Governador
de São Paulo confirma que disputará prévias para candidatura presidencial do
PSDB
Por
César Felício e Cristiano Romero / Valor Econômico
Brasília e São Paulo - O
governador de São Paulo, João Doria (PSDB), já definiu o que quer em 2022 e sua
estratégia para chegar onde deseja. Redobrará a aposta no projeto de
candidatura presidencial, deixando o governo estadual para ser disputado pelo
vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), preferencialmente filiado ao PSDB. A
decisão sobre a migração deve ser tomada por Garcia nas próximas semanas,
acredita Doria. Ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) estaria reservada a
vaga ao Senado ou o papel de puxador de votos para a Câmara, a depender do
senador José Serra (PSDB-SP) concorrer ou não a um novo mandato.
Como
candidato a presidente, Doria almeja congregar o máximo possível das forças que
transitam na faixa do centro, em um arco que vai de Ciro Gomes (PDT) a João
Amoêdo (Novo), passando por Luiz Henrique Mandetta (DEM), Luciano Huck, Sergio
Moro e o correligionário Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Ele
pensa que há “uma avenida democrática” para transitar entre os dois extremos da
eleição, o da direita, representado pelo presidente Jair Bolsonaro, e o da
esquerda, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Voltar
ao passado para garantir a melhor opção para o futuro [...] é a própria
falência da democracia”
Aos
dois ele não economiza críticas. A Bolsonaro, pela condução da pandemia, define
como um “psicopata” e pede a avaliação de uma junta médica. Com Lula, Doria
evita ataques no plano pessoal. Diz que um retorno do petista ao poder
representaria mais quatro anos de enfrentamento permanente e o fracasso da
política e da sociedade em construir uma saída para a crise.
No
calendário sonhado por Doria, o debate sobre 2022 esquenta só no fim do ano,
quando a pandemia já pode ter se arrefecido com o avanço da vacinação e o PSDB
deve fazer prévias para a definição de um pré-candidato. Ele desdenha do fato
de ter ínfimos percentuais de intenção de voto em todas as pesquisas eleitorais
já realizadas. Cita como precedente a sua largada baixa em 2016, quando se
lançou à prefeitura de São Paulo com a apenas 1% nos levantamentos. Ele ganhou
com maioria absoluta. O governador falou de seus planos em 40 minutos de
conversa com o Valor.
Eis os trechos mais importantes da entrevista:
“Rodrigo
Garcia tem sido excepcional [...] nossa expectativa é que ele seja um candidato
competitivo”
Valor: Como o senhor analisa o momento atual da
pandemia?
Doria: O momento é
difícil, de muita cautela, embora tenhamos nas duas últimas semanas obtido
melhores resultados em relação à ocupação de leitos primários e de leitos de
UTI, o que permitiu sairmos da fase emergencial. Mas ainda a covid exige
cuidado e atenção.
Valor: No início da crise o senhor imaginava que o
país fosse se tornar o epicentro da epidemia mais grave em 100 anos, como
chegou a ser?
Doria: Já se
prenunciava uma crise mais grave quando o presidente Jair Bolsonaro, diante do
agravamento da pandemia, dizia que era um resfriadozinho uma gripezinha, algo
não importante. Vários ministros dele diziam em março do ano passado que não
morreria no Brasil mais de 4 mil pessoas, como se fosse pouco. O resultado é
que nós temos 380 mil pessoas mortas no Brasil. Já se apresentava aí um quadro
triste de um governo negacionista. Mas não se imaginava que isso se daria de
forma tão sórdida, tão distante da proteção à vida. O Brasil se tornou um pária
do mundo. Não foi só Bolsonaro, o Brasil se tornou. Sendo o país com o maior
número de mortos na média diária e o segundo em número absoluto em mortes, o
mundo está fechando as portas para os brasileiros, não só para o governo
brasileiro, o que é ainda mais grave.