Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Luiz Werneck Vianna* - A hora é agora
Merval Pereira - Guerra religiosa
O Globo
Religião está sendo explorada na campanha
política
Um dos piores sintomas de deterioração de
nossa democracia está na exploração da religião como instrumento
político-eleitoral. A ambiguidade do presidente Jair Bolsonaro, que se diz
católico, mas foi batizado nas águas do Rio Jordão por um pastor-político que
já preparava seus movimentos rumo ao poder em Brasília, foi destacada ontem
pelo arcebispo de Aparecida.
O presidente que tenta a reeleição abusando
da fé dos eleitores é intempestivo, virulento, incontrolável. Mas sua loucura
tem método, como definiu o personagem Polônio a respeito de Hamlet, na peça de
Shakespeare. A aproximação com o povo evangélico aconteceu como um dos
instrumentos de sua estratégia eleitoral, pois foi batizado em 2016, dois anos
antes da eleição presidencial.
O Pastor Everaldo, que acabaria preso no ano seguinte, era o presidente do PSC. Já naquela altura os índices indicavam que os evangélicos tinham um crescimento acelerado entre a população urbana mais vulnerável, pobre, jovem e feminina. Os católicos decresceram e pela primeira vez aparecem com 49,9% das filiações religiosas em 2022, abaixo de 50%, e os evangélicos apresentam percentuais de 31,8% (há quem diga que já representariam cerca de 37% da população).
Míriam Leitão - Bolsonaro tenta intimidar o país
O Globo
Nos últimos dias, Bolsonaro renovou ameaças e provocações. Impede as Forças Armadas de divulgar relatório e convoca seguidores a cercar seções
É vergonhoso para as Forças Armadas a não
divulgação do relatório da fiscalização da votação, pelo qual tanto se
empenharam. Desta forma, elas perdem a credibilidade. Por outro lado, o
presidente Jair Bolsonaro convoca
seus seguidores a permanecerem nas seções eleitorais após votar. Isso
é intimidação do eleitor e pode caracterizar cerceamento do voto. Isso tudo
numa semana em que o presidente, o vice-presidente e o líder do governo na
Câmara ameaçam interferência no Supremo, com aumento do número de ministros,
após as eleições.
As ameaças institucionais continuam diariamente. O filho do presidente, Flávio, e coordenador da campanha, disse ao GLOBO: “Vocês estão vendo o presidente muito mais calmo, a cada dia mais preparado, com a inteligência emocional cada vez melhor.” Evidentemente, ninguém está vendo isso. A campanha quer passar a ideia para afastar os temores que o candidato propaga.
Malu Gaspar – A eleição no ringue
O Globo
Os últimos dias foram de choque
generalizado em relação à avalanche de sujeira e mentiras que tomou conta da
propaganda eleitoral e das redes sociais dos candidatos à presidência. De
repente, como se 2018, 2014 ou 1989 nunca tivessem acontecido, começamos a nos
espantar com o fato de que ninguém está discutindo proposta nenhuma para o
futuro do Brasil.
Ato contínuo, o país passou a debater
arduamente: vale a pena responder às fake news de Bolsonaro com mais fake news?
Revidar ataques baixos com mais baixaria é solução para diminuir a rejeição?
Existe mentira do bem e mentira do mal? Cadê a ética, gente?! Onde é que isso
vai parar?
Sinto informar, mas são perguntas erradas
para o momento.
Claro que não existe mentira do bem, quanto mais mentira baseada em homofobia. Mentir supostamente em nome de Deus, inventando histórias escabrosas para provocar terror em crianças e famílias não é apenas uma podridão inominável. É crime.
Maria Cristina Fernandes - Para enfrentar o tabu
Valor Econômico
Eleitor não sabe, até hoje, que Moro serviu
a Bolsonaro. PT tem que explicar por que Lula, sem ter sido inocentado, é
inocente
“Como assim, Sergio Moro virou ministro de
Bolsonaro?” Haviam se passado quase quatro anos desde que Moro deixou a
magistratura para ocupar o Ministério da Justiça. A autora da pergunta, uma
jovem evangélica que, na noite desta terça-feira, 11, participou de rodada de
pesquisa qualitativa com mulheres das classes C e D, não parecia acreditar no
que ouvia. Se não sabia que Moro havia entrado no governo, desconhecia
igualmente que havia saído, fora julgado suspeito e anunciado, mais uma vez,
apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
A rodada confirmou o que muitos do entorno
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falam, mas poucos têm coragem de
verbalizar. A campanha já entrou na canelada com a de Bolsonaro mas não
enfrenta aquele que não apenas é o maior tabu do PT como também empata com a
criminalidade como maior preocupação dos brasileiros, a corrupção (Datafolha,
8/10).
Num 2º turno em que a artilharia do horário eleitoral aumentou, na duração e na intensidade, o PT foi capaz de responder até à menção, sem fonte, da votação petista em presídios, com uma sucessão de assassinos bolsonaristas, do ex-goleiro Bruno Souza ao ex-ator Guilherme de Pádua.
Cristiano Romero - O papel de FHC no apoio a Lula
Valor Econômico
Eduardo Leite pecou por excesso de ambição;
pode ficar sem nada
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso
e Luiz Inácio Lula da Silva trataram, nos bastidores, do apoio dos tucanos ao
petista. Presidente emérito do PSDB, FHC deixou claro que não poderia defender
aliança já no primeiro turno da eleição, mesmo sabendo que o partido não teria
um candidato competitivo.
As primeiras conversas ocorreram em março
do ano passado, quando ambos fizeram diagnóstico convergente sobre a extrema
polarização que caracteriza a política brasileira neste momento. Trata-se de
fenômeno nada parecido com a disputa protagonizada pelo PSDB e o PT durante
vinte anos (entre as eleições de 1994 e 2014). Concluída essa análise, FHC e
Lula também convergiram sobre a necessidade de formação de uma frente ampla
para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no pleito deste ano.
Fernando Henrique jamais acreditou na emergência de uma “terceira via” competitiva. Amigo de João Doria, elogiou a gestão do tucano no governo de São Paulo e defendeu oficialmente seu direito de disputar a Presidência da República, conquistado em eleição prévia e, depois, “cassado” pela cúpula do próprio PSDB. FHC não apostava, porém, na possibilidade de Doria tornar-se competitivo frente a Bolsonaro e Lula.
Maria Hermínia Tavares* - Voto obrigatório
Folha de S. Paulo
Lula e a ampla coalizão que o sustenta são
mais do que a última linha de defesa da democracia
Bolsonaro foi claro: se reeleito,
tratará de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal dos
atuais 11, com o fim ostensivo de desfibrar a Corte, reduzindo-a a apêndice do
Executivo. Segue, assim, o roteiro de governantes autoritários eleitos pelo
voto popular, como o húngaro Viktor Orbán e do
venezuelano, já falecido, Hugo Chávez.
Agora com maioria no Congresso, o ex-capitão não vê a hora de detonar os freios
e contrapesos institucionais à concentração do mando, em que se arrima a
democracia representativa.
Além de motivar infindáveis controvérsias entre os especialistas, não se pode
dizer de antemão que conseguiria levar a cabo a seu intento, na incerta
hipótese de prevalecer nas urnas do dia 30; ou se, sobrevindo o pior, as
instituições do Estado e a força da sociedade civil organizada continuariam a
contê-lo, como vêm fazendo nesses quatro anos.
Vinicius Torres Freire – Bolsonaro, fariseus e blasfêmias
Folha de S. Paulo
Religião, blasfêmias e fariseus dominam a
conversa política no início do segundo turno
A campanha do
segundo turno começou com a agitação dos "apoios" de
políticos e de gente conhecida aos candidatos. Na maior parte fofoca
politiqueira, o assunto praticamente morreu. Faz pelo menos uma semana, a
conversa dominante é religião, como indicam certas medidas de temperatura da
lama nas redes sociais e como se ouve no comentarismo jornalístico ou parecido
com isso.
O vídeo de 2017 de Jair Bolsonaro (PL) no templo maçom, seu "satanismo", a "Carta aos Cristãos" de Lula da Silva (PT), Bolsonaro no Círio de Nazaré, Bolsonaro e seus fanáticos tumultuando as cerimônias católicas em Aparecida foram as notícias da querela religiosa.
Bruno Boghossian - O presidente aloprado
Folha de S. Paulo
Com pedido de perdão, presidente mira grupo
que mantém distância após 4 anos de governo
Jair
Bolsonaro decidiu reconhecer publicamente que sua campanha tem um
problema neste segundo turno: ele mesmo. O presidente gravou um vídeo em tom de
contrição para tentar convencer o eleitor de que sua candidatura representa
mais do que sua atitude como governante. "Se as minhas palavras estão te
impedindo de fazer a escolha certa, eu humildemente te peço perdão", diz.
A mensagem faz parte de uma ação coordenada que vem sendo gestada há algumas semanas pela equipe de Bolsonaro. Ainda em setembro, o presidente disse que deu "uma aloprada" ao manifestar indiferença diante das mortes na pandemia.
Conrado Hübner Mendes* - Não verás eleição nenhuma
Folha de S. Paulo
Nessa competição, só a urna eletrônica permanece
íntegra
Eleições são
tão essenciais à democracia quanto à autocracia. Eleições distintas, mas nem
sempre se percebe como: livres e justas, de um lado; um simulacro mais ou menos
disfarçado, de outro. Todo autocrata gosta de brincar de se eleger sem risco.
Precisa exibir musculatura. Putin, Chávez, Maduro, Ortega, Orbán, Erdogan,
Lukashenko: Bolsonaro joga nessa superliga e as eleições de 2022 já avançam
nessa direção.
Eleições podem apresentar graus de autoritarismo quando se tornam jogo assimétrico. Regras são violadas sem consequência e um lado dispõe e usa de recursos de poder incomparáveis ao outro. A ciência política dá contribuições analíticas à avaliação do autoritarismo eleitoral contemporâneo. São lentes para se observar cada variável do processo.
William Waack - Medo e rancor
O Estado de S. Paulo
O Brasil está se tornando um país de irreconciliáveis
É bastante óbvio que as campanhas de Lula e Bolsonaro tivessem
concentrado fogo em destruir a imagem do adversário. Durante bastante tempo a
atual campanha foi descrita como um campeonato de rejeições. Venceria a
rejeição mais baixa.
A de Lula oscilou um pouco para cima, a de Bolsonaro um pouco para baixo. Mantêm-se razoavelmente próximas, com Bolsonaro mais rejeitado do que Lula. Ambos sofreram e desferiram ataques violentos, muitos abaixo da linha da cintura, mas as duas táticas aparentemente não funcionaram como as campanhas supunham.
José Serra* - Mulheres são mais realistas, não conservadoras
O Estado de S. Paulo
Eleitoras foram tratadas como um eleitorado
indiferenciado, e não atraídas por políticas para demandas específicas.
O conservadorismo político das mulheres é
um preconceito disseminado por análises equivocadas de pesquisas sobre
expectativas de voto. As mulheres têm origens sociais diferentes e vivem
destinos diversos, condições econômicas extremamente desiguais e níveis
educacionais idem. São frequentemente tratadas – tanto por homens quanto por
outras mulheres – com desprezo e abuso e, em sua maioria, encaradas como
inferiores. Como as mulheres diferem em dimensões muito diversas, atribuir o
mesmo comportamento político a elas, em geral, é como calcular a média entre
bananas, laranjas, tratores e naves interespaciais: não tem sentido.
É conhecido, no meio político, o hábito de sobrecarregar a lista partidária com candidatos pouco ou nada viáveis que, embora não se elejam, ajudam a eleger outros candidatos da legenda devido ao sistema proporcional de distribuição de votos. Ultimamente, com a adoção do subsídio público para as campanhas partidárias, multiplicaram-se as denúncias de desvio das cotas para mulheres, mediante a criação de um número desproporcional de candidatas, cujos valores de financiamento seriam, na verdade, transferidos para a campanha de candidatos – homens, evidentemente – da preferência da direção partidária.
Nicolau da Rocha Cavalcanti* - A machadada totalitária de Bolsonaro
O Estado de S. Paulo
Ninguém ficou incólume. Todos fomos
afetados em todas as esferas da vida familiar, profissional e social.
O presidente Jair Bolsonaro convocou seus
apoiadores para irem às ruas no 7 de Setembro e eles o obedeceram em massa. No
primeiro turno, obteve 51 milhões de votos. Qual é a mágica do bolsonarismo?
Bolsonaro falhou no exercício institucional
da Presidência. Na pandemia, deixou o trabalho árduo para os governadores e
prefeitos. Na relação com o Congresso, foi um desastre. O projeto mais
relevante de autoria de seu governo aprovado pelo Congresso consistiu em
alterar a lei de trânsito. A reforma da Previdência e o marco do saneamento,
para citar dois projetos significativos, estão situados temporalmente neste
mandato, mas não são criação intelectual do governo nem resultado de sua
articulação política.
Esse panorama pode levar à interpretação, simplista e equivocada, de que Bolsonaro não exerceu o poder, tendo sido mero refém do Centrão. Não. Ele exerceu um efetivo poder ao longo de todo o mandato. Caso contrário, não teria recebido 51 milhões de votos. Qual foi, então, o seu poder?
Luiz Carlos Azedo - “Guerra de posições” entre Lula e Bolsonaro decidirá a eleição
Correio Braziliense
O segundo turno das eleições opõe, de um lado,
o domínio político do governo Bolsonaro e, de outro, a “direção intelectual e
moral” da sociedade protagonizada pela oposição liderada por Lula
Quase todo mundo já ouviu falar que “A
guerra é a continuação da política por outros meios”, conceito do estrategista
prussiano Carl Von Clausewitz (1790 – 1831), autor do famoso tratado militar Da
Guerra, publicado em 1832 e estudado até hoje nas academias militares. Segundo
ele, trata-se de “um ato de violência destinado a forçar o adversário a se
submeter à nossa vontade”. A Batalha de Valmy, ocorrida em 1792 — na qual o
exército revolucionário francês, comandado pelos generais Charles François Dumouriez
e por Etienne Christophe, conseguiu vencer os exércitos prussiano e austríaco
—, mudara os conceitos militares.
O surgimento de um exército popular e nacionalista, que depois viria a se transformar numa grande máquina de guerra de Napoleão Bonaparte, tornou obsoletos os exércitos aristocráticos das monarquias europeias, muitos dos quais formados por mercenários. A partir de então, a integração entre política e guerra pautou todos os conflitos, da Guerra Franco-Prussiana de 1870 até a carnificina da Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914.
Elias Gomes* - Por um futuro governo de união nacional
É necessário e urgente que nós, democratas desse imenso e diversificado país, iniciemos um movimento impactante, ousado, que sinalize de forma abrangente e transparente para a construção de um GOVERNO DE UNIÃO NACIONAL, distensionando e agregando as forças políticas para o bem do país e da governabilidade, que seja capaz de pacificar a nação brasileira, tão agredida, humilhada e desrespeitada nos últimos quatro anos.
George Gurgel* - As eleições brasileiras: a afirmação da Democracia e da República
O que está acontecendo no Brasil e com o Brasil a partir da vitória de Bolsonaro em 2018, na sua chegada à presidência da República? Como foi o exercício do mandato bolsonarista e quais são as forças políticas que viabilizaram a sua chegada ao poder e ainda o apoiam neste cenário preocupante da vida política, econômica e social brasileira, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial que irá ocorrer em breve?
Os apoiadores de Jair Messias como se comportarão em uma possível vitória de Lula no segundo turno? E os apoiadores do petista como se comportarão no processo de construção da unidade das forças democráticas para ganhar a eleição e governar o Brasil?
São os dilemas da atual conjuntura política, econômica e social no país.
O Bolsonaro e o Bolsonarismo
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Editoriais / Opiniões
Todos terão dever de aceitar o resultado do
segundo turno
O Globo
A duas semanas da votação, são inaceitáveis
novos ataques velados de Bolsonaro à lisura do sistema eleitoral
É responsabilidade das altas autoridades da
República garantir que o segundo turno das eleições transcorra de forma
tranquila, como transcorreu o primeiro no dia 2 de outubro. Mas, a julgar pelas
últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro, dele não se poderão esperar
pedidos de serenidade e respeito aos resultados das urnas na hipótese de ser
derrotado no final deste mês. Mais uma vez, suas palavras despertam inquietação
e se faz necessário exigir que ele recobre um mínimo de sensatez.
Num discurso em Pelotas, no Rio Grande do Sul, Bolsonaro voltou a fazer declarações veladas que põem em dúvida sua confiança no resultado do segundo turno. Fez a sugestão estapafúrdia de que seus eleitores fiquem perto das seções eleitorais até a divulgação dos números no dia 30. A quem interessa esse tipo de intimidação? Com ela, tudo o que o presidente faz é semear confusão. Precisa ser advertido pelo círculo próximo de que poderá ser responsabilizado caso esse tipo de “vigilância” resulte em violência.