sexta-feira, 2 de junho de 2023

Vera Magalhães - Pacheco vai matar tudo no peito?

O Globo

Presidente do Senado topa correr com MP, engavetar marco temporal e votar Zanin para o STF, mas com qual expectativa?

Diante da humilhação pública imposta por Arthur Lira a Lula na votação da Medida Provisória da estrutura do governo, a rapidez e a facilidade com que a proposta tramitou no Senado transformou Rodrigo Pacheco numa espécie de salvador da pátria do governo.

Não foi só na votação da MP que Pacheco levou alívio a um governo que estava nas cordas na Casa vizinha. Ele também confirmou a expectativa de que o Projeto de Lei que estabelece o marco temporal para demarcação de terras indígenas não correrá no Senado como na Câmara. E listou outras propostas que retiravam direitos dos povos originários que não prosperaram com os senadores.

Por fim, tudo leva a crer que a indicação de Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal, enfim confirmada para surpresa de ninguém, será aprovada com agilidade e tranquilidade na Casa, sem o sufoco que Davi Alcolumbre impôs ao último nomeado para a Corte, André Mendonça.

O que explica a boa vontade de Pacheco com Lula, que destoa de maneira tão explícita do jogo bruto de Lira? E, principalmente: será possível esperar que o presidente do Senado mate no peito todas as bolas quadradas do governo?

Bernardo Mello Franco - Lira fabricou crise para manter governo como refém

O Globo

Chefão da Câmara alegou "insatisfação generalizada" e ameaçou implodir ministérios de Lula

Já era noite de quarta-feira quando Arthur Lira desceu do carro oficial na chapelaria do Congresso. A sessão havia sido aberta antes das dez da manhã, mas os deputados dependiam da chegada do chefão da Câmara.

Cercado por microfones, ele informou que havia uma “insatisfação generalizada” com o Planalto. Em seguida, ameaçou não votar a Medida Provisória que reestruturou o governo. “Não é uma matéria de vida ou morte para o país”, desdenhou.

Se a MP não fosse aprovada até ontem, a equipe de Lula seria dissolvida. Dezessete ministérios desapareceriam da noite para o dia. A Esplanada voltaria ao formato deixado por Jair Bolsonaro, que perdeu a eleição.

Pastas como Cultura e Povos Indígenas, prometidas na campanha, simplesmente deixariam de existir. “Se der certo, parabéns”, ironizou Lira, antes de dar as costas aos repórteres e entrar no elevador privativo.

O pupilo de Eduardo Cunha levou o clima de chantagem até o limite. Forçou o presidente a pedir arrego e abrir os cofres para o Centrão. Só na terça, o Planalto liberou R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares. Mesmo assim, suou frio até o fim da votação, que invadiu a madrugada de quinta-feira. “Foi doído, foi doloroso”, admitiria o líder do governo, José Guimarães.

Flávia Oliveira - Sob ataque, de novo

O Globo

Partidos e parlamentares vão precisar aprender que política se faz com diálogo, negociação e até barganha, nunca com ameaça, emparedamento e golpismo

Teve de um tudo na série de episódios que, pela segunda vez em um semestre, ameaçaram o funcionamento do governo eleito para livrar a democracia da extrema direita golpista. Articulação política capenga, coalizão inconsistente, Legislativo guloso, oposição articulada foram os ingredientes que, cozidos em fogo amigo, deram numa quarta-feira, 31 de maio, quase tão dramática quanto o domingo 8 de janeiro, de preocupante memória.

Não é exclusivo do Brasil o ambiente político polarizado, movido a solavancos. Mundo afora, candidatos ao Executivo vitoriosos nas urnas esbarram em parlamentares e opositores empenhados em impor à governabilidade testes de estresse permanentes. Aconteceu no Chile do presidente Gabriel Boric, na França de Emmanuel Macron, na Espanha de Pedro Sánchez. Nos Estados Unidos de Joe Biden, só anteontem presidente e Congresso fecharam o acordo para aumentar a dívida e livrar o setor público da paralisação por falta de recursos. Na Colômbia, Gustavo Petro despachou o gabinete construído em aliança e recompôs seu ministério com aliados de esquerda, em resposta à resistência de partidos da base a reformas propostas pelo Executivo.

Luiz Carlos Azedo - Governo Lula pode avançar na questão ambiental

Correio Braziliense

Lula não apresentou ainda um programa de transição para a economia verde, potencial existente no país; pelo contrário, ressaltou a subordinação da questão ambiental ao imediatismo econômico

Um dos pais da democracia norte-americana, Alexander Hamilton dizia: “A maior parte dos homens que subverteram a liberdade das repúblicas começaram sua carreira cortejando servilmente o povo; começaram como demagogos e terminaram como tiranos”. A frase emblemática frequenta a nossa crônica política desde os primórdios da República e serve de advertência toda vez que um governante coloca a questão democrática em segundo plano e flerta com um apelo às massas para alcançar seus objetivos. No caso brasileiro, desde a Proclamação da República, todos que enveredaram por esse caminho fracassam. O mais bem-sucedido, Getúlio Vargas, tirou a própria vida, no Palácio do Catete, em 1954, para não ser deposto.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é o exemplo pronto e acabado do demagogo que virou ditador na América do Sul. A recepção que lhe foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao relativizar as violações de direitos humanos e a falta de democracia no país vizinho, transformou-o em espelho do que poderia vir a ser o rumo político de Lula, não fosse o Brasil um país com instituições republicanas bem mais sólidas do que as da Venezuela. Lula não pode fazer o que quer, quando quer e como quer, as contingências o impedem.

Reinaldo Azevedo - Lula entre a vontade e o melhor possível

Folha de S. Paulo

Se tudo der errado, morremos todos: o asno, o rei e eu

Entendo, lendo isso e aquilo, que o governo Lula já acabou, afundado em irresoluções. E todos os desaires derivariam de atitudes erradas do presidente. Li há pouco um troço que sugere haver traços de senilidade nas suas atitudes. Espantoso, mas não surpreendente. Discordo, sim, e torço para estar certo, não por vaidade intelectual. É que, do contrário, não vislumbro um futuro muito alvissareiro para o país. Até porque, convenham, como num poema de Jacques Prévert, "o asno, o rei e eu/ Estaremos mortos amanhã".

"Os homens fazem a sua própria história rigorosamente como querem, segundo circunstâncias que são de sua escolha. O passado é irrelevante. As tradições de todas as gerações mortas fenecem com elas e, uma vez também defuntas, libertam o cérebro dos vivos". Uma ferramenta qualquer de inteligência artificial, fazendo jus à burrice natural destes tempos, poderia reescrever assim um trecho de "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", de Karl Marx. Nesta minha primeira coluna de junho, nos 10 anos daquele 2013 do florescer dos porras-loucas, mal posso conter a tentação de fazer aqui o elogio da pura vontade contra as fronteiras do real. Tempos difíceis. Faço soar o alerta de ironia?

Hélio Schwartsman - Atropelado pela realidade

Folha de S. Paulo

Meu receio é que petista já pense ser um Mandela, embora esteja mais para Itamar

Depois de dar confortável vitória ao governo na votação do arcabouço fiscalArthur Lira e seu centrão mostraram quem de fato manda no país. Impuseram à administração Lula uma série de derrotas, algumas delas particularmente humilhantes. A pauta ambiental, que a esquerda queria transformar em cartão de visita da gestão, foi a maior vítima.

Daí não decorre que o mandato de Lula esteja irremediavelmente perdido. O centrão está fazendo o que sempre fez, que é criar dificuldades para delas extrair benefícios. Funciona. Só na quarta-feira (31) foi liberado R$ 1,7 bilhão em emendas individuais. E Lira e aliados já cobram mudanças em ministérios. O governo se divide entre tentar transformar o STF numa terceira casa do Legislativo, o que seria fonte de desgaste institucional, e aquiescer às demandas do centrão. O mais provável é que ceda.

Bruno Boghossian - A corda mudou de pescoço

Folha de S. Paulo

Os dois parecem se reconhecer como políticos que cumprem acordos, mas também como ameaças

Polícia Federal amanheceu na porta de um auxiliar de Arthur Lira nesta quinta-feira (1º). A operação mirava uma suspeita de desvio de dinheiro público com verba de emendas parlamentares. Horas mais tarde, ainda antes do almoço, o deputado chamou o ministro da Justiça à residência oficial da presidência da Câmara para uma conversa.

Não é preciso saber o que foi dito no encontro para medir a tensão que a operação acrescenta à convivência de Lira com o governo. Aliados do presidente da Câmara tratam o momento da batida como uma armação do governo, que controla a PF. Já Flávio Dino só foi à casa do deputado porque precisava amortecer o risco que essa convicção representa.

Vinicius Torres Freire - O PIB que mora na rua, cata lixo e pede dinheiro no trânsito

Folha de S. Paulo

Economia cresceu bem, mas consumo, investimento produtivo e emprego fraquejam

Quem anda pelos bairros ricos e remediados de São Paulo pode ter notado que diminuiu o número de pessoas largadas nas ruas, acampadas em calçadas, catando o que comer no lixo e de crianças pedindo dinheiro nos sinais de trânsito. Ainda é horrível, claro. Lá por 2014, não se via tal extremo desse exemplo das crueldades brasileiras.

Mas o tamanho da desgraça parece ter diminuído. É uma evidência anedótica, como dizem economistas, na verdade um indicador "coxinha" da visibilidade da miséria.

As estatísticas mostram que a pobreza foi menor em 2022, graças ao aumento do número de pessoas com algum trabalho e do valor de benefícios sociais. Deve baixar mais neste 2023, com Bolsa Família maior e chegando a mais gente, por exemplo. Mas o rendimento do trabalho deve dar contribuição menor à redução dessa dureza.

Direita dominou as redes sociais após junho de 2013, avalia Castells

Sociólogo espanhol avalia que a esquerda demorou para aprender o potencial das redes sociais e da internet

Por Caio Sartori / Valor Econômico

O sociólogo espanhol Manuel Castells, referência nos estudos sobre internet e mobilizações sociais, teve em junho de 2013 um encontro inesperado com os objetos de pesquisa aos quais se dedica. Na passagem pelo Brasil para participar de uma conferência, acabou se deparando com as manifestações que tomaram as ruas do país há dez anos. Ainda no calor do momento, avaliou que Dilma Rousseff se diferenciou de outros chefes de Estado naquele início de década ao ouvir a voz das ruas e legitimá-las.

Mas, afinal, por que essa postura não foi suficiente para evitar a derrocada do PT dali em diante - apesar da vitória na eleição de 2014? “Porque outros grupos de interesse aprenderam rapidamente o potencial das redes sociais e da internet, melhor e mais rápido que a esquerda”, afirmou Castells ao Valor.

Entrevista | Sergio Fausto: Junho de 2013 não produziu melhoria institucional

Para o cientista político Sergio Fausto, a democracia não avançou com o episódio

Por Ricardo Mendonça / Valor Econômico

Para o cientista político Sergio Fausto, diretor geral da Fundação Fernando Henrique Cardoso, junho de 2013 foi um movimento inédito na história do país, pode ser considerado “um divisor de águas” na política, mas não conseguiu produzir mudança institucional capaz de melhorar a qualidade do Estado brasileiro.

O sistema político não conseguiu interpretar as aspirações de 2013 e não ofereceu resposta, diz. Na sequência, a Lava-Jato começou como algo positivo, mas depois “degenerou” o combate à corrupção num “processo de justiçamento politicamente orientado”.

À sua maneira, de um “modo destrutivo”, o então deputado Jair Bolsonaro acabou sendo o único capaz de traduzir eleitoralmente o que havia brotado nas ruas e virou presidente. O movimento, com isso, desaguou no bolsonarismo.

"Justamente porque não houve mudança do sistema político é que acabou prevalecendo Bolsonaro”

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

César Felício - Junho de 2013 é a explicação para tudo?

Valor Econômico

Debate sobre consequências das manifestações de dez anos atrás não fechou até agora

Exatamente em 2 de junho de 2013, entrava em vigor o aumento de tarifa de transporte urbano em São Paulo, mote para a eclosão das chamadas jornadas de junho. A explosão de insatisfação popular teve início no dia 6, com manifestações organizadas na capital paulista. Há um consenso na sociedade em relação ao assombro: ninguém esperava por aquilo, na dimensão e na extensão que os fatos se deram.

Qual a consequência daquilo tudo? Esse é um debate sem respostas até agora. Considerando tudo que aconteceu depois, é tentador estabelecer uma relação causal entre junho de 2013 e a instabilidade política que se seguiu no país. Um verbalizador dessa teoria da causalidade suprema, por exemplo, é o ex-ministro da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo.

“Se não tivéssemos tido 2013, não teríamos a queda de popularidade do governo, a eleição de 2014 daquela forma, o impeachment de Dilma Rousseff. Não teríamos tido um desequilíbrio político e econômico como aconteceu naquele período. Nós não teríamos tido um governo Temer, não teríamos tido a prisão de Lula. Tudo é uma consequência desse processo, que desemboca em Jair Bolsonaro [2018]”. “Tem uma timeline claríssima entre o 13 de junho de 2013 e o 8 de janeiro de 2023. Foi a ponta do iceberg do bolsonarismo”, diz outro vocalizador, o marqueteiro João Santana.

Andrea Jubé - Presidente operou na crise da MP, mas resiste ao papel

Valor Econômico

Presidente falou com líderes e dirigentes partidários e telefonou para o presidente da Câmara, com quem teve uma conversa 'dura'

Apesar do tom de otimismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o placar de aprovação da medida provisória de reestruturação do governo na Câmara dos Deputados, a realidade é que ele teve de finalmente entrar em campo na articulação política para evitar a derrota. Chamado pelos aliados de “Pelé da articulação”, ele vinha postergando a participação no jogo político.

Lula passou a quarta-feira em reuniões e ligações para líderes e dirigentes partidários. Telefonou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem teve uma conversa “dura”, segundo relato de um deputado da base governista a par do assunto. Depois de falar com Lira, Lula reuniu-se pessoalmente com o líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), homem de confiança do alagoano.

Num contexto em que muitos líderes de bancadas estavam refratários a conversar com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula falou por telefone com o líder do bloco MDB-PSD-Republicanos-Podemos-PSC e relator da medida provisória, Isnaldo Bulhões (AL), com o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, entre outros.

Bruno Carazza - O pior começo de governo dos últimos 20 anos no Congresso

Valor Econômico

Números revelam problemas na articulação e pouca ambição do governo

Os dados não deixam dúvidas. Desde que o rito atual de tramitação das medidas provisórias foi instituído, com a Emenda Constitucional nº 32/2001, nunca um presidente em início de mandato teve tanta dificuldade de aprovar sua agenda no Congresso.

A suada conversão em lei da Medida Provisória nº 1.154/2023, que trata da estrutura do novo governo e deve ser sacramentada pelo Senado, esconde o fato de que outras três MPs irão caducar hoje às 23:59h.

E não se trata de medidas quaisquer: estão no pacote a extinção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Fazenda, a reconstituição da composição do Conselho Monetário Nacional (CMN) e a alteração da regra de desempate nas votações do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) a favor do governo.

Sergio Lamucci - Ritmo forte do PIB esconde fraqueza da demanda doméstica

Valor Econômico

Números do primeiro trimestre devem levar a onda de revisões das estimativas para o crescimento de 2023

O resultado do PIB do primeiro trimestre mostrou um crescimento forte, bem acima das projeções dos analistas, com um alta muito expressiva e muito concentrada na agropecuária. Nos três primeiros meses do ano, a economia brasileira cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, o que significa um ritmo anualizado de quase 8%. A agropecuária avançou 21,6%, depois de quatro trimestres de queda seguida nessa base de comparação. O consenso dos analistas ouvidos pelo Valor Data apontava para uma expansão de 1,3% para o PIB e de 10,3% para a agropecuária. Pelo lado da oferta, os serviços aumentaram 0,6%, enquanto a indústria ficou quase estável, em queda de 0,1%.

Claudia Safatle - Novo marco fiscal não muda trajetória da dívida

Valor Econômico

Regra melhora o resultado primário em mais ou menos 0,2% do PIB por ano, o que resulta em 1% do PIB de ajuste a cada cinco anos

As várias mudanças feitas no texto do marco fiscal sugerem que a Câmara melhorou substancialmente o arcabouço concebido para substituir o teto do gasto público, mas não o suficiente para garantir que a dívida pública cairá como proporção do PIB. O novo marco fiscal, por si só, não muda a trajetória da dívida bruta/PIB. Ele melhora o resultado primário em mais ou menos 0,2% do PIB por ano, o que resulta em 1% do PIB de ajuste a cada cinco anos. É preciso 1,5% de primário para estabilizar esse indicador de solvência do Estado brasileiro.

Se o governo conseguir apurar as receitas que faltam para fechar as contas com equilíbrio - são cerca de R$ 150 bilhões -, aí sim poderá falar em zerar o déficit no próximo ano. Mas a dívida bruta continuará subindo até a casa dos 77% do PIB em 2026.

Analistas do setor privado, porém, falam que a dívida subirá para a casa dos 80% a 81% do PIB, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central.

André Lara Resende* - Os juros e a questão fiscal

Valor Econômico

Quando o Banco Central insiste em manter juros extraordinariamente altos, além dos males conhecidos, agrava o desequilíbrio das contas públicas que ele tanto critica

Há unanimidade quanto aos malefícios dos juros altos. Ninguém gosta. Todos, até o nosso Banco Central, que atualmente detém o recorde mundial de juro real, reconhecem os problemas que podem causar. A razão alegada para manter os juros extraordinariamente elevados é que seria necessário para controlar a inflação e trazê-la de volta para a meta. Sustenta-se, também, que embora determine a taxa de curto prazo, mesmo se quisesse, o Banco Central seria impotente para reverter o quadro de juros altos. As taxas mais longas seriam determinadas pelo mercado, com base nas expectativas de inflação e na pressão exercida pela necessidade de financiamento do Estado.

Estes dois argumentos são questionáveis.

José de Souza Martins* - Futebol e racismo

Eu & / Valor Econômico

Frequentador de estádio é personagem da sociedade de consumo. Ele julga comprar o jogador ao comprar o ingresso e não raro age como comprador do direito de consumir o jogador.

A deplorável demonstração de racismo de torcedores espanhóis contra o jogador brasileiro Vinicius Júnior, do Real Madrid, no último dia 21 na disputa contra o Valência - o vencedor -, não fica bem analisada e interpretada se reduzida à questão do preconceito nos estádios de futebol.

A questão é, sociologicamente, bem mais complicada. O futebol não teria se transformado em grande empreendimento econômico e mesmo político se não tivesse sido incorporado ao sistema de multiplicação da riqueza. Substituiu pelo conflito tópico e efêmero das partidas o conflito estrutural da luta de classes.

Ao se transformar em negócio, o futebol foi banalizado e destituído do seu caráter propriamente esportivo. Ficou vulnerável à concorrência em lugar da disputa.

Vera Rosa - Centrão quer comandar Ministério da Saúde e cobra espaço para grupo de Lira no governo

O Estado de S. Paulo

Pasta é alvo de cobiça por ter orçamento de R$ 188, 3 bilhões e abrigar mais da metade das emendas individuais dos parlamentares

O Centrão quer controlar o Ministério da Saúde e cobra a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas articulações políticas do governo para não aprovar uma “pauta bomba” na Câmara. Com um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano, a Saúde é comandada por Nísia Trindade, e virou alvo de disputa cada vez mais acirrada.

O ministério foi por muitos anos feudo do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, sigla que hoje faz oposição a Lula. O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, é adversário dos petistas, mas o grupo de Lira pede espaço no primeiro escalão.

Lula disse nesta quinta-feira, 1.º, que só fará uma reforma ministerial se houver uma “catástrofe”. Mas é justamente disso que se trata no fracassado presidencialismo de coalizão.

Celso Ming - Agro forte tem efeito econômico e político

O Estado de S. Paulo

O avanço do PIB no primeiro trimestre, de 1,9% sobre o trimestre anterior, foi surpresa geral. Mais surpreendente, ainda, foi o robusto desempenho da agropecuária, de nada menos de 21,6% no período – melhor resultado desde o quarto trimestre de 1996. Este foi alavancado não só pelo forte crescimento da produção física de grãos, como, também, pelo aumento dos preços das commodities agrícolas ao longo do primeiro trimestre.

A indústria teve novo desempenho negativo, de -0,1%, e maior ainda seria esse tombo se o agro não tivesse acionado o segmento da agroindústria. Parte do desempenho positivo dos serviços (especialmente transportes e armazenagem), de 0,6% no período, se deveu também ao fator agro.

Laura Karpuska - Tragédia da Venezuela é efeito do chavismo

O Estado de S. Paulo

A Venezuela teve um fluxo migratório nas últimas décadas comparável ao de países em guerra

Mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram a Venezuela nas últimas décadas. É um dos maiores fluxos migratórios na história recente e pode ser comparado a êxodos migratórios de países em guerra, como Síria e Ucrânia. A tragédia humanitária na Venezuela é fruto de muitos problemas. Todos eles, de alguma forma, passam pelo chavismo. A erosão das instituições, o aumento da dependência do petróleo simultaneamente ao declínio da capacidade produtiva, a corrupção e a elevada carga de endividamento são apenas algumas das consequências diretas da gestão chavista no país.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Agricultura impulsiona PIB surpreendente de 1,9%

Valor Econômico

É uma expansão em linha com a medíocre observada nos últimos anos

A economia brasileira cresceu mais no primeiro trimestre deste ano do que em qualquer outro trimestre em 15 anos, excetuados os subsequentes à crise financeira de 2008 e à pandemia de 2020. O PIB subiu 4% em doze meses, 1,9% em relação ao mesmo período do fim de 2022 e 3,3% em quatro trimestres ante os quatro anteriores. Esses resultados são muito superiores aos que eram esperados -1,3% trimestre contra trimestre anterior - pela mediana dos analistas (77 na amostra do Valor). A surpresa pode ser pontual, mas é boa: as expectativas de crescimento foram elevadas de maneira geral e ultrapassam 2%, aposta antes feita por um minúsculo grupo de bancos e consultorias.

O desempenho da economia mostra, em primeiro lugar, que o pessimismo dos analistas foi exagerado, o que se tornou uma tradição. Por outro, mostra que a fúria do presidente Lula contra os juros altos e a política monetária também foi exagerada, porque a desaceleração ainda não veio. Para o Banco Central, o enigma já vem de alguns meses: por que a enorme carga de juros não consegue derrubar a inflação com maior rapidez do que a que tem ocorrido?

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Para Sempre

 

Música | Massemba - Roberto Mendes - Sr Brasil 20/10/2011