• Dilma irá ao Senado para se defender e, segundo Cardozo, responderá a perguntas
Calendário desagradou ao Planalto, que planejava viagem de Temer para o dia 31, já como presidente efetivo
Afastada da Presidência desde maio, Dilma Rousseff decidiu ir ao Senado para fazer sua defesa no julgamento final do processo do impeachment. O ex-ministro José Eduardo Cardozo, defensor da petista, disse que ela responderá a perguntas, apesar de ter o direito de não fazê-lo. Pelo rito definido ontem pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, com líderes do Senado, o julgamento vai durar até sete dias. O cronograma prevê o início para a próxima quinta-feira e a votação final para a madrugada do dia 31. Dilma falará no dia 29 e poderá ser interrogada pelos senadores, pelos juristas da acusação e por sua defesa. O calendário não agradou ao Palácio do Planalto, porque dificulta a primeira viagem internacional de Michel Temer, a partir do dia 31, como presidente efetivo para encontro com investidores na China.
A última trincheira de Dilma
• Presidente afastada fará sua defesa no Senado; julgamento começa dia 25 e pode durar 7 dias
Cristiane Jungblut - O Globo
-BRASÍLIA- O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e os líderes no Senado sacramentaram ontem as regras para o julgamento final da presidente afastada, Dilma Rousseff, que poderá durar até sete dias. Presidente do processo de impeachment, o ministro foi convencido pelos senadores a realizar sessões no fim de semana, caso seja necessário. Dilma decidiu que irá se defender pessoalmente no plenário do Senado e, inclusive, responder a perguntas, embora tenha o direito de ficar calada.
O cronograma prevê o início do julgamento na próxima quinta-feira, mas a votação final só deverá ocorrer na madrugada do dia 31. Pelo calendário definido, Dilma irá ao Senado no dia 29, para se defender pessoalmente. O acordo é só interromper o julgamento depois de ouvidas todas as testemunhas, duas de acusação e seis de defesa. Dilma falará por 30 minutos, mas poderá ter seu tempo prorrogado a critério de Lewandowski.
Dilma poderá ser interrogada pelos senadores, pela acusação e pela defesa. Cada um terá cinco minutos para fazer suas perguntas. Mas a petista não é obrigada a respondê-las. O advogado da presidente afastada, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, disse ao GLOBO, no entanto, que o objetivo da presidente é responder aos questionamentos. Por isso, a expectativa é que todo o dia 29 seja ocupado pela presença de Dilma. Os aliados petistas comemoraram sua decisão de comparecer.
— A presidente Dilma comparecerá e vai responder às perguntas, e, portanto, podem ter absolutamente clareza de que ela atenderá àquilo que for solicitado. A presidente nunca teve receio, não tem e não terá receio dos efeitos de qualquer situação porque ela tem sua consciência absolutamente tranquila — disse Cardozo, que conversou com Dilma ontem.
Presidente enfrentará senadores
A decisão do comparecimento de Dilma foi comunicada aos líderes partidários durante o encontro de Lewandowski com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A petista vinha sendo aconselhada pelo próprio Cardozo e por Renan a comparecer e deixar sua marca histórica. Inicialmente, Dilma queria apenas fazer um pronunciamento e sair. Mas, depois, incomodada com a versão de que teme o confronto, avisou que responderá a todas as perguntas.
O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), disse que ninguém será “inábil” ao fazer perguntas a Dilma. Nos bastidores, a preocupação é não torná-la vítima no processo, embora não acreditem em reversão do placar favorável ao impeachment.
— Espero que ela tenha humildade de se curvar e que reconheça seus erros — disse Caiado, acrescentando: — Tivemos algumas oposições ao trabalho no final de semana, mas não poderíamos interromper os trabalhos antes de esgotar o depoimento das testemunhas.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou que Dilma vai legitimar o processo:
— A vinda dela é um erro. Ela vai legitimar o processo que chama de golpe.
Já o líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), que sempre foi defensor da presença de Dilma, elogiou a decisão.
— Ela vem e vai se sair muito bem. É o momento em que o país vai parar — disse Lindbergh.
José Eduardo Cardozo reclamou da decisão de ouvir testemunhas no fim de semana e reforçou que os aliados de Dilma farão perguntas a todos, alongando o processo. A presidente falará após a oitiva das testemunhas.
— Vamos trabalhar até esgotarmos a oitiva das testemunhas. E ingressaremos, se for necessário, na madrugada de sexta para sábado porque as testemunhas serão isoladas umas das outras e estarão num quarto de hotel à disposição — explicou Lewandowski.
Segundo participantes do encontro, essa questão foi a que mais debate gerou. Inicialmente, o presidente do Supremo queria interromper o julgamento na sexta-feira, mas foi convencido por líderes a estender a sessão se necessário.
Renan sempre defendeu os trabalhos no fim de semana e articulou com os líderes a proposta apresentada e acatada por Lewandowski.
— Tenho estimativa muito otimista. Acho que, se houver dedicação, como esperamos que haja, poderemos ter essa decisão na madrugada de segundafeira ou, no mais tardar, na manhã de terça-feira — disse Renan, que errou todas as previsões anteriores sobre tempo de duração das sessões.
Antes de ouvir as testemunhas, Lewandowski resolverá as questões de ordem dos senadores, logo no início do julgamento, marcado para as 9h do dia 25 de agosto. Como na fase de pronúncia, no último dia 9, no dia 25 será feita uma pausa das 13h às 14h e depois, das 18h às 19h.
— E continuaremos até o momento em que for necessário para iniciarmos a oitiva das testemunhas — disse o presidente do Supremo.
Encerrada a fase com a presidente Dilma, falarão os juristas autores do pedido de impeachment e a defesa. Só então começarão os debates, com os 81 senadores podendo falar por até dez minutos cada. A expectativa é que os senadores passem toda a terça-feira, dia 30, nos discursos, levando a votação para o dia 31.
Para aprovar o impeachment em definitivo, são necessários 54 votos dos 81 senadores. A votação será por painel eletrônico. O processo de impeachment passa por três grandes votações no Senado: a admissibilidade (abertura), que aconteceu dia 12 de maio; o chamado juízo de pronúncia, que ocorreu nos dias 9 e 10 deste mês; e o julgamento final, que começará dia 25.
Dilma está afastada do cargo desde 12 de maio. O prazo máximo de afastamento é de 180 dias.
A previsão é que o julgamento acabe na madrugada do dia 31, devido ao número de senadores dispostos a falar e à quantidade de testemunhas arroladas. Os aliados de Dilma calculam que cerca de 40 senadores farão perguntas às oito testemunhas, o que daria 2,6 dias no total.
— Não há prazo para término — disse o presidente do STF.
Para agilizar o julgamento, a acusação desistiu de uma das três testemunhas arroladas na semana passada: Leonardo Rodrigues Albernaz, auditor federal de Controle Externo da Secretaria de Macroavaliação Governamental do Tribunal de Contas da União (TCU).
Já a defesa arrolou seis testemunhas, com destaque para o ex-ministro Nelson Barbosa e o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo.