O vice-presidente Michel Temer afirma, em entrevista a Marcelo Moraes, que o
PMDB só lançará candidato à Presidência em 2018. Em 2014, o projeto é repetir a
chapa com Dilma Rousseff, preservando seu espaço como vice. Ele reconhece que a
renovação foi a marca da campanha municipal, mas afirma que "a presidente
Dilma é uma novidade na política brasileira".
"A Dilma ainda
é uma novidade na política brasileira", diz Temer
Michel Temer defende manutenção da chapa presidencial em 2014 e diz que
plano do PMDB de candidatura própria deve ser discutido apenas em 2018
Marcelo de Moraes
BRASÍLIA - Mesmo com a onda de renovação se espalhando em muitas disputas
municipais, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) se sente confortável para defender
a repetição da chapa com a presidente Dilma Rousseff em 2014, preservando seu
espaço como vice e procurando espantar a sombra do fortalecido PSB do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Na opinião de Temer, o PMDB se mantém extremamente forte e credenciado pela
eleição de mais de mil prefeitos. Reconhece que a renovação foi uma realidade
na campanha, mas avalia que a dupla formada por Dilma e ele ainda representa
uma novidade para os eleitores. "A presidente Dilma é uma coisa nova. Na
política brasileira, ela ainda é uma novidade. Ela traz isso e a ideia de um
governo muito produtivo", diz.
Apesar do tamanho de seu partido, Temer revela que o plano de candidatura
própria só deve ser discutido em 2018. Até lá, o plano é manter a parceria com
o PT. Essa aliança acabou sendo fechada no 2.º turno, em São Paulo, e
contribuiu para a eleição do petista Fernando Haddad. Agora, pode assegurar um
ministério para o deputado Gabriel Chalita, candidato do PMDB na cidade.
Como o sr. avalia o desempenho do PMDB no 1º turno?
Acho que foi muito positivo. Nossa meta era fazer mais de mil prefeitos.
Acabamos fazendo 1.031 em todo o Brasil. Só em São Paulo tivemos um acréscimo
substancial. Basta dizer que na Câmara dos Vereadores não tínhamos nenhum e
passamos a ter quatro. Gabriel Chalita teve um desempenho extraordinário como
candidato a prefeito. E o próprio lançamento de uma candidatura em São Paulo
influencia também no interior. Aumentamos em 21 municípios. Saímos de 70 e
fomos para 91. Estou dando o quadro de São Paulo porque retrata um pouco o
quadro do Brasil. Muitas vezes vejo alguma afirmação dizendo que o PMDB caiu em
relação à última eleição. Diminuiu o número, é verdade. Mas ainda é o maior
partido. O segundo tem 700 e poucas prefeituras. Atingimos a meta de manter o
maior número de prefeitos, quase 8 mil vereadores. O desempenho do PMDB foi
muito grande.
Um dos recados dados pelo eleitor foi a renovação. O sr. acha que o eleitor
disse aos políticos "quero coisa nova"?
Acho que houve esse recado. Principalmente quando o nome novo sensibilizou o
eleitorado. Porque, às vezes, pode ter um nome novo, inexperiente que não
sensibiliza o eleitorado. Acho que houve em todo o Brasil um pouco essa coisa
da novidade. O que é uma coisa útil. Não acho que seja uma coisa a ser
criticada. É algo a ser elogiável. Acho que a renovação não foi num partido só,
mas de maneira geral.
Essa renovação pode servir como recado para uma eventual candidatura da
presidente Dilma Rousseff à reeleição?
A presidente Dilma é uma coisa nova. Na política brasileira, ela ainda é uma
novidade. Ela traz isso e a ideia de um governo muito produtivo. Ela está
fazendo um governo muito fértil para o povo brasileiro, que aplaude a
presidente. Veja que ela tem um índice de aprovação de 70%. Não estou dizendo
aqui que ela vai ou não para a reeleição. Isso é uma questão que ela decidirá,
o partido dela decidirá. Mas que ela continua sendo uma novidade não tenho a
menor dúvida disso.
O tema renovação não anima o PMDB a lançar um candidato à Presidência?
O que se discute muito é uma possibilidade de candidatura em 2018. No presente
momento, a tendência natural, especialmente em face do entrosamento que houve
entre PMDB e PT, é manter a aliança para 2014. Você vê que o PMDB fez o maior
número de prefeituras e o PT ficou em terceiro lugar. Mas, somando os dois dá
um total de quase 1.800 prefeituras. Incluindo duas cidades fundamentais como
São Paulo e Rio de Janeiro. Muito naturalmente, houve uma integração entre os
dois. Por isso acredito que no PMDB é mais ou menos unânime a ideia de que em
2014 devamos repetir a aliança.
O sr. fala em 2018, que está bem distante. Nas últimas eleições, o PMDB só
teve candidatura própria em 1994, com Orestes Quércia. Pelo tamanho do partido,
não é pouco? Pode haver alguma pressão interna para ter um candidato?
Acho pouco provável. Agora, reconheço que há sempre nos partidos uma tendência
a dizer "puxa, um dia podemos ter candidato próprio". Mas tivemos
candidaturas próprias para governo em vários Estados. Um dos objetivos em 2014
será fazer uma base parlamentar forte. Todas as vezes dizem: agora o PMDB vai
diminuir. Agora o PMDB vai desaparecer. E o partido continua muito grande. Acho
que essa parceria com o PT foi proveitosa.
O PSB cresceu expressivamente nesta eleição. E se fala muito que o partido
tem um pé em cada canoa. Para neutralizar um eventual apoio à oposição, o sr.
teme que o governo decida dar ao PSB a vaga de vice que hoje é do PMDB?
Não penso dessa maneira. O PSB teve um bom desempenho, mas os desempenhos são
muito em função das pessoas e das localidades. Sempre disse que as divergências
existentes nos municípios não podem contaminar a aliança nacional. E essa
aliança hoje é do PT, PMDB, PSB, vários partidos. A eleição municipal já
passou. Agora, vamos olhar 2014. E em 2014 penso que o PSB, liderado pelo
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pode vir com esta aliança que foi
vitoriosa em 2010.
Em 2014, é mais fácil o PSB ser aliado do governo ou da oposição?
A tendência é a aliança com o governo.
É possível para o governo abrir mão do PMDB numa chapa presidencial?
Se perguntar para mim, que sou do PMDB, digo que não. Mas não sei dizer o que
se passa na cabeça da presidente Dilma. Os indicativos levam a uma conclusão
que haverá a repetição da aliança e, consequentemente, da chapa. Mas 2014 se
decide em 2013.
Essa discussão sobre renovação passa também por uma nova agenda? O PT e o
governo reduziram o discurso sobre temas de inclusão social e já priorizam a
nova classe média. Essa é a estratégia para conquistar um novo mandato?
Houve um momento histórico em que o principal tema era a inclusão social, que
foi feito com muito sucesso. E daí nasceu uma nova classe média. Esse setor é
exigente de novas questões governamentais e empresariais. O governo está muito
atento a isso. A redução dos juros e do custo da energia, o controle da
telefonia celular são questões que dizem respeito a essa classe média e para
atender a nova realidade social.
Isso inclui também as questões de melhora da infraestrutura do País?
Claro. Isso será atacado. A presidente me disse há dias: "Temer, o que
precisamos é continuar a fazer um bom governo em 2013. Esta é a melhor política
que nós temos que fazer". E continuar a fazer um bom governo significa
atender essas demandas da infraestrutura. O governo está cuidando da questão de
portos, aeroportos, rodovias.
Mas é possível ser otimista nesse sentido no momento em que o País tem visto
uma sequência de casos de apagões, especialmente no Norte e Nordeste?
O governo já está atacando o problema. A presidente fez reuniões com todos os
setores da área energética para cuidar desse assunto. E é bom que seja assim.
Um governo que é muito bem avaliado sob o foco econômico, social, não pode
falhar nesse setor da energia.
A infraestrutura é hoje o maior nó do governo? Especialmente sabendo que a
Copa do Mundo e a Olimpíada acontecerão em breve?
Copa e Olimpíada farão justamente com que haja muito investimento nessa área.
Mas os problemas desse setor derivam mais dessa ascensão social que se deu.
Quando você coloca 35 milhões de pessoas que nada consumiam e passam a fazê-lo,
a exigência de melhoria é muito maior. 35 milhões de pessoas é um país.
Outra questão central para o governo é garantir crescimento econômico, o que
tem acontecido em números bastante tímidos...
O sinal que a presidente dá sobre esse assunto é muito positivo. Começou a
haver já nesse trimestre uma pequena elevação do crescimento. E a tendência
para 2013 é de uma elevação substancial.
Fernando Haddad, do PT, venceu em São Paulo com apoio do PMDB no 2º turno,
através da aliança com o ex-candidato Gabriel Chalita. O sr. acha que ele deve
virar ministro?
Se ele vier para o ministério, seria útil para o governo. Mas quem decide isso
é a presidente Dilma. Chalita tem experiência e pode adequar-se bem em qualquer
cargo do País.
O PSDB teve um mau resultado em São Paulo, com a derrota de José Serra. Como
o sr. avalia o desempenho dos partidos de oposição na eleição?
Serra é uma figura preparada. Não há dúvida disso. Mas houve um cansaço. O
eleitorado de São Paulo ficou cansado de certas figuras.
A oposição conseguirá fazer frente a uma nova candidatura de Dilma?
Não sei o que vai acontecer em 2013 e 2014. Mas se o governo continuar no ritmo
em que está, a possibilidade da reeleição é muito palpável.
O diretório do PMDB no Rio ganhou muita força dentro do partido. Depois das
eleições, o prefeito Eduardo Paes chegou a reivindicar seu espaço na vice para
Sérgio Cabral. Depois, fez-se um evento para selar a paz. Ela foi realmente
selada?
O PMDB teve uma vitória muito significativa lá. E isso se deve à liderança do
Cabral, do Paes. Fizeram bons governos e a população soube reconhecer. Quando
ocorreu o episódio do Eduardo Paes, logo em seguida Sérgio Cabral me telefonou,
dizendo que se eu fosse candidato a vice, seria o candidato deles. E o Paes,
que é um homem muito elegante, fez um almoço no Rio, onde me disse que só
queria homenagear Sérgio Cabral e que eu era o candidato dele.
Se a presidente Dilma o convidar, o sr. deseja continuar como vice?
A ideia é de manter a aliança. A chapa é possível que se repita. Tem sido assim
na história das reeleições.
Terminada a eleição, volta a se falar sobre reforma política. É possível
fazer algo nesse sentido?
A reforma é necessária. Tenho sustentado que essa é uma tarefa do Congresso.
Mas é preciso que todas as forças da Nação se unam. O governo tem de entrar
nisso dizendo que é preciso fazer. As pessoas saem das eleições reclamando
muito do que ocorre antes e durante do processo eleitoral.
O alto índice de abstenção já não foi um sinal dessa insatisfação?
Seguramente. Respeito muito a pluralidade partidária, mas evidentemente quando
se pensa em 30 partidos, está se pensando num número exagerado. Acho que a
cláusula de desempenho seria uma coisa útil.
Nas próximas semanas, será concluído o julgamento do mensalão. Em alguns
meses, pode haver a prisão de antigos líderes políticos importantes, como José
Dirceu, José Genoino. Essa conta política ainda pode ser paga pelo governo no
futuro?
O julgamento eu não discuto. Porque no sistema de separação de poderes, a
última palavra é do Judiciário. Quanto à repercussão política desse fato, acho
que isso já foi testado nas eleições municipais. O eleitorado separou bem o
julgamento no Supremo e a questão eleitoral.
Fonte: O Estado de S. Paulo