Valor Econômico / Eu & Fim de Semana
Não há chances de se montar um governo num
país multipartidário e complexo socialmente sem a distribuição de poder e
recursos entre aliados
Após a avalanche bolsonarista contra a
democracia e o sistema político montados pela Constituição de 1988, o próximo
governante terá uma enorme tarefa de reconstrução das instituições e das políticas
públicas. Mesmo com milhões de votos, nenhum presidente conseguirá governar sob
os escombros do bolsonarismo de forma voluntarista e personalista. No entanto,
um dos pontos de preocupação para o próximo período é como retirar o poder
excessivo dado ao Centrão liderado por Arthur Lira, especialmente mudando o
modelo orçamentário controlado por esse grupo. A necessidade de construir
alianças amplas sem repetir o padrão predatório atual só tem uma saída:
reconstruir o conceito de coalizão.
O termo presidencialismo de coalizão é, ao
mesmo tempo, tomado como algo constante, mas que geralmente recebe uma dupla
interpretação. Os seus críticos dizem que ele é a origem de todos os males da
corrupção. Embora em diversas ocasiões a necessidade de se construir maiorias
parlamentares tenha sido alimentada por recursos escusos, isso não é uma lei de
ferro.
A distribuição de ministérios e a divisão orçamentária conforme o apoio recebido são peças-chave que podem até gerar, em determinadas circunstâncias, erros de políticas públicas, porém não são, intrinsecamente, mecanismos corruptos de governança.