domingo, 19 de outubro de 2014

Opinião do dia - Rubens Bueno

"Nesses 12 anos, só agora admite desvios na Petrobras? Por que não tomou providências na época? Todos queremos que ela seja responsabilizada por isso. Foi responsável como ministra, como presidente do Conselho, e como presidente da República, que ficou ao longo do tempo blindando de toda a forma as investigações. "

Líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno

Aécio cobra posição de Dilma sobre denúncias de Paulo Roberto Costa

• Em caminhada na orla de Copacabana, tucano considerou uma 'evolução' a petista admitir desvio de recursos na Petrobrás

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Em entrevista antes de iniciar uma caminhada pela orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse que a adversária Dilma Rousseff (PT) "evoluiu" ao admitir desvio de recursos na Petrobrás, mas cobrou manifestação da presidente diante das denúncias do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa de que o tesoureiro do PT João Vaccari recebia dinheiro do esquema montado na empresa, que envolvia partidos e empreiteiras.

"É uma evolução, um avanço. Era isso (reconhecer o desvio) que eu cobrava dela (Dilma) em todos os debates. Quando lutamos para a abertura da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), diziam que era um grande factoide. Reconheço que é um avanço da presidente admitir o que aconteceu, talvez um pouco tarde. Não vi até agora manifestação da presidente sobre o fato de o tesoureiro ter recebido(recursos desviados)", afirmou o tucano.

Apesar de as denúncias de corrupção na Petrobrás terem sido tema recorrente de Aécio nos debates, o tucano fez um "convite" a Dilma para que, na última semana de campanha, sejam debatidas ideias e propostas.

"Quero fazer um convite à nossa adversária para que possamos debater propostas, debater o que nos separa. Sou de uma escola política em que as ideias devem brigar, e não as pessoas", declarou o candidato.

Aécio pediu empenho dos aliados na reta final da campanha e acusou o PT de contratar cabos eleitorais no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, para espalhar "boatos" sobre o fim do Bolsa Família em caso de vitória do PSDB.

Aécio reuniu para a caminhada em Copacabana o senador eleito José Serra (PSDB-SP), deputados de vários partidos, artistas como Ney Latorraca e Maitê Proença, o técnico de vôlei Bernardinho, o ex-jogador Ronaldo, entre outros.

Andréa Neves. Na concentração para a caminhada na orla de Copacabana, a irmã do tucano, Andréa Neves, que esteve no centro dos ataques da presidente Dilma Rousseff ao adversário nos últimos dias, fez um desabafo e disse jamais ter visto campanha "com tamanho ódio" quanto a do PT.

"É uma luta política covarde e desleal. Dados são alterados sem compromisso com a verdade", afirmou Andréa, que se emocionou e quase chorou em rápida entrevista no Forte de Copacabana, antes da caminhada. "Agora cabe a cada um de nós manter o coração mais firme. Essa campanha com tanta infâmia e calúnia patrocinada pelo PT alerta para o que está por trás disso", disse Andréa.

Aécio é acusado por Dilma de ter praticado nepotismo no governo de Minas Gerais ao contratar a irmã e outros parentes. O tucano nega e diz que Andréa fez trabalhos voluntários, sem remuneração.

"Não há nepotismo em Minas Gerais. Em mais de 30 anos de atividade política, nunca vi campanha com tamanho ódio e mentira", afirmou a irmã de Aécio.

Eleito senador em São Paulo, José Serra (PSDB) veio ao Rio para participar da atividade de campanha na Praia de Copacabana e disse que os adversários "estão aflitos e com muito receio de perder".

De acordo com o tucano, em debates futuros Aécio deve seguir o tom da presidente Dilma Rousseff. "Como ele vai se comportar, depende de como o adversário se comporta. Acho que ele deve regular pelo adversário", afirmou o senador eleito.

Serra evitou falar das especulações de que pode ocupar o Ministério das Relações Exteriores em caso de vitória de Aécio. "Primeiro temos que ganhar as eleições", desconversou.

Sobre as eleições de 2010, quando perdeu a disputa presidencial para Dilma, Serra disse que o cenário era diferente do atual. "Em 2010, o então presidente Lula tinha 87% de aprovação e o sentimento não era de mudança", disse o senador eleito ao chegar a Copacabana.

No Rio, Aécio afirma que vai fazer convite a Dilma para cessar ataques e debater propostas

• Candidato disse achar ‘evolução’ e ‘avanço’ a declaração da rival admitindo desvios na Petrobras

Cássio Bruno – O Globo

RIO — Em tom menos agressivo, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse na manhã deste domingo em uma entrevista coletiva no clube Marimbás, em Copacabana, Zona Sul do Rio, que pretende dedicar a última semana a debater propostas. Dizendo estar "com a alma mais leve", o tucano evitou fazer novos ataques à presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT. A campanha para o segundo turno tem sido marcada por duros embates entre os dois presidenciáveis, e no último debate, promovido por SBT/UOL/Joven Pan, predominou o clima hostil, com intensas acusações dos dois lados.

— Quero nessa última semana fazer aqui um convite a nossa adversária para que nós possamos debater propostas e falar do futuro do Brasil para que os brasileiros conheçam de forma mais clara e profunda aquilo que nos separa — disse Aécio — Sou de uma escola política do meu avô (Tancredo Neves) que diz que quem deve brigar são as ideias, e não as pessoas.

Aécio disse ainda achar uma "evolução" e um"avanço" a atitude da presidente Dilma de admitir desvios de recursos na Petrobras.

— É uma evolução, um avanço. Foi isso que eu cobrei dela em todos os debates. Quando eu pedi uma CPI no Senado, o PT disse que era um factoide. Quantas vezes eu ouvi que o “Aécio Neves queria denegrir a imagem da nossa maior empresa”. Pois bem: as investigações avançaram. A delação premiada mostra a extensão desta rede. Mas é um avanço a presidente pelo menos admitir que isso aconteceu. Talvez um pouco tarde, mas essa admissão é algo positivo — declarou o tucano.

No entanto, o candidato do PSDB cobrou de Dilma alguma atitude em relação ao tesoureiro do PT, João Vacari Neto.

— Não vi nenhuma atitude da presidente em relação àquele que é denunciado pelo delator como receptor da parcela (de dinheiro) que pertencia ao PT, que é o tesoureiro do partido.

Aécio repetiu aos jornalistas que não vai acabar com programas sociais como o Bolsa Família caso seja eleito.

— Tem pessoas pagas pelos nossos adversários que estão andando de porta em porta nas regiões mais pobres do Brasil dizendo que, se eu for eleito, vou acabar com os programas sociais. Isso não é contra nós, isso é falta de generosidade.

Acusada nos últimos debates pela presidente Dilma de ser empregada do governo de Minas na gestão de Aécio, o que configuraria nepotismo, a irmã do tucano Andrea Neves, emocionada, atacou o PT:

— O que me impressiona a nós e a milhões de brasileiros é o absoluto descompromisso com a verdade. Como é que dados são falseados, números são alterados, informações são dadas sem nenhum compromisso com a verdade. Cabe a nós, que estamos próximos ao Aécio, manter o coração firme. Essa campanha tem tanta mentira patrocinada pelo PT que vai acabar alertando a população brasileira — disse Andrea, com voz embargada e negando que vai ter qualquer cargo público caso Aécio seja eleito.

Aécio Neves chegou ao clube acompanhado da mãe, Inês Maria Neves, além de celebridades e políticos. Na lista, a mulher dele, Letícia Weber, os atores Milton Gonçalves, Ney Latorraca e Maitê Proença, o senador Francisco Dornelles (PP), candidato a vice-governador na chapa de Luiz Fernando Pezão (PMDB), o presidente do PPS Roberto Freire, o senador eleito José Serra, o deputado federal Alfredo Sirkis, o deputado federal eleito Indio da Costa, o deputado federal reeleito Otavio Leite, a deputada federal Andreia Zito (PSDB-RJ) a cantora Fafá de Belém, o dançarino Carlinhos de Jesus e o filho do ex-governador Sérgio Cabral, Marco Antônio Cabral.

O tucano participou de uma carreata que não chegou a percorrer toda a orla, na qual estiveram políticos, celebridades, esportistas e dezenas de pessoas vestidas de azul. Ele fez um discurso rápido, em que lembrou do debate na TV Record deste domingo e afirmou que "é hora de tirar o PT do poder". Ele em seguida puxou o hino nacional. No carro, Aécio estava acompanhado de sua mulher, Letícia, do ex-jogador Ronaldo, de José Serra e de Roberto Freire.

Entre os presentes estava o deputado federal reeleito Jair Bolsonaro, o mais votado no estado, e o técnico da seleção brasileira de vôlei Bernardinho. Bolsonaro, que não foi convidado para o evento, pretende entregar duas reivindicações para o candidato à Presidência: baixar a taxa de desemprego e reduzir a exportação de bananas para Cuba.

O objetivo da investida de Aécio no Rio é capitalizar os votos da agora aliada Marina Silva, candidata derrotada do PSB à Presidência. Aécio Neves também está prestes a firmar aliança com o deputado federal Romário (PSB), eleito senador no Rio com 4,6 milhões de votos.

Integrantes do movimento Aezão, criado pelo PMDB fluminense, que apoia a candidatura de Aécio e a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) também estiveram no evento.

Pela primeira vez, Dilma admite desvio na Petrobrás

• Presidente diz que houve, de fato, desvio de recursos na estatal e afirma que governo vai requerer ressarcimento

Nivaldo Souza – O Estado de S. Paulo

A presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, admitiu neste sábado, 18, que "houve desvio" na Petrobrás, conforme denúncias do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Foi a primeira vez que a presidente confirmou a existência de desvio. A confirmação pela candidata ocorreu durante entrevista coletiva nesta tarde, no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. "Se houve desvio de dinheiro público queremos ele de volta. Se houve, não. Houve, viu?", afirmou.

Dilma afirmou também que o governo pretende pedir o ressarcimento de todos os recursos desviados pelo esquema comandado por Costa, com recursos desviados por meio de construtoras para financiar partidos políticos - entre eles, o PT, o PMDB e o PP. "Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos", disse. "Farei todo o possível para ressarcir o País."

A presidente, contudo, disse que ainda não foi informada sobre valores que poderiam voltar para a estatal em razão da recusa do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir o acesso do governo a detalhes da delação premiada de Costa. "Ninguém sabe o que tem para ser ressarcido, porque os dados mais importantes da delação premiada não foram entregues a nós", disse.

Ao ser questionada sobre se o pagamento de R$ 10 milhões por Costa ao ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, morto no início deste ano, tiraria dos tucanos a bandeira da ética, ela afirmou que "ninguém está acima de suspeita". "Não acho que ninguém no País tenha a primazia da bandeira da ética. Até o retrospecto do PSDB não lhe dá essa condição. Acho que não dá a partido nenhum", comentou. "Acho que ninguém está acima de qualquer suspeita no Brasil."

Dilma admite desvios no esquema de corrupção da Petrobras: ‘Houve, viu?’

• Referindo-se a Sérgio Guerra, petista defendeu que todos os integrantes de partidos que tenham praticado 'mal feitos' paguem pelos seus atos

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff (PMDB), candidata à reeleição, admitiu neste sábado, pela primeira vez, que houve desvio de dinheiro público no esquema de corrupção na Petrobras citado em depoimentos de delação premiada pelo ex-dirigente da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. Em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, Dilma afirmou que faria “o possível” para que os valores desviados sejam devolvidos aos cofres públicos. A presidente também demonstrou que o tom da campanha até o segundo turno da eleição continuará sendo de ataques contra o adversário Aécio Neves (PSDB).

— Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu? — afirmou a presidente, que não costuma admitir erros.

Ela, no entanto, disse não saber estimar o valor do desvio.

— Daqui para frente, a não ser que eu seja informada pelo Ministério Público ou pelo juiz, não tenho medida nenhuma a tomar, não é o presidente que processa. Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos, mas ninguém sabe ainda o que deve ser ressarcido, porque a chamada delação premiada, onde tem os dados mais importantes, não foi entregue a nós. Até eu pedi, como vocês sabem, tanto ao Ministério Público, quanto para o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, mas ambos disseram que estava sob sigilo — disse Dilma.

Hoje, o órgão regulador do mercado americano, a Segurity Exchange Comission, abriu investigação para saber se o escândalo na Petrobras prejudicou acionistas.

Beneficiado pela delação premiada, Paulo Roberto envolveu políticos do PT, do PMDB e do PP, base aliada do governo. As denúncias começaram a partir da Operação Lava-Jato, deflagrada em março pela Polícia Federal, para investigar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões ilegalmente.

Sobre a citação do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março deste ano, na delação premiada de Paulo Roberto Costa, como receptor de propina para que esvaziasse a CPI da Petrobras em 2009, Dilma disse que não iria “comemorar” o vazamento seletivo, que antes havia atingido apenas partidos da base aliada, inclusive o PT. A presidente defendeu que todos os integrantes de partidos que tenha praticado “mal feitos” têm de pagar.

— É interessante notar que os vazamentos seletivos acontecem para todos os lados. Isso não é bom, não vou aqui comemorar nada, Só acho que o pau que bate em Chico, bate em Francisco. Essa é uma lei, né? pontuou Dilma.

— Não acho que alguém no Brasil tenha a primazia da bandeira da ética. O retrospecto do PSDB não lhe dá essa condição, acho que não dá a partido nenhum. Todos os integrantes de partido que tenham cometido crime, delito, mal feito, têm de pagar por isso. Ninguém está acima de qualquer suspeita no Brasil. — completou.

De acordo com o jornal “O Estado de S.Paulo”, Paulo Roberto afirmou na delação que o esquema de corrupção na estatal repassou R$ 1 milhão à campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em 2010. O marido da senadora, o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e na época ministro de Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Lula, foi quem teria recebido o dinheiro.

'Não é uma fala correta para mulheres'
Questionada se pretende amenizar os ataques contra o adversário tucano após ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e críticas nos bastidores de integrantes da Corte em relação ao tom bélico da campanha, a presidente negou que o TSE tenha feito qualquer intervenção em sua campanha, alegando que as ações ainda não foram julgadas e, apesar de dizer que o baixo nível deve ser “superado”, deu demonstrações de que devem prevalecer os ataques a Aécio Neves nessa reta final.

— Eu não concordo que o TSE teve qualquer intervenção na minha campanha. Gostaria de saber onde e quando. Acho que isso ainda será julgado. Eu acredito que o que é baixo nível da campanha é algo que deve ser completamente superado — disse Dilma.

A presidente se referiu ainda ao fato de Aécio Neves estar processando a presidente por difamação, calúnia e injúria por propaganda na qual diz que o tucano não respeita as mulheres. Dilma afirmou, na coletiva, que Aécio teria sido desrespeitoso com a presidente e com Luciana Genro, candidata do PSOL derrotada no primeiro turno, por tê-las chamado de “levianas”.

— É óbvio que tem de ter discussão, aí o candidato adversário não gosta muito e passa para atitudes um tanto quanto desrespeitosas, foram desrespeitosas comigo e com a Luciana Genro. Ele pode inclusive querer processar, mas quem devia querer processar somos nós, porque a nós duas ele chamou de leviana, coisa que não se faz. Não é uma fala correta para mulheres — disse Dilma.

Palanques no Rio
Quanto à sua participação nos palanques dos dois candidatos ao governo do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB), Dilma afirmou ter uma “relação especial” com ambos:

– Tenho em relação aos dois uma situação muito específica. Com Pezão fiz talvez a parceria mais estreita que o governo federal fez com um governo local. Tenho admiração sincera e acho ele um excepcional gestor, além de uma pessoa excepcional também. Em relação ao Crivella, tenho a mesma opinião, ele foi meu ministro da Pesca, sei a dedicação do Crivella. Se alguém tirou e deixou um legado para continuar tirando a Pesca do anonimato no Brasil, tornando-a um dos setores fundamentais, foi o Crivella. Tenho em relação a ambos uma relação especial – afirmou a presidente.

No 1º turno, ataques de Dilma a Marina
Apesar de agora criticar na sua propaganda política o candidato Aécio Neves (PSDB) por desrespeitar as mulheres, a candidata Dilma Rousseff (PT) e sua equipe de campanha recorreram à tática do ataque à ex-candidata do PSB, Marina Silva, no primeiro turno. Faltando pouco mais de 20 dias para a votação, Marina se queixou publicamente das mentiras que tinham sido espalhadas contra ela e prometeu não atacar “uma mulher”. Como resposta, Dilma disse que "coitadinho" não poderia ocupar o mais alto cargo do país.

— Tem de segurar a crítica, sim. O Twitter é o de menos (referindo-se a críticas nas redes sociais). O problema são pressões de outra envergadura que aparecem e que, se você não tem coluna vertebral, você não segura. Não tem coitadinho na Presidência. Quem vai para a Presidência não é coitadinho, porque, se se sente coitadinho, não pode chegar lá — afirmou Dilma.

Delator diz que pagou R$ 1 mi a ex-ministra

• Dinheiro foi para campanha de Gleisi Hoffmann em 2010, afirma jornal

• Parlamentares teriam recebido até R$ 150 mil por mês de empresas que tinham negócios na Petrobras, diz revista

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse ao Ministério Público Federal que o esquema de corrupção na empresa estatal repassou R$ 1 milhão para a campanha da ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado nas eleições de 2010, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo".

Eleita para o Senado naquele ano, Gleisi licenciou-se para assumir o cargo de ministra-chefe da Casa Civil com a posse da presidente Dilma Rousseff. Nas eleições deste ano, Gleisi concorreu ao governo do Paraná e terminou a disputa em terceiro lugar.

Segundo o jornal, Costa disse que a campanha de Gleisi recebeu ajuda a pedido do doleiro Alberto Youssef, apontado como operador de um esquema que teria desviado recursos da Petrobras para partidos políticos.

Pegos na Operação Lava Jato, os dois estão colaborando com as autoridades em troca de redução de suas penas.

Youssef era parceiro do deputado federal André Vargas, que fazia parte do mesmo grupo político de Gleisi e do marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Vargas deixou o PT este ano depois que veio a público o seu envolvimento com o doleiro.

A senadora afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não conhece Alberto Youssef nem Paulo Roberto Costa, e que todas as doações para sua campanha estão na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral.

Segundo o jornal, Costa afirmou às autoridades que o repasse de R$ 1 milhão à campanha de Gleisi pode ser comprovado por anotações em sua agenda pessoal, apreendida pela Polícia Federal.

Paulo Bernardo afirmou que não conhece Youssef. "Chance zero de Youssef pedir para fazer uma doação para Gleisi", disse. "Ele não a conhece e não me conhece. A troco de quê vai fazer isso?"

Mesada
Reportagem publicada pela revista "Veja" na edição que chegou às bancas neste sábado (18) afirma que Youssef listou em seus depoimentos os nomes de 28 congressistas que receberam propina paga por empreiteiras que trabalham para a Petrobras.

Os valores iam de R$ 100 mil a R$ 150 mil mensais, a depender da importância do político. Costa apontou governadores, deputados e senadores como beneficiários de desvios de recursos da Petrobras.

Segundo Paulo Roberto Costa e Youssef, os contratos da Petrobras eram superfaturados e os políticos recebiam de 1% a 3% de propina, conforme a área da empresa.

Os dois delatores disseram que o esquema irrigou os cofres do PT e de outros dois partidos governistas, o PMDB e o PP, que controlaram postos-chave na estatal no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e no início do governo Dilma.

Em um dos seus depoimentos, Paulo Roberto Costa disse que repassou propina também ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março deste ano, para que ajudasse a esvaziar uma CPI criada pelo Senado em 2009.

‘É uma confissão de culpa’, diz coordenador da campanha do PSDB sobre declaração de Dilma

• Oposição vê declaração da presidente como um reconhecimento tardio de que escândalo ocorreu

Evandro Éboli, Junia Gama e André de Souza – O Globo

BRASÍLIA — A oposição entendeu que as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a crise na Petrobras é um reconhecimento tardio da presidente sobre o escândalo que atinge a estatal. O coordenador da campanha do senador Aécio Neves (PSDB), o também senador Agripino Maia (DEM-RN), classificou a afirmação de Dilma como uma confissão de culpa. Para ele, a presidente reconheceu a corrupção somente agora por uma questão eleitoral.

— É uma confissão de culpa do petismo em relação à Petrobras. Todos os posicionamentos do governo e da presidente em relação a esse tema são sempre tardios, como foi a demissão de Paulo Roberto Costa. Demissão que se deu nos termos que o Brasil inteiro sabe, com o reconhecimento dos grandes serviços prestados por ele — disse Agripino Maia. — Até hoje, os fatos relatados não foram objeto de providências enérgicas do governo. Somente agora, às vésperas das eleições é que a presidente está reconhecendo o dolo praticado pelo petismo. Tudo isso tem um sentido eleitoral, é claro — completou.

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) criticou Dilma, dizendo que as declarações dela vieram após anos e anos de desvios bilionários na Petrobras. Ele cobrou que a presidente seja responsabilizada, lembrando que, ao longo dos últimas 12 anos, ela teve alguma ligação com a estatal, seja como ministra de Minas e Energia, ministra da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras, ou presidente da República.

— Nesses 12 anos, só agora admite desvios na Petrobras? Por que não tomou providências na época? Todos queremos que ela seja responsabilizada por isso. Foi responsável como ministra, como presidente do Conselho, e como presidente da República, que ficou ao longo do tempo blindando de toda a forma as investigações — disse Bueno.

O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, coordenador da campanha tucana no estado, disse que a candidata Dilma Rousseff demorou a admitir os desvios na Petrobras.

— Demorou para falar e só falou depois que foi cobrada várias vezes por Aécio para que reconhecesse o episódio. Agora ela vai ressarcir o país como? Como? — questionou Goldman.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), afirmou que o reconhecimento de Dilma de que ocorreu corrupção da Petrobras não exime a presidente de responsabilidade. Para ele, o PT se especializou em corrupção.

— Ela declarar isso agora não isenta a presidente da responsabilidade, principalmente as que envolve todas as falcatruas que aconteceram na Petrobras. Até porque ela presidiu o conselho da empresa e sempre se arvorou em anunciar que tinha o controle total de tudo que ali acontecia. Nenhum brasileiro minimamente informado acredita na declaração que ela deu alguns dias atrás, dizendo que não sabia de nada. É uma esperteza na véspera de uma eleição, que vai consagrar o fim melancólico de um governo e da decadência de um partido que abandonou suas bandeiras e se especializou em corrupção — disse Imbassahy.

O coordenador da campanha de Marina Silva, Walter Feldman, afirmou que o fato de Dilma Rousseff ter admitido que houve desvio de dinheiro em esquema de corrupção na Petrobras seria devido à impossibilidade de negar fatos “evidentes”. Feldman disse ainda que a petista vive um momento de “confusão”, por defender o combate à corrupção como candidata, mas não tê-la combatido como presidente.

— O primeiro ponto é que é impossível negar um fato tão evidente. A Petrobras se transformou no segundo sistema de mensalão da história brasileira. Seria muito estranho um dirigente negar fatos tão evidentes. Agora, há uma tentativa de mostrar que ela tem algum envolvimento com o combate à corrupção, que ela diz fazer como candidata, mas que não fez como presidente. A presidente Dilma vive um momento confuso existencial: ela não sabe se age como candidata ou como presidente — afirmou Feldman.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), discordou dessa avaliação.
— A presidente Dilma não está fazendo confissão de culpa alguma. Seria se ela tivesse alguma participação nisso, o que não ocorreu. As investigações estão sendo feitas e a presidente acionou a Polícia Federal, há vários inquéritos em curso e o caso está também na CGU (Controladoria Geral da União). Não é confissão de nada — disse Humberto Costa.

A coordenação jurídica da coligação de Aécio Neves apresentou neste sábado na Procuradoria Geral Eleitoral uma representação pedindo abertura de processo contra a Dilma pela veiculação de um filmete acusando Aécio de desrespeitar mulheres. Em entrevista coletiva, a presidente disse que Aécio a teria desrespeitado por tê-la chamado de “leviana” em um debate televisivo, assim como à candidata do PSOL Luciana Genro, derrotada no primeiro turno. Dilma afirmou tratar-se de uma fala que não seria “correta para mulheres".

Essa tentativa de Dilma de criar um embate de gênero com o candidato Aécio Neves (PSDB) provocou indignação em pessoas próximas a Marina, candidata derrotada no primeiro turno e que agora apoia o tucano. Auxiliares de Marina afirmam que a campanha petista está mirando os votos femininos que foram para a ex-senadora no primeiro turno e, para isso, tentam construir uma imagem de Aécio como antagonista dos direitos das mulheres.

— Vir agora com uma posição de vítima por ter ouvido o que todos os brasileiros pensam dela é mais uma vez tentar mudar a realidade. Se tem algo que ela não pode chamar para si é o fato de ser mulher, até porque ela nunca aplicou. Isso é queixa dos próprios auxiliares dela, que dizem que ela é grossa, deselegante e insensível no trato — afirma Walter Feldman.

— Esse embate de gênero só faz sentido na cabeça dela. Como eles não têm limites, tentam explorar isso. Quem é vítima de Dilma são todos os brasileiros, homens e mulheres, que acreditaram que ela, por ser mulher, teria uma gestão mais sensível aos problemas e diferenças do país. Ela tem se mostrado a figura mais autoritária à frente de um governo, superando qualquer homem — completou Feldman.

— Se for homem, pode ser leviano; se for mulher, não pode? É estranho tentar polarizar o debate dessa forma.

No ponto mais baixo da campanha, Lula comanda show de baixarias em Minas

• Ex-presidente insinua que Aécio bate em mulheres. E credita ao tucano a tática de 'partir para cima agredindo'. Comício teve menção ao uso de drogas

Gabriel Castro - Veja

BELO HORIZONTE - Em um comício realizado em Belo Horizonte neste sábado - sem a presença de Dilma Rousseff -, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ultrapassou os limites da inconsequência e comandou um show de baixarias e ofensas desmedidas contra Aécio Neves. Foi o ponto mais baixo da campanha até aqui. E não apenas desta campanha: desde 1989 o Brasil não assistia a um festival de ataques como os que o PT hoje protagoniza em uma campanha. Lula não apenas se utiliza das mesmas armas de que foi alvo na campanha contra Collor, como vai ainda mais longe. No comício, o ex-presidente citou o nome de Aécio muito mais que o de Dilma, que se tornou personagem secundário dos discursos. A ordem era atacar, sem tréguas.

Em um discurso precedido por insultos pessoais ao tucano, Lula disse que Aécio usa violência contra as mulheres, por "experiência de vida", e a tática de "partir para cima agredindo". Ao comentar a estratégia do tucano contra Dilma Rousseff, o ex-presidente insinuou que Aécio costuma bater em mulheres. "A tática dele é a seguinte: vou partir para a agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima agredindo", afirmou Lula. O ex-presidente também classificou Aécio de "filhinho de papai" e "vingativo". E o comparou a Fernando Collor. O mesmo Fernando Collor que hoje divide palanques com Dilma, como há uma semana, em Alagoas. Lula ainda voltou a mencionar o episódio em que o adversário deixou de soprar o bafômetro em uma bliz no Rio de Janeiro.

O ato deste sábado deixou claro que a tática do PT na reta final da campanha, após o revés de Dilma Rousseff no debate do SBT, na quinta-feira, será a de expor a presidente Dilma como uma vítima das "grosserias" de Aécio. Foi o que fez Lula neste sábado. "O comportamento dele não é o comportamento de um candidato (...) . É o comportamento de um filhinho de papai que sempre acha que os outros têm de fazer tudo para ele, que olha com nariz empinado. Eu não sei se ele teria coragem de ser tão grosseiro se o adversário dele fosse um homem", disse o presidente.

O ex-presidente comparou Aécio a Fernando Collor porque, segundo ele, a eleição do ex-presidente (aliado do PT) foi fruto da pressão da mídia e de um falso discurso do "novo". "Em 1989, com medo de mim, com medo do Ulysses, do Brizola, com medo do Mário Covas, muitas vezes instigado pela imprensa, este país escolheu o Collor como presidente da República dizendo que era o novo. E vocês sabem o que aconteceu neste país."

Lula também disse que Aécio age como Carlos Lacerda, o estridente líder da oposição a Getúlio Vargas, ao mencionar o "mar de lama" para "esconder o próprio rabo". O petista afirmou que, quando governou Minas Gerais, o tucano perseguiu professores de forma mais intensa do que a ditadura. "Não conheço, em nenhum momento da história, nem no regime militar, um momento em que os professores foram tão perseguidos como foram em Minas Gerais", afirmou Lula. No vale-tudo, Lula tentou até subverter o tempo: indagou o que Aécio fazia quando Dilma foi presa por enfrentar a ditadura - ignorando que, na época, o tucano tinha apenas dez anos de idade.

Inacreditavelmente, Lula tentou definir o adversário com uma frase que resume de forma precisa a tática do PT: "É muito grave, porque as pessoas se acham no direito de desrespeitar os outros com muita facilidade e depois ir para a imprensa se passar de vítima. Não é possível."

Mais ataques - Mais cedo, antes de Lula entrar no palanque, o mestre de cerimônias do comício leu uma carta de uma psicóloga petista que atribui a Aécio a prática de espancar mulheres e de uso de drogas, além de classificá-lo como "ser desprezível", "cafajeste" e "playboy mimado". Ela afirma que o tucano tem um "transtorno mental".

Depois, o rapper Flávio Renegado, que discursou já na presença de Lula, do governador eleito Fernando Pimentel e de parlamentares petistas, disse que Aécio costumava fazer festinhas regadas a "pó royal", uma gíria para cocaína. Durante o discurso de Lula, grande parte da militância presente emplacou um grito de "Aécio cheirador", sob a complacência de Lula - o mesmo que, minutos antes, se orgulhara de nunca ter agido de forma desrespeitosa em nenhuma das campanhas eleitorais das quais participou.

Candidato a vice, Aloysio Nunes critica ataques de Lula a Aécio

• Líder petista comparou candidato tucano à Presidência a Fernando Collor e Carlos Lacerda

- O Estado de S. Paulo

O candidato a vice-presidente pelo PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, criticou os ataques feitos ao companheiro de chapa, Aécio Neves, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por meio de nota, Aloysio afirmou que o petista "dá as mais baixas declarações em uma campanha presidencial da história”.

Em ato pró-reeleição de Dilma Rousseff (PT), realizado neste sábado em Belo Horizonte, Minas Gerais, Lula fez uma série de ataques pessoais a Aécio Neves e comparou o tucano ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. O petista também disse que Aécio se comportou como "filhinho de papai" ao atacar a Dilma durante o debate do SBT, na última quinta-feira. Afirmou ainda que o tucano parece “fidalgo" por ter se recusado a se submeter ao exame do bafômetro ao ser parado por uma blitz em 2011, com a alegação de que não precisaria fazê-lo porque sua carteira de motorista estava vencida. “Bafômetro não é medir carteira de motorista ou não. Bafômetro cheira álcool”, disse.

Na nota, o candidato a vice-presidente pelo PSDB diz que o ataque de Lula é “pior até do que as ofensas que o próprio Lula sofreu em 1989 de Fernando Collor, atualmente seu aliado”. “A explicação para isso vem do desespero pelo risco de o PT perder o poder. Acaba de surgir um novo personagem na política brasileira, falta só definir um nome: Fernando Lula de Melo ou Luiz Inácio Collor da Silva”, afirmou Aloysio.

Por fim, o candidato tucano a vice-presidente pediu esclarecimento sobre as declarações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, que acusa o PT e outros partidos de receberem propina, e cobrou de Lula “o depoimento sobre o mensalão que a Polícia Federal espera há mais de sete meses." A Polícia Federal informou, em setembro, que tentava, sem sucesso, ouvir o depoimento de Lula, como testemunha, em ação que investiga supostos repasses ilegais da Portugal Telecom para o PT.

A investigação foi aberta a pedido do Ministério Público Federal com base em denúncia do operador do mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza. Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República em 2012, conforme revelou o Estado na época, Marcos Valério acusou Lula de intermediar pagamento de R$ 7 milhões da telefônica ao partido para pagar dívidas de campanha.

'Não se pode perder a dignidade na política', diz Aécio sobre baixarias petistas

• Candidato tucano voltou neste sábado a convidar a presidente Dilma para um debate de ideias e propostas. Enquanto isso, Lula descia o nível dos ataques

Marcela Mattos - Veja

PORTO ALEGRE - Alvo da campanha de baixarias petista, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, voltou neste sábado a convidar a presidente Dilma Rousseff para um debate de ideias e propostas. Em visita a Porto Alegre, o tucano adotou discurso na contramão das apelações protagonizadas pelos adversários e clamou pelo fim do “ringue” na disputa ao Planalto. “Na política, ganhar ou perder as eleições faz parte do jogo. O que não se pode perder na política é a dignidade e a compostura”, afirmou.

Enquanto Aécio fazia o pronunciamento, um comício do diretório mineiro do PT em Belo Horizonte desfilava um repertório de ataques ainda piores do que os de que o próprio Lula foi alvo em 1989. Petistas reduziram ainda mais o nível da campanha e ofenderam o candidato tucano – foram pronunciados xingamentos como "coisa ruim", "cafajeste", "playboy mimado", "moleque" e "desprezível". Ao discursar, Lula insinuou que o adversário agride mulheres costumeiramente e o comparou a Collor. Em meio ao desfile de ofensas, chegou a afirmar que é Aécio quem “parte para cima”.

“Não adianta querer ganhar perdendo. O que os nossos adversários estão fazendo nessa campanha não os dignifica. Eu acho que essa postura já os faz derrotados antes sequer das urnas serem abertas”, afirmou Aécio. “As pessoas querem ouvir as soluções para a saúde, para a segurança pública e para fazermos um Brasil crescer, gerando melhores empregos. Mas eu vejo um governo à beira do desespero, uma candidata à beira de um ataque de nervos e, obviamente não tendo como apresentar ao Brasil uma proposta de futuro, prefere fazer uma campanha com os olhos no retrovisor”, disse. O candidato anunciou que vai ingressar com uma nova ação contra Dilma na Justiça Eleitoral - que tenta, ainda sem sucesso, conter o baixo nível da campanha.

Alianças - Com a bandeira da unificação, Aécio participou de ato multipartidário em Porto Alegre ao lado de representantes de siglas como o PMDB, o PP e o PSB. O tucano defendeu a tese de que não é mais um candidato do PSDB, mas sim representante daqueles que querem um novo governo, e sinalizou que, se eleito, pode convidar nomes dessas legendas para a formação de um “núcleo de governo”. “A minha proposta para o Brasil é absolutamente convergente com aquilo que Marina Silva propôs: no que depender de mim, a base do núcleo do futuro governo está aqui representada, com PSB, PP, PSDB e esse lado tão bom que o PMDB tem representado pelo Rio Grande do Sul.

Diferentemente da aliança nacional, o PMDB gaúcho é oposição a presidente Dilma Rousseff: começou as eleições apoiando Eduardo Campos e Marina Silva, candidatos pelo PSB, e no segundo turno se aliou a Aécio Neves. Na disputa local, o favorito para vencer as eleições contra Tarso Genro (PT) é o peemedebista Ivo Sartori, que tem espalhado pelas ruas fotos ao lado do tucano. “Aqui nós temos um conjunto de forças políticas para dizer que basta de tanto desgoverno e que vamos fazer uma grande parceria para uma gestão da generosidade, da união nacional, do fortalecimento da nossa economia e da geração de empregos”, afirmou Aécio.

Durante ato que lotou o ginásio da Escola de Samba Império da Zona Norte, uma das mais tradicionais do Estado, Aécio foi ungido por diversos parlamentares gaúchos – e ganhou de presente um chimarrão, o qual prontamente tomou no palco. Primeiro a falar, o vice de Marina Silva, Beto Albuquerque (PSB), afirmou que o Brasil não quer mais ser representado por nomes como Fernando Collor (PTB-AL), José Sarney (PMDB-AP) e Jader Barbalho (PMDB-PA) – todos aliados a presidente Dilma – e pediu votos a Aécio. “Eu e Marina fomos ofendidos, vilipendiados por essa turma que não tem mais argumentos para explicar a corrupção no Brasil. Hoje o Aécio não é mais o candidato de um partido ou de uma aliança. É candidato da maioria que quer mudar”, afirmou.

Um dos maiores ícones do PMDB, Pedro Simon também discursou: “Votar na presidente Dilma é uma interrogação cruel. Como ela vai governar se todos os nomes do seu partido estão envolvidos em corrupção?”, questionou. “O Aécio representa a última esperança de paz neste país”, disse.

A esperança contra o ódio - O Estado de S. Paulo / Editorial

Na reta final de uma eleição equilibrada, que vai definir os destinos do País, o mínimo de racionalidade indispensável a uma escolha criteriosa do próximo presidente da República está escoando pelo ralo. Para conquistar votos, candidatos devem ser capazes de falar, sempre honestamente, tanto à razão quanto à emoção dos eleitores. Mas pelo motivo óbvio de que programas de governo lidam com questões objetivas - problemas concretos - a emoção não se pode dissociar da razão na hora de se decidir o voto. Boas causas com dose maior de apelo emocional, como direitos humanos e justiça social, impõem-se porque são, por definição, racionalmente justas, não por serem emocionalmente defensáveis - e exigem soluções racionais.

O marketing, porém, tende a subverter os valores numa campanha eleitoral quando parte do princípio de que os fins justificam os meios. E essa subversão cresce na medida em que aumenta a falta de escrúpulos de candidatos e marqueteiros. Todos sabem o que Collor fez contra Lula na eleição de 1989. Os petistas aprenderam com aquele exemplo e o resultado é que nunca antes na história deste país, como agora, houve tanta apelação e baixaria numa eleição presidencial.

O que se viu no "debate" da quinta-feira no SBT foi deplorável. Por iniciativa de Dilma, o recurso marqueteiro da "desconstrução" do adversário foi reduzido ao mais baixo nível da odiosa demolição de caráter com ataques à honra pessoal do adversário e seus familiares. Não lhe restando opção senão responder à altura, Aécio teve a habilidosa precaução de pedir desculpas aos telespectadores por trazer à luz a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo, na Prefeitura de Belo Horizonte, onde recebia sem trabalhar. Faltam ainda dois "debates"!

Nenhum dos candidatos merece medalha de bom comportamento pelo que têm feito e dito nas entrevistas, nos palanques, na propaganda e nos debates. A candidata do PT, no entanto, fiel à convicção que Lula incutiu na mente da companheirada, de que valores éticos e morais são preconceitos "pequeno-burgueses", coisa de "udenistas" e de "babacas", deu carta branca para que seu marqueteiro fizesse "o diabo". E bota diabo nisso, porque a necessidade é premente.

Os petistas proclamam que têm uma proposta política "diferenciada", porque voltada para o interesse e as necessidades da população mais pobre. E por essa razão confrontam as "elites", que só pensam em dinheiro e em explorar os despossuídos. São, portanto, os petistas, gente "do bem", enquanto as elites congregam todos os que são "do mal". E aos paladinos do bem tudo é permitido.

Dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles", "bons e maus", "ricos e pobres", inspirada na lógica da luta de classes que ruiu com o Muro de Berlim, o lulopetismo se proclamou detentor do monopólio da virtude e da representação dos fracos e oprimidos. Desde que Lula subiu pela primeira vez no palanque dos metalúrgicos em Vila Euclides, ninguém mais no Brasil tem legitimidade para falar em nome dos trabalhadores.

O combustível dessa pretensa luta dos oprimidos contra os opressores comandada pelo PT é o ódio, ardilosamente insuflado com argumentos essencialmente emocionais. Lula ensina as pessoas a odiar porque... são odiadas. É, portanto, um ódio do bem, legítima defesa.

Lula sempre se esmerou em disseminar o ódio. E sempre teve esmerados aprendizes. Provou-o no momento de sua trajetória política em que vislumbrou pela primeira vez a possibilidade real de chegar ao poder, em 2002, e por conveniência eleitoreira travestiu-se, temporariamente, em "Lulinha paz e amor". Durou pouco, até o mensalão.

As agruras do mundo moderno oferecem motivos para que as pessoas se tornem cada vez mais agressivas no relacionamento social cotidiano. É o que se vê nas manifestações de rua, no trânsito, nos campos de futebol. O PT sabe, portanto, que a semente do ódio tem campo fértil para vicejar - e, assim, fez um projeto de poder sustentado na cizânia social.

Lula declarou em junho, quando a campanha eleitoral começava a esquentar: "Em 2002 lutamos para que a esperança vencesse o medo. Agora, é preciso que a esperança vença o ódio". Que assim seja.

No Rio, Aécio conversa com Romário em busca de apoio

• Aliança com senador eleito será anunciada nos próximos dias

Cássio Bruno – O Globo

RIO — O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, está perto de conquistar o apoio do deputado federal Romário (PSB), eleito senador com a marca recorde de 4,6 milhões de votos. Os dois conversaram neste sábado e vão anunciar a aliança para o segundo turno nos próximos dias. O ex-jogador é crítico ferrenho do governo da presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT.

Para fechar o acordo, Romário apresentou uma série de propostas a Aécio Neves. Entre elas, a criação de centros de referência de diagnósticos e de tratamento para pessoas com doenças raras e com deficiência física, e mais atenção ao esporte, principalmente ao futebol.

Apelos feitos também ao PMDB
As reivindicações foram as mesmas apresentadas por Romário ao governador Luiz Fernando Pezão, candidato do PMDB à reeleição, em troca de apoio, apesar de o deputado passar toda a campanha centrando ataques ao PMDB e ao ex-governador Sérgio Cabral. No primeiro turno, Romário pediu votos para o candidato derrotado do PT, Lindbergh Farias.

Aécio e Romário já vinham negociando há algumas semanas uma aproximação. O objetivo do tucano é conquistar os eleitores da ex-candidata do PSB Marina Silva nesta reta final de campanha. No estado, Marina ficou em segundo lugar no primeiro turno com 2.592.292 votos. Dilma chegou em primeiro, com 2.971.736. Aécio conquistou 2.249.662.

O PSB fluminense liberou os filiados a apoiarem quem quiserem, tanto para presidente como para governador. Após ser eleito, Romário expôs a crise dentro do partido e afirmou que não teve apoio da legenda na campanha. A aliança com Aécio ganhou mais força depois que Marina aderiu à campanha do tucano.

O candidato do PSDB esteve neste sábado em Porto Alegre, pela manhã, onde afirmou que, caso seja eleito, contará com um núcleo formado pelo PSDB, PSB, PP e pelo “lado bom” do PMDB.

"O baixo nível reflete a desqualifícação dos partidos"

Entrevista - Marco Aurélio Nogueira

• O cientista político diz que a radicalização se deve à crise do sistema partidário e à amplificação de um debate político cada vez mais pobre, feito nas redes sociais

- Revista Época

O cientista político Marco Aurélio Nogueira sentiu na pele a radicalização política destas eleições quando anunciou a seus 751 seguidores no Facebook o voto em Marina Silva (PSB) no primeiro turno. Ainda não fez as contas de quantos amigos perdeu ao tomar partido. "Ouvi mais elogios, mas muitos falaram: "Que decepção!"", diz. Professor de teoria política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele se prepara agora para perder mais amigos depois de ter assinado um manifesto de intelectuais que se identificam com o rótulo de "esquerda democrática", em apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB). Nogueira já militou no antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ainda se identifica como "eurocomunista".

ÉPOCA - Por que a polarização política chegou a nível de radicalização destas eleições?
Marco Aurélio Nogueira - É um fato inédito. Depois da ditadura para cá, a que se aproxima mais desta eleição foi a disputa entre Fernando Collor e Lula, em 1989, quando houve muita apelação. Agora, há uma diferença importante: a reverberação. As redes sociais são câmaras de eco que incrementam tudo o que se fala. O barulho de um alfinete se compara a um trovão. O baixo nível do debate também reflete a desquali-ficação dos partidos. Os partidos perderam a capacidade de orientar seus militantes. Não há orientação clara a respeito do que deve ser feito, especialmente quando se tenta pensar a política como um exercício que não é dedicado a destruir o adversário. A política tem uma face nobre. Quem tem condições de impulsionar a face nobre da política são os que estão bem colocados no jogo político: as grandes lideranças, os intelectuais, os partidos. Os partidos deveriam ser canais de agregação de lideranças e intelectuais que pudessem funcionar como educadores cívicos. Mas não atuam assim.

ÉPOCA - É pela falta de qualidade dos quadros políticos?
Nogueira - É devido mais à perda da capacidade de agregação dos quadros que aos quadros individualmente considerados. O ponto nevrálgico dessa discussão são os partidos
políticos, que podem fazer a mediação institucional e associativa. Quem pode organizar a qualidade da política não são os indivíduos. Os partidos precisam ser recriados. Os partidos continuam a ser símbolos que orientam as pessoas. Mas não conseguem mais funcionar como modeladores e organizadores da sociedade - como os partidos comunistas já foram no passado -, porque as pessoas não querem mais ser comandadas. Como eles se recriarão? Não sei. Mas não conseguirão dar esse salto para a frente na base da recuperação de qualquer mentalidade burocrática ou autoritária. Não basta uma direção de fibra de aço.

ÉPOCA - A crise dos partidos não é mundial?
Nogueira - Não é um problema exclusivamente brasileiro. Parte do problema tem a ver com nossa época, em que o eixo passou a ser a individualização, não a associação. Vemos isso naquela propaganda que diz: "O importante é ser você mesmo". Ou seja: vire-se. Faça o melhor da sua parte, que o resto acontecerá por extensão. Isso não é verdade. São necessárias mediações para produzir uma espécie de força coletiva que venha das diferentes individualidades. Ainda não conseguimos resolver bem isso no Brasil. Onde há grandes tradições associativas e maior vida comunitária, como nos Estados Unidos e na Europa, o problema é menor.

ÉPOCA - Após as jornadas de junho, o senhor disse que "nas redes sociais, não há debate democrático" e que, no Brasil, "o debate é movido pelo ódio, mais que pelo bom-senso e pela paixão cívica". Qual é a explicação para isso?
Nogueira - Quando você se comunica com alguém pelas redes, é movido pela explosão, não pela reflexão. Você escreve uma frase de 140 caracteres e aperta uma tecla. O debate político, vivido dessa maneira, fica irremediavelmente empobrecido. Pode-se dizer que isso representa o início de uma nova forma de fazê-lo. Reconheço que há grandes vantagens de rapidez, interação e troca de opiniões. É algo que ainda precisa ser assimilado. Talvez, fora de uma disputa eleitoral, isso ocorra com mais facilidade. Sou freqüentador das redes sociais e já tive boas discussões. Fora da eleição. Na eleição, é quase impossível. Nestas eleições, sob estas circunstâncias, é mais impossível ainda.

ÉPOCA - Quais serão os desdobramentos dessa polarização?
Nogueira - Não acho que o mundo acabará, mas também não vejo nenhuma conseqüência positiva. Um dos piores efeitos da polarização PT-PSDB foi forçar a sociedade a um tensionamento de A contra B, que não produz vida coletiva muito positiva. Além da polarização PT-PSDB, temos a polarização Nordeste-Sudeste, ricos contra pobres. Os partidos contribuíram para isso. Especialmente o PT, porque foi assim que ele se constituiu. Se apresentou sempre como o polo que regeneraria a sociedade pela ascensão dos explorados. O PT amadureceu sem completar o movimento, que seria propor-se a ser partido de toda a sociedade. O PT continua a se apresentar como o partido dos pobres. Inevitavelmente, isso transporta uma polarização social para a política.

ÉPOCA - Uma corrente de cientistas políticos vê a polarização PT-PSDB como positiva, porque organiza o sistema partidário, muito fragmentado. Qual sua opinião?
Nogueira - Se for para corrigir os excessos da fragmentação partidária, é bom que tenhamos uma confluência do sistema para dois polos. Mas isso não resolve o problema da qualidade da polarização. Se cada um dos polos não consegue apresentar aos espectadores o que os diferencia, não sei o que ganhamos com isso. A polarização PT-PSDB não deixou claro o que os diferencia, a não ser na base de uma certa apelação: "Nós somos os pobres, vocês são os ricos", "Nós somos keynesianos, vocês são neoliberais". Para mim, as visões entre PT e PSDB não são tão distintas assim, mas são apresentadas como se fossem completamente divergentes, numa simplificação da discussão substantiva. Onde está o busílis da questão econômica entre PT e PSDB? Na maior ou menor atribuição de peso à regulação estatal. Ao que me consta, o PSDB nunca foi inimigo visceral da regulação estatal. O PT acredita mais na regulação estatal, mas não impediu que o governo Lula continuasse e corrigisse a política econômica do PSDB. No passado, houve a expectativa de uma composição PT-PSDB. Como inimigos mortais puderam cogitar trabalhar juntos? Talvez porque a diferença entre eles não seja tão grande. Talvez porque ela tenha sido artificialmente amplificada.

ÉPOCA - Por que Marina não conseguiu quebrar a polarização?
Nogueira - Ela apanhou demais e não teve condições de fixar sua voz no cenário. Marina caiu do céu como candidata num dia de agosto e não teve tempo de se preparar. Quem tinha o discurso afinado era Eduardo Campos. Ele colocaria na mesa o debate sobre a nova política. E o faria do jeito Eduardo Campos. O jeito Marina é diferente: mais à esquerda, ambientalista, temperamental, com uma linguagem empolada, oscilante, fala uma coisa, depois corrige. Ela é parte integrante de um movimento - a Rede, os verdes, os ecologistas -, de um pessoal que não se cansa de discutir. As conferências de uma hora duram quatro! Eles não param! É um negócio perturbador! Eles procedem pelo consenso, mas um candidato tem de dar respostas num curtíssimo prazo. Marina lançou o programa num dia e, no dia seguinte, já tinha de corrigir. Se eu tentasse extrair da Marina a visão de nova política, perceberia também várias falhas, devido a uma visão um pouco romântica da política e a dificuldades de formulação. Não é verdade que a nova política seja feita pelos melhores. Isso é um papo bobo.

ÉPOCA - Dá para haver terceira via no Brasil?
Nogueira - Vale a pena perguntar se "terceira via" é o modo correto de pensar essa questão. A terceira via, como conceito, é o caminho entre o socialismo e o capitalismo. Podemos traduzir isso como um expediente para quebrar polarizações - uma terceira opção com o que há de melhor no polo A e no polo B. Isso é possível no Brasil. Poderia criar uma dinâmica política e social mais interessante. Mas não vejo a possibilidade desse terceiro polo mediante o surgimento de uma força que não está no cenário e caia do céu. Marina foi uma tentativa disso e mostrou que não tem viabilidade.

ÉPOCA - No primeiro turno, o senhor declarou voto em Marina pelo Facebook. Quantos amigos perdeu por isso?
Nogueira - Ainda não fiz essa conta. Quando você publica uma coisa assim, há dois tipos de manifestação. A grande maioria concorda com você. Faz isso porque é mais fácil, não quer atrito, gosta de você ou não tem tempo para desenvolver uma contestação. Ouvi muito mais elogios. Mas muitos falaram: "Que decepção!". Assinei um manifesto em favor de Aécio - e continuo de esquerda. O manifesto é de pessoas de esquerda que não são revolucionárias ou adeptas da luta de classes, mas formam uma esquerda democrática. Quantos amigos perderei? Se pegar o povo da universidade, a maioria é petista. Perderei muitos amigos, mas não tenho objeção a isso. A vida tem de ser calculada levando em conta as perdas e os ganhos (risos).

Merval Pereira - João ‘Bicho-Papão’ Santana

- O Globo

A “baixaria” da campanha eleitoral, que tecnicamente chama-se “propaganda negativa”, tem levado o marqueteiro oficial João Santana a ser comparado com Goebbels, o ministro da propaganda nazista, a quem se atribui a tese de que uma mentira repetida acaba virando verdade. Santana diz que trabalha não com mentiras, mas “com o imaginário da população, com produções simbólicas”.

Na verdade, essa maneira agressiva de utilizar a “propaganda negativa” para desconstruir os adversários tem um pioneiro na história política contemporânea, e não poderia deixar de ser um marqueteiro americano, pois nos Estados Unidos é onde se pratica a mais violenta propaganda política.

A história de Lee Atwater" está contada num filme chamado “O Bicho-Papão” (Boogie Man), apelido por que era conhecido, de que já tratei aqui na campanha eleitoral de 2008 que levou Barck Obama à presidência. Vale a pena rememorar. Como marqueteiro político era tão ligado aos republicanos que foi nomeado pelo então presidente George Bush pai para presidir o Partido Republicano, a primeira vez que um não-parlamentar ocupou o cargo.

Atwater chamou a atenção pela primeira vez em termos nacionais quando, aos 29 anos, teve papel importante na indicação de Ronald Reagan como candidato oficial do Partido Republicano em 1980 e depois na concepção de sua campanha, que teve início propositalmente na Filadélfia, lugar onde em 1963 foram assassinados três militantes dos direitos civis.

Durante o governo Reagan, Atwater trabalhou na Casa Branca e teve papel importante no escândalo Irã-Contras, organizando as manobras de marketing para livrar o presidente das acusações. Foi nesse período que se aproximou do então vice-presidente George Bush pai, de quem depois seria o principal assessor. Lee Atwater foi o primeiro assessor político a fazer pesquisas induzidas, e instintivamente entendeu que poderia incutir medo nos eleitores, explorando seus sentimentos patrióticos e religiosos.

Na sua primeira campanha, em 1978, curiosamente no partido democrata na Carolina do Sul, ele ajudou a derrotar Max Heller, um popular prefeito de Greenville, dando a vitória a Don Sprouse — que acusava Heller de, por ser judeu, não acreditar "no nosso senhor Jesus Cristo".

Foi a campanha de George Bush pai em 1988 que trouxe de vez a fama para Lee Atwater, começando pelas primárias, onde o primeiro a ser atacado foi o senador Bob Dole, acusado em propagandas de ser "O Senador Indefinido", mostrando-o como um político inconsistente, que mudava de opinião a toda hora. A tal ponto que, em um debate, perguntado pelo moderador Tom Brokaw se tinha algo a dizer a seu adversário, respondeu rispidamente: "Pare de mentir a respeito de minha história".

A campanha negativa marcou a marcha de George Bush para a Casa Branca, e a propaganda até hoje lembrada como uma das mais sujas da história política americana foi sobre o prisioneiro Willie Horton, condenado à prisão perpétua por assassinato, que saiu da cadeia dentro de um programa social implantado em Massachusetts pelo governador Michael Dukakis, praticou um assalto e estuprou uma mulher.

O candidato democrata, que tinha uma ampla vantagem, acabou sendo batido por Bush. O programa social tão criticado por Bush havia sido implantado pela primeira vez na Califórnia pelo então governador Ronald Reagan, mas os democratas não souberam responder ao ataque.

Durante essa campanha, Atwater ficou amigo da família Bush, especialmente do filho George W. Bush, e foi dele a idéia de fazê-lo candidato ao governo do Texas. Morreu em 1991, sem ter tempo de ver sua invenção chegar à presidência dos Estados Unidos. Durante o período em que esteve doente antes de morrer Atwatter ainda teve tempo de se arrepender de seus métodos, deu entrevistas e enviou cartas a diversos políticos, cujas reputações arruinara, pedindo desculpas.

Correção
Na coluna de ontem escrevi a certa altura " enfrentar de frente",
um pleonasmo que corrigi no blog e pelo qual me desculpo com os leitores.

Dora Kramer - A volta do cipó

- O Estado de S. Paulo

Desde o início estávamos todos devidamente avisados de que o bicho iria "pegar", mas pelo visto não suficientemente preparados para o quanto os candidatos seriam capazes de fazer "o diabo" na disputa pela Presidência da República.

Causou espanto o grau de agressividade entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves nos dois primeiros debates da campanha do segundo turno, notadamente o embate de quinta-feira transmitido pelo SBT. Surpresa até certo ponto injustificada, pois a guerra de extermínio estava anunciada.

O tom da sinfonia também já havia sido dado pelo PT no primeiro turno, quando Marina Silva apresentou-se como uma ameaça concreta. Aquele comercial dos banqueiros celebrando a falta de comida no prato do brasileiro já indicava que não haveria limite nem nada parecido com a prometida "campanha propositiva".

Marina sucumbiu. À força dos ataques, mas também devido às próprias fragilidades. Como a campanha do PT se concentrou na destruição da adversária mais perigosa, o tucano foi poupado e conseguiu atrair o eleitorado de oposição. A fim de não ter o mesmo destino da antecessora no ringue, Aécio precisava entrar no segundo turno preparado para enfrentar a artilharia pesada.

Até porque o PSDB vinha sendo freguês do PT desde 2002. Nas sucessivas vezes em que o mineiro insinuava intenção de ser candidato, e mesmo agora, os petistas sempre disseram que seria muito fácil derrotá-lo. Espalhavam versões de todo tipo, envolvendo a existência de material supostamente explosivo nunca exibido.

Os tucanos sabiam que o adversário atacaria com mão pesada. Não foram, portanto, pegos de surpresa. O dado surpreendente e que parece ser a causa de tanto espanto é a reação do PSDB, um combatente sempre moderado. Um partido de oposição criticado por excesso de condescendência no exercício da atividade.

Aécio Neves hoje só não é mais conhecido do público porque não teve a atuação de líder oposicionista que dele se esperava quando deixou o governo de Minas Gerais para assumir uma cadeira no Senado. Ficou ali naquele trabalho de bastidor sem importunar o governo. A "pegada" da oposição nesses anos foi reconhecidamente leve.

Assim o PT estava acostumado a ser tratado. Batendo com ferro, na ofensiva, só ficando na defensiva quando lhe interessava o papel de vítima. Uma exceção apenas: na eleição de 1989, quando o então candidato Luiz Inácio da Silva ficou acuado pelos ataques antiéticos e brutais do oponente Fernando Collor, hoje seu aliado.

De onde o elemento surpresa desse segundo turno é o revide dos tucanos, que nos últimos 12 anos aceitaram apanhar praticamente calados. Viram o PT se apropriar dos feitos dos governos Fernando Henrique Cardoso sem saber direito como se defender.

Nas campanhas presidenciais subsequentes a oposição deixou o PT nadar de braçada, sem aproveitar seus flancos objetivamente. Do ponto de vista da luta política o PSDB foi inexplicavelmente delicado na época do escândalo do mensalão, ao atender à solicitação do advogado Márcio Thomaz Bastos para deixar passar em branco a denúncia do publicitário Duda Mendonça de que recebera dinheiro de caixa dois na campanha de Lula em 2002.

Os tucanos foram tão ingênuos na campanha de 2010. Agora estão dispostos a vestir a roupa de briga e ir para o meio da rua invocando Geraldo Vandré na volta do cipó de aroeira, pedindo o castigo "no lombo de quem mandou dar".

A quem interessa. A campanha da presidente Dilma não tem razão para comemorar a confissão de Paulo Roberto Costa de que pagou propina ao tucano Sergio Guerra para esvaziar uma CPI da Petrobrás em 2009. Afinal, atuava a serviço do governo.

Eliane Cantanhêde - Marina

- Folha de S. Paulo

Marina sonhou salvar o mundo com Chico Mendes, mudar o Brasil com o PT, virar presidente pelo PV, criar a Rede e, enfim, engrossar o desejo de mudança na chapa de Eduardo Campos. Uma sonhática que vive da esperança.

Em 2010, Marina ficou neutra no segundo turno. Em 2014, sem poder e querer apoiar a algoz Dilma, ficou diante de nova neutralidade ou o apoio a Aécio. Optou pela frente de todos os candidatos do primeiro turno --exceto Luciana Genro (PSOL)-- a favor da mudança com o tucano.

Apoiar um dos lados não foi uma decisão fácil, já que o projeto da Rede foi construído com o discurso da terceira via, da alternativa à polarização entre PSDB e PT, não mais apenas cansativa, agora sangrenta.

Mas não seria simples também repetir a neutralidade de 2010. O momento é outro e todas as pesquisas indicavam que a maior parte do eleitorado de Marina deslizaria naturalmente para Aécio, independentemente de acertos partidários. E mais: a maioria do PSB e das lideranças consolidadas da Rede optavam claramente pelo tucano.

A cúpula do PSB não deixou margem de dúvida: 21 a favor de Aécio, sete pela neutralidade, um por Dilma. Posição consolidada pelas viúvas de Eduardo Campos e do mítico Miguel Arraes e seguida pelo partido em 23 das 27 unidades da Federação. Ficaram de fora: Bahia, onde não há segundo turno para o governo, Paraíba, Acre e Amapá. Não é um racha maior do que o que existe, por exemplo, no PMDB.

Na Rede, que não é um partido, mas, sim, um movimento, é natural e até saudável que os mais puristas tenham se rebelado contra a decisão de Marina. Rebeldias assim alimentam a utopia, mantêm nutridos os utópicos. Mas Walter Feldman, Neca Setubal, Capobianco... sabem que, na vida real, só se avança negociando, compondo, optando.

Sorte de Aécio. Mais do que votos, Marina Silva agrega valor.

Luiz Carlos Azedo - Entre o passado e o futuro

• Os discursos de Aécio e de Dilma evocam o debate entre Juscelino e Brizola antes do golpe de 1964

- Correio Braziliense

As raízes do debate protagonizado neste segundo turno pela presidente Dilma Rousseff, que pleiteia a reeleição, e o candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB), parecem fincadas na década de 1960, às vésperas do golpe militar de 1964. Não é à toa que surgem tantas referências a personagens daquela época, como Carlos Lacerda e João Goulart, Leonel Brizola e Juscelino Kubitschek.

À época, o debate foi interditado pelo regime militar. Para usar uma expressão do filósofo alemão Jürgen Habermas, foi “congelado” por 20 anos, mas continua vivíssimo, 50 anos depois. Foi assim também como a história das nações europeias anterior à Segunda Guerra Mundial, que somente foi “descongelada” pela queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética. Ainda hoje as fronteiras traçadas pela Conferência de Yalta estão sendo redesenhadas.

Consagrado pela importância que atribuiu à comunicação no capitalismo contemporâneo ou “tardio”, Habermas comparou a Europa do fim da “Guerra Fria” a uma fotografia — como aquela de Roosevelt, Stálin e Churchill em fevereiro de 1945, na Criméia — que foi “descongelada” e virou um filme de longa metragem, como se a história anterior à guerra fosse retomada de onde foi interrompida. “Ninguém me convence de que o socialismo de estado seja do ponto de vista da evolução social, ‘mais avançado’ ou ‘mais progressista’ do que o capitalismo tardio. (...) são senão variantes de uma mesma formação societária… Temos tanto no Leste como no Oeste modernas sociedades de classe, diferenciadas em Estado e Economia”, disse Habermas (Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1989).

À la Tarantino
Há um gênero literário que consiste em reescrever determinado evento, cujo desfecho alternativo poderia ter mudado o curso da história. Os franceses chamam isso de événements: uma ligação nova entre o passado e o futuro, como aquela sacada de Quentin Tarantino quando mata Hitler, o ditador alemão, em pleno cinema, no filme Bastardos Inglórios.

Voltemos ao fio da meada. Caso o golpe militar de 1964 não ocorresse, teríamos eleições presidenciais em 3 de outubro de 1965, com pelo menos três possíveis candidatos: o ex-presidente Juscelino Kubitschek, cuja candidatura havia sido lançada pelo PSD; o governador carioca Carlos Lacerda, o líder da oposição, candidato da UDN; e João Goulart, o presidente da República que assumira o mandato com a renúncia de Jânio Quadros, líder do PTB.

É o que o líder comunista Luiz Carlos Prestes articulava a reeleição de Jango, que julgava melhor opção do que Leonel Brizola, cuja candidatura pelo PTB era legalmente contestada, porque era casado com a irmã do presidente da República, Neuza Goulart. Essas articulações foram reveladas por Prestes ao líder soviético Nikita Kruschev, na presença de outro dirigente do antigo PCB, Orestes Timbaúva.

Trabalhistas e comunistas consideravam Juscelino quase imbatível, mas não desejavam sua volta ao poder. Na Presidência, JK havia construído hidrelétricas, estradas; promovera a industrialização e a modernização da economia. Construíra Brasília, a nova capital federal. Mesmo assim, era considerado conservador e “entreguista” pela esquerda brasileira, que desejava um governo antiamericano e estatizante, que fizesse as reformas de base, principalmente a agrária — se preciso, “na lei ou na marra”.

Em plena “Guerra Fria”, o outro lado, porém, já era mais forte, por causa da inflação, da corrupção no governo e do isolamento político de Jango. Carlos Lacerda e outros líderes da UDN conspiravam com os militares para evitar que Goulart comandasse as eleições, como candidato à reeleição, ou mesmo apoiando Brizola. O “dispositivo militar” de Jango era uma ficção. Alguns chefes militares queriam tomar o poder desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Com a radicalização política, deram o golpe com amplo apoio da classe média.

Juscelino chegou a se iludir com a manutenção do calendário eleitoral, mas foi cassado pelo marechal Castelo Branco, que assumira a Presidência e sustou o pleito. Em 1966, no exílio, ainda tentou organizar a “Frente Ampla” pela redemocratização do país, junto com Carlos Lacerda e João Goulart. O movimento foi proscrito pelos militares. Nenhum dos três políticos viveu o suficiente para o ver o país de volta à democracia. Uma parte da esquerda aderiu à luta armada, outra se uniu aos liberais no antigo MDB para lutar pela anistia, as diretas já e a Constituinte. O resto da história é conhecida.

Nessa eleição, curiosamente, os discursos de Aécio e Dilma evocam o debate entre Juscelino e Brizola antes do golpe. Felizmente a história não se repete — nem como farsa, nem como tragédia. Não há nenhum Carlos Lacerda nem generais golpistas. Mas há, novamente, uma escolha sobre o futuro. E desta vez a decisão será no voto!

João Bosco Rabello - Voto de cabresto oficial

- O Estado de S. Paulo

A primeira pauta pós-eleições será necessariamente a Petrobrás, diante da perspectiva da publicidade da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, cujos vazamentos parciais indicam um escândalo político sem precedentes.

Juntados esses vazamentos, que incluem nomes expressivos do quadro partidário brasileiro, com o depoimento de Costa não submetido ao segredo de justiça, tem-se um duto de recursos públicos desviados para irrigar campanhas e políticos de PT,PMDB e PP, o que pode alcançar as campanhas da presidente Dilma de 2010 e a atual, ainda que à revelia da candidata.

É um quadro que seria avassalador para qualquer governo em campanha pela reeleição, dado que o tempo de mandato do PT soma 12 anos, dando-lhe o monopólio dessa gestão marginal em favor do partido e de aliados. Com um tesoureiro cumprindo pena pelo mensalão, o partido já tem o segundo na mira da justiça.

O que diferencia o esquema sob investigação de outros ao longo da história política nacional é a sua característica sistêmica, como pilar de um processo de sustentação política de um projeto de permanência no poder, abrangendo três grandes partidos da base governista.

A recente informação de que a Petrobrás poderá sofrer sanções nos Estados Unidos, onde a legislação prevê consequencias mesmo para empresas estrangeiras lá sediadas, estende as investigações ao plano internacional, um sólido sinal de consistencia do conteúdo da delação do ex-diretor da estatal no Brasil.

Tal cenário leva a outra questão: como o governo, em condições tão adversas que inclui ainda a economia em recessão técnica e alta rejeição da candidata, pode alcançar índice próximo a 50% na disputa e aponto de torná-la tão acirrada?

Aqui entra o dado essencial: o bolsa família. O programa dá ao PT o conforto de um patamar de largada eleitoral de 34,6% em qualquer eleição. São 13.738.798 famílias beneficiadas, estimando-se 1,6 eleitor por cada uma, e considerando-se que 85% dos beneficiários votam com o governo, tem-se aí 14,9 milhões dos 43,3 milhões de votos obtidos por Dilma no primeiro turno, já subtraídas as abstenções totais.

É o maior voto de cabresto de que se tem notícia e que explica a falsa conotação ideológica no confronto sul-sudeste versus nordeste, que o PT explora como a luta entre ricos e pobres, a partir do monopólio do programa que se tornou arrimo eleitoral do partido.

Por isso, a oposição considera indispensável que já no próximo ano seja feita uma reforma conceitual no programa Bolsa Família, de maneira que ele se torne uma ação de Estado e não de governo, via emenda constitucional.

Ferreira Gullar - Entre a promessa e a propina

• Paremos para pensar: Paulo Roberto Costa só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Faltando sete dias para que decidamos, com nosso voto na urna, quem governará o país, parece-me necessário nos lembrarmos de que nem sempre o nosso interesse pessoal imediato corresponde ao interesse da sociedade.

E que, por isso mesmo, muitas vezes, ao votarmos só pensando em nosso interesse próprio, votamos contra nós mesmos.

É exatamente desse equívoco que se valem os políticos espertos, que visam o poder pelo poder. A nós, cidadãos, cabe distinguir entre esse tipo de político e o outro, imbuído de espírito público, que deve merecer nosso voto.

Entendo que nem sempre é fácil perceber, no que dizem os candidatos, o que é sincero e o que corresponde a intenções honestas do que é mera embromação. Mas não é impossível, desde que avaliemos, com objetividade, as promessas que fazem, se o que prometem é factível, como têm atuado e quais são os seus aliados.

Dá trabalho, mas compensa, porque só assim se evita que mais vigaristas se tornem legisladores ou governantes.

Esse cuidado, infelizmente, não tem estado presente na escolha que os eleitores fazem dos candidatos. A prova disso está no que a imprensa tem divulgado e que, por incrível que pareça, ainda nos espanta.

Um jornal publicou recentemente a seguinte notícia: quase metade dos candidatos mais votados nestas eleições de agora estão sob investigação policial.

A reportagem informava que 40 dos 108 deputados federais mais votados e senadores eleitos para a próxima legislatura estão sendo investigados pela polícia ou pelo Ministério Público.

As acusações vão desde o desvio de recursos públicos e improbidade administrativa a crime de tortura e falsidade ideológica. Entre os suspeitos, estão ex-governadores, ex-ministros, parlamentares reeleitos e que foram eleitos pela primeira vez.

Todos eles, portanto, detentores de mandatos populares para fazer leis que pautarão a vida de todos nós. E isso, muito embora exista a Lei da Ficha Limpa, que pretende impedir a eleição desse tipo de políticos.

O que se pode esperar de pessoas como essas, transgressoras das leis e dos princípios éticos?

São personagens como esses que se valem da autoridade que lhes foi delegada para infiltrar-se nas empresas estatais e nos ministérios e usá-los em proveito próprio e dos partidos a que pertençam.

É o caso espantoso do que ocorreu na Petrobras e que, a cada dia, escandaliza mais a nação. Às revelações envolvendo figuras e partidos do governo, a presidente da República alegou não poder levar em conta acusações sem prova.

Por sua vez, o PT, principal implicado, tratou de qualificar as denúncias de calúnias.

Paremos para pensar. Essas acusações foram feitas por Paulo Roberto Costa, como delação premiada, que só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade.

Se não for, ele não ganhará nada com isso, a não ser, para o resto da vida, o ódio daqueles que acusou injustamente. Para fazer isso, o cara, além de corrupto, teria que ser débil mental.

Sucede que, depois daquelas denúncias, foi divulgado um vídeo em que Paulo Roberto confirma o que foi divulgado antes, acrescentando que as propinas eram de 3% do valor dos contratos firmados entre as empreiteiras e a Petrobras, o que montava a muitos milhões de reais, dinheiro esse que era dividido entre PT, PMDB e PP.

O PT ficava com a maior parte (2%), que era entregue a João Vaccari Neto, tesoureiro do partido. Esse dinheiro, em 2010, financiou a campanha eleitoral do partido, cuja candidata à Presidência da República era Dilma Rousseff.

Sem mais poder negar a procedência das acusações, Dilma passou a afirmar que é graças a ela que a Polícia Federal tem combatido a corrupção, embora seja essa função da polícia que, para exercê-la, não necessita da permissão de ninguém.

Como se não bastasse, passou ela a pôr em dúvida a isenção da Justiça do Paraná, que apura os escândalos da Petrobras.

A Associação de Juízes Federais contestou a acusação de Dilma e a Procuradoria Geral da República, no Paraná, afirmou em nota oficial que a atuação da Polícia Federal e do Judiciário é "estritamente técnica, imparcial e apartidária".