Novos
mandatários dos 95 municípios brasileiros com mais de 200 mil eleitores já
debatem apoios ou buscam cacifar o próprio nome para a eleição de governador
daqui a dois anos
Bernardo
Mello / O Globo
RIO
— Encerrado o ciclo das eleições municipais, cujo marco final é a posse dos
novos prefeitos, hoje, a reorganização das forças políticas locais já aponta
para as alianças estaduais que poderão ser formadas em 2022. A análise dos 95
municípios brasileiros com mais de 200 mil eleitores, grupo de cidades que
inclui capitais e centros regionais com peso político, mostra que os novos mandatários
já debatem apoios ou buscam cacifar o próprio nome para a eleição de governador
daqui a dois anos.
Em
estados como Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, vitórias nas grandes cidades
deram fôlego a adversários dos atuais governadores — respectivamente, Romeu
Zema (Novo), Rui Costa (PT) e Paulo Câmara (PSB). No Rio e em São Paulo, os
resultados evidenciam a necessidade de jogo de cintura do atual governante para
formar palanques nos municípios até o próximo pleito.
Uma
das poucas exceções de reveses de governadores foi o Paraná, onde Ratinho
Júnior (PSD) colheu saldo positivo com vitórias de aliados em Curitiba, com
Rafael Greca (DEM), além de Maringá, Ponta Grossa e Cascavel.
PSDB
pressiona Doria
Em
São Paulo, estado que reúne quase um terço (28) das grandes cidades
brasileiras, o governador João Doria (PSDB) viu uma redução de sua influência
nas áreas de maior densidade eleitoral — o PSDB venceu em dez dessas cidades,
quatro a menos do que em 2016. Embora membros do partido apontem que Doria tem
“o poder da caneta”, o que tende a facilitar a reunião de apoios para lançar o
vice Rodrigo Garcia (DEM) como candidato à sucessão, uma ala do partido deseja
um tucano como cabeça de chapa e procura abrir caminho para o ex-governador
Geraldo Alckmin. O prefeito reeleito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, que
foi secretário de Agricultura e Transporte nas gestões de Alckmin, é um dos que
defendem a candidatura própria.
Outro
ex-governador, Márcio França (PSB), provável candidato em 2022, também busca
arregimentar apoios de prefeitos críticos a Doria. Apesar de o PSB só ter
vencido uma das grandes cidades — Guarujá, onde o prefeito reeleito, Valter
Suman, é adversário declarado de Doria —, França tem boa relação com prefeitos
que enfrentaram oposição do PSDB neste ano, como Dario Saadi (Republicanos),
eleito em Campinas, e Guti (PSD), reeleito em Guarulhos. Ambos atacaram Doria
por conta de medidas restritivas durante a pandemia, uma reclamação
compartilhada até por prefeitos próximos ao governador, como Orlando Morando
(PSDB), reeleito em São Bernardo do Campo.
No
Rio, o governador Cláudio Castro (PSC), que assumiu após o afastamento de
Wilson Witzel, busca se aproximar de prefeitos de olho no cenário de 2022. Com
uma provável mudança de partido, mas ainda sem destino definido, Castro fez
acenos a prefeitos eleitos, como Eduardo Paes (DEM) no Rio e Wladimir Garotinho
(PSD) em Campos, e ao reeleito Washington Reis (MDB), em Duque de Caxias — que
deseja concorrer ao Palácio Guanabara. Assim como Castro, Reis mantém diálogo
com diferentes grupos, como o do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o
do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ainda não projetaram um
nome para disputar o governo.