segunda-feira, 15 de maio de 2023

O apogeu da influência dos economista

Binyamin Appelbaum, editorialista do “New York Times”, se junta a nomes como Thomas Friedman e Joseph Stiglitz no livro “A hora dos economistas”

Por Diego Viana - Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Lançado originalmente em 2019, “A hora dos economistas: falsos profetas, livre mercado e a divisão da sociedade” se inscreve em um subgênero de não ficção que se consolidou nos Estados Unidos na última década. Trata-se do diagnóstico de uma era, um meio século quase paradoxal, em que o país mais rico do mundo vivenciou uma explosão de consumo e riqueza, ao mesmo tempo que sentia seu poderio se erodir aos poucos. O autor, Binyamin Appelbaum, que é editorialista do “New York Times”, se junta a nomes como o colunista Thomas Friedman (“Éramos nós”, de 2011) e o economista Joseph Stiglitz (“Povo, poder e lucro”, 2019) na tentativa de explicar esse paradoxo.

Seu foco está na ascensão de um determinado grupo de economistas que, mais do que gerir a economia, quiseram revolucionar o mundo e as mentes. Para Appelbaum, é, de fato, uma revolução, cujos componentes são, por vezes, difíceis de distinguir. Na introdução, o leitor é apresentado a três vertentes: o prestígio ampliado do economista, que, segundo o autor, deixou de ser encarado como calculadora humana para se tornar conselheiro governamental em quase qualquer tema; as ideias sobre regulação financeira e política pública adotadas desde a década de 1980; e a relação às vezes conflituosa, às vezes simbiótica, entre o conservadorismo econômico e o social.

Abrindo ao mesmo tempo todas essas portas, o autor busca fazer um registro equilibrado. De um lado, pesa a convicção de que “os mercados são uma das ideias mais geniais da humanidade”, que em 50 anos legaram um acesso quase irrestrito a bens e uma economia global. Do outro, Appelbaum considera que o redesenho dos governos e das sociedades, a partir da visão de mundo dos economistas, “foi longe demais”: agravou a desigualdade, destruiu relações humanas e resultou na crise de 2008. A escolha de termos, porém, desequilibra a balança, já que os economistas são ditos “alquimistas” e “falsos profetas” que dividiram a sociedade.

Marcus André Melo* - O presidente e suas escolhas

Folha de S. Paulo

A margem de manobra do presidente e suas escolhas

O Brasil tem o mais poderoso Poder Executivo do mundo democrático. A afirmação é de Matthew Shugart e John Carey, em Presidents and Assemblies: constitutional design and electoral dynamics, Cambridge, 1992.

Seguiram-se outros trabalhos com foco regional e, invariavelmente, Brasil e Chile têm se alternado nas primeiras posições.

No índice que formularam, distinguem os poderes proativos (áreas de iniciativa exclusiva, etc) dos reativos (veto presidencial, etc). Concluem que há uma relação inversa entre os poderes constitucionais dos presidentes e seus poderes partidários (tamanho e coesão do partido (s) do presidente): quando os constituintes esperam que estes sejam débeis, haverá maior delegação de poderes aos presidentes por receio de ingovernabilidade futura. Foi o que aconteceu em 1988.

Muita coisa mudou desde aquele primeiro trabalho pioneiro de mensuração dos Poderes constitucionais. É certo que ocorreram poucas mudanças substantivas nos poderes reativos --nas medidas provisórias e nos poderes orçamentários (orçamento impositivo). No entanto, as relações Executivo-Legislativo sofreram grandes transformações em virtude de alterações estruturais que afetam os demais Poderes.

Bruno Carazza* - Governo e montadoras, uma história de amor

Valor Econômico

Alckmin e Lula são os novos alvos do lobby da indústria automobilística

No dia 09 de fevereiro de 1957, os jornais anunciaram “o maior investimento de capitais estrangeiros no Brasil”: a empresa americana Ford havia apresentado ao governo de Juscelino Kubitschek a intenção de aplicar US$ 16 milhões (quase US$ 160 milhões atuais, corrigidos pela inflação nos Estados Unidos) para produzir em São Paulo camionetes e caminhões F-100, F-350 e F-600.

Embora a Ford já realizasse desde o final dos anos 1910 a montagem de veículos a partir de peças importadas dos EUA (por isso chamamos as empresas desse setor de “montadoras”), desta vez o Brasil poderia se orgulhar de ter uma verdadeira fábrica de automóveis. Havíamos entrado para o seleto grupo das nações industrializadas, celebrava JK, o político que prometera fazer o país crescer “cinquenta anos em cinco”.

A obsessão com a fabricação de carros no Brasil justificava-se pelo seu poder de alavancar outros segmentos a montante e a jusante, como a produção de placas de aço, autopeças, vidros, plásticos e toda uma rede de revendedores e assistência técnica. Como nosso mercado consumidor não possuía escala, para que o investimento das empresas estrangeiras se mostrasse viável o governo brasileiro prometeu uma série de incentivos. Entre os benefícios estava um tratamento cambial favorecido para a importação de máquinas e equipamentos.

Sergio Lamucci - O dólar abaixo de R$ 5 e os limites para novas quedas

Valor Econômico

As incertezas que persistem sobre as contas públicas dificultam uma valorização adicional do real, assim como medidas do governo que elevam a insegurança jurídica

Nos últimos dias, a taxa de câmbio tem oscilado na casa de R$ 5 ou menos. Para alguns analistas, o real tem potencial para se fortalecer ainda mais em relação à moeda americana, com estimativas para o valor justo apontando para números entre R$ 4,40 e R$ 4,70. As incertezas que persistem sobre as contas públicas, mesmo após a apresentação do projeto do novo arcabouço fiscal, dificultam uma valorização adicional da divisa brasileira. Também atrapalham medidas e declarações do governo que elevam a insegurança jurídica, como mudanças na Lei das Estatais, decretos que buscavam alterar o marco do saneamento e a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra aspectos da privatização da Eletrobras. Para completar, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central (BC) e ao nível dos juros jogam contra um câmbio mais apreciado.

Um real mais valorizado teria efeitos bastante favoráveis neste momento. Ajudaria a reduzir as pressões sobre os preços e as expectativas de inflação, dando mais conforto para o BC começar a cortar os juros, além de contribuir para um alívio das condições financeiras, fator importante para a retomada da atividade.

Entrevista | Tomás Undurraga: ‘Existe um mal-estar real em relação ao dia a dia no Chile’

Tomás Undurraga, da Universidade Alberto Hurtado, em Santiago, avalia a movimentação política no país em torno da redação da terceira tentativa de uma nova Constituição

Por Marcos de Moura e Souza / Valor Econômico

Há dez anos o Chile discute a criação de uma nova Constituição para substituir a atual, que é herança do regime militar de Augusto Pinochet. No entanto, nos últimos anos os eleitores rechaçaram nas urnas dois projetos de uma nova Carta. A primeira, durante o governo Sebastián Piñera; e a segunda, no ano passado, no governo do jovem presidente esquerdista Gabriel Boric, de 37 anos. A terceira proposta está no forno. Um grupo de juristas está delineando o esqueleto do texto e uma comissão de constituintes eleitos no último dia 7 vai se encarregar de dar a redação final dessa terceira proposta, que será levada às urnas em dezembro. Em entrevista ao Valor, o diretor Departamento de Sociologia da Universidade Alberto Hurtado, em Santiago, Tomás Undurraga, avalia a movimentação política no país em torno da redação da nova Constituição. Fala sobre a vitória da direita (dos 50 assentos da comissão constituinte, legendas de direita venceram 34), sobre José Antonio Kast, o principal líder da direita chilena sobre um clima de descontentamento do país em relação ao momento político e econômico e sobre o que esperar da proposta de Constituição a ser definida nos próximos meses.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Demétrio Magnoli - O círculo chileno

O Globo

Esquerda resolveu 'passar o trator', escrevendo um projeto de Constituição à sua imagem e semelhança

O círculo se fechou. Há uma semana, os chilenos deram maioria absoluta à direita na eleição do Conselho Constitucional. O Partido Republicano, de José Antonio Kast, ultraconservador, ficou com 23 das 51 cadeiras. A direita moderada ficou com outras 11. O ciclo iniciado com a vitória da esquerda nas eleições para a Assembleia Constituinte, dois anos atrás, conclui-se na forma de um teorema: a política identitária move o eleitorado para a direita.

As manifestações populares de 2019 e 2020 desaguaram no plebiscito que aprovou a produção de uma nova Constituição, em substituição à Carta herdada da ditadura de Pinochet e várias vezes emendada. Sob o impulso das ruas, que queriam redes ampliadas de proteção social, a esquerda obteve maioria na Constituinte.

Camila Rocha* - Extrema direita não precisa de fake News

Folha de S. Paulo

Mesmo com PL das Fake News, debate manterá conflitos e divisões políticas

Ainda hoje é comum a ideia de que a força da extrema direita repousa na disseminação de fake news nas redes sociais. Por esse motivo, o projeto de lei 2.630/2020, que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, e recebeu o apelido infeliz de PL das Fake News, é visto como uma tábua de salvação por certos setores progressistas, sobretudo após a invasão golpista de 8 de janeiro.

É verdade que a aprovação do PL irá dificultar a circulação de conteúdos criminosos nas redes que já se enquadram na lei brasileira, como crimes contra o Estado democrático de Direito, atos de terrorismo e atos preparatórios de terrorismo.

Para tanto, as plataformas serão instadas a conter conteúdos ilícitos de forma análoga ao que já ocorre na legislação recém-aprovada pela União Europeia: o que for ilegal offline também passa a ser ilegal online.

Fernando Gabeira - Big techs como aliadas da pandemia

O Globo

De um modo geral, não temos tempo para comemorar nem para lamentar erros: há sempre uma tarefa à frente

Em maio, tiro férias. Não paro de escrever. Na verdade, dedico-me a escrever bobagens, ler livros inúteis e trabalhar imagens sem nenhum valor comercial.

Continuo com olho no mundo.

OMS suspendeu a emergência internacional, embora a pandemia não tenha acabado. Bill Gates é um bilionário, sou apenas um remediado, como se diz em Minas. No entanto concordo plenamente com ele que é necessário trabalhar para evitar a próxima pandemia.

Gates propõe uma estrutura mundial de vigilância que custaria US$ 1 bilhão por ano, um décimo dos gastos em defesa, uma gota no oceano de trilhões de dólares perdidos com uma pandemia.

No livro “Como evitar a próxima pandemia”, ele fala na necessidade de haver um bom número de pessoas que acordam todas as manhãs pensando no tema. Não é meu caso. Às vezes acordo de pá virada; às vezes, melancólico. Nem todas as manhãs dedico à humanidade.

Edu Lyra - Tecnologias sociais têm de amadurecer

O Globo

É saudável que passemos a encarar a inovação científica como se houvesse uma ‘curva de amadurecimento’

Tecnologias como o ChatGPT são diferentes de tudo o que conhecíamos até então. Tipicamente, um avanço tecnológico ocorria quando uma empresa ou um grupo de pesquisadores desenvolviam um produto ou serviço inovador. Ou ainda quando descobriam uma maneira mais inteligente de realizar uma velha tarefa.

A inovação estava, portanto, no ato de criar ou de aperfeiçoar uma tecnologia. Com o advento da Inteligência Artificial (IA) e das aplicações de machine learning, isso mudou.

O lançamento de uma ferramenta como o ChatGPT para o público geral é apenas uma etapa na sua curva de amadurecimento. Só conheceremos o pleno potencial dessa tecnologia com o passar do tempo, à medida que ela aprender interagindo com os seres humanos e encontrar maneiras ainda mais certeiras de responder às nossas demandas. Se você está impressionado(a) com o ChatGPT hoje, espere só ele atingir altitude de cruzeiro.

Luiz Claudio Latgé* - Algoritmos, jabuticabas e jabutis

O Globo

A receita para avançar é focar nas questões de consenso, essenciais para uma regulamentação efetiva das redes

O Brasil costuma ter problemas com a lei. Estamos no país onde “vale o que está escrito”, existem “leis para inglês ver” e em que “há leis que colam e leis que não colam”. Portanto, no momento em que o Brasil se prepara para escrever a regulamentação das redes sociais, o Projeto de Lei 2.630, é importante evitar singularidades brasileiras, como jabuticabas e jabutis.

Os recentes ataques a escolas em São Paulo, Santa Catarina e Goiás e a onda de posts disseminando o medo mostraram o tamanho do problema. Governo e mídias se mobilizaram rapidamente para conter as publicações que incitavam a violência, em alinhamento com as melhores práticas internacionais. O Twitter, no entanto, se recusou, num primeiro momento, a adotar o mecanismo de proteção. Alegou que as publicações não feriam “os termos de uso da empresa”, como se o contrato particular pudesse estar acima da legislação existente.

Carlos Pereira* - O barato que sai caro

O Estado de S. Paulo

Um dos aspectos mais peculiares do sistema multipartidário, seja no parlamentarismo, mas sobretudo no presidencialismo, é que o chefe do Executivo necessita dispor de moedas de troca para a construção de maiorias legislativas estáveis e disciplinadas. Quase nunca o programa ou a ideologia partidária são elementos suficientes para que outros partidos aceitem fazer parte da coalizão de governo.

Quanto maior e mais diversificada forem as moedas de troca na “caixa de ferramentas”, maiores as chances de o Executivo governar por meio de coalizões eficientes. Ou seja, aprovando mais a sua agenda com menores custos possíveis.

No artigo “Executive Toolbox”, em colaboração com Eric Raile e Tim Power, mostro que cada tipo de moeda de troca (ministérios, emendas parlamentares, cargos na burocracia pública, etc.) no presidencialismo brasileiro tem características próprias que as torna substitutos imperfeitos. A mudança de ministros gera “custos afundados” para o governo e, portanto, proporciona maior eficiência quando implementada para parceiros próximos do presidente; já as emendas orçamentárias são mais flexíveis, permitindo atrair parceiros ideologicamente distantes com um menor impacto nas políticas do governo.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

‘Opep das florestas’ terá de tornar real a promessa ambiental

O Globo

Brasil, Congo e Indonésia pretendem fazer da preservação uma mercadoria tão valiosa quanto o petróleo

O principal item na pauta da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brazzaville, prevista para o mês que vem, é a aliança entre países com grandes áreas de floresta tropical, ativo valorizado em razão do combate às mudanças climáticas. A iniciativa, cujo objetivo é unificar o discurso e os compromissos de preservação perante os países ricos, vem sendo chamada informalmente de “Opep das florestas”, numa referência ao cartel que controla os preços do petróleo.

Comparecerão à cúpula na capital da República Democrática do Congo países de América do Sul, África Central e Sudeste Asiático. Apenas três dos presentes — Brasil, Congo e Indonésia — concentram 52% das florestas tropicais do planeta. Lula faz questão de levar também Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Venezuela — integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) —, além de outros países africanos e asiáticos de grande cobertura florestal, de modo a reunir 80% das florestas tropicais do planeta.

A agenda oficial prevê a troca de experiências na preservação e exploração das florestas úmidas na Bacia Amazônica, na Bacia do Congo e na região do Bornéu-Mekong, no Sudeste Asiático. De acordo com o governo congolês, a proteção e o desenvolvimento das florestas precisam se assentar sobre três pilares: cooperação científica, cadeias de produção sustentáveis e mecanismos inovadores de financiamento para a biodiversidade.

Poesia | Eduardo Galeano - Os ninguéns

 

Música | Tereza Cristina - Você passa eu acho graça