quinta-feira, 28 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: democracia

Eles têm uma propaganda brutal. E fizeram uma coisa que é contra a democracia, juntaram o governo, o Estado e o partido. Os três falam a mesma voz, têm o mesmo maestro e o mesmo marqueteiro.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República, Zero Hora (RS), 27/3/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Feliciano parte para o ataque
Rio só terá grande estádio com Maracanã
A assembleia de Deus
Dilma fala de inflação e juro cai
Doméstica: custo de demissão dobra

FOLHA DE S. PAULO
Frase de Dilma sobre a inflação afeta mercado
Passageiro que tiver bagagem extraviada vai receber R$ 301
Projeto quer simplificar FGTS para domésticas
Viagens são para vender produtos do Brasil, diz Lula
Palmeiras toma 6 gols só no 1º tempo e perde do Mirassol
Chamado de racista, pastor manda prender manifestante

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma vê manipulação em crítica à fala sobre inflação
Feliciano manda prender ativista
CNJ eleva gastos, mas tem problemas 'de tribunais'
Ditador sírio pede ajuda ao Brics
'Ciberataque' gigante deixa internet lenta

VALOR ECONÔMICO
Inflação ameaça menos, mas ainda provoca tensão
Governo vai comprar mais bens nacionais
Vale renova mandato de Murilo
Argentina muda seu índice para apurar a inflação real

BRASIL ECONÔMICO
Inflação está abaixo das previsões e reduz as apostas na alta dos juros
Governo teve déficit recorde de R$ 6,1 bilhões no mês de fevereiro
Dilma pede mudanças já no FMI: “2013 é central para a reforma”
Taxa de desemprego cresce em fevereiro
Revoada tucana

ESTADO DE MINAS
Dengue avança e mata em BH
Lalau: Justiça nega a liberdade e mantém ex-juiz na cadeia
Blitzes da Lei Seca vão chegar ao interior

O TEMPO (MG)
Saída para o feriadão tem acidentes e trânsito caótico
Tucanos mineiros querem os paulistas na direção nacional
Desemprego sobe na RMBH
MP irá apurar gastos da comitiva de Dilma em Roma
Guerra pode estourar a qualquer momento, diz Coreia do Norte

CORREIO BRAZILIENSE
Patrões de domésticas vão ter compensações
Até quando?
Reconstrução de mama pelo SUS será imediata
Dilma acusa mercado de manipulação
Maior ciberataque da história deixa a internet lenta

GAZETA DO POVO (PR)
Medicamentos vão ficar até 6,31% mais caros em 31 de março
Feliciano manda prender militante
Viagens servem para “vender” produtos do Brasil, argumenta Lula
Medicamentos vão subir até 6,31%

ZERO HORA (RS)
Taim em chamas
Aumento do dólar faz aluguel do mês subir

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Lei das domésticas prevista para 90 dias
Muito a ser feito até a Copa das Confederações
SUS vai pagar por cirurgia reparadora da retirada da mama

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Lula diz que viagens ao exterior servem para 'vender' o país

Petista afirma que excursões pagas por empreiteiras visam 'vender confiança' e divulgar produtos brasileiros

Ex-presidente diz que reeleger Dilma é prioridade, mesmo que PT precise abrir mão de candidatos em Estados

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que suas viagens a países da América Latina e da África pagas por empresas privadas servem para "vender" os produtos brasileiros.

"Se alguém tiver um produto brasileiro e tiver vergonha de vender, me dê que eu vendo. Não tenho nenhuma vergonha de continuar fazendo isso. Se for preciso vender carne, linguiça, carvão, faço com maior prazer. Só não me peça para falar mal do Brasil", afirmou Lula, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" publicada ontem.

Na semana passada, a Folha revelou que 13 de suas 30 viagens ao exterior depois de sair do cargo foram bancadas por empreiteiras com interesses nos países visitados.

Lula disse viajar para "vender confiança" e que "tem pouca gente com autoridade de ganhar dinheiro" como ele, "em função do governo bem-sucedido" no país.

"Nunca pensei que eu fosse tão bem remunerado para fazer palestra. Sou um debatedor caro", afirmou. "Como é que viaja um Clinton? A serviço de quem? Pago por quem? Fernando Henrique Cardoso? Ou você acha que alguém viaja de graça para fazer palestra para empresários lá fora?", questionou.

Lula aproveitou para criticar FHC. "Fico com pena de ver uma figura de 82 anos como o Fernando Henrique Cardoso viajar falando que o Brasil não vai dar certo."

Eleição

Ao comentar a eleição presidencial de 2014, Lula afirmou que a prioridade é a reeleição da presidente Dilma, mesmo que o PT tenha que abrir a mão de candidaturas em Estados como Rio e São Paulo. "Não podemos permitir que a eleição da Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB", disse Lula.

Sobre São Paulo, o petista defendeu a aproximação com o PSD de Gilberto Kassab e o PTB para derrotar o PSDB.

Em relação à possível candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Lula afirmou que não mistura sua "relação de amizade com as divergências políticas".

"Acho muito cedo pra falar da candidatura Eduardo. Ele é um jovem de 40 e poucos anos. Termina seu mandato no governo de Pernambuco muito bem avaliado. Me parece que não tem vontade de ser senador da República nem deputado. O que é que ele vai ser? Possivelmente esteja pensando em ser candidato para ocupar espaço na política brasileira, tão necessitada de novas lideranças."

Ontem, Eduardo Campos se disse "confortado" com as declarações do petista.

Lula afirmou que não pretende voltar a ser candidato, mas que "em política a gente não descarta nada". "Não sei das circunstâncias políticas. Vai saber o que vai acontecer nesse país, vai que de repente eles precisam de um velhinho para fazer as coisas."

O ex-presidente disse que, por "respeito ao Poder Judiciário", só falará o que pensa sobre o mensalão quando não houver mais possibilidades de recursos no processo. Mas afirmou concordar com nota do PT sobre o assunto. A sigla diz ter havido "julgamento político".

Fonte: Folha de S. Paulo

Governador aliviado com fala de Lula

Procurando minimizar o clima beligerante instaurado com o Planalto, o governador Eduardo Campos (PSB) se disse ontem "confortado" com declarações dadas pelo ex-presidente Lula, que garantiu que a relação de amizade entre os dois será mantida. Quem ouve o governador falando é levado a crer que ele já se comporta como candidato a presidente. Para Campos, Lula, com as declarações, demonstrou capacidade de distinguir as questões políticas e pessoais.

"A fala do presidente Lula nos deixa confortado e, de certa forma, nos emociona, a mim, a minha família e aos meus amigos, pela forma larga como ele coloca as questões e como sabe distinguir o que é o processo político e o que devem ser as relações pessoais nessa dimensão", apontou o governador.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em São Paulo, Lula afirmou que "não mistura sua relação de amizade com as divergências políticas". "Acho muito cedo pra falar da candidatura Eduardo. Ele é um jovem de 40 e poucos anos. Termina seu mandato no governo de Pernambuco muito bem avaliado. Me parece que não tem vontade de ser senador da República nem deputado. O que é que ele vai ser? Possivelmente esteja pensando em ser candidato para ocupar espaço na política brasileira, tão necessitada de novas lideranças", disse.

Se o governador destacou a fala do ex-presidente, no mundo socialista a versão que circula não é tão afetuosa. Campos tem dito a auxiliares próximos que não deve lealdade a Lula. Uma demonstração pública desse entendimento veio na segunda (25), data da visita da presidente Dilma Rousseff (PT) a Serra Talhada. Terminado o evento, o governador escalou dois de seus mais frequentes porta vozes - o presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa, e o líder do governo, Waldemar Borges - para afirmar que os R$ 3,1 bilhões anunciados por Dilma só haviam sido liberados graças à capacidade de planejamento do Estado.

O governo federal vem testando a estratégia de constranger o governador usando a figura de Lula. E foi nesse contexto que a presidente Dilma citou 11 vezes o nome do antecessor durante o evento em Serra Talhada. O próximo encontro entre os dois presidenciáveis deve ocorrer na terça (2), quando Dilma reunirá todos os governadores do Nordeste para debater a seca, em Fortaleza. Na ocasião, Eduardo defenderá a desburocratização dos auxílios e financiamentos e a anistia da dívida dos trabalhadores da agricultura familiar.

"O olhar na reconstrução passa por reabilitar a agricultura familiar do Nordeste e não tem como reabilitar com a rolagem da dívida. Temos que ter a coragem de enfrentar e anistiar a agricultura familiar", insistiu Campos. Instado a se posicionar sobre a Medida Provisória 595/2012, conhecida como MP dos Portos, que tramita no Congresso e pode afetar o Porto de Suape, Eduardo apelou para o bom senso dos deputados e senadores e destacou que "nem sempre" o Congresso segue a compreensão do Planalto. "A impressão que trago do que ouvi dos deputados e senadores é exatamente um esforço no sentido de fazer um relatório consensual e abrir a possibilidade de mudanças", destacou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Lula mantém 'camada antiaderente', diz analista

Desde as primeiras denúncias do Mensalão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi poupado por imensa parcela da sociedade. Entre 2011 e 2013, novos ataques contra ele foram rapidamente esquecidos, reforçando a tese de que o ex-presidente vive sob uma espessa camada antiaderente, onde acusações desse tipo são incapazes de grudar. A avaliação é do cientista político e professor do Insper Humberto Dantas. "Dessa forma, Lula continua circulando como agente central do PT, disputado cabo eleitoral e destacável estrategista nas ações do governo federal. Parece gozar de imunidade absoluta, uma espécie de passaporte diplomático que lhe serve para viajar livremente pelo mundo das atitudes, discursos e países distantes. E a camada antiaderente é assim: uma rápida passada de bucha e tudo está limpo", afirma o cientista político.

Humberto Dantas cita que Lula foi personagem central do congresso "Novos Desafios da Sociedade", realizado essa semana, e em seu discurso defendeu, entre as grandes metas a serem perseguidas pelo País, a reforma política e o financiamento público de campanha em caráter urgente. O professor do Insper diz que levando em conta a defesa feita pelo ex-presidente petista, o uso de dinheiro privado se transformaria em "crime inafiançável a ser julgado pela mesma justiça que o presidente do PT, Rui Falcão, chamou recentemente de principal grupo de oposição". E questiona se, no campo da política, as empresas deveriam ser proibidas apenas de financiar campanhas, respondendo: "Pois se assim for, é possível entender porque em 2011, ano não eleitoral, o diretório nacional do PT arrecadou regularmente mais de R$ 50 milhões em doações, sendo 96,5% advindos de empresas e mais da metade de empreiteiras, um volume vinte vezes superior ao do PSDB, o segundo colocado."

O cientista político diz também que em outra parte de sua fala, no congresso "Novos Desafios da Sociedade", Lula condenou o que chama de partidos de aluguel, que negociam com o governo seus minutos nos programas eleitorais. "A esse respeito, vale lembrar que os últimos presidentes, inquilinos fiéis dessas organizações, não têm motivos para se queixar", ironiza Dantas. E argumenta que Lula, quando estava no poder, não fez nada para reverter este quadro: "O que Lula teria contra as legendas que atualmente demandam participações mais expressivas no governo de Dilma em troca da habitual tranquilidade do Congresso?" E reitera que "o grande problema de Lula não é o que ele defende como reforma política, mas sim o sentimento de que sua camada antiaderente é tão eficiente que sequer seu discurso é capaz de aderir às suas práticas".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Posição de Lula sobre reforma é criticada

BRASÍLIA - A declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que doações privadas para campanhas eleitorais deveriam se tornar "crime inafiançável" foi alvo de críticas de políticos, promotores e ONGs. A tese de Lula não foi comprada nem pelo PT. O relator da atual proposta de reforma política em discussão, deputado Henrique Fontana (PT-RS), não prevê criminalização do financiamento privado."Não há coerência, parece-me que (ele) está fazendo o discurso do momento", disse o promotor eleitoral Edson Rezende, que faz parte do Comitê da Reforma Política do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. O promotor se refere ao fato de o PT ter assumido, no processo do mensalão, que utilizou recursos de caixa 2 em campanhas.

O objetivo era escapar das denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público. No julgamento, o Supremo Tribunal Federal não aceitou os argumentos dos réus petistas e os condenou por crimes como corrupção e formação de quadrilha. "De onde saiu a ideia de que o caso do mensalão teve a ver com financiamento eleitoral? Onde é que estão as evidências?", questiona Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil.

O projeto de reforma política do PT, pautado para votação na Câmara nos dias 9 e 10 de abril, prevê a implantação do financiamento público exclusivo de campanha. Pela proposta, a doação privada se torna uma irregularidade, mas não "crime inafiançável".

O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), disse que Lula não tem credencial para falar em reforma política porque não se empenhou para aprová-la durante seus oito anos de governo: "Ele prega uma coisa e faz outra. Ele está se beneficiando disso (financiamento privado), com todo esse patrocínio para viajar ao exterior. Agora vem posar de vestal", disse Caiado, referindo-se a viagens feitas pelo petista à àfrica, pagas por empreiteiras.

O líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), considerou a declaração de Lula um contrassenso e afirmou que as campanhas dele foram financiadas pelas empreiteiras que agora bancam suas viagens para o exterior: "Qualquer hora ele pode ser preso e não vai poder pagar fiança", disse o tucano.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Reforma política do PT não criminaliza doação privada

Nem partido endossa tese de Lula, criticada por oposição e ONGs

Sérgio Roxo, Fernanda Krakovics

SÃO PAULO e BRASÍLIA - A declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que doações privadas para campanhas eleitorais deveriam se tornar crime inafiançável foi alvo de críticas de políticos, promotores e ONGs. A tese de Lula não foi comprada nem pelo PT. O relator da atual proposta de reforma política em discussão, deputado Henrique Fontana (PT-RS), não prevê criminalização do financiamento privado.

- Não há coerência, parece-me que (ele) está fazendo o discurso do momento - disse o promotor eleitoral Edson Rezende, que faz parte do Comitê da Reforma Política do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

O promotor se refere ao fato de o PT ter assumido, durante o processo do mensalão, que utilizou recursos de caixa dois em campanhas eleitorais. O objetivo era escapar das denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público. No julgamento, o Supremo Tribunal Federal não aceitou os argumentos dos réus petistas e os condenou por crimes como corrupção e formação de quadrilha.

- De onde saiu a ideia de que o caso do mensalão teve a ver com financiamento eleitoral? Onde é que estão as evidências? - questiona Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil.

Abramo lembra que o PT tentou tratar o caixa dois como crime menos grave.

- A estratégia toda, que não é muito respeitável, foi tentar transformar um mecanismo de distribuição de propina em delito eleitoral.

O projeto de lei de reforma política do PT, pautado para votação na Câmara nos dias 9 e 10 de abril, prevê a implantação do financiamento público exclusivo de campanhas e da lista partidária fechada para as eleições parlamentares. Pela proposta, a doação privada se torna uma irregularidade, mas não "crime inafiançável".

Proposta não inibiria doação ilegal

Abramo critica a proposta por entender que o sistema não inibirá as empresas de fazerem doações não declaradas:

- Proibir o financiamento privado não teria efeito. Haveria uma migração do financiamento privado para o caixa dois. O que hoje é caixa um viraria caixa dois.

O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), disse que Lula não tem credencial para falar em reforma política porque não se empenhou para aprová-la durante seus oito anos de governo:

- Ele prega uma coisa e faz outra. Ele está se beneficiando disso (financiamento privado), com todo esse patrocínio para viajar ao exterior. Agora vem posar de vestal - disse Caiado, referindo-se a viagens feitas pelo petista à África, pagas por empreiteiras.

O líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), considerou a declaração de Lula um contrassenso e afirmou que as campanhas dele foram financiadas pelas empreiteiras que agora bancam suas viagens para o exterior:

- Qualquer hora ele pode ser preso e não vai poder pagar fiança - disse o tucano.

Defensor do financiamento público, o presidente do PV, deputado Penna (SP), considerou a declaração exagerada:

- Sou a favor do financiamento público, mas criminalizar o financiamento privado não tem cabimento.

Já a líder do PCdoB, deputada Manuela D"Ávila (RS), afirmou que a criminalização seria uma consequência natural do financiamento público exclusivo:

- Se a gente aprova o financiamento público, vai ter que criar penas para o financiamento privado - pondera.

A proposta de reforma política não criminaliza o financiamento privado, mas somente o desvio de recursos públicos recebidos para campanha (prisão de dois a quatro anos). A proposta prevê apenas sanções administrativas e eleitorais para o financiamento privado.

Mas não há acordo em torno de nenhum ponto da reforma política.

- A gente faz de conta que vai votar e depois faz de conta que não teve quorum - disse Caiado, resumindo a disposição da Casa de votar a reforma.

Fonte: O Globo

Tucanos mineiros querem os paulistas na direção nacional

PSDB de Minas Gerais quer garantir consenso em torno da candidatura de Aécio Neves à Presidência

Vice-presidência e secretaria geral são os espaços que serão oferecidos

Isabella Lacerda

Para assegurar o apoio do PSDB de São Paulo, lideranças próximas ao senador mineiro Aécio Neves admitem que pretendem negociar cargos na nova executiva nacional do partido, que será eleita em maio. Essa seria uma forma de manter a adesão dos paulistas, principalmente os ligados ao ex-governador José Serra, à candidatura de Aécio à presidência nacional do partido e também ao Palácio do Planalto, em 2014.

A avaliação feita por tucanos próximos ao senador mineiro é que a sinalização dada pela ala paulista na última segunda-feira durante palestra em São Paulo foi suficiente, mas que é preciso manter, futuramente, o apoio de todo o partido.

"São Paulo tem a maior bancada, não seria nada estranho se tivesse mais algum cargo na executiva nacional", ressaltou o deputado federal e líder da minoria na Câmara dos Deputados, Paulo Abi-Ackel (PSDB). "Ainda não sei quais são especificamente as reivindicações que eles fazem, mas acho natural que algum deputado paulista venha a ser vice-presidente nacional ou tenha algum outro cargo importante", completou.

O deputado federal Rodrigo de Castro lembra que "o PSDB de São Paulo já tem a liderança da Câmara dos Deputados e do Senado", mas ressalta a importância dessa ala "se sentir bem contemplada".

Ligado ao grupo do ex-governador José Serra, o atual vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman (SP), tem sido considerado nome de consenso entre Aécio e lideranças paulistas para compor uma chapa com o senador, seja para ser mantido na vice-presidência do partido ou como secretário geral da legenda. A confirmação do nome de Goldman seria um sinal de consenso em torno de Aécio.

Os tucanos já se movimentam para negociar esses espaços. Na noite de terça-feira, Aécio se reuniu com a bancada de deputados federais do PSDB para ouvir, além de sugestões sobre caminhos a serem seguidos a partir de agora, demandas sobre cargos na nova executiva nacional.

Avaliação. Por considerarem suficientes as declarações de apoio dos paulistas, alguns tucanos minimizaram, ontem, a declaração do governador Geraldo Alckmin que disse que "o fato de ele ter lançado o nome de Aécio para a presidência do partido não significa que defenda também o nome do senador para a Presidência.

"O apoio dele já está dado, mas ele é habilidoso e não pode colocar o carro na frente dos bois", defendeu Abi-Ackel.

Fonte: O Tempo (MG)

Tucanos tentam evitar saída de Serra do partido

Colegas dizem que ele está chateado por não ter sido ouvido no processo decisório do PSDB

Luciana Lima e Marcel Frota

Depois da reunião de segunda-feira que consolidou o nome do senador mineiro Aécio Neves como o próximo dirigente do PSDB, muitos tucanos já veem o ex-governador de São Paulo, José Serra , com o pé fora do partido. Nos bastidores há um consenso de que o partido teve que tomar uma decisão de apoiar Aécio e não esperar por uma postura do ex-governador. Alguns tucanos chegaram a ligar para Serra, que se encontra em viagem aos Estados Unidos e não participou do encontro, para demovê-lo da ideia de deixar a legenda. Nesse esforço voltaram a oferecer a ele a presidência do Instituto Teotônio Vilela, órgão responsável por formular políticas do partido, como forma de garantir um espaço significativo dentro do PSDB. Em termos eleitorais, os tucanos acham viável que Serra seja o candidato do partido a uma vaga no Senado. Os principais aliados de Serra engrossaram o discurso em favor de Aécio. Nomes como Alberto Goldman, Walter Feldman, Vaz de Lima, Andrea Matarazzo e Floriano Pesaro participaram do encontro. Até a convenção nacional do partido, marcada para o dia 19 de maio, pelo menos mais duas reuniões serão feitas em São Paulo para firmar o apoio ao mineiro.

Pessoas mais próximas ao ex-governador disseram que ele está chateado por não ter sido ouvido no processo decisório sobre a escolha do presidente do PSDB e sobre o rumo do partido nas eleições de 2014. Serra também não teria ficado satisfeito com a abordagem de Aécio no encontro que teve com o mineiro na semana passada. Para alguns serristas a antecipação do processo eleitoral colocou Serra em posição de xeque, na medida em que, informalmente, candidaturas como a da presidenta Dilma Rousseff e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos já se desenham no cenário político. Para tucanos, o tempo de maturação de Serra entrou em rota de colisão com o tempo do PSDB. Enquanto Serra não demonstra sua decisão, o PPS assumiu a postura de esperar. No entanto já avisou que o partido está de portas abertas para recebê-lo. “Não dá para a gente querer um namoro se a pessoa ainda se encontra casada. Já houve conversas, mas, por enquanto, estão suspensas”, disse o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).

Fonte: Brasil Econômico

O antropólogo encarregado da imagem de Aécio

Renato Pereira deverá ter novo embate com marqueteiro de Dilma, a quem enfrentou, sem sucesso, na Venezuela

Maria Lima

BRASÍLIA - Filho de diplomatas e nascido na Suíça, virou carioca aos 6 anos de idade e, já adulto, viveu um bom tempo com mulher e filhas em uma aldeia Caiapó, no Xingu. Agora, o antropólogo e publicitário Renato Pereira é o homem escolhido pelo senador tucano Aécio Neves (MG) para construir sua imagem, num eventual duelo com a presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem. Dono de um portfólio que inclui quatro campanhas vitoriosas do PMDB à prefeitura e ao governo do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes e Sérgio Cabral respectivamente, ele já fechou contrato com o PSDB até meados do ano.

Nesta primeira fase do contrato vai fazer a campanha de Aécio à presidência do partido, que tem eleições no final de maio, e programas de TV com inserções nacionais, que vão ao ar a partir de 21 de maio. Mas já começou a fazer pesquisas e diagnóstico para, se tudo der certo, estender o trabalho para uma eventual candidatura presidencial.

O publicitário, que não gosta de ser chamado de "marqueteiro", tem passagens também pelo cinema e fama de saber contar uma boa história, com linguagem moderna e acessível. Pelos últimos embates, vem se firmando como o anti-João Santana, o marqueteiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma.

Como responsável pela campanha de Henrique Caprilles, oposição ao ex-presidente Hugo Chávez na Venezuela, Renato Pereira não conseguiu vencer o chavismo.

Diz, porém, que seu embate não foi com Santana, e sim com o poder absoluto de Chávez na Venezuela. Na campanha presidencial de 2014, deve voltar a disputar com Santana, que estará ao lado de Dilma.

No Rio, deverá fazer a campanha do vice-governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, também contra Santana, que cuidará do senador Lindbergh Farias (PT).

Renato Pereira é o estrategista de comunicação da agência Prole Gestão de Imagem, que tem parceria com a americana AKPD Global, divisão internacional da AKPD Message & Media, empresa de David Axelrod, o marqueteiro de Barack Obama.


'Intenção de votos agora nada significa'

Antropólogo e publicitário relativiza importância da TV e aposta em mobilização digital e contato pessoal para impulsionar Aécio

Lulismo tem menos força que o chavismo, avalia marqueteiro de tucano

O senhor teve um embate duro com João Santana na Venezuela, o que pode acontecer de novo, se fizer a campanha de Aécio.

Meu embate na Venezuela não foi com João Santana. Fiz uma campanha contra Chávez, que tinha o poder absoluto na Venezuela.

A Prole, sua agência, tem parceria com a agência que fez as duas campanhas de Barack Obama. É possível adaptar algo às campanhas presidenciais no Brasil?

Não tem uma receita que dê para copiar. Lá, eles estão acostumados com eleições de resultados muito apertados. Têm experiências e tecnologias muito próprias.

O que difere daqui?

No Brasil, acredita-se que a TV resolve tudo. A TV faz muita diferença, mas a gente acredita muito na comunicação individualizada, porta a porta, com uso de voluntários e uma grande mobilização digital. O Aécio tem esse perfil de ótimo desempenho nas ruas, com tom mais coloquial. O ideal é a combinação das duas coisas: comunicação mais individualizada com o eleitor e mídia de massas. O tom emocional é importante. Se o candidato tem essa força pessoal e uma boa história, facilita bastante. Aécio tem as duas coisas.

O que o antropólogo pode ajudar numa campanha presidencial?

Pode ajudar emprestando esse olhar mais voltado para o aspecto cultural do povo. Nas campanhas do Rio, ao invés de usar só jingles, usamos música popular, que mostra a realidade do que acontece na cidade, os valores culturais. E há o interesse específico sobre o que move o comportamento humano do eleitor, não olhando só o lado político. As pessoas se interessam por alguma coisa ou alguém quando a história é boa, se a narrativa é interessante. Talvez o fato de ser antropólogo tenha resultado nesses olhares diferentes.

Como foi a experiência como antropólogo?

Morei quase sete anos no Xingu, numa aldeia Caiapó, do Raoni. Minhas filhas tinham 6 e 7 anos. Voltaram pintadinhas para a cidade e fizeram o maior sucesso. Também trabalhei com os Tikuna, a maior etnia brasileira, que vive na tríplice fronteira de Brasil, Colômbia e Peru.

Quais os pontos fortes e fracos de uma eventual candidatura de Aécio Neves?

Eu e o Aécio ainda estamos nos conhecendo, mas há fatores conhecidos. Ele fez uma belíssima gestão em Minas, tem espírito jovem e capacidade enorme de se comunicar, simpatia e carisma muito grandes. Bom humor é fundamental.

Os adversários vão bater na imagem de bom vivant e homem das baladas...

Temos que identificar de quem partem acusações difamatórias e tratá-las com o rigor da lei. Outros temas da vida pessoal devem ser abordados com sinceridade. O Aécio é um ser humano como qualquer um. E o que o credencia a ser um líder nacional é a excepcional gestão que fez em Minas e a visão que tem do país.

A um ano e oito meses da eleição, Aécio aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com 10%. É um bom ponto de partida?

É ótimo! Se bem que isso não quer dizer muita coisa agora. A presidente Dilma começou a campanha com 4% quando José Serra estava num patamar de 40%. O importante é o nível de conhecimento dos candidatos. Por mais que os governistas tentem transformar isso num fato relevante, intenção de votos agora não significa nada.

Qual será o maior desafio de Aécio: enfrentar o lulismo ou Dilma no cargo?

A base do lulismo foi construída no auge do governo Lula, quando o Brasil viveu um momento muito positivo. Embora persista uma relação de muita admiração pessoal de setores da população com Lula, não há uma veneração pessoal a ele. Isso é mais forte na militância do PT. O lulismo não tem a força do chavismo. Não há aqui uma veneração como há com Chávez, na Venezuela. E isso terá mais ou menos peso, numa disputa presidencial, dependendo de Dilma manter a avaliação positiva de sua gestão.

Fonte: O Globo

Apoio do PDT não é incondicional

Gustavo Prado

O apoio do PDT à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, foi colocado em dúvida ontem. Durante visita a Belo Horizonte, o novo ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT), declarou que seu partido ainda deve "discutir" o apoio e "estudar o plano de governo" da petista.

A afirmação acontece após o deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP) ter dito, no início da semana, "que o partido deve discutir uma alternativa para a disputa presidencial".

"Temos que discutir 2014. É uma outra proposta, um outro plano de governo. Queremos saber quais são as propostas na área trabalhista deste novo governo que a presidente vai implementar", afirmou Dias. Segundo ele, a participação do PDT no governo federal é em "decorrência de ter apoiado a candidatura de Dilma", disse.

Empossado há menos de duas semanas, o ministro vem percorrendo o país em encontros com as principais centrais sindicais, visando estreitar a relação entre trabalhadores e governo federal. Ontem, ele participou de evento na Central Única dos Trabalhadores.

Fonte: O Tempo (MG)

O MEC deve desculpas aos estudantes - José Serra *

Estamos assistindo a um espetáculo que mostra o improviso, a incúria técnica e o desrespeito com que o Ministério da Educação (MEC) decide a sorte de milhões de estudantes Brasil afora. Provas de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que valem 50% do exame, vieram a público, numa reportagem de O Globo: textos com erros ortográficos clamorosos, como enchergar, rasoavel e trousse, mereceram a nota máxima, de 1.000 pontos.

Um candidato entediado e brincalhão resolveu incluir um parágrafo ensinando como se prepara macarrão instantâneo. Atribuíram-lhe 560 pontos - 56% de eficiência. Outro redigiu quatro parágrafos. O segundo e o terceiro transcreviam o belo hino do meu querido e ora sofrido Palmeiras. Uma beleza em si, que estava, no entanto, fora do lugar. Só o primeiro e o último aludiam ao tema proposto, com conteúdos praticamente idênticos. Mesmo assim, ganhou 500 pontos - ou 50% da prova. Quantos horrores não se repetiram em milhões de provas?

O MEC ainda tentou justificar o desatino na atribuição das notas. Nas redes sociais, as milícias ou os mercenários petistas tentavam justificar os critérios e davam curso a teorias conspiratórias: os críticos estariam querendo pôr fim ao Enem. O exame, como evidencia a história, foi criado pelo ministro Paulo Renato Souza, no governo FHC, para avaliar a eficácia do ensino médio e, então, propor ações para elevar a sua qualidade, que sabemos, no mais das vezes, sofrível. Partiu do próprio Paulo Renato a diretriz para que faculdades e universidades passassem a incorporar, de forma descentralizada e autônoma, o desempenho dos estudantes no Enem entre seus critérios de seleção. Em 2002, 340 instituições já o faziam. Coube ao então ministro Fernando Haddad dar uma resposta simples e errada a um problemas difícil: a transformação do Enem no maior vestibular do mundo ocidental. Isso sob o pretexto de que iria acabar com... a angústia do vestibular!

Sem que houvesse infraestrutura adequada e saber acumulado para tanto - até hoje o MEC não dispõe de um banco de questões digno desse nome -, o governo petista decidiu que o Enem funcionaria como prova de seleção para o ingresso dos estudantes nas universidades federais. Os desastres sucederam-se: quebras de sigilo, problemas de impressão, ideologização do exame, arbitrariedade na correção das redações... Tudo isso concorreu, na verdade, para aumentar a angústia dos estudantes, aquela com que pretendiam acabar. O Enem transformou-se, assim, numa grande máquina discricionária, de deboche, que aprova ou reprova alunos segundo a vontade de uma burocracia que não é técnica, não é lógica nem é transparente.

No ano passado assistimos a uma revolta dos estudantes com as notas atribuídas às redações - que decidem, mais do que qualquer prova, a sorte dos candidatos. Já era patente que algo de muito errado ocorria nessa área. E neste ano somos confrontados com o descalabro. Ao menos uma parte dos corretores nada corrigiu. É plausível que nem tenha lido os textos na íntegra. Pior: um dos maiores vestibulares da Terra não dispõe da tecnologia necessária para avaliar a qualidade da correção.

Ora, um exame dessa natureza e com tais características exige uma sofisticada tecnologia de aferição da qualidade do próprio processo. Afinal de contas, trata-se da vida de milhões de estudantes. É razoável - com z e acento agudo - supor que o Enem se transformou numa máquina de selecionar pessoas segundo critérios arbitrários. O exame que deveria servir às reformas no ensino médio se transformou num mau diagnóstico e num vestibular incompetente.

É uma tolice e uma mentira afirmar que os críticos querem pôr fim ao Enem. Até porque, reitere-se, ele não foi criado pelos governos petistas. Como não foi o Bolsa-Família, que eles também herdaram. Mas o PT tem a vocação e o talento para se adonar de propostas e programas que não são originalmente seus e depois anunciar que estão sob ameaça. Tenta transformar a crítica à sua inépcia gerencial em sabotagem.

Para corrigir erros e desvios é preciso admitir a existência do problema, ter uma vontade de acertar maior do que a arrogância, ser dotado de uma honestidade intelectual maior do que a propensão ao embuste e ter uma disposição para trabalhar maior do que a preguiça. Chamados a dar uma explicação para as barbaridades que vieram à tona, os técnicos responsáveis pelo Enem, sob o comando do ministro Aloizio Mercadante, criaram teorias mirabolantes. Chegou-se mesmo a dizer que os textos estavam absolvidos, pois Miojo e Palmeiras não desrespeitam os direitos humanos...

Um dos fundamentos dos direitos humanos é a igualdade das pessoas perante a lei e o respeito ao mérito de cada uma. Se começa a ficar claro que a prova que vale 50% do exame que decidirá o ingresso ou não de um estudante na universidade sofre a mais escancarada arbitrariedade, se o instrumento que vai hierarquizar a fila dos candidatos a uma vaga depende menos do desempenho de cada um do que dos bons ou dos maus bofes do corretor, se os estudantes têm fraudadas suas expectativas e violada sua esperança de uma avaliação justa, então, pode-se afirmar que estão sendo agredidos os direitos fundamentais dos postulantes - que direitos humanos são, a menos que o ministro da área consiga provar irrevogavelmente o contrário.

Em vez de oferecer explicações esfarrapadas, o MEC precisa pedir desculpas a milhões de estudantes brasileiros. Uma das críticas que o petismo faz às universidades públicas paulistas é a de não aderirem ao Enem em seus respectivos vestibulares. Tenho outra proposta: que o MEC, que transformou o Enem num megavestibular, aprenda um pouco com o vestibular dessas universidades, por exemplo. Seria mais prudente e construtivo.

P. S. - Outras quatro análises que fiz sobre educação e Enem estão no site www.joseserra.com.br

* José Serra é ex-governador e ex-prefeito de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A complicada mistura do “Pibão de 2013” com mais populismo na disputa antecipada –Jarbas de Holanda

No começo deste ano, ainda sob o impacto da frustrante taxa de crescimento em 2012, a chefe do governo Dilma Rousseff fez, com a ênfase habitual, a promessa de um salto do PIB já a partir do primeiro semestre. Postura articulada com o anúncio de medidas para redução das despesas de custeio, para eficiência gerencial e para a melhoria da competitividade de nossa economia (propostas por Jorge Gerdau, da Câmara de Gestão da Presidência); e para um ataque decidido aos enormes custos portuários (acertado com a senadora Kátia Abreu, da Confederação Nacional da Agricultura). Bem como com a oferta de ampla abertura dos projetos de expansão e modernização dos modais de trans-porte a investidores privados, sobretudo externos, com a “garantia” de abandono dos critérios antimercado que inviabilizaram tentativas anteriores de boas parcerias nessa área. Tais iniciativas – mesmo que coexistindo com a manipulação “criativa” das contas fiscais da União e a prática de distorções como a virtual recriação da antiga e inflacionariamente nefasta Conta Movimento, do Banco do Brasil, através de vultosas verbas não orçamentárias transferidas ao BNDES – mesmo assim elas sinalizavam um propósito sério da presidente tendo em vista o enfrentamento de graves obstáculos macro e microeconômicos, no início da segunda metade de seu mandato.

Mas a antecipação da disputa pelo Palácio do Planalto (e para os governos estaduais) antecipou também uma lógica eleitoral que recoloca em primeiro plano ou, mais que isso, exacerba as demandas assistencialistas e corporativistas do PT e dos demais partidos aliados. Outros sinais, bem distintos dos lembrados no item anterior, já se manifestam e produzem efeitos. Jorge Gerdau praticamente afastou-se da Câmara de Gestão que coordenava, ao trocar a expectativa de implementação de suas propostas por incisiva crítica pública ao gigantismo e à partidarização da máquina administrativa federal, diante dos passos para a criação de mais um ministério (o 39º) O corporativismo sindical ganhou peso de barganha para forçar “flexibilização” em seu favor da MP dos Portos. A mudança ministerial foi atropelada pelo “imperativo político” de tentar garantir à campanha reeleitoral o maior possível tempo de propaganda “gratuita” no rádio e na televisão. Em vez de uma redução dos gastos públicos, essa lógica implica o incremento de verbas para os programas assistencialistas – já existentes e novos. E, como resposta básica às pressões inflacionárias, uma sequência de ações pontuais de apelo popular, como a redução de tributos incidentes sobre a cesta básica, a contenção (pelo adiamento) das tarifas de transporte público e pequeno rebaixamento das contas do consumo de eletricidade, ao custo da descapitalização das empresas concessionárias e do bloqueio a investimentos na expansão do setor, mesmo diante de crescentes riscos de apagões.

Tudo isso se dá num contexto no qual a vitalidade de economia privada segue resistindo ao custoso gigantismo estatal e à falta de reformas essenciais, enquanto a continuidade das políticas assistencialistas garante elevados, e até crescentes, índices de popularidade ao governo e à presidente, apontando inclusive amplo favoritismo de sua candidatura à reeleição. Com a transferência para um próximo governo – dela mesma, provavelmente, ou de um oponente – de pesado ônus do populismo eleitoral. Além do adensamento das distorções estruturais e da baixa competitividade de nossa economia. E da sua marginalização de importantes acordos internacionais que se estão processando.

Jarbas de Holanda é jornalista

Explicando o "dilmês" - Merval Pereira

Fez bem a presidente Dilma Rousseff em explicar sua fala sobre discordar de "políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico", pois o "dilmês" quase sempre mais confunde do que esclarece. Reafirmar, em nota, que "o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente" do seu governo sinaliza ao mercado financeiro internacional a intenção de manter a inflação sob controle, o que não descarta o aumento da taxa de juros, justamente o contrário da expectativa que a primeira fala da presidente gerou no mercado.

As taxas de juros tiveram a queda acentuada no mercado futuro na crença de que a presidente havia, talvez por ato falho, explicitado uma política que parece clara a todos: um pouco mais de inflação não faz mal desde que haja crescimento. A acusação de que sua fala fora "manipulada" pela imprensa repete mais do mesmo, ou seja, culpar o mensageiro pela mensagem que repercutiu mal no mercado internacional.

Os jornais mais importantes do mundo, como o "New York Times" e o "Financial Time", vêm publicando nos últimos dias diversas reportagens sobre as dificuldades da economia brasileira, focando especialmente a alta da inflação e a crise da Petrobras, um ícone da pujança da economia brasileira, especialmente depois da descoberta do pré-sal. Os problemas da estatal brasileira são tidos pelo mercado financeiro como exemplares das dificuldades por que passa a nossa economia.

Há a sensação generalizada de que o país vive um ambiente crescentemente complexo de inflação alta e reprimida, com uma economia que ainda dá sinais tênues de recuperação, conforme a definição de um relatório de fundo de investimentos estrangeiro. O problema criado pela fala da presidente, que depois precisou ser retificada no seu sentido, é que o mercado financeiro está se convencendo de que o Banco Central não tem autonomia para aumentar a taxa de juros a fim de combater a inflação.

Os números indicam que a taxa de inflação está sendo segura pelo controle dos preços administrados pelo governo, que estariam com uma inflação de 1,6% devido à ação de retardar aumentos da gasolina ou de transporte público. Se os preços administrados estivessem com uma inflação dentro da meta de 4,5%, a inflação anual já estaria na faixa de 7,15%, que seria, segundo alguns analistas, um índice mais próximo da realidade atual.

A antecipação da campanha eleitoral para presidente também chamou a atenção dos analistas, que consideram que a presidente Dilma deixará para depois da sua provável reeleição uma ação mais forte de combate à inflação, o que faria com que este ano e o da eleição, em 2014, tivessem maiores riscos de perda do controle da inflação devido a medidas populistas que serão tomadas no período. Afinal, como a própria Dilma já disse, faz-se "o diabo" para vencer uma eleição.

Foi necessário ontem que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, viesse a público assumir uma postura até mesmo de enfrentamento em relação ao Ministério da Fazenda - coisa que não é de seu estilo - para garantir que o BC tem ampla autoridade para agir em caso de necessidade. Há no mercado financeiro a desconfiança de que o Banco Central apenas ganha tempo com declarações como as do último boletim oficial, dando a sensação de que pode aumentar os juros brevemente, para permitir que o governo mantenha uma política econômica mais solta de amarras a fim de aumentar a taxa de crescimento do PIB neste terceiro ano de governo Dilma.

O fato é que declaração que precisa ser explicada por uma nota oficial não ajuda o ambiente econômico, que necessita investimentos pesados para voltar a crescer.

Fonte: O Globo

O ato falho de Dilma - Eliane Cantanhêde

Pelo visto e pelos relatos da imprensa, a ida da presidente Dilma Rousseff à reunião dos Brics, em Durban, foi cheia de percalços. E de tropeços.

Dilma levou chá de cadeira do presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Depois de quase uma hora e meia esperando, com seus ministros, imagine-se o humor da presidente. Ela voltou para o hotel e foi à abertura do encontro, mas dispensou o jantar. Não é trivial. Será que alegou uma dor de cabeça danada?

Ontem, Dilma disse em entrevista coletiva que não concorda com combate à inflação à custa do desenvolvimento. Depois, diante da reação de espanto e crítica, disse que não disse. Mas é o que ela pensa, certo?

Vejamos as frases da presidente: 1) "Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico"; 2) "Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado. Eu vou acabar com o crescimento do país?".

O mercado deu um pulo. Interpretou que Dilma estava assumindo a leniência com a inflação, o que, a esta altura do campeonato, é quase uma heresia. Nesses pouco mais de dois anos, o combate à inflação não chega a ser prioridade. Mas há coisas que até se pensam, mas não se dizem. Principalmente presidentes.

Pelo Blog do Planalto, Dilma tentou consertar. Acusou que sua fala foi manipulada por agentes do mercado financeiro e empurrou o abacaxi para o presidente do BC descascar. Ele é que mostrasse por "A" mais "B" que, como disse Dilma na nova versão, "o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente".

Cá entre nós, a frase original de Dilma tem um fundo de verdade e combina com a ação do seu governo, já que a inflação ultrapassa o centro da meta e se aproxima do teto. E o pior é que o Brasil não tirou nota baixa na inflação para poder tirar 10 no crescimento. Com pibinho de 0,9% em 2012 (bem abaixo dos Brics), não brilhou em nenhum dos dois.

Fonte: Folha de S. Paulo

Meios e mensagem - Dora Kramer

Convencionou-se que o que falta à oposição ou a qualquer pessoa que venha a disputar o poder central com o governo do PT é "discurso".

Nesta concepção, a carência seria de mensagem. Não se leva em conta a força dos meios, como se não fossem estes que assegurassem o sucesso daquela junto ao público votante.

O governo tem tudo, sempre. De um para outro varia apenas o grau de pudor ou despudor em se utilizar do espaço em jornais, revistas, rádio, internet; dinheiro a rodo, diário oficial, cadeia nacional à disposição do freguês, poder de distribuir, ferramentas para fazer e desfazer "o diabo".

Sejamos francos: não foi falta de discurso, mas erro de estratégia o que levou o PSDB a não emplacar seu terceiro período na Presidência da República.

Da mesma forma não se pode dizer que a estabilidade da moeda tenha sido um "discurso" que elegeu Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real foi fruto de uma decisão de governo que tinha o poder real e legal para executá-lo.

Na época, 1994, o PT tinha o "discurso" da denúncia de que o plano era meramente eleitoreiro, uma repetição do Cruzado. Mas, quem tinha os instrumentos que acabaram por desmentir os argumentos era o governo. No caso, Itamar Franco, de quem FH era sustentáculo político e ministro da Economia.

Sejamos claros: o "discurso" de Fernando Collor não teria ido a lugar algum não fosse o fracasso fragoroso do Plano Cruzado, a inflação nos píncaros, a popularidade do então presidente nas profundezas e, consequentemente, a desistência de José Sarney de tentar eleger sucessor de sua preferência.

Acabou sendo eleito aquele que o chamava de "batedor da carteira da História" e depois viria a se tornar um disciplinado bajulador de Sarney na presidência do Senado.

Palavrório, todo mundo tem. A questão é saber quem desperta a esperança no melhor "fazetório", quem representa expectativa de mais bem-estar. Em contrapartida depende também de o governo em curso ser ou não alvo de desesperança e desconforto.

Discurso, em verdade, é o de menos. O senador Aécio Neves relata o processo de destruição das relações entre União, Estados e municípios, o chamado pacto federativo; bate na tecla do desmonte da Petrobrás; aponta o descalabro na infraestrutura; denuncia o aparelhamento da administração pública.

Eduardo Campos, em outro tom, fala de tudo isso, ressalta os feitos dos governos petistas e diz que pode fazer "mais e melhor". Até slogan já tem.

Mensagem não falta e com ela se pode até conquistar prefeitos e governadores, mas seduzir o eleitorado é outra história. Depende muito mais do crédito no dia de amanhã a ser garantido por quem está no poder do que na aposta do certo pelo duvidoso baseada apenas no discurso.

Serve para encontros com empresários e políticos, mas não necessariamente vale para despertar subjetividades suficientes para eleger um presidente.

Não sobra um. Doação eleitoral crime inafiançável? Foi o que propôs o ex-presidente Lula em debate no jornal Valor Econômico, ao defender o financiamento público de campanha.

O sistema carcerário não suportaria a demanda. Não fosse apenas uma tolice, a proposta poderia soar como um exagero proposital de quem tem culpa registrada nesse cartório - o mercado do caixa 2.

Este sim, é que mereceria mais rigor de legisladores, magistrados, governantes e partidos. O financiamento público, além de já existir na forma de recursos ao fundo partidário e renúncia fiscal às emissoras pela transmissão do horário eleitoral, não reduz a busca por mais recursos nem elimina a disposição dos doadores de agradar a futuras autoridades com poder de defender seus interesses.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Santo de barro - Tereza Cruvinel

Os palanques duplos são administráveis quando os dois lados mantêm um padrão elevado na disputa. Mas, no calor da campanha, é grande a tentação dos golpes baixos

“Não podemos permitir que a eleição da Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB”, disse o ex-presidente Lula em entrevista ao jornal Valor Econômico. O PMDB foi contemplado no ajuste ministerial da presidente, ainda inconcluso, mas a insatisfação com o governo ainda é grande, especialmente na bancada da Câmara, que se sente subrepresentada. Ela alimenta as divergências nos estados, que estão produzindo candidaturas concorrentes entre PT e PMDB. O acirramento é maior no Rio, entre as candidaturas de Lindbergh Farias e Luiz Fernando Pezão, mas o quadro deve se repetir na maioria dos estados. As queixas brotam em qualquer roda de peemedebistas, tendo o líder Eduardo Cunha como porta-voz. Uma situação que contraria as recomendações de Lula ao PT.

Com as mudanças no ministério, diz ele, a presidente devolveu ao PMDB, ao transferir o ministro Moreira Franco para a Anac, um pedaço do ministério da Defesa que o partido ocupava no Governo Lula com Nelson Jobim. Ao trocar Mendes Ribeiro por Antonio Andrade na Agricultura, ambos do PMDB, “ela resolveu foi um problema eleitoral dela em Minas”. Dilma, de fato, vai precisar de um bom palanque, e da coalizão unida, no estado onde Aécio Neves certamente será vitorioso na disputa presidencial. “No fim e ao cabo — diz o líder — a situação ficou praticamente a mesma”. Ele cita postos importantes que o partido ocupava no Governo Lula e perdeu na presidência Dilma. Os ministérios, que eram cinco (Transportes, Agricultura, Comunicações, Saúde e Minas e Energia) foram reduzidos a quatro e meio (Turismo, Previdência, Agricultura, Minas e Energia e Anac). No segundo escalão foram-lhe tiradas a presidência de Furnas, uma vice-presidência do Banco do Brasil, uma das três vice-presidências da CEF, a diretoria do Dnocs, duas diretorias da Eletrobras e uma da Petrobras. “O compartilhamento do poder se dá pela distribuição dos cargos e também pela participação nas decisões governamentais. Nos dois aspectos, o governo não tem para com o PMDB a deferência correspondente ao papel que se espera dele”, acrescenta Cunha, antevendo a contaminação das articulações eleitorais nos estados pelas insatisfações decorrentes da insatisfação das bancadas.

Está claro, nesta altura, que na maior parte dos estados PMDB e PT terão palanques distintos. Uma coalizão nacional jamais se imporá verticalmente num país como o Brasil. A situação é administrável quando os dois lados mantêm um padrão elevado na disputa. Mas, no calor da campanha, alguns cedem ao golpe baixo. Nas preliminares em que estamos, já surgiu uma denúncia contra o senador petista, atribuída pelo próprio veículo que a publicou ao PMDB do Rio. Imagine-se o que haverá quando estivermos de fato em 2014.

O troco de Feliciano

Marco Feliciano e seus apoiadores evangélicos estão partindo para o “bateu, levou”. O presidente da Câmara, Henrique Alves, havia dado prazo até anteontem, para que o PSC e os líderes resolvessem essa crise bizarra em torno da Comissão de Direitos Humanos, que ontem produziu novos confrontos com os manifestantes que pedem a saída do pastor. A reunião de terça-feira à noite acabou sem solução porque os evangélicos apresentaram a Henrique uma denúncia de 2011 contra o ex-presidente da comissão, o petista Domingos Dutra, um dos que têm pedido a renúncia do sucessor. Ele teria demitido uma empregada doméstica que, ao discutir a rescisão trabalhista na Justiça, teria descoberto que era, na verdade, funcionária da Câmara. E que seu verdadeiro salário era o dobro do que recebia”. Os evangélicos teriam armado um barraco, exibindo a abertura de processo contra Dutra no Conselho de Ética. O tempo fechou e a reunião se encerrou com Feliciano mantido no cargo. E assim a crise continua.

O essencial e o oportuno

É do Congresso, que há tempo enfrenta o apedrejamento, a iniciativa de mudar a Constituição para suprimir a existência dos trabalhadores de segunda classe, os domésticos, em sua maioria mulheres, equiparando seus direitos aos dos demais empregados. Isso foi possível agora graças ao consenso social criado em torno da agenda de combate à pobreza, este um mérito do Executivo. Daqui a alguns anos, os que olharem para trás se perguntarão como isso era possível, assim como hoje achamos espantoso que tenha havido o tráfico negreiro e a escravatura.

Mas a campanha eleitoral está aí, estimulando a aprovação de leis que agradam mas, por genéricas, precisarão ser regulamentadas para não criarem confusão. É o caso do projeto aprovado pela Câmara, dispensando os moradores de pagar pedágio nos postos instalados em seus municípios. É justo, mas a ANTT e a Associação dos Concessionários de Rodovias estão de cabelo em pé. A lei não explica como o cidadão provará que é morador. Se for com uma mera conta de luz, a fraude vai campear.

Fonte: Correio Braziliense

Presidente permanente – Editorial / O Estado de S. Paulo

A habitual fluência, surpreendente serenidade - deu apenas uma canelada no antecessor Fernando Henrique - e uma observação perspicaz sobre a atmosfera das audiências da sucessora Dilma Rousseff pontuaram a primeira grande entrevista do seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva a um jornal brasileiro, no caso o Valor, desde que desceu do Planalto. Desceu, as suas palavras deixam claro, apesar dos disfarces, apenas em sentido formal. Longe da jactância que foi a marca registrada dos seus pronunciamentos quando presidente, desta vez ele se esforçou para parecer menos do que é na esfera da política e do governo. A propósito da campanha sucessória, por exemplo, o articulador da formidável coligação para eleger Dilma em 2010 diz que prefere percorrer o País de palanque em palanque a "trabalhar nos bastidores". Perguntado se não se dedicará nem à costura de alianças, nunca antes terá sido tão modesto - e inverídico - ao responder: "Não precisa ser eu. O PT costura".

Nem por isso deixou de discorrer à larga, sem descalçar as sandálias da humildade, sobre a possível candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com quem ressaltou ter uma "amizade inabalável", e uma eventual iniciativa de sua parte para demovê-lo da ideia. "Não tenho procuração nem do Rui Falcão nem da Dilma para negociar qualquer coisa", devolveu, como se dependesse do presidente do PT para o que for. No mesmo tom, ao tratar da escolha do candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes, no quadro de uma aliança "além dos limites da esquerda", a exemplo daquela que construiu para Fernando Haddad, declarou-se, como que de olhos baixos, pronto a "dar um palpite, se o partido quiser me ouvir". Mas ao comentar a desavença entre o governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB, patrono da candidatura de seu vice Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o companheiro Lindbergh Farias, que também aspira ao Palácio Guanabara, deixou os eufemismos de lado.

"Na minha cabeça, o projeto principal é garantir a reeleição de Dilma", afirmou - o que significa que, se a protocandidatura do ex-presidente da UNE for um estorvo no Rio, não vingará. O mesmo se aplica aos demais Estados. No PT, de há muito que a única sentença que conta é a que sai da cabeça de seu nume tutelar. Para ele, vale o que ditou em 2010: "Não podemos permitir que a eleição de Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB". E isso depois de ter contado que dias atrás ligou para a presidente e lhe disse que tomasse cuidado "para não passar dos 100%", referindo-se aos seus altos índices de popularidade e folgada liderança nas pesquisas de intenção de voto. Ele contou também que, ao deixar o Planalto, "tinha vontade de dar minha contribuição para a Dilma, não me metendo nas coisas dela". E "acha" que conseguiu, "quando viajei 36 vezes depois de deixar o governo". Faz lembrar a quase lógica dos seus discursos de palanque.

Lula, evidentemente, não pode confessar a verdade conhecida de todos: que ele, pelo menos na sua cabeça, continua presidente - e não raro age como tal. Ainda que pareça sincero ao declarar que "nunca esse País teve uma pessoa que chegou na Presidência tão preparada como a Dilma" porque "ela conhecia (o governo) por dentro", diferentemente da situação dele próprio e de Fernando Henrique. (Nesse ponto, não resistiu e se cobriu de glórias: "Foi um grande acerto".) É tido e sabido, por exemplo, que ela só passou a receber empresários com certa frequência depois de instada por Lula, por mais que este dê a entender que a ficha da presidente caiu sem a sua interferência. Ele foi arguto, de toda maneira, ao chamar a atenção para um complicador das conversas de Dilma, além do seu estilo. "Homem fala coisa que mulher não pode falar, conta piada", observou, numa alusão ao que ele fazia, bem à brasileira, para desanuviar o ambiente nos encontros mais difíceis. É provável ainda que os homens não tenham o hábito de "perceber a mulher em um cargo mais importante". Seja como for, a avaliação positiva do governo Dilma, a julgar pela mais recente sondagem do Ibope, é praticamente a mesma entre homens e mulheres

Lula, o dono do otimismo - Cristian Klein

No filme chileno "No", ainda em cartaz, conta-se a história do referendo que marcou a transição do autoritarismo para a democracia no país vizinho. Em 1988, depois de quase 14 anos no poder, o ditador Augusto Pinochet foi levado pela pressão da comunidade internacional a realizar uma consulta popular para legitimar o seu regime. Com o controle do aparato estatal e a força bruta da intimidação, Pinochet tinha tudo para vencer o referendo. A campanha do "Sí", que defendia a continuidade de seu governo, era favorita e poucos imaginavam em uma reviravolta. Até que a entrada de um publicitário na campanha do "No" (interpretado pelo ator Gael Garcia Bernal) começa a incomodar e a mudar os humores da opinião pública - o que acabou por decretar o fim dos anos de chumbo do general, dois anos depois.

Um dos grandes méritos do filme é mostrar os bastidores das divergências entre o publicitário e os principais líderes da oposição. Enquanto o marqueteiro queria construir uma campanha otimista, bem-humorada, para cima - nos cânones da publicidade comercial de um mero refrigerante - a discórdia se instalou entre os políticos.

Para alguns, era inaceitável que os horrores, as torturas, os desaparecimentos perpetrados pela ditadura não constassem das peças exibidas contra o regime na TV. O marqueteiro, cioso do que vende e do que não vende na cabeça de um consumidor, resistia: o clima pesado é pouco atraente, assusta. Os dirigentes partidários contra-argumentavam, dizendo que não se tratava de convencer bebedores de coca-cola, mas cidadãos. O tom da campanha era um desrespeito e um acinte à história de luta dos milhares que tombaram durante a ditadura.

Seu papel é de um vendedor que oferece o Brasil ao mercado

Para o publicitário, o que estava em jogo era simplesmente uma questão de propaganda. E propaganda é, acima de tudo, otimismo. Não se deveria falar do passado, mas do futuro. A tão desejada democracia estava logo ali à frente, ao alcance de todos. Bastava responder "No", com os dedos da mão, no dia do referendo, tal qual o movimento dos limpadores de parabrisa dos automóveis em dia de chuva. A democracia vem depois da tormenta e tem as cores do arco-íris, transformado em símbolo da campanha - uma total inversão do que se esperaria de um movimento de oposição. A estratégia confunde os pinochetistas. Um ministro chega a perguntar a um dos marqueteiros da campanha do "Sí": "Mas arco-íris não é coisa de gay (maricón)?"

Sem preconceito moral ou político, o marqueteiro usou elementos da cultura pop e do capitalismo como armas a favor de uma causa em cuja linha de frente estavam velhos militantes socialistas e comunistas.

É certo que o filme toma "liberdades poéticas" em relação aos personagens reais e ao que de fato aconteceu durante o plebiscito. Mas o quadro geral não altera a mensagem principal: a de como princípios políticos estão sujeitos à diluição quando a tarefa maior é conquistar a opinião pública (ou um mercado qualquer).

No Brasil, um ano depois do referendo chileno, em 1989, a campanha do PT à Presidência - a primeira depois da redemocratização - já entendia a necessidade de uma linguagem leve, como a paródia dos telejornais da TV Globo, para vender a candidatura do então ferrenho opositor Luiz Inácio Lula da Silva.

Com o discurso tonitruante e raivoso, Lula metia medo em boa parte da população e não passaria da barreira dos 30% até que na quarta eleição, em 2002, venceu com uma estratégia radicalmente diferente. A mudança começou primeiro na política, com a aliança inédita com um partido de direita, o PL (hoje PR), cujo vice foi o empresário José Alencar. Depois, o marketing alterou a forma. O candidato era de oposição, mas a imagem, criada por Duda Mendonça, era a do "Lulinha paz e amor", na mesma linha do arco-íris chileno.

É este mesmo Lula que continua a surpreender - em relação a seu passado - e a avançar em direção a uma visão mais pragmática do seu papel, agora como ex-presidente da República. É o que se depreende de sua entrevista ao Valor PRO - a primeira sobre política e economia que ele concede desde o fim de seu mandato.

O que mais chama a atenção é a franqueza com que o ex-presidente justifica suas palestras e viagens ao exterior pagas por empreiteiras brasileiras. "Viajo para vender confiança. Adoro fazer debate para mostrar que o Brasil vai dar certo. Compre no Brasil porque o país pode fazer as coisas. Esse é o meu lema. Se alguém tiver um produto brasileiro e tiver vergonha de vender, me dê que eu vendo. Não tenho nenhuma vergonha de continuar fazendo isso. Se for preciso vender carne, linguiça, carvão, faço com maior prazer", afirmou.

Desde que terminou seu mandato, Lula parece não ter a menor pretensão aristocrática de ser um estadista no sentido clássico. Seu projeto é popular, nacionalista e ao mesmo tempo burguês. Seu papel é de um vendedor que vai ao mercado mundial oferecer o Brasil, de um empreendedor, de um "self-made man" político e econômico. "Tem pouca gente com autoridade de ganhar dinheiro como eu, em função do governo bem-sucedido que fiz neste país", afirmou, sem revelar o valor cobrado por palestras.

No Brasil e no exterior, Lula é o dono do otimismo. Um otimismo, no entanto, que depende dos limites da disputa política interna. Se o PT fosse oposição, diria que o copo d"água está mais vazio do que cheio, como obrigatoriamente faz qualquer adversário do status quo.

Políticos não são proprietários do conteúdo de sua retórica da mesma forma que os marqueteiros são amarrados pela lógica da forma, geralmente otimista.

Lula foi inimigo do capitalismo enquanto agentes econômicos eram seus inimigos no mercado eleitoral. Uma vez selada a aliança interna e alcançada a hegemonia, rebaixa-se a ideologia. Os adversários agora são os chineses que querem vender seus produtos na África. Lula é o líder da cruzada. Tem o monopólio do otimismo que vende. E, assim, dá razão, aos que explicam a formação dos Estados nacionais como criações que servem de arma aos interesses organizados de grupos capitalistas.

Fonte: Valor Econômico.

A hora do bem - Denise Rothenburg

Este ano pode ser pródigo no sentido de fazer valer a agenda politicamente correta. Afinal, em 2014 tem eleição e não haverá tempo para aprovar muita coisa. Portanto, a hora de fazer bonito para o eleitor é agora. Daí, a janela aberta para temas como a PEC das Domésticas

Nas filas dos supermercados, no cabelereiro, no ponto de ônibus, na academia, no bar, no restaurante. O tema PEC das Domésticas — como ficou conhecida a emenda à Constituição que vai garantir àqueles trabalhadores residenciais os mesmos direitos de demais — caiu na boca do povo. Nos bastidores, muitos políticos criticaram a proposta. Mas, na hora do voto, foi aquela festa com cheiro de unanimidade.

A dinâmica que fez seguir avante a PEC das Domésticas foi semelhante àquela que fez caminhar a Lei da Ficha Limpa. Não há como ser contra uma coisa ou outra. Afinal, direitos trabalhistas devem valer para todos. Da mesma forma, é óbvio que, se alguém precisa ter ficha limpa para ocupar um cargo público, o mesmo princípio deve ser aplicado para quem disputa a eleição.

Há no ar que se respira no Congresso a clara sensação de que as coisas começam a mudar no mundo da política, ainda que lentamente. Obviamente, vê-se alguns resvalos, como a eleição de Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos de Humanos e Minorias da Câmara, mas o fato é que, quanto mais se fala nesse deputado, que há alguns dias era um completo desconhecido, mais ele “se acha” e se faz de vítima.

Feito esse parêntese, voltemos à PEC: Quando o texto foi apresentado, em 2012, pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), ninguém acreditava que chegaria lá. Estica daqui, joga dali, a emenda foi caminhando. E, se comparada a outras propostas que aguardam há anos na Casa, o tempo de tramitação pode ser considerado recorde.

Mas, como muitos outros artigos da Constituição, falta a regulamentação. E, assim, vão ficar para depois o FGTS, o seguro-desemprego, o salário-família, entre outros. A velocidade dessa regulamentação dependerá da forma como a população pressionará os congressistas. Afinal, essa PEC talvez não tivesse entrado em votação se não fosse o empenho do presidente do Senado, Renan Calheiros, e dos líderes partidários no sentido de consolidar uma boa imagem perante o cidadão comum. O mesmo raciocínio pode ser usado para a regulamentação do texto.

Este ano, aliás, pode ser pródigo no sentido de fazer valer a agenda do bem — ou aquela politicamente correta. Afinal, no ano que vem tem eleição e não haverá tempo para aprovar muita coisa. Portanto, a hora de fazer bonito para o eleitor a fim de ganhar a simpatia para o ano que vem é agora. Daí, a janela aberta para temas como a PEC das Domésticas.

Essa emenda, por si só, proporcionará uma revolução no trabalho doméstico no Brasil. Hoje, há uma legião de trabalhadores que adora chegar ao serviço mais tarde e sair mais cedo. Diante de uma relação mais profissional e com todos os direitos assegurados, a categoria também terá que cumprir a sua parte no acordo, respeitando a jornada de 44 horas semanais, quer isso signifique trabalho aos sábados ou a extensão da jornada semanal em 4 horas para folgar o fim de semana inteiro. O mesmo vale para os patrões que adoram “prender” seus empregados no serviço além do horário regular. Agora, esse excesso terá um custo. Entraremos agora na fase dos ajustes de parte a parte. Tomara que esse período pegue o mesmo embalo que fez valer a aprovação da PEC. Afinal, uma relação profissional e respeitosa só faz bem.

Por falar em respeito…

Bastou uma entrevista do ex-presidente Lula para baixar a poeira entre PT e PMDB. Ao dizer ao jornal Valor Econômico que a prioridade é reeleger Dilma e deixar claro que não fará um cavalo de batalha pela primazia de candidato do PT seja no Rio ou em São Paulo, o ex-presidente agradou muito aos peemedebistas, que se sentiram respeitados por ele. Também deixou contente o PSB ao mencionar que uma candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não atrapalhará a amizade de ambos.

Faltou, entretanto, combinar com os adversários. O PT não abre mão da candidatura de Lindbergh ao governo do Rio e isso será sinal de confusão com o PMDB. Para completar, Lula já anuncia de antemão que irá fazer campanha para Dilma em Pernambuco, o que, fatalmente, soará como provocação a Eduardo Campos. Isso significa que muita água ainda vai rolar embaixo dessa ponte até se acertar os ponteiros entre os partidos, se é que haverá acertos. Mas, por enquanto, Lula conseguiu o que queria: distencionar o ambiente para os próximos 15 ou 20 dias. Depois, é outra história.

Enquanto isso, no PMDB do B…

No papel de dissidente, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) está organizando um jantar de senadores com Eduardo Campos para a semana que vem e pretende levar vários peemedebistas. O período pós-Pácoa promete. Eu vou até ali dar uma descansada e retorno a este espaço na terça-feira. Que Deus ilumine a sua Páscoa! Amém!

Fonte: Correio Braziliense

Banco Central eleva previsão de inflação no ano para 5,7%

SÃO PAULO - O Banco Central elevou a previsão de inflação para 2013 e 2014 e estimou que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deste ano crescerá 3,1%. Foi projetado ainda que a inflação em 12 meses vai estourar o teto da meta no segundo trimestre deste ano.

Segundo o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira, o IPCA, índice de inflação oficial, ficará em 5,7% neste ano pelo cenário de referência, ante previsão anterior de 4,8%. No próximo ano, foi estimado em 5,3%, acima da previsão anterior, de 4,9%.

O relatório sai um dia após a presidente Dilma Rousseff criar polêmica ao dizer que não concorda com políticas que reduzem o crescimento para combater a inflação.

O BC estima ainda que a inflação em 12 meses vai estourar o teto da meta no segundo trimestre deste ano, chegando a 6,7%. Segundo o documento, os preços terminam o primeiro trimestre de 2013 no teto da meta, em 6,5%, e só começam a recuar a partir do terceiro trimestre.

Em relação ao PIB, a projeção anterior, que considerava os quatro trimestres encerrados no terceiro trimestre de 2013, previa alta de 3,3% dentro desse intervalo.

Já o consumo das famílias deve mostrar elevação de 3,5% no ano --o relatório anterior projetava crescimento de 4%. Em 2012, apresentou alta de 3,1%.

Dilma

A declaração de Dilma, feita em Durban (África do Sul) durante reunião dos Brics, levou o mercado financeiro a reduzir apostas de que o Banco Central subirá os juros para controlar as recentes pressões inflacionárias.

Embora Dilma tenha dito também que o governo está atento à inflação, o mercado interpretou seu discurso como indicação de que ela seria contra uma elevação de juros para conter a alta dos preços porque essa medida brecaria o crescimento.

Para o mercado, a declaração prejudicou a credibilidade da autoridade monetária. A reação de investidores foi reduzir suas expectativas de alta de juros.

A taxa refletida nos contratos do mercado futuro com vencimento em janeiro de 2014 recuou de 7,79% na terça-feira para 7,74% ontem, depois de forte oscilação ao longo do dia.

Operação abafa

Poucos minutos após a fala da presidente sobre inflação, o governo Dilma embarcou em uma frenética operação de "controle de estragos".

O presidente do BC, Alexandre Tombini, foi acionado por Dilma. Ele ligou para a agência Broadcast no Brasil. Segundo a agência, Tombini disse que a presidente pediu que o "mal entendido fosse desfeito e que não há tolerância em relação à inflação".

Pouco tempo depois, a presidente resolveu culpar a imprensa. O blog do Planalto divulgou post em que Dilma dizia: "Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo".

Enquanto isso, em Durban, o Planalto também pôs em movimento sua operação "não disse o que disse".

Uma assessora da presidente foi ao centro de convenções com uma van para levar os jornalistas até o resort, a 40 quilômetros de distância, onde Dilma se reunia com Xi Jinping, o novo líder chinês.

Os jornalistas foram posicionados na frente da porta por onde Dilma sairia. A presidente, visivelmente irritada, reagiu à pergunta da TV Globo: "Presidente, a senhora quer esclarecer sua fala sobre a inflação?".

"A notícia que saiu é manipulada", disse Dilma. "Sou uma pessoa que até já escreveu que o combate a inflação é um valor em si; repudio a manipulação da fala."

As frases, no entanto, haviam sido ditas em entrevista gravada, depois distribuída pela própria assessoria de Dilma. Recado dado, a presidente prosseguiu, de cara amarrada, em direção ao aeroporto.

Fonte: Folha de S. Paulo