O Estado de S. Paulo
O governo Lula não poderá ser do PT. Sua melhor chance de sucesso é ser um governo de coalizão, plural e aberto a diversos partidos
Não se fala de outra coisa. Todos querem
saber como passaremos do governo Bolsonaro para o governo Lula. É
compreensível. Motores potentes turbinam o evento: o espetáculo em si, a
disputa por espaços políticos, a composição ministerial, a ansiedade.
O novo governo está recebendo dados e ideias.
O desenho é para que tudo dê certo. Mas até as pedras sabem que nada será fácil
ou tranquilo.
Antes de tudo, porque já não se vive mais nos anos dos primeiros governos petistas. Nem na economia, nem na política e na cultura. A época problematiza a democracia no mundo. Partidos não funcionam mais como antes. Políticos estão sendo substituídos por “engenheiros do caos”. Uma guerra cultural permanente fomenta uma versão não liberal e autoritária de governo, impulsionada por agitadores, mídias de opinião, redes de desinformação. Busca-se criar instabilidade e deslegitimar governos, explorando o que há de declínio da confiança social na política e na democracia. O trumpismo se liga ao bolsonarismo, que se liga ao putinismo, ao orbanismo, a formas variadas de negacionismo, de antiglobalismo, de ataques ao progressismo.