- O Globo
Colocar um general comandando o Ministério da Saúde durante uma epidemia foi um erro grosseiro
O deputado Jair Bolsonaro passou 30 anos no Congresso convivendo com o que havia de pior no baixo clero. Seus interlocutores foram parlamentares como ele próprio, gente sem brilho, sem ideias, sem projetos, sem protagonismo. Quando se elegeu presidente num descuido da história, se deu conta de que não iria encontrar naquela turma quadros de bom nível para ocupar as importantes funções públicas que se descortinariam com a sua posse. Onde insistiu com gente da patota, se deu mal. Como é o caso da ministra Damares Alves, ex-assessora do ex-senador Magno Malta.
Conseguiu juntar alguns nomes razoáveis, como os ministros da Agricultura, Teresa Cristina, e da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, porque ouviu conselhos de gente ajuizada. Na Economia encontrou um técnico que faria qualquer coisa para ser ministro. Paulo Guedes ainda ganhou com a ignorância do chefe nos assuntos da sua área, e virou um Posto Ipiranga com muito gosto. Mas a maioria do seu primeiro escalão foi formada por apoiadores ideológicos, puxa-sacos ou militares. Estes últimos ganharam relevo e cada vez mais espaço na medida em que Bolsonaro ia se desvencilhando de civis por ciúmes ou porque não obedeciam às suas ordens absurdas.
O presidente julgou que os militares formavam a sua verdadeira turma. E inflou seu ministério com generais. Foi com tanta sede ao pote da caserna que acabou nomeando generais da ativa, um óbvio equívoco. Mais grave, contudo, foi o fato de as Forças Armadas concordarem com o engano. O primeiro general da ativa instalado no governo, Luiz Eduardo Ramos, ocupou uma função burocrática na Secretaria Geral da Presidência da República, uma espécie de ajudante de ordens de luxo de Bolsonaro, mas ainda assim acabou pedindo transferência para a reserva. O segundo foi pior do que um escândalo. Colocar um general comandando o Ministério da Saúde durante uma epidemia foi um erro grosseiro.