sábado, 4 de julho de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Venha Lula, venha quem vier, o ciclo de poder do PT se encerrou. Porque eles não têm mais o que dizer para as pessoas. O PT, em uma próxima eleição, estará envergonhado. O PT vai passar por um estágio, que eu espero que seja longo, como oposição. Recuperar suas teses originárias, voltar a ser o partido representante de um segmento importante da população brasileira, da classe trabalhadora, com interlocução adequada com os sindicatos. Faz falta ao Brasil um partido da classe trabalhadora. Mas é preciso um partido legítimo, sério, honrado. O PT virou o partido do capital. O capital distribuído para alguns poucos.

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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Em entrevista, O Globo, 4 de julho de 2015.

Moro defende operação e diz que prisões não têm como objetivo forçar delações

José Roberto Castro – O Estado de S. Paulo

• Lava Jato. Em despacho e em evento público em São Paulo, juiz federal Sérgio Moro rebate críticas de advogados e do PT de que estaria prejulgando acusados e politizando ações da Justiça: "Jamais este Juízo pretendeu com a medida obter confissões involuntárias"

Em meio a uma etapa crucial da investigação, que culminou com a prisão do presidente da maior empreiteira do País, o que lhe tem custado severos questionamentos de importantes advogados, o juiz Sérgio Moro respondeu a seus críticos e fez a mais enfática defesa da operação. No despacho em que decretou a prisão preventiva do ex-diretor de Internacional da Petrobrás Jorge Zelada, Moro rebateu a tese de que estaria prendendo os réus para forçar delações. "Jamais este Juízo pretendeu com a medida obter confissões involuntárias." Segundo Moro, suas decisões são tomadas com base em provas. "Refuto, de antemão, qualquer questionamento quanto ao propósito da prisão preventiva", assinalou o juiz da Lava Jato.

"A medida drástica está sendo decretada com base na presença dos pressupostos e fundamentos legais e para prevenir reiteração delitiva e interferências na colheita das provas." Em 19 de junho, uma etapa da Lava Jato prendeu o executivo Marcelo Odebrecht, presidente do Grupo Odebrecht, o maior conglomerado de empreiteiras do País. Desde então, Moro recebe críticas de advogados e até do PT, que, em resolução, disse "não admitir" que o combate à corrupção seja realizado "fora dos marcos do Estado democrático de Direito". Na quarta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello comentou a quantidade de delações obtidas na Lava Jato. "Que todas elas tenham sido espontâneas." Até agora, o número de prisões relacionadas à operação está em 94.

Objetivo. Em São Paulo, onde participou de evento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Moro rebateu ontem outra crítica feita a ele nos últimos dias, desta vez no âmbito político: a de que seu objetivo final seja prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desgastar o PT e a presidente Dilma Rousseff. O juiz disse que não cabe a ele dizer quem "deve ou não" ser investigado porque não é condutor das apurações. No mesmo evento, o juiz disse ainda que não consegue responder formalmente a tudo que se fala sobre Lava Jato.

"Não se pode jogar uma pedra em todo cão que ladra." Moro destacou que o juiz tem um papel reativo e não participa de estratégias de investigação, e reiterou que o que chega às suas mãos é julgado de acordo com as provas apresentadas. Como é proibido por lei de comentar publicamente casos que está julgando, Moro evitou falar sobre a Lava Jato, mas fez criticas à morosidade do Judiciário, sobretudo em casos de crime de colarinho branco. Responsável por uma vara especializada em combate à lavagem e crimes financeiros, ele minimizou sua participação no enfrentamento a crimes contra o patrimônio público e disse que a obrigação do juiz é decidir segundo a lei e as provas.

"Muita gente dizia que a Ação Penal 470 (mensalão) mudou o País, agora se diz que esse caso que está nas minhas mãos vai mudar o País. Não podemos ficar dependendo de ação mais ou menos eficiente da Justiça, temos que pensar em mudar a instituição como um todo. A preocupação que tem que existir é o que fazer para mudar o sistema para que casos como esse (Lava Jato) não sejam exceção." Questionado sobre os comentários de Dilma sobre não respeitar delatores e sobre a fala de Marco Aurélio Mello, sobre as delações, ele se esquivou."Não seria adequado eu comentar."

Em relação à presidente, ele ainda destacou que ela "merece respeito da parte minha e de todas as pessoas. Não me sentiria confortável em rebater um comentario da presidente", disse. O juiz chegou a dizer que não era prudente a sua participação em um evento público como o congresso da Abraji, mas justificou sua participação dizendo que queria mostrar que não era "nenhuma besta-fera".

Durante o evento, ele foi que questionado sobre seus planos para depois da Lava jato. "Tirar longas férias", respondeu. Moro não quis responder onde seriam as férias e outras perguntas de cunho pessoal dizendo que não é "celebridade". / Colaboraram Ricardo Brandt e Julia Affonso

‘Não sou nenhuma besta-fera’

Divulgar processos da Lava-Jato é 'democratização do poder', diz Moro

Renato Onofre – O Globo

• Dilma e ministro da Comunicação criticaram vazamento seletivo de delação premiada

SÃO PAULO - O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, criticou ontem, em palestra no congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo, a "demonização" de sua imagem. No início da semana, a presidente Dilma e o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, criticaram o "vazamento seletivo" do conteúdo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC.

- Não sou nenhuma besta-fera - respondeu, quando questionado sobre as críticas à maneira como conduz o julgamento das ações.

O juiz criticou a lentidão da Justiça e o foro privilegiado, que impede políticos se serem processados em tribunais de primeira instância. Para Moro, o foro a fere o princípio da igualdade. Ele criticou o uso da prerrogativa como instrumento para causar morosidade aos processos penais.

- É contrário ao princípio da igualdade. Pensando o foro privilegiado como um forma de maior controle (da administração pública) é positivo. Mas pensando em outra forma, como um mecanismo de proteção (de figuras públicas), eu tenho dúvida da sua validade. Como eu gostava muito de revista em quadrinho, lembro daquelas fases do Homem-Aranha onde dizia "quanto maior o poder, maior a responsabilidade". Acho que o sistema tem que ser construído em cima disso - declarou.

Moro defendeu a publicação das informações investigadas na Lava-Jato como instrumento de "democratização do poder". Para ele, a ampla divulgação é um dever constitucional, ainda mais em casos envolvendo a administração pública.

O juiz se negou a responder sobre questões relativas ao julgamento da Lava-Jato. Questionado se aceitaria falar após a conclusão do processo, ele se mostrou aberto, mas disse que não era o momento para se pensar nisso.

- A única certeza é que quero tirar umas longas férias depois disso tudo - disse, provocando risadas.

Também durante o congresso da Abraji, os advogados criminalistas Fabio Tofic e David Azevedo criticaram a condução de Moro na Lava-Jato. Tofic e Azevedo, que defendem acusados de corrupção na Petrobras, afirmam que o magistrado desequilibra o julgamento em favor da acusação. Eles atacaram a maneira com que foram fechados os acordos de delação premiadas pelo Ministério Público Federal. Para Tofic, o instituto da delação premiada é válido e legal, mas virou um instrumento de coerção da acusação durante a Lava-Jato.

Lava Jato vai melhorar contratos públicos, diz juiz

Flávio Ferreira – Folha de S. Paulo

• Sergio Moro reclamou de ser tratado com ofensas de baixo nível por parte de advogados

• Em congresso de jornalistas, ele disse que a operação causa grande estresse em sua vida pessoal

SÃO PAULO - No mais importante encontro de jornalistas investigativos do país, a pergunta que mais chamou a atenção foi feita por um juiz. Ela veio do magistrado federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato, ao falar da preocupação pelo fato de o caso afetar grandes empresas e causar riscos de demissões e falências.

"O custo de soluções deles [crimes de corrupção] é realmente grande. Mas qual seria o custo da continuidade?", indagou.

E ele mesmo respondeu: "Contratos públicos cada vez mais custosos e obras públicas que nunca terminam".

O juiz disse que não poderia falar sobre pontos específicos do caso de corrupção na Petrobras, mas ressaltou que a investigação revelou "problemas que vinham se acumulando há tanto tempo sem uma resposta adequada pelas instituições e, de repente, esses problemas começaram a aparecer de forma clara".

Moro aproveitou uma das raras aparições públicas para reclamar que não tem sido tratado com respeito por parte dos defensores dos réus, e que, muitas vezes, foi ofendido publicamente com expressões de "baixo nível".

Mas, nas palavras do próprio juiz, a participação no 10º congresso internacional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) na sexta-feira (3) tinha como objetivo mostrar que ele não é a "besta-fera" que alguns tentar dizer que ele é.

Mostrando bom humor ao responder às perguntas do jornalista Roberto D"Avila e do público que lotou o auditório, Moro disse que pensou em se formar em jornalismo e só passou a gostar da faculdade de direito a partir do terceiro ano do curso.

Ao responder sobre o que escreveria a respeito do juiz Sergio Moro na Lava Jato, caso fosse jornalista, brincou: "O juiz Moro quer férias".

Também provocou risos ao dizer que, apesar de sempre ser visto com roupas escuras, possui peças coloridas, e que a preferência pelo preto e cinza era apenas momentânea.
Moro negou-se a falar sobre temas pessoais e disse que com isso evita um "culto à celebridade". Afirmou apenas que a Lava Jato causa grande estresse em sua vida pessoal, mas que seu cotidiano é "banal" e parecido com o da maioria da população.

Delator liga doações eleitorais ao PT a contratos com a estatal

- O Globo

• Partido recebeu r$ 20,5 milhões "em decorrência das obras com Petrobras"

BRASÍLIA - Documentos entregues pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, ligam as doações eleitorais para o PT aos contratos das empreiteiras com a Petrobras. Os papéis mostram registros de duas "contas correntes" da UTC, uma para o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto e outra para o próprio PT. O partido teria recebido, ao todo, R$ 20,5 milhões. Para Vaccari, o documento relata um repasse de R$ 3,9 milhões "em decorrência das obras com a Petrobras". Para a conta do PT, os repasses foram de R$ 16,6 milhões entre 2006 e 2014.

O "Jornal Nacional", da TV Globo, exibiu ontem reportagem mostrando documentos entregues por Pessoa, entre eles os relativos às doações feitas pela UTC à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Controle da conta corrente Vaccari, que contém todas as retiradas em dinheiro feitas por este de sua conta corrente mantida pela UTC em decorrência das obras com a Petrobras no valor total de 3.921.000", diz um dos documento. "Conta corrente pagamentos ao PT feitos diretamente na conta do partido, desvinculado da época da campanha e que igualmente tinha relação com os pagamentos da Petrobras", registra outro trecho.

O documento sobre a campanha de Dilma é uma planilha em que constam dados bancários da conta do comitê financeiro. O nome de contato é o de Manoel Araújo, chefe de gabinete do ministro Edinho Silva (Comunicação), tesoureiro da campanha. Pessoa relatou ter se encontrado sete vezes com o ex-presidente Lula. Afirmou que fez repasses de R$ 2,4 milhões para a campanha do ex-presidente em espécie. Disse não ter certeza se Lula sabia da origem ilícita do dinheiro.

Uma das tabelas lista doações a diferentes políticos e partidos. Não há na tabela sobre se as doações são oficiais ou não. Aparecem na planilha DEM, PMDB, PP, PPS, PR, PSC, PSDB, PC do B, PT, PTB, PV, PRTV, PSB e PDT.

"Tanto dinheiro de forma pulverizada a diversos partidos e políticos tinham uma intenção: fazer com que a engrenasse (sic) andasse perfeitamente, tirando, portanto, todas as pedras que pudessem aparecer no caminho; abertura de portas no Congresso, na Câmara e em todos os órgãos públicos", diz o documento.

Há o registro também de repasses feitos ao ex-ministro José Dirceu. Foram cerca de R$ 3 milhões. Parte dos recursos foi entregues enquanto ele já estava preso pelo mensalão. "Apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e da sua grande influência no Partido dos Trabalhadores, é que, mesmo sabendo da impossibilidade de ele trabalhar no contrato firmado, porque estava preso, o aditamento foi feito e as parcelas continuaram a ser pagas".

Pessoa diz que, a pedido do ex-ministro, fez uma doação eleitoral de R$ 100 mil para o filho do ex-ministro, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), em 2010. A prestação de contas de Zeca ao TSE não registra a doação. Há o registro de R$ 665 mil recebidos por meio do diretório nacional do PT. Em 2014, foi através do diretório que Zeca recebeu R$ 95 mil da construtora. Outro político citado foi o presidente do PP, senador Ciro Nogueira. O delator disse que acertou pagamento de R$ 2 milhões entre 2013 e 2014, dos quais R$ 1,4 milhão por meio do doleiro Alberto Youssef.

Dilma dá a Temer mais poder para negociar cargos

Dilma libera cargos e verbas para conter crise com PMDB

Valdo Cruz, Natuza Nery e Marina Dias – Folha de S. Paulo

• Vice reclama que acordos para atender congressistas não são cumpridos

• Presidente da Câmara disse que Temer é boicotado pelo governo e deveria deixar a articulação política

BRASÍLIA - Em busca de conter as ameaças do PMDB de romper com o governo, a presidente Dilma Rousseff deu ao vice-presidente Michel Temer, seu articulador político, carta branca para cobrar de ministros o cumprimento de acordos de liberação de verbas de emendas parlamentares e nomeações para cargos.

Segundo a Folha apurou, Temer, que é presidente do PMDB, relatou a Dilma que um dos principais motivos das últimas derrotas do governo é que os acordos feitos por sua equipe com partidos aliados estavam demorando ou não sendo cumpridos no tempo demandado pelos parlamentares governistas.

O articulador político vem sendo pressionado por correligionários como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deixar a função por ser alvo de "sabotagem" do PT.

Na conversa com a presidente, Temer disse que não está nos seus planos afastar-se das negociações políticas do Planalto. Nos bastidores, porém, o discurso é que o vice esperará até agosto para decidir seu futuro caso as demandas de deputados e senadores não sejam atendidas.

Em conversas com assessores, a promessa de Temer é a de ajudar Dilma a "tapar os buracos do navio, não abandoná-lo" neste momento.

Equipe econômica
Para garantir o cumprimento dos acordos com os partidos aliados, Temer fará na segunda-feira (6) reunião com a equipe econômica para fechar um cronograma de liberação de aproximadamente R$ 5 bilhões de verbas para as emendas que os parlamentares aliados apresentaram ao Orçamento da União --R$ 3 bilhões para os deputados antigos, R$ 1 bilhão para os novatos e mais R$ 1 bilhão de recursos de restos a pagar de anos anteriores.

Será cobrada ainda a nomeação de cargos já combinados mas que estão sendo represados por ministros resistentes a cumprir os acordos com os partidos.

Os casos de definição mais atrasada estão nas pastas dos petistas Arthur Chioro (Saúde) e Juca Ferreira (Cultura) e da peemedebista Kátia Abreu (Agricultura) --as três têm cerca de 30 cargos abertos.

Assessores de Temer vão dizer à equipe econômica que sai mais barato liberar os recursos das emendas do que segurá-las, evitando derrotas em votações estratégicas.

Um deles lembra que "os buracos" criados no projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento, parte do ajuste fiscal, são muito mais elevados do que o preço de pagar verbas ao Legislativo.

A aprovação do projeto, que deve render no próximo ano cerca de R$ 10 bilhões aos cofres do governo, está atrasada. Temer quer acelerar o cumprimento dos acordos com os aliados para votá-lo no Senado antes do recesso do Congresso, na segunda quinzena de julho.

Esta é a última medida do ajuste fiscal no Congresso para reequilibrar as contas públicas. Assessores de Temer dizem que, vencida esta etapa, ele vai avaliar com a presidente se ela ainda quer manter o esquema atual de articulação política.

Bombas fiscais
Dentro do Palácio do Planalto, assessores de Dilma dizem que a intenção da chefe é mantê-lo como articulador político. Afinal, há outros desafios pela frente, como desarmar bombas fiscais criadas por derrotas do governo em votações no Legislativo.

São eles a medida provisória que modifica o fator previdenciário, o projeto que estende a todas as aposentadorias o aumento real do salário mínimo e o reajuste salarial para o Judiciário.

Só este último elevaria os gastos federais em R$ 25,7 bilhões em quatro anos.

Oposição quer saída de Dilma após depoimento

- Folha de S. Paulo

• Fala de Youssef reforça impeachment, dizem

BRASÍLIA - Líderes da oposição defenderam nesta sexta-feira (3) que o pedido do PT feito ao doleiro Alberto Youssef para repatriar R$ 20 milhões para a campanha da presidente Dilma Rousseff no ano passado é mais um elemento que reforça a tramitação do pedido de impeachment contra a petista no Congresso.

Como a Folha mostrou nesta sexta, Youssef, apontado como um dos principais operadores do esquema de corrupção descoberto na Petrobras, contou à Justiça Eleitoral que foi procurado por um emissário da campanha para trazer ao Brasil o montante depositado no exterior.

"Cada vez mais surgem elementos de que o esquema do petrolão alimentou a campanha presidencial, o que reforça tanto a tramitação do pedido de impeachment na Câmara quanto o processo de investigação da forma de financiamento da campanha pelo TSE, que deveria cassar o mandato dela", afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado, cobrou posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral. "Ainda não assistimos o TSE se pronunciar em relação a esse fato, e as provas são mais do que evidentes. O mais grave é imaginar que o Palácio do Planalto, a figura da presidente, estava envolvida.

Parte do PMDB sonda tucanos sobre gestão Temer

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

• Integrantes do partido procuraram FHC e Aécio para saber sobre possibilidade de aliança, caso Dilma seja alvo de impeachment

BRASÍLIA - Em meio ao processo de descolamento do governo Dilma Rousseff, representantes do PMDB passaram a procurar integrantes da cúpula do PSDB para sondá-los sobre um apoio no caso de o vice-presidente da República, Michel Temer, assumir o comando do governo no lugar da petista em um eventual processo de impedimento. Há cerca de dez dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a ser procurado por um integrante da Executiva Nacional do PMDB para saber sobre a possibilidade de uma aliança informal neste momento.

Segundo um peemedebista que teve acesso às conversas, o tucano teria dito que apoiaria uma coalizão em torno de Temer. Além de FHC, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), foi sondado sobre um possível apoio a um mandato presidencial de Temer por integrantes do PMDB. Para esses peemedebistas, Dilma dificilmente escapará no segundo semestre do processo que enfrenta no Tribunal de Contas da União (TCU) em que poderá responder pelas chamadas "pedaladas fiscais".

As conversas com FHC, ocorreram na mesma época em que houve vazamentos de parte da delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, que ficou seis meses em uma cela em Curitiba e hoje cumpre prisão domiciliar. Pessoa citou ministros do núcleo duro do Planalto - os titulares da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, que foi tesoureiro do comitê à reeleição de Dilma - como receptores de recursos de caixa para campanhas eleitorais.

Na quinta-feira, os dois ministros rebateram ataques de lideranças do PMDB e conter movimentações na legenda pela saída Temer da articulação política. Em meados de junho, em reunião no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, Mercadante havia pedido a saída do vice do posto estratégico.

Segundo integrantes do PMDB, a sondagem a Aécio ocorreu nesta semana. E a conversa teve como tema central a situação de Dilma no TCU. O tribunal deve se reunir entre os meses de agosto e setembro para julgar o chamado Balanço Geral da União referente ao ano de 2014. As movimentações do PMDB, segundo relatos, não têm sido orquestradas por Temer, que vive sob pressão de setores do partido para deixar a articulação política do governo nos próximos meses.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu abertamente essa alternativa. A principal queixa externada publicamente tem sido a falta de respaldo do Planalto nos acordos negociados pelo vice-presidente com integrantes da base aliada, sobretudo as promessa de cargos e a liberação de emendas.

Um discurso que deverá ser encampado nos próximos dias por alguns peemedebistas é que os problemas enfrentados na articulação política podem inclusive atrapalhar as pretensões do partido em lançar uma candidatura própria nas próximas eleições presidenciais, uma vez que a legenda passaria a imagem para potenciais aliados de que o partido não é cumpridor de promessas.

Correções
Diferentemente do publicado na Primeira Página de ontem, o prejuízo, de R$ 19 bilhões calculado pela Polícia Federal teria sido provocado pelo esquema de desvios na Petrobrás, e não pela Operação Lava jato.

O título da reportagem "Petistas defendem ministro após tentativa de enquadro" (pág. A6 de ontem.) usou de forma incorreta a palavra "enquadro". O título foi trocado por: "Após pressão do partido, deputados defendem ministro".

Parte do PMDB corteja Serra para um voo solo

Rumo a 2018

Fernanda Krakovics – O Globo

• PDT abre conversas com os irmãos Ciro e Cid Gomes

BRASÍLIA - Em meio à crise do governo Dilma Rousseff, partidos da base aliada já começam a articular candidaturas próprias ao Palácio do Planalto em 2018. O senador José Serra (PSDB-SP) é cortejado por parte do PMDB, com quem tem jogado afinado no Senado, e o PDT abriu conversa com Ciro Gomes (PROS).

Com o fim da aliança com o PT já decretada por líderes como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o PMDB está de olho em Serra pelo alto índice de conhecimento nacional dele depois de ter disputado duas eleições presidenciais, em 2002 e 2010. O partido aposta na disputa interna no PSDB, que tem mais dois pré-candidatos, o senador Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

As conversas têm sido conduzidas pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem dado destaque a Serra na Casa, encampando projetos propostos pelo tucano. Renan tem chamado Serra para presidir grupos de trabalho, como o do "pacto nacional pela defesa do emprego".

Serra nega a existência de negociações com o PMDB e diz, em conversas reservadas, que ainda é cedo para discutir 2018. O tucano tem dito que o segundo mandato de Dilma está ainda no começo e que a divulgação desse assunto atrapalha seu trabalho legislativo. No relato de pessoas próximas ao senador, ele não vai tomar qualquer decisão em meio às incertezas sobre o governo Dilma.

PDT se reaproxima dos Gomes
Em outra frente, o presidente do PDT, Carlos Lupi, conversou esta semana com os irmãos Ciro e Cid Gomes (PROS). Ele já havia se reunido recentemente com o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que faz parte do mesmo grupo político.

Lupi afirmou que o PDT pretende ter candidato próprio à Presidência em 2018, mas negou que a negociação com Ciro passe por esse ponto:

- Primeiro vamos discutir o projeto, depois, o nome. Pode ser o (senador) Cristovam Buarque (PDT-DF).

Questionado se Ciro seria um nome para a Presidência, porém, pelo PDT, Lupi diz que sim:

- Não tem veto a ninguém.

O movimento no PMDB em torno de filiações não se resume a Serra. Os peemedebistas do Senado estão às turras com o vice-presidente da República, Michel Temer, que é o presidente do partido, por causa da senadora Marta Suplicy (sem partido-SP), que deixou o PT. O PMDB do Senado quer filiar Marta para lançá-la à prefeitura de São Paulo, mas Temer insiste na aliança com o PT para a reeleição do prefeito Fernando Haddad (PT) com o peemedebista Gabriel Chalita de vice.

Marta pretende se filiar ao PSB e tem dito que o PMDB "fechou as portas" para ela quando aderiu à gestão de Haddad.

À espera da Rede, Marina evita falar em candidatura

- O Globo

• Aliados, como o deputado Miro Teixeira, pressionam ex-senadora

BRASÍLIA - Depois de ter protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as assinaturas para sua criação, mas ainda à espera do registro, a Rede Sustentabilidade faz um encontro nacional, neste final de semana, em Brasília, dividida entre o pragmatismo eleitoral e sua estruturação teórica. O principal nó do novo partido da ex-senadora Marina Silva (PSB)está na postura dela mesma, que não admite, por enquanto, ser candidata novamente à Presidência em 2018.

- O foco dessa reunião tem que ser o Day after (dia seguinte) da entrega das assinaturas. Temos que discutir as eleições municipais, e Marina tem que ser candidata (em 2018). Ela é que nem o Lula, é maior do que o partido. Ela não admite discutir esse assunto, mas não pode me proibir de falar. Ela não quer parecer que está perseguindo isso, quer mostrar dedicação exclusiva à formação da Rede - disse o deputado Miro Teixeira (PROS-RJ), que se diz "fixado" na Rede e pretende deixar o PROS assim que sair o registro do novo partido.

Próximo de Marina, João Paulo Capobianco, integrante do "elo nacional" da Rede, o correspondente a um diretório nacional, discorda de Miro:

- A posição da Marina é muito clara, ela quer fortalecer o processo. A Rede não está sendo construída para que ela seja candidata. Ela é a principal liderança da Rede, mas não pode e não quer ser a única.

A expectativa dos marineiros é obter o registro da Rede no segundo semestre. O partido tem discutido formas de financiamento e há propostas como proibir o acesso ao fundo partidário, aceitando apenas doações de pessoas físicas.

Material divulgado na semana passada, pelas redes sociais, apresenta a Rede como "um partido sem donos que surge para ampliar a participação da sociedade na política". Um desenho em quadrinhos mostra um homem dizendo que quer ser dono do partido em sua cidade, representando um político tradicional. Em uma cena ao lado, um grupo de jovens diz querer ajudar a construir a Rede de "um jeito horizontal e transparente".

- Não tem nova política coisa nenhuma, tem a política como deveria ser - disse Miro.

Se obtiver o registro, a Rede não terá direito a tempo de TV e a fundo partidário, por causa da lei sancionada pela presidente Dilma em 2013 que inibe a criação de novos partidos. Pela regra, novas siglas só terão acesso aos recursos após a primeira eleição.

Marta e PSB definem data para assinar filiação

Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo

• Após ter negociado com o PMDB, senadora fecha acordo com partido de Márcio França, vice de Alckmin no governo paulista

Depois de adiar seu ingresso no PSB, que estava prevista para acontecer n0 mês passado, e ensaiar uma aproximação com o PMDB, a senadora paulista Marta Suplicy (sem partido) finalmente acertou com a cúpula pessebista que assinará sua ficha de filiação no dia 15 de agosto. A decisão foi tomada ontem em reunião no Recife da qual participaram o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, e o vice-governador de São Paulo, Márcio França, que controla a legenda no Estado. A ideia do partido é organizar um grande ato na periferia da capital paulista para criar um fato político. Na ocasião ela será anunciada como pré-candidata ao lado dos principais quadros do PSB no País.

A expectativa é de que até Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, morto em agosto de 2014, esteja presente. Ex-prefeita da capital paulista e ex-ministra da Cultura, Marta deixou o PT no fim de abril depois de fazer duras críticas ao partido. Segundo aliados, apesar das conversas da senadora com o PSB, havia o temor de que França pudesse obstruir as negociações com outros partidos para tentar manter a sigla na órbita do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Na conversa de ontem, a senadora, que volta hoje da capital pernambucana, recebeu garantias de que comandará o diretório paulista no do PSB, terá espaço na direção estadual da sigla e ouviu que sua candidatura será prioritária em 2016.

"Não me incomodo com o fato de ela conversar com o PMDB. Ela não pode ignorar um partido tão grande", diz Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB. Segundo pessoas próximas à senadora, a aproximação com o PMDB cumpriu um papel estratégico de forçar uma garantia concreta do PSB de que ela não será refém do projeto político de Alckmin em 2016 e 2018. Além da dificuldade de conseguir o comando do PMDB na capital, ocupado pelo secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita, aliado do PT, o eleitorado fiel a Marta na periferia mostrou resistência ao partido de Michel Temer.

Guinada. Desde que sinalizou que romperia com o PT e passou a criticar abertamente a presidente Dilma Rousseff, Marta vem sendo assediada por vários partidos de oposição. Até o PSDB, rival histórico da ex-prefeita, tentou se aproximar. Em uma conversa no Senado, Marta recebeu um convite do senador Aécio Neves para se filiar ao partido, mas respondeu que seus eleitores "não entenderiam uma guinada de 180?".

Apesar de declinar do convite, ela estreitou as relações com os tucanos e até já articulou um pacto de não agressão na disputa pela capital no ano que vem. Dirigentes do PSDB paulista vão além e garantem reservadamente que apoiarão a senadora se ela passar para o segundo turno contra Fernando Haddad (PT) ou Celso Russomanno (PRB). Caso um tucano passe, a legenda espera contar com apoio dela. Novos amigos. A rotina de Marta no Senado mudou desde que ela entrou em confronto aberto com o PT e o governo. "Quem diria que eu um dia estaria andando de braços dados como Serra e o Aloysio no Senado", brincou recentemente a senadora durante uma visita a um bairro da periferia paulistana.

Quando questionada sobre sua "mudança de lado", a resposta estava na ponta da língua. "Estamos unidos pelo interesse de São Paulo". Em um gesto de boa vontade, Marta chegou a convidar o vereador Andrea Matarazzo, pré-candidato do PSDB à prefeitura , para escrever um artigo em seu site. Matarazzo, no entanto, recusou a oferta.

Tucanos transformam convenção em prévia da campanha de 2018

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

• Em seus discursos, Geraldo Alckmin e Aécio Neves irão falar sobre caminhos para o Brasil

• O senador mineiro será oficialmente reeleito para a presidência do PSDB, principal partido de oposição no país

SÃO PAULO - Militantes do PSDB deverão assistir neste domingo (5) a uma espécie de prévia das plataformas e propostas que os dois nomes que despontam como opções da sigla para 2018 pretendem apresentar como presidenciáveis.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o presidente nacional da legenda, Aécio Neves, senador por Minas, prepararam discursos cujo ponto alto são as indicações de um caminho para o "futuro" do Brasil.

Aécio, que será oficialmente reeleito para o comando da sigla, fará críticas não só à presidente Dilma Rousseff, mas também ao seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A aliados, ele disse antever uma tentativa de setores do PT de se descolarem da impopularidade da presidente e, numa vacina a isso, pretende apresentar a petista e seu antecessor como uma "cobra com várias cabeças".

Como revelou a Folha, o tucano vai apresentar uma "carta de princípios" ao país. Ele pretende reafirmar compromissos assumidos durante a última campanha presidencial, em 2014, quando disputou contra a presidente Dilma Rousseff e perdeu por margem pequena de votos.

A ideia de Aécio é apresentar o PSDB como a sigla que está pronta para "encerrar o ciclo petista" e colocar a casa em ordem.

Aécio pretende evidenciar o espírito combativo de sua gestão à frente da legenda pregando mudanças no comportamento do PSDB nas eleições para prefeito, em 2016.

Ele vai defender que o partido adote uma ampla política de alianças, com o intuito de derrotar o PT no maior número de municípios entre as 300 maiores cidades do país.

A avaliação é que o PT "estará nas cordas no ano que vem" e os tucanos precisam aproveitar a ocasião para limar o rival de grandes prefeituras, ainda que, para isso, tenha que abrir mão de candidatura própria para apoiar legendas mais bem posicionadas nas pesquisas.

O discurso de Aécio fechará a convenção tucana.

Papel da oposição
Alckmin falará um pouco antes. O tucano também dedicará parte de sua fala para apontamentos sobre a crise que abala o país, mas pretende investir em um viés "construtivo". "Todo mundo sabe que o país está na lama, a questão é o que fazer?", resumiu um aliado do paulista.

Alckmin pretende dissertar sobre o papel da oposição nesse cenário e, assim como fizeram outros líderes da sigla, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, condenar os que apostam no "quanto pior melhor".

A ideia do paulista, é ressaltar que o PSDB sempre se diferenciou dos rivais por ser uma sigla que defende os projetos que são bons para o país, independente da cor partidária de seus autores.

O que eles vão dizer
Principais nomes tucanos para 2018 discursarão sobre estratégias para o futuro do PSDB

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo
Dedicará parte de sua fala a apontamentos sobre a crise que abala o país, mas sob o viés "construtivo" de outros líderes da sigla --como FHC--, condenando os que apostam no "quanto pior, melhor"

Aécio Neves, senador de Minas Gerais
Apresentará a sigla como a que está pronta para "encerrar o ciclo petista", ressaltando o espírito combativo de sua gestão à frente do PSDB. Defenderá amplas alianças nas eleições municipais

Convenção tucana eleva crítica contra PT, Lula e Dilma

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

• Em evento previsto para amanhã, em Brasília, PSDB vai "responsabilizar" petistas por perda da estabilidade econômica

BRASÍLIA - A convenção nacional do PSDB, prevista para amanhã, servirá de palco para integrantes da cúpula do partido responsabilizarem diretamente o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff pelas crises nas áreas econômica, política e social. A realização do encontro dos tucanos ocorre na mesma semana em que pesquisa CNI/Ibope mostrou que a aprovação de Dilma caiu para menos de dois dígitos e chegou a 9%. "Essa convenção terá duas prioridades. A primeira dela é um diagnóstico do País com a responsabilização do PT pela perda de 10 anos de estabilidade econômica, pela degradação social do País, pela retomada do desemprego em níveis impensáveis e pela retirada do Brasil das cadeias globais.

A crítica ao PT, ao estelionato eleitoral, vai estar presente nesta convenção" afirmou ao Estado o senador Aécio Neves (MG). No encontro, em um hotel em Brasília, ao custo de cerca de R$ 1 milhão, o senador será reconduzido para o comando da legenda por mais dois anos. A segunda prioridade dos tucanos será a de, em paralelo às críticas, tentar se firmar como uma força política pronta "a qualquer momento" para voltar a governar o Brasil. A ressalva de estar preparados para assumir o comando do País, mesmo antes das eleições presidenciais de 2018, deixa nas entrelinhas, que apesar de não apostarem em impeachment, os tucanos não descartam um afastamento da petista.

"Não sei até quando esse governo sobrevive. Eles terão derrotas expressivas nas eleições municipais, mas certamente esse ciclo do PT não se sustenta além de 2018. Agora, a grande questão que se coloca é se chega a 2018. Mas isso não é um ato de vontade das oposições, poderá ser decorrente de todas as frentes que a presidente enfrenta hoje no campo político, econômico e em especial no jurídico", considera Aécio Neves, candidato derrotado na última disputa presidencial. A convenção também deverá servir para se passar a idéia de unidade interna da legenda. A previsão é de que Aécio chegue ao palco central do evento junto como ex-presidente Fernando Henrique Cardozo e os potenciais candidatos à presidência da República – o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador José Serra.

Também está prevista a presença de lideranças do partido no Congresso e parlamentares e dirigentes do DEM, PPS e SD. O encontro será filmado e o material servirá para os próximos programas partidários de rádio e TV, que vão ao ar em cadeia nacional no segundo semestre. Na antevéspera da realização da convenção, Aécio e Alckmin definiram a divisão dos espaços na Executiva da legenda. O governador paulista assegurou três nomes no comando do partido. Apesar das movimentação de Alckmin e dos espaços ocupados por aliados a ele, Aécio alega que o momento é de "paz" e que uma definição do candidato presidencial deverá ocorrer apenas no final de 2017.

2016. Para Aécio, as próximas eleições municipais, consideradas como a antessala da eleição presidencial de 2018, também será o momento de aproveitar o "constrangimento" de alguns partidos em se unir ao PT e ampliar as alianças. "Iniciamos um processo de levantamento de candidaturas viáveis nas 300 maiores cidades do Brasil. Se tiver uma candidatura adversária ao PT com melhores condições que a nossa, o PSDB deve estar aberto para consolidar essas alianças. Esse é um grande momento para ampliarmos as nossas alianças porque as do PT estará cada vez mais estreitas."

Aécio diz duvidar que petista chegue ao fim do mandato

Entrevista – Aécio Neves: 'Dilma a cada dia perde capacidade de governar'

Maria Lima e Patricia Cagni - O Globo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, Aécio Neves, será reconduzido ao comando do partido amanhã, para um mandato de mais dois anos, com o desafio de manter a legenda como contraponto ao PT e voltar a ocupar a Presidência da República em 2018. Ou até antes, se a Justiça Eleitoral acatar ação dos tucanos para anular a diplomação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer. Em entrevista ao GLOBO, Aécio diz ter dúvidas sobre se Dilma completa o mandato. Falando como candidato, diz que o PSDB está pronto para assumir a Presidência em 2018.

Como o senhor vislumbra os próximos 90 dias da presidente Dilma? Ela permanece no cargo ou não?

Na minha posição, preciso de muita cautela e muita responsabilidade. Até porque, quando eu falo, fala o PSDB, que é o maior partido de oposição. Junto ao TCU nós mostramos que a presidente cometeu, de forma reiterada, inclusive este ano, crime de responsabilidade. Por outro lado, temos ações junto à Procuradoria Geral da República que, na verdade, demonstram que houve cometimento de crime comum. Agora, ingressamos com outra ação por crime de extorsão com base na delação do senhor Ricardo Pessoa, quando diz que o tesoureiro da campanha condicionava a manutenção dos contratos da UTC e Constran na Petrobras às doações para a campanha eleitoral da presidente Dilma. Existe um processo no TSE, para o qual vai haver uma oitiva de Ricardo Pessoa no próximo dia 14, em que nós denunciamos, entre várias outras irregularidades, o uso de propina da Petrobras na campanha da reeleição da presidente em 2014. O governo e o PT começam a ver não só na oposição, mas também em setores importantes da base, uma completa incredulidade em relação à capacidade de Dilma de governar o Brasil até o fim do mandato. Porque aí não é mais questão de gostar da presidente, é questão de governabilidade. O Brasil tem desafios enormes a serem enfrentados, e só se enfrenta com governo. Ou ela tem a capacidade de retomar o posto, de reassumir o comando do país - e eu tenho dúvida se ela terá - ou temos que estar abertos a novas opções.

O PSDB se planeja para esse cenário?

O PSDB não escolherá o cenário. A questão depende das condições políticas e sobretudo jurídicas, não é? O PSDB tem que estar preparado para qualquer cenário. Mas repito: a minha posição será sempre de muita cautela. Mas o que é perceptível - e não adianta tapar o sol com a peneira - é que a presidente a cada dia perde a capacidade de governabilidade. Eu não me movo, hoje, como candidato de 2018. Como não fiz lá atrás. Eu sou presidente do PSDB. Meu papel é organizar o partido, criar condições para que o PSDB esteja mais fortalecido do que nas últimas eleições. Quero que o PSDB esteja preparado para 2018, ou para o momento em que for necessário, independente de quem seja o candidato. É um privilégio do PSDB ter nomes como Geraldo Alckmin, José Serra, Aloysio Nunes, Fernando Henrique, Marconi (Perillo). Meu papel é garantir a unidade do partido. E democraticamente vamos agir no momento certo, não antes de 2017, para definir quem terá a responsabilidade de disputar as eleições. A não ser que o calendário eleitoral se antecipe.

O senhor acha que a presidente Dilma termina o mandato?

Tenho enormes dúvidas. Eu dou a ela, ainda, a opção da dúvida. Porque é muito pouco tempo. E o Brasil, tradicionalmente, tem um presidencialismo muito forte, não? Mas estou percebendo um governo cada vez mais amedrontado, sem articulação política, sob pressão permanente do Congresso. O governo está tão fragilizado que se assusta com qualquer grito que venha do Congresso. E isso não é bom para o país, me preocupa. Confiança, credibilidade, os interlocutores do governo não dispõem mais desse ativo. É extremamente preocupante. Porque a presidente da República nunca fez esse papel, e não sei se, nesse momento, terá condições de fazê-lo.

O senhor acha que o Lula vai ser candidato nas próximas eleições?

Venha Lula, venha quem vier, o ciclo de poder do PT se encerrou. Porque eles não têm mais o que dizer para as pessoas. O PT, em uma próxima eleição, estará envergonhado. O PT vai passar por um estágio, que eu espero que seja longo, como oposição. Recuperar suas teses originárias, voltar a ser o partido representante de um segmento importante da população brasileira, da classe trabalhadora, com interlocução adequada com os sindicatos. Faz falta ao Brasil um partido da classe trabalhadora. Mas é preciso um partido legítimo, sério, honrado. O PT virou o partido do capital. O capital distribuído para alguns poucos.

Houve questionamentos em relação à posição do PSDB em votações como fator previdenciário, fim da reeleição, aumento do Judiciário. A bomba não vai estourar lá na frente?

Nós temos que compreender que o PSDB tem no Congresso uma bancada completamente plural, que tem que ser respeitada em seu espaço de expressão. Mas nós teremos sempre, e isso está no nosso DNA, a responsabilidade fiscal como o indutor, o pilar fundamental da recuperação da economia e dos avanços do país. Agora, não cobrem de nós a condução dessa agenda, que ela é de responsabilidade do governo. O que não é aceitável é o PT, que é responsável por essa gestão calamitosa da economia, que custa hoje à classe trabalhadora um preço altíssimo, não é possível que ele se abstenha de assumir o seu papel, e cobre da oposição esse papel.

O PSDB ajudou a aprovar o aumento do Judiciário.

Nós votamos, mas é praticamente impossível de ser implementado. Isso aconteceu no momento em que o governo se omitiu. Essa mágica o PT não vai conseguir ter. Ele quer ser governo no momento da distribuição dos cargos, e quer ser oposição no momento de falar com a sociedade. Essa vai ser a fotografia do fim do governo: 62 a 0 em uma matéria dessa relevância? Hoje há um vácuo de poder no Brasil, é isso é grave, me preocupa muito porque não existe espaço vazio na política. Com essa ausência de autoridade, essa incapacidade de reação do governo, é fácil que haja um protagonismo do Congresso. E em alguns momentos eu confesso: é sem conexão com a realidade. Às vezes, talvez até a sem responsabilidade que deveria ter.

Emprego formal e salário de admissão também registram recordes negativos

Camilla Veras Mota – Valor Econômico

SÃO PAULO - O descolamento entre os indicadores de atividade e emprego que marcou o ano passado não sobreviveu aos primeiros meses de 2015. Entre janeiro e maio os números do mercado de trabalho deixaram para trás o desemprego em mínimas históricas e o crescimento da renda média real na casa dos 3% e mostram, em alguns casos, desempenho pior do que nas crises de 2003 e 2009.
Desde fevereiro, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registra saldos negativos de vagas com carteira assinada no acumulado em 12 meses. Situação inédita na série disponibilizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que começa em 1999, ele já soma perda de 593,4 mil empregos até maio.

Há sete meses, os salários de contratação apurados pelo registro têm caído em termos reais sobre o mesmo período do ano anterior - o que não ocorria desde outubro de 2003, quando o mercado formal vinha de uma longa sequência de quase dois anos de redução real da remuneração paga aos recém-admitidos.

Os salários de desligamento, ressalta o professor da FEA-USP Hélio Zylberstajn, crescem de forma contínua, mesmo descontada a inflação. A "boca de jacaré" formada pela trajetória das duas variáveis - a remuneração de admitidos em queda e o crescimento dos salários de desligamento -, comum em momentos de distensão do mercado de trabalho como o atual, representa um ajuste de custos significativo para as empresas, que estão substituindo funcionários "mais caros" e, consequentemente, um volume menor de renda disponível para o consumo.

Essa combinação de ajuste forte e simultâneo no emprego e nos salários não aconteceu nas crises de 2003 e 2009. Para Igor Velecico, do Bradesco, ela se deve em grande parte ao atual "processo de reconquista de credibilidade do Banco Central". Do ponto de vista macroeconômico, afirma, um "BC com credibilidade" consegue fazer com que os ajustes ocorram mais via preço - salários - do que quantidade - empregos. "Para isso ele terá que mostrar que fará o ajuste em quantidade hoje, para que, nos próximos ciclos, as expectativas façam o trabalho de convergência, que será mais via preço."

O professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia salienta, contudo, que a atual política monetária, ao lado da política fiscal contracionista, tem forjado uma "conjuntura depressiva" que pode aprofundar a piora que já se previa para o mercado de trabalho e retardar sua recuperação.

Os números do Caged até maio sinalizam uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) mais intensa do que os demais indicadores, segundo um exercício recente feito pelo Bradesco. No modelo do banco, onde a relação entre o PIB oficial e o "PIB sugerido pelo Caged" mantém-se razoavelmente estável desde 2003, as variáveis tradicionais apontam retração de 1,5% do PIB em 2015, ante queda de quase 5%, quando levado em conta apenas o registro de emprego.

Parte das demissões de 2015, para Fabio Silveira, da GO Associados, é também reflexo do "represamento" de 2014, quando, à espera do resultado das eleições e da realização dos jogos da Copa do Mundo, muitas empresas preferiram resguardar os quadros de funcionários.

No começo do ano passado, lembra o economista, as estimativas ainda esperavam crescimento de 2% do PIB. "Em 2015, houve uma confluência de cenários negativos: os ajustes, as divergências entre Executivo e Legislativo, a Lava-Jato e, agora, o risco de perda do grau de investimento. Vai levar um tempo até que a gente consiga sair do terceiro subsolo", completa.

Para Zylberstajn, da USP, o horizonte longo de recuperação do mercado de trabalho - pelo menos a partir de 2017 - faz deste um bom momento para que o governo estude a proposta de sindicatos e entidades patronais de flexibilização de salários e jornadas de trabalho. "As empresas poderiam reduzir as demissões e evitar os custos de recontratação quando a economia retomar."

Os recordes negativos também se acumulam na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além da queda forte da massa salarial em maio, a renda média real por trabalhador teve intensa retração no período. Entre dezembro e maio, a variação sobre o mesmo intervalo do ano anterior despencou de alta de 2,7% para queda de 3,6%, na série da média móvel trimestral.

Nesse intervalo, o aumento de 2,4 pontos percentuais na taxa de desemprego - de 4,3% para 6,7% - é a mais intensa em um intervalo de cinco meses desde 2003, quando começa o histórico do IBGE. Bancos e consultorias financeiras já estimam a taxa média de desocupação pelo menos 1,5 ponto percentual acima da média de 2014, de 4,8%, e ainda mais alta em 2016.

Roberto Romano - O PT cinza sobre cinza

- O Estado de S. Paulo

Luiz Inácio da Silva retoma o vocábulo “utopia”, termo importante da cultura política. Ele a prescreve aos petistas como antídoto contra o poder abusivo e a caça venal de dinheiro ou cargos.
A palavra não foi aceita pelos que negam as teses de Saint-Simon, Proudhon e outros. Em vez dos sonhos, chegou a “ciência” do materialismo histórico e dialético, na cartilha de Stalin. Mas hereges do marxismo saíram da prisão intelectual e volitiva edificada pelo Kremlin. É o caso de Ernst Bloch no livro O Princípio Esperança (1938-1959).

Ao publicá-lo Bloch desafia o partido, é condenado como “reacionário” e sai da Alemanha comunista quando surge o Muro de Berlim. Na revisão do texto, em 1959, todos conhecem os crimes revelados por Nikita Khruchev. O combate ao realismo se transforma, em Bloch, na reflexão sobre a decadência do partido e a busca de nova esperança utópica. Mas, segundo G. Lukács, ao percebermos um desastre, nada podemos fazer, pois a consciência é posterior aos eventos. Lukács assume a versão conformista do enunciado hegeliano sobre a coruja, cujo voo ocorre no crepúsculo.

Com base na Doutrina das Cores elaborada por Goethe, Hegel enuncia o entardecer humano de modo poético, mas impiedoso: “Quando a filosofia pinta seu cinza sobre cinza, uma forma da vida envelheceu e ela não se deixa rejuvenescer com cinza sobre cinza, mas apenas conhecer. O pássaro de Minerva só levanta voo ao cair da noite”.

Além da Doutrina das Cores, Hegel recorda os versos do Fausto: “Cinza, amigo, é toda teoria/ Verde o arbusto áureo da vida”.

Mas por que recordar a filosofia e o lamento poético, ao ler a chã mensagem do ex-presidente ao seu partido? Não seria exagero gastar vela de libra com um organismo não só gasto, mas em dissolução?

Vejamos o saber ético e filosófico, desprezado pelos maquiavéis nacionais de todas as cepas.

A lição de Hegel aplica-se ao PT: de nada servem mezinhas caseiras para dar vida nova a instituições peremptas. O próprio Estado brasileiro há muito tempo está no leito, à espera do traspasse. Corpo firmado no útero absolutista, o poder político nacional engorda a expensas da cidadania que sobrevive nos municípios. O inchaço das suas veias causou intervenções drásticas e tirânicas no século 20, a ditadura Vargas (que proclama Novo o antigo doente) e a de 1964 (a “Redentora”).

Depois, as sangrias dos “planos econômicos” que nada mudam nas condições do corpo estatal.
Ao contrário: eles pioram as mazelas ao carrear mais banha para Brasília, coração do poder, o que gera novas hemorragias corruptas.

Usar a utopia, como o faz Luiz Inácio da Silva, é pintar cinza sobre cinza. Pior: na versão hegeliana o espírito envelhecido chega à sapiência. Nos discursos de vários líderes petistas há uma dupla regressão: aumenta a decrepitude partidária, mas cresce o infantilismo lógico. Políticos quase senis usam técnicas da creche para justificar o injustificável. Quando há marotagem, nunca são eles os responsáveis, mas os irmãos ou colegas, os demais partidos. E quando não têm saída, gritam: “Aprendemos a molecagem com eles”.

Utópica, no Brasil, seria a esperança de mudar o sistema político. Em vez do império presidencial, a partilha dos poderes para levar a sério a autonomia dos entes subordinados, como define a Constituição de 1988. Em troca de impostos nas derramas, e seu envio direto para a Fazenda e o Planejamento, haveria a distribuição das verbas pelos Estados e municípios, sem o toma lá dá cá. Em vez da concentração intolerável que rege as políticas públicas, controladas pelo governo federal, a partilha das mesmas políticas pelas regiões, sem burocracias geradoras de atos corruptos. Contra os privilégios usufruídos pelos gestores dos três Poderes, o fim de cargos, veículos, motoristas, gasolina, moradias e demais benesses principescas. E, sobretudo, a democratização da sociedade em prol dos “negativamente privilegiados” (Max Weber), fechando-se a torneira para os que usam bens oficiais como sua propriedade e “doam” milhões para campanhas eleitorais.

Aí estão alguns itens da política utópica que renovaria o Partido dos Trabalhadores, dando-lhe alento para encarar a senectude. Mas em 12 anos de poder nenhum ponto da agenda foi tocado com vigor pela agremiação e por suas lideranças, a começar com a mais elevada. Ao contrário. Em nome da “governabilidade” foram mantidas no Planalto e nos Estados pessoas e políticas senescentes que serviram a ditaduras, como é o caso de Paulo Maluf e José Sarney – “homem incomum”, segundo Luiz Inácio da Silva.

O símbolo da prudência no Renascimento é uma figura de três rostos, o idoso, o adulto, a criança. As três faces da cronologia devem ser dominadas para garantir eficácia à ação. Tal é a doutrina grega do Kairós, ativado pelos conhecedores do pretérito e do presente, para antecipar o futuro. É o mesmo princípio romano do carpe diem, dádiva efêmera da beleza, do poder, dos bens materiais que, por definição, somem na voragem das horas. É preciso saber capturá-los, não os deixando escapar pelos dedos. Semelhante filosofia alimenta Maquiavel. Sem ela os supostos realistas perdem na luta com a Fortuna. A virtù é aptidão de liderar com rigor lógico e coragem, coisas ignoradas pelos que subiram na vida ludibriando militantes, no esbulho da utopia democrática.

Hobbes e Diderot comentam a fábula do rei Éson. Suas filhas desejavam restituir o vigor ao soberano e deceparam seu corpo. Depois, puseram os fragmentos num caldeirão, a conselho de Medeia. Não houve rejuvenescimento, só morte.

Caros senhores: se desejam mudar o que está aí, é preciso tudo recomeçar. Uma “nova” frente de esquerda sob a liderança de Luiz Inácio da Silva é tingir o cinza com o cinza, sofrer o controle do PMDB e as alianças realistas, as mesmas que levaram o PT ao beco sórdido em que ele se encontra.

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*Roberto Romano é professor da Unicamp e autor de ‘Razão de Estado e Outros Estados da Razão’ (Perspectiva)

Miguel Reale Júnior - Mulher sapiens

- O Estado de S. Paulo

A vida política nacional vive clima de salve-se quem puder em pleno terreno movediço, como revela simples visão panorâmica do nosso dia a dia.

Dilma navega em 10% de aprovação, cria uma nova espécie, a de mulheres sapiens, exalta a mandioca, uma conquista nacional, e sente-se discriminada sexualmente. Lula, como um ET recém-chegado ao País e ao PT, olha e vê que o partido perdeu o sonho, e agora, com medo de ser infeliz, detecta que se dissolveu o ideal na busca incessante de emprego, cargo – e, faltou dizer, propina.

A base governista, desorientada, em busca de não restar alheia aos anseios do eleitor, tenta combinar a aprovação do ajuste fiscal com medidas ampliadoras de gasto público que contentem a população, como o fim do fator previdenciário e a vinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo, o aumento dos vencimentos do Judiciário.

A CPI da Petrobrás, ante o sucesso das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, e para não passar um atestado de incompetência, resolveu convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para fúria do líder em face da fraqueza de seus comandados que não respeitam – em busca de algum resultado positivo – nem mesmo a casa paterna.

No processo perante o Tribunal de Contas da União, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atribui o recurso às “pedaladas fiscais” a seu secretário do Tesouro Nacional, como se não tivesse nada que ver com as maquiagens contábeis que alimentavam seu sempre constante ufanismo. E Arno Augustin, como bom escudeiro, assume toda as culpas pelas “pedaladas fiscais”, como se assim pudesse livrar a cara da sua presidente, ignorando que perante a lei a responsabilidade é sempre do chefe do Executivo – e no caso, de forma patente, dada a sua convivência quase diária com a presidente, a ponto de se considerar que ambos, presidente e secretário do Tesouro, eram unha e carne.

A preocupação com os preços verifica-se no semblante das donas de casa nos supermercados. Reconhece-se inflação de 9%, mas, em especial para os menos favorecidos, a conta já é maior. Os preços públicos pressionam, com as contas de luz causando espanto em todas as rodas. O mais triste é o fantasma do desemprego, que agora atinge o comércio com despedidas significativas nas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis. Para recomeçar há um longo caminho: só o longínquo aumento das encomendas levará ao início da recuperação industrial.

A elevada queda da arrecadação anula o esforço do ajuste econômico a ponto de o governo novamente recorrer, mesmo que sem o ânimo anterior, às pedaladas fiscais. A falta de presente e de melhoria no próximo ano conduz a sonhar com um futuro alvissareiro mais à distância, apenas em 2017, pois agora só o incerto é certo.

No plano político-institucional o panorama não é menos assustador. A propalada reforma política, por meio da qual o Senado e mais especialmente a Câmara dos Deputados pretendiam assumir o papel de protagonistas da cena política, mostrou-se pífia, irrelevante. A reforma política aprovada, graças ao voluntarismo de Eduardo Cunha, desfaz qualquer expectativa de mudança significativa das instituições políticas brasileiras. Todas as questões essenciais foram ignoradas: sistema eleitoral, voto facultativo, cláusula de barreira, fidelidade partidária, financiamento eleitoral.

O sistema eleitoral constituía ponto básico de transformação saneadora da política brasileira. O único ganho foi a derrota do projeto do distritão, pelo qual são eleitos os mais votados, sejam de que partido forem. Esse sistema despreza os partidos para vicejarem apenas os famosos e os coronéis.

Mas continua o atual sistema proporcional, que afasta o eleitor do candidato, exige gastos imensos e colabora para a corrupção. E o pior, manteve-se a possibilidade de coligação para as eleições proporcionais, consagrando-se o partido de aluguel, que loca a sigla para conceder tempo de televisão em troca da eleição de alguns deputados, sem nenhuma comunhão de ideias.

O financiamento de campanha não poderia ter tido solução pior. Proibiu-se o financiamento por pessoas jurídicas aos candidatos diretamente, permitindo-se, todavia, aos partidos, que decidirão beneficiar este ou aquele. Solução mágica engendrada por Eduardo Cunha diante da vitória inicial da proposta de financiamento público das campanhas. O caminho mais fácil seria, sem dúvida, o de permitir financiamento privado, mas não por empresas fornecedoras de produtos ou serviços à administração pública, direta ou indiretamente, ou seja, também por via do grupo que integram. Mas agora o leite já foi derramado.

O escândalo revelado pela Operação Lava Jato alcança o seu mais alto nível, envolvendo as maiores empreiteiras do País, com ligações próximas ao PT e a Lula. A colaboração de Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, esquenta o ambiente, compromete a campanha de Dilma, que passa a acusar a delação como instrumento medieval de tortura que ela mesmo aprovou e festejou ao sancionar a Lei n.º 12.850/13.

A oposição formulou representação criminal relativa às pedaladas e agora por extorsão, e está esperando Janot. Mas diante da deterioração do quadro político e econômico e com as recentes e as futuras revelações da Lava Jato (o eletrolão), amadurece o caminho do impeachment. O País mostra-se à deriva. Sem bússola estão governistas e economistas, e o próprio Lula, que passou a atirar para todos os lados, sem conseguir se desfazer de suas principais obras, PT e Dilma, por mais que se esforce para tentar sobreviver à “marolona”, da qual é o responsável.

Este quadro exasperante leva a um clamor: Dilma, mulher sapiens, renuncie. Essa corajosa medida será menos traumática que qualquer processo de afastamento. E, finalmente, sábia.

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Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular senior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Merval Pereira - Por baixo do pano

- O Globo

A conversa que o vice Michel Temer teve com a presidente Dilma na quinta-feira, assim que ela chegou da viagem aos Estados Unidos, pode ter sido tudo, menos estimuladora para que ele continue na coordenação política do governo por muito tempo.

O prazo que ele está se dando é a aprovação do pacote de reajuste proposto pela equipe econômica. Essa seria a sua tarefa, e ele pretende cumpri-la. Essa redução de expectativas se deu devido à impossibilidade de uma boa relação com o núcleo político petista e às dificuldades que a equipe econômica impõe para a liberação das emendas parlamentares, instrumento fundamental para o jogo político da maneira como ele é jogado em Brasília.

A presidente parece alheia a esses percalços, e não tem dado muita atenção à necessidade de cumprir os acordos prometidos. Numa visão otimista, estaria assim por não concordar com essa troca de favores. O realismo, porém, indica que ela, na verdade, diante da pressão do momento político aziago, está em outra dimensão, como Collor parecia alheio aos próprios problemas às vésperas de ser impichado pelo Congresso.

À medida que os fatos políticos se sucedem com a rapidez das crises graves, PMDB e a oposição, notadamente o PSDB, começam uma negociação que não pode ser explicitada, mas acontece, pois há interesses convergentes entre esses dois atores políticos, mas também divergências importantes que têm que ser superadas para que sobrevenha um acordo.

As lideranças do PMDB negam, por necessário, essas conversas, que significariam uma conspiração política. Mas não negam que estão ouvindo muito nesses dias tumultuados de Brasília. Por paradoxal que pareça, o que neste momento segura a presidente Dilma no poder é a alternativa que se apresenta de imediato: Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, uma linha sucessória peemedebista altamente polêmica.

O governo Dilma vai sendo dissecado por denúncias que se sucedem e por ilegalidades que estão sob o escrutínio de dois dos tribunais do país, o Tribunal de Contas da União, o órgão de controle que assessora o Legislativo, e o Tribunal Superior Eleitoral, formado por juízes do STF e do STJ.

Em ambos os casos, as irregularidades são muitas, e é difícil vislumbrar como o governo Dilma sairá ileso dessas análises. O que distingue as consequências das decisões de cada tribunal influi nas negociações em curso.

O prazo que o TCU deu a Dilma para que explique as pedaladas e outras irregularidades nas contas do seu governo em 2014 expira no dia 17 de julho. A partir daí, os ministros do tribunal terão que decidir rapidamente se aceitam as explicações ou se rejeitam as contas da presidente, atitude inédita na República.

O relator Augusto Nardes continua firme na sua posição de rejeitar as contas, convencido de que será impossível justificar as ilegalidades. Se a rejeição acontecer, o Congresso terá que decidir se acata o aconselhamento do TCU. Caso positivo, estará decretado simultaneamente o impedimento da presidente por crime de responsabilidade.

Nesse caso, assumirá a Presidência o vice-presidente Michel Temer, até o final do mandato. Essa solução política é aparentemente a menos traumática, mas esbarra na exigência do PSDB de que Temer se comprometa a não tentar a reeleição em 2018.

A alternativa, que agrada a uma parte dos tucanos que quer uma nova eleição, é a impugnação da chapa por abuso de poder econômico. Há na prestação de contas da campanha de 2014 do PT diversas irregularidades, com muito dinheiro para empresas fantasmas, e a acusação de pelo menos cinco delatores da Operação Lava-Jato de que as doações de empreiteiras ao PT no ano eleitoral foram feitas com dinheiro desviado da Petrobras, o que significa o uso do Tribunal Superior Eleitoral como meio de lavagem de dinheiro.

No dia 14 de julho, Ricardo Pessoa, o chefe do clube das empreiteiras que atuou na Petrobras em conluio com diretores indicados por partidos políticos, repetirá ao TSE as acusações que fez em sua delação premiada sobre o dinheiro da campanha presidencial de 2014.

Se a chapa for impugnada, o mais provável é que seja convocada uma eleição presidencial dentro de 90 dias, embora o TSE já tenha decidido, em casos de governadores que perderam o mandato, nomear o segundo colocado na eleição.

Essa seria a pior das decisões, que daria a sensação de um conluio da Justiça Eleitoral para colocar Aécio Neves no governo. Pela delicadeza da situação, é improvável que essa opção seja a escolhida.

Igor Gielow - O fim à espreita

- Folha de S. Paulo

A rapidez da deterioração do quadro político e econômico impressiona mesmo os mais otimistas governistas. Apenas Dilma Rousseff parece ver um desfecho favorável para a crise, e mesmo assim sua confiança emana de vias tortas: certo alheamento aparente da realidade e uma crescente confusão em suas manifestações públicas.

Em Brasília, o fim do governo voltou a ser tratado com a trivialidade reservada ao rebaixamento de um time de futebol; é mais o formato do evento em debate, não o desfecho.

Exagero? É fato que o tema impeachment já foi e voltou ao longo deste calvário chamado segundo mandato, e uma intervenção lulista pode até dar sobrevida ao governo. A extensão de prazo à Sarney é lembrada. Mas o tempo parece exíguo.

Mas se o impedimento antes carecia de "casus belli", agora não há apenas um, mas dois em gestação.

A provável reprovação das contas de 2014 da presidente pelo TCU deixará o Congresso com a faca e o queijo na mão. Se ratificar tal julgamento, um pedido de impeachment será quase imediato. Com a palavra estará ele, Eduardo Cunha.

A segunda frente é o TSE, corte em cujos escaninhos processuais fermentam sortilégios para Dilma. O processo de cassação se aproxima perigosamente dos procedimentos petistas no pleito de 2014.

Os últimos petistas no barco gritarão "golpe!" e talvez até lembrem da definição grega de "casus belli", as "proschemata" --razões da guerra descritas pelo historiador ateniense Tucídides ao relatar o conflito no Peloponeso, invariavelmente escamoteando as verdadeiras intenções.

Pode ser, já que PMDB e PSDB querem ver Dilma pelas costas. A questão é que os fatos são graves, visíveis, e o governo está exaurido para defender-se como fez Lula em 2006. Neste caso, teremos um "Götterdämmerung" petista, o crepúsculo dos deuses wagneriano, desprovido porém de personagens à altura do drama.

Míriam Leitão - O dever do Juiz

- O Globo

Os jornalistas chamam de lide as informações mais importantes registradas no primeiro parágrafo de uma notícia. Quem esperava uma declaração bombástica do juiz Sérgio Moro, contra investigados da operação Lava-J ato, saiu frustrado do Congresso dos jornalistas investigativos. Mas, no caso, o lide foi a falta de lide. O juiz cumpre com exatidão seu papel institucional, e esta é a melhor notícia.

Moro não aceita comentar fatos dos processos em andamento, como deve ser, então as melhores perguntas dos jornalistas, no Congresso da Abraji, ficaram sem resposta. Quando perguntado sobre a infeliz declaração da presidente Dilma, comparando as delações, feitas dentro da lei, com as extraídas sob tortura na ditadura, Moro respondeu: "a presidente merece todo o nosso respeito ." Confrontado com uma declaração de um ministro do Supremo, disse que não lhe cabia comentar . O juiz tem muito a ensinar. O apresentador Roberto D" Ávila perguntou se era justo que se divulgassem as acusações do processo antes do julgamento, que poderia, no final, inocentar o acusado.

Moro explicou que, por determinação constitucional, "a publicidade é a regra", ou seja, tem sim que divulgar, a menos que a própria Justiça estabeleça que o processo corra em sigilo. E deu o exemplo do mensalão — que ele chama sempre de Ação Penal 470 — em que a opinião pública foi sendo informada dos eventos à medida que o processo tramitava. Deu para imaginar que terrível distorção seria se os investigados tivessem sido protegidos, e a sociedade tivesse permanecido desinformada. Ele disse que concordava com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que disse que a Ação Penal 470 foi um ponto fora da curva. Mas, ponderou que o Brasil não pode esperar que um caso salve o país. É preciso uma mudança no sistema que garanta mais transparência, maior obediência às leis, maior respeito aos bens públicos.

Ele foi perguntado sobre sua vida pessoal. Se dorme pouco, quanto tempo trabalha, e disse que não era celebridade. Por que só usa camisas pretas? Coincidência, comprou algumas. O que pretende fazer após o fim da Operação Lava-Jato? "Tirar longas férias. " Diante da pergunta sobre se escreveria um livro, após tudo terminado, para que possa dizer o que está impedido no momento, respondeu que o que pensa está nos autos do processo, que são sempre divulgados. Moro admite que a Justiça é lenta, e quando demora demais está, na verdade, falhando. Acha que o sistema precisa ser aperfeiçoado, de forma a dar celeridade aos processos.

"O sistema está aí para servir à população," diz o juiz. Ao criticar o foro privilegiado, o juiz fez questão de separar duas questões: a imunidade parlamentar que protege o exercício do mandato, e que deve continuar existindo, e as ações criminosas que o político possa ter praticado. No segundo caso, o foro privilegiado fere o princípio da igualdade. Sobre eventuais erros da Justiça, ele avisa onde está: "estou na base" Ao longo da tramitação de um processo, os eventuais erros podem ser corrigidos, lembrou.

O juiz Sérgio Moro precisa lembrar que é de primeira instância, porque hoje suas ações ganharam muita notoriedade. Nunca antes o país viu o que está vendo: empresários que são estrelas de primeira grandeza no mundo dos negócios no Brasil atrás das grades, quatro ex-diretores da maior empresa enfrentando a Justiça, delações sequenciais que, como mostrou o O GLOBO ontem, trazem revelações que coincidem em pontos importantes, confirmando o cerne das acusações. Perguntado sobre qual sua estratégia de investigação, ele respondeu: "zero" , porque quem investiga é a "Polícia Federal e o Ministério Público Federal". As respostas que ele dá não trazem novidade, são normais.

Mas a normalidade não é frequente no Brasil. Ele sabe o que é, o que faz, qual é seu limite e papel institucional. Resiste à saraivada de críticas de poderosos e de seus advogados e permanece na mesma trilha na mais ampla história de corrupção e de promiscuidade entre interesses públicos e privados que já se viu. Se este processo for mais um ponto fora da curva, o Brasil terá perdido uma oportunidade de mudar, mas Moro poderá descansar em suas férias sabendo que fez seu dever .

Deterioração do mercado de trabalho em 2015 é rápida e intensa

João Saboia – Valor Econômico

A deterioração no mercado de trabalho neste ano tem ocorrido num ritmo rápido e intenso. Após uma década de melhoras observadas entre 2004 e 2014, os números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE divulgados a partir do início do ano não param de piorar. Aumento do desemprego, queda da renda e redução da formalidade são o oposto do que vinha ocorrendo até 2014.
A taxa de desocupação de 6,7% não pode ser considerada muito alta, mas quando comparada com os 4,9% de maio de 2014, o crescimento é muito elevado, representando mais 454 mil pessoas desempregadas nas seis regiões metropolitanas cobertas pela PME.

O emprego formal tem sido prejudicado, apresentando uma redução de 213 mil pessoas com carteira assinada. A queda de 5% no nível médio de rendimento em apenas 12 meses é impressionante, sendo resultante da alta inflação em uma conjuntura de mercado de trabalho desfavorável.

A combinação de redução da população ocupada com queda do rendimento médio traz importantes consequências macroeconômicas, diminuindo a massa total de rendimento e realimentando a atual recessão. A redução de 5,8% na massa de rendimentos ocorrida entre maio de 2014 e maio de 2015 tem um efeito muito desfavorável para a economia, com forte queda do consumo das famílias. Cabe lembrar que esse item representa a maior parcela do PIB, quando analisado pelo lado da demanda.

Os dados da PME confirmam os números divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para o setor formal da economia, que têm mostrado queda dos empregos ao longo de 2015. Até mesmo o setor de serviços, onde tradicionalmente há maior criação de empregos, vem apresentando redução. Os números deste ano do Caged são os piores desde o início dos anos 90.

Os investimentos já vêm caindo há algum tempo e, com o atual ajuste fiscal, os gastos do governo também devem ser reduzidos. A solução via mercado externo (aumento das exportações) está inviabilizada no curto prazo pelas próprias dificuldades da economia internacional e queda do preço das commodities. Portanto, a recessão deste ano poderá ser ainda mais intensa do que a indicada pela maioria das previsões, se o mercado de trabalho continuar no atual ritmo de queda do rendimento.

É verdade que, por razões sazonais, o mercado de trabalho no Brasil tende a ser mais favorável no segundo semestre, mas tendo em vista a intensidade da piora verificada até maio é pouco provável que possa haver nos próximos meses uma recuperação suficiente para inverter o quadro atual de piora.

Para ilustrarmos de forma sintética o que vem ocorrendo no mercado de trabalho neste ano calculamos um índice utilizando um conjunto de nove variáveis disponibilizadas pela PME: taxa de desemprego; percentual de chefes de família entre as pessoas desempregados; percentual de desemprego de longa duração; remuneração média dos ocupados; percentual de pessoas sub-remuneradas; desigualdade de renda entre as pessoas ocupadas no setor formal e no informal; nível de escolaridade dos ocupados; percentual de pessoas com carteira assinada; e taxa de subocupação. O índice varia entre 0 e 1 e quanto maior seu valor melhor é a situação do mercado de trabalho.

O gráfico mostra o retrocesso do mercado de trabalho ocorrido em 2015. Ele indica que a situação em janeiro deste ano já era pior do que em janeiro de 2014 e que a partir de março a piora tendeu a aumentar com o índice caindo e se afastando cada vez mais do que havia sido observado nos mesmos meses de 2014.

Conforme pode ser verificado pelo gráfico, as condições do mercado de trabalho permaneceram relativamente estáveis até o fim de 2014. As flutuações verificadas naquele ano são naturais e ocorreram também em anos anteriores. Mas em 2015 a deterioração é nítida.

O que poderíamos esperar para o restante do ano no mercado de trabalho? O único elemento favorável que poderia ser vislumbrado é o efeito sazonal positivo já mencionado, que usualmente ocorre na economia no segundo semestre, principalmente no terceiro trimestre, quando o PIB tende a ser o mais elevado do ano, conforme mostram as Contras Trimestrais do IBGE. Apesar do discurso oficial de que a economia vai se recuperar no segundo semestre, não há sinais à vista de recuperação e o mais provável é o aprofundamento da recessão ao longo deste ano.

O governo tem mostrado uma grande disposição na manutenção do ajuste fiscal. Por outro lado, a política monetária do Banco Central já elevou substancialmente a taxa de juros e deverá continuar aumentando-a enquanto a inflação continuar alta. Essa é a melhor receita para uma recessão, cuja duração dependerá do tempo em que as autoridades continuarão dispostas a manter as atuais políticas fiscal e monetária. Dentro desse quadro, a consequência inevitável será a continuidade da deterioração do mercado de trabalho nos próximos meses.



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João Saboia é professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ