Petista
responsabiliza Marconi Perillo (PSDB), mas livra Agnelo Queiroz (PT)
Odair
Cunha (MG) pediu indiciamento de 34 pessoas, entre elas Fernando Cavendish,
ex-dono da Delta
Num
movimento interpretado pela oposição como resposta do PT ao mensalão, o petista
Odair Cunha (MG) sugeriu em seu relatório que o Conselho Nacional do Ministério
Público avalie a atuação do procurador-geral Roberto Gurgel no caso Carlinhos
Cachoeira. Ele também incluiu entre os 34 indiciados o chefe da sucursal da
"Veja" em Brasília, Policarpo Júnior, e propôs responsabilizar 12
autoridades, entre elas o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), foi poupado. O Ministério
Público pediu novamente a prisão de Cachoeira. Ontem, uma comissão da Câmara
reduziu poderes do MP.
CPI do Cachoeira indicia 34
Relatório pede que
atuação de Roberto Gurgel seja avaliada; oposição contesta texto final
Chico de Gois
BRASÍLIA - O
relatório final da CPI do Cachoeira, apresentado ontem pelo relator, deputado
Odair Cunha (PT-MG), sugere que o Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) avalie se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, agiu
corretamente ao esperar dois anos para continuar as investigações da Operação
Vegas, realizada pela Polícia Federal em 2009. Pede o indiciamento de 34
pessoas, incluindo Fernando Cavendish, ex-dono da Construtora Delta, e a
responsabilização de mais 12 que têm foro privilegiado, como o governador de
Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o deputado federal tucano Carlos Alberto Lereia
(GO), secretários estaduais e até um desembargador. Porém, exclui o governador
petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Entre os pedidos de indiciamento
há cinco jornalistas, entre eles Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista
"Veja", em Brasília.
Para alguns
parlamentares, o relatório é fruto da pressão do PT devido ao julgamento do
mensalão.
- Respeito o relator,
mas ele cedeu às pressões do partido e do governo - disse Onyx Lorenzoni
(DEM-RS).
O deputado Miro
Teixeira (PDT-RJ) criticou o indiciamento de jornalistas:
- É uma tentativa de
constrangimento de quem faz jornalismo investigativo. Tem caráter de vingança.
A fiscalização do desempenho das autoridades é feita por diversas entidades
públicas, mas é a imprensa que tem feito denúncias. Este relatório não tem como
ser consertado.
Durante os trabalhos
da CPI, parlamentares como Dr. Rosinha (PT-PR) e o senador Fernando Collor
(PTB-AL), apresentaram requerimentos para convocar Policarpo Júnior e Gurgel.
O líder do PT na
Câmara, Jilmar Tatto (SP), porém, defendeu o indiciamento. Ele negou que seu
partido tenha pressionado pelo indiciamento do jornalista:
- A convicção do relator
é que o Policarpo avançou o sinal.
Tatto afirmou que
Cunha conversou com ele genericamente, antes de finalizar o relatório. A
sugestão do líder petista, segundo disse, foi adotar a convicção como forma de
decisão:
- Falei para ele que
tinha de ter convicção no que iria escrever. Ele teve autonomia para escrever o
relatório. Não fizemos reunião no PT para discutir o texto.
O documento provocou
s debates ontem na CPI, e sua leitura não foi concluída. A ideia era ler o
texto na íntegra (5.328 páginas) e abrir um prazo de cinco dias úteis para que
os parlamentares pudessem analisá-lo. Após pressão da oposição, Cunha concordou
em fazer hoje a leitura. Assim, segundo técnicos da CPI, o encerramento só
deverá ocorrer em duas semanas, porque é difícil obter quórum às quintas-feiras
para deliberação.
Mesmo sem ler o
documento final, a oposição classificou o resultado como pizza e anunciou que
apresentará, na próxima semana, parecer paralelo. O deputado Silvio Costa
(PTB-PE) pediu que o contraventor Carlinhos Cachoeira fosse reconvocado, no que
foi apoiado por outros parlamentares. Mas o presidente da CPI, senador Vital do
Rêgo (PMDB-PB), não aceitou a proposta.
Parlamentares
reclamaram que só tiveram acesso ao texto final ontem e disseram que a imprensa
já havia publicado parte do conteúdo. Alguns levantaram suspeitas de que
petistas e aliados do governo viram o relatório antes.
- Esta CPI está se
transformando numa balela, com todo respeito aos três que comandam a CPI. Só
tivemos acesso ao relatório na madrugada. Esta CPI está se transformando numa
grande pizza. Não investigamos o que deveríamos investigar. Só os mais chegados
leram. É um instrumento de perseguição político-partidária. Estamos aqui com
mesquinharia. PT x PSDB. Fomos traídos - vociferou o senador Pedro Taques
(PDT-MT).
Cunha minimizou as
discordâncias:
- É natural que
tenham muitas dúvidas. Aceitamos discutir mudanças porque o relatório é da
comissão.
Negou que seu texto
tenha o objetivo de perseguir opositores e atacar Gurgel devido ao julgamento do
mensalão:
- Entendo que houve
omissão do procurador-geral ao não encaminhar algum despacho sobre a Operação
Vegas. Não estamos sentenciando o procurador-geral. Não é uma represália ao
mensalão.
Gurgel não comentou o
relatório. Em maio, ao ser perguntado sobre tentativa da comissão de
convocá-lo, afirmara:
- O que temos são
críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão. São
pessoas que estão muito pouco preocupadas com as denúncias em si mesmo, com os
fatos de desvio de recursos e corrupção, e ficam muito preocupadas com a opção
que o procurador-geral tomou em 2009, opção essa altamente bem-sucedida. Não
fosse essa opção, nós não teríamos Monte Carlo, não teríamos todos estes fatos
que acabaram vindo à tona.