarde de sextafeira (1 ode outubro) e na manhã de sábado, (dia 2).

Existem muitas coisas que influenciam o eleitor até o dia seguinte, como o noticiário de sábado à noite, que trouxe extensa cobertura sobre eleição ressalta Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Procurado várias vezes ontem pelo GLOBO, o diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, não foi localizado por sua assessoria.

Como seu instituto, ele também errou muito nas análises, pois dizia a jornalistas, nas últimas semanas, que Dilma venceria no primeiro turno.

Já o diretor do Instituto Sensus, o cientista político Ricardo Guedes, alegou que sua pesquisa apresentou distorções por ter sido realizada entre 26 e 28 de setembro, a cinco dias da votação: Um pesquisa feita de domingo a terça não pode ser comparada com o resultado da eleição. O levantamento foi feito antes do debate da TV Globo, que exerceu influência sobre a decisão do eleitorado disse.

Ele admite, porém, que os números projetados pelos institutos de pesquisa seguiam em direções diferentes: Que houve discrepância entre pesquisas e resultados, realmente houve admitiu.

Para o diretor do Sensus, o índice de abstenção na votação, que chegou a 18,12%, contribuiu para o aumento dos votos válidos de Marina Silva, do PV.

Guedes afirma que os institutos indicaram o percentual correto para Marina nas pesquisas que levam em consideração votos em branco, válidos e nulos. Mas, com um índice de abstenção acima do esperado, a proporção de votos da candidata do PV subiu automaticamente.

A proporção de votos para a Marina ficou maior por conta dos votos que a Dilma perdeu e pelo alto índice de abstenções e votos nulos avalia Guedes, que não sabe ainda explicar a razão do índice de abstenção. Esse é o grande fenômeno que, até agora, não consigo explicar.

Em reportagem ontem sobre pesquisas, O GLOBO publicou dados, no caso do Vox e do Sensus, sobre os números gerais, e não sobre os válidos, que são os que são comparados com o resultado oficial do TSE. Os votos válidos apurados pelos dois institutos são os que estão sendo publicados hoje. Na mesma reportagem, os dados da pesquisa Datafolha no Paraná e os da pesquisa do Ibope em São Paulo se referiam ao total de votos, quando o correto seria a publicação das pesquisas sobre votos válidos.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Episódio :: Graziela Melo


O que
Seria,
Como
Seria

Se assim
Não Fosse?

Amigos
Que
Não
Teria

Lugares
Que não
Conheceria

Coisas
Que
Não
Faria...

Filhos
Que não
Existiriam

Saudades

Não
Haveriam

Pois,

Os
"de quem"
Não lá
Estariam

Que triste
A vida

Se
Assim
Não fosse

Se
Aqui
Não
Estivesse

Se esse
"Lá "
Não
Existisse

Se
O
"estar cá"
Não
Pudesse

Nem

O
Estar triste

Houvesse!!!

Ah!

Que
Escuridão
Seria...


A ausência
Que não
Haveria

De
Tudo
Que há

E
Até
A saudade

De
Quem

Não
Estaria

E
Assim
A vida
seguiria

Sem nada
Do que
Tenho

Com tudo
Do que
Não teria

Mas,
Esse "tudo ",

O que
Seria?

E eu,

O que
Faria

Se

Nem
Sequer

Existiria???

RJ, 12 de abril de 2004.

(Graziela Melo, “Crônicas, contos e poemas” págs. 136-7 – Fundação Astrojildo Pereira, Brasília, 2008)